sábado, 17 de maio de 2014

SANTIAGO DO CHILE


Santos, 20 de outubro de 2013

Caro Amigo,

Ouvimos dizer que, em Santiago, no Chile, é muito comum tomar: Mote con huesillos  (tem uma cara muito estranha, não é?).  

 
Dizem, inclusive, que os mais ousados, arriscam um Café con piernas.

Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos 100.000.000.000.000.000 Km viajando, resolvemos colocar, uma vez mais, nossos pés na estrada. Mas dessa vez não iremos sós, mais alguns pares de pés irão nos acompanhar.

E foi em homenagens a esses pobrezinhos, que eu (Sayo) escolhi o nome de nossa nova expedição, pois se eles sobreviverem ao Claudio (aquele santinho! Como muitos se equivocam em dizer) e chegarem vivos ao nosso segundo destino, o Cantapueblo (é vamos cantar novamente), em Mendoza, serão, com toda certeza, Heróis da Resistência (ah, ah, ah!), pois, embora eles ainda não saibam (talvez, não conheçam o Kuc tão bem como eu e o Caro amigo), terão que andar quilômetros e quilômetros (provavelmente a cidade palmo a palmo), passaram horas e horas a nada comer, subiram ao topo de nada menos que todos os morros da cidade e, no final do dia, com os pés inchados, o corpo moído, o estômago nas costelas e os cabelos como um ninho de passarinho, terão nada mais que cinco minutos para tomar um banho e voltar a percorrer cada palmo cidade em busca daquele restaurante que oferecer o melhor e mais esplendido local à beira do Rio Mapocho, que não é nenhum Sena, mas deve servir para o Kuc. Pelo menos, eu (Sayo) não estarei só, contarei com os Heróis da Resistência (ah, ah, ah!).

Aproveitaremos para ir a Viña del Mar, molhar os pés no Pacífico.
E Valparaiso, afinal temos que tirar uma foto dentro da cápsula que resgatou os mineiros soterrados. E, sem qualquer sobra de dúvida, tomaremos uma taça de Casillero del Diablo, escutando velhas lendas.
Mas nada estará completo sem a sua companhia, portanto: Vem com a gente!

Sayo e Claudio

 

Santos, 25 de outubro de 2013.

Caro Amigo,

Para que você, que irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.

Compre seu bilhete, faça as malas (não esqueça de levar um casaquinho, afinal estaremos nos Andes), pegue o passaporte, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o gato com o vizinho e as crianças na casa da vó, prepare uma boa picada (isso é assunto para uma enciclopédia - parece que não fabricam mais na era da informática, assim como não se fazem mais retratos – voltando à picada, é algo como os “tapas” espanhóis, dezenas de pequenas tigelinhas, cheias de coisinhas deliciosas), pegue uma garrafa de vinho (Chileno de preferência),  escolha uma poltrona confortável, ligue o computador e VEM COM A GENTE! 
Aproveite para enviar alguma dica para tornar nossa viagem mais interessante. Talvez alguma cidadezinha, que já visitou e achou incrível; um restaurante, que viu em alguma revista de turismo e tem uma Centolla maravilhosa; um lugar que você gostaria de conhecer, mas ainda não teve tempo; ou mesmo o endereço de sua adorável prima chilena, que faz Congrio como ninguém, teremos imenso prazer em visitá-los, conferir  e contar tudo, nos mais mínimos e prazerosos detalhes.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Guarulhos, 31 de outubro de 2013.

Caro Amigo,

Minha mãe costuma dizer: “quem parte e reparte e na fica com a melhor parte ou é bobo ou não tem arte”. Assim, o nosso ônibus partiu, da padaria bem em frente a nossa casa (coisas que só a CRKTour consegue para seus associados, ah, ah, ah!), às duas da madrugada, em direção à Guarulhos, levando os vinte e cinco bem afortunados destinados à Santiago, Chile, quase metade do Coral.
Chegamos com antecedência mais que suficiente, três horas antes do nosso vôo que, às seis horas, já estava com um pequeno  atraso, mas nada que tivesse alterado o bom curso da viagem.
Vôo, que cruzam a Cordilheira dos Andes, nunca é um mar de rosas, há que se esperar alguma turbulência, e assim foi o nosso, mas nada que obscurecesse nosso prazer em provar o Flan de Queijo, que nos foi oferecido no café-da-manhã. Verdade que comida de avião não é lá aquela coisa, mas nos causou surpresa o tal flan, que, em resumo, era uma espécie de omelete com um gostinho de queijo gruyere (soltamos os cachorros, ah, ah, ah!).
Chegando a Santiago, nos esperava Don Marco, da agência Marstour ((marco@marstours.cl), que nos esperava com uma plaquinha ”CRKTour” (o Kuc delirou, afinal a empresa está crescendo, ah, ah, ah!). Uma pessoa gentilíssima, que nos ajudou na reserva para visita do Palácio de La Moneda (visitas@presidencia.cl) , pois tentamos várias vezes através de e-mail, sem obter sucesso. Também foi ele que nos providenciou a reserva para o famosíssimo Astrid Y Gaston, que figura na lista dos cinqüenta melhores do mundos, juntamente com o DOM, de São Paulo, pois através do site (: http://www.astridygaston.com/) só é possível reservar para filial de Lima, um pouquinho longe de Santiago (ah, ah, ah). Aparentemente não se trata de uma empresa cheia de sofisticação, com empregados uniformizados e que “vão disponibilizar” não sei o que, mas ele é muito atencioso e trocamos, no decorrer dos acertos para a viagem, mais de vinte e-mails.

Ele nos deixou em um grande condomínio, de várias torres, cujos pequenos apartamentos estão divididos entre vários e particulares, ficamos no Chileapart (reservas@chileapart.com  ), os oito Heróis da Resistências e nós dois. Por ser um apart, contávamos com uma pequena cozinha, equipada o suficiente para quem não queria fazer nada além de uma comida rápida, uma sala de estar e o quarto, tudo bem legalzinho.
Nossa primeira providência foi visitarmos o supermercado, no térreo, bem ao lado do apart, afinal, no mínimo, o café-da-manhã ficaria por nossa conta.

Depois, uma caminhada até a Plaza de Armas, há uns cinco ou seis quarteirões, para trocar dinheiro e fazer umas comprinhas na Farabella (farabella.com); se os preços são lá tão bons quanto preconizam, não posso (Sayo) precisar, mas uma coisa é certa, meninas, tem uns modelinhos de fechar o comércio.
Temos que dizer que aqui, já alguns Heróis da Resistência começaram a pedir arrego e foram para o hotel descansar. Perderam, pois passamos mais de uma hora só no setor de roupas femininas, deixamos o resto para outro dia, afinal nos esperava, para o jantar,  o  Ocean Pacific´s ( http://oceanpacifics.cl/) e uma cara amiga de São José dos Campos, Luciana, que, coincidentemente,  estava em Santiago, em férias. E por falar em coincidência, voamos para Santiago com um casal de amigos de longa data, de infância, Edu e Lina, parece que Santiago é a coqueluche do momento.

Chegamos bem no princípio de um feriado (31/10 e 01/11), terrível para turismo, pois muita coisa estava fechada, mas bom para caminhar pois não há tanto congestionamento. Em nosso passeio pela Plaza de Armas, coração da cidade, cheia de bancos e árvores centenárias, cercada por lindos edifícios, como o do Correio, descobrimos que o chileno curte muito o Halloween, pois além de cantores de toda espécie, homens da cobra, andantes e curiosos, a praça estava cheia de vendedores de fantasia. O engraçado é que vale qualquer fantasia ou adereço, encontramos crianças vestidas de abóboras, de capeta (elas já o são mesmos, ah, ah, ah); velhas com chapéu de bruxa: casais com orelhinha de coelho de um tudo. À noite, então, o metrô estava lotado desses seres estranhos. Legal!    

Prontos, cheirosos e lindos, na medida do possível, pois o frio nos pegou de calças curtas, pois esperávamos, segundo a internet (lembre-se de não acreditar em tudo que vê) algo em torno de vinte graus, que subiria, gradativamente, em dois dias, para os vinte seis graus, mas o que encontramos foi uma temperatura em torno dos quinze graus. Então, prontos cheirosos, e mais lindos que nunca (ah, ah, ah!), às 08:00 horas, partimos para o Ocean Pacific’s, já com as reservas devidamente feitas (melhor não arriscar, pois o local lota), para nosso encontro com Luciana e seus pais. Pegamos o metrô na estação Bellas Artes, já não existe a obrigatoriedade de um tal cartão, mas é melhor comprar ida e volta, pois o ultimo carro passa por volta de 11:30 horas, mas o guichê de venda de passagens fecha antes; nós o havíamos feito mas, mesmo assim, chegamos na estação do metrô, depois de rir muito e correr avenida abaixo (por sorte era Halloween, então ninguém achou estranho uns doidos a mais correndo pela rua) justo na hora do último trem e para variar, mais alguém, além do Kuc (claro), não achava o bilhete de metrô, dessa vez era a Sueli, pelo menos ela não bebe (ah, ah, ah!), o segurança, compadecido e gentil, como são os chilenos, acabou liberado da passagem dela e do Pacca. Ao menos queimamos as calorias do jantar e desopilamos o fígado (ah, ah, ah!)

Mas voltemos à ida, descemos três estações depois da Bellas Artes, na Cumming, e caminhamos cerca de 500 metros, pois o restaurante fica na Av.Ricardo Cumming 221, Santiago, telefone (02) 2770 0300), mais fácil que tirar doce de criança. Chegando ao local, encontramos exatamente o que Luciana já nos havia descrito e que deixaria o Kuc doidinho, ou melhor, nos deixaria a todos maravilhados... é agora euzinha é que tenho que fazer o café e não podemos nos atrasar, afinal temos um nome a zelar junto aos nosso clientes (ah, ah, ah!), contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Santiago I, 01 de novembro de 2013.

Caro Amigo,

Quem passa em frente da casa azul, onde esta estabelecido o Ocean Pacific”s, não se apercebe que em seu anterior se encontra reproduzido um submarino que navegou pelos sete mares. Como bem o Caro Amigo bem o sabe, o Kuc, como todo mergulhador, tem uma paixão pelas profundezas do mar e seus mistérios, então, ao chegar ao Ocean Pacific’s se deparou com tudo que, em seus sonhos de criança, jamais ousou imaginar. Algumas pequenas salas, outros compartimentos maiores, as salas do capitão e de comando, mil luzinhas piscando como o painel de comando de muitos aviões.
O..... tudo estava por lá, nem o esqueleto da baleia faltou. Os garçons..., lógico, vestidos de marinheiro. Infelizmente, tenho (Sayo) que admitir que me faltam palavras (ah, ah, ah!) para descrever o surreal e magnífico que é o interior desse restaurante, atrevo-me a pensar que chega a se parecer com de algum dos parques da Disney, mas como não os conhecemos, mantemos tal impressão em nossos devaneios.
Quanto à comida, temos que confessar que não demos muita sorte, escolhemos um prato típico do sul do Chile, que comemos, pela primeira vez, há 25 anos, no mercado de Porto Mont. Uma gorda senhora vigiava um imenso caldeirão fumegante, ao lado da porta de entrada do mercado, se parecia a uma bruxa. Em seu interior, borbulhavam, em um perfumado caldo, camarões, lulas, polvo, mariscos, pernas de franco, gorduchos pedaços de lingüiça, batatas inteiras e quadrados troços de carne. Uma excelente poção para afugentar o frio daquele dia. Porém, o que nos foi servido no Ocean Pacific’s, era sim um perfumado e saboroso caldo, mas que continha rodelas de lula, que haviam cozinhado um pouco de mais,  e pedaços de carne, que haviam cozinhado um pouco de menos, ou seja, duros, estando os demais ingredientes cozidos convenientemente.
Não vamos condenar definitivamente a cozinha do restaurante, pois os Caros Amigos, e Heróis da Resistência, que nos acompanharam na aventura, afirmaram, convictamente, que seus pratos estavam muito bem preparados e deliciosos. Dizem que, durante o nosso jantar, ouve um terremoto na cidade, como estávamos no fundo do mar, nem sentimos, perdemos essa experiência (ah, ah, ah!).

Refeitos do pesado dia da viagem, nos levantamos dispostos a arrastar os Heróis da Resistência por cada palmo de Santiago, e assim foi. Voltamos à Plaza de Armas (metrô Plaza de Armas)  e, com o dia recém começando, pudemos observar melhor a beleza da praça, quase deserta. Entramos na Catedral, uma penumbra rosada enche o local, a nave principal é ladeadas por um corredor de colunas, dos quais pendem pesados candelabros de cristal, bronze e dezenas de pequenas lâmpadas.
No mesmo estilo, são as arandelas que ficam sob as estátuas dos santos, que velam os fiéis. Vitrais, baixos relevos, pinturas e estuques completam a beleza do local. Na capela do Santíssimo, uma majestosa imagem de Nossa Senhora do Rosário, com seus longos cabelos e manto bordado com fios de ouro. 
Um pouco depois das 10:00 da manhã, estávamos no Mercado Municipal (metrô Plaza de Armas, Rua San Pablo, 967), escolhemos o horário à dedo, pois queríamos evitar o assédio dos garçons, pois como já sabíamos que o mercado tornou-se um local caríssimo para comer, em virtude de do afluxo de turistas. Então, chegamos quando as mesas ainda começavam a ser preparadas.
O edifício bonito, do final de 1800, com estrutura trazida da Inglaterra, assim como a Estação da Luz e outros edifícios de São Paulo, é passeio imperdível, principalmente pelas bancadas de pescados e frutos  do mar, que trazem expostos espécimes que praticamente não conhecemos no Brasil, como a Centolla, um caranguejo gigante típico do país, muito saboroso mas que, atualmente, tem um preço ainda mais gigante. Não se atreva, o Caro Amigo, a se quer cogitar comer uma centolla no Mercado pois isso lhe custará os olhos da cara.
Saindo do mercado, ainda tentamos achar o Centro de Informações Turísticas aberto, mas os dois dias de feriado, seguramente um deleite para os Santiaguenhos, quase arruinaram nossa visita à cidade. Felizmente havíamos trazido um xerox do mapa do centro da cidade, com o qual teríamos que nos contentar. Seguimos, então para o Cerro de Santa Lúcia (estação de metro de mesmo nome, Avenida Bernardo O’Higgins 499 ).
 
Há quem dica que a Fuente de Neptuno, em estilo neoclássico, guarda uma similaridade com a Fontana de Trevi, em Roma. Pode até ser, mas, com toda certeza, o Caro Amigo conseguirá tirar uma foto, com toda tranqüilidade, em frente a Fuente, o que jamais acontecerá na Fontana de Trevi, e poderá, calmamente, atirar sua moedinha por cima do ombro, fechar os olhos e fazer um pedido.
Subir ao topo co Cerro, onde nasceu a cidade, em 1541, pelas mão do espanhol Pedro de Valdivia, não foi algo tão difícil, uma paradinha aqui, outra ali, e os quase 300 degraus estavam vencidos. Do topo, uma boa visão da cidade, dizem que até a Cordilheira dos Andes pode ser vista, mas o dia nublado não nos permitiu.
Foi no Cerro que experimentamos o primeiro Mote com Huesillos de nossa vida, um refresco com sabor de pêssego, aroma de canela, grãos de trigo, no fundo,  e um pêssego desidratado, que mais parece um cérebro, boiando em seu interior. A aparência é horrível! Mas é refrescante e tem um sabor delicado. Gostamos!
Seguimos, para Igreja de São Francisco (metrô Bellas Artes), uma das mais antigas da cidade, de 1586, que, hoje, tem suas paredes descascadas, para mostrar as pesadas pedras de que são feitas. O teto é uma verdadeira maravilha, com rosáceas colocadas primorosamente formando um imenso tabuleiro de xadrez, sob ele algumas pessoas ajoelhadas, frete a seus Santos de devoção, rezando de um modo tão emocionado que se torna impossível acreditar que seus pedidos não serão atendidos.
Nas imediações, caminhamos pelo quarteirão Paris/Londres, para apreciar os edifícios e quarteirões coloniais um dos pedacinhos mais antigo e bem preservados da cidade.
Seguimos para Bella Vista (metrô Baquedanos), caminhamos pelo parque e seguimos para o Pátio Bella vista, um dos pontos mais agitados da cidade, um imenso pátio lotado de restaurantes, lotados, dia e noite, de gente descolada. Paramos para uma cerveja acompanhada de empanadas, afinal, felizmente, o calor chegou.
Pertinho dali, a Casa de Pablo Neruda, La Chascona (Calle Fernando Márquez de la Plata 192,  terça a domingo, das 10 às 19h), é ponto de parada obrigatório. Hoje, não é mais necessário agendar visita, pois, a poucos dias, trocaram os guias por áudio-guides, então é só chegar e ir entrando.  
O nome da casa, uma palavra em quéchua, que significa despenteada, é uma homenagem a sua última mulher, Matilde Urriaga. Neruda, apesar de não saber nadar, amava o mar e se intitulava Capitão de Terra Firme e construiu a casa para que se tivesse a sensação de estar em um barco, com mobílias trazidas de barcos franceses.
É um local inusitado, cheio de passagens secretas; ambientes aconchegantes, criados para manter um contato bastante íntimo com os amigos, que ele recebia com muito bom humor. É um local cheio de cores, fotos do poeta, inclusive com Vinicius e Jorge Amado. Neruda é considerado o mais importante poeta de língua castelhana do século XX, vencedor do Premio Nobel de Literatura de 1971.

Voltamos para casa (apart) voando, afinal tínhamos mesa reservada no Astrid & Gaston, que, juntamente com o DOM (em São Paulo), figura em uma lista dos 50 melhores restaurantes do mundo, não iríamos perder essa. Às 07:45 horas, lindos e “perfumosos” partimos para o tal restaurante, para conferir se era realmente tudo aquilo que diziam, o Ocean Pacific’s superou, em muito, nossas expectativas, vejamos esse.

Chegamos, pontualmente, às 08:30, na entrada do que mais parecia uma casa, a porta se abriu imediatamente. Um local elegante, mas sem muita ostentação, paredes quase vermelhas. Nossa mesas nos esperava, com pratos floridos, uma ar de louça espanhola, algo mais aconchegante que aquela modernosa louças dos restaurantes contemporâneos.
Mas, como já dissemos inúmeras vezes ao Caro Amigo, em toda viagem há sempre que se esperar um bruxo malvado, alguém que vai querer estragar seu dia, e, por mais incrível que possa parecer, isso nos passou justamente no Astrid & Gaston, onde jamais imaginaríamos, já que lemos os maiores elogios sobre o pessoal do restaurante que até curso de português fizeram, para atender melhor os brasileiros. Bem, mas turistas tarimbados que somos, não poderíamos deixar que um “sommelier”, com a cara do bruxo Garganel, estragasse nossa maravilhosa noite, planejada a tantos meses,  então... está na hora da saída para Viña Del Mar e Valparaiso, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Pirque (Concha y Toro), 02 de novembro de 2013.

Caro Amigo,

Então se passou que o tal “sommelier” tinha uma cara horrível, um nariz enorme, o Garganel “esculpido em cararra” ou, em bom português, cuspido e escarrado, o que combina mais com ele. Nos atendeu com cara de má vontade e, ao retirar as taças dos que não iriam tomar vinho, o fez com uma agressividade horrível. Mas como estávamos decididos a não deixar que ele estragasse nossa noite, o Kuc chamou o maitre e fez uma reclamação dos péssimos modos do indivíduo, Alguns minutos depois analisamos melhor os fatos e, novamente, chamamos o maitre, agora para pedir que o tal bruxo não voltasse a se aproximar de  nossa mesa, fomos atendidos com toda cordialidade, problema resolvido,  daí por diante tudo foi só prazer, até a conta, que não chegou aos pés da do DOM.

O couvert era simples, manteiga e pasta de pimentão, mas entre a variedade de pães havia um escurinho, com passas e nozes, que quase roubou o brilho do resto da comida, simplesmente divino.
Pedimos uma entrada, camarões crocantes, que vieram sentados em purê de abóbora; meu (Sayo) prato principal foi Talharim com molho de Centolla (o famoso caranguejo gigante chileno).
Já o Kuc comeu uma combinação de frutos do mar, sobre uma espécie de pamonha grelhada, tomate, pimentão, pimenta e com uma combinação de molhos, a primeira  sensação, que vinha à boca era um gostinho de algo tostado na churrasqueira, depois, gradativamente, vinham os demais sabores, o camarão, a vieira, o côngrio, o polvo, seguidos do limão siciliano e do azeite aromatizado, realmente o restaurante merecia figurar entre os 50 melhores do mundo, era para se passar por baixo da mesa e chamar a matilha.
E quando já pensávamos em que sobremesa comer, vem o maitre, muito solícito, e diz que, para que não partíssemos “enojados” (aborrecidos) pelo tema do Sommelier e voltássemos, nos ofereciam a sobremesa, enquanto colocava sobre a mesa dois pratos contendo “degustación de postres”, sorvete de morango com hortelã, tiramissu com calda quente de chocolate, bolinho de chuva recheado com banana, suflê de chocolate, sorvete de baunilha com calda cereja e licor.
Amamos a gentileza, não é preciso nem dizer, confirmou a fama de bom restaurante deles.

Tomamos nosso café, trocamos cumprimentos amistosos, deixamos até umas lembranças do Brasil, e disparamos para a rua, pois estava quase na hora do metrô fechar. Estava quase não... já havia passado, demos com a cara na grade. Tratava-se de um bairro bastante residencial, com pouco movimento na rua, nos restava caminhar à procura de um táxi. Quando cruzávamos uma rua, havia um ônibus parado no farol, o Kuc bateu na janela do motorista e perguntou se havia algum ônibus para Plaza de Armas.

Bem sei que o Caro Amigo, apesar de viajar ao nosso lado por anos a fio, vai custar a acreditar na resposta que ele recebeu, para falar a verdade até nós custamos a acreditar, mas, lembre-se, estávamos acompanhados por seis Heróis da Resistência, que não nos deixarão mentir e poderão confirmar tudo, tim-tim por tim-tim. Como era nosso dia de sorte, o gentil motorista perguntou se ele estava sozinho, Claudio nos apontou, lindas espécimes da raça brasileiras (ah, ah, ah!), ele pediu que esperássemos no ponto, que ficava na avenida, pois ele estava recolhendo, então faria a volta e nos levaria. Bem sabemos... é muito difícil de acreditar, mas é a pura verdade. Entramos no ônibus, sem nada pagar e na saída, próxima a Plaza de Armas, deixamos uma caixinha para o amável senhor. Caminhamos até o hotel, rindo de nossa sorte. Então que voltamos para o hotel de carona (ah, ah, ah!).

Nosso dia seria dedicado à visita à vinícola Concha y Toro (Avenida Virginia Subercaseaux, 210, reserva@conchaytoro.cl - Diariamente, das 10 às 17h). Após analisar as opções de modo de chegar e seus preços, escolhemos o metro, pois não era nada difícil e o preço irrisório. Passamos em uma casa de câmbio, pois descobrimos, todos nós, que o dinheiro estava no fim. É incrível como menosprezamos nossa capacidade de gastar, ou melhor, o Claudio menospreza a minha, pois quanto ele me pergunta quanto deve trocar de dinheiro e sempre respondo a mesma coisa: pode trocar tudo que eu me encarrego de gastar, mas ele nunca acredita (ah, ah, ah!).

Da Plaza de Armas, levamos uma hora e meia para chegar a Concha y Toro, chegamos exatamente no horário em que começava a visita que havíamos agendado.
É possível optar por dói tipos de vista, uma mais curta, com degustação de três vinhos e outra, mais longa, que incluía outros vinhos. Optamos pela mais curta, pois pretendíamos para no restaurante para beliscar algo, acompanhado de mais umas taças.
Como nosso tour era em português, no guiou um brasileiro, João, uma parada no que foi a antiga casa da família Concha y Toro, uma caminhada até o jardim de variedades, onde foram plantadas exemplares das uvas utilizadas pela vinícola.
Entramos na adega, para aprender um pouco sobre os barris e o material de que são feitos.
A penumbra de uma cave, um áudio-visual conta a lenda do vinho seu vinho mais famoso, Casillero Del Diablo.  
Seguimos para degustação, antecedida pelas explicações de como analisar a coloração e odor do vinho e como saboreá-lo. Ganhamos uma taça com o nome da vinícola, um simpático presente, mas levá-la, sã e salva, até o Brasil, seria uma árdua missão.
No pátio, do restaurante, um grupo catava e dançava música folclórica, arriscamos uns passinhos e nos sentamos por ali, pala umas taças de vinho, acompanhadas de empanadas e tabuas de queijo e presunto.
Nos saiu fatal, o vinho veio, as tábuas, após protestos também, e as empanadas nunca chegaram. O atendimento foi péssimo, pois o restaurante estava cheio e eles privilegiavam os que iam almoçar. Reclamamos, claro, e partimos em busca de uma diversão melhor.

Nada melhor para afogar as mágoas que “comproterapia” (ah, ah, ah!). Então o Parque Arauco (Av. Kennedy 5413, Diariamente das 11hs às 22hs. - metrô Escuela Militar) seria a melhor opção, posto ser o maior shopping do Chile, com quase 400 lojas.
Descemos do metro e demos uma boa caminhada, para justificar o nome da expedição (ah, ah, ah!). Aconselhamos o Caro Amigo a que tome um táxi, que sairá por algo em torno de quinze reais, pois a pernada é bem razoável.
Encontramos as lojas de departamento mais famosas do Chile, Ripley, Paris e Falabella; além da Zara, Forever, L’óccitane etc, etc, etc e mais um montão de lojas de grifes famosas, que não conhecemos muito bem, pois não é muito nossa praia. Mas o que nos encantou mesmo foi o boulevard, onde estão dispostos os mais de 50 restaurantes, é um local agradabilíssimo e, como era uma ensolarada tarde, depois de vários dias nublados e frios, estava lotada de gente bonita, informalmente vestida, e se deliciando em transados pratinhos de comida apetitosa.
Compras feitas, voltamos ao metrô, destino: hotel. Mas, antes, alertamos o Caro Amigo quanto à utilização do metrô, que nos pareceu mais confuso de o de Berlim, e olha que não falamos alemão.  O de Santiago tem preços diferenciados por períodos do dia, assim que há que se prestar atenção quando da compra de bilhetes antecipados; é necessário, ainda, atentar para seu horário de funcionamento (www.metro.cl). Pedimos um mapa, mas como não trouxemos nossa luneta, não conseguimos enxergá-lo, pois é tão pequeno que óculos ou lupa não adiantam, só luneta mesmo (ah, ah, ah!). Também ainda não estamos tão moderninhos para andar com “tablete”, celulares ou demais aparatos eletrônicos portáteis, cujos nomes ainda não conhecemos.

Um rápido banho e rua, afinal o estômago já estava grudado nas costelas. Como o dia foi puxado, resolvemos escolher algo pertinho do hotel, para um calmo e simples jantarzinho. Essa era nossa idéia, mas não foi exatamente o que aconteceu, até porque o Hector não permitiu. Quem é o Hector? ... tenho (Sayo) que por a barriga no fogão, para preparar o café, porque o Kuc... roncando copiosamente ao meu lado, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Valparaiso, 03 de novembro de 2013.

Caro Amigo,

Escolhemos um simpático restaurante de comida espanhola, há dois quarteirões do hotel, para ter uma calma noite, descansar nossos corpos cansados e comer alguma coisinha, mas, ao final, tivemos uma agitada e divertida noite, regada a muita comida e vinho. O El Txoko Alaves (Rua Mosqueto, 485 – reserva@ciudadedevitoria.cl ) é um restaurante espanhol, uma de nossas comidas prediletas, se é que podemos afirmar isso, já que somos dois glutões (ah, ah, ah!). No cardápio não faltava na da do que mais amamos: boquerones, polvo, tortilla, cozido, paella, almejas. Cada vez que o líamos, nossa boca salivava. O Hector, nosso garçon, agradabilíssimo e risonho (além de bonitão, que o Kuc não me ouça, ah, ah, ah!), foi logo colocando um enorme babador no Claudio, não pude deixar de perguntar se ele já o conhecia (ah, ah, ah!); na verdade trouxe o babador para todos nós.

Pedimos o vinho e Polvo a La Gallega, para beliscar enquanto escolhíamos a comida. As generosas fatias chegaram repousando sobre uma cama de rodelas de batata, salpicadas de páprica e mergulhadas em azeite, no qual era pecado quase mortal não mergulhar o pão. 
Finalmente optamos por Alvejas, um molho de vinho, tomate, especiarias e muito alho, que nos recomendou Hector, vieram uns moluscos de casca gigante e corpo monstruosamente grande, daqueles que um só enche a boca; quanto ao sabor... é coisa para sonhar pelo resto da vida, também não dava para deixar de molhar o pão naquele caldinho quente.
De quando em quando, voltava Hector a nossa mesa para alguma brincadeira ou conselho, até um local para dançar nos indicou. Não satisfeito, pedimos uma Paella para três, estava divina, cheia de camarões, mas não demos conta, apesar do destemido que somos,  não conseguimos abater a enorme Paella, nosso garçon, muito sabiamente, nos recomendou levá-la para casa, para uma hora de infortúnio.
Partimos, arrastando nossas carcaças pesadas pela fria noite, mas não sem antes deixar uma lembrancinha do Brasil para o Hector e promessas de voltar.   

Às nove em ponto já nos esperava Dom Marco, na porta do apart, como já havíamos lido comentário de outros turistas que compraram pacotes para Valparaiso/Viña Del Mar e alegavam não terem conhecido melhor as cidades em virtude de visitas a bodegas, lojinhas e restaurantes,  em nossas tratativas, ainda no Brasil, para a compra desse pacote, deixamos claro que queríamos fazer nosso próprio roteiro para conhecer o que nos parecesse mais conveniente das duas cidades, não para passar horas em lojas e restaurantes, pois, na verdade, um só dia não é suficiente nem para uma das cidades, só dá para tapear. Pedido feito, pedido atendido!

Nos dirigimos a Valparaiso,uma cidade portuária, declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, que foi fundada em 1544, por Pedro de Valdívia.
Com mais de 40 morros, a cidade possui 20 ascensores (bondinho/plano inclinado) para facilitar a vida da população, que tem que se locomover de um lado a outro da cidade. Atualmente, aqui funciona o Congresso Nacional, numa tentativa de descentralizar os poderes, que se encontravam todos em Santiago.
Há que diga que a cidade parece um enorme favelão, aos moldes dos morros do Rio de Janeiro; outros amam a peculiaridade das coloridas, pichadas e pobres casas penduradas, desordenadamente,  nas encostas. De qualquer modo, não nos pareceu tão feia quanto era em nossa primeira visita, há 25 anos.
Como os servidores estavam em greve, não pudemos subir com Ascensor Artilheria até o Paseo 21 de Maio, então fomos de van, para apreciar uma linda vista da baia e do porto, com oceano Pacífico, azulzinho, envolto em uma névoa marinha, que contrastavam com o colorido dos pesados guindastes e equipamentos portuários.
 
No próprio Paseo, cheio de banquinhas que vendem artesanato e roupas de lã, visitamos o Museo Naval y Marítimo, que conta um pouco da história das grandes navegações e guerra chilenas, além de apresentar uma vasta coleção de réplicas de embarcações, mas o mais importante é encontrado em seu pátio, a cápsula Fênix, que, no final de 2011,  que retirou os mineiros soterrados, é possível, inclusive, entrar em seu interior apertado e imaginar o que terá sido o emocionante resgate; junto a ela painéis e objetos detalham o episódio.
Seguimos para a Plaza Sotomayor, ladeada de edifícios históricos, onde se encontra o monumento aos heróis da batalha de Iquique, além de um montão de vendedores chatos, que grudam na gente feito carrapato.
Pablo Neruda amava a cidade e também a escolheu como uma de suas moradas, La Sebastiana (Rua Ricardo de Ferrari, 562).
Nela, com uma linda vista para o Pacífico, ele construiu mais um de seus barcos em terra bem firme, onde podia receber, com muito bom humor, seus amigos; trabalhar e sentar-se, calmamente, na “nuvem”, uma confortável poltrona azulada, com vista privilegiada, onde o escritor adorava sentar-se para ler.  A visita é feita com áudio-guides.
Nos encontramos em Viña Del Mar.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Viña Del Mar, 04 de novembro de 2013.

Caro Amigo,

A cidade nasceu como um balneário de ricos e famosos, lotada de turistas quase o ano todo, pois, além das praias (geladíssimas, só para turista mesmo ah, ah, ah!), ela possui lindos e bem cuidados jardins, além de ótimos restaurantes. Para nós, os brasileiros, o que fascina, mesmo, é a possibilidade de ver o Pacífico, não que, na aparência, ele tenha algo muito distinto do Atlântico, mas resta aquela magia de descobridor dos sete marés, de romper fronteiras, de sair em busca do desconhecido. É possível ir de Valparaiso para Viña Del Mar com um trem, que cruza as duas cidades pela orla.

A greve dos servidores públicos também atrapalhou nossa viagem em Viña, pois muitos dos museus estavam fechados. De qualquer modo pudemos passar pelo Relógio de Flores, um dos principais pontos turísticos da cidade, localizado em um grande jardim, logo na entrada da cidade.
A Quinta Vergara, um enorme parque, que abriga o Museu Nacional de Belas Artes e um enorme teatro, onde se realiza, anualmente, o Festival da Canção, só vimos de fora, coisas da greve. Assim, como o Castelo Wullf, todo branquinho, antiga residência de uma família alemã, em estilo francês, que abriga, atualmente, uma sala de exibições.
Ao menos assistimos, de um mirante que fica nas suas proximidades, os pelicanos descansarem, preguiçosamente, no telhado de um restaurante e entre as pedras da praia, aproveitando o sol da tarde, enquanto as azuis águas, do Pacifico, iam e vinham.
Embora não tenha sido visitar o Museu Fonck e  conhecer sua coleção de objetos arqueológicos, apreciamos o grande “moai”, uma enorme escultura de pedra, representando um homem,  trazida da Ilha de Páscoa, testemunho da cultura “rapanui”, que fica no jardim do museu.
Restou-nos seguir para a Praia Reñaca e, finalmente, pisar Pacífico, na praia mais famosa da cidade, com seus edifícios em forma de degrau; tudo lindo e maravilhoso, mas só para fotografar, pois as águas são gélidas.
Restava-nos conhecer o Casino de Viña Del Mar, localizado em um grande jardim, na orla, junto a diversos restaurantes, cafeterias.
Entramos, demos uma voltinha, mas preferimos gastar nosso dinheirinho com causas mais justas.
Após uma caminhada pelo calçadão, paramos em uma cafeteria para saborear um café, acompanhado por um tostado de queijo e presunto em pão de miga (um fininho pão de forma que, em nossa opinião, tem cara de Argentina) e uma generosa fatia de um macio e bem recheado bolo de chocolate.

De volta a Santiago, resolvemos jantar pelas imediações do hotel e conhecer a badalada noite do entorno do Pátio Bella Vista.
Escolhemos o Azul Profundo (www.azulprofundo.cl), um restaurante transadinho, do tipo novo com cara de velho. Experimentamos Chupe de Centolla e de Nachas (um fruto do mar que não existe no Brasil), trata-se de um creme feito à base de pão umedecido, lembrou-nos o modo de preparo do vatapá, porém não leva azeite de dendê, nem leite de coco, mas sim queijo.
Segunda-feira seria nosso último dia em Santiago e ainda nos faltava muito por comprar, ver e comer. Uma Cara Amiga nos deu o endereço da 25 de Março santiaguenha e pelo “café com Piernas” não havíamos nem passado. Bem sabemos que o Caro Amigo deseja mais detalhes desse tal café... mas deixaremos as explicações para depois, pois temos que sair para o crime.

Beijos,

Sayo e Claudio   

 

Santiago II, 05 de novembro de 2013.

Caro Amigo,

Saímos rapidinho, Santiago à fora, para o Palácio de La Moneda, pois a troca de guarda ocorreria às 10:00 horas, pois, segundo o site oficial da cidade, em novembro ela ocorreria nos dias pares, tivemos uma decepção, pois ela somente ocorreria no dia seguinte, por motivos que ninguém soube explicar.
Para consolo, fomos ao Haiti, tomar um cafezinho e as pernas são mesmo das moças que os servem, garçonetes com saias curtíssimas, que fazem a alegria da rapaziada, andando, para lá e para cá, com a xícara na mão. Nos contou Dom Marco que existe um outro tipo de café com pernas, mais picante, que pode ser reconhecido por seus vidros escuros, embora tenha nome de café. O Claudio, muito curiosos, andou espiando um deles e encontrou as mulheres em trajes íntimos, ele deve estar com a orelha doendo até agora (ah, ah, ah!).

Fomos ao Cerro de San Cristóbal, no imenso Parque Metropolitano (Calle Pio Nono, 450), que conta ainda com piscinas públicas, zoológico e bosques.  Às segundas, pela manhã, o trenzinho não funciona, então fomos de táxi, que cobra o mesmo preço do bonde, para subir os quase 900 metros.
No topo há vários mirantes que proporcionam vistas para a cidade e para a cordilheira, ainda com neve em seu topo, isso se a poluição o permitir, pois, às vezes, ela nubla a paisagem.
No tomo do cerro está uma imagem, de 14 metros, de Nossa Senhora da Conceição, num santuário onde também são realizadas missas.
Não muito longe do Cerro fica a Rua Patronato, uma mistura de 25 de Março e José Paulino. Nela fizemos nossas últimas compras, antes da visita ao Palácio La Moneda.
Ele se localiza na Plaza de La Constituición, foi inaugurado em 1805, como casa da moeda, passando a sede do governo em 1846. Nele morreu o Presidente Salvador Allende, no golpe militar de 1973. A burocracia para a visita é enorme, é preciso enviar um e-mail (visitas@presidencia.cl ) com a solicitação, aguardar a resposta, com um formulário que deve ser preenchido com dados pessoais do requerente, isso com alguma antecedência.
Iniciamos a visita guiada, de uma hora, no Pátio de Los Naranjos (cheio de laranjeiras) e de Los Cañones, passando por algumas salas usadas pelo presidente, inclusive o São Azul, no qual são recebidas as autoridades visitantes.
Embora seja interessante, La Moneda não tem a ponta da Casa Rosada, vale a visita principalmente em razão das explicações do guia.
Nossa despedida da viagem foi no Del Cocinero, Rua Pedro Valdivia, 41, metrô de mesmo nome, (www.delcocinero.cl), localizado em uma agradável rua, cercado por outros pequenos restaurantes, formando um cenário que nos lembrou Paris e seus cafés lotados de gente.
Lemos boas referências sobre o restaurante, quanto a preço e qualidade dos produtos oferecidos, o serviço nos decepcionou bastante, fomos atendidos por um garçom que estava em seu primeiro dia de trabalho e não conseguia nem anotar os pedidos de modo correto, várias vezes tivemos que recorrer ao chefe, e proprietário, Cristián Mellado.
Já quanto à decoração, o local é agradabilíssimo, com um ar romântico e aconchegante de um pequeno bistrô. O cardápio também oferece interessantes propostas de combinações de produtos, engenhosidade do Chef, que deu um toque francês à comida chilena. Comemos uma entrada com Nachas (um fruto do mar que não existe no Brasil) gratinadas, com toques de limão siciliano. Como prato principal, optamos pelo Ravioli de Camarão com Frutos do Mar e Congrio com Frutos do Mar.
 
Encerramos o jantar com um tradicional flan. Apesar da demora no atendimento, que, acreditamos, tenha sido uma ocorrência isolada, já que lemos ótimas criticas sobre o restaurante, o recomendamos ao Caro Amigo, pois a comida é excelente e o proprietário foi muito gentil e desculpou-se pelo incidente com o novo garçom.
 
Assim terminou nossa deliciosa visita a Santiago, mas o Caro Amigo deve estar curioso em saber como se saíram os Heróis da Resistência, temos que confessar que...mas já e hora de fechar a mala, é hora de partir para o Cantapueblo.
Beijos,
Sayo e Claudio
 

Luján de Cuyos, 09 de novembro de 2013.
Caro Amigo,
Temos que confessar que sete dos oito  Heróis da Resistência nos surpreenderam, foram aprovados com louvor, toparam tudo, alguma pequena baixa em algum jantar ou outro, mas nada que pudesse fazê-los desmerecer a alcunha, são realmente Heróis da Resistência e clientes VIP da CRKTour (ah, ah, ah!).
Bem sabemos que o Caro Amigo deve estar muito aborrecido, afinal comprou um pacote de viagem, mas só tem recebido algumas correspondências esparsas, temos que confessar que o ritmo de nossa viagem a Mendoza foi aceleradíssimo, até para o Kuc e toda sua inquietação.
O vôo entre Santiago e Mendoza, pouco mais de 30 minutos, foi maravilhoso, pois cruzamos a Cordilheira dos Andes com um lindo céu azul, que nos permitiu observar, em todo seu esplendor,  os vales e picos nevados.
Não vamos comentar a própria cidade, pois lá já estivemos, mais de uma vez,  acompanhados do Caro Amigo, é aquela cidade das acéquias, estreitos canais que a cortam, trazendo água de degelo, usada para irrigar as frondosas árvores, que ladeiam ruas e avenidas, produzindo sobra fresca para amenizar os calorosos dias de primavera e verão. Cidade famosa por suas videiras e produção de vinhos de qualidade. Mas não deixaremos de comentar que a encontramos ainda mais simpática e elegante, que em nossas últimas visitas.
Embora tenhamos viajado com o Coral, para nos apresentar no “Cantapueblo”, o maior festival de canto coral das Américas, de 05/11 a 09/11, com a presença de mais de ... coros, vindos de países como Uruguai, Chile, Equador, Venezuela, Brasil, Eslovênia, Rússia, além de coros de diversas partes da própria Argentina; com a realização diária, e simultânea, de concertos em seis pontos da cidade e de cidades vizinhas.
Então, nossa programação na cidade resumiu-se quase que somente aos eventos ligados ao festival, além de algum pequeno passeio pela cidade, para algumas compras rápidas, de lembrancinhas e alfajores, algo parecido a um bem-casado, duas rodelas de massa, de mais consistência que pão-de-ló, com recheio de doce de leite (o mais tradicional) e envoltas em chocolate, branco ou negro, ou glaçucar. Nossos jantares foram sempre Bife de Chorizo, aquele grosso e úmido bife, de carne firme, mas não dura, com gostinho de brasa, que elegemos como a melhor comida da Argentina, antes até das empanadas, aqueles  pastéis de massa fina e recheio abundante.
Porém não podemos deixar de comentar a nossa visita a Vinícola Norton (Ruta Provincial 15, km 4,3, tel. 54 (261) 490- 9700 (ramal 4) / 0800-777-667866. Perdriel - Luján de Cuyo www.norton.com.ar ), que escolhemos entre as muitas que ainda não conhecíamos, pois, após algumas pesquisas e trocas de e-mail, foi a que nos pareceu reunir uma programação de visita interessante, além de possuir um pequeno restaurante muito bem recomendado e um ambiente muito agradável.
Como bastante antecedência, fizemos nossa reserva e aconselhamos ao Caro Amigo que sempre a faça, principalmente se tiver a intenção de almoçar no local. Faríamos a visita ao meio dia, assim poderíamos descansar um pouco mais de nossa apresentação do dia  anterior, e, ao final, estaríamos justamente em um ótimo horário para o almoço. Contratamos uma van para levar-nos à bodega, que percorreu o caminho entre as duas cidades em pouco mais de 30 minutos.
Observar  parreirais da Norton, que rodeiam a bodega, por si só, já é um deleite, pois eles têm, ao fundo, céu azul e monte nevados.
Seu nome tem origem no sobrenome de um engenheiro, Edmund James Palmer Norton, que veio ao país construção de uma estrada de ferro e acabou se casando com uma argentina, recebendo como presente, do sogro, o terreno onde se encontra a bodega.
 
 
Em 1889, a bodega passa para as mãos da família austríaca Swarovski, a mesma dos famosos cristais, que inicia a modernização da bodega e sua expansão internacional.
 
Nosso tour chamava-se “Cresciendo junto al Vino” e iniciou-se com uma taça de espumante na chegada, seguida de uma visita aos parreirais.
Posteriormente, nos foi apresentada a evolução do vinho Malbec, argentino por excelência, durante todo seu processo de fabricação, através de um passeio no interior da cave. Com a primeira degustação do vinho jovem, ainda em tanque de aço inoxidável; a segunda, de uma barrica de carvalho, onde o vinho está maturando. Sendo a terceira degustação de um vinho já engarrafado.
Feita a visita, já alegres, passamos para o elegante restaurante La Vid, a cargo da Chef Patricia Suarez Reggerone, onde nossas mesas já nos esperavam.
Na entrada, uma seleção de variados pães e patê de cenoura e frango, acompanhada por um vinho Cabernet Savignon, que preferimos a um Malbec, mais encorpado, pois o dia estava quente e, em poucas horas teríamos uma apresentação.
Pelo mesmo motivo, também optamos por uma comida mais leve, Carne em uma salsa especial, acompanhada de cenoura, cebola,  batatas coradas e manjericão, textura e sabor agradabilíssimos.
Na sobremesa, nada mais típico que um flan de doce de leite, acompanhado de sorvete de “Chirimoia” (é algo parecido com a nossa graviola, talvez seja a mesma coisa), gomos de tangerina e folhinhas de hortelã, para tornar o sabor mais refrescante, deu até vontade de dar uma ajudinha com o dedo.
Um cafezinho fechou, com chave de ouro, o delicioso almoço.   Os amigos fizeram opções diversas, que não ficaram para traz em gostosura. Deixamos o sensacional almoço de cinco cursos, regado a vinhos harmonizados, para uma oportunidade em que possamos dispor de mais tempo, sem compromisso artísticos (ah, ah, ah!).

Mas o Caro Amigo deve estar se perguntando se o tão falado Coral é realmente algo tão sensacional, que mereça participar de um festival no exterior? Bem, só podemos responder que... vamos almoçar, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Mendoza, 10 de novembro de 2013.

Caro Amigo,

Então, quanto à excepcionalidade de nosso coral, somente podemos responder que não somos profissionais, a grande maioria nem reconhece as notas musicais, fato esse que nunca nos impediu de brilhar, que foi exatamente o que nos passou em Mendoza, fomos elogiadíssimos por muitos maestros e coralistas, ganhamos presentes, recebemos convites, o público nos amou de paixão, houve quem dissesse éramos um dos melhores, entre os noventa coros participantes, vindos do Brasil, do Chile, do Equador, da Colômbia, da Eslovênia, da Rússia e de várias cidades, da própria Argentina. Encantamos a todos pelo conjunto de nossa obra, vestuário, cênica, repertório, alegria e música; enquanto outros corais, com muito mais técnica e conhecimento musical, pareceram enfadonhos.
Que nos perdoem os doutos, mas, como disse Vinicius, a beleza é fundamental e ela não reside no conhecimento de quem faz, mas sim nos olhos de que vê, ou melhor, nos ouvidos de quem ouve. De pouco adianta teorizar contra a opinião pública, ela sempre vence. Em nossa modesta opinião, de pouco, ou nada, adianta ter um excelente coral, que se relega a cantar para si próprio entre quatro paredes ou somente para mestres e doutores em música. Nos desculpamos pela ignorância musical, mas nos parece bem mais importante cantar para que todos possam ouvir e se emocionar, como vimos acontecer com os argentinos, em nossas apresentações, houve quem chegasse às lágrimas.

Levamos para o festival o repertório de nosso espetáculo, Tom para Ver e Ouvir, além de algumas músicas em espanhol, para homenagear los hermanos, inclusive porque o Cantapueblo comemorava seu 25º Aniversário. Em nossa primeira apresentação, dia 06/11/13, no Espacio Cultura Le Parc, sala Violeta, em Guaymallén, nos arredores da cidade de Mendoza.
Fizemos uma apresentação de uma hora, com as seguintes músicas: Chega de Saudade, Água de Beber,  Fotografia,   Samba de uma Nota Só,  Desafinado,   Sabiá,   Passarim, Insensatez, Este teu Olhar,  Dindi,  Só tinha que ser você,  Chovendo na Roseira,  Garota de Ipanema, Eu sei que vou te Amar. Nessa última o Soneto da Fidelidade é declamado em espanhol, assim como a última estrofe da música, uma homenagem aos argentinos.

Nossa segunda apresentação foi na Iglesia Sagrada Família, dia 07/11/13, também em Guaymallén. Reduzimos o número de músicas Chega de Saudade, Água de Beber,  Samba de uma Nota Só,  Desafinado,  Dindi,   
Garota de Ipanema, Eu sei que vou te Amar. Fomos ovacionados, contávamos com a proximidade do público, que fez questão de se acercar para conversar e tirar fotos.
 

 
Dia 08/11/13, pela manhã, fomos ao Aconcagua, pico mais alto das Américas, 6.960 metros de altura, para Canto no Teto da América, com apresentação conjunta de vários coros, cantamos juntos Canción con Todos, que linda canção, que fala das riquezas dos países, de esperança e união de mãos e vozes dos povos da América do Sul, cantada por Mercedes Sosa, cujo compositor foi o regente do concerto.
Seguimos para um almoço coletivo, com muito canto e brincadeiras, mas ainda havia um pouco de gelo, todos cordiais, mas ainda não amigos de infância.
À noite, fizemos nossa apresentação no Teatro Imperial, em Maipú, parecida com a da igreja, Cantamos Canción con Todos, de Mercedes Sosa, para homenagear os argentinos e, como bis, Carta ao Tom. Novamente fomos aplaudidíssimos. Apesar de termos cantado em último lugar, em todas as apresentações, geralmente já passando das 11 horas, sempre encontramos uma boa receptividade do público, composto pelos demais corais, em sua maioria, que, aparentemente, esperavam ansiosos nossa apresentação.
No dia 09/11, sábado, encerramento do evento mal tivemos tempo de respirar, a programação era vasta. Às 09:00 horas, estávamos na Igreja Compania de Jesus, para o ensaio geral para o Megaconcerto de 25 Anos do Cantapueblo, todos os coros, 1500 vozes, e o Opus Cuatro, um quarteto vocal argentino (Hermando Irahola, Andrés Bugallo, Frederico Galia e Alberto Hassan) de música folclórica latino-americana, tango e espirituais que comemorava seus 45 anos.

Após o ensaio das três músicas, Fantasia (a do Chico), Dale Alegría  a mi Corazón e Sueño de la Vendimia, seguimos para a Cantata Callejera, saímos todos, pelas ruas da cidade cantando.
Nos vestimos para um jogo do Brasil, foi um sucesso. Terminamos na Praça Independência, de onde partimos para o almoço no Círculo Militar, uma continuação da festa da rua, com homenagens, hinos, troca de lembranças, muito vinho e carnaval.
Voltando ao hotel, três horas para as últimas compras, um banho e todos os preparativos necessários à beleza que a noite exigia. Chegamos ao Estádio Vicente Polimeni, em Las Heras, ainda com tempo para um último ensaio e iniciou-se o Megaconcerto, alguns corais , os que mais se destacaram, foram convidados a cantar e, entre eles, nós. O Opus Cuatro fez seu show, terminado com as três músicas que seriam acompanhados pelas 1500 vozes, de todos os coros participantes, e regidas por Ricardo Portillo (Argentina), Patricia Costa (Brasil) e Javier Rodriguez (argentina). Foram homenageados os maestros de todos os Corais, com um diploma e uma foto do coro no Aconcagua.

Voltamos ao Círculo Militar, agora para o jantar de aniversário, mais trocas de sorrisos, de elogios, de cumprimentos e de lembranças. Algumas taças de vinho após, todos já eram muito mais que amigos íntimos de infância. Até as russas, a principio tão sérias, vieram nos trazer presentes e tiraram o Kuc para dançar (espero que isso renda frutos, como uma viagem para cantar na Rússia, ah, ah, ah!). Continuamos a ser a sensação da festa, todos vinham nos abraçar, tirar fotos e nos convidar a cantar em suas cidades, que nos perdoe, o Caro Amigo, algum exagero, pode ser efeito do álcool (ah, ah, ah!). 


Já passavam das 03:00 horas, quando chegamos ao hotel, para dormir um pouco, antes de encarar o dia de viagem de volta, deixando alguns, os mais destemidos, ainda bailando pelo salão.

Temos plena certeza de que até o Caro Amigo está cansado, então... vamos dormir.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Santos, 11 de novembro de 2013.

Caro Amigo,
E assim saímos para cantar, com os companheiros de viagem que a vida nos ofereceu, que, como sempre acontece, talvez não fossem os que nossa lógica escolheria, mas como já disse Dürrenmatt, “o acaso, muito mais que a lógica, é o protagonista de nossas vidas”. E nelas, nas nossas vidas, surgiu esse grupo de cantantes, gordos, magros, baixos, altos, velhos, novos, brancos, pretos, loiros, calvos e afrodescendentes.
Bem nos lembramos que, ainda na escola,  na escolha de pares para a equipe de queimada ou para o futebol, sempre tivemos nossos amigos de fé, irmãos e camaradas. Seguramente seria uma Beth, aquela amiga tão querida, que dividia o lanche e não era quatro olhos. Ninguém trocaria aquela amiga riponga, do tempo de juventude, alguma Rosana, que nos contou tudo que ouviu de sua mãe sobre Woodstock. Ou mesmo a simpática e doce loirinha, lá do escritório, uma Patrícia, que sempre tem algo agradável a dizer. Quanto mais deixar a aquela Regina, adorável vizinha, amiga para os desabafos e para a falta de açúcar. E nos perguntamos de onde vêm esses tais critérios eletivos, que tornam uns mais agradáveis, que os outros, aos nossos olhos tão falíveis.
Talvez de nossa educação? Talvez da religião? Não, dessa última não! Ela nos obrigaria a nunca, jamais, em tempo algum, se querer permitir que nossos pensamentos ousassem cogitar a hipótese de que não amamos a todos, absolutamente todos,  os demais  mortais tanto e quanto a nós mesmos. Temos que aceitar que, apesar de nossa crença em Deus, continuamos em nosso status de seres humanos e muito pecadores, o que, hoje, já não nos causa tanto pavor, pois nosso Deus já não é o que pude, mas sim o que cura nossas feridas e nos enche de bênçãos.
Talvez, até, nem exista uma tal explicação plausível, tal qual uma receita de bolo,  para simpatia e a antipatia. Assim não fosse teríamos somente duas categorias de pessoas, as amadas e as detestadas, e bem sabemos que a vida não é assim. Nos bastidores dessas nossas vidas continuam existindo os reis, os mais, muito mais, reais que os reis e os outros; todos contracenando em meio a intrigas tão, ou mais, sutis que as palacianas.
Mas continuam existindo, na vida de todas as pessoas, as pegadas daqueles que os acompanharam, por algum tempo durante a viagem, que jamais seriam suas próprias escolhas e que, tolamente, por vezes, são relegadas a um “não fede nem cheira” ou pior. E com essas pessoas continuamos a cismar, já que o acaso as trouxe as nossas vidas, até que em algum lampejo de lucidez, ou não, nos demos conta de que talvez, só talvez, elas tenham provado o remédio amargo que, ao vermos suas feias e franzidas caras, possamos poupar-nos de provar. Talvez elas tenham passado por nossas vidas para nos ensinar a nos afastarmos do que não nos convém.
Na vida, de tudo podemos aprender algo, nenhuma experiência é inútil, por mais que nos custe, em certo momento, acreditar. E assim que nem tudo é absolutamente ruim, pois sempre restara um “quase”, um “quando”, um “se” ou um “talvez”. Afinal, atualmente, está tão na moda beber um não sei que chá, repugnante, porque emagrece; comer uma tal farinha produzida em Xiririca da Serra, por monges cegos e aleijados, porque deixa o corpo durinho; ou usar creme de baba de caracol porque rejuvenesce em uma semana, comprovadamente; até o dito melhor e mais caro, caríssimo, café feito do, acredite se quiser,  cocozinho de uma tal cabra, andamos bebendo e pagando muito por isso . Não há que se negar que somos capazes de coisas incríveis, ou talvez horríveis, até de aprendermos a ser menos ruins observando algo que nos parece horrível e contra o qual nos indignamos terrivelmente.
Temos escutado, muito em moda, o uso de um chavão que preconiza o “aprender a conviver com as diferenças”, que se nos assemelha a : “senão o bicho papão vai te pegar”. Esse último tão usado pelas nossas mães, quando queriam nos obrigar a fazer algo que, na opinião delas, era o correto e que, agora sabemos, nem sempre o era; idêntico uso que, em nossa modesta opinião, vem sendo dado ao “aprender a conviver com as diferenças”. Que nos perdoem os, bem intencionados, que usam o jargão.   
Algo meio como o tal “politicamente correto”, agora tão fora de moda. Um lugar comum que tende a modelar pessoas, a conformá-las, dando-lhes uma forma padrão elegante aos olhos da sociedade. Algo que nos parece olhar os outros com um certo ar de superioridade e que, novamente em nossa opinião, visa transformar pessoas um rebanho de cordeirinhos dizendo amém ao modo de pensar determinado, não respeitando o que  suas próprias palavras preconizam, as tais diferenças a serem respeitadas. 
Assim, o  tal “aprender a conviver com as diferenças”, mais se nos assemelha, por vezes,  como o “politicamente correto”, a algo meio elitista com falsos ares de democrático, que só quer tornar todos iguais, uma horda obediente de pessoas manipuláveis e tementes ao bicho papão; algo muito longe do que as palavras verdadeiramente querem significar. O “aprender a conviver com as diferenças” parece que virou uma resposta clichê, um “cala-a-boca”, para se encerrar o assunto que, na verdade,  não se quer discutir, sobre o qual não se pretende emitir opinião, deixando o pobre interlocutor com cara de babaca ou pouco letrado. E, no frigir dos ovos, o problema do ser humano continua sempre o mesmo e ele reside no fato de que enquanto alguns respeitam as diferenças, outros só querem ter suas diferenças respeitadas. Contra fatos não existem argumentos que se sustentem.
Conviver com diferenças é o que fazemos, diuturnamente, desde o momento que nascemos, já que uma das poucas máximas verdadeiras é que ninguém é igual  a ninguém. Mas acreditamos que aceitar as diferenças está diametralmente longe de significar aceitar falta de respeito, de educação ou de urbanidade, atos contra os quais temos sempre que nos insurgir, nós não temos que aceitar o ruim, como bem disse Francisco; nós nascemos para sermos felizes.
Mas, afinal, quem não respeita seu próximo, aprendeu a conviver com as diferenças dele? Quem não trata seu companheiro com a devida educação, aprendeu a conviver com as diferenças dele? Quem não age com urbanidade, aprendeu a conviver com as diferenças das outras pessoas? Devemos sim, nos esforçarmos em praticar o bem e agir com presteza e correção, sem, contudo, nos tornarmos saco de pancadas, desse modo tudo se supera, sem necessidade de frases bonitas, chavões ou lugares comuns.  Sejamos pessoas de boas ações e soluções, não de lamúrias e desculpas, que buscam somente satisfazer seus interesses individuais; não deixemos que o bonde da vida passe, enquanto ficamos parados na estação a reclamar que a sorte não nos sorriu, nos sentindo injustiçados e preteridos, nos temos nossa vida nas mãos para fazer dela o que entendermos melhor, e é assim não permitiremos que diferenças nos sirvam de obstáculos. Lógico que todos temos nossos dias ruins, momentos difíceis, dias de mau humor e de TPM, nos quais nem sempre agimos com a devida cordialidade, somos muito falíveis.  Como também existem os que sabem ser bastante simpáticos com quem querem e quando lhes convém.
Mas... , talvez, isso tudo não passe de mera reflexão, um punhado de besteiras de outros mundos que nossa mente, desocupada, teima em visitar, na ânsia de ocupar-se, já que ao nosso corpo só resta um nada-fazer pelo saguão do aeroporto lotado. Talvez não passe de mera filosofia de botequim. E, afinal, não estamos buscando ter razão em nada, estamos mesmo preocupados é em continuarmos sendo muito felizes (ah, ah, ah!).
E assim foi que saímos para cantar, com os companheiros de viagem que a vida nos ofereceu, que nos resultaram fantásticos, pois, uma vez mais, nos ensinaram algo que, porém, jamais terá o condão de mudar o fato de que todos nos, absolutamente todos, continuaremos, sempre, tendo os nossos amigos prediletos, colegas e as pessoas que conosco não simpatizam, não seremos nós a negá-lo em um mundo já tão hipócrita; escolha que só a nós próprios compete. E com essa diferença conviveremos por toda nossa vida, quer aprendamos, ou não.
E que nos perdoem os que não concordam com nossa mais sincera opinião, mas, em assim sendo, eles, seguramente, em nada se ofenderão, simplesmente respeitarão nosso modo de pensar e aprenderão a conviver com as diferenças que são nossas, posto ser o que pregam (ah, ah, ah!).
E na mesma viagem, tivemos ainda o imenso prazer de visitar lindos lugares e conhecer muitas pessoas admiráveis, como já lhe contamos, que cruzaram o nosso caminho e contribuíram para tornar nossas vidas ainda mais felizes; além de contar com a excelente companhia do Caro Amigo, lógico!
Obrigado por escolher nossa empresa para sua viagem (ah, ah, ah!)
Hasta la vista!

Beijos,

Sayo e Claudio