Caro Amigo,
"Se você
pensa que pode ou sonha que pode, comece. Ousadia tem poder, genialidade e
mágica. Ouse fazer e o poder lhe será dado." – Goethe
Como o Caro Amigo deve ter percebido, estávamos no
local certo e na data certa... Então, o que fazer? Caminhar! Ou, pelo menos,
tentar!
Pensando
que não sobraria muito tempo para escrever, resolvemos, ainda em casa, antes do
início da viagem, contar como chegamos até aqui e como resolvemos,
literalmente, colocar nossos pés na estrada (ah, ah, ah!). Então, parte do que
o Caro Amigo receberá nos dias de nossa Caminhada, foi escrito muito antes dela
realmente começar.
Um pouco assoberbada com alguns
projetos, pensei que seria ótimo umas férias com um roteirinho normal,
basiquinho, para algum lugar em que a comunicação, a língua, fosse um grato
prazer, não uma luta diária. Lógico que, de pronto, a Espanha surgiu, linda, em
minha mente, mas nos faltava muito pouco para conhecer por lá (é uma afirmação
meio impossível, mas enfim...), o País Basco e o Litoral Norte. Então, o que
fazer no restante das férias? Incluir Portugal! Afinal só conhecíamos Lisboa, e
seus arredores, Fátima, Porto e Beja. Perfeito! Fácil, simples e com milhares
de informações na internet e nos guias, o que tornaria a elaboração do roteiro
coisa mais fácil que tirar doce de criança.
Mas aí começava a parte mais difícil,
fazer o Claudio engolir esse roteirinho, pois, como bem sabe o Caro Amigo,
elaborar um roteiro que desperte a atenção do Claudio, seguramente, é como
elaborar um roteiro para criança, tem que envolver muita emoção. Ou será ação?
Ele, mais seguramente ainda, já se imaginava pela Turquia, conhecendo a parte
que nos faltou nas férias de junho/11, aquela parte que não interessa a quase
nenhum turista, em meio aos escombros dos dois terremotos do ano passado;
talvez dando uma esticadinha até a Síria, só para ver como vão as coisas; ou em
meio a algum protesto, lá pela Grécia; algo tipo Indiana Jones combinado com
007. E eu que só queria umas feriazinhas para descansar, passar anônima na
multidão, pobre de mim.
Então, a fim de vender meu peixe,
lancei minha idéia, não preciso nem contar que não agradou. Ele só não me veio
com um “não, nem pensar” retumbante, porque me conhece e sabe que não lido
muito bem com um “não” como resposta. Mas começou com aquela pressãozinha
despretensiosa e aquela cara de santo, com as quais acaba sempre conseguindo o
que quer. Mas acontece que já estou vacinada e, lógico, como mulher, sou muito mais esperta e logo pensei: tenho
que descobrir algo que faça a minha criança se apaixonar pelo meu roteiro. E
fui pensando...
Beijos,
Sayo e Claudio
PS – Aqui vão os relatos do dia de
hoje. Estamos em Tui, deixamos Santiago ao revés dos peregrinos, passamos pela
Catedral, atravessamos toda a Rua São
Pedro, onde, no sábado, hoje, rola uma enorme feira, algo parecido com a Feira
de San Telmo, em Buenos
Aires , tive (Sayo) que passar sem me render a nenhum
badulaque colorido, só pude olhar, pois a mochila, pequena, não me permitia
comprar se quer um alfinete, só poderia comer, pois o estômago, mágico, sempre
arruma um espaço (ah, ah, ah!).
Chegamos à rodoviária e compramos os
bilhetes para o meio dia, com destino a Vigo. Consideramos nosso primeiro dia
de Caminhada, embora tenhamos feito parte em ônibus, porque efetivamente
colocamos as mochilas nas costas e caminhamos bons trechos. Em Vigo tomamos
outro ônibus para Tui, uma linda cidade, à beira do Rio Miño (Minho em
português), que corre entre matas ciliares e suaves colinas, separando Espanha
de Portugal, de um lado Tui, do outro Viana do Castelo, ambas cidades medievais
e fortificadas, sobre colinas, uma vigiando a outra, com o Miño para apaziguar
os ânimos.
Cidade de Tuí as margens do Rio Miño |
Tuí - Galícia - Espanha |
TUI – Galícia - Espanha
Hospedagem:
PR**
- San Telmo – 91
Avenida
de la Concórdia ,
84, Tui
Tel.:986
60 30 11 / 986 60 30 00
Diária
casal: 35,00 euros
Jantar:
Bar O Alboio – viños e tapas
Augusto
Gonzáles Besada, 32 , 36700 – Tui
Tel.:
986 601 191
(2
pulpo a gallega, + 1,5 pimientos de padron + pan + viño e água)
Conta
do casal = 50,00 euros
Porriño, segundo dia do Caminho, 01 de junho de 2012.
Caro Amigo,
Fazer
o Caminho de Santiago, o mais famoso deles, denominado Caminho Francês, com
seus mais de 800 km, sempre esteve em nossos planos, mas andá-los demanda muito
preparo e tempo, não umas simples feriazinhas como as nossas (ah, ah, ah!), mas
o dia chegaria. Aí tive a brilhante idéia de sugerir que, além de conhecermos
várias cidades famosas dos diversos Caminhos (do Norte, Francês, Inglês, Basco,
Primitivo, Aragonês, Finesterre e Português), poderíamos até caminhar uma parte
de um deles, para fazer uma prévia, e poderíamos até receber a Compostela,
caminhando os últimos 100km. E o peixe mordeu a isca, mas daí a andar já era
outro assunto, algo com que me preocuparia depois.
Marco do Caminho de Santiago PK 115,454 |
Como, muito sabiamente, disse o Jô,
um amigo do coral, que também se encarrega de nossa preparação cênica: “Não
sabendo que era impossível, foi lá e fez”. Dizem que a frase é do francês Jean
Cocteau, há até quem diga que é de Mark
Twain, mas eu as ouvi da boca do Jô e no mesmo instante as associei ao Claudio.
E assim a caminhada, que começou como uma brincadeira, foi tomando forma, pois
a palavra impossível só serve mesmo para abrir o apetite dele. Então, já que
nos tornaríamos peregrinos, tínhamos muitos dilemas a solucionar e coisas a
preparar.
Começamos nossas pesquisas na
internet. Consultamos o material que já tínhamos, pois, como sempre pensamos em
fazer o Caminho, fomos colecionando livros e revistas sobre o assunto, ao longo
dos anos. Lemos depoimentos de pessoas que fizeram o Caminho. Em resumo,
encontramos de tudo, correntes que tratam do Caminho como uma grande
penitência, algo que demanda um esforço quase impossível, um troféu para
poucos, só para aqueles que estão dispostos a muito sofrimento e privação. Já uma
outra, na qual nos encaixamos muito bem, vê o Caminho como um aprendizado,
aprender a dividir, somar, multiplicar e subtrair, tudo a seu tempo; aprender a aceitar, a renunciar, a esperar, a
perder e a ganhar; aprender a caminhar e
aprender com as pessoas que encontramos
pelo caminho, algo que pode ser muito prazeroso.
E fomos decidindo as questões que
envolviam a caminhada. A primeira grande pergunta, o maior dos dilemas, era:
QUAL DOS CAMINHOS?
Existem vários, como já contamos ao
Caro Amigo, o Francês é, sem sombra de qualquer dúvida, o mais conhecido e
preferido, foi que o Paulo Coelho relatou em seu livro, o percorremos de carro,
há alguns anos; é o melhor estruturado, tanto em número de albergues, como em sinalização. Mas ,
de modo geral, dizem que todos dispõem de boa estrutura e são muito bem
sinalizados, por setas amarelas, vieiras ou pequenos totens, sendo, inclusive,
desnecessário mapa ou GPS.
Em nossa opinião, o fator mais importante
na escolha do Caminho é seu grau de dificuldade, pois muitos trechos envolvem
grandes altitudes e somos principiantes no assunto, temos algum preparo físico,
mas não somos atletas. Então, após pesquisas, optamos pelo Caminho Português, percorreríamos
o trecho de Tui, na fronteira entre Espanha e Portugal, a Santiago de
Compostela, em torno de 115 km (as várias fontes que consultamos divergem
quando a quilometragem exata), pois é um trecho que envolve pouca altitude e grau
de dificuldade entre fácil e médio.
Mapa do Caminho Português |
- Tui (109 Km até Santiago)
(14 Km Tuí - Porriño)
-
Porriño (95 Km até Santiago )
(5Km Porriño - Mos)
- Mos (90 Km até Santiago )
(10Km Mos - Redondela)
- Redondela (80 Km até Santiago)
(4Km Redondela - Cesantes)
- Cesantes (76 Km até Santiago)
(4Km Cesantes - Árcade)
-
Árcade ( 72 Km até Santiago)
(10Km Árcade - Pontevedra)
-
Pontevedra (62 Km até Santiago )
(13Km Pontevedra - Barro)
-
Barro (49 Km até Santiago)
(11Km Barro - Caldas de Rei)
-
Caldas de Rei (38 Km até Santiago)
(12Km Cladas de Rei - Valga)
-
Valga ( 26 Km até Santiago )
(4Km Valga- Padron)
- Padron (22 Km até Santiago)
(5Km Padron - A Esclavitude)
-
A Esclavitude (17 Km até Santiago )
(12Km A Esclavitude - O Milhadoiro)
-
O Milhadoiro ( 5 Km até Santiago)
( 5 Km O Milhadoiro - Santiago da Compostela)
- (0 Km) Santiago da Compostela
Foi o que nos pareceu mais adequado
para principiantes, esperamos que o Caro Amigo também concorde. E pretendemos
fazê-lo assim:
Tui - O Porriño 18,7 Km (1º dia de caminhada);
O Porriño - Redondela 15,2 Km (2º dia de caminhada);
Redondela - Pontevedra 18,2 Km (3º dia de caminhada);
Pontevedra - Caldas de Reis 23 Km (4º dia de caminhada);
Caldas de Reis - Padrón 18,5 Km (5º dia de caminhada);
Padrón - Santiago de Compostela 25,2 Km (6º dia de caminhada).
Beijos,
Sayo e Claudio
PS – Aqui vão os relatos do dia de
hoje. Estamos em Porriño, caminhamos cerca 18,7 km, em 04:45 horas, desde Tui,
a graciosa cidade que nos encantou e onde experimentamos um delicio queijo da
região, o Manchego, de gosto acentuado, que permanece no céu da boca, e fica
divino quando acompanhando de polvo, vinho e “pimienton padron” (unos pican
otros non – foi o versinho que nos ensinaram).
O trajeto é bem sinalizado,
principalmente pelas setas amarelas e os totens, que trazem a quilometragem.
Realmente é impossível perder-se. A saída de Tuí é linda, passando por quintais
cheios de árvores frutíferas (andamos comendo umas), jardins e bosques;
margeando o Rio Louro, tudo muito sombreado e agradável.
Placa indicativa do Caminho de Santiago |
Mas, nas proximidades de Porriño, há
uma zona industrial, cerca de 5km, que é bem chata, muito sol, a vantagem é que
é domingo, pelo menos não há grande circulação de carros, pois as empresas
estão fechadas; o engraçado é que, um cristão, teve a boa idéia de colocar uma
máquina de refrigerantes e guloseimas, justo nesse ponto ermo, assim, colocando
uma dinheiro, é possível sair de um apuro.
Máquina de refrigerantes e guloseimas |
O trajeto é moleza, quase plano, acho
(Sayo) que demoramos tanto porque a máquina fotográfica também veio e o Caro
Amigo já conhece o Claudio de outras viagens, ele não só tira o retrato (lembra
disso?), também olha como ficou e, se necessário, até mexe no cenário, o que
demanda um pouquinho de tempo (ah, ah, ah!). Encontramos uma dúzia de
peregrinos pelo Caminho, alguns pontos com água potável, muito matinho para
pipi, alguns restaurantes e cafeterias. Pensamos em prosseguir, mas já nos
haviam advertido para não seguir até Redondela no primeiro dia, fazendo pouco
mais de 30km, pois o corpo sente muito; pensamos em ir até Mos, mais uns 5km,
mas nos disseram que é muito pequena e ficamos preocupados com acomodação.
Fonte com água potável |
Como o Caro Amigo pode ver, a CRKTour
está se sofisticando, tratou até de elaborar um logotipo alusivo a sua
Caminhada a Santiago (ah, ah, ah!), nosso agradecimentos à Rosa, que o pintou.
Oração
do peregrino conforme a Credencial de Peregrino:
Apóstolo
Santiago,
eleito
entre os primeiros,
foste
o primeiro a beber o cálice do Senhor,
e
és o grande protector dos peregrinos;
Faz-nos
fortes na fé e alegres na esperança,
em
nosso caminhar de peregrinos, seguindo o caminho da vida cristã,
e
alimenta-nos para que finalmente alcancemos a glória de Deus Pai.
Ámen
Porriño – Galícia - Espanha
Hospedagem:
Pensión
Restaurante Puente
Domingos
Bueno,67 - Porriño
Tel.:986
348 094 / 986 348 095
Diária
casal: 40,00 euros
Jantar:
Maracaíbo
Pensión
Manuel
Rodriguez,50 - Porriño
Tel..: 986 330 901
(pulpo a feria, + pimientos
de padron + pan + viño e água)
Redondela,
terceiro dia do Caminho, 02 de julho de 2012.
Caro Amigo,
Decidido o Caminho, chegou a hora de
tratar dos demais detalhes:
CLIMA
Dizem que o ideal é optar pela
primavera ou outono europeus, iniciando o Caminho em alguma data entre a
segunda quinzena de maio e a primeira quinzena de junho, ou entre a segunda
quinzena de agosto e a segunda quinzena de setembro. Estávamos com sorte,
estaríamos por lá em meados de junho, ótima época, quando o clima ainda é ameno
e as chuvas já se despediram. Há um site (www.pt.euronews.com/tempo) que dá
informações do clima por um período de dez dias, inclusive com as previsões de
chuva, muito importante para decidir o dia de iniciar a peregrinação. Durante a
viagem fomos observando como ia o tempo no Caminho que escolhemos, o problema é
que a Galícia é uma região muito chuvosa e esse ano o clima está muito
estranho, assim como no Brasil; um pouco de frio poderíamos suportar, seria até
melhor para caminhar, mas a chuva complicaria muito.
A vantagem é que, por estarmos de
carro, podemos a qualquer instante ir ao local do início da caminhada e depois
voltar para continuar a viagem. Tínhamos a idéia de começar pelo dia 20/06, mas
não foi possível, já estávamos atrasados (até parece que isso é novidade ah,
ah, ah!), ainda muito distantes de Tui, e o tempo ainda estava muito ruim, ou
melhor, muito instável, a temperatura varia em 10 graus de um dia para outro,
chovia de repente. Mas já estávamos quase no dia 30/06 e nada do tempo firmar,
três dias antes a previsão foi de sol por uma semana e temperaturas entre 15 e
22 graus, seria ótimo. Mas, de repente, mudou a previsão, possibilidade de
chuva durante 3 dias. Já não havia mais
tempo para esperar. E a previsão mudou novamente, não choveria, e novamente,
voltava a chover, já estávamos quase loucos. Na véspera do início da Caminhada,
choveu a noite toda, mas não poderíamos aguardar mais!
MOCHILA
Em nossa opinião, um dos maiores
problemas da caminhada é carregar aquele enorme peso nas costas. Há quem diga
que não deve ultrapassar 10% do peso corporal de seu carregador, o que para nós
significaria 6,5 a 7,5 kg, mesmo assim, muito. Tem gente que leva coisa entre
10 e 15 kg, umas tartarugas, levando a casa nas costas, carregam desde agulhas
esterilizadas, para furar as bolhas do pé, a panelas, para cozinhar nos
albergues. Realmente muita coisa pode fazer falta quando se está pelo mundo, há
que se pesar as possibilidades de adaptação e renuncia, cada um tem os seus
limites. E como cada um acredita no que quer, resolvemos seguir as dicas de um
caminhante português, o Samuel, que lembrou que o espírito do peregrino é
deixar o luxo para trás e deu informações muito práticas do que levou.
Compramos duas pequenas e bem leves
mochilas, onde pretendíamos levar algo em torno de três quilos, algo como uma
muda de roupa e de peças íntimas (lavaríamos roupa diariamente, no hotel,
fontes ou lavadores públicos), duas camisetas de reserva, dois pares de meia, uma
havaiana, uma jaqueta leve, chapéu, um grande echarpe leve de cambraia (que
serviria inclusive para proteção contra o sol, para amenizar as machucaduras da
mochila ou até para cobrir as pernas ao entrar nas igrejas), capa de chuva
descartável, uns poucos remédios de emergência (analgésico, pomada para
contusões e dores musculares, eno, bandaid), papel higiênico, toalhinhas
umedecidas, uma faquinha, máquina fotográfica (do contrário o Claudio se
rebelaria (ah, ah, ah!), caneta, bloquinho de anotações, alguns chaveiros e
bótons do Brasil (para presentear amigos pelo Caminho, um peso que iríamos
perdendo), muito protetor solar, escova e pasta de dente, hidratante para o
rosto e corpo, saches de sabonete e shampo, desodorante, óculos de sol, uma
toalha super absorvente, Credencial do Peregrino, Passaporte, uma cópia
impressa de nosso roteiro, água e algum lanchinho (optamos por banana passa).
Felizmente, como estávamos em dois,
poderíamos dividir as coisas de uso comum e ganhamos vários saches de amostra
grátis com protetor solar, sabonete, e Dermacid; assim, conseguiríamos uma boa
redução no peso e volume das mochilas. Coisas, como secador, perfume ou
maquiagem, estavam banidas da lista, mas um vidrinho com gel seria um coringa
na hora de arrumar o cabelo. Mas, quando fizemos os planos e compramos a
mochila, não contávamos que ainda
estivesse frio, menos de 20 graus, e chuvoso. Chegava a hora de caminhar e a
mochila tinha que ser preparada.
Beijos,
Sayo e Claudio
PS – Aqui vão os relatos do dia de
hoje. Estamos em Redondela, caminhamos 15,2km desde Porriño, em 5 horas e 25
minutos, com parada no Centro de Informações Turísticas de Mos e no
supermercado Lydl. Acordamos meio quebrados. Não Caro Amigo! Não foi a
caminhada, foi a pingaiada, pois, ontem, foi o jogo final da Eurocopa, entre
Espanha e Itália, e fomos jantar em um restaurante muito animado. A Espanha
ganhou de 4X0 e, para comemorar, o dono (um brasileiro do Rio, cujo português é
bem pior que o nosso espanhol, pois vive aqui há muitos anos) distribuiu
garrafas de espumante, que não tivemos dúvida em tomar, depois daquele litro e
meio de vinho que já havíamos tomado durante o jogo. Por sorte, por mais barato
que seja o vinho aqui, não dá ressaca, só preguiça já testamos bem testadinhos
(ah, ah, ah!).
Quanto à chuva, está como na
“quadrilha”, é mentira, os dias têm sido gloriosos. Amanhece fresquinho e
depois vai abrindo um sol lindo, mas não esquenta excessivamente e sobram
algumas nuvens que evitam que o sol se torne impiedoso. Uma temperatura ótima
para caminhar, tudo que pedimos a Deus e mais um pouco, Ele realmente nos ama.
As mochilas foram preparadas conforme o
previsto, seguindo as dicas do Samuel, e estão funcionando muito bem, uma roupa
para o dia e outra para a noite, e peças unissex extras, não é nem preciso
pensar no que vestir (ah, ah, ah!). É bem verdade que, assim que chegamos ao
hotel, temos que lavar a roupa, que usamos na caminhada, e que não dá para
variar muito o figurino, mas, em compensação, carregar a mochila tem sido uma
moleza, no fim do dia estamos inteiros. E, afinal, todo mundo por aqui já está
acostumado com a moda implantada pelos peregrinos, a turma combina nada com
coisa alguma, estar cheirozinho já é um luxo. Como o Caro Amigo já pode
perceber, além da máquina fotográfica, o computador também veio, então, o que
seriam textos breves, estão virando livro. Pobre do Caro Amigo (ah, ah, ah!).
Capela de San Sebastián - Redondela - Galícia |
Porriño, de onde saímos hoje cedo, é
uma cidade bem simpática, com bela arquitetura, muitas igrejinhas e fontes de
água potável. Tem uma boa estrutura hoteleira e comercial, por isso tornou-se
um dos pontos de parada costumeiros.
Redondela - Galícia |
Fonte de água potável |
A caminhada exigiu um pouquinho mais de
esforço, apresentou uma leve inclinação e trajeto por rodovias, mas ambos os
trechos foram pequenos, nada que dê para estressar. Encontramos capelinhas e
cruzeiros pelo caminho, nos contaram que o “gallegos” acreditam em alma penada
e, para que elas não os arrastem para o purgatório, constroem cruzeiros nas
encruzilhadas, pois, se por uma acaso do destino, as encontrarem, agarram-se ao
cruzeiro.
Cruzeiro com a imagem de Santiago |
O Caminho segue o traçado da antiga Via
Romana XIX, sendo possível encontrar, ainda, alguma marcação original, além de
locais que eram utilizados, comunitariamente, para lavagem de roupa.
Via Romana XIX |
Local para lavagem das roupas |
Cruzamos pequenos povoados, bosques de
eucaliptos e pomares lotados de frutas, como kiwis, pêssegos, ameixas,
nectarinas, uvas; mas o grande mistério fica com os pés de couve das hortas,
existem muitos e ainda não descobrimos para que são usados. Mas descobriremos!
Horta com Couve |
Os jardins, que alegraram nosso Caminho,
também foram muitos, difícil até nomear tantas flores.
Muitas flores pelo caminho |
Encontramos muitos peregrinos, alguns
alemães e muitos espanhóis, um grupo muito animado de 35 meninas, que pretendem
ir ao Rio, no ano que vem, ver o Papa no Encontro da Juventude.
Redondela – Galícia - Espanha
Hospedagem:
Alugamos
um apartamento, tratar no “O Café da Vila”
Rua
Alfonso XII-23 – Tel.: 986 40 30 99 - Redondela
Diária
casal: 35,00 euros
Jantar:
O Canastro – restaurante e taperia
Padre Sarmiento, 2 –
Tel.: 886 137 456 / 652 974
999 / 615 458 457
e-mail: ocanastroredondela@hotmail.com
Conta do casal = 22,80 euros
Pontevedra,
quarto dia do Caminho, 03 de julho de 2012.
Caro Amigo,
Mas ainda não está tudo resolvido,
então vejamos:
CALÇADO
As discussões sobre o melhor tipo de
calçado, botinha ou tênis, com meia de algodão ou sintética, renderiam um
tratado de páginas e páginas. Cada um falava uma coisa e nossa cabeça ia
ficando cada vez mais confusa.
Mas como seria verão e somos
brasileiros, resolvemos optar por uma mescla, entre papete e havaiana (acho que
vamos nos render à sandália com meia, que Santo Clodovil nos perdoe ah, ah,
ah!), andaríamos um pouco com cada uma, assim nossos pés não estranhariam muito
e quem sabe a CRKTour não conseguiria um patrocínio (ah, ah, ah!). Na teoria
estava tudo bem, só que se aproximava o dia da caminhada e nada de chegar o verão.
QUANTO ANDAR
Não existe um número de quilômetros
diários predefinidos, cada um anda o que pode e em seu ritmo. O que existe são
cidades de grande valor histórico e religioso, onde o peregrino é praticamente
obrigado a parar, a fim de conhecer igrejas, cruzeiros, hospitais, pontes etc.,
são os locais onde se costuma parar para dormir, mas nada impede que se pare em
outro lugar. Mas observamos que, em geral, é usual caminhar-se de 20 a 25 km
por dia, uma boa puxada, coisa de cinco ou seis horas de caminhada.
O QUE FAZER COM O CARRO E AS MALAS?
Nossa idéia é chegar até Santiago,
onde deixaríamos o carro e as malas, e tomar um ônibus ou trem até Tui, para
iniciarmos nossa peregrinação. Em Santiago descobrimos que não há ônibus ou
trem direto para Tui, é necessário ir a Vigo e tomar outro ônibus, mas nem o
Centro de Informações Turísticas, nem o de Peregrinos souberam informar a que
horas haveria transporte entre Vigo e Tui.
HOSPEDAGEM
Por todo Caminho existem albergues
públicos, que dão hospedagem gratuita, ou por valores quase irrisórios, por uma
noite, aos portadores da Credencial do Peregrino, há também os privados.
Ouvimos dizer que muitos são limpos e bem cuidados, outros nem tanto, mas, em
resumo, parece que são grandes cômodos, cheios de camas, com banheiros
coletivos e cozinhas comunitárias.
Então, o peregrino deve levar seu
lençol, sua toalha de banho, às vezes, até um leve colchonete ou saco de
dormir. Lemos alguns relatos de furtos nos albergues, mas parece que são raros.
Depois de ponderar, decidimos ficar em hotéis, não nos albergues, poderíamos
nos permitir esse conforto, que nos ajudaria a reduzir o peso da mochila.
CREDENCIAL DO PEREGRINO
No Brasil, conseguimos obtê-la, com
muita facilidade, na Associação Brasileira dos Amigos do Caminho de Santiago,
filial do Rio de Janeiro (ineserpa@terra.com.br,
Rua Maria Eugênia, 300, Humaitá, 21-2239-7188).
Gentilmente nos enviaram, pelo correio, pelo simples pagamento das despesas postais, a credencial, em uma carteirinha plástica, a Oração do Peregrino, um imã com o símbolo do Caminho, uma fitinha de “Lembrança do Milagroso Santiago de Compostela, alguns informativos e um TAU. Aprendemos que ele é uma forma de cruz, um símbolo Bíblico e Franciscano, que é a última letra do Alfabeto Hebraico e a 19º do Greco, o “T” de nossa língua, que na física e na engenharia energia, força, o local onde pulsa a vida, e está presente nas culturas mais expressivas da civilização ântica, como fenícios, egípcios, gregos, hebreus e maias; a convergência da linha horizontal com a vertical significa o encontro do céu com a terra, do divino com o humano, o recebemos em forma de gargantinha, em um cadarço com três nós, que, na tradição franciscana, significam humanidade, fraternidade e caridade.
Gentilmente nos enviaram, pelo correio, pelo simples pagamento das despesas postais, a credencial, em uma carteirinha plástica, a Oração do Peregrino, um imã com o símbolo do Caminho, uma fitinha de “Lembrança do Milagroso Santiago de Compostela, alguns informativos e um TAU. Aprendemos que ele é uma forma de cruz, um símbolo Bíblico e Franciscano, que é a última letra do Alfabeto Hebraico e a 19º do Greco, o “T” de nossa língua, que na física e na engenharia energia, força, o local onde pulsa a vida, e está presente nas culturas mais expressivas da civilização ântica, como fenícios, egípcios, gregos, hebreus e maias; a convergência da linha horizontal com a vertical significa o encontro do céu com a terra, do divino com o humano, o recebemos em forma de gargantinha, em um cadarço com três nós, que, na tradição franciscana, significam humanidade, fraternidade e caridade.
Tentamos obter a credencial junto à
filial localizada em São Paulo (http://www.santiago.org.br/), mas não
foram muito simpáticos, além de ser necessário desembolsar mais de R$200,00.
Também conseguimos uma Credencial na Paróquia de Jaca, que fomos carimbando nas
cidades que passamos de carro, para recordação.
PS – Aqui vão os relatos do dia de
hoje. Estamos em Pontevedra, caminhamos 18,2 km, desde Redondela, e levamos 6
horas e 35 minutos até o hotel.
Todo o trajeto continua muito bem sinalizado,
impossível perder-se.
A papete e a havaiana têm funcionado
muito bem, quando o pé esquenta, partimos para a segunda, a única ressalva é
que, às vezes, entra uma pedrinha no sapato, mas já estamos tão acostumados com
esse tipo de coisa (ah, ah, ah!). As malas realmente ficaram no hotel e o carro
em um estacionamento conveniado, ao custo de oito euro ao dia.
Temos encontrado hotéis razoáveis, ao
preço de cerca de 40 euros, mas sem café. Encontramos, em Redondela, que não
tem hotéis no centro, só albergues, privados e público, com banheiro
compartilhado; então acabamos ficando em um apartamento bem legalzinho. Os
albergues públicos não podem ser reservados, então fica quem chegar primeiro, é
outro ponto negativo, mas achamos que ficando em hotéis acabamos perdendo um
pouco da troca de experiências com os demais peregrinos, cada um deve analisar
seus interesses.
Desde Tui, começamos a carimbar a
Credencial, que conseguimos com a Associação do Rio de Janeiro, pois queremos
receber a Compostela, pegamos carimbos nos hotéis, albergues, igrejas e
restaurantes, atentando para pegar um pela manhã e outro à noite, para provar
que caminhamos no respectivo dia.
Hoje a caminhada foi um pouco mais
puxada, mais subidas e descidas, e terreno acidentado o que exigiu mais
esforço, mas, para compensar, foram as mais belas paisagens. Passamos por
pequenos vilarejos medievais, pomares, pontes de pedra, cruzeiros e rias, já
estamos pertinho do mar. Grande parte do trajeto é feito em bosques e
plantações.
O dia estava mais nublado, até ameaçou
chover, mas foram só algumas gotas, a temperatura também cai bastante, mas não
sabemos para quanto. Cheguei (Sayo) com uma dor de cabeça louca, meu nariz já
denuncia que um resfriado se aproxima; mas o Claudio, como sempre, todo
disposto, investigou, e descobriu, até um caminho alternativo ao Caminho, que
tinham nos comentado e passa pelas margens do rio dos Gafos , evitando um grande
trecho pela rodovia, que é quente, perigoso e entediante. Ele adora fugir da
rotina (ah, ah, ah!).
Encontramos muita gente no Caminho, grupos de jovens, senhoras idosas, mãe e filha, gordos e magros, portugueses, alemães e nos despedimos das alegres meninas de Zaragoza, pois amanhã elas vão descansar, na praia, somente retornando na quinta, quando já estaremos em outro trecho.
Pontevedra – Galícia – Espanha
Hospedagem:
Pensión
Casa Maruja
Avda.
Santa Maria, 12 – Tel.: 986 85 49 01 / Movil 639 25 27 73 - Pontevedra
Diária
casal: 32,00 euros.
Jantar:
Los Railes – café e tapas
Pza. Curros Enríquez – Tel.: 618 969
488 – Pontevedra
(pulpo
+ pimientos de padrón + tortilla + pan + água + viño)
Conta do casal = 36,40
euros
Caldas de
Reyes, quinto dia do Caminho, 04 de julho de 2012.
Caro Amigo,
Já iniciamos nossa jornada há vários
dias e o Caro Amigo, logicamente, necessita conhecer um pouquinho mais sobre
Apóstolo Tiago e sobre os Caminhos que levam a seu túmulo. O Caro Amigo,
seguramente, deve estar se perguntando: Mas por que Santiago da Compostela é
Cidade Santa como Jerusalém e Roma?
Contam que pelas costas galegas
pregou o evangelho o apóstolo Tiago, o Maior, filho de Zebedeo e Salomé, irmão
de João Evangelista. Pretendendo seguir a orientação de Jesus, em sua terceira
aparição, decide pregar em Finisterrae, região da Galícia, na Espanha, lugar
muito remoto, o extremo mais ocidental do mundo conhecido até então, o fim da
terra, local repleto de pagãos e crendices.
Muito se conta sobre a vida desse
admirável apóstolo, apelidado de “o filho do Trovão”, pois tinha um caráter
ardente e apaixonado. Diz a lenda que, chegando a Zaragoza, exausto,
aparece-lhe a Virgem, sobre um marco de quartzo, um pilar, e lhe pede que,
naquele mesmo local, erguesse uma igreja em sua homenagem, a igreja que, hoje,
se conhece como Basílica de Nuestra Señora del Pilar.
Basílica Nossa Senhora Del Pilar - Zaragoza |
Dizem que, em 44, retornou a
Jerusalém, onde foi decapitado por Herodes Agripa, que proíbe que seu corpo
seja enterrado, devendo ser abandonado às feras; porém, seus discípulos,
Atanásio e Deodoro, trasladam seus restos, em segredo, para uma barca, e assim
Tiago, o primeiro mártir entre os apóstolos, retorna a Galícia, sendo sepultado
em um bosque, denominado Libredunum (Libredón ou Libredão).
Santiago |
Ao longo dos séculos perseguições e
proibições fazem com que Tiago seja
esquecido. Até que, em 813 ou 822 (há discussões), o eremita Pelayo (Pelágio)
tem visões de chuva de estrelas sobre bosque, durante algumas noites.
A notícia chega aos ouvidos do Bispo Teodomiro, que viaja até o local, ordena escavações e encontra a arca de mármore que contém os ossos do Santo e o de seus dois discípulos. Daí se origina o nome da cidade: Campus Stellae, Campo de Estrela, Compostela. O fato é levado ao rei Afonso II, que ordena a construção de uma capela e um monastério, onde o túmulo foi encontrado, tornando-se o primeiro peregrino a visitar o local, que se tornou um dos principais centros de peregrinação do mundo.
A notícia chega aos ouvidos do Bispo Teodomiro, que viaja até o local, ordena escavações e encontra a arca de mármore que contém os ossos do Santo e o de seus dois discípulos. Daí se origina o nome da cidade: Campus Stellae, Campo de Estrela, Compostela. O fato é levado ao rei Afonso II, que ordena a construção de uma capela e um monastério, onde o túmulo foi encontrado, tornando-se o primeiro peregrino a visitar o local, que se tornou um dos principais centros de peregrinação do mundo.
Alfonso II - El Casto |
O hábito de fazer peregrinações pelo
caminho que leva a Santiago de Compostela nasceu como uma forma de redenção dos
pecados, mas também serviu para reconquistar e repovoar as terras cristãs, com
a expulsão dos mouros. E, ainda, como meio para o cumprimento de condenações
eclesiásticas ou civis. Há quem diga que, no início da idade média, era
possível contratar pessoas para cumprir a pena de percorrer o caminho em lugar
do condenado. O Caminho foi, também, muito útil para a migração e circulação de
diversas formas artísticas.
Com o fim da Idade Média, o Caminho
de Santiago perde sua importância e é esquecido. Porém, no século XX, têm
início as peregrinações modernas e o Caminho volta a ter importância no cenário
mundial, para isso contribui o Códice Calixto, que o Papa Calixto II publicou,
no século XII, concedendo privilégios espirituais e indulgências a quem se
deslocasse ao túmulo do Apóstolo.
Deixamos o resto da história para
depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
PS – Aqui vão os relatos do dia de
hoje. Estamos em Caldas de Reyes, caminhamos
23km, em 06:20 horas, desde Pontevedra, que é uma interessante cidade, a maior
do Caminho Português, e um dos mais belos conjuntos históricos e artísticos da
Galícia. A Basílica de Santa Maria A Grande, uma associação de arquitetura
gótica e renascentista, construída no século XVI, é uma preciosidade,
principalmente sua fachada, com esculturas em pedra.
Pontevedra |
Foi em Pontevedra, na pequena Capela de
la Aparición ,
que Nossa Senhora reapareceu a Lucia, repetindo o milagre de Fátima, em
10/12/1925. Deixamos a cidade passando pelo pequeno Santuário da Virgem
Peregrina, do século XVIII, com planta em forma de concha de vieira e onde uma
linda imagem da Santa, com chapéu e cajado, cumprimenta os peregrinos.
Chovia uma garoa chata que, às vezes,
tornava-se mais grossa e foi nos acompanhando por quase 10km, quando partiu
repentinamente, para nossa alegria, pois as capas descartáveis que compramos
são, realmente, descartáveis; mas não vamos reclamar muito porque, afinal,
foram o suficiente para nos livrar do apuro.
Hoje, o trajeto foi muito tranqüilo,
quase plano e de bom calçamento, aqui e ali um pouco de barro, pois choveu
muito à noite. Passamos por bosque e muitas plantações de uva, tudo muito
verdinho, mas as flores já não apareceram tanto, uma pena, pois elas alegram o
Caminho.
Nos encontramos, novamente, com as três
alemães e acabamos ficando, pela segunda vez, no mesmo hotel; elas são
animadas, costumam sair mais cedo que nós e lá pela metade do Caminho nos
encontramos, pois elas param em restaurantes, para um lanche, e nós não, pois
levamos frutas, chocolate, banana passa e umas linguicinhas. Elas estavam
intrigadas com o tamanho de nossas mochilas, super pequenas, contamos o
segredo, que só trazíamos uma muda de roupa; também indagaram sobre as
havaianas, contamos do nosso hábito nacional. Conhecemos um simpático casal
espanhol, que ainda não havíamos visto, pois fizeram o segundo e o terceiro
trecho em um só dia; mas, no geral, já estamos reconhecendo o pessoal que está
caminhando, nos encontramos pela cidade e já, até, brincamos uns com os outros.
Descobrimos que há mil jeitos de fazer
o Caminho, há excursões que, todos os dias levam o peregrino ao início do
trecho que deve ser caminhado, recolhem no final do mesmo, levam para um hotel e,
no dia seguinte, repetem o procedimento. Há, inclusive, empresas que levam a
bagagem de um trecho a outro, assim é possível caminhar sem carregar muito
peso. Começaram as liquidações de verão na Espanha, estou doida sem poder
comprar nada, acho que vou sair às compras depois mando por eles para Santiago
(ah, ah, ah!).
Temos visto muita gente sofrendo com
botas e tênis, machucados enormes. Continuamos alternando os calçados e tem
funcionado bem, o Claudio já está até preparando um álbum para mandar para a
Havaiana, disse que, no ano que vem, vai fazer o Caminho Francês com patrocínio
dela (ah, ah, ah!).
Caldas de Reis – Galícia - Espanha
Hospedagem:
Hotel
Lótus (recepção do hotel fica no restaurante em frente)
Rúa
Dolores Mosquera ,16 – Tel.: 986 54 06 02 / 986 53 06 50 – Caldas de Reis
Diária
casal: 35,00 euros
Jantar:
Restaurante Lotus – mesmo dono do hotel
Menu do dia 9,00 euros por pessoal (entrada+prato
principal+pan+água+viño) Caldo Gallego
Conta do casal= 18,00 euros
Padrón,
sexto dia do Caminho, 05 de julho de 2012.
Caro Amigo,
Hoje, a cidade de Santiago de
Compostela e seus Caminhos foram declarados Patrimônio da Humanidade, pela
UNESCO, e, embora o Caminho Francês seja o mais conhecido, vários são os
caminhos que levam os peregrinos ao túmulo do Apóstolo, entre eles o Aragonês,
o do Norte, o Português, o Finisterre, o Inglês, o Primitivo etc.; sendo
batizados de acordo com o trajeto que percorrem para chegar ao túmulo do Santo.
O Caminho de Santiago é envolto em lendas
e histórias e marcado por símbolos, como a cabaça, usada para carregar água, o
cajado, usado como apoio para a caminhada e arma de defesa contra cães e
animais selvagens, e a concha, cheia de significados.
Contam que quando o corpo de São
Tiago chegou à Galícia um casamento estava ocorrendo, ao longo da
costa, e o cavalo do noivo, ao ver o navio, assustou-se, caindo no mar. Mas,
através da intervenção milagrosa do Santo, o cavalo e o
cavaleiro emergiram da água, cobertos de conchas.
Também se acredita que os sulcos na concha, que se reúnem em
um único ponto, representam as várias rotas por onde viajam os peregrinos, chegando,
finalmente, a um único destino, o túmulo de São Tiago, em Santiago de
Compostela. A concha tinha, ainda, um
caráter utilitário, sendo utilizada como copo ou prato. E, por ser nativa do
litoral da Galícia, também funcionava como prova da conclusão do caminho, com
chegada a Santiago de Compostela, ao fim do mundo, como diziam os romanos, à “finis
terrae” (fim da terra), pois era o extremo mais ocidental do mundo conhecido
até então.
Os Caminhos são salpicados de
igrejas, cruzeiros, pontes de pedras e obeliscos, construídos como marcos e
meio de facilitar o trânsito dos peregrinos, além de suprir suas necessidades,
principalmente os albergues, públicos e privados, de caráter gratuito, e os
hospitais medievais, que não tinham somente a finalidade curativa, mas,
principalmente, buscavam assistir anciãos, pobres, necessitados e peregrinos.
Desde que o costume de fazer
peregrinações ao Túmulo de Santiago nasceu, no século IX, nasceu também a
necessidade de fazer prova de sua realização. Inicialmente foram utilizadas as
conchas de vieira, que somente existiam na região. Porém, em virtude da
facilidade de falsificação de tal prova, o Papa decretou a pena de excomunhão
aos falsificadores e surgiram, no século XIII, as cartas probatórias.
Atualmente, os peregrinos são
identificados pela Credencial do Peregrino, uma espécie de passaporte, que os
diferencia dos demais viajantes, e lhes abre as portas dos albergues, igrejas e
locais de devoção.
Ela pode ser obtida, com facilidade, na
primeira cidade, de qualquer dos Caminhos de Santiago, em que o peregrino
resolver começar sua jornada, ou mesmo em associações de seu país de origem. A
credencial traz campos onde, ao longo do Caminho, são colocados carimbos, que
significam a passagem do peregrino por determinada cidade, vila ou região,
quase como vistos de um passaporte. Os selos são obtidos em albergues, igrejas,
prefeituras e estabelecimentos comerciais, como hotéis e restaurantes.
A credencial permite ao peregrino
receber a Compostela, que é um documento centenário, uma espécie de diploma,
que atesta a peregrinação ao Túmulo de Santiago, por motivos religiosos ou
espirituais; porém é necessário percorrer, pelo menos, os últimos 100km a pé ou
200km a cavalo ou em
bicicleta. Ela é obtida na Oficina de Peregrinos da Catedral
de Santiago, sendo seu texto escrito em latim.
E diz o seguinte: “O capítulo desta
Venerável Igreja Apostólica e Metropolitana Compostelana, guardião do selo do
Altar do bem aventurado São Tiago, que a todos os Fiéis e Peregrinos
vindos de todo o Orbe terrestre, por sentimento de devoção ou por motivo de
promessa, à morada de Nosso Apóstolo Patrono e Protetor dos Espanhóis, fornece
autêntico certificado de visitação, a todos e a cada um que vier examinar esta
presente, faz saber que D. (nome
do peregrino) .......................
visitou devotamente este sacratíssimo Templo por motivo de fé. (causa
pietatis).
Em testemunho entrego este documento
endossado com o selo desta mesma Santa Igreja.
Entregue em Santiago de Compostela
............... dias ......... mês, ano .......... do Senhor
O Canônico Representante para os
peregrinos “.
Agora
sim! Estamos todos preparados para chegar a Santiago! Vamos Embora! Em muito
boa hora.
Beijos,
Sayo
e Claudio
PS – Aqui vão os relatos do dia de
hoje. Estamos em Padrón, caminhamos 18,5km em 06:10 horas, desde Caldas de Reyes, que tem nas águas
termais seus ponto alto, inclusive há um “lavadero” público com água quentinha,
onde os peregrinos mergulham os pés para relaxar e bater papo.
Sempre partimos das cidades por volta
de 09:30, depois de tomar um bom café, acho que somos quase os lanterninhas,
pois a moçada sai cedo para conseguir lugar nos albergues públicos e economizar
um pouco. Mas, mesmo assim, as cidades ainda estão dormindo, os pães pendurados
nas portas, aguardando que o dono da casa acorde.
Já conhecemos boa parte da turma que
vem seguindo o Caminho nesta semana. Há um pelotão de jovens, alguns italianos,
uns três casais de portugueses, muitos espanhóis, principalmente em bicicleta,
as alemães, algumas francesas. Já se criou uma certa cumplicidade, uma rede de
informações e ajuda. Já nos sentimos um pouco tristes por amanhã ser o último
dia.
O Caminho de hoje foi muito tranqüilo,
poucas subidas, muitos bosques. Choveu um pouco e fez mais frio, mas quase não
vimos o tempo passar, pois nos reencontramos com o simpático casal espanhol,
Araceli e Saturnino, e a conversa veio tão animada que nem vimos o tempo
passar. Mas eles não ficaram para dormir em Padrón, estão de carro, então
dormem todas as noites no mesmo hotel , em Ogrove, pela manhã deixam o carro na
cidade de destino, tomam um ônibus à última cidade que chegaram caminhando, e
caminham até onde está o carro, retornando ao hotel. Amanhã, seguramente, os
encontraremos e chegaremos juntos à Santiago.
Não temos falado muito sobre comida,
mas não pense o Caro Amigo que estamos de dieta, muito pelo contrário. Depois
de chegar, tomar um bom banho, enviar notícias e dar uma volta pela cidade,
partimos para satisfazer as necessidades da carne, tomamos nosso litrinho de
vinho e enchemos a barriga, afinal não precisamos chegar magrinhos ao céu (ah,
ah, ah!). Acontece que escolhemos um cardápio ideal para peregrinos, que temos
repetido todos os dias, composto de tortilla, pulpo a la gallega e pimientos de
padron, todos já bem conhecidos do Caro Amigo. A única novidade fica por conta
de nossa descoberta de uma das utilizações da couve: Caldo Gallego. Uma sopa
com feijão branco, batata em cubos e couve, não continha carne, mas um sabor
fortíssimo de presunto cru, presumimos que aquele enorme osso do famoso “jamon
ibérico” deve ficar fervendo no caldo. Parece que também fazem caldo verde com
a couve, mas ainda não encontramos para provar.
Ganhei (Sayo) uma pequena bolha embaixo
do dedinho (do solado da papete), que com o uso do microporo não tem me trazido
problemas; uma outra na lateral do mesmo pé, num estranho local, onde não há
contato com qualquer dos calçados, passo só uma pomadinha analgésica; então
sigo caminhando tranquilamente, com ajuda da Aspirina C, pois o resfriado veio
mesmo. O Claudio? Como sempre! Segue saltitante como uma criança (ah, ah,
ah!).
Padrón – Galícia - Espanha
Hospedagem:
Pensión
Jardim – Maria Del Carmén Fernandez (Gerente)
Avenida de la Estación , 3, 15900 –
Padrón – Galíci
Tel.:
(+34) 981 81 09 50
e-mail: pensionjardin@gmail.com
Diária
casal: 45,00 euros
Jantar:
Os Carrisos – tasca típica pulperia
Rua Rela, 35 – Padrón
Tel.:629 820 491
e-mail: info@oscarrisos
(caldo gallego + pulpo +
pimientos de padrón + pan + água+ viño)
Conta do casal =39,00
euros.
Santiago de
Compostela, sétimo dia de Caminhada, 06 de julho de 2012.
Caro Amigo,
"Se você
pensa que pode ou sonha que pode, comece. Ousadia tem poder, genialidade e
mágica. Ouse fazer e o poder lhe será dado." – Goethe
É uma grande verdade, nunca deixe seu
coração entristecer-se sem tentá-lo. Chegamos a Santigo de Compostela,
exatamente como imaginávamos, um pouco cansados, mas sãos, salvos, felizes por
ter chegado e tristes por não termos feito um Caminho muito maior; assim como
todo o pessoal que andamos encontrando pelo Caminho, os mais jovens e os bem
mais velhos também.
Estamos
em Santiago, caminhamos 25,2km em 7 horas, desde Padrón, um cidade sem graça e
de gente mal educada. Mas duas coisas fizeram valer a pena ter conhecido
Padrón, uma foi a maravilhosa Pension Jardin, quase um maravilhoso castelo
medieval, feito de pedra, com pesados lustres e arandelas a iluminá-la; tapetes
espalhados pelos pisos e escadarias; móveis em madeira torneada; cortinas em
tecido bordado e muitas flores no jardim.
Pensión Jardim - Padron |
Pensión Jardim - Sala de Estar |
Foi o trecho mais longo e, talvez, o
menos interessante. Ele possui um certo grau de dificuldade porque tem algumas
áreas com inclinação, mas algo de fácil transposição, inclusive porque o tipo
de calçamento é bom. O Caminho segue por regiões de bosque e próximo a
estradas; não passa por muitas chácaras e vilarejos, sendo mais deserto e não
contando com o alegre colorido das flores, mas sim com o verde degradê das
matas.
Acabamos saindo mais cedo do que de
costume, pois os peregrinos, que estavam em nossa pensão, começaram a sair às
06:00 horas. As alemães, que também lá estavam, saíram às 07:00. Pouco antes
das 09:00, colocamos nossos pés na estrada, logo de início encontramos o casal
de australianos, quase com idade de serem nossos pais, que faziam seu segundo
Caminho, sempre na medida de suas possibilidades, então não seguiriam até
Santiago naquele dia, fariam só cerca de 13Km, tudo os maravilhava, pois, assim
como nós, são um país muito novo, os deixamos fotografando e seguimos.
Andamos quilômetros e quilômetros,
sem avistar um peregrino sequer. Fazia muito frio, mas, por sorte, não chovia.
Pensávamos onde andariam todos, seguramente saíram bem cedo, pois queriam
chegar logo ao esperado destino. Mas, seguramente Araceli e Saturnino vinham
mais atrás, pois começam sempre um pouco mais tarde, por volta de 10:00 horas.
Então, para alegrar o Caminho, fomos deixando recados para eles, nos totens que
marcam a quilometragem, aproveitando outros recados já deixados, pois esse é um
meio de comunicação comum ao longo do Caminho; também é comum deixar neles algo
que já não se quer e pode interessar a outro peregrino.
Depois de muito procurar, conseguimos
encontrar um restaurante, para um cafezinho. E, enquanto nos esquentávamos,
vimos o casal de amigos passar, corremos a chamá-los e seguimos juntos. Logo
apareceram as alemães, um grupo de quatro jovens e um brasileiro de bicicleta.
O Caminho ficou bem mais animado, com palavras de incentivo, sorrisos e fotos.
Chegamos à cidade, que se encontra em
festa, pois foi encontrado o Códice Calixtino, do século XII, considerado o
mais antigo guia de peregrinos, que detalha a rota e os costumes das
localidades, entre outras coisas; que havia sido roubado, há um ano, finalmente
foi encontrado.
Codex Calixtinus |
Atravessamos suas ruas e, então, num passe de
mágica, estávamos na Plaza do Obradoiro, olhando o lindo vulto da Igreja de
Santiago refletido contra o céu, um momento emocionante para todos. Muitas
fotos, muitos abraços e muitos sorrisos.
Chega a hora do abraço ao Santo, por
uma pequena escada, exatamente atrás do altar, é possível subir até Santiago e
dar um abraço ao amigo da longa caminhada.
Muitos beijos, promessas de
reencontro, no próximo Caminho, dissemos
adeus aos amigos e seguimos para hotel, onde as malas já nos esperavam no
quarto, para um merecido banho e tão esperada troca de roupa (ah, ah, ah!).
Beijos,
Sayo e Claudio
Santiago da Compostela – Galícia - Espanha
Hospedagem:
Hotel
Pazos Alba (próximo a Catedral)
Rua
Pombal, 22 – 15705 – Zona Monumental - Santiago da Compostela
Tel.:
(34) 981 585 338 / Fax. (34) 981 577 687
Estacionamento: próximo ao
hotel e catedral
Aparcamiento
Catedral – convenio com o hotel = 8,00 euros por dia, estacionamento
subterrâneo com segurança.
Rua
Galeras, 9-17
Tel.:
679 58 18 94
Jantar:
Restaurante
e marisqueria Xantares
– Ernesto Bouzas (gerente)
Rua Franco, 40 – Tel.: 981 581 198 /981 565 986 / Móvil 677 298
243
Centro histórico – Santiago da Compostela
Combinado do mar (30,00 euros p/ duas pessoas ) + queijo do país
(4,30) + pan (2,20) + água (2,75) + viño
(10,00)
Casa Sixto –
mariscos e pescados
Rua
Franco, 43 – Tel.: 981 58 45 01
Centro histórico – Santiago da Compostela
Mariscada (35,00 euros p/ duas pessoas) + pimientos de padrón
(6,80) + pan (2,00) + água ( 1,60) + viño mencia ( 14,20)