domingo, 22 de fevereiro de 2015

EXPEDIÇÃO XIKRIN DO CATETÉ - 2010

Santos, 11 de abril  de 2010.


Caro Amigo,


Estávamos um pouco entediados..., quando, inesperadamente, ouvimos falar que, lá para os lados da Terra do Meio (um dos lugares mais inóspitos do Brasil, no meio da Floresta Amazônica, entre os rios Catete, Itacaiunas e Tocantins), os Xikrins do Cateté, uma tribo a pouco contatada pelo homem branco (para não dizer que somos racistas, pode ter sido pelo amarelo ou negro),  realizaria uma comemoração (isso está até parecendo um episódio do Senhor dos Anéis).  



Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro da humanidade e que possamos alegrar um pouco nossa vida tão entediada. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META (100.000 Km viajando, ah, ah, ah!),  resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada, a partida será amanhã, mal dá tempo de arrumar a mochila.

Infelizmente, a administradora, navegadora, escritora e mentora intelectual (entre outras importantíssimas coisas) da CRKTour, Sayo, não participará dessa expedição, afinal alguém nessa empresa tem que trabalhar. Também, em virtude de dificuldades de comunicação, pois é muito longe para mandar sinais de fumaça, não será possível enviar  mensagens  diária.

Vem com a gente!

Sayo e Claudio



Caro Amigo

 
Para que você, que irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.


--------Aéreo São Paulo – Belém do Pará;
 ------- Terrestre em carro..

 Imaginamos que a Cara Amiga já está arrancando os cabelos, não foi ao cabeleireiro, a chapinha queimou, não fez depilação, não comprou aquele lindo shortinho que está na moda, seu biquíni está velho, não pediu uma mala de rodinhas emprestada etc. Que falta de educação convidar em cima da hora! Calma!!! Nosso programa é, literalmente, de índio: dormir em rede dentro de alguma oca; nada de luz elétrica; fogão de pedra com gravetos; banho só de rio; nada de tijolo, asfalto, concreto ou cimento. O banheiro?... é no matinho mesmo. Então, nada de se preocupar com a aparência, guarde isso para a viagem da Europa (está chegando), passe a mão na primeira roupinha que encontrar, não esqueça o chapéu, a havaiana e o protetor solar. A rede? Compramos no caminho!   

Avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o gato com o vizinho e as crianças na casa da vó (a viagem será perigosa), prepare a pipoca, pegue uma Bohemia gelada (como já está esfriando, talvez seja melhor um vinhozinho), escolha uma poltrona confortável, ligue o computador e espere pacientemente, quando der mandamos notícias (ah, ah, ah!). VEM COM A GENTE! 


Sayo e Claudio


O POVO XIKRIN DO CATETÉ

Os Xikrin do Cateté pertencem ao grupo Kaiapó, nome do povo e da língua que utilizam. Localizam-se, atualmente, próximo ao rio Cateté, afluente do rio Itacaiúnas, em área de mata rica em mogno e castanheiras. Antes da presença do homem branco na região, os Xikrin do Cateté viviam numa área mais extensa, ocupando temporariamente diversas aldeias espalhadas pelo sul paraense.
Com a entrada de caucheiros e castanheiros, iniciaram-se as hostilidades, que culminaram com um massacre de 180 indígenas, em 1930. Os Xikrin mudaram-se, então, para os arredores do rio Bacajá e as cabeceiras do rio Itacaiúnas. Mas como essa área também era rica em castanheiras, em breve ocorreram novos choques, o que obrigou os indígenas a retornarem ao rio Cateté. A partir de 1966, os padres dominicanos Frei Gil Gomes Leitão e Frei José Caron passaram a viver entre os Xikrin, dando assistência médica e orientação sobre formas de sobrevivência econômica.
A área ocupada pelos Xikrin passou a ser invadida por madeireiras, a partir de 1977. Como nessa época a área já estava delimitada e demarcada, pertencendo legalmente aos indígenas, houve processo judicial para a retirada dos invasores. Em 1995 a população Xikrin era de 517 pessoas.
Apesar das violências sofridas, os Xikrin conseguem, hoje, manter as tradições, o emprego da língua Kaiapó e o respeito pela natureza.



AGRICULTURA

"Os Xikrin sempre foram agricultores. Abrem grandes roças onde cultivam milho, mandioca, macaxeira, inhame, batata-doce, abóbora, banana, mamão e algodão".
"Apenas o chefe, Bemoti, tem uma roça que leva seu nome. A roça de Bemoti não se caracteriza tão somente como sendo propriedade do chefe da aldeia. Serve também á formação dos jovens mebengodju e meprinti (meninos de seis a oito ou dez anos, e meninas antes do casamento); é lá que, quando reunidos informalmente, recebem as instruções pacientes de Bemoti e aprendem, sob o olhar vigilante de sua esposa Nhiok-pú, os rudimentos da agricultura: como limpar, onde plantar, qual o tamanho dos buracos a cavar e a distância entre eles, como colocar no chão a maniva e quantos grãos de milho ou sementes de abóbora devem ser enterrados a cada vez. Mais tarde, quando começam a brotar os primeiros rebentos, cada um é convidado, durante o alegre passeio à roça, a reconhecer o que ele mesmo plantou, a admirar o tamanho e a cor das folhas e a retirar insetos ou ervas daninhas". (VIDAL, 1977, p.77 e 79).



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