Santos, 26 de fevereiro de 2011.
Caro Amigo,
Ouvimos dizer que a Colômbia de hoje deixou para trás o estigma do
narcotráfico, da guerrilha e dos seqüestros, transformando-se em um país
seguro, onde o turista é recebido de braços abertos e com um sorriso no rosto,
e, principalmente, que Bogotá, a capital, combina beleza natural, sítios de
interesse histórico e cultural, boa comida e ótimos preços.
Assim, em
nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos
que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim
de que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o
legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos
100.000.000.000.000.000 Km viajando (ah, ah, ah!), resolvemos colocar,
novamente, nossos pés na estrada.
Aproveitaremos
para conferir se o café é realmente tão delicioso quanto fala e conhecer as
gordinhas do Botero.
Vem com a
gente!
Sayo e Claudio
Santos, 27 de
fevereiro de 2011.
Caro Amigo,
Para que você,
que irá nos acompanhar em mais uma árdua jornada até os confins da terra, não
se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.
Reserve já o
seu lugar, faça as malas (não exagere, são só 23 kg, vôo econômico!), pegue o
passaporte, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o gato
com o vizinho e as crianças na casa da vó, esqueça a fantasia e os desfiles de
carnaval, pegue uma caneca de café (não agradou? Põe cerveja na caneca e faz de
conta que é café colombiano, ninguém precisa saber), escolha uma poltrona
confortável, ligue o computador e VEM COM A GENTE!
Aproveite para
enviar alguma dica para tornar nossa viagem mais interessante. Talvez alguma
pequena cafeteria, que já visitou e achou incrível; um restaurante, que viu em
alguma revista de turismo; um lugar que você gostaria de conhecer, mas ainda
não teve tempo; ou mesmo o endereço de sua adorável tia colombiana, que faz um
delicioso “ajiaco”, teremos imenso prazer em visitá-las, conferir e contar
tudo, nos mais mínimos e prazerosos detalhes.
Beijos,
Sayo e Claudio
Santafé de
Bogotá I, 02 de março de 2011.
Caro Amigo,
Dizem os
colombianos (talvez um pouco suspeitos, veremos!) que se você quiser encontrar
turismo cultural, ecológico e de aventura, boa comida, povo hospitaleiro, bons
hotéis, clima variado, praias paradisíacas, montanhas, florestas e muita
história, basta ir à Colômbia, pois o país, apesar de não muito grande, reúne
tudo de bom que o mundo pode oferecer.
Tendo tudo
isso em conta, há algum tempo, começamos a amadurecer a idéia de fazer uma
visitinha à Colômbia. Optamos, então, por iniciar com uma pequena expedição,
somente pela Capital, na certeza de que seria suficiente para nos dar uma noção
do que o país tem a oferecer, abrir nosso apetite e apontar futuras
possibilidades.
Aproveitando a
promoção de 10 anos da Gol, com passagem de volta a R$10,00, resolvemos passar
o Carnaval em
Bogotá. Compramos alguns guias; fomos ao Consulado;
conversamos com amigos que já estiveram e traçamos nosso roteiro; o que
queríamos ver, o que comer e onde, como nos deslocar e, principalmente, onde
ficar e comprar.
E qual não foi
nossa surpresa quando, em meio a tantos preparativos, descobrimos que em
Bogotá, em pleno verão, a temperatura oscila entre 6 e 15 graus, e mais...
chove todos os dias, um verdadeiro banho de água fria, mais de 20 graus a menos
que a temperatura de Santos. Não foi uma tão grata surpresa, mas, afinal, eu
(Sayo) poderia aproveitar a oportunidade para usar aquele meu maravilhoso
sobretudo preto com capuz, cuja compra nos levou à Buenos Aires em novembro/10,
como bem deve lembrar o Caro Amigo, nem tudo estava perdido (ah, ah, ah!).
O vôo partiu
sem atrasos, o serviço de bordo nem estava tão ruim, o que incomodava era a voz
do comandante que, com uma freqüência bem maior que a razoável, anunciava:
“Prezados Senhores, permaneçam sentados e com os cintos de segurança
afivelados, pois estamos atravessando uma área de turbulência”. Depois da
décima vez, decidimos que era melhor parar de contar e relaxar, afinal o avião
entrava no meio de umas nuvens, mas nem sacudia tanto.
A cidade foi
fundada em 06 de agosto de 1538. Está localizada na Cordilheira dos Andes, numa
altitude de 2.940 metros, o que explica o clima de montanha, frio mesmo no
verão. Tem uma área de 1.587 km², maior que a cidade de São Paulo, porém com
uma população de 8 milhões de habitantes, bem inferior a de São Paulo; trata-se
uma cidade horizontal, com mais casas que edifícios, o que explica a maior área
para uma população menor.
Chegamos às
16:30, hora local, 18:30 hora do Brasil. Como sabe o Caro Amigo, não é nosso
hábito fazer reserva em hotéis, pois gostamos de conferir se são tudo aquilo
que dizem ser antes de nos hospedarmos; porém, como a cidade é enorme e não
alugaremos carro, resolvemos fazer reservas antecipadas.
No site www.tripadvisor.com
encontramos varias indicações de hotéis, suas localizações e opiniões de
hóspedes. Escolhemos um que nos pareceu bem localizado, com bom preço,
proprietária simpática (Dona Paulina), café colombiano à disposição na
recepção, mas minúsculo, minúsculo mesmo. O hotel também não tem café da manhã,
fato que consideramos positivo, porque além de impedir que a gente se empapuce
comendo um montão de coisas triviais, que na verdade não queríamos, mas, como a
carne é fraca e a comida está ali mesmo, acabamos comendo; permite-nos escolher
algo bem típico da cidade para comer, em um dos muitos carrinhos, banquinhas e
pequenas lanchonetes, que encontramos espalhados pela cidade e que vendem umas
coisas muito esquisitas (em português), mas que teremos o imenso prazer de
provar e descrever ao Caro Amigo.
À primeira
vista, a cidade nos pareceu estranha, do tipo “o que é que eu estou fazendo
aqui”. Por todo trajeto que fizemos do aeroporto ao hotel, não vimos nada
parecido com uma cidade européia, como é o caso de Montevidéu, Buenos Aires e
Santiago; também nada moderno como São Paulo. Realmente a cidade é horizontal,
há uma predominância de tijolo aparente nas construções, o que dá há cidade um
tom amarronzado, e pareceu-nos algo entre alguma cidade do norte do Brasil e
boliviana, passando pelo Largo da Concórdia e pelo Brás. Mas, como bem sabe o
Caro Amigo, emitir opinião quando se está cansado e com fome é muito
complicado, veremos o que o futuro nos reserva.
Deixamos as coisas no hotel, tomamos um banho e fomos, caminhando pela
garoa, ao El Navarra, restaurante recomendado por Dona Paulina. E, acredite o
Caro Amigo ou não, depois da Paella Valenciana (com frutos do mar, franco e
porco, além de ervilhas e pimentão), da Cazuela de Mariscos (tenros camarões, e
outros frutos do mar, nadando em um fervente molho rosado, que provavelmente
continha leite de coco, creme de leite, tomates, salsa e especiarias) e da
garrafa de vinho chileno, a cidade mudou até de cara, o frio até passou, Nada
como viajar (ah, ah, ah!),
Beijos,
Sayo e Claudio
Bogotá / La Candelaria, 04 de março
de 2011.
Caro Amigo,
O frio e a
chuva continuam, não chove o dia todo, mas chove várias vezes durante o dia. A
cara da cidade também não mudou muito, mas já nos acostumamos com ela,
principalmente com a imensa simpatia das pessoas.
Em nossa
primeira visita ao Transmilênio (transporte feito por ônibus em corredores
especiais, como o de Curitiba, porém maior e bem mais complicado, mas se
conseguimos entender o metrô de Berlim, seguramente entenderemos o Transmilênio
de Bogotá), pedimos informação a uma moça, Alejandra, sobre qual ônibus tomar,
ela nos ajudou, tentando explicar uma tabela, pior que a periódica, e, na
dúvida, ainda foi atrás de nós, confirmou as informações com um guarda e deixou
seu telefone para que a chamássemos em caso de precisão.
Pedimos informação a um guarda de segurança
particular sobre um restaurante, por não conhecer, ele deslocou-se até a
guarita, tentou várias vezes chamar o telefone do restaurante, que só dava
ocupado, e ainda desculpou-se por não poder ajudar mais.
Como bem sabe
o Caro Amigo, tenho (Sayo) sempre em minha bolsa um quite de sobrevivência, uma
barrinha de cereal ou um chocolate, para revigorar minhas forças, nas difíceis
horas em que sou arrastada pelas ruas deste mundo de meu Deus, sem ter tempo
para parar para comer, pois meu dileto marido tem que cumprir todas as suas metas
diárias e somente pode dar-se ao desfrute de comer naquele tal restaurante na
beira do Sena, que lhe contei na última viagem. Esse quite, aqui em Bogotá, tem
sido um peso morto, pois é quase impossível resistir aos apelos das vitrines,
postas à beira da calçada e de onde se vê a confecção dos quitutes, que
aparecem fumegantes; ou mesmo dos carrinhos e banquinhas, onde as pessoas se
apinham para comer. E não se perde nem um minuto para comprar algo, luxo que
ele me permite (ah, ah, ah!)
Em nosso primeiro
café-da-manhã provamos um “Caldo de Costillas”, em resumo um saboroso caldo de
costela de boi com batatas, salpicado de salsinha, acompanhado por pão e café
com leite; uma maravilha, esquenta e anima o dia de qualquer um.
Também já provamos o “pandebono”, uma espécie
de pão de queijo, chato, redondo e com mais queijo que o nosso; o “almojábana”
um pão redondo de milho com queijo, com massa soltinha e um bem leve sabor
adocicado que contrasta com o sabor forte do queijo; o “Tamal” é um pouco
diferente do que comemos no norte da Argentina, é um enorme embrulho de folha
de banana que contem uma espécie de cuscuz feita com farinha de milho (parece
milharina) e arroz, toucinho, frango (pedaço grande, até com osso), cenoura,
fava e especiarias. Provamos também um dos cafés mais famosos, o da cafeteria
Juan Valdez.
A cidade
cresceu bem ao pé da Cordilheira, tem uma parte plana e outra já localizada no
início de suas encostas. Geralmente as ruas não têm nome, mas sim números, as
que seguem do sul para o norte chamam-se Carreteras e as que vão de oeste para
leste tem o nome de Calles. Assim, em um endereço existem três números, dois do
cruzamento da Carretera com a Calle e o terceiro que é o número do edifício,
como o que usamos no Brasil. Um pouco confuso!
Além do
Transmilênio, o transporte é feito por “busetas” (pequenos ônibus, muito
velhos) e táxis, que são muito baratos, além dos automóveis particulares e
motocicletas.
O trânsito é pesado e o povo adora uma buzina.
As ruas estão sempre lotadas de gente, estudantes uniformizados, trabalhadores,
uma muvuca danada. Mas a segurança é nota 10, a cidade é muito bem policiada,
encontramos policiais militares em cada quarteirão nos locais de maior
concentração de pessoas, dá para passear tranquilamente, guardando os devidos
cuidados necessários em qualquer grande cidade.
Já descobrimos
onde fica a 25 de Março daqui, na Calle 53, muitas lojas de material para
artesanato, para festas, roupas, flores, utensílios domésticos. Também já
descobrimos o que faz valer a pena qualquer viagem a Bogotá: La Candelária. Onde
tudo acontece e onde a cidade nasceu. O bairro preserva uma arquitetura
colonial espanhola primorosa, ruas estreitas e coloridos sobrados, telhas de
barro, balcões e grades de madeira entalhada, onde funcionam restaurantes,
hotéis, bibliotecas, galerias, museus etc., além de outros estilos
arquitetônicos, como o francês e o neoclássico, agregados em construções já um
pouco mais modernas. Perder-se pelas ruas de La Candelária é um achado
de cultura e distração, um deleite para o corpo e para o espírito, tarefa para
vários dias de descoberta.
Em nossa
primeira visita a La
Candelária, fizemos um passeio guiado, oferecido pela Policia
de Turismo, que parte do Centro de Informações Turísticas, na da Plaza Bolívar,
coração da cidade e do país, bem ao estilo das Plazas Mayores da Espanha, um
enorme quadrilátero, sem vegetação, limitado por imponentes edifícios, que, no
caso de Bogotá, são o Capitólio Nacional (Congresso), a Catedral, a Capilla del
Sagrado, o Palácio de Liévano (prefeitura), Palácio da Justiça e Museu da
Independência Casa del Florero; ao centro uma estátua de Simon Bolívar, o
libertador. Programa imperdível para conhecer um pouco da historia, das coisas
e das pessoas, e , principalmente, de como tudo aconteceu.
Ainda em La
candelária, fizemos outro passeio guiado pelo Museu Histórico da Polícia
Nacional, que, além de estar localizado em um esplendido edifício com pátio
interno, conta um historia da Polícia Nacional, uma das melhores, do combate e
desmantelamento do narcotráfico. O museu também possui interessantes coleções
de armas, uniformes e medalhas.
Para nossa
alegria, também descobrimos que... hora de sair para tomar mais um delicioso
café-da-manhã, como bem diz o Claudio: “Lugar de turista é na rua”. Contamos depois!
Beijos,
Sayo e Claudio
Bogotá III, 05
de março de 2011.
Caro Amigo,
Descobrimos
que a cidade também tem seu lado bonito e muito bem cuidado; com largas
avenidas arborizadas, modernos edifícios comerciais, casas acolhedoras com
jardins, confortáveis condomínios residenciais, gente bonita passeando com seus
cachorros ainda mais bonitos; seguindo sempre a utilização do tijolo aparente
nas construções. Acontece que esse lado agradável da cidade está localizado a
partir da Calle 70, ao norte da cidade, um pouco adiante de onde estamos
hospedados, na Calle 63, e bem distante de La Candelária, que fica
nas imediações da Calle 10.
Pensamos na
possibilidade de mudar de hotel, para algum localizado nessa parte mais
agradável, mas, afinal, concluímos que não valia à pena, pois estamos no meio
da cidade, como diz a Sra. Paulina: no umbigo da cidade. Temos acesso fácil
para qualquer lugar; restaurantes, lanchonetes e supermercados ao nosso lado; e
ainda contamos com a enorme simpatia do pessoal do hotel, que nos dá vários
conselhos, dicas e sugestões. Sem falar que perderíamos um dia refazendo e
desfazendo as malas e, principalmente, que por lá não tem as banquinhas de
guloseimas, nem o “Caldo de Costillas” para o café da manhã (ah, ah, ah!).
Com chuva,
nada melhor que visitar museus na Candelária. O Museo de La Independência – Casa
del Florero tem um nome pomposo, quase tanto quanto a linda casa branca e
verde, onde está localizado, avarandada, com um grande pátio repleto de
plantas, em estilo árabe-analuz (Andaluzia localiza-se no sul da Espanha e
esteve sob domínio árabe por mais de 800 anos, motivo da grande influência
dessa cultura na espanhola). Fizemos uma
visita guiada, muito bem esplanada, e chamou nossa atenção seus recursos audiovisuais,
uma projeção de slides com alguns movimentos, como bocas que falam e veículos
que se movem, além da projeção de mapas que se movimentam ao toque.
Contam que
José Gonzáles LLorente, espanhol, era um homem muito rico, dono de um enorme e
muito sortido armazém, que funcionava na casa onde hoje está o museu e que
vendia peças finas para toda sociedade de Bogotá. Já os irmãos Antonio e
Francisco Morales faziam parte da sociedade, porém eram “criollos” (cruzamento
de espanhol com índio ou negro), sendo, portanto, considerados inferiores aos
espanhóis de sangue puro, eles eram americanos. Um belo dia, por ocasião de uma
importante visita que receberia, Antonio Morales pede um determinado “florero”
(vaso) emprestado a José Gonzáles, pois ter um vaso de flores era símbolo de
prestígio. Ocorre que se tratava de um florero muito estimado, por estar em
perfeito estado, já que, no transporte, quase todos os objetos chegavam a
Bogotá com alguma avaria; portanto José Gonzáles respondeu que somente o
alugaria ou venderia. Inicia-se uma grande discussão e o “florero” acaba em
cacos no chão; os dois partem para as vias de fato e, no auge da luta, o
espanhol blasfema ofendendo os americanos.
A razão da consternação e do reboliço que o
fato provocou nos “criollos”, americanos, que eram a grande maioria da
população da cidade e que caçavam a José Gonzáles para linchá-lo, a polícia
decide prender os espanhóis, como meio de apaziguar os ânimos. Tudo isso se
passou no dia 20 de Julio de 1810, que é considerado o dia da independência da
Colômbia, pois foi o estopim de todo um movimento que culminou com a liberdade
do país. Se é verdade? Não sabemos, mas é o que contam, até vimos o tal
“florero” coladinho, por uma entrada que equivale a R$3,00.
E contam mais,
que, na época, ter uma filha no convento era razão de grande prestígio para a
família. Assim, toda filha feia, que seguramente não arranjaria um casamento
promissor, era, já novinha, enviada para o convento; as namoradeiras e que não
aceitavam o marido escolhido pelo pai também iam. O Museu de Santa Clara ocupa
a igreja que foi parte do Convento das Clarissas, conservando sua decoração
original, do século XVII, com retábulos barrocos folheados a ouro, mais de cem
pinturas a óleo adornam suas paredes, além de imagens policromadas. Sua coleção
de anjos e arcanjos merece destaque e a entrada gratuita também.
A Catedral
está consagrada a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, edifício em estilo
neoclássico, está localizada no mesmo local onde foi construída a primeira igreja
da cidade, em 1539; seu interior é bonito, mas nada que chame a atenção sobre
maneira. Ao lado fica a Capilla del Sagrado, que expõe uma coleção de pinturas
sacras, muitas de autoria desconhecida.
O “Museo del Siglo XIX” fica
em um lindo e enorme casarão da época do século XIX, que dizem ser de estilo
republicano (não conseguimos ninguém que nos explicasse exatamente o que
significa), em moda no país entre 1830 e 1930. O local já abrigou uma escola e
atualmente exibe trajes e acessórios usados pela sociedade da época,
mobiliário, porcelanas e louças. Merecem grande destaque coleção de postais,
com exemplares ainda em preto e branco, seguindo pelos coloridos manualmente e
bordados, até os em alto relevo; e a coleção de miniaturas, feita por mãe e
filha, por mais de 60 anos, que apresenta uma casa, com 17 cômodos, totalmente
mobiliada em seus mínimos detalhes, coisa para passar o dia olhando.
Dizem (oh povo para falar!)
que Manuelita Saenz foi amante do grande herói, libertador do país, mulher
muito avançada para sua época, que usava calças, mascava fumo e andava a cavalo
feito homem; inclusive que ela tinha o título de “libertadora do libertador”,
pois muitas vezes salvou sua vida em emboscadas. Hoje,
a casa onde ela morou abriga o Museo de Trajes Regionales de Colômbia, que
apresenta réplica dos trajes usados pela população das várias regiões do país,
bem pitoresco.
O Caro Amigo já deve estar
com os pés cheios de bolhas, xingando até a nossa última geração. Então, que
tal uma paradinha para comer algo? Em uma tarde fria e chuvosa, nada como um
Sancocho, uma versão da canja, mas com um pedaço grande de frango, de espiga de
milho, de mandioca, de banana da terra e outro de batata; ou talvez um Ajiaco,
uma sopa mais cremosa, a base de milho, mandioquinha e batata, que trás frango
desfiado, fios de creme de leite e alcaparras.
Ou quem sabe o Caro Amigo
prefira tomar um chocolate quente com queijo, no pequeno “Puerta Falsa”, onde
Manuelita Saenz tomava seu lanche da tarde.
Mas se preferir um cafezinho, basta pedir um
“tinto”. Estamos perdoados?
O trem está chegando!
Resolvemos aproveitar o sábado para... hora de desembarcar, contamos depois!
Beijos,
Sayo e Claudio
Zipaquirá, 06 de março de
2011.
Caro Amigo,
Ouvimos e lemos muitas
recomendações sobre a Catedral de Sal, igreja construída no interior de uma
mina de sal, na cidade de Zipaquirá, a 30km de Bogotá. Para conhecê-la são três
as opções: excursão organizada por agência; ir por sua própria conta, tomando o
ônibus no “Portal del Norte”, final de uma das linhas do “Transmilenio ; ou ir com o “Tren de La Sabana”.
Optamos pela última e como o
trem só faz o passeio nos finais de semana, resolvemos que sábado seria um bom
dia. Compramos os bilhetes com antecedência, pois há muita procura e partimos
da estação La Sabana,
passando pela de Usaquén (lindinha), La
Caro, Cajicá e Zipaquirá, final do trajeto.
O passeio é agradável, a Catedral de Sal
bastante interessante, com as estações da Via Sacra, anjos, altares. Porém não
é tão bonita quanto a que visitamos em Varsóvia, não é tudo branquinho como é
de se esperar, na verdade é cinza. A opção do trem, ao final, também não nos
pareceu ser a melhor, já que a paisagem não é tão bonita (não chega nem perto
da do Trem da Graciosa, em Curitiba) e a visita à mina fica prejudicada em
virtude do pouco tempo entre a chegada em Zipaquirá e a hora da partida, para a
cidade de Cajicá, onde se realiza o almoço e o retorno à Bogotá.
De qualquer modo o dia foi
bastante agradável, não choveu, fez até sol, embora não muito quente, e ainda
demos umas boas risadas, pois, como bem sabe o Caro Amigo, em todo aglomerado
de pessoas sempre há um espertinho que quer levar vantagem em tudo, e assim
foi.
O pessoal do trem organiza
um pacote que inclui o transporte de ônibus até a Mina, o ingresso de entrada e
o retorno até Cajicá, de onde o trem parte às 15:20 horas. Em nosso vagão havia
uma “Paquita Tardia”, loirinha (claro!), muito metidinha, usando um bonezinho
em formato de mixirica, que estava se achando. Na fila para entrada da Mina,
estava igual siri na lata, doida para passar na frente dos outros, queria ser a
primeira em tudo. Nem
bem nosso grupo partiu, ela também partiu em disparada para grudar no guia e
apurrinhá-lo, o caminho todo, fazendo mil perguntas e atrapalhando as explicações
que ele deveria dar. Assim, enquanto
caminhávamos, ela atormentava o pobre guia; já quando nos aproximávamos de um
ponto de parada, ela disparava, gritando: vem Mauro. E lá ia o gigante
troglodita correndo e atropelando todo mundo, afinal a Paquita Tardia queria
tirar uma foto exclusiva e sem a presença de qualquer reles turista. Demos
muitas risadas estragando algumas de suas tomadas individuais e quando a vimos
correndo como louca, ladeira abaixo, pelo meio do jardim, na tentativa, sem
sucesso, de pegar o primeiro ônibus em direção à Cajicá, no qual estávamos
sentados no primeiro banco, demos até um aceninho sarcástico. Não é que sejamos
tão ruins, mas ela bem que estava precisando de um corretivo!
Para minha felicidade, os
Colombianos quase não usam celular, assim que os ambientes públicos são mais
silenciosos e ninguém é obrigado a se interar da vida alheia. Mas por outro
lado, como quase não há telefone público, eles inventaram um serviço de uso de
celular, existem banquinhas com celulares presos a correntes, nas quais se paga
a ligação por minuto.
O domingo foi magnífico.
Frio e chuva, claro! Nas também teve a Feira de Usaquén, antigamente uma
pequenina cidade, que hoje se transformou em um bairro de Bogotá, mas sem
perder seu enorme charme, é algo entre a Vila Madalena, Embu das Artes e
Recoleta (Argentina). Pracinha com igreja; lindas casas nos estilos mais
variados, de colonial à contemporâneo; dezenas de restaurantes muito transados
e lojinhas; o “Centro Comercial Hacienda Santa Bárbara, na verdade um
interessante shopping; feirinha pela rua, com mil e um artigos, para os mais
variados e exóticos gostos.
Como bem pode imaginar a
Cara Amiga, consegui, finalmente, fazer umas comprinhas, um dos motivos de todo
meu entusiasmo. O outro foi um sensacional restaurante mediterrâneo que
conhecemos em Usaquén, e olha que já foi uma grande proeza levar o Claudio a um
restaurante que não fosse de comida colombiana, pois a bíblia dele diz: é
pecado mortal comer outra comida que não a do país – pena: arder no fogo do
inferno. Arderei com o maior prazer (ah, ah, ah!)
O proprietário do “Mediterrânea”
é um português, Sr. Luis, que, pelo movimento do restaurante, deve estar
milhonário. Mas não há como negar que o movimento nada mais é que um reflexo do
ótimo serviço e da maravilhosa comida. Tomamos vinho da minha (Sayo) uva
predileta, (malbec) e comemos “Caciocavallo al Padrón” (o queijo gratinado com
umas diferentes pimentas doces),
“Carpaccio de Pulpo” (de polvo) e “Caserola del Pescador” (ensopado de
frutos do mar com grão-de~bico). Se o vinho tinto não combina com frutos do
mar? Deixamos a discussão para os peritos, para o nosso paladar, estava
maravilhoso. Pecado quase mortal é ir a Bogotá e não comer no “Mediterrânea”.
E antes que o Caro Amigo pense
que engordamos mil quilos, confessaremos nossos segredos: nosso quarto é no
terceiro andar e o hotel não tem elevador; tudo que comemos, compramos uma
unidade e dividimos; a altitude aqui exige o maior esforço físico. Portanto,
acho que até emagrecemos e, portanto, seguiremos comendo e contando tudo com
detalhes (ah, ah, ah!).
Terminamos o dia fazendo
umas comprinhas no Mercado de Pulgas de San Alejo, que vende antiguidades e
coisas velhas, também um divertido programa para os domingos, quando parte das
avenidas são interditadas para que a população possa andar de bicicleta,
praticar outros esportes e brincadeiras.
E por falar em comida...
está na hora de experimentar um tal de “Merengón”, que compramos em “San
Alejo”, um daqueles doces cheios de cremes, chocolates, frutas e suspiros,
contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Villa de Leyva, 09 de março de 2011.
Caro Amigo,
As colombianas são bonitas, 80% tem o
cabelo bem escuro e liso, vestem botas, botas e botas, de todas as cores e
tamanho, reflexo do clima, jeans, um montão de casacos e cachecóis, floridos,
quadriculados, com renda, bolinhas, pompons e babados. Os colombianos não são
lá muito bonitos.
Contratamos uma excursão para conhecer a
famosa Villa de Leyva. Fomos nós, Sr. Jorge, que também nos buscou no
aeroporto, e sua mão, Sra. Sonia, em seu carro particular (VW Pólo). Então foi
algo muito pitoresco, familiar e divertido, pois ambos são alegres e
conversadores; ele, inclusive, é muito parecido com o Claudio (ou com todos os
homens), sempre preocupado com as metas; já ela, muito parecida comigo,
querendo visitar as igrejas, comer uns docinhos e visitar umas lojinhas.
Pudemos investigar tudo que queríamos, sobre comida, costumes, história,
políticos corruptos (algo que temos em comum), guerrilheiros (os antigos Robin
Hood, que, hoje, mais são narcotraficantes que filósofos em busca de uma pátria
melhor e mais justa), educação etc.
O caminho tem cerca de 160 km, passando
por minifúndios, com casinhas, pequenas plantações, umas poucas cabeças de
gado, galinhas e cabritos, que pontilham milhares de montanhas e elevações.
Saímos às 6 da manhã, passamos por pequenos povoados e, em um deles paramos
para um delicioso “Caldo de Costillas” acompanhado de “Arepa” (um pão de
farinha de milho, branco ou amarelo, recheado com queijo, que é frito em uma
chapa com manteiga).
Como já contamos ao Caro Amigo, os
primeiros passos para a independência do país ocorreram no episódio do
“Florero”; já sua concretização ocorreu com a Batalha de Boyacá , em 07 de
agosto de 1819, quando as tropas realistas são vencidas pelas dos compatriotas,
lideradas por Simon Bolívar, que se torna o primeiro presidente do país.
Fizemos nossa segunda parada na “Puente de Boyacá, local da batalha, onde
encontramos um monumento à Simon Bolívar; uma estátua do General Francisco de
Paula Santander, que também lutou na batalha; o Arco do Triunfo, homenagem a
todos os soldados, que traz a letra do Hino Nacional e três rostos, que
simbolizam as três raças, que formaram o povo colombiano, indígenas, negros e
espanhóis; a “Plaza de Banderas”, onde arde, perpetuamente, a chama da
liberdade. Aproveitamos para tomar uma “Aromática de Frutas”, um chá feito com
frutas naturais, morango e amora.
Então chegamos a “Villa de Leyva”, que
superou, em muito, tudo que lemos e ouvimos falar. Todas (todas!) as suas
casas, em estilo colonial espanhol, são brancas; com janelas, portas e grades
de madeira, que circundam as varandas, verdes (que, nos contaram nossos guias,
são as cores colônias espanholas, por isso parecem em grande parte das casas);
telhas redondinhas (aquelas que chamávamos “nas coxas”, pois eram moldadas,
pelos escravos, em suas pernas). Já a pedra aparece em todo calçamento das
ruas, em colunas e na base de algumas casas.
O verde e branco é quebrado por vasos de
gerânios muito coloridos, que aparecem pendurados nas varandas e nos enormes
pátios internos, que, além de lindos chafarizes, trazem primaveras trepadas
pelas colunas e grades. É um verdadeiro pecado não ir para ficar um três ou
quatro dias e conhecer, com mais vagar, a intimidade dos pátios dos casarões,
que abrigam lojas, museus e restaurantes; a boemia noturna das ruas iluminadas
por lampiões, embalada por jazz e música popular brasileira (foi o que nos
contou a Sra. Sonia). Tivemos que cometer tal pecado, mas prometemos pagar a
penitência de voltar para uma estada mais prolongada, quem sabe acompanhados do
Caro Amigo (ah, ah, ah!).
Antonio Nariño foi uma das figuras de
destaque na luta pela independência e na república, que se formou
posteriormente, foi quem traduziu, do francês para o espanhol, a Declaração dos
Direitos do Homem, o que lhe custou exílio e prisão. Na casa onde ele morreu,
em 13/12/1823, hoje funciona um museu em sua homenagem, um dos principais da
cidade, que fecha às quartas-feiras para limpeza, dia de nossa visita; mas,
pasme o Caro Amigo, a diretora, Sra. Virginia, uma pessoa amabilíssima, ao
saber dos turistas brasileiros, que estavam visitando a cidade, fez questão de
abrir-lo e guiou-nos por uma visita exclusiva pelas salas do lindo casarão,
contando-nos, de maneira muito clara e concisa, um pouco da história do país,
retratada na vida de Nariño. Coisa que só quem viaja pela CRKTour pode
conseguir (na, ah, ah!).
Outro grande destaque da cidade é a
“Plaza Mayor”, com 14.000 m², a maior do país, dizem que até da América Latina;
bem aos moldes das espanholas, quadrada, despojada de qualquer vegetação, com
uma fonte no centro e construções ao redor. Nela se encontra a Igreja
Paroquial, em reforma, onde recebemos as cinzas da quarta-feira. A cidade
possui ainda vários museus e edifícios interessantes, que deixaremos para
detalhar na próxima visita. Almoçamos, no lindo pátio do “Restaurante La Real Audiência”,
uma “Bandeja Paisa”, outro prato típico do país, uma travessa onde disputam
espaço carne moída, torresmos, arroz, feijão, ovo frito, banana frita, abacate
e “arepa”.
Seguimos ao “Museo Fosil de Monquira”,
há poucos quilômetros, para ver o esqueleto fossilizado de um Pliosauro, animal
marinho pré-histórico, com 12 metros de comprimento, que se encontra exatamente
no mesmo local onde foi encontrado por agricultores e onde, posteriormente foi
construído o museu, prova de que a região foi mar a milhares de anos. Vimos,
ainda, fosseis de vários outros animais marinhos.
Paramos em Amonita, para provar a
deliciosa lingüiça, e em Tinjacá, para ver o trabalho de delicado trabalho de
entalhe em Tagua, o marfim vegetal. Chegamos, então, a Ráquira, cidade do
artesanato barato, um arco-íris de cor, um charmoso vilarejo, onde os
comerciantes adornam suas fachadas da forma mais exuberante possível, com os
mais diversos objetos, nas mais diversas formas e cores, que concorrem com as
já coloridas paredes; até a prefeitura e a igreja são coloridas. Mas não deu
para ficar muito, metas devem ser cumpridas e a noite já chega e ainda temos
umas três horas de viagem, pois aqui se percorre cerca de 50 km a cada hora,
estradas estreitas, caminhões, chuva, desmoronamentos etc.
Não há como não passar por Chiquinquirá,
visitar a Catedral de Nossa Senhora de Chiquinquirá, e a Igreja da Renovação,
onde houve a aparição da Virgem que restaurou a pintura do lenço com Sua
imagem, local de peregrinação e de milagres. Aproveitamos para espantar o frio,
tomando um café na cafeteria ambulante.
Mais uma parada para comprar um queijo
muito especial, em Ubate, e experimentar “Aguapanela”, um chá de rapadura, que,
como o chocolate, o pessoal toma jogando pedacinhos de queijo para derreter. O
povo danado para comer e inventar moda, já não podemos mais nem ouvir falar em comida. Mentira!!!!
O Caro Amigo nem pode imaginar quem foi
que o Claudio encontrou, outro dia, caminhando pela Candelária, na Praça
Bolívar... hora do banho, ainda vamos sair para jantar, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Bogotá V, 10 de março de 2011.
Caro Amigo,
Caminhando, despreocupadamente, pela
Praça Bolívar, em férias, encontramos Bernard e sua esposa, um repórter
francês, que estava na primeira expedição que o Claudio fez para o Xingu, em
2009. Que mundo pequeno! Encontramos
ainda, na pequena Villa Leyva, o Instituto Humbolt, dedicado a estudos de fauna
e flora, prova de que o estudioso, que é o patrono da escola onde o Claudio
cursou o ginásio, também andou pelas matas colombianas (olha aí meninos, estão
cada vez mais famosos!).
Um pesado e enorme caixote de pedra,
frio, sem janelas, com uma estreita grade de ferro como porta de entrada, na
Carrera 7, maior artéria no coração da principal cidade do país. Assim
encontramos o “Museo Nacional”, o mais antigo da Colômbia, talvez até o mais
importante, que, hoje, está instalado no que foi um presídio de segurança
máxima. Passeio imperdível para quem quer entender a história do povo
colombiano, pois ele apresenta, de forma muito dinâmica e sedutora, o modo de
vida dos povos indígenas, a chegada dos espanhóis, as lutas pela independência,
a república, as guerrilhas e a grande maioria dos fatos que, paralelamente,
contribuíram para a formação do atual país e povo colombiano; inclusive com
obras de arte dos principais artistas plásticos do país, como Botero e Ricardo
Acevedo Bernal.
Em nossa primeira visita ao “Museo
Nacional”, assistimos a um recital da pianista colombiana Yohanna Teresa
Gutiérrez Urrego, com obras do compositor colombiano Luis A. Calvo, de
Beethoven e de Debussy, que, como ela mesma definiu, foi feito aos moldes do
que eram os sarais organizados, pelo próprio Calvo, no início do século XX.
Visitamos, ainda, o andar térreo do museu, o que nos custou quase quatro horas,
pois, como temos certo domínio da língua espanhola e adoramos história, nos
detivemos a ler todos os painéis explicativos. Resolvemos deixar os outros três
andares para uma segunda visita, quando viríamos mais agasalhados, pois o
edifício, onde ainda se percebe a existência das antigas celas, com suas
gigantescas paredes de pedra e diminutas janelas, é extremamente gelado.
Já na segunda visita, que fizemos hoje,
o dia amanheceu cruelmente frio, tomamos um “Caldo de Costillas” e fomos preparadíssimos, com todos os agasalhos
que trouxemos do Brasil (acho que terei que voltar a Argentina para comprar um
sobretudo novo, ah, ah, ah!). Caminhamos mais cinco horas pelos corredores do
museu, aprendemos muitíssimo e encontramos, na sala “El Rostro del Héroe”,
uma definição que nos parece dar uma
idéia do caráter dinâmico, questionador e inovador do museu, ela diz que as
imagens dos heróis têm muitos rostos, que os heróis são símbolos poderosos
porque encarnam os ideais de uma nação, por isso suas imagens não são
inocentes, pois fazem parte das disputas que implicam a construção da memória.
Outra visita imperdível é o “Museo del
Oro”, que apresenta a coleção mais importante do mundo, de peças pré-hispánicas
em ouro, cerca de 34.000 exemplares, além de outras tantas em outros materiais,
como cerâmica, tecido e pedras preciosas. Trabalhos realizados, com esmero de
técnicas, pelos povos que habitavam o país antes da chegada dos espanhóis, tais
como peitorais, braceletes, máscaras, colares, brincos, adornos de nariz,
potes, estátuas, por vezes minúsculas, etc. Objetos que eram confeccionados e
realmente utilizados na vida cotidiana e em cerimônias religiosas, pois não significavam,
para a população de então, símbolo de riqueza ou motivo de cobiça, mas sim
fonte de beleza, pelo esplendor de seu brilho. As visitas guiadas, embora não apresentem
todas as peças do museu, em virtude até de seu tamanho, são muito
interessantes, pois mostram, de forma muito didática, as técnicas de elaboração
das peças, seu uso e o contexto histórico em que foram produzidas.
O Centro Cultural Gabriel García
Márques, em nossa opinião, está para Candelária, assim como a Pirâmide de Vidro
está para o Louvre, nada haver! No que pese serem obras arquitetônicas e
plásticas de valor, não combinam com seus entornos. O centro nasceu com a
intenção de unir leitura, gastronomia, arte e arquitetura, mas seu estilo
moderno grita no meio da colonial Candelária. Ele reúne, em uma espécie de
praça de alvenaria, com terraços e rampas, serviços comerciais e culturais,
como livraria, sala de projeções, sala de exposições, auditório, salas para
atividades educativas, banco, restaurantes.
A Quinta de Bolívar, bem nos pés do Monserrate,
foi construída, em 1800, como residência campestre, já que, na ocasião, ficava
fora da cidade. Foi presenteada a Simón Bolívar, em gratidão pela
independência, sendo utilizada como local de descanso e celebração de vitórias
militares. Posteriormente, foi utilizada como colégio, fabrica e hospital. Em
1922, é adquirida pelo governo e transformada em museu, dando mostras de como
eram suas dependências, na época que o Libertador lá viveu, e do jardim onde,
dizem, muitas árvores foram plantadas por ele.
Nosso último jantar na cidade foi na
“Zona G”, zona gourmet, nas proximidades da Carretera 69 com Calle 5, onde estão
localizados os melhores restaurantes da cidade. Já havíamos jantado no “La Casa Vieja”, também na
região, que serve comida colombiana, então resolvemos conhecer o “La Barra”, que serve comida
espanhola. Experimentamos a Paella à Valenciana (frutos do mar, franco, porco,
arroz, ervilha e pimentão) e o Arroz Negro (frutos do mar, arroz e muita tinta
de lula, até tudo ficar bem pretinho). Deliciosos!
Está na hora do café, duvidamos que o
Caro Amigo adivinhe o que vamos comer!
Beijos,
Sayo e Claudio
Bogotá VI, 11 de março de 2011.
Levantamos cedo, fizemos as malas, que
ficaram sob os cuidados do hotel, pois nosso vôo seria à noite, e fomos à luta,
na tentativa de cumprirmos, pelo menos, mais uma parte de nossas metas.
Não, não tomamos “Caldo de Costillas” no
café, pois era nosso último dia em Bogotá e tínhamos, ainda, muitas metas
gastronômicas a cumprir, então experimentamos um “Buñuelo”, um salgado redondo
e frito, do tamanho de uma bola de bilhar, feito à base de farinha de mandioca
(talvez seja polvinho), ovos, queijo, leite e fermento, uma delícia. E também
experimentamos as “Obleas”, um sanduíche de waffle, fininho como uma hóstia, do
tamanho de um pires de sobremesa e recheado com doce de leite, coco ralado,
queijo ralado, leite condensado, geléia ou o que a criatividade sugerir. Mais gostoso ainda!
Iniciamos a visita ao “Museo de Arte
Colonial”, instalado em um charmoso edifício, com pátio interno e fonte, que
lembra um pouco o edifício onde está o Museu Botero, mas não conseguimos passar
do andar térreo, pois a quantidade de obras é enorme. Vimos exemplares de arte
barroca, em sua maioria pinturas, de personagens proeminentes da época e
sacras, retábulos, entalhados e folheados a ouro, e imagens de santos. Faltou-nos tempo para conhecer o restante (o
motivo que precisávamos para voltar, ah, ah, ah!). De qualquer modo, deixou-nos
uma lição, que encontramos inscrita em um de seus painéis, capaz de ajudar na
compreensão da vida e das várias faces e fases da arte:
... la
identidad humana es transcultural y no puede tener, por lo tanto, un solo punto
de referencia.
Raimon Panikar –
Invitación a la Sabiduría
Ou seja, a identidade humana é transcultural
e não pode ter, portanto, um só ponto de referência - uma grande verdade.
Nosso almoço de despedida foi em no “Mar
de La Candelaria”,
perto do Museu; já quase às quatro horas da tarde, então tivemos o restaurante
só para nós, tomamos um vinho, comemos uns frutos do mar e seguimos, ainda
restavam coisas a fazer.
Às sextas-feiras no final do dia, por
incrível que possa parecer, a Carretera 7, a artéria central de Bogotá, algo
como Avenida Paulista, em
São Paulo, ou Avenida Ana Costa, em Santos, é fechada para o
trânsito de veículos e vira algo parecido com “La Rambla”, de Barcelona; ou
seja, transforma-se no local onde tudo acontece: equilibristas, bandas de rock,
ciclistas, estátuas humanas, anões, malabaristas, encantadores de serpente,
atiradores de faca, artistas de todos os gêneros, gente, cachorros, curiosos,
turistas. Caminhamos, parte dela, na hora que a polícia já tinha iniciado a
interdição e somente transitavam os veículos pelas travessas. Algo bastante
estranho, por que milhares de pessoas, que saiam do trabalho vinham caminhando
pelo meio da rua, enquanto os artistas chegavam timidamente, a impressão que
dava era de que alguma catástrofe havia ocorrido e a cidade estava sendo
evacuada.
Compramos algumas reproduções de
pinturas de Botero e partimos para nossa última meta, que era subir no edifício
Colpatria, o mais alto da Colômbia, com 48 andares. As visitas se iniciam às
18:00 horas, justamente no crepúsculo, momento que ainda há luz natural, que
permite distinguir os edifícios, mas as luzes da cidade já começam a serem
acessas, parecendo diamantes que vão sendo pendurados aqui e ali, ou colares de
rubi, formados pelas lanternas dos carros. Uma coisa realmente magnífica ver
Bogotá se iluminando, emocionante observar e até já reconhecer edifícios e
bairros.
E foi ali, observando a cidade e o Monserrate,
aos pés do Senhor Caído, que deixamos um pedacinho de nosso coração nessa
maravilhosa cidade e prometemos voltar, para rever os novos amigos, matar as
saudades dos lindos lugares que conhecemos e conhecer outros, que o tempo não
nos permitiu conhecer nessa viagem.
Se o Caro Amigo, quando iniciamos essa
viagem, tinha dúvidas quanto a embarcar nela, ao final constatou, assim como
nós, que a Colômbia é um destino maravilhoso e seguro, capaz de encantar
qualquer um com a sua alegria, seu colorido, sua culinária, sua diversidade
cultural e, principalmente, com a amabilidade de seu povo.
Na mesma viagem tivemos ainda
o prazer de conhecer muitas pessoas admiráveis, que cruzaram o nosso caminho e
contribuíram para tornar nossas vidas ainda mais felizes; além de contar com a
excelente companhia do Caro Amigo, lógico!
Obrigado por
escolher nossa empresa para sua viagem (ah, ah, ah!)
Hasta la próxima!
Beijos,
Sayo e Cláudio