sábado, 26 de abril de 2014

CAMINHOS DE SANTIAGO

Tui, primeiro dia de Caminhada, 30 de junho de 2012.
Caro Amigo,
"Se você pensa que pode ou sonha que pode, comece. Ousadia tem poder, genialidade e mágica. Ouse fazer e o poder lhe será dado." – Goethe

Como o Caro Amigo deve ter percebido, estávamos no local certo e na data certa... Então, o que fazer? Caminhar! Ou, pelo menos, tentar!

Pensando que não sobraria muito tempo para escrever, resolvemos, ainda em casa, antes do início da viagem, contar como chegamos até aqui e como resolvemos, literalmente, colocar nossos pés na estrada (ah, ah, ah!). Então, parte do que o Caro Amigo receberá nos dias de nossa Caminhada, foi escrito muito antes dela realmente começar.

Um pouco assoberbada com alguns projetos, pensei que seria ótimo umas férias com um roteirinho normal, basiquinho, para algum lugar em que a comunicação, a língua, fosse um grato prazer, não uma luta diária. Lógico que, de pronto, a Espanha surgiu, linda, em minha mente, mas nos faltava muito pouco para conhecer por lá (é uma afirmação meio impossível, mas enfim...), o País Basco e o Litoral Norte. Então, o que fazer no restante das férias? Incluir Portugal! Afinal só conhecíamos Lisboa, e seus arredores, Fátima, Porto e Beja. Perfeito! Fácil, simples e com milhares de informações na internet e nos guias, o que tornaria a elaboração do roteiro coisa mais fácil que tirar doce de criança.

Mas aí começava a parte mais difícil, fazer o Claudio engolir esse roteirinho, pois, como bem sabe o Caro Amigo, elaborar um roteiro que desperte a atenção do Claudio, seguramente, é como elaborar um roteiro para criança, tem que envolver muita emoção. Ou será ação? Ele, mais seguramente ainda, já se imaginava pela Turquia, conhecendo a parte que nos faltou nas férias de junho/11, aquela parte que não interessa a quase nenhum turista, em meio aos escombros dos dois terremotos do ano passado; talvez dando uma esticadinha até a Síria, só para ver como vão as coisas; ou em meio a algum protesto, lá pela Grécia; algo tipo Indiana Jones combinado com 007. E eu que só queria umas feriazinhas para descansar, passar anônima na multidão, pobre de mim.

Então, a fim de vender meu peixe, lancei minha idéia, não preciso nem contar que não agradou. Ele só não me veio com um “não, nem pensar” retumbante, porque me conhece e sabe que não lido muito bem com um “não” como resposta. Mas começou com aquela pressãozinha despretensiosa e aquela cara de santo, com as quais acaba sempre conseguindo o que quer. Mas acontece que já estou vacinada e, lógico, como mulher,  sou muito mais esperta e logo pensei: tenho que descobrir algo que faça a minha criança se apaixonar pelo meu roteiro. E fui pensando...

Beijos,

Sayo e Claudio

PS – Aqui vão os relatos do dia de hoje. Estamos em Tui, deixamos Santiago ao revés dos peregrinos, passamos pela Catedral,  atravessamos toda a Rua São Pedro, onde, no sábado, hoje, rola uma enorme feira, algo parecido com a Feira de San Telmo, em Buenos Aires, tive (Sayo) que passar sem me render a nenhum badulaque colorido, só pude olhar, pois a mochila, pequena, não me permitia comprar se quer um alfinete, só poderia comer, pois o estômago, mágico, sempre arruma um espaço (ah, ah, ah!).
Chegamos à rodoviária e compramos os bilhetes para o meio dia, com destino a Vigo. Consideramos nosso primeiro dia de Caminhada, embora tenhamos feito parte em ônibus, porque efetivamente colocamos as mochilas nas costas e caminhamos bons trechos. Em Vigo tomamos outro ônibus para Tui, uma linda cidade, à beira do Rio Miño (Minho em português), que corre entre matas ciliares e suaves colinas, separando Espanha de Portugal, de um lado Tui, do outro Viana do Castelo, ambas cidades medievais e fortificadas, sobre colinas, uma vigiando a outra, com o Miño para apaziguar os ânimos.
Cidade de Tuí as margens do Rio Miño
Tuí - Galícia - Espanha
Caminhamos por toda a agradável cidade, entre ruelas de pedra e pomares, já uma prévia para amanhã. Parece que jantaremos em uma Festa Flamenca, coisas do verão.

TUI – Galícia - Espanha

Hospedagem:
PR** - San Telmo – 91
Avenida de la Concórdia, 84, Tui
Tel.:986 60 30 11 / 986 60 30 00 
Diária casal: 35,00 euros

Jantar:
Bar O Alboio – viños e tapas
Augusto Gonzáles Besada, 32 , 36700 – Tui
Tel.: 986 601 191
(2 pulpo a gallega, + 1,5 pimientos de padron + pan + viño e água)
Conta do casal = 50,00 euros


Porriño, segundo dia do Caminho, 01 de junho de 2012.

Caro Amigo,

Fazer o Caminho de Santiago, o mais famoso deles, denominado Caminho Francês, com seus mais de 800 km, sempre esteve em nossos planos, mas andá-los demanda muito preparo e tempo, não umas simples feriazinhas como as nossas (ah, ah, ah!), mas o dia chegaria. Aí tive a brilhante idéia de sugerir que, além de conhecermos várias cidades famosas dos diversos Caminhos (do Norte, Francês, Inglês, Basco, Primitivo, Aragonês, Finesterre e Português), poderíamos até caminhar uma parte de um deles, para fazer uma prévia, e poderíamos até receber a Compostela, caminhando os últimos 100km. E o peixe mordeu a isca, mas daí a andar já era outro assunto, algo com que me preocuparia depois.
Marco do Caminho de Santiago PK 115,454
Como, muito sabiamente, disse o Jô, um amigo do coral, que também se encarrega de nossa preparação cênica: “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez”. Dizem que a frase é do francês Jean Cocteau,  há até quem diga que é de Mark Twain, mas eu as ouvi da boca do Jô e no mesmo instante as associei ao Claudio. E assim a caminhada, que começou como uma brincadeira, foi tomando forma, pois a palavra impossível só serve mesmo para abrir o apetite dele. Então, já que nos tornaríamos peregrinos, tínhamos muitos dilemas a solucionar e coisas a preparar.
Começamos nossas pesquisas na internet. Consultamos o material que já tínhamos, pois, como sempre pensamos em fazer o Caminho, fomos colecionando livros e revistas sobre o assunto, ao longo dos anos. Lemos depoimentos de pessoas que fizeram o Caminho. Em resumo, encontramos de tudo, correntes que tratam do Caminho como uma grande penitência, algo que demanda um esforço quase impossível, um troféu para poucos, só para aqueles que estão dispostos a muito sofrimento e privação. Já uma outra, na qual nos encaixamos muito bem, vê o Caminho como um aprendizado, aprender a dividir, somar, multiplicar e subtrair, tudo a seu tempo;  aprender a aceitar, a renunciar, a esperar, a perder e a ganhar;  aprender a caminhar e aprender com as pessoas que  encontramos pelo caminho, algo que pode ser muito prazeroso.

E fomos decidindo as questões que envolviam a caminhada. A primeira grande pergunta, o maior dos dilemas, era:

QUAL DOS CAMINHOS?

Existem vários, como já contamos ao Caro Amigo, o Francês é, sem sombra de qualquer dúvida, o mais conhecido e preferido, foi que o Paulo Coelho relatou em seu livro, o percorremos de carro, há alguns anos; é o melhor estruturado, tanto em número de albergues, como em sinalização. Mas, de modo geral, dizem que todos dispõem de boa estrutura e são muito bem sinalizados, por setas amarelas, vieiras ou pequenos totens, sendo, inclusive, desnecessário mapa ou GPS.
Em nossa opinião, o fator mais importante na escolha do Caminho é seu grau de dificuldade, pois muitos trechos envolvem grandes altitudes e somos principiantes no assunto, temos algum preparo físico, mas não somos atletas. Então, após pesquisas, optamos pelo Caminho Português, percorreríamos o trecho de Tui, na fronteira entre Espanha e Portugal, a Santiago de Compostela, em torno de 115 km (as várias fontes que consultamos divergem quando a quilometragem exata), pois é um trecho que envolve pouca altitude e grau de dificuldade entre fácil e médio. 
Mapa do Caminho Português

-  Tui (109 Km até Santiago) 

         (14 Km  Tuí - Porriño)

-  Porriño (95 Km até Santiago )

         (5Km  Porriño - Mos)

-   Mos (90 Km até Santiago )

 (10Km  Mos - Redondela)

-    Redondela (80 Km até Santiago)

         (4Km  Redondela - Cesantes)

-   Cesantes (76 Km até Santiago)

         (4Km Cesantes - Árcade)

-  Árcade ( 72 Km até Santiago)

         (10Km Árcade - Pontevedra)

-   Pontevedra (62 Km até Santiago )

         (13Km Pontevedra - Barro)

-  Barro (49 Km até Santiago)

          (11Km  Barro - Caldas de Rei)

-  Caldas de Rei (38 Km até Santiago)

          (12Km  Cladas de Rei - Valga)

-  Valga ( 26 Km até Santiago )

         (4Km  Valga- Padron)

-   Padron (22 Km até Santiago)

         (5Km  Padron - A Esclavitude)

-  A Esclavitude (17 Km até Santiago )

         (12Km  A Esclavitude - O Milhadoiro)

-  O Milhadoiro ( 5 Km até Santiago)

( 5 Km  O Milhadoiro - Santiago da Compostela)

- (0 Km) Santiago da Compostela


Foi o que nos pareceu mais adequado para principiantes, esperamos que o Caro Amigo também concorde. E pretendemos fazê-lo assim:

Tui - O Porriño 18,7 Km (1º dia de caminhada);

O Porriño - Redondela 15,2 Km (2º dia de caminhada);

Redondela - Pontevedra 18,2 Km (3º dia de caminhada);

Pontevedra - Caldas de Reis 23 Km (4º dia de caminhada);

Caldas de Reis - Padrón 18,5 Km (5º dia de caminhada);

Padrón - Santiago de Compostela 25,2 Km (6º dia de caminhada).

Beijos,

Sayo e Claudio

PS – Aqui vão os relatos do dia de hoje. Estamos em Porriño, caminhamos cerca 18,7 km, em 04:45 horas, desde Tui, a graciosa cidade que nos encantou e onde experimentamos um delicio queijo da região, o Manchego, de gosto acentuado, que permanece no céu da boca, e fica divino quando acompanhando de polvo, vinho e “pimienton padron” (unos pican otros non – foi o versinho que nos ensinaram).
O trajeto é bem sinalizado, principalmente pelas setas amarelas e os totens, que trazem a quilometragem. Realmente é impossível perder-se. A saída de Tuí é linda, passando por quintais cheios de árvores frutíferas (andamos comendo umas), jardins e bosques; margeando o Rio Louro, tudo muito sombreado e agradável.
Placa indicativa do Caminho de Santiago
Mas, nas proximidades de Porriño, há uma zona industrial, cerca de 5km, que é bem chata, muito sol, a vantagem é que é domingo, pelo menos não há grande circulação de carros, pois as empresas estão fechadas; o engraçado é que, um cristão, teve a boa idéia de colocar uma máquina de refrigerantes e guloseimas, justo nesse ponto ermo, assim, colocando uma dinheiro, é possível sair de um apuro.
Máquina de refrigerantes e guloseimas
O trajeto é moleza, quase plano, acho (Sayo) que demoramos tanto porque a máquina fotográfica também veio e o Caro Amigo já conhece o Claudio de outras viagens, ele não só tira o retrato (lembra disso?), também olha como ficou e, se necessário, até mexe no cenário, o que demanda um pouquinho de tempo (ah, ah, ah!). Encontramos uma dúzia de peregrinos pelo Caminho, alguns pontos com água potável, muito matinho para pipi, alguns restaurantes e cafeterias. Pensamos em prosseguir, mas já nos haviam advertido para não seguir até Redondela no primeiro dia, fazendo pouco mais de 30km, pois o corpo sente muito; pensamos em ir até Mos, mais uns 5km, mas nos disseram que é muito pequena e ficamos preocupados com acomodação.   
Fonte com água potável
Como o Caro Amigo pode ver, a CRKTour está se sofisticando, tratou até de elaborar um logotipo alusivo a sua Caminhada a Santiago (ah, ah, ah!), nosso agradecimentos à Rosa, que o pintou.


Oração do peregrino conforme a Credencial de Peregrino:

Apóstolo Santiago,

eleito entre os primeiros,

foste o primeiro a beber o cálice do Senhor,

e és o grande protector dos peregrinos;

Faz-nos fortes na fé e alegres na esperança,

em nosso caminhar de peregrinos, seguindo o caminho da vida cristã,

e alimenta-nos para que finalmente alcancemos a glória de Deus Pai.

Ámen


Porriño – Galícia - Espanha

Hospedagem:
Pensión Restaurante Puente
Domingos Bueno,67 - Porriño
Tel.:986 348 094 / 986 348 095
Diária casal: 40,00 euros

Jantar:
Maracaíbo Pensión
Manuel Rodriguez,50 - Porriño
Tel..: 986 330 901
(pulpo a feria, +  pimientos de padron + pan + viño e água)
Conta do casal = 36,70 euros.



Redondela, terceiro dia do Caminho, 02 de julho de 2012.

Caro Amigo,

Decidido o Caminho, chegou a hora de tratar dos demais detalhes:

CLIMA

Dizem que o ideal é optar pela primavera ou outono europeus, iniciando o Caminho em alguma data entre a segunda quinzena de maio e a primeira quinzena de junho, ou entre a segunda quinzena de agosto e a segunda quinzena de setembro. Estávamos com sorte, estaríamos por lá em meados de junho, ótima época, quando o clima ainda é ameno e as chuvas já se despediram. Há um site (www.pt.euronews.com/tempo) que dá informações do clima por um período de dez dias, inclusive com as previsões de chuva, muito importante para decidir o dia de iniciar a peregrinação. Durante a viagem fomos observando como ia o tempo no Caminho que escolhemos, o problema é que a Galícia é uma região muito chuvosa e esse ano o clima está muito estranho, assim como no Brasil; um pouco de frio poderíamos suportar, seria até melhor para caminhar, mas a chuva complicaria muito.

A vantagem é que, por estarmos de carro, podemos a qualquer instante ir ao local do início da caminhada e depois voltar para continuar a viagem. Tínhamos a idéia de começar pelo dia 20/06, mas não foi possível, já estávamos atrasados (até parece que isso é novidade ah, ah, ah!), ainda muito distantes de Tui, e o tempo ainda estava muito ruim, ou melhor, muito instável, a temperatura varia em 10 graus de um dia para outro, chovia de repente. Mas já estávamos quase no dia 30/06 e nada do tempo firmar, três dias antes a previsão foi de sol por uma semana e temperaturas entre 15 e 22 graus, seria ótimo. Mas, de repente, mudou a previsão, possibilidade de chuva durante 3 dias.  Já não havia mais tempo para esperar. E a previsão mudou novamente, não choveria, e novamente, voltava a chover, já estávamos quase loucos. Na véspera do início da Caminhada, choveu a noite toda, mas não poderíamos aguardar mais!


MOCHILA

Em nossa opinião, um dos maiores problemas da caminhada é carregar aquele enorme peso nas costas. Há quem diga que não deve ultrapassar 10% do peso corporal de seu carregador, o que para nós significaria 6,5 a 7,5 kg, mesmo assim, muito. Tem gente que leva coisa entre 10 e 15 kg, umas tartarugas, levando a casa nas costas, carregam desde agulhas esterilizadas, para furar as bolhas do pé, a panelas, para cozinhar nos albergues. Realmente muita coisa pode fazer falta quando se está pelo mundo, há que se pesar as possibilidades de adaptação e renuncia, cada um tem os seus limites. E como cada um acredita no que quer, resolvemos seguir as dicas de um caminhante português, o Samuel, que lembrou que o espírito do peregrino é deixar o luxo para trás e deu informações muito práticas do que levou.

Compramos duas pequenas e bem leves mochilas, onde pretendíamos levar algo em torno de três quilos, algo como uma muda de roupa e de peças íntimas (lavaríamos roupa diariamente, no hotel, fontes ou lavadores públicos), duas camisetas de reserva, dois pares de meia, uma havaiana, uma jaqueta leve, chapéu, um grande echarpe leve de cambraia (que serviria inclusive para proteção contra o sol, para amenizar as machucaduras da mochila ou até para cobrir as pernas ao entrar nas igrejas), capa de chuva descartável, uns poucos remédios de emergência (analgésico, pomada para contusões e dores musculares, eno, bandaid), papel higiênico, toalhinhas umedecidas, uma faquinha, máquina fotográfica (do contrário o Claudio se rebelaria (ah, ah, ah!), caneta, bloquinho de anotações, alguns chaveiros e bótons do Brasil (para presentear amigos pelo Caminho, um peso que iríamos perdendo), muito protetor solar, escova e pasta de dente, hidratante para o rosto e corpo, saches de sabonete e shampo, desodorante, óculos de sol, uma toalha super absorvente, Credencial do Peregrino, Passaporte, uma cópia impressa de nosso roteiro, água e algum lanchinho (optamos por banana passa).
Felizmente, como estávamos em dois, poderíamos dividir as coisas de uso comum e ganhamos vários saches de amostra grátis com protetor solar, sabonete, e Dermacid; assim, conseguiríamos uma boa redução no peso e volume das mochilas. Coisas, como secador, perfume ou maquiagem, estavam banidas da lista, mas um vidrinho com gel seria um coringa na hora de arrumar o cabelo. Mas, quando fizemos os planos e compramos a mochila,  não contávamos que ainda estivesse frio, menos de 20 graus, e chuvoso. Chegava a hora de caminhar e a mochila tinha que ser preparada.

Beijos,

Sayo e Claudio

PS – Aqui vão os relatos do dia de hoje. Estamos em Redondela, caminhamos 15,2km desde Porriño, em 5 horas e 25 minutos, com parada no Centro de Informações Turísticas de Mos e no supermercado Lydl. Acordamos meio quebrados. Não Caro Amigo! Não foi a caminhada, foi a pingaiada, pois, ontem, foi o jogo final da Eurocopa, entre Espanha e Itália, e fomos jantar em um restaurante muito animado. A Espanha ganhou de 4X0 e, para comemorar, o dono (um brasileiro do Rio, cujo português é bem pior que o nosso espanhol, pois vive aqui há muitos anos) distribuiu garrafas de espumante, que não tivemos dúvida em tomar, depois daquele litro e meio de vinho que já havíamos tomado durante o jogo. Por sorte, por mais barato que seja o vinho aqui, não dá ressaca, só preguiça já testamos bem testadinhos (ah, ah, ah!).

Quanto à chuva, está como na “quadrilha”, é mentira, os dias têm sido gloriosos. Amanhece fresquinho e depois vai abrindo um sol lindo, mas não esquenta excessivamente e sobram algumas nuvens que evitam que o sol se torne impiedoso. Uma temperatura ótima para caminhar, tudo que pedimos a Deus e mais um pouco, Ele realmente nos ama.

As mochilas foram preparadas conforme o previsto, seguindo as dicas do Samuel, e estão funcionando muito bem, uma roupa para o dia e outra para a noite, e peças unissex extras, não é nem preciso pensar no que vestir (ah, ah, ah!). É bem verdade que, assim que chegamos ao hotel, temos que lavar a roupa, que usamos na caminhada, e que não dá para variar muito o figurino, mas, em compensação, carregar a mochila tem sido uma moleza, no fim do dia estamos inteiros. E, afinal, todo mundo por aqui já está acostumado com a moda implantada pelos peregrinos, a turma combina nada com coisa alguma, estar cheirozinho já é um luxo. Como o Caro Amigo já pode perceber, além da máquina fotográfica, o computador também veio, então, o que seriam textos breves, estão virando livro. Pobre do Caro Amigo (ah, ah, ah!).
Capela de San Sebastián - Redondela - Galícia
Porriño, de onde saímos hoje cedo, é uma cidade bem simpática, com bela arquitetura, muitas igrejinhas e fontes de água potável. Tem uma boa estrutura hoteleira e comercial, por isso tornou-se um dos pontos de parada costumeiros.
Redondela - Galícia
Fonte de água potável
A caminhada exigiu um pouquinho mais de esforço, apresentou uma leve inclinação e trajeto por rodovias, mas ambos os trechos foram pequenos, nada que dê para estressar. Encontramos capelinhas e cruzeiros pelo caminho, nos contaram que o “gallegos” acreditam em alma penada e, para que elas não os arrastem para o purgatório, constroem cruzeiros nas encruzilhadas, pois, se por uma acaso do destino, as encontrarem, agarram-se ao cruzeiro.
Cruzeiro com a imagem de Santiago
O Caminho segue o traçado da antiga Via Romana XIX, sendo possível encontrar, ainda, alguma marcação original, além de locais que eram utilizados, comunitariamente, para lavagem de roupa.
Via Romana XIX
Local para lavagem das roupas
Cruzamos pequenos povoados, bosques de eucaliptos e pomares lotados de frutas, como kiwis, pêssegos, ameixas, nectarinas, uvas; mas o grande mistério fica com os pés de couve das hortas, existem muitos e ainda não descobrimos para que são usados. Mas descobriremos!
Horta com Couve
Os jardins, que alegraram nosso Caminho, também foram muitos, difícil até nomear tantas flores.
Muitas flores pelo caminho
Encontramos muitos peregrinos, alguns alemães e muitos espanhóis, um grupo muito animado de 35 meninas, que pretendem ir ao Rio, no ano que vem, ver o Papa no Encontro da Juventude.


Redondela – Galícia - Espanha

Hospedagem:
Alugamos um apartamento, tratar no “O Café da Vila”
Rua Alfonso XII-23 – Tel.: 986 40 30 99 - Redondela
Diária casal: 35,00 euros

Jantar:
O Canastro – restaurante e taperia  Padre Sarmiento, 2  –  
 Tel.: 886 137 456 / 652 974 999 / 615 458 457
Conta do casal = 22,80 euros



Pontevedra, quarto dia do Caminho, 03 de julho de 2012.

Caro Amigo,

Mas ainda não está tudo resolvido, então vejamos:

CALÇADO

As discussões sobre o melhor tipo de calçado, botinha ou tênis, com meia de algodão ou sintética, renderiam um tratado de páginas e páginas. Cada um falava uma coisa e nossa cabeça ia ficando cada vez mais confusa.

Mas como seria verão e somos brasileiros, resolvemos optar por uma mescla, entre papete e havaiana (acho que vamos nos render à sandália com meia, que Santo Clodovil nos perdoe ah, ah, ah!), andaríamos um pouco com cada uma, assim nossos pés não estranhariam muito e quem sabe a CRKTour não conseguiria um patrocínio (ah, ah, ah!). Na teoria estava tudo bem, só que se aproximava o dia da caminhada e nada de chegar o verão.


 QUANTO ANDAR

Não existe um número de quilômetros diários predefinidos, cada um anda o que pode e em seu ritmo. O que existe são cidades de grande valor histórico e religioso, onde o peregrino é praticamente obrigado a parar, a fim de conhecer igrejas, cruzeiros, hospitais, pontes etc., são os locais onde se costuma parar para dormir, mas nada impede que se pare em outro lugar. Mas observamos que, em geral, é usual caminhar-se de 20 a 25 km por dia, uma boa puxada, coisa de cinco ou seis horas de caminhada.


O QUE FAZER COM O CARRO E AS MALAS?

Nossa idéia é chegar até Santiago, onde deixaríamos o carro e as malas, e tomar um ônibus ou trem até Tui, para iniciarmos nossa peregrinação. Em Santiago descobrimos que não há ônibus ou trem direto para Tui, é necessário ir a Vigo e tomar outro ônibus, mas nem o Centro de Informações Turísticas, nem o de Peregrinos souberam informar a que horas haveria transporte entre Vigo e Tui.


HOSPEDAGEM

Por todo Caminho existem albergues públicos, que dão hospedagem gratuita, ou por valores quase irrisórios, por uma noite, aos portadores da Credencial do Peregrino, há também os privados. Ouvimos dizer que muitos são limpos e bem cuidados, outros nem tanto, mas, em resumo, parece que são grandes cômodos, cheios de camas, com banheiros coletivos e cozinhas comunitárias.

Então, o peregrino deve levar seu lençol, sua toalha de banho, às vezes, até um leve colchonete ou saco de dormir. Lemos alguns relatos de furtos nos albergues, mas parece que são raros. Depois de ponderar, decidimos ficar em hotéis, não nos albergues, poderíamos nos permitir esse conforto, que nos ajudaria a reduzir o peso da mochila.


CREDENCIAL DO PEREGRINO

No Brasil, conseguimos obtê-la, com muita facilidade, na Associação Brasileira dos Amigos do Caminho de Santiago, filial do Rio de Janeiro (ineserpa@terra.com.br, Rua Maria Eugênia, 300, Humaitá, 21-2239-7188).
Gentilmente nos enviaram, pelo correio, pelo simples pagamento das despesas postais, a credencial, em uma carteirinha plástica, a Oração do Peregrino, um imã com o símbolo do Caminho, uma fitinha de “Lembrança do Milagroso Santiago de Compostela, alguns informativos e um TAU. Aprendemos que ele é uma forma de cruz, um símbolo Bíblico e Franciscano, que é a última letra do Alfabeto Hebraico e a 19º do Greco, o “T” de nossa língua, que na física e na engenharia energia, força, o local onde pulsa a vida, e está presente nas culturas mais expressivas da civilização ântica, como fenícios, egípcios, gregos, hebreus e maias; a convergência da linha horizontal com a vertical significa o encontro do céu com a terra, do divino com o humano, o recebemos em forma de gargantinha, em um cadarço com três nós, que, na tradição franciscana, significam  humanidade, fraternidade e caridade.

Tentamos obter a credencial junto à filial localizada em São  Paulo (http://www.santiago.org.br/), mas não foram muito simpáticos, além de ser necessário desembolsar mais de R$200,00. Também conseguimos uma Credencial na Paróquia de Jaca, que fomos carimbando nas cidades que passamos de carro, para recordação.

PS – Aqui vão os relatos do dia de hoje. Estamos em Pontevedra, caminhamos 18,2 km, desde Redondela, e levamos 6 horas e 35 minutos até o hotel.
 Todo o trajeto continua muito bem sinalizado, impossível perder-se.

A papete e a havaiana têm funcionado muito bem, quando o pé esquenta, partimos para a segunda, a única ressalva é que, às vezes, entra uma pedrinha no sapato, mas já estamos tão acostumados com esse tipo de coisa (ah, ah, ah!). As malas realmente ficaram no hotel e o carro em um estacionamento conveniado, ao custo de oito euro ao dia.

Temos encontrado hotéis razoáveis, ao preço de cerca de 40 euros, mas sem café. Encontramos, em Redondela, que não tem hotéis no centro, só albergues, privados e público, com banheiro compartilhado; então acabamos ficando em um apartamento bem legalzinho. Os albergues públicos não podem ser reservados, então fica quem chegar primeiro, é outro ponto negativo, mas achamos que ficando em hotéis acabamos perdendo um pouco da troca de experiências com os demais peregrinos, cada um deve analisar seus interesses.

Desde Tui, começamos a carimbar a Credencial, que conseguimos com a Associação do Rio de Janeiro, pois queremos receber a Compostela, pegamos carimbos nos hotéis, albergues, igrejas e restaurantes, atentando para pegar um pela manhã e outro à noite, para provar que caminhamos no respectivo dia.

Hoje a caminhada foi um pouco mais puxada, mais subidas e descidas, e terreno acidentado o que exigiu mais esforço, mas, para compensar, foram as mais belas paisagens. Passamos por pequenos vilarejos medievais, pomares, pontes de pedra, cruzeiros e rias, já estamos pertinho do mar. Grande parte do trajeto é feito em bosques e plantações.

O dia estava mais nublado, até ameaçou chover, mas foram só algumas gotas, a temperatura também cai bastante, mas não sabemos para quanto. Cheguei (Sayo) com uma dor de cabeça louca, meu nariz já denuncia que um resfriado se aproxima; mas o Claudio, como sempre, todo disposto, investigou, e descobriu, até um caminho alternativo ao Caminho, que tinham nos comentado e passa pelas margens do rio dos Gafos , evitando um grande trecho pela rodovia, que é quente, perigoso e entediante. Ele adora fugir da rotina (ah, ah, ah!).

Encontramos muita gente no Caminho, grupos de jovens, senhoras idosas, mãe e filha, gordos e magros, portugueses, alemães e nos despedimos das alegres meninas de Zaragoza, pois amanhã elas vão descansar, na praia, somente retornando na quinta, quando já estaremos em outro trecho.


Pontevedra – Galícia – Espanha

Hospedagem:
Pensión Casa Maruja
Avda. Santa Maria, 12 – Tel.: 986 85 49 01 / Movil 639 25 27 73 - Pontevedra
Diária casal: 32,00 euros.

Jantar:
Los Railes – café e tapas
Pza. Curros Enríquez – Tel.: 618 969 488 – Pontevedra
(pulpo + pimientos de padrón + tortilla + pan + água + viño)
Conta do casal = 36,40 euros

Caldas de Reyes, quinto dia do Caminho, 04 de julho de 2012.   
Caro Amigo,
Já iniciamos nossa jornada há vários dias e o Caro Amigo, logicamente, necessita conhecer um pouquinho mais sobre Apóstolo Tiago e sobre os Caminhos que levam a seu túmulo. O Caro Amigo, seguramente, deve estar se perguntando: Mas por que Santiago da Compostela é Cidade Santa como Jerusalém e Roma?
Contam que pelas costas galegas pregou o evangelho o apóstolo Tiago, o Maior, filho de Zebedeo e Salomé, irmão de João Evangelista. Pretendendo seguir a orientação de Jesus, em sua terceira aparição, decide pregar em Finisterrae, região da Galícia, na Espanha, lugar muito remoto, o extremo mais ocidental do mundo conhecido até então, o fim da terra, local repleto de pagãos e crendices.
Muito se conta sobre a vida desse admirável apóstolo, apelidado de “o filho do Trovão”, pois tinha um caráter ardente e apaixonado. Diz a lenda que, chegando a Zaragoza, exausto, aparece-lhe a Virgem, sobre um marco de quartzo, um pilar, e lhe pede que, naquele mesmo local, erguesse uma igreja em sua homenagem, a igreja que, hoje, se conhece como Basílica de Nuestra Señora del Pilar.
Basílica Nossa Senhora Del Pilar - Zaragoza
Dizem que, em 44, retornou a Jerusalém, onde foi decapitado por Herodes Agripa, que proíbe que seu corpo seja enterrado, devendo ser abandonado às feras; porém, seus discípulos, Atanásio e Deodoro, trasladam seus restos, em segredo, para uma barca, e assim Tiago, o primeiro mártir entre os apóstolos, retorna a Galícia, sendo sepultado em um bosque, denominado Libredunum (Libredón ou Libredão).
Santiago
Ao longo dos séculos perseguições e proibições fazem com que Tiago  seja esquecido. Até que, em 813 ou 822 (há discussões), o eremita Pelayo (Pelágio) tem visões de chuva de estrelas sobre bosque, durante algumas noites. 
A notícia chega aos ouvidos do Bispo Teodomiro, que viaja até o local, ordena escavações e encontra a arca de mármore que contém os ossos do Santo e o de seus dois discípulos. Daí se origina o nome da cidade: Campus Stellae, Campo de Estrela, Compostela. O fato é levado ao rei Afonso II, que ordena a construção de uma capela e um monastério, onde o túmulo foi encontrado, tornando-se o primeiro peregrino a visitar o local, que se tornou um dos principais centros de peregrinação do mundo.
Alfonso II - El Casto
O hábito de fazer peregrinações pelo caminho que leva a Santiago de Compostela nasceu como uma forma de redenção dos pecados, mas também serviu para reconquistar e repovoar as terras cristãs, com a expulsão dos mouros. E, ainda, como meio para o cumprimento de condenações eclesiásticas ou civis. Há quem diga que, no início da idade média, era possível contratar pessoas para cumprir a pena de percorrer o caminho em lugar do condenado. O Caminho foi, também, muito útil para a migração e circulação de diversas formas artísticas.
Com o fim da Idade Média, o Caminho de Santiago perde sua importância e é esquecido. Porém, no século XX, têm início as peregrinações modernas e o Caminho volta a ter importância no cenário mundial, para isso contribui o Códice Calixto, que o Papa Calixto II publicou, no século XII, concedendo privilégios espirituais e indulgências a quem se deslocasse ao túmulo do Apóstolo.

Deixamos o resto da história para depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

PS – Aqui vão os relatos do dia de hoje. Estamos em Caldas de  Reyes, caminhamos 23km, em 06:20 horas, desde Pontevedra, que é uma interessante cidade, a maior do Caminho Português, e um dos mais belos conjuntos históricos e artísticos da Galícia. A Basílica de Santa Maria A Grande, uma associação de arquitetura gótica e renascentista, construída no século XVI, é uma preciosidade, principalmente sua fachada, com esculturas em pedra.
Pontevedra
Foi em Pontevedra, na pequena Capela de la Aparición, que Nossa Senhora reapareceu a Lucia, repetindo o milagre de Fátima, em 10/12/1925. Deixamos a cidade passando pelo pequeno Santuário da Virgem Peregrina, do século XVIII, com planta em forma de concha de vieira e onde uma linda imagem da Santa, com chapéu e cajado, cumprimenta os peregrinos.
Chovia uma garoa chata que, às vezes, tornava-se mais grossa e foi nos acompanhando por quase 10km, quando partiu repentinamente, para nossa alegria, pois as capas descartáveis que compramos são, realmente, descartáveis; mas não vamos reclamar muito porque, afinal, foram o suficiente para nos livrar do apuro.
Hoje, o trajeto foi muito tranqüilo, quase plano e de bom calçamento, aqui e ali um pouco de barro, pois choveu muito à noite. Passamos por bosque e muitas plantações de uva, tudo muito verdinho, mas as flores já não apareceram tanto, uma pena, pois elas alegram o Caminho.

Nos encontramos, novamente, com as três alemães e acabamos ficando, pela segunda vez, no mesmo hotel; elas são animadas, costumam sair mais cedo que nós e lá pela metade do Caminho nos encontramos, pois elas param em restaurantes, para um lanche, e nós não, pois levamos frutas, chocolate, banana passa e umas linguicinhas. Elas estavam intrigadas com o tamanho de nossas mochilas, super pequenas, contamos o segredo, que só trazíamos uma muda de roupa; também indagaram sobre as havaianas, contamos do nosso hábito nacional. Conhecemos um simpático casal espanhol, que ainda não havíamos visto, pois fizeram o segundo e o terceiro trecho em um só dia; mas, no geral, já estamos reconhecendo o pessoal que está caminhando, nos encontramos pela cidade e já, até, brincamos uns com os outros.
Descobrimos que há mil jeitos de fazer o Caminho, há excursões que, todos os dias levam o peregrino ao início do trecho que deve ser caminhado, recolhem no final do mesmo, levam para um hotel e, no dia seguinte, repetem o procedimento. Há, inclusive, empresas que levam a bagagem de um trecho a outro, assim é possível caminhar sem carregar muito peso. Começaram as liquidações de verão na Espanha, estou doida sem poder comprar nada, acho que vou sair às compras depois mando por eles para Santiago (ah, ah, ah!).    

Temos visto muita gente sofrendo com botas e tênis, machucados enormes. Continuamos alternando os calçados e tem funcionado bem, o Claudio já está até preparando um álbum para mandar para a Havaiana, disse que, no ano que vem, vai fazer o Caminho Francês com patrocínio dela (ah, ah, ah!).

Caldas de Reis – Galícia - Espanha

Hospedagem:
Hotel Lótus (recepção do hotel fica no restaurante em frente)
Rúa Dolores Mosquera ,16 – Tel.: 986 54 06 02 / 986 53 06 50 – Caldas de Reis
Diária casal: 35,00 euros

Jantar:
Restaurante Lotus – mesmo dono do hotel 
Menu do dia 9,00 euros por pessoal (entrada+prato principal+pan+água+viño) Caldo Gallego
Conta do casal= 18,00 euros


Padrón, sexto dia do Caminho, 05 de julho de 2012.

Caro Amigo,

Hoje, a cidade de Santiago de Compostela e seus Caminhos foram declarados Patrimônio da Humanidade, pela UNESCO, e, embora o Caminho Francês seja o mais conhecido, vários são os caminhos que levam os peregrinos ao túmulo do Apóstolo, entre eles o Aragonês, o do Norte, o Português, o Finisterre, o Inglês, o Primitivo etc.; sendo batizados de acordo com o trajeto que percorrem para chegar ao túmulo do Santo.

O Caminho de Santiago é envolto em lendas e histórias e marcado por símbolos, como a cabaça, usada para carregar água, o cajado, usado como apoio para a caminhada e arma de defesa contra cães e animais selvagens, e a concha, cheia de significados.

Contam que quando o corpo de São Tiago chegou à Galícia um A wedding was taking place along the shore as James' ship approachecasamento estava ocorrendo, ao longo da costa, e o cavalo do noivo, ao ver o navio, assustou-se, caindo no mar. Mas, através Through miraculous intervention, the horse and rider emerged from the water, covered in seashells, and galloped off int da intervenção milagrosa do Santo, o cavalo e o cavaleiro emergiram da água, cobertos de conchas.
The grooves in the shell, which come together at a single point, represent the various routes pilgrims traveled, eventually arriving at a single destination, the tomb of Saint James in Santiago de ComTambém se acredita que os sulcos na concha, que se reúnem em um único ponto, representam as várias rotas por onde viajam os peregrinos, chegando, finalmente, a um único destino, o túmulo de São Tiago, em Santiago de Compostela.  A concha tinha, ainda, um caráter utilitário, sendo utilizada como copo ou prato. E, por ser nativa do litoral da Galícia, também funcionava como prova da conclusão do caminho, com chegada a Santiago de Compostela, ao fim do mundo, como diziam os romanos, à “finis terrae” (fim da terra), pois era o extremo mais ocidental do mundo conhecido até então.
Os Caminhos são salpicados de igrejas, cruzeiros, pontes de pedras e obeliscos, construídos como marcos e meio de facilitar o trânsito dos peregrinos, além de suprir suas necessidades, principalmente os albergues, públicos e privados, de caráter gratuito, e os hospitais medievais, que não tinham somente a finalidade curativa, mas, principalmente, buscavam assistir anciãos, pobres, necessitados e peregrinos.
Desde que o costume de fazer peregrinações ao Túmulo de Santiago nasceu, no século IX, nasceu também a necessidade de fazer prova de sua realização. Inicialmente foram utilizadas as conchas de vieira, que somente existiam na região. Porém, em virtude da facilidade de falsificação de tal prova, o Papa decretou a pena de excomunhão aos falsificadores e surgiram, no século XIII, as cartas probatórias.

Atualmente, os peregrinos são identificados pela Credencial do Peregrino, uma espécie de passaporte, que os diferencia dos demais viajantes, e lhes abre as portas dos albergues, igrejas e locais de devoção.
 Ela pode ser obtida, com facilidade, na primeira cidade, de qualquer dos Caminhos de Santiago, em que o peregrino resolver começar sua jornada, ou mesmo em associações de seu país de origem. A credencial traz campos onde, ao longo do Caminho, são colocados carimbos, que significam a passagem do peregrino por determinada cidade, vila ou região, quase como vistos de um passaporte. Os selos são obtidos em albergues, igrejas, prefeituras e estabelecimentos comerciais, como hotéis e restaurantes.
A credencial permite ao peregrino receber a Compostela, que é um documento centenário, uma espécie de diploma, que atesta a peregrinação ao Túmulo de Santiago, por motivos religiosos ou espirituais; porém é necessário percorrer, pelo menos, os últimos 100km a pé ou 200km a cavalo ou em bicicleta. Ela é obtida na Oficina de Peregrinos da Catedral de Santiago, sendo seu texto escrito em latim.
E diz o seguinte: “O capítulo desta Venerável Igreja Apostólica e Metropolitana Compostelana, guardião do selo do Altar do bem aventurado São Tiago, que a todos os Fiéis e Peregrinos vindos de todo o Orbe terrestre, por sentimento de devoção ou por motivo de promessa, à morada de Nosso Apóstolo Patrono e Protetor dos Espanhóis, fornece autêntico certificado de visitação, a todos e a cada um que vier examinar esta presente, faz saber que D. (nome do peregrino)  ....................... visitou devotamente este sacratíssimo Templo por motivo de fé.  (causa pietatis).

Em testemunho entrego este documento endossado com o selo desta mesma Santa Igreja.

Entregue em Santiago de Compostela ............... dias ......... mês, ano .......... do Senhor

O Canônico Representante para os peregrinos “.

Agora sim! Estamos todos preparados para chegar a Santiago! Vamos Embora! Em muito boa hora.

Beijos,

Sayo e Claudio

PS – Aqui vão os relatos do dia de hoje. Estamos em Padrón, caminhamos 18,5km em 06:10 horas,  desde Caldas de Reyes, que tem nas águas termais seus ponto alto, inclusive há um “lavadero” público com água quentinha, onde os peregrinos mergulham os pés para relaxar e bater papo.
Sempre partimos das cidades por volta de 09:30, depois de tomar um bom café, acho que somos quase os lanterninhas, pois a moçada sai cedo para conseguir lugar nos albergues públicos e economizar um pouco. Mas, mesmo assim, as cidades ainda estão dormindo, os pães pendurados nas portas, aguardando que o dono da casa acorde.
Já conhecemos boa parte da turma que vem seguindo o Caminho nesta semana. Há um pelotão de jovens, alguns italianos, uns três casais de portugueses, muitos espanhóis, principalmente em bicicleta, as alemães, algumas francesas. Já se criou uma certa cumplicidade, uma rede de informações e ajuda. Já nos sentimos um pouco tristes por amanhã ser o último dia.
O Caminho de hoje foi muito tranqüilo, poucas subidas, muitos bosques. Choveu um pouco e fez mais frio, mas quase não vimos o tempo passar, pois nos reencontramos com o simpático casal espanhol, Araceli e Saturnino, e a conversa veio tão animada que nem vimos o tempo passar. Mas eles não ficaram para dormir em Padrón, estão de carro, então dormem todas as noites no mesmo hotel , em Ogrove, pela manhã deixam o carro na cidade de destino, tomam um ônibus à última cidade que chegaram caminhando, e caminham até onde está o carro, retornando ao hotel. Amanhã, seguramente, os encontraremos e chegaremos juntos à Santiago.
Não temos falado muito sobre comida, mas não pense o Caro Amigo que estamos de dieta, muito pelo contrário. Depois de chegar, tomar um bom banho, enviar notícias e dar uma volta pela cidade, partimos para satisfazer as necessidades da carne, tomamos nosso litrinho de vinho e enchemos a barriga, afinal não precisamos chegar magrinhos ao céu (ah, ah, ah!). Acontece que escolhemos um cardápio ideal para peregrinos, que temos repetido todos os dias, composto de tortilla, pulpo a la gallega e pimientos de padron, todos já bem conhecidos do Caro Amigo. A única novidade fica por conta de nossa descoberta de uma das utilizações da couve: Caldo Gallego. Uma sopa com feijão branco, batata em cubos e couve, não continha carne, mas um sabor fortíssimo de presunto cru, presumimos que aquele enorme osso do famoso “jamon ibérico” deve ficar fervendo no caldo. Parece que também fazem caldo verde com a couve, mas ainda não encontramos para provar.   
Ganhei (Sayo) uma pequena bolha embaixo do dedinho (do solado da papete), que com o uso do microporo não tem me trazido problemas; uma outra na lateral do mesmo pé, num estranho local, onde não há contato com qualquer dos calçados, passo só uma pomadinha analgésica; então sigo caminhando tranquilamente, com ajuda da Aspirina C, pois o resfriado veio mesmo. O Claudio? Como sempre! Segue saltitante como uma criança (ah, ah, ah!).    

Padrón – Galícia - Espanha

Hospedagem:
Pensión Jardim – Maria Del Carmén Fernandez (Gerente)
Avenida de la Estación, 3, 15900 – Padrón – Galíci
Tel.: (+34) 981 81 09 50
Diária casal: 45,00 euros

Jantar:
Os Carrisos – tasca típica pulperia
Rua Rela, 35 – Padrón
Tel.:629 820 491
(caldo gallego + pulpo + pimientos de padrón + pan + água+ viño)
Conta do casal =39,00 euros.


Santiago de Compostela, sétimo dia de Caminhada, 06 de julho de 2012.
Caro Amigo,
"Se você pensa que pode ou sonha que pode, comece. Ousadia tem poder, genialidade e mágica. Ouse fazer e o poder lhe será dado." – Goethe
É uma grande verdade, nunca deixe seu coração entristecer-se sem tentá-lo. Chegamos a Santigo de Compostela, exatamente como imaginávamos, um pouco cansados, mas sãos, salvos, felizes por ter chegado e tristes por não termos feito um Caminho muito maior; assim como todo o pessoal que andamos encontrando pelo Caminho, os mais jovens e os bem mais velhos também.
Estamos em Santiago, caminhamos 25,2km em 7 horas, desde Padrón, um cidade sem graça e de gente mal educada. Mas duas coisas fizeram valer a pena ter conhecido Padrón, uma foi a maravilhosa Pension Jardin, quase um maravilhoso castelo medieval, feito de pedra, com pesados lustres e arandelas a iluminá-la; tapetes espalhados pelos pisos e escadarias; móveis em madeira torneada; cortinas em tecido bordado e muitas flores no jardim.
Pensión Jardim - Padron
Pensión Jardim - Sala de Estar
A segunda preciosidade do local é a pedra onde foi amarrado o barco que trouxe o corpo de Apóstolo à Espanha, que fica embaixo do altar da Igreja de Santiago.
Foi o trecho mais longo e, talvez, o menos interessante. Ele possui um certo grau de dificuldade porque tem algumas áreas com inclinação, mas algo de fácil transposição, inclusive porque o tipo de calçamento é bom. O Caminho segue por regiões de bosque e próximo a estradas; não passa por muitas chácaras e vilarejos, sendo mais deserto e não contando com o alegre colorido das flores, mas sim com o verde degradê das matas.
Acabamos saindo mais cedo do que de costume, pois os peregrinos, que estavam em nossa pensão, começaram a sair às 06:00 horas. As alemães, que também lá estavam, saíram às 07:00. Pouco antes das 09:00, colocamos nossos pés na estrada, logo de início encontramos o casal de australianos, quase com idade de serem nossos pais, que faziam seu segundo Caminho, sempre na medida de suas possibilidades, então não seguiriam até Santiago naquele dia, fariam só cerca de 13Km, tudo os maravilhava, pois, assim como nós, são um país muito novo, os deixamos fotografando e seguimos.
Andamos quilômetros e quilômetros, sem avistar um peregrino sequer. Fazia muito frio, mas, por sorte, não chovia. Pensávamos onde andariam todos, seguramente saíram bem cedo, pois queriam chegar logo ao esperado destino. Mas, seguramente Araceli e Saturnino vinham mais atrás, pois começam sempre um pouco mais tarde, por volta de 10:00 horas. Então, para alegrar o Caminho, fomos deixando recados para eles, nos totens que marcam a quilometragem, aproveitando outros recados já deixados, pois esse é um meio de comunicação comum ao longo do Caminho; também é comum deixar neles algo que já não se quer e pode interessar a outro peregrino.
Depois de muito procurar, conseguimos encontrar um restaurante, para um cafezinho. E, enquanto nos esquentávamos, vimos o casal de amigos passar, corremos a chamá-los e seguimos juntos. Logo apareceram as alemães, um grupo de quatro jovens e um brasileiro de bicicleta. O Caminho ficou bem mais animado, com palavras de incentivo, sorrisos e fotos.
Chegamos à cidade, que se encontra em festa, pois foi encontrado o Códice Calixtino, do século XII, considerado o mais antigo guia de peregrinos, que detalha a rota e os costumes das localidades, entre outras coisas; que havia sido roubado, há um ano, finalmente foi encontrado.
Codex Calixtinus
 Atravessamos suas ruas e, então, num passe de mágica, estávamos na Plaza do Obradoiro, olhando o lindo vulto da Igreja de Santiago refletido contra o céu, um momento emocionante para todos. Muitas fotos, muitos abraços e muitos sorrisos.
Chega a hora do abraço ao Santo, por uma pequena escada, exatamente atrás do altar, é possível subir até Santiago e dar um abraço ao amigo da longa caminhada.
Depois, seguimos até a Oficina do Peregrino, pertinho da Igreja, onde obtivemos nossa Compostela.
Muitos beijos, promessas de reencontro, no próximo Caminho,  dissemos adeus aos amigos e seguimos para hotel, onde as malas já nos esperavam no quarto, para um merecido banho e tão esperada troca de roupa (ah, ah, ah!).

Beijos,
Sayo e Claudio


Santiago da Compostela – Galícia - Espanha

Hospedagem:

Hotel Pazos Alba  (próximo a Catedral)
Rua Pombal, 22 – 15705 – Zona Monumental - Santiago da Compostela
Tel.: (34) 981 585 338 / Fax. (34) 981 577 687

Estacionamento: próximo ao hotel e catedral
Aparcamiento Catedral – convenio com o hotel = 8,00 euros por dia, estacionamento subterrâneo com segurança.
Rua Galeras, 9-17
Tel.: 679 58 18 94

Jantar:

Restaurante e marisqueria  Xantares – Ernesto Bouzas (gerente)
Rua Franco, 40 – Tel.: 981 581 198 /981 565 986 / Móvil 677 298 243
Centro histórico – Santiago da Compostela
Combinado do mar (30,00 euros p/ duas pessoas ) + queijo do país (4,30) + pan (2,20) + água (2,75)  + viño (10,00)
Conta do casal = 49,25 euros


Casa Sixto – mariscos e pescados
Rua Franco, 43 – Tel.: 981 58 45 01
Centro histórico – Santiago da Compostela
Mariscada (35,00 euros p/ duas pessoas) + pimientos de padrón (6,80) + pan (2,00) + água ( 1,60) + viño mencia ( 14,20)
Conta do casal = 59,60 euros