domingo, 22 de fevereiro de 2015

EXPEDIÇÃO XIKRIN DO CATETÉ - 2010

Santos, 11 de abril  de 2010.


Caro Amigo,


Estávamos um pouco entediados..., quando, inesperadamente, ouvimos falar que, lá para os lados da Terra do Meio (um dos lugares mais inóspitos do Brasil, no meio da Floresta Amazônica, entre os rios Catete, Itacaiunas e Tocantins), os Xikrins do Cateté, uma tribo a pouco contatada pelo homem branco (para não dizer que somos racistas, pode ter sido pelo amarelo ou negro),  realizaria uma comemoração (isso está até parecendo um episódio do Senhor dos Anéis).  



Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro da humanidade e que possamos alegrar um pouco nossa vida tão entediada. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META (100.000 Km viajando, ah, ah, ah!),  resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada, a partida será amanhã, mal dá tempo de arrumar a mochila.

Infelizmente, a administradora, navegadora, escritora e mentora intelectual (entre outras importantíssimas coisas) da CRKTour, Sayo, não participará dessa expedição, afinal alguém nessa empresa tem que trabalhar. Também, em virtude de dificuldades de comunicação, pois é muito longe para mandar sinais de fumaça, não será possível enviar  mensagens  diária.

Vem com a gente!

Sayo e Claudio



Caro Amigo

 
Para que você, que irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.


--------Aéreo São Paulo – Belém do Pará;
 ------- Terrestre em carro..

 Imaginamos que a Cara Amiga já está arrancando os cabelos, não foi ao cabeleireiro, a chapinha queimou, não fez depilação, não comprou aquele lindo shortinho que está na moda, seu biquíni está velho, não pediu uma mala de rodinhas emprestada etc. Que falta de educação convidar em cima da hora! Calma!!! Nosso programa é, literalmente, de índio: dormir em rede dentro de alguma oca; nada de luz elétrica; fogão de pedra com gravetos; banho só de rio; nada de tijolo, asfalto, concreto ou cimento. O banheiro?... é no matinho mesmo. Então, nada de se preocupar com a aparência, guarde isso para a viagem da Europa (está chegando), passe a mão na primeira roupinha que encontrar, não esqueça o chapéu, a havaiana e o protetor solar. A rede? Compramos no caminho!   

Avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o gato com o vizinho e as crianças na casa da vó (a viagem será perigosa), prepare a pipoca, pegue uma Bohemia gelada (como já está esfriando, talvez seja melhor um vinhozinho), escolha uma poltrona confortável, ligue o computador e espere pacientemente, quando der mandamos notícias (ah, ah, ah!). VEM COM A GENTE! 


Sayo e Claudio


O POVO XIKRIN DO CATETÉ

Os Xikrin do Cateté pertencem ao grupo Kaiapó, nome do povo e da língua que utilizam. Localizam-se, atualmente, próximo ao rio Cateté, afluente do rio Itacaiúnas, em área de mata rica em mogno e castanheiras. Antes da presença do homem branco na região, os Xikrin do Cateté viviam numa área mais extensa, ocupando temporariamente diversas aldeias espalhadas pelo sul paraense.
Com a entrada de caucheiros e castanheiros, iniciaram-se as hostilidades, que culminaram com um massacre de 180 indígenas, em 1930. Os Xikrin mudaram-se, então, para os arredores do rio Bacajá e as cabeceiras do rio Itacaiúnas. Mas como essa área também era rica em castanheiras, em breve ocorreram novos choques, o que obrigou os indígenas a retornarem ao rio Cateté. A partir de 1966, os padres dominicanos Frei Gil Gomes Leitão e Frei José Caron passaram a viver entre os Xikrin, dando assistência médica e orientação sobre formas de sobrevivência econômica.
A área ocupada pelos Xikrin passou a ser invadida por madeireiras, a partir de 1977. Como nessa época a área já estava delimitada e demarcada, pertencendo legalmente aos indígenas, houve processo judicial para a retirada dos invasores. Em 1995 a população Xikrin era de 517 pessoas.
Apesar das violências sofridas, os Xikrin conseguem, hoje, manter as tradições, o emprego da língua Kaiapó e o respeito pela natureza.



AGRICULTURA

"Os Xikrin sempre foram agricultores. Abrem grandes roças onde cultivam milho, mandioca, macaxeira, inhame, batata-doce, abóbora, banana, mamão e algodão".
"Apenas o chefe, Bemoti, tem uma roça que leva seu nome. A roça de Bemoti não se caracteriza tão somente como sendo propriedade do chefe da aldeia. Serve também á formação dos jovens mebengodju e meprinti (meninos de seis a oito ou dez anos, e meninas antes do casamento); é lá que, quando reunidos informalmente, recebem as instruções pacientes de Bemoti e aprendem, sob o olhar vigilante de sua esposa Nhiok-pú, os rudimentos da agricultura: como limpar, onde plantar, qual o tamanho dos buracos a cavar e a distância entre eles, como colocar no chão a maniva e quantos grãos de milho ou sementes de abóbora devem ser enterrados a cada vez. Mais tarde, quando começam a brotar os primeiros rebentos, cada um é convidado, durante o alegre passeio à roça, a reconhecer o que ele mesmo plantou, a admirar o tamanho e a cor das folhas e a retirar insetos ou ervas daninhas". (VIDAL, 1977, p.77 e 79).



EXPEDIÇÃO SANTA FÉ DE BOGOTÁ - COLOMBIA - 2011


Santos, 26 de fevereiro de 2011.


Caro Amigo,


Ouvimos dizer que a Colômbia de hoje deixou para trás o estigma do narcotráfico, da guerrilha e dos seqüestros, transformando-se em um país seguro, onde o turista é recebido de braços abertos e com um sorriso no rosto, e, principalmente, que Bogotá, a capital, combina beleza natural, sítios de interesse histórico e cultural, boa comida e ótimos preços.






Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos 100.000.000.000.000.000 Km viajando (ah, ah, ah!), resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada.

Aproveitaremos para conferir se o café é realmente tão delicioso quanto fala e conhecer as gordinhas do Botero.

Vem com a gente!

Sayo e Claudio


Santos, 27 de fevereiro de 2011.


Caro Amigo,

Para que você, que irá nos acompanhar em mais uma árdua jornada até os confins da terra, não se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.
Reserve já o seu lugar, faça as malas (não exagere, são só 23 kg, vôo econômico!), pegue o passaporte, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o gato com o vizinho e as crianças na casa da vó, esqueça a fantasia e os desfiles de carnaval, pegue uma caneca de café (não agradou? Põe cerveja na caneca e faz de conta que é café colombiano, ninguém precisa saber), escolha uma poltrona confortável, ligue o computador e VEM COM A GENTE! 
Aproveite para enviar alguma dica para tornar nossa viagem mais interessante. Talvez alguma pequena cafeteria, que já visitou e achou incrível; um restaurante, que viu em alguma revista de turismo; um lugar que você gostaria de conhecer, mas ainda não teve tempo; ou mesmo o endereço de sua adorável tia colombiana, que faz um delicioso “ajiaco”, teremos imenso prazer em visitá-las, conferir e contar tudo, nos mais mínimos e prazerosos detalhes.

Beijos,

Sayo e Claudio


Santafé de Bogotá I, 02 de março de 2011.

Caro Amigo,

Dizem os colombianos (talvez um pouco suspeitos, veremos!) que se você quiser encontrar turismo cultural, ecológico e de aventura, boa comida, povo hospitaleiro, bons hotéis, clima variado, praias paradisíacas, montanhas, florestas e muita história, basta ir à Colômbia, pois o país, apesar de não muito grande, reúne tudo de bom que o mundo pode oferecer.

Tendo tudo isso em conta, há algum tempo, começamos a amadurecer a idéia de fazer uma visitinha à Colômbia. Optamos, então, por iniciar com uma pequena expedição, somente pela Capital, na certeza de que seria suficiente para nos dar uma noção do que o país tem a oferecer, abrir nosso apetite e apontar futuras possibilidades.

Aproveitando a promoção de 10 anos da Gol, com passagem de volta a R$10,00, resolvemos passar o Carnaval em Bogotá. Compramos alguns guias; fomos ao Consulado; conversamos com amigos que já estiveram e traçamos nosso roteiro; o que queríamos ver, o que comer e onde, como nos deslocar e, principalmente, onde ficar e comprar.

E qual não foi nossa surpresa quando, em meio a tantos preparativos, descobrimos que em Bogotá, em pleno verão, a temperatura oscila entre 6 e 15 graus, e mais... chove todos os dias, um verdadeiro banho de água fria, mais de 20 graus a menos que a temperatura de Santos. Não foi uma tão grata surpresa, mas, afinal, eu (Sayo) poderia aproveitar a oportunidade para usar aquele meu maravilhoso sobretudo preto com capuz, cuja compra nos levou à Buenos Aires em novembro/10, como bem deve lembrar o Caro Amigo, nem tudo estava perdido (ah, ah, ah!).

O vôo partiu sem atrasos, o serviço de bordo nem estava tão ruim, o que incomodava era a voz do comandante que, com uma freqüência bem maior que a razoável, anunciava: “Prezados Senhores, permaneçam sentados e com os cintos de segurança afivelados, pois estamos atravessando uma área de turbulência”. Depois da décima vez, decidimos que era melhor parar de contar e relaxar, afinal o avião entrava no meio de umas nuvens, mas nem sacudia tanto.

A cidade foi fundada em 06 de agosto de 1538. Está localizada na Cordilheira dos Andes, numa altitude de 2.940 metros, o que explica o clima de montanha, frio mesmo no verão. Tem uma área de 1.587 km², maior que a cidade de São Paulo, porém com uma população de 8 milhões de habitantes, bem inferior a de São Paulo; trata-se uma cidade horizontal, com mais casas que edifícios, o que explica a maior área para uma população menor.

Chegamos às 16:30, hora local, 18:30 hora do Brasil. Como sabe o Caro Amigo, não é nosso hábito fazer reserva em hotéis, pois gostamos de conferir se são tudo aquilo que dizem ser antes de nos hospedarmos; porém, como a cidade é enorme e não alugaremos carro, resolvemos fazer reservas antecipadas.

No site www.tripadvisor.com encontramos varias indicações de hotéis, suas localizações e opiniões de hóspedes. Escolhemos um que nos pareceu bem localizado, com bom preço, proprietária simpática (Dona Paulina), café colombiano à disposição na recepção, mas minúsculo, minúsculo mesmo. O hotel também não tem café da manhã, fato que consideramos positivo, porque além de impedir que a gente se empapuce comendo um montão de coisas triviais, que na verdade não queríamos, mas, como a carne é fraca e a comida está ali mesmo, acabamos comendo; permite-nos escolher algo bem típico da cidade para comer, em um dos muitos carrinhos, banquinhas e pequenas lanchonetes, que encontramos espalhados pela cidade e que vendem umas coisas muito esquisitas (em português), mas que teremos o imenso prazer de provar e descrever ao Caro Amigo.

À primeira vista, a cidade nos pareceu estranha, do tipo “o que é que eu estou fazendo aqui”. Por todo trajeto que fizemos do aeroporto ao hotel, não vimos nada parecido com uma cidade européia, como é o caso de Montevidéu, Buenos Aires e Santiago; também nada moderno como São Paulo. Realmente a cidade é horizontal, há uma predominância de tijolo aparente nas construções, o que dá há cidade um tom amarronzado, e pareceu-nos algo entre alguma cidade do norte do Brasil e boliviana, passando pelo Largo da Concórdia e pelo Brás. Mas, como bem sabe o Caro Amigo, emitir opinião quando se está cansado e com fome é muito complicado, veremos o que o futuro nos reserva.
Deixamos as coisas no hotel, tomamos um banho e fomos, caminhando pela garoa, ao El Navarra, restaurante recomendado por Dona Paulina. E, acredite o Caro Amigo ou não, depois da Paella Valenciana (com frutos do mar, franco e porco, além de ervilhas e pimentão), da Cazuela de Mariscos (tenros camarões, e outros frutos do mar, nadando em um fervente molho rosado, que provavelmente continha leite de coco, creme de leite, tomates, salsa e especiarias) e da garrafa de vinho chileno, a cidade mudou até de cara, o frio até passou, Nada como viajar (ah, ah, ah!),
Beijos,
Sayo e Claudio 



Bogotá / La Candelaria, 04 de março de 2011.


Caro Amigo,


O frio e a chuva continuam, não chove o dia todo, mas chove várias vezes durante o dia. A cara da cidade também não mudou muito, mas já nos acostumamos com ela, principalmente com a imensa simpatia das pessoas.


Em nossa primeira visita ao Transmilênio (transporte feito por ônibus em corredores especiais, como o de Curitiba, porém maior e bem mais complicado, mas se conseguimos entender o metrô de Berlim, seguramente entenderemos o Transmilênio de Bogotá), pedimos informação a uma moça, Alejandra, sobre qual ônibus tomar, ela nos ajudou, tentando explicar uma tabela, pior que a periódica, e, na dúvida, ainda foi atrás de nós, confirmou as informações com um guarda e deixou seu telefone para que a chamássemos em caso de precisão.


 Pedimos informação a um guarda de segurança particular sobre um restaurante, por não conhecer, ele deslocou-se até a guarita, tentou várias vezes chamar o telefone do restaurante, que só dava ocupado, e ainda desculpou-se por não poder ajudar mais.



Como bem sabe o Caro Amigo, tenho (Sayo) sempre em minha bolsa um quite de sobrevivência, uma barrinha de cereal ou um chocolate, para revigorar minhas forças, nas difíceis horas em que sou arrastada pelas ruas deste mundo de meu Deus, sem ter tempo para parar para comer, pois meu dileto marido tem que cumprir todas as suas metas diárias e somente pode dar-se ao desfrute de comer naquele tal restaurante na beira do Sena, que lhe contei na última viagem. Esse quite, aqui em Bogotá, tem sido um peso morto, pois é quase impossível resistir aos apelos das vitrines, postas à beira da calçada e de onde se vê a confecção dos quitutes, que aparecem fumegantes; ou mesmo dos carrinhos e banquinhas, onde as pessoas se apinham para comer. E não se perde nem um minuto para comprar algo, luxo que ele me permite (ah, ah, ah!)


Em nosso primeiro café-da-manhã provamos um “Caldo de Costillas”, em resumo um saboroso caldo de costela de boi com batatas, salpicado de salsinha, acompanhado por pão e café com leite; uma maravilha, esquenta e anima o dia de qualquer um.


 Também já provamos o “pandebono”, uma espécie de pão de queijo, chato, redondo e com mais queijo que o nosso; o “almojábana” um pão redondo de milho com queijo, com massa soltinha e um bem leve sabor adocicado que contrasta com o sabor forte do queijo; o “Tamal” é um pouco diferente do que comemos no norte da Argentina, é um enorme embrulho de folha de banana que contem uma espécie de cuscuz feita com farinha de milho (parece milharina) e arroz, toucinho, frango (pedaço grande, até com osso), cenoura, fava e especiarias. Provamos também um dos cafés mais famosos, o da cafeteria Juan Valdez.


A cidade cresceu bem ao pé da Cordilheira, tem uma parte plana e outra já localizada no início de suas encostas. Geralmente as ruas não têm nome, mas sim números, as que seguem do sul para o norte chamam-se Carreteras e as que vão de oeste para leste tem o nome de Calles. Assim, em um endereço existem três números, dois do cruzamento da Carretera com a Calle e o terceiro que é o número do edifício, como o que usamos no Brasil. Um pouco confuso!


Além do Transmilênio, o transporte é feito por “busetas” (pequenos ônibus, muito velhos) e táxis, que são muito baratos, além dos automóveis particulares e motocicletas.


 O trânsito é pesado e o povo adora uma buzina. As ruas estão sempre lotadas de gente, estudantes uniformizados, trabalhadores, uma muvuca danada. Mas a segurança é nota 10, a cidade é muito bem policiada, encontramos policiais militares em cada quarteirão nos locais de maior concentração de pessoas, dá para passear tranquilamente, guardando os devidos cuidados necessários em qualquer grande cidade.


Já descobrimos onde fica a 25 de Março daqui, na Calle 53, muitas lojas de material para artesanato, para festas, roupas, flores, utensílios domésticos. Também já descobrimos o que faz valer a pena qualquer viagem a Bogotá: La Candelária. Onde tudo acontece e onde a cidade nasceu. O bairro preserva uma arquitetura colonial espanhola primorosa, ruas estreitas e coloridos sobrados, telhas de barro, balcões e grades de madeira entalhada, onde funcionam restaurantes, hotéis, bibliotecas, galerias, museus etc., além de outros estilos arquitetônicos, como o francês e o neoclássico, agregados em construções já um pouco mais modernas. Perder-se pelas ruas de La Candelária é um achado de cultura e distração, um deleite para o corpo e para o espírito, tarefa para vários dias de descoberta.


Em nossa primeira visita a La Candelária, fizemos um passeio guiado, oferecido pela Policia de Turismo, que parte do Centro de Informações Turísticas, na da Plaza Bolívar, coração da cidade e do país, bem ao estilo das Plazas Mayores da Espanha, um enorme quadrilátero, sem vegetação, limitado por imponentes edifícios, que, no caso de Bogotá, são o Capitólio Nacional (Congresso), a Catedral, a Capilla del Sagrado, o Palácio de Liévano (prefeitura), Palácio da Justiça e Museu da Independência Casa del Florero; ao centro uma estátua de Simon Bolívar, o libertador. Programa imperdível para conhecer um pouco da historia, das coisas e das pessoas, e , principalmente, de como tudo aconteceu.


Ainda em La candelária, fizemos outro passeio guiado pelo Museu Histórico da Polícia Nacional, que, além de estar localizado em um esplendido edifício com pátio interno, conta um historia da Polícia Nacional, uma das melhores, do combate e desmantelamento do narcotráfico. O museu também possui interessantes coleções de armas, uniformes e medalhas.  


Para nossa alegria, também descobrimos que... hora de sair para tomar mais um delicioso café-da-manhã, como bem diz o Claudio: “Lugar de turista é na rua”.  Contamos depois!


Beijos,




Sayo e Claudio



Bogotá III, 05 de março de 2011.


Caro Amigo,


Descobrimos que a cidade também tem seu lado bonito e muito bem cuidado; com largas avenidas arborizadas, modernos edifícios comerciais, casas acolhedoras com jardins, confortáveis condomínios residenciais, gente bonita passeando com seus cachorros ainda mais bonitos; seguindo sempre a utilização do tijolo aparente nas construções. Acontece que esse lado agradável da cidade está localizado a partir da Calle 70, ao norte da cidade, um pouco adiante de onde estamos hospedados, na Calle 63, e bem distante de La Candelária, que fica nas imediações da Calle 10.


Pensamos na possibilidade de mudar de hotel, para algum localizado nessa parte mais agradável, mas, afinal, concluímos que não valia à pena, pois estamos no meio da cidade, como diz a Sra. Paulina: no umbigo da cidade. Temos acesso fácil para qualquer lugar; restaurantes, lanchonetes e supermercados ao nosso lado; e ainda contamos com a enorme simpatia do pessoal do hotel, que nos dá vários conselhos, dicas e sugestões. Sem falar que perderíamos um dia refazendo e desfazendo as malas e, principalmente, que por lá não tem as banquinhas de guloseimas, nem o “Caldo de Costillas” para o café da manhã (ah, ah, ah!).


Com chuva, nada melhor que visitar museus na Candelária. O Museo de La Independência – Casa del Florero tem um nome pomposo, quase tanto quanto a linda casa branca e verde, onde está localizado, avarandada, com um grande pátio repleto de plantas, em estilo árabe-analuz (Andaluzia localiza-se no sul da Espanha e esteve sob domínio árabe por mais de 800 anos, motivo da grande influência dessa  cultura na espanhola). Fizemos uma visita guiada, muito bem esplanada, e chamou nossa atenção seus recursos audiovisuais, uma projeção de slides com alguns movimentos, como bocas que falam e veículos que se movem, além da projeção de mapas que se movimentam ao toque.


Contam que José Gonzáles LLorente, espanhol, era um homem muito rico, dono de um enorme e muito sortido armazém, que funcionava na casa onde hoje está o museu e que vendia peças finas para toda sociedade de Bogotá. Já os irmãos Antonio e Francisco Morales faziam parte da sociedade, porém eram “criollos” (cruzamento de espanhol com índio ou negro), sendo, portanto, considerados inferiores aos espanhóis de sangue puro, eles eram americanos. Um belo dia, por ocasião de uma importante visita que receberia, Antonio Morales pede um determinado “florero” (vaso) emprestado a José Gonzáles, pois ter um vaso de flores era símbolo de prestígio. Ocorre que se tratava de um florero muito estimado, por estar em perfeito estado, já que, no transporte, quase todos os objetos chegavam a Bogotá com alguma avaria; portanto José Gonzáles respondeu que somente o alugaria ou venderia. Inicia-se uma grande discussão e o “florero” acaba em cacos no chão; os dois partem para as vias de fato e, no auge da luta, o espanhol blasfema ofendendo os americanos.


 A razão da consternação e do reboliço que o fato provocou nos “criollos”, americanos, que eram a grande maioria da população da cidade e que caçavam a José Gonzáles para linchá-lo, a polícia decide prender os espanhóis, como meio de apaziguar os ânimos. Tudo isso se passou no dia 20 de Julio de 1810, que é considerado o dia da independência da Colômbia, pois foi o estopim de todo um movimento que culminou com a liberdade do país. Se é verdade? Não sabemos, mas é o que contam, até vimos o tal “florero” coladinho, por uma entrada que equivale a R$3,00.


E contam mais, que, na época, ter uma filha no convento era razão de grande prestígio para a família. Assim, toda filha feia, que seguramente não arranjaria um casamento promissor, era, já novinha, enviada para o convento; as namoradeiras e que não aceitavam o marido escolhido pelo pai também iam. O Museu de Santa Clara ocupa a igreja que foi parte do Convento das Clarissas, conservando sua decoração original, do século XVII, com retábulos barrocos folheados a ouro, mais de cem pinturas a óleo adornam suas paredes, além de imagens policromadas. Sua coleção de anjos e arcanjos merece destaque e a entrada gratuita também.


A Catedral está consagrada a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, edifício em estilo neoclássico, está localizada no mesmo local onde foi construída a primeira igreja da cidade, em 1539; seu interior é bonito, mas nada que chame a atenção sobre maneira. Ao lado fica a Capilla del Sagrado, que expõe uma coleção de pinturas sacras, muitas de autoria desconhecida.



O “Museo del Siglo XIX” fica em um lindo e enorme casarão da época do século XIX, que dizem ser de estilo republicano (não conseguimos ninguém que nos explicasse exatamente o que significa), em moda no país entre 1830 e 1930. O local já abrigou uma escola e atualmente exibe trajes e acessórios usados pela sociedade da época, mobiliário, porcelanas e louças. Merecem grande destaque coleção de postais, com exemplares ainda em preto e branco, seguindo pelos coloridos manualmente e bordados, até os em alto relevo; e a coleção de miniaturas, feita por mãe e filha, por mais de 60 anos, que apresenta uma casa, com 17 cômodos, totalmente mobiliada em seus mínimos detalhes, coisa para passar o dia olhando.


Dizem (oh povo para falar!) que Manuelita Saenz foi amante do grande herói, libertador do país, mulher muito avançada para sua época, que usava calças, mascava fumo e andava a cavalo feito homem; inclusive que ela tinha o título de “libertadora do libertador”, pois muitas vezes salvou sua vida em emboscadas. Hoje, a casa onde ela morou abriga o Museo de Trajes Regionales de Colômbia, que apresenta réplica dos trajes usados pela população das várias regiões do país, bem pitoresco.


O Caro Amigo já deve estar com os pés cheios de bolhas, xingando até a nossa última geração. Então, que tal uma paradinha para comer algo? Em uma tarde fria e chuvosa, nada como um Sancocho, uma versão da canja, mas com um pedaço grande de frango, de espiga de milho, de mandioca, de banana da terra e outro de batata; ou talvez um Ajiaco, uma sopa mais cremosa, a base de milho, mandioquinha e batata, que trás frango desfiado, fios de creme de leite e alcaparras.


Ou quem sabe o Caro Amigo prefira tomar um chocolate quente com queijo, no pequeno “Puerta Falsa”, onde Manuelita Saenz tomava seu lanche da tarde.


 Mas se preferir um cafezinho, basta pedir um “tinto”. Estamos perdoados?


O trem está chegando! Resolvemos aproveitar o sábado para... hora de desembarcar, contamos depois!


Beijos,


Sayo e Claudio




Zipaquirá, 06 de março de 2011.


Caro Amigo,


Ouvimos e lemos muitas recomendações sobre a Catedral de Sal, igreja construída no interior de uma mina de sal, na cidade de Zipaquirá, a 30km de Bogotá. Para conhecê-la são três as opções: excursão organizada por agência; ir por sua própria conta, tomando o ônibus no “Portal del Norte”, final de uma das linhas do “Transmilenio       ; ou ir com o “Tren de La Sabana”.


Optamos pela última e como o trem só faz o passeio nos finais de semana, resolvemos que sábado seria um bom dia. Compramos os bilhetes com antecedência, pois há muita procura e partimos da estação La Sabana, passando pela de Usaquén (lindinha), La Caro, Cajicá e Zipaquirá, final do trajeto.

 O passeio é agradável, a Catedral de Sal bastante interessante, com as estações da Via Sacra, anjos, altares. Porém não é tão bonita quanto a que visitamos em Varsóvia, não é tudo branquinho como é de se esperar, na verdade é cinza. A opção do trem, ao final, também não nos pareceu ser a melhor, já que a paisagem não é tão bonita (não chega nem perto da do Trem da Graciosa, em Curitiba) e a visita à mina fica prejudicada em virtude do pouco tempo entre a chegada em Zipaquirá e a hora da partida, para a cidade de Cajicá, onde se realiza o almoço e o retorno à Bogotá.


De qualquer modo o dia foi bastante agradável, não choveu, fez até sol, embora não muito quente, e ainda demos umas boas risadas, pois, como bem sabe o Caro Amigo, em todo aglomerado de pessoas sempre há um espertinho que quer levar vantagem em tudo, e assim foi.


O pessoal do trem organiza um pacote que inclui o transporte de ônibus até a Mina, o ingresso de entrada e o retorno até Cajicá, de onde o trem parte às 15:20 horas. Em nosso vagão havia uma “Paquita Tardia”, loirinha (claro!), muito metidinha, usando um bonezinho em formato de mixirica, que estava se achando. Na fila para entrada da Mina, estava igual siri na lata, doida para passar na frente dos outros, queria ser a primeira em tudo. Nem bem nosso grupo partiu, ela também partiu em disparada para grudar no guia e apurrinhá-lo, o caminho todo, fazendo mil perguntas e atrapalhando as explicações que ele deveria dar.  Assim, enquanto caminhávamos, ela atormentava o pobre guia; já quando nos aproximávamos de um ponto de parada, ela disparava, gritando: vem Mauro. E lá ia o gigante troglodita correndo e atropelando todo mundo, afinal a Paquita Tardia queria tirar uma foto exclusiva e sem a presença de qualquer reles turista. Demos muitas risadas estragando algumas de suas tomadas individuais e quando a vimos correndo como louca, ladeira abaixo, pelo meio do jardim, na tentativa, sem sucesso, de pegar o primeiro ônibus em direção à Cajicá, no qual estávamos sentados no primeiro banco, demos até um aceninho sarcástico. Não é que sejamos tão ruins, mas ela bem que estava precisando de um corretivo!


Para minha felicidade, os Colombianos quase não usam celular, assim que os ambientes públicos são mais silenciosos e ninguém é obrigado a se interar da vida alheia. Mas por outro lado, como quase não há telefone público, eles inventaram um serviço de uso de celular, existem banquinhas com celulares presos a correntes, nas quais se paga a ligação por minuto.


O domingo foi magnífico. Frio e chuva, claro! Nas também teve a Feira de Usaquén, antigamente uma pequenina cidade, que hoje se transformou em um bairro de Bogotá, mas sem perder seu enorme charme, é algo entre a Vila Madalena, Embu das Artes e Recoleta (Argentina). Pracinha com igreja; lindas casas nos estilos mais variados, de colonial à contemporâneo; dezenas de restaurantes muito transados e lojinhas; o “Centro Comercial Hacienda Santa Bárbara, na verdade um interessante shopping; feirinha pela rua, com mil e um artigos, para os mais variados e exóticos gostos.


Como bem pode imaginar a Cara Amiga, consegui, finalmente, fazer umas comprinhas, um dos motivos de todo meu entusiasmo. O outro foi um sensacional restaurante mediterrâneo que conhecemos em Usaquén, e olha que já foi uma grande proeza levar o Claudio a um restaurante que não fosse de comida colombiana, pois a bíblia dele diz: é pecado mortal comer outra comida que não a do país – pena: arder no fogo do inferno. Arderei com o maior prazer (ah, ah, ah!)


O proprietário do “Mediterrânea” é um português, Sr. Luis, que, pelo movimento do restaurante, deve estar milhonário. Mas não há como negar que o movimento nada mais é que um reflexo do ótimo serviço e da maravilhosa comida. Tomamos vinho da minha (Sayo) uva predileta, (malbec) e comemos “Caciocavallo al Padrón” (o queijo gratinado com umas diferentes pimentas doces),  “Carpaccio de Pulpo” (de polvo) e “Caserola del Pescador” (ensopado de frutos do mar com grão-de~bico). Se o vinho tinto não combina com frutos do mar? Deixamos a discussão para os peritos, para o nosso paladar, estava maravilhoso. Pecado quase mortal é ir a Bogotá e não comer no “Mediterrânea”.


E antes que o Caro Amigo pense que engordamos mil quilos, confessaremos nossos segredos: nosso quarto é no terceiro andar e o hotel não tem elevador; tudo que comemos, compramos uma unidade e dividimos; a altitude aqui exige o maior esforço físico. Portanto, acho que até emagrecemos e, portanto, seguiremos comendo e contando tudo com detalhes (ah, ah, ah!).


Terminamos o dia fazendo umas comprinhas no Mercado de Pulgas de San Alejo, que vende antiguidades e coisas velhas, também um divertido programa para os domingos, quando parte das avenidas são interditadas para que a população possa andar de bicicleta, praticar outros esportes e brincadeiras.


E por falar em comida... está na hora de experimentar um tal de “Merengón”, que compramos em “San Alejo”, um daqueles doces cheios de cremes, chocolates, frutas e suspiros, contamos depois.


Beijos,


Sayo e Claudio  



Villa de Leyva, 09 de março de 2011.


Caro Amigo,


As colombianas são bonitas, 80% tem o cabelo bem escuro e liso, vestem botas, botas e botas, de todas as cores e tamanho, reflexo do clima, jeans, um montão de casacos e cachecóis, floridos, quadriculados, com renda, bolinhas, pompons e babados. Os colombianos não são lá muito bonitos. 


Contratamos uma excursão para conhecer a famosa Villa de Leyva. Fomos nós, Sr. Jorge, que também nos buscou no aeroporto, e sua mão, Sra. Sonia, em seu carro particular (VW Pólo). Então foi algo muito pitoresco, familiar e divertido, pois ambos são alegres e conversadores; ele, inclusive, é muito parecido com o Claudio (ou com todos os homens), sempre preocupado com as metas; já ela, muito parecida comigo, querendo visitar as igrejas, comer uns docinhos e visitar umas lojinhas. Pudemos investigar tudo que queríamos, sobre comida, costumes, história, políticos corruptos (algo que temos em comum), guerrilheiros (os antigos Robin Hood, que, hoje, mais são narcotraficantes que filósofos em busca de uma pátria melhor e mais justa), educação etc.


O caminho tem cerca de 160 km, passando por minifúndios, com casinhas, pequenas plantações, umas poucas cabeças de gado, galinhas e cabritos, que pontilham milhares de montanhas e elevações. Saímos às 6 da manhã, passamos por pequenos povoados e, em um deles paramos para um delicioso “Caldo de Costillas” acompanhado de “Arepa” (um pão de farinha de milho, branco ou amarelo, recheado com queijo, que é frito em uma chapa com manteiga).


Como já contamos ao Caro Amigo, os primeiros passos para a independência do país ocorreram no episódio do “Florero”; já sua concretização ocorreu com a Batalha de Boyacá , em 07 de agosto de 1819, quando as tropas realistas são vencidas pelas dos compatriotas, lideradas por Simon Bolívar, que se torna o primeiro presidente do país. Fizemos nossa segunda parada na “Puente de Boyacá, local da batalha, onde encontramos um monumento à Simon Bolívar; uma estátua do General Francisco de Paula Santander, que também lutou na batalha; o Arco do Triunfo, homenagem a todos os soldados, que traz a letra do Hino Nacional e três rostos, que simbolizam as três raças, que formaram o povo colombiano, indígenas, negros e espanhóis; a “Plaza de Banderas”, onde arde, perpetuamente, a chama da liberdade. Aproveitamos para tomar uma “Aromática de Frutas”, um chá feito com frutas naturais, morango e amora.


Então chegamos a “Villa de Leyva”, que superou, em muito, tudo que lemos e ouvimos falar. Todas (todas!) as suas casas, em estilo colonial espanhol, são brancas; com janelas, portas e grades de madeira, que circundam as varandas, verdes (que, nos contaram nossos guias, são as cores colônias espanholas, por isso parecem em grande parte das casas); telhas redondinhas (aquelas que chamávamos “nas coxas”, pois eram moldadas, pelos escravos, em suas pernas). Já a pedra aparece em todo calçamento das ruas, em colunas e na base de algumas casas.


O verde e branco é quebrado por vasos de gerânios muito coloridos, que aparecem pendurados nas varandas e nos enormes pátios internos, que, além de lindos chafarizes, trazem primaveras trepadas pelas colunas e grades. É um verdadeiro pecado não ir para ficar um três ou quatro dias e conhecer, com mais vagar, a intimidade dos pátios dos casarões, que abrigam lojas, museus e restaurantes; a boemia noturna das ruas iluminadas por lampiões, embalada por jazz e música popular brasileira (foi o que nos contou a Sra. Sonia). Tivemos que cometer tal pecado, mas prometemos pagar a penitência de voltar para uma estada mais prolongada, quem sabe acompanhados do Caro Amigo (ah, ah, ah!).


Antonio Nariño foi uma das figuras de destaque na luta pela independência e na república, que se formou posteriormente, foi quem traduziu, do francês para o espanhol, a Declaração dos Direitos do Homem, o que lhe custou exílio e prisão. Na casa onde ele morreu, em 13/12/1823, hoje funciona um museu em sua homenagem, um dos principais da cidade, que fecha às quartas-feiras para limpeza, dia de nossa visita; mas, pasme o Caro Amigo, a diretora, Sra. Virginia, uma pessoa amabilíssima, ao saber dos turistas brasileiros, que estavam visitando a cidade, fez questão de abrir-lo e guiou-nos por uma visita exclusiva pelas salas do lindo casarão, contando-nos, de maneira muito clara e concisa, um pouco da história do país, retratada na vida de Nariño. Coisa que só quem viaja pela CRKTour pode conseguir (na, ah, ah!).


Outro grande destaque da cidade é a “Plaza Mayor”, com 14.000 m², a maior do país, dizem que até da América Latina; bem aos moldes das espanholas, quadrada, despojada de qualquer vegetação, com uma fonte no centro e construções ao redor. Nela se encontra a Igreja Paroquial, em reforma, onde recebemos as cinzas da quarta-feira. A cidade possui ainda vários museus e edifícios interessantes, que deixaremos para detalhar na próxima visita. Almoçamos, no lindo pátio do “Restaurante La Real Audiência”, uma “Bandeja Paisa”, outro prato típico do país, uma travessa onde disputam espaço carne moída, torresmos, arroz, feijão, ovo frito, banana frita, abacate e “arepa”.


Seguimos ao “Museo Fosil de Monquira”, há poucos quilômetros, para ver o esqueleto fossilizado de um Pliosauro, animal marinho pré-histórico, com 12 metros de comprimento, que se encontra exatamente no mesmo local onde foi encontrado por agricultores e onde, posteriormente foi construído o museu, prova de que a região foi mar a milhares de anos. Vimos, ainda, fosseis de vários outros animais marinhos.  


Paramos em Amonita, para provar a deliciosa lingüiça, e em Tinjacá, para ver o trabalho de delicado trabalho de entalhe em Tagua, o marfim vegetal. Chegamos, então, a Ráquira, cidade do artesanato barato, um arco-íris de cor, um charmoso vilarejo, onde os comerciantes adornam suas fachadas da forma mais exuberante possível, com os mais diversos objetos, nas mais diversas formas e cores, que concorrem com as já coloridas paredes; até a prefeitura e a igreja são coloridas. Mas não deu para ficar muito, metas devem ser cumpridas e a noite já chega e ainda temos umas três horas de viagem, pois aqui se percorre cerca de 50 km a cada hora, estradas estreitas, caminhões, chuva, desmoronamentos etc.


Não há como não passar por Chiquinquirá, visitar a Catedral de Nossa Senhora de Chiquinquirá, e a Igreja da Renovação, onde houve a aparição da Virgem que restaurou a pintura do lenço com Sua imagem, local de peregrinação e de milagres. Aproveitamos para espantar o frio, tomando um café na cafeteria ambulante.


Mais uma parada para comprar um queijo muito especial, em Ubate, e experimentar “Aguapanela”, um chá de rapadura, que, como o chocolate, o pessoal toma jogando pedacinhos de queijo para derreter. O povo danado para comer e inventar moda, já não podemos mais nem ouvir falar em comida. Mentira!!!!


O Caro Amigo nem pode imaginar quem foi que o Claudio encontrou, outro dia, caminhando pela Candelária, na Praça Bolívar... hora do banho, ainda vamos sair para jantar, contamos depois.


Beijos,


Sayo e Claudio   




Bogotá V, 10 de março de 2011.


Caro Amigo,


Caminhando, despreocupadamente, pela Praça Bolívar, em férias, encontramos Bernard e sua esposa, um repórter francês, que estava na primeira expedição que o Claudio fez para o Xingu, em 2009. Que mundo pequeno!  Encontramos ainda, na pequena Villa Leyva, o Instituto Humbolt, dedicado a estudos de fauna e flora, prova de que o estudioso, que é o patrono da escola onde o Claudio cursou o ginásio, também andou pelas matas colombianas (olha aí meninos, estão cada vez mais famosos!).


Um pesado e enorme caixote de pedra, frio, sem janelas, com uma estreita grade de ferro como porta de entrada, na Carrera 7, maior artéria no coração da principal cidade do país. Assim encontramos o “Museo Nacional”, o mais antigo da Colômbia, talvez até o mais importante, que, hoje, está instalado no que foi um presídio de segurança máxima. Passeio imperdível para quem quer entender a história do povo colombiano, pois ele apresenta, de forma muito dinâmica e sedutora, o modo de vida dos povos indígenas, a chegada dos espanhóis, as lutas pela independência, a república, as guerrilhas e a grande maioria dos fatos que, paralelamente, contribuíram para a formação do atual país e povo colombiano; inclusive com obras de arte dos principais artistas plásticos do país, como Botero e Ricardo Acevedo Bernal.


Em nossa primeira visita ao “Museo Nacional”, assistimos a um recital da pianista colombiana Yohanna Teresa Gutiérrez Urrego, com obras do compositor colombiano Luis A. Calvo, de Beethoven e de Debussy, que, como ela mesma definiu, foi feito aos moldes do que eram os sarais organizados, pelo próprio Calvo, no início do século XX. Visitamos, ainda, o andar térreo do museu, o que nos custou quase quatro horas, pois, como temos certo domínio da língua espanhola e adoramos história, nos detivemos a ler todos os painéis explicativos. Resolvemos deixar os outros três andares para uma segunda visita, quando viríamos mais agasalhados, pois o edifício, onde ainda se percebe a existência das antigas celas, com suas gigantescas paredes de pedra e diminutas janelas, é extremamente gelado.


Já na segunda visita, que fizemos hoje, o dia amanheceu cruelmente frio, tomamos um “Caldo de Costillas” e  fomos preparadíssimos, com todos os agasalhos que trouxemos do Brasil (acho que terei que voltar a Argentina para comprar um sobretudo novo, ah, ah, ah!). Caminhamos mais cinco horas pelos corredores do museu, aprendemos muitíssimo e encontramos, na sala “El Rostro del Héroe”, uma  definição que nos parece dar uma idéia do caráter dinâmico, questionador e inovador do museu, ela diz que as imagens dos heróis têm muitos rostos, que os heróis são símbolos poderosos porque encarnam os ideais de uma nação, por isso suas imagens não são inocentes, pois fazem parte das disputas que implicam a construção da memória.


Outra visita imperdível é o “Museo del Oro”, que apresenta a coleção mais importante do mundo, de peças pré-hispánicas em ouro, cerca de 34.000 exemplares, além de outras tantas em outros materiais, como cerâmica, tecido e pedras preciosas. Trabalhos realizados, com esmero de técnicas, pelos povos que habitavam o país antes da chegada dos espanhóis, tais como peitorais, braceletes, máscaras, colares, brincos, adornos de nariz, potes, estátuas, por vezes minúsculas, etc. Objetos que eram confeccionados e realmente utilizados na vida cotidiana e em cerimônias religiosas, pois não significavam, para a população de então, símbolo de riqueza ou motivo de cobiça, mas sim fonte de beleza, pelo esplendor de seu brilho.  As visitas guiadas, embora não apresentem todas as peças do museu, em virtude até de seu tamanho, são muito interessantes, pois mostram, de forma muito didática, as técnicas de elaboração das peças, seu uso e o contexto histórico em que foram produzidas.


O Centro Cultural Gabriel García Márques, em nossa opinião, está para Candelária, assim como a Pirâmide de Vidro está para o Louvre, nada haver! No que pese serem obras arquitetônicas e plásticas de valor, não combinam com seus entornos. O centro nasceu com a intenção de unir leitura, gastronomia, arte e arquitetura, mas seu estilo moderno grita no meio da colonial Candelária. Ele reúne, em uma espécie de praça de alvenaria, com terraços e rampas, serviços comerciais e culturais, como livraria, sala de projeções, sala de exposições, auditório, salas para atividades educativas, banco, restaurantes.    


A Quinta de Bolívar, bem nos pés do Monserrate, foi construída, em 1800, como residência campestre, já que, na ocasião, ficava fora da cidade. Foi presenteada a Simón Bolívar, em gratidão pela independência, sendo utilizada como local de descanso e celebração de vitórias militares. Posteriormente, foi utilizada como colégio, fabrica e hospital. Em 1922, é adquirida pelo governo e transformada em museu, dando mostras de como eram suas dependências, na época que o Libertador lá viveu, e do jardim onde, dizem, muitas árvores foram plantadas por ele.


Nosso último jantar na cidade foi na “Zona G”, zona gourmet, nas proximidades da Carretera 69 com Calle 5, onde estão localizados os melhores restaurantes da cidade. Já havíamos jantado no “La Casa Vieja”, também na região, que serve comida colombiana, então resolvemos conhecer o “La Barra”, que serve comida espanhola. Experimentamos a Paella à Valenciana (frutos do mar, franco, porco, arroz, ervilha e pimentão) e o Arroz Negro (frutos do mar, arroz e muita tinta de lula, até tudo ficar bem pretinho). Deliciosos!


Está na hora do café, duvidamos que o Caro Amigo adivinhe o que vamos comer!


Beijos,


Sayo e Claudio



Bogotá VI, 11 de março de 2011.



Levantamos cedo, fizemos as malas, que ficaram sob os cuidados do hotel, pois nosso vôo seria à noite, e fomos à luta, na tentativa de cumprirmos, pelo menos, mais uma parte de nossas metas.


Não, não tomamos “Caldo de Costillas” no café, pois era nosso último dia em Bogotá e tínhamos, ainda, muitas metas gastronômicas a cumprir, então experimentamos um “Buñuelo”, um salgado redondo e frito, do tamanho de uma bola de bilhar, feito à base de farinha de mandioca (talvez seja polvinho), ovos, queijo, leite e fermento, uma delícia. E também experimentamos as “Obleas”, um sanduíche de waffle, fininho como uma hóstia, do tamanho de um pires de sobremesa e recheado com doce de leite, coco ralado, queijo ralado, leite condensado, geléia ou o que a criatividade sugerir.  Mais gostoso ainda!


Iniciamos a visita ao “Museo de Arte Colonial”, instalado em um charmoso edifício, com pátio interno e fonte, que lembra um pouco o edifício onde está o Museu Botero, mas não conseguimos passar do andar térreo, pois a quantidade de obras é enorme. Vimos exemplares de arte barroca, em sua maioria pinturas, de personagens proeminentes da época e sacras, retábulos, entalhados e folheados a ouro, e imagens de santos.  Faltou-nos tempo para conhecer o restante (o motivo que precisávamos para voltar, ah, ah, ah!). De qualquer modo, deixou-nos uma lição, que encontramos inscrita em um de seus painéis, capaz de ajudar na compreensão da vida e das várias faces e fases da arte:


... la identidad humana es transcultural y no puede tener, por lo tanto, un solo punto de referencia.

                      Raimon Panikar – Invitación a la Sabiduría


Ou seja, a identidade humana é transcultural e não pode ter, portanto, um só ponto de referência -  uma grande verdade.


Nosso almoço de despedida foi em no “Mar de La Candelaria”, perto do Museu; já quase às quatro horas da tarde, então tivemos o restaurante só para nós, tomamos um vinho, comemos uns frutos do mar e seguimos, ainda restavam coisas a fazer.


Às sextas-feiras no final do dia, por incrível que possa parecer, a Carretera 7, a artéria central de Bogotá, algo como Avenida Paulista, em São Paulo, ou Avenida Ana Costa, em Santos, é fechada para o trânsito de veículos e vira algo parecido com “La Rambla”, de Barcelona; ou seja, transforma-se no local onde tudo acontece: equilibristas, bandas de rock, ciclistas, estátuas humanas, anões, malabaristas, encantadores de serpente, atiradores de faca, artistas de todos os gêneros, gente, cachorros, curiosos, turistas. Caminhamos, parte dela, na hora que a polícia já tinha iniciado a interdição e somente transitavam os veículos pelas travessas. Algo bastante estranho, por que milhares de pessoas, que saiam do trabalho vinham caminhando pelo meio da rua, enquanto os artistas chegavam timidamente, a impressão que dava era de que alguma catástrofe havia ocorrido e a cidade estava sendo evacuada.


Compramos algumas reproduções de pinturas de Botero e partimos para nossa última meta, que era subir no edifício Colpatria, o mais alto da Colômbia, com 48 andares. As visitas se iniciam às 18:00 horas, justamente no crepúsculo, momento que ainda há luz natural, que permite distinguir os edifícios, mas as luzes da cidade já começam a serem acessas, parecendo diamantes que vão sendo pendurados aqui e ali, ou colares de rubi, formados pelas lanternas dos carros. Uma coisa realmente magnífica ver Bogotá se iluminando, emocionante observar e até já reconhecer edifícios e bairros.


E foi ali, observando a cidade e o Monserrate, aos pés do Senhor Caído, que deixamos um pedacinho de nosso coração nessa maravilhosa cidade e prometemos voltar, para rever os novos amigos, matar as saudades dos lindos lugares que conhecemos e conhecer outros, que o tempo não nos permitiu conhecer nessa viagem.


Se o Caro Amigo, quando iniciamos essa viagem, tinha dúvidas quanto a embarcar nela, ao final constatou, assim como nós, que a Colômbia é um destino maravilhoso e seguro, capaz de encantar qualquer um com a sua alegria, seu colorido, sua culinária, sua diversidade cultural e, principalmente, com a amabilidade de seu povo.


Na mesma viagem tivemos ainda o prazer de conhecer muitas pessoas admiráveis, que cruzaram o nosso caminho e contribuíram para tornar nossas vidas ainda mais felizes; além de contar com a excelente companhia do Caro Amigo, lógico!


Obrigado por escolher nossa empresa para sua viagem (ah, ah, ah!)


Hasta la próxima!


Beijos,


Sayo e Cláudio