EXPEDIÇÃO PERU DE NATAL
Santos 15, de dezembro de 2014
Caro Amigo
Caro Amigo
Bem sabemos que o Caro Amigo, ao ler o nome de nossa nova expedição (Peru de Natal), deve estar pensando que não há nada mais óbvio que peru no Natal, deve até já ter tirado as velhas assadeiras do fundo o armário, preparando-se para alguma receita mirabolante com a cara bem aborrecida, afinal encarar forno quente num verão deste é, no mínimo, do peru (ah, ah, ah!).
Assim, em nossa
constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que
meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de
que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o
legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos
100.000.000.000.000.000 Km viajando (acrescentamos alguns zeros porque estava
muito fácil ah, ah, ah!), resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada.
Aproveitaremos a
oportunidade para experimentar o Ceviche peruano e rever Machu Picchu, que foi
o primeiro destino da CRKTour, em 1981 (é a mais pura verdade, ah, ah ah!),
realizado no tão famoso “Trem da Morte”.
Mas, principalmente, aproveitaremos
para rever o gentil povo peruano, que vê a vida de forma tão alegre e colorida.
Mas nada estará
completo sem a sua companhia, portanto: Vem com a gente!
Sayo e Claudio
Santos, 16 de
dezembro de 2014.
Caro Amigo,
Para que você, que
irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se perca
da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.
Compre seu bilhete,
faça as malas (não esqueça o protetor solar, afinal já é quase verão, mas leve
também uma capa de chuva, pois, no verão, chove muito em Cusco), pegue o
passaporte, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o gato
com o vizinho e as crianças na casa da vó (mas não esqueça de deixar os
presentinhos de Natal), não esqueça seu modelinho colorido, afinal, pegue sua
garrafa de pisco, alguma coisinha para beliscar, escolha uma poltrona
confortável, ligue o computador e VEM COM A GENTE!
Aproveite para
enviar alguma dica para tornar nossa viagem mais interessante. Talvez alguma
cidadezinha, que já visitou e achou incrível; um restaurante, que viu em alguma
revista de turismo; um lugar que você gostaria de conhecer, mas ainda não teve
tempo; ou mesmo o endereço de sua adorável prima peruana, que prepara um pisco
sour (sauer) e um ceviche incríveis, pois teremos imenso prazer em visitá-los,
conferir e contar tudo, nos mais mínimos e prazerosos detalhes.
Beijos,
Sayo e Claudio
PS – Não esqueça seu
modelinho colorido, afinal, não queremos parecer turistas (ah, ah, ah!).
Presidente Epitácio,
19 de dezembro de 2013.
Caro Amigo,
Desde que iniciamos
os planos para a viagem ao Peru, lemos que dezembro não era a melhor época para
fazê-lo, pois era mês de chuvas, quando, por vezes, estradas eram interrompidas
e trens deixavam de funcionar, mas não podíamos nos dar ao luxo de escolher
outro mês, já que aproveitávamos as férias escolares e o recesso do Poder
Judiciário. Sentimos, então, o peso desse conselho, pois a Rebeca, no guichê da
Ormeño, nos estendia a cópia de um jornal de 14/12/13, que noticiava que a
Interoceânica permanecia bloqueada em virtude de um deslizamento de terra em
Madre de Díos, na rota Puerto Maldonado / Cusco, no Peru. Em conseqüência
disso, o ônibus para Lima não sairia naquela quarta-feira, como previsto, mas
somente no dia seguinte, no mesmo horário, 15:30 horas.
A empresa oferecia
um lugar para que fossem deixadas as bagagens e cada um que se virasse. O que
de fato aconteceu é que a empresa faria a viagem com o mesmo ônibus, que já
deveria ter chegado do Peru, mas que ficou preso em virtude do problema na
estrada peruana. A postura da Ormeño estava totalmente em desacordo com a
legislação brasileira, mas não estávamos nada a fim de discutir, portanto
mandamos um e-mail para o nosso hotel de Lima, informando a alteração na data
da reserva e voltamos para casa da Mamãe, onde uma tarde fofocando, uma pizza e
mais umas taças de vinho não fariam mal algum. Pela manhã, nossa primeira
providência foi ligar para confirmar a saída do ônibus, tivemos a feliz notícia
de que ele já havia chegado e estava passando por revisão e limpeza, com saída
garantida para as 15:30 horas.
Às 15:00 horas, do
dia 19/12, começou o embarque, aquela conversa de duas malinhas por pessoa não
passava de letra morta. A Fabiola, a outra mocinha da Ormeño, até quis fazer
alguma objeção quanto ao tamanho de nossa mala de víveres, mas a Rebeca logo
veio com um deixa para lá, afinal os peruanos estavam trazendo a casa toda
mesmo. Uma hora de atraso para a partida e ainda nos encontrávamos na
rodoviária, tentando enfiar a bagagem da turma dentro do ônibus, que foi
tomando as poltronas vazia e corredores. Finalmente, partimos.
Nos imaginávamos
pelos retões da Rodovia Castelo Branco, quando o ônibus começou a ziguezaguear
por estreitas ruas do bairro do Limão. Da janela, observávamos que um dos
peruanos, que, aparentemente, era um dos integrantes de um grupo musical,
descia para perguntar, com um papelzinho na mão, sobre um suposto endereço. O
que estaria acontecendo? E seguíamos pelas estreitas ruas, tendo que chamar os
proprietários dos carros mal estacionados, para que removessem seus veículos e
pudéssemos passar; fazendo manobras mirabolantes para pode virar à esquerda em
alguma ruela; desviando de fios e luminárias.
O Kuc, que já não se
agüentava, foi para junto do motorista e para também ajudar a perguntar e
manobrar o ônibus. Afinal, em terra de cego, quem tem um olho é rei e ele, além
de falar português, falava um espanhol melhor do que o português dos peruanos
presentes. Ele se elegeu o interprete da excursão e pronto (ah, ah, ah!).
Finalmente descobrimos que o motorista procurava o endereço da empresa
Vidrobus, pois um dos vidros laterais havia se quebrado e precisava ser
substituído (17:30 horas). Sabe quando pegaríamos a estrada? Nem nós! Da minha
janela, no andar superior, observava a nuvem de homens que se juntou em volta
do tal vidro, cada um dando sua opinião e arriscando um palpite. Até mulher
desceu para palpitar. A coisa não parecia nada boa. Sobe o Kuc para buscar a
bolsa, seguramente tiraria umas fotos, já anunciando que não havia vidro para
efetuar a troca.
Iniciaram-se as
tratativas na fábrica de vidro. O rapazinho do escritório, com rádio na mão e
ares de ocupadíssimo, anunciava a falta do vidro no modelo de nosso ônibus,
oferecendo a colocação de um vidro menor e a finalização com placa de
compensado. A idéia não agradou muito. Ele ia para lá e pra cá, falando no
rádio e gesticulando muito, seguia com seu ar pedante. E nada se resolvia.
Chega, então, um senhor, um obreiro, que, por sua idade, aparentava ser o real
entendido no assunto, e nos sugere a colocação de “contacte”. O rapazinho não
gostou muito, estava doido para vender o vidro, diz que não tem “contacte”, faz
uns rapa-pés, fala mais um pouco no rádio, cada vez com mais cara e bocas.
Finalmente oferece o “contacte”, por quinhentos reais e sem nota fiscal,
devendo a colocação ser acertada com o senhor de mais idade. Isso os motoristas
não poderiam aceitar, pois tinham que apresentar o recibo à empresa. Em “off”,
o senhorzinho nos aconselhou passar fita adesiva larga, várias camadas, que
surtiria o mesmo efeito.
Em um segundo foi
aparecendo fita de tudo quanto é lado. O Kuc sempre leva aqueles rolos de fita
em viagens, para ajudar na plastificação das malas, que sempre fazemos, para
evitar que tenhamos que trocá-las a cada viagem; porém eu, pessoalmente, tenho
uma péssima impressão de carregar essas fitas, fico imaginando que, qualquer
dia, vão achar que somos terroristas e levamos a tal fita para imobilizar nossas
vítimas. Afinal, que maluco sai para viajar carregando um troço desses? Pelo
jeito o ônibus estava cheio de malucos, ou terroristas, e os que não eram,
trataram logo de sair pelo bairro, intencionados a comprar mais das tais fitas
(ah, ah, ah!).
A CRKTour entrou com
uma fita e a faca para seu corte (porque os outros terroristas são
principiantes, não portavam todos os acessórios necessários para a consumação
do crime) e, a vinte mãos, o vidro foi “consertado”. Às 18:45, deixávamos o
Limão em busca da estrada. Mas o que me (Sayo) preocupava mesmo era que,
durante as discussões que envolveram o dilema do vidro, um dos passageiros me
contou que a viagem de Lima a São Paulo, que havia chegado naquele dia pela
manhã, motivo do atraso de um dia em nossa viagem, tinha levado, tão-somente, oito dias, em
virtude de chuvas e desmoronamentos. Meu Pai do Céu! Oito dias em um ônibus! E
eu só tinha preparado logística para quatro!
Bem sabe o Caro
Amigo que odiamos reservar os hotéis e os passeios de uma viagem, pois queremos
ter a possibilidade de mudar de idéia, alterar nossos roteiros e ficar mais
onde bem nos aprouver. Porém, como
estaríamos viajando de ônibus, portanto com locomoção reduzida e tempo escasso,
decidimos quebrar uma das regras da CRKTour, e reservar tudo, inclusive comprar
as passagens dos ônibus que nos levariam de Lima a Nazca (para sobrevoar as
Linhas de Nazca) e de Nazca para Cusco (para a visita a Machu Picchu). Parece
que não fizemos bem, pelo andar da carruagem, não chegaríamos a Lima com tempo
para conhecê-la, pois teríamos que partir para Nazca no dia 27/12, cedinho.
Disse-nos um dos motoristas, que rezássemos para que não chovesse, pois só
assim completaríamos a viagem em quatro dias. Não preciso dizer que meu
companheiro de viagem já estava procurando seu chapéu de Indiana Jones na mala,
se imaginando em meio a torrentes de água barrenta, lá para os lados da
Floresta Amazônica Peruana, quem sabe descobrindo alguma primitiva aldeia Inca.
O ônibus seguiu toda
a noite, com uma breve parada, no meio da madrugada, somente para abastecer,
num horrível posto de gasolina. Aproveitamos para usar o banheiro, que, ao
menos, estava em boas condições, bem melhor que o do ônibus, que já pedia uma
lavada. Compramos algumas cervejas para acompanhar as sementes que trazíamos, e
foi esse nosso jantar. Apesar da TV a bordo, não tivemos filme, pois o acesso
ao DVD estava bloqueado pelas malas que não couberam no bagageiro e foram
colocadas pelo corredor que levava a cabine do motorista.
Às 07:00 horas,
estávamos perto de Campo Grande, por uma estrada estreita mas em boas
condições, a pior parte tinha sido vencida durante a noite, um trecho cheio de buracos e em suposta
manutenção.
Aguardemos por uma
possível parada para café e banho.
Beijos,
Sayo e Claudio
PS – Não encontramos
internet por todo o trajeto até Lima, então o Caro Amigo receberá os relatos da
viagem de ônibus vários dias depois; de qualquer modo, enviaremos tudo em ordem
cronológica, observe a data em que foram escritos. Tivemos um problema em virtude
da atualização de programas em nosso computador, então, para ver o texto com
fotos, abra o arquivo em PDF, que vem
anexado ao e-mail.
Campo Grande , 20 de dezembro de 2013.
Caro Amigo,
Seguimos por uma
região com vegetação nativa de serrado, tudo muito verdinho em virtude das
chuvas, raramente uma árvore com flores amarelas, Ipê não é, também não parece
Pau Brasil, o nome não sabemos; pequenos espelhos de água, gente tomando banho
de rio; pequenas cidades sem nome;
estradinhas de barro vermelho, que conduzem a lugar algum; casinhas de madeira,
em cujos terreiros as galinhas ciscam; uma ou outra fazenda de gado; muitos
canaviais e plantações de soja; mourões e porteiras, mas nada de menino, nada
de ninguém. Damos um pequeno cochilo e, ao abrir os olhos, as cenas se repetem
e passam correndo, enquanto nossos olhos, sonolentos, vão se fechando
novamente, que vontade de tomar um café quentinho.
A parada para o café
foi bem pertinho de Campo Grande, pelo jeito a escolha dos restaurantes é na
sorte, não existe uma parada pré-determinada, toda bonita como imaginávamos, a
nos esperar. O motorista olha para o restaurante, todos naquele estilo faroeste
rudimentar, e se for menos pior, ele encosta para perguntar se estão abertos e
dispostos a atender mais de cinqüenta pessoas, já encontramos muitos fechados e
o escolhido não foi dos melhores, ao menos pudemos tomar um rápido banho, antes
do café, e esticar as pernas.
O céu azul se encheu
de volumosas nuvens brancas, que foram escurecendo e caiu uma chuva pesada e
rápida, que não amenizou o calor do inicio da tarde, mas alegrou os pássaros,
que se puseram a cantar. Pelo caminho, aumentam os pés de piqui e as mangueiras
carregadas, se manga fosse vermelha seriam centenas de árvores de Natal ao
longo da estrada.
O almoço foi para os
lados de Coxim, já passava das 14:30 horas, um
restaurante ao lado de um posto de gasolina. Por quinze reais por pessoa
iríamos comemos o que havia sobrado do almoço: costela com mandioca, polenta,
arroz, feijão, farofa, carne moída com legumes, carnes assadas na brasa (cupim,
costela, pernil, maminha), saladas, manjar (mais parecia papa de maisena) e
gelatina. No geral a cara da comida não
estava lá aquelas coisas, tudo já parecia meio seco, fim de restaurante de
quilo. Como os donos eram gaúchos e demos um voto de confiança, afinal não
queríamos morrer de fome ou passar à bolacha. Finalmente a comida estava até que
bem gostosa, tinha um arroz com carne, feito na panela de ferro, que havia
grudado no fundo, formando uma casquinha seca, que, na minha (Sayo) casa, de
nordestinos, é motivo de desavença, o tal “pegado”, que estava delicioso; a
costela ensopada com mandioca derretia; também não fizeram feio a costela na
brasa e a maninha. Mas a comida não foi suficiente para todos e, alguns,
ficaram no ovo mexido.
Quando finalmente o
DVD foi ligado, tivemos uma imensa decepção, pois nada de uma comediazinha
água-com-açúcar para alegrar o dia e ajudar o tempo a passar, exibiram sim uma
seleção de Rocky, eles tinham todos os seis, nós, afortunadamente, conseguimos
assistir somente dois, depois tratamos de desligar o aparato. Mas não demorou
muito para o Kuc assumir a gerência do DVD (ele se mete em tudo, mas,
infelizmente, não tem o mesmo ânimo para os serviços caseiros ah, ah, ah!) e
dar uma melhorada na qualidade das exibições. O resto da tarde, passamos
lagarteando e observando a chuva regar toda a vegetação.
Paramos para jantar
em Jiaciara, em Mato Grosso, que não teve nada de melhor que o restaurante do
almoço, mas possibilitou o banho dos que não tiveram tempo de tomá-lo pela
manhã, já que o ônibus está praticamente lotado e, em geral, os banheiros só
têm dois chuveiros. Dos cinqüenta e sete tripulantes de nossa aeronave, quase
todos os passageiros são peruanos, voltando para casa para passar o Natal em
família, sete brasileiros, turistas, e um holandês, aventureiro, que fala bem o
espanhol e viaja sozinho. Temos também três crianças que, até o momento, estão
se comportando até que bem.
Apesar a chuva
insistente, que enlameava tudo e tornava a tarde chata e triste, tivemos um
lindo pôr de sol, com coloridos de um arco-íris, talvez influência da própria
chuva e do ar sem poluição.
Iniciamos a viagem
na Castelo Branco, seguimos pela BR-374, BR-270, BR-267, BR 163, após Cuiabá a
BR-070, BR-174 e, finalmente a 364, em Rondônia, onde nos encontramos
agora. Conversando com passageiros
experientes no trajeto, descobrimos que os nossos dois motoristas são novos na
rota e, por isso, ... vamos parar para o café e para um merecido banho,
contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
P.S. – Como ainda
não nos interamos totalmente da nova ortografia, chatíssimas, e descobrimos
que, na fase de transição, por ainda alguns anos, está permite optar por
qualquer uma delas, continuamos naquela antiga, que, até agora, ainda labutamos
para aprender; parece que os governos não sabem que velho é lento e ficam
inventando moda, que até os próprios portugueses estão se recusando a cumprir.
Notaram que conseguimos viajar no banco destinado a idosos (ah, ah, ah!).
Vilhena (RO), 21 de
dezembro de 2013.
Caro Amigo,
O café, já mais de
10:00 horas, na parada de Vilhena, foi meio fraco, muita gente para ser
atendida e poucos empregados, mas conseguimos comer pão com ovo e tomar suco de
laranja, além de um delicioso bolo de milho e um copo de café. Já o banho valeu
muito os três reais que custou, pois o banheiro estava limpo e em boas
condições, um luxo perto do que víamos encontrando até então.
O dia amanheceu
horroroso, cinza e chuvoso, com uma tênue nevoa rondando a vegetação. Só servia
para ficar aninhado no banco do ônibus, bem embrulhadinho e imaginando o que
será de nós com tanta chuva e motoristas que não conhecem bem o trajeto e não
falam português. Eles não são jovens, são dois gordos senhores de meia idade,
simpáticos, Juan e Flores, mas notasse que estão inseguros quanto à rota e às
paradas.
De tempos em tempos,
um rapaz, que os acompanha na cabine e que também é peruano, desce para
perguntar algo, inclusive sobre a disponibilidade de comida para que possamos
parar. É o Carlos, um pequeno peruano, mas um grande batalhador, que fez curso
técnico em edificações, trabalha duro, em construção civil e agora, todo
orgulhoso, volta para casa, para passar o Natal com a família e para buscar seu
histórico escolar, pois vai cursar engenharia civil no Brasil.
De acordo com o que
lemos sobre a viagem, as paradas são poucas, no máximo duas por dia, para que
se possa cumprir o programa em 96 horas. Notamos que estávamos parando
bastante, confirmaram os peruanos que já fizeram a viagem outras vezes.
Continuando nesse passo, só chegaríamos a Lima mais de doze horas depois do
previsto, no 24/12, pela manhã, isso se não tivéssemos maiores problemas com a
chuva. A conversa começou a circular entre os passageiros, que foram se
manifestando contrariados com o atraso.
A Transoceânica,
que
liga o Atlântico, em São Paulo/Brasil, ao Pacífico, em Lima/Peru, é um sonho
antigo de brasileiros, que queriam uma saída no Pacífico para suas exportações,
assim como dos peruanos, que poderiam enviar seus produtos pelo Atlântico, encurtando
caminhos e evitando os altos custos da travessia do Canal do Panamá. Mas,
infelizmente, parece que não foi o resultado atingido, a estrada é pouco usada
por brasileiros, pois, em virtude das dificuldades de construção na região dos
Andes, ela resultou, no trecho do Peru,
muito cheia de curvas e estreita, inviabilizando a sua utilização por grandes
caminhões, com mais de seis eixos, o que, finalmente, torna o envio de
mercadorias ao Pacífico caro e difícil, além de muito demorado. Já para os
peruanos, a burocracia e altas taxas brasileiras, também inviabiliza a chegada
ao Atlântico pela Transoceânica.
Em Rondônia, a
estrada não está nada bem, muitos buracos, pista interrompida para conserto e muitos
caminhões; assim que a viagem não rendeu quase nada, conseguimos evitar a
parada para o almoço, com economia de uma hora. Já o estado (RO), nos pareceu
bem melhorzinho (segundo uma Cara Amiga, melhorzinho é um ruim melhoradinho,
ah, ah, ah!), afinal já se passaram mais de vinte anos que estivemos por aqui,
porém ainda há muito barro por amassar.
Aqui há uma
diferença de fuso de duas horas. Perto das seis paramos em um pequeno
restaurante para jantar, a comida ainda não estava servida, pelo menos
pegaríamos algo fresquinho. Em geral, os restaurantes cobram quinze reais por
pessoa para se comer: arroz, feijão, farofa, frango ensopado, costela de boi
assada na panela, alguma carne de segunda com batata ou mandioca, bife, e,
talvez, alguma salada bem pobrezinha. A comida não costuma ter sal em exagero,
mas tem bastante gordura, não é das mais indicadas para estômagos frágeis, o
que não é o nosso caso, assim que temos comido e não as achamos da piores,
embora bem longe de nossos restaurantes prediletos.
A janela, apesar da
chuva forte, seguia bem, mas havia que se pensar na pressão da subida dos Andes,
então foi colocada uma placa de madeirite, pelo lado interno, em cujo banco
foram colocadas várias malas, como mais uma forma de sustentação. Por obra e
graça do Divino Espírito Santo, a madeira foi encontrada atrás do restaurante
onde jantamos, que também foi encontrado por acaso (Será?).
Terminamos o dia com
uma cantata peruana. Agora já todos se tornam mais íntimos e vai rolando uma
cumplicidade, já se arriscam até umas brincadeiras.
O dia encerrou-se de
forma maravilhosa, com um lindo pôr de sol
E direito até a
arco-íris.
Estaria tudo
perfeito não fosse que, às três da manhã, fomos acordados de sobressalto ...
paramos para o café, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Assis Brasil (AC),
22 de dezembro de 2013.
Caro Amigo,
É... ! Por mais
incrível que possa nos parecer (não estamos seguros se para brasileiro existe
algo em que não se possa acreditar, ah, ah, ah!), a travessia do rio Madeira,
que dizem apinhado de piranhas, continua
sendo realizada por balsa de particular, a ladainha da construção de uma ponte,
parecida com a ladainha da ponte entre Santos e Guarujá, vem sendo rezada a
dezenas de anos, porém, em razão do interesse de poucos, nunca chega ao fim. E,
assim, às 03:00 horas, tivemos que sair do ônibus e nos alojarmos no
desconforto da balsa, cujos poucos bancos de madeira estavam molhados, enquanto
cruzávamos o rio. O percurso não leva mais que quinze minutos, mas até que
todos descessem, que os veículos entrassem na balsa, que o rio fosse vencido e
novamente nos alojássemos no ônibus, lá se foi mais de uma hora.
Finalmente, no Acre,
o Kuc, que foi apelidado de fotógrafo ou Papai Noel, assumiu lugar na cabine
como co-piloto (acho que ele nem gostou ah, ah, ah!). Por indicação de um
morador local, tomamos um atalho que nos reduziu o caminho em quase 60km,
estávamos recuperando um pouco do tempo perdido. O dia amanheceu radiante e
sinal de chuva só nas poças formadas nos buracos da estrada, que, no lado
brasileiro, não estava das melhores.
A parada para o café
e o banho nosso de cada dia foi um relâmpago, mal iniciamos o banho e os
homens, entre si, observaram que nos atrasaríamos muito se todos nós fôssemos
tomar banho, nos únicos dois chuveiros de água fria dos banheiros, e, depois,
ainda tomar café. Assim, quem tomou banho tomou, quem tomou café tomou; quem
não fez nada disso dançou. Por sorte, deixávamos nossas sacolas de banho sempre
prontas e bem à mão, assim que sempre éramos os primeiros a tomar banho;
enquanto um de nós ainda não havia saído do banheiro, o outro já ia pedindo
algo para o café; então, banhados, ainda tivemos tempo de comprar um bolinho de
mandioca recheado de carne moída para comer no caminho.
Por volta do meio
dia estávamos na fronteira do Brasil com o Perú, paramos na Polícia Federal
para os trâmites de imigração, um edifício sujo, caindo aos pedaços, em
precário estado de conservação, inacreditável que o governo mantenha um
edifício em tais condições para pessoas trabalharem e como uma das portas de
entrada do país. Ao menos os servidores eram educados e os tramites só não foram
mais rápidos porque alguns peruanos haviam excedido o tempo de estadia no país,
por esse motivo tivemos que aguardar o preenchimento dos boletos para o
pagamento da multa (R$8,28 por dia, até um máximo de R$827,35), que serão pagos
quando eles retornarem ao Brasil.
Aproveitamos para
jogar um pouco de conversa fora e descobrir como andava a vida por ali. Ficamos
sabendo que através daquela fronteira entravam os haitianos, que nossa
presidente resolveu apadrinhar, e que, depois de alguns dias hospedados por
nossa conta e com papéis feitos, iam para o sul, que está precisando de
mão-de-obra, trabalhavam alguns meses e passavam a receber seguro desemprego e a
aproveitar as praias brasileiras, não querendo mais trabalhar. Seguramente não
são todos, mas nos disseram que uma grande parcela sim, inclusive que
prefeituras do sul vinham buscar haitianos para trabalhar, mas se aperceberam
de tal prática e desistiram. Nos contaram, ainda, que os senegaleses tomaram conhecimento da facilidade de entrada pela
fronteira de Assis Brasil, onde basta pronunciar a palavra “refúgio” para ser
recebido de portas abertas, e também estão usando a rota.
O trâmite do lado
peruano foi da mesma forma rápido, trocamos só um pouco de dinheiro, pois a
fronteira nunca é um bom lugar, comemos duas empanadas frias, que foram o nosso
almoço, pois o motorista pretendia parar mais à frente, em Puerto Maldonado, imaginávamos que num lugar bem melhor do que a
fronteira, afinal não tivemos café-da-manhã
e nem almoço, e já se passavam das duas da tarde. Quatro dos peruanos,
já se sentindo em casa, resolveram sair para dar uma voltinha, cansamos de
esperar e nada dos bonitinhos, até que os motoristas, autoridades máximas no
ônibus, resolveram partir sem eles, que, alguns quilômetros depois e muitos
soles (dinheiro peruano), nos alcançaram em um táxi. Ninguém mais se atrasou
(ah, ah, ah!).
Sobre Puerto
Maldonado não há muito que falar, só lastimar, porque... vamos descer para
procurar um banheiro, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
P.S. – Ando sonhando
com um cafezinho quente e cheiroso.
Puerto Maldonado, 23
de dezembro de 2013.
Caro Amigo,
Se o inferno tem
filial, seguramente uma delas é Puerto Maldonado, não sabemos se a cidade tem
um lado melhor, alguma parte menos lamentável, pois nosso motorista, o Juan,
parou em uma avenida de terra batida, com barracas de tábua, sem água encanada
ou refrigeração, supostos restaurantes, que nem banheiros tinham para se lavar
as mãos; que vendiam uns estranhos sucos expostos em enormes tigelas plásticas,
sobre mesas cheias de moscas e poeira da estrada, um dos piores lugares que já
vimos (e olha que já vimos coisas por este mundo de meu Deus, ah, ah, ah!). Era
uma sucessão desses restaurantes nada simpáticos, para sermos simpáticos, e
deveríamos escolher um, caso quiséssemos comer. Eu preferi tomar uma cerveja,
pois tinha lido muito sobre os problemas de infecção intestinal em virtude da
pouca higiene no Peru, mas o Kuc resolveu encarar um frango assado e sobreviveu,
por mais incrível que possa parecer.
Seguimos viagem e,
no geral, a cara das pequenas vilas por onde passávamos não melhoravam muito.
Os Peruanos se orgulham de dizer que não são favelas, mas são casas muito
rudimentares, de adobe, tijolo ou madeira, praticamente sem acabamento, ou com
uma rala demão de tinta, só para constar; que exibem um montão de ferragem em
seu teto, para que, em um futuro bem longe, possam ser ampliadas.
Há muita pobreza,
mas, apesar de tudo isso, o Peru é um país que se orgulha de seu passado
milenar e das civilizações que viveram em suas terras, entre elas chavíns (500
A.C.); paracas, mochicas e nazcas, que ocuparam o litoral; tiahuanacos, às
margens do lago Titicaca, no século VI; os Incas, que fundaram Cusco, por volta
de 1200. País no qual as populações indígenas conseguiram manter sua
identidade, principalmente pela conservação de sua língua e suas tradições,
apesar da pouca pacífica “conquista” pelos espanhóis. Chamou-nos a atenção o
fato dos peruanos usarem o termo “conquista”, não “descobrimento”, como nós,
brasileiros, isso, por si só, já faz uma enorme diferença no modo como um povo
vê a si mesmo, eles, corretamente, consideram que sempre existiram como nação e
foram submetidos, pela força, a um povo conquistador; na verdade, o que também
nos aconteceu.
São línguas oficias
do país o espanhol, o quéchua e o aimara (nós só temos o português?). Sua
grande diversidade geográfica, com paisagens únicas, é um dos motivos de sua
grande procura pelos turistas, principalmente norte-americanos e europeus. Na
costa, junto ao Pacífico, se encontra sua região desértica; a Cordilheira dos
Andes marca a região de grandes altitudes; e a selva amazônica, que ocupa mais
da metade do território do país, dá o tom à terceira região peruana.
É o terceiro maior
país da América do Sul e faz fronteira com a Colômbia, o Brasil, a Bolívia, o
Equador, o Chile, sendo banhado, a oeste, pelo Oceano Pacífico. Ademais da
excelente culinária do país, elencada como uma das melhores do mundo, que tem
no Cebiche, ou Ceviche, e na Chicha Morada seus maiores destaques; o país
conserva lindos exemplares da arquitetura colonial, relíquias pré-colombianas e
muitos mistérios, esperando os turistas de braços abertos e com um
sorriso franco.
Entramos pela
Amazônia Peruana num calor infernal, cruzamos os Andes, à noite, com uma
temperatura baixíssima, cerca de oito graus e com esse frio chegamos a Cusco, o
destino mais conhecido e procurado em todo o país, em virtude da proximidade
com o Valle Sagrado e Machu Picchu. Apesar disso, os arredores da rodoviária
não era diferente do que tínhamos visto até então, pobreza e sujeira. Estávamos
só de passagem na cidade, para desembarque de passageiros, pois nosso destino
era Lima. Despedimo-nos dos que partiram, vimos novas caras ocuparem seus
lugares, distribuímos alguns brinquedos, observamos vestimentas, saias rodas,
chapeis peculiares e chales coloridos, que carregam desde menino até
mantimento. A rodoviária é precária, mal
tem banheiro, local para comer... impossível
.
Seguramente, no
percurso de ônibus, estamos conhecendo, ou melhor, revendo, um lado do Peru que
não é o vendido pela mídia, e não mudou muito desde nossa visita, há trinta
anos, mas que é o vivido pelo povo. Disso nós, brasileiros, entendemos bem,
principalmente porque quando viajamos, somos freqüentemente indagados sobre o
excelente desempenho da economia brasileira, que nos coloca entre um dos
destacados países emergentes, é difícil fazê-los acreditar que nossa educação é
péssima, além de cara; que o sistema de saúde é um desastre, mesmo pagando-se
um plano privado; que a corrupção atinge um dos maiores patamares do mundo; que
o povo se endivida comprando a crédito em infinitas parcelas; que os imóveis
têm preços absurdos; que comer fora, em grandes cidades, está mais caro que
comer na maioria das capitais européias; que o salário mínimo tem um valor
vergonhoso; que nossos impostos são bem maiores que dos países desenvolvidos,
sem que tenhamos uma contrapartida se quer razoável.
Deixando Cusco,
seguimos ladeando montanhas, subindo e descendo, passando por pequenos vales e
muitas plantações, onde, aparentemente, o povo, ainda que muito pobre, vive em
melhores condições que nas grandes cidades, onde se apinham nas periferias,
pois no campo tem seu pequeno pedaço de terra, donde tira seu sustento. A estrada é muito cheia de curvas e estreita,
impossível para grandes caminhões, dificilmente se consegue atingir cinqüenta
quilômetros por hora, por toda maior parte do trajeto peruano da Transoceânica.
Já quase dez da
manhã e ainda não tínhamos tomado café, os motoristas pararam em frente a uma
das tantas mulheres que vendiam comida preparada em uma fogueira no chão,
exposta ao tempo, à beira da estrada. Pedaços fumegantes de carne com osso
(deve ser o diabo picado, ah, ah, ah!), que eram enfiados em um saco plástico
(serviço delivery peruano, e do nordeste do Brasil também, sejamos sinceros,
ah, ah, ah!), assim como a salada, e entregues ao cliente. Na panela de milho
cozido, todos lavavam a mão, a fim de escolher uma espiga melhor. Preferimos não
arriscar.
Paramos para o
almoço em um lugar de condições também precárias, que já nos faziam acreditar
que as paradas do Brasil eram de luxo, embora nada boas. A comida servida era
uma sopa, de entrada, pois os peruanos adoram sopa, não podem ver uma placa
indicando caldo de galinha, que já ficam alvoroçados. Como prato principal, ofereciam
canja ou arroz com peixe frito. Experimentamos a canja, era a mais cara, então,
provavelmente, a menos ruim.
Os locais para banho,
no trecho peruano da Transoceânica são desprezíveis, melhor ficar com sua
própria sujeira que, ao menos, é sua conhecida ou improvisar com aqueles santos
lencinhos umedecidos, portanto, Caro Amigo, se algum dia pensar em se arriscar
nessa aventura, leve caixas, e mais caixas, deles. O banheiro do ônibus também
se tornou impraticável, pois o serviço de higiene já não é dos melhores e, a
essa altura, muita gente já não se sentia bem, quer pelos efeitos da comida,
pois eles são verdadeiras avestruzes, comem muito e de um tudo, que se possa
ser enfiado em um saquinho plástico sem reclamar; inclusive uma coisa
melequenta, de cor suspeita, comprada num carrinho de rua, ainda mais suspeito,
que dizem que é quinoa, uma delícia (na opinião deles, não fomos doidos de
provar, ah, ah, ah!), assim como bolo, pedaços de queijo, pão. Andamos até com saudade daquele churrasco
grego vendido pelas esquinas em São Paulo (ah, ah, ah!). Como não podemos nos
dar ao luxo de passar mal nessa viagem, temos comido, por segurança e amor à
vida, as coisas que trouxemos (ah, ah, ah!).
O trecho entre Cusco
e Nasca é muito frio e atinge grandes altitudes, chegando a quatro mil metros,
atravessa a Cordilheira. Infelizmente não pudemos desfrutar de toda beleza de
sua paisagem, pois boa parte dele foi feita à noite, com chuva e os vidros do
ônibus muito embasados, acreditamos que na volta tenhamos melhor sorte. Mas
tivemos a oportunidade de poder apreciar, as rústicas casinhas dos
agricultores, com adornos sobre seus telhados (vamos pesquisar o motivo); seus
muros de adobe e telha, que encerram pequenas criações, que ajudam no sustento
familiar; a árida vegetação do altiplano, seus lagos e os rebanhos de lhamas,
alpacas e carneiros, que por lá vagueiam.
O outro dos motivos
do mal estar de muitos dos passageiros é a altitude. Os sintomas mais
freqüentes são a dor de cabeça, a falta de ar, os enjôos e o cansaço, alguns
chegaram a vomitar. É conveniente trazer
alguma medicação para aliviar tais sintomas, pois se trata de um trecho relativamente
longo, no qual não vimos farmácia ou qualquer coisa do gênero.
A partir de Nazca,
fomos deixando outros passageiros mais para, finalmente, chegar a Lima, às 6:27
horas, cansados de tanto estar sentados e doidos por um glorioso banho, onde
nos despedimos dos sobreviventes. E
assim foram os mais de quatro dias de nossa viagem pela Transoceânica, que liga
São Paulo a Lima, Atlântico a Pacífico, uma aventura que só recomendamos aos
Caros Amigos mais aventureiros e destemidos, pois é preciso ter muito estômago
e bumbum. E o povo ainda diz que eu sou patricinha (ah, ah, ah!). Mas, também,
quem mandou casar com um sujeito metido a Indiana Jones, que adorava Perdidos
no Espaço e Nacional Kid (não lembro como escreve, afinal lá se vão alguns
anos), minha mãe bem que me avisou (ah, ah, ah!). Mas não fique triste não,
Caro Amigo, ainda temos o percurso de volta para casa (ah, ah, ah!).
A chegada a Lima não
é uma rodoviária, mas sim em uma garagem da Ormeño, no bairro San Isidro. Lógico
que o táxi, contratado para dez horas da noite do dia anterior, já não nos
esperava. Se nossa reserva de hotel, feita para o dia anterior, ainda
perdurava, não tínhamos a menor idéia. Celular não costumamos levar em viagem,
os que levaram não tiveram muito sucesso por quase todo percursso. Wi-fi pelo caminho? AH, AH, AH ! (notou o Caro Amigo que rimos em
letra maiúscula, ah, ah, ah!).
Beijos,
Sayo e Claudio
Lima/Miraflores, 24
de dezembro de 2014.
Caro Amigo,
Chegamos a San
Isidro, um bairro de Lima, ou terminal de ônibus da Ormeño, como tínhamos um atraso de mais de oito
horas, desde o último e-mail que enviamos para o hotel, o táxi, contratado, já
não nos esperava, mas não faltavam outros, interessados em arrebanhar
passageiros e, finalmente, nos resultou melhor, pois conseguimos negociar a corrida por um preço cinco soles (sol é a
moeda peruana) mais barato. Lembre-se que o Peru é um país de negociação,
sempre, sempre peça um desconto, o mais provável é que sempre se consiga algo
acima de vinte por cento.
Escolhemos o
distrito (espécie de bairro com prefeitura) de Miraflores para nos hospedarmos,
pois lemos que é um dos mais aprazíveis e cheios de comodidades para os
turistas, não nos decepcionamos nem meio centímetro, pois chegamos a um outro
Peru. O bairro é delicioso, cheio de restaurantes, lojas, hotéis, praças,
sistemas de segurança, praia; é todo lindinho, limpinho e florido.
Nosso hotel, Hostal
Buena Vista (www.hotalbuenavista.com),
com diária de sessenta dólares, em um casarão de estilo colonial espanhol, não
deixou nada a desejar. Um lindo jardim de entrada, com árvores frutíferas,
temperos e flores; pátio de café sob um parreiral, cheio de pequenos cachos de
uva; confortáveis saletas para descanso e leitura; decorado com mobília
elegante e confortável, lindos quadros e objetos de adorno.
Os empregados são
educados, talvez um pouco econômico em palavras, exceto o Leonardo, com quem
fizemos nossa reserva; ele é nota 1.000, super gentil e disposto a dar valiosas
dicas. O café-da-manhã não é o de um cinco estrelas, mas é bem servido.
Os quartos são
austeros, mas contém todo o necessário e, principalmente uma boa cama, mas
poderiam ter alguns quadros, penduradores e prateleiras no banheiro.
Cuidado com o último
andar, além de muitas escadas, parte delas têm degraus muito estreitos.
Após um
reconfortante banho e aquele café quentinho, que andava povoando meus sonhos,
caímos no mundo, ou melhor, em nas ruas de Lima. Véspera de Natal, no mundo
todo não dá para escolher o que visitar , tem que encarar o que sobrou aberto,
nos decidimos por ficar no próprio bairro e, assim, saímos pelas rua de
Miraflores (nome de uma batalha) admirando sua belezas.
Trocamos dinheiro
com a maior facilidade, em uma filial das filiais da Money Gran (Av. Larco,
1154), que permanecem abertas todos os dias. É possível trocar o dinheiro até nas
ruas, com pessoas autorizadas, que vestem um colete da Prefeitura, indicando
sua profissão de cambistas.
Entrando em uma ou
outra loja, chegamos aos Parques 7 de Junio e Kennedy, na verdade duas praças
ligadas, que eles nomeiam de parques, uns primores de bem cuidados e floridos, cheios
de gatos gordos e dorminhocos, muito bem cuidados também. Em seu centro há uma edificação circular, onde
são realizadas feirinhas de artesanato.
Numa das laterais do
parque fica a Igreja da Virgem Milagrosa, muito sóbria, completamente acinzentada,
cor de concreto, com pesadas colunas, cujos capitéis sustentam caras de
gorduchos anjos e arcos. No altar, sobre o sacrário, uma imagem de Nossa
Senhora das Graças, também parca em colorido, mas com a coroa de estrelas e os
raios das mãos iluminados. A sobriedade do interior da igreja é interrompida
pelo esfuziante colorido dos vitrais, que contam a trechos da vida de Jesus; há que
se visitá-la durante o dia, para se observar a profundidade e singularidade das
cores do vitrais, principalmente do azul cobalto, apesar de Lima ser conhecida
por seu céu cinza, sem sol.
Caminhamos até o
Mercado Artesanal Índio, na Av. Petit Thouars, 52/55, onde encontramos
quarteirões cheios de centros comerciais dedicados à venda de artesanato. É
possível comprar de um tudo de pratas, pedras, pinturas, couro, madeira, lã de
lhama, camisetas, bolsas, bordados, chapeis; é serviço para mais de um mês, que
tivemos que resumir a pequenas compras, já que toda nossa viagem será lombando
em ônibus, bateu o arrependimento de não ter vindo de ônibus, de carro
poderíamos levar o Peru (ah, ah, ah!).
Como a vontade de
comer, mais que a fome, foi chegando, resolvemos que era hora de descobrir o
que é que o Ceviche (ou Cebiche) tem. Voltamos ao Parque Kennedy, e nos
sentamos no simpático “Café de La Paz” (Calle Lima, 351).
Provamos o Ceviche
Misto, com polvo, lula, camarão, vieira e pescado tudo em abundante suco de
limão, com muita cebola roxa fininha, em uma grande concha, algo de grandotes
grãos de milho e grossas rodelas de abóbora.
Temos que admitir que a coisa é mesmo deliciosa, de babar, ainda mais
quando acompanhado de uma Cusqueña ou uma taça de vinho.
E para não dizer que
só se come ceviche no Peru, provamos uma Ronda Marinha, uma porção de salada e
mandioca frita, rodeadas por conchas com vieiras gratinadas e camarão refogado,
também um deslumbre.
Um passeio até o
Shopping Larcomar, no Parque Alfredo Salazar, no fim da Avenida José Larco, em
uma falésia, à beira mar. Um shopping a céu aberto, com elegantes lojas e bons
restaurantes, com vista para o oceano Pacífico, que estava meio acinzentado,
reflexo do nublado dia.
Nos restava resolver
o que faríamos na ceia de Natal, pois indagamos em vários restaurantes e todos
fechariam no fim da tarde. Essa é uma data complicada quando se está viajando,
quase tudo fecha, pois todos querem passá-la em família, e o pobre turista é
obrigado a ficar só, sem ter o que fazer. Finalmente decidimos que seria
melhor... estamos mortos de cansados, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Lima/praias 25 de
dezembro de 2013.
Caro Amigo,
Decidimos, então,
que fazer uma ceia no próprio hotel seria a melhor opção, passamos no mercado e
compramos vinho, queijos, frios, tomate e abacate (para uma pequena salada) e
um tamal com carne de porco, aquela espécie de pamonha salgada com recheio, que
já lhe explicamos quando estivemos em Bogotá e em Salta, parece que é um prato
comido por toda América do Sul, com mudanças no nome e pequenas alterações no
preparo.
Fomos à Missa do
Galo na Igreja de Nossa Senhora Milagrosa, levamos nosso pequeno presépio
peruano, que ficou exposto junto a todos os demais, nos pés do altar, durante
toda a cerimônia para, ao final, receber as bênçãos.
Voltando ao hotel,
preparamos nossa pequena ceia, abrimos um bom vinho peruano (é eles também
produzem) e nos sentamos em uma das confortáveis saletas, à espera do
nascimento do Menino Jesus e dos milhares de fogos de artifícios em
comemoração, um lindo e brilhante costume peruano.
Dia de Natal,
quase tudo fechado, optamos pela praia.
Fomos descendo pela Avenida Malta e chegamos ao Pacífico, por um passeio
gramado, cheio de palmeiras, edifícios elegantes e muito sol, um calorão. Até o
mar estava mais bonito, verde esmeralda degradê, nem parecia o acinzentado do
dia anterior. É praia de predregulho, água muito gelada, mas, ainda assim,
lotada de surfistas e postulantes ao cargo.
O grande problema de
ir a praia é que há o longo caminho de volta, morro acima, como não tínhamos
nada para fazer mesmo, subimos e fomos percorrendo os parques (praças), que vão
se sucedendo, ao longo da orla, no topo das falésias, aqui denominadas de
malecon. Assim passamos pelo Parque Intihuatana; o do Amor, com poesias escritas em mosaico; o
Antonio Raimondi, um investigador e geográfico, onde se pode saltar de
pára-pente; o El Faro de La Marina, com um farol, lógico; o Ilzhak Rabin, com
pista de bicicross e skate; o Maria Reiche, arqueóloga e matemática alemã,
estudiosa da Linha de Nazca; Parque Miguel Grau. Encerramos o passeio aqui, quilômetros
de andada e uma fome sem tamanho.
Há que se ressaltar
que todos os parques são impecáveis, com cachorródromo, equipamentos de
ginástica, brinquedos infantis, muitas flores, bancos, banheiros, pessoal de
segurança e limpeza. Miraflores é, com toda certeza, o bairro para se ficar em
Lima.
Já que não tivemos
ceia de Natal, teríamos um almoço especial, no El Señorio de Sulco
(www.senoriodesulco.com), um excelente restaurante de comida peruana, com vista panorâmica para um dos parque e o
mar. Como já havíamos lido muito sobre o Arroz de Pato, uma das iguarias
locais, decidimos que era chegada a hora de apreciá-lo. Brindou-nos um arroz
feito com cenoura e ervilha, com toques de um molho escuro, com especiarias e
ervas, entre elas um toque de gengibre, cominho e coentro, largamente
utilizadas no país; molho no qual o pato
certamente foi cozido vagarosamente; acompanhou o arroz, como não poderia
deixar de ser, um pedaço da própria ave
e uma porção generosa de seu molho. Delicioso!
O Kuc, já rendido
aos encantos do ceviche, experimentou o de pato. Com suculentos pedaço envoltos em azeite,
muita cebola, um purê ralo, um molho bem
temperado e mandioca. À parte, cebola roxa, em lascas finas, em caldo de limão. Ele amou de paixão, assim
como a Chicha Morada, um refresco, que parece um suco de uva, mas é feito de
milho negro.
A pimenta (ají) é
muito apreciada pelo peruanos, não tem qualquer similaridade com aquele
vidrinho de Tabasco, que vem tomando conta das mesas brasileiras; foi-nos
servido um singular trio, pimenta pura, com coentro e com, uma saborosa surpresa,
amendoim, uma combinação que jamais pensamos em fazer, que se harmoniza
perfeitamente como natal e panetone, vinho e queijo, cerveja e pipoca, infância
e sorvete. Nos disse Willian, nosso
garçom, que o restaurante tem um prato de inverso, que vem acompanhado de
dezoito tipos de molho de pimenta diferentes, por isso a culinária peruana vem
se destacando no mundo. Ainda estamos engatinhando na suprema arte de combinar
sabores! A sobremesa, que não serve para aqueles estranhos paladares que apreciam doce com pouco açúcar, foi uma
mistura de pedaços de nozes, passas e coco, em calda caramelizada de açúcar e
canela, com uma bola de sorvete de coco. Por sorte, tínhamos quilômetros a
caminhar de volta ao hotel, que nos ajudariam a nos redimirmos do pecado da
gula (ah, ah, ah!).
Resolvemos terminar
o dia com uma excursão noturna, da Mirabus, naqueles ônibus de dois andares.
Com a parte superior aberta, que incluía
visita ao Parque La Reserva, com suas fontes, o centro histórico e um lanche no
Hotel Sheraton, pelo preço de sessenta e
cinco soles por pessoa, que equivaleria a, praticamente, igual valor em real,
um passeio de três horas e meia. Bem sabe o Caro Amigo que não gostamos de
excursões organizadas, mas como já havíamos perdido, com o atraso do ônibus, um
dia e meio de nossa estada em Lima, pensamos que seria uma boa opção. Ledo
engano! Nem de graça aceite tal passeio, quem o presentear com ele é um de seus
piores inimigos.
Na visitação do
centro histórico, não descemos do ônibus, as ruas são ruidosas e não se
escutavam bem as explicações, só não foi de todo perdida porque a beleza das
praças de Armas e San Martim iluminadas dispensavam qualquer comentário.
O lanche, no hotel,
foram ridículos dois micro sanduíches, um quase invisível pedaço de bolo e um
ter que optar por um pequeno copo de suco, café ou chá, tudo no mesmo sistema
de campo de concentração, com o tal guia determinando onde cada um deveria
sentar.
Não que roteiro não
mereça a visita, muito pelo contrário, acontece que a tal excursão no permite
que isso realmente seja visto. O guia era um rapaz insuportavelmente, mal
humorado e grosseiro, que queria nos manter em um regime de campo de
concentração, em duas filas como um bando de idiotas, durante a visitação ao
parque. Nos confortamos com a idéia de que ele seja o nosso “bruxo malvado”;
como bem sabe o Caro Amigo, nossa teoria
é que toda viagem tem um, assim que estamos livres dessa figura a nos rondar
por todo o resto dessa empreita.
O Parque de la
Reserva (www.parquedelasreserva.com.pe) é sensacional e deve ser visto à noite,
para apreciar o melhor do Circuito Mágico das Águas, quando suas doze fontes
estão iluminadas, com espetáculos de luz e som. A entrada custa só quatro
soles, e um táxi, a partir de Miraflores, não deve custar mais de vinte soles,
sendo possível ir de ônibus, quanto ainda está claro, voltando de táxi, pois, à
noite, as redondezas não parecem muito simpáticas. Ele entrará para o Guiness
Book como o maior parque de fontes interativas do mundo. São necessárias, pelo
menos, duas horas, para ver tudo, nós estivemos no parque somente quarenta
minutos e vimos as fontes: Mágica, de Las Tradiciones, Laberinto del Ensueño, Tunel
de las Sorpresas, de la Ilusión.
A de la Fantasia,
essa imperdível, com projeções em nuvem
de água, que ocorrem três vezes na noite (07:15, 08:15 e 09:30), similar a que
já descrevemos ao Caro Amigo, quando de nossa visita Misiones, na Argentina.
Porém, a peruana, é muito mais sofisticada e rica em detalhes, com flores se
abrindo, bailarinas dançando e, para terminar de emocionar, El Cóndor Pasa é
tocado, a obra, declarada patrimônio cultural peruano, que completa seu
centenário, provavelmente povoou a juventude de todos os nossos contemporâneos,
assim como a nossa, como um símbolo de luta, ou melhor, talvez de
inconformismo, com sistemas ditatoriais e opressores, vividos na América do
Sul, era um fio de ligação entre jovens
latino-americanos sonhadores e sem dinheiro no banco.
De qualquer modo,
fomos dormir muito satisfeitos com nosso dia de Natal, embora sem presente de
Papai Noel, ou melhor, com um presentão: saudáveis e alegres. Em virtude do
atraso de um dia e meio do ônibus, tivemos fazer uma difícil escolha... estamos podres,
contamos amanhã.
Beijos,
Sayo e Claudio
Centro de Lima, 26
de dezembro de 2013.
Caro Amigo,
Foi este o único dia
útil que nos restou para conhecer tudo o que ainda restava da enorme Lima,
então teríamos que escolher, com todo o cuidado, o que seria o mais viável.
Embora amemos museus, decidimos que vê-los mau e porcamente, perdendo tempo
vital para nos deslocarmos até eles, seria uma opção fatal e nos deixaria
frustrados.
Então, levantamos
cedo, tomamos café e rumamos, decididos a conhecer o centro histórico da
cidade, declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO. Tomamos Metropolitano, pertinho do hotel, sistema
expresso de ônibus, que transita por um corredor exclusivo, uma artéria
principal, que corta a cidade, como se fosse uma linha de metrô a céu aberto.
Mesmo sistema usado em Bogotá e Curitiba, onde funciona muito bem, como em Lima,
mas totalmente diferente da maluquice que estão fazendo em São Paulo, onde
estão transformando todas as ruas da cidade em corredores de ônibus.
Desembarcamos na
estação Jiron de La Unión, perto da Plaza de Armas, local de fundação da cidade
, em 1535, pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro, e da proclamação da
república do Peru, em 1821, por José de San Martin. Coração pulsante da cidade,
onde se encontram o Palácio Presidencial, a Catedral, o Palácio Municipal, o
Clube da União e o Palácio Arquiepiscopal. No centro da praça, alguns senhores, usando
colete indicativo, dão informações turísticas e mapas da cidade, gentileza do
governo.
A praça é ocupado
por primorosos jardins, cuidados com todo o esmero, e pela população, que
desfruta sua beleza. A limpeza, o policiamento e a boa conservação dela, e dos
seus edifícios coloniais que a circundam, é algo admirável. Aliás, nesses
quesitos, a cidade chamou nossa atenção, principalmente se fizermos uma
comparação com as demais capitais sul-americanas que conhecemos, muito mais
ricas, e se considerarmos os diversos incêndios e terremoto (1748) que
submeteram a cidade, em virtude de condições climáticas e geográficas. Lima é,
sem sobra de dúvida, a capital sul-americana que consideramos, atualmente, a
mais indicada e preparada para o turismo, o que nos obriga a lembrar que a
pobreza não é sinônimo de todas as misérias e desgraças do mundo, e a observar
que os peruanos estão investindo no turismo, um bem inesgotável, para vencê-la.
Na Catedral é, hoje,
mais um museu, onde só se realizam missas em datas comemorativas. Ela foi
reconstruída em 1756, logo em sua entrada, em uma capela de finos mosaicos,
estão os restos mortais de Pizarro, que fundou a cidade com o nome inicial de
Ciudad de los Reyes.
Chamaram nossa
atenção as pinturas e esculturas de escolas peruanas; o delicado trabalho de
entalhe do Coro; o presépio em estilo espanhol, com a Virgem envolta em rendas
e pratas, um luxo que, embora seja irreal não é menos lindo. Linda também a Capela de Nossa Senhora da
Evangelização, em estilo rococó, azul com folheação a ouro.
Passamos para o
Palácio Municipal, construído em 1939, com fachada estilo neo-clássico, decoração
francesa e entrada de mármore. Em pouco mais de quinze minutos, é possível fazer
uma visita guiada gratuita por ele, conhecendo, inclusive, sua biblioteca de
cedro e o salão onde foi assinada a Ata da Independência.
Às 11:45, há que se
estar em frente ao Palácio do Governo,
residência oficial do Presidente da República, cuja reconstrução atual
data de 1921, após ser destruído por um incêndio; para assistir à troca de
guarda, que ocorre diariamente, com toda pompa e circunstância, com direito a
marcha e banda (ou será fanfarra? Não sabemos da diferença, esperamos resposta
de algum Caro Amigo), traje de gala (lindo! Branco e vermelho, pensar que, até
agora, só pensaríamos no Canadá ao ver a
utilização dessas duas cores como símbolo, jamais em nossos simpáticos
vizinhos. Temos muito a aprender, ah, ah, ah!). Aos sábados, é possível fazer
uma visita guiada ao palácio, que deve ser agendada com antecedência ali mesmo.
Aos domingos, a troca de guarda é feita com cavalos.
Deixamos a Plaza de
Armas pela rua Jiron de La Unión, para observar a arquitetura de seus pequenos
palacetes, transformados em lojas. Nela conhecemos a Igreja de La Merced,
construção de 1536, em estilo barroco, e El Dotorcito, uma imagem do Menino
Jesus, que cura todos os males.
Passamos pela Igreja
de Santo Domingo, onde se encontram os crânios de Santa Rosa de Lima e San
Martin de Porres, santos peruanos.
Paramos na Casa da
Gastronomia Peruana, um museu, para conhecer um pouquinho mais dos hábitos
alimentares do país.
Chegamos à Praça San
Martin, tão preciosa como a anterior, em cujo centro encontramos a estátua do
libertador em seu cavalo. Ela é ladeada por charmosos e brancos edifícios
coloniais, sob as arcadas dos quais encontramos lojas e restaurantes, além de
um pouquinho de sombra, para cansados andarilhos.
Nos dirigimos ao
Congresso, que pode ser visitado às segundas, terças e sextas-feiras. Ao seu
lado, visitamos o Museo de La Inquisición, edifício no qual, até 1820, funcionou
o tribunal de inquisição peruana. Aprendemos que foi o Papa Lucio III o criador
dos tribunais de inquisição, quando reinavam, em Espanha, de Fernando e Isabel.
No Peru, foram instaurados 1474 processos, com 32 mortes.
Caminhando pelo
centro histórico de Lima é muito fácil observar a beleza arquitetônica de
muitos edifícios, janelas e portas finamente trabalhadas, além de elegantes
exemplares de varandas fechadas, estilo mudejar (já comentamos na viagem do
Caminho de Santiago), uma solução para que as mulheres mulçumanas pudessem
observar a rua, sem serem vistas por olhos curiosos.
Ainda tivemos forças
para caminhar até o Mercado Central, mas não recomendamos que o Caro Amigo o
faça, pois é horrível. Pretendíamos conhecer o Polvos Azules, um centro
comercial que nos recomendaram, algo como a Twenty Five Street, mas eu (Sayo)
já não podia dar um passo.
O jeito foi voltar
para casa (hotel), nos preparamos para um merecido jantar, após deixarmos as
malas prontinhas, pois, na manhã seguinte, partiríamos em busca de um dos mais
enigmáticos mistérios do Peru. Já que quase não pode ser observado de terra
firme, todos se perguntam o que teria levado uma civilização a realizar,
pacienciosamente, tão detalhados ... hora do café, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Nazca,
27 de dezembro de 2013.
Caro Amigo,
Nos
perguntávamos, o que teria levado uma civilização a realizar, pacienciosamente,
tão detalhados desenhos, provavelmente iniciados em época anterior a Cristo,
que, praticamente só poderiam ser vistos, em sua riqueza de detalhes, através
de sobrevôo? Era o que queríamos descobrir.
Como teríamos
somente um dia e meio na cidade e estávamos em período de Festas, decidimos comprar
as passagens de ônibus, Lima/Nazca e Nazca/Cusco, pela internet, uma prática
que não nos é muito usual. A empresa é a Cruz Del Sur (www.cruzdelsur.com.pe),
que oferece melhor serviço que a Ormeño, que nos trouxe do Brasil, ônibus
confortáveis, com serviço de bordo, saindo de seu próprio terminal.
Agora
voltando a Nazca durante o dia, pudemos observar melhor a estrada que beira o
Pacífico, Nos arredores da capital, o visual não é nada bonito, um misto de
favelas e deserto, céu acinzentado, escuro areião, o mar sem qualquer atrativo,
supostos esdrúxulos condomínios, lixões e granjas de criação de galinha, um dos
pratos prediletos da população, “Pollerías” (restaurantes de frango) são
encontradas a cada esquina. Nos lembrou Ilha Comprida piorada, uma ocupação
desordenada de algo que nunca prestou. Uma estranha neblina, ou poluição,
tomava conta do ar.
Gradativamente,
a paisagem mudou, embora a aridez e as imensas dunas de areia escura
permanecessem, surgiram alguns elegantes condomínios, com casas estilo
mediterrâneo e palmeiras, até o céu parece que começou a ser pintado de azul e
a vida parecia começar a voltar. Mesmo assim, de quando em quando, algo
estranho, feio e completamente fora do lugar, surgia e interrompia a paisagem.
E assim foram
se alternando as belas paisagens e as cenas estranhas deste estranho e cheio de
diversidades país, chamado Peru; até que, finalmente, vai sobrando o mar azul
contido pelas dunas e longas faixas de areia, deixando o estranho de importar.
Atravessamos
parte da famosa estrada Panamericana, tendo a cordilheira ao fundo, uma
paisagem compensadora.
Optamos pelo
Hotel Alegría (www.hotelalegria.net), em frente ao terminal rodoviário da Cruz
Del Sur, fizemos a reserva ainda no Brasil, pois tivemos boas referências dele
e a sua agência de viagens nos providenciou a reserva para o sobrevôo das
Linhas de Nazca e Palpa, que tem valor tabelado. O hotel não é nenhuma coisa de
outro mundo, o café é fraco, mas tem uma piscina e um jardim legais. A diária é
meio salgada, 80 dólares, mas acabaram nos dando um desconto, pois só ficamos
um dia e meio.
As linhas de Nazca e Palpa são dois conjuntos de enormes figuras
estilizadas, geométricas, humanas, de animais e plantas, que, por vezes,
atingem mais de 300 metros e foram escavadas nas planícies rochosas do deserto
peruano. Descobriu-se que elas foram feitas pela civilização Nazca, que viveu
na região, aproximadamente, entre 300 a.C. e 800 d.C, pois foram encontradas
cerâmicas produzidas por eles, que repetiam os desenhos das Linhas. Mas ainda
restam grandes mistérios em torno delas, sobre como teriam sido feitas e com
que finalidade.
Na ânsia de descobrir um pouco mais sobre o mistério que envolve o
tema, anualmente, mais de 200 mil turistas chegam à cidade de Nazca. Em 1994, a
UNESCO declarou as figuras Patrimônio da Humanidade. Estudos comprovam que sua
conservação deu-se em virtude do clima desértico, com chuvas de uma hora ao ano
e umidade noturna, que consolida as rochas ao terreno natural, além do vento
constante, que não deixa que a areia se acumule em seus sulcos.
A maior estudiosa das Linhas foi Maria Reiche, que afirmava
tratar-se de um calendário astronômico e agrícola. Há quem afirme ser um
sistema de sinalização para extraterrestres. Outros dizem que serviriam para
rituais e cerimônias. E pesquisas mais recentes afirmam serem um sistema de
sinalização para localização de pontos de água.
Na noite que chegamos, fomos até o planetário, no Hotel Lineas de
Nazca, assistir a projeções sobre o assunto. Foram vinte reais, por pessoa,
jogados fora; poderíamos ter lido tudo na internet, poupando-nos da total falta
de graça do rapaz que faz a projeção. A cidade não tem atrativos e é cara,
conseqüência do grade afluxo de turistas.
Quanto ao sobrevôo, que custa duzentos dólares por pessoa, por uma
hora de vôo sobre as duas Linhas, o Caro Amigo deve refletir profundamente
antes de se decidir e lembre-se de fazer o vôo muito cedo, antes das nove da
manhã, tome um café muito leve e compre caixa de lenço de papel, leve um
pouquinho de álcool para cheirar ou limão (ajuda no enjôo, ah, ah, ah!).
Trata-se de um avião minúsculo, para seis pessoas, incluindo piloto e
co-piloto.
Voar somente é moleza, mas acontece que há passageiros no lado
esquerdo e direito do avião, então, para que todos vejam os desenhos, o avião
faz piruetas e curvas radicais, quem tem um leve medo de voar ou enjoa, mesmo
sem facilidade, deve pensar muito bem se vai gastar esse dinheiro. Eu e o japonês, que foi com a gente, agüentamos a coisa, mas o
Kuc se acabou, vou poupar o Caro Amigo da descrição do ocorrido, mas pense no
pior.
Resumindo, segue o mapa da Linha de Nazca:
E da Linha de Palpa:
Sobrevoamos todas as figuras, veja algumas fotos:
Aranha
Colibri
Macaco
Astronauta
Para quem não tem estômago para a coisa ou não quer gastar muito,
é possível observar a figura do Lagarto de um mirante, com trinta e cinco
metros de altura, colocado, por Maira Reiche, no Km 419, da rodovia
Panamericana.
Também é possível sobrevoar somente a Linha de Nazca, por meia
hora, a um custo de oitenta dólares. Nas
imediações da cidade há o Cemitério Chauchilla e o Aqueduto de Cantalloc, que
podem ser visitado com excursões.
No
meio da tarde, o Kuc já recuperado, aproveitou a piscina do hotel e saiu pela
cidade dando uma de Papai Noel, pois ainda nos restavam brinquedos a distribuir.
Os peruanos são muito receptivos e gentis, fazem questão de demonstrar sua
gratidão, por convite dos moradores, ele chegou a visitar uma das humildes casas,
de adobe (barro), com chão batido. Eles não cansam de dizer que adoram os
brasileiros e desejam que vençamos a Copa.
Jantamos,
num simpático restaurantes, o Mamashana (mamachana@hotmail.com), meu prato era
uma mistura de arroz e quinua, com recheio de camarões.
Já
o Kuc experimentou um conjunto de iguarias peruanas, com ceviche de corvina;
carne salteada com tomate e cebola; batata em molho a base de creme de leite
uma espécie de pimentão amarelo; ají de galinha, um creme a base de milho com
galinha desfiada) e arroz.
Às
21:00, deixamos o hotel e cruzamos a rua, para a terminal da Cruz Del Sur,
tomar um ônibus com destino a Cusco.
Ao embarcarmos, não pode o Caro Amigo imaginar
qual não foi nossa surpresa, pois muita gente já nos havia comentado sobre a
.... estamos atrasados para pegar o trem, contamos depois
Beijos,
Sayo e Claudio
Cuzco, 29 de dezembro de 2013.
Muita gente já nos havia comentado que a Cruz Del Sur tinha ótimos
serviços, um verdadeiro luxo, ficamos boquiabertos ao encontrarmos enormes
poltronas, parecidas com as de primeira classe dos aviões, com televisões
individuais, com opção de livros, jogos, filmes, internet, música e radio.
Assim que sentamos, a
rodomoça nos trouxe cobertores e travesseiros, o jantar (é jantamos de novo,
ah, ah, ah!) e refrigerante (não gostamos muito desse último, ah, ah, ah!).
O trecho
Nazca/Cusco foi percorrido, quase todo, à noite, mas, pela manhã, pudemos
observar que as áridas e nuas montanhas, poeirentas e secas, foram substituídas
por verdes montanhas ao pés das quais, de quando em quando, corria apressado
algum rio, e vez por outra, aparecia alguma casa de agricultor, estávamos na
verde região dos Andes.
A viagem foi ótima, mas chegada a Cusco não foi muito animadora,
chovia muito e fazia um frio terrível. Em verdade já tínhamos muito presentes
essas possibilidades, já que a cidade é sempre fria e estávamos em período
chuvoso, mas a gente sempre espera encontrar o diabo menos feio do que pintam,
não foi o caso (ah, ah, ah!).
Nos hospedamos no Hotal Mallqui, na Calle Nueva Alta, 444 (www.cuzco.net/mallqui
ou www.hostal-mallqui.com), um antigo casarão colonial com pátio interno, não
muito longe da Plaza de Armas, ponto central da cidade; Conseguimos um preço
legal, quarenta dólares a diária, fazendo a reserva pelo Booking. Ele não tem
grandes luxos, mas é simpático, assim como os empregados, muito prestativos.
O café da manhã
satisfatório, sempre há chá de coca disponível, para ajudar com a altitude e tem
um bom supermercado perto. Porém a internet não é legal, não tem água quente na
pia do banheiro e as poucas quadras são em subida, que, embora não tenha grande
inclinação, podem significar algum incômodo em virtude da altitude.
Cusco está localizada na Cordilheira do Andes, a mais de três mil e
trezentos metros de altitude, onde transtornos provenientes dessa altitude,
como dor de cabeça, dificuldade para respirar, enjôo e cansaço são comuns, é o
que eles chamam “soroche”. Algumas xícaras de chá de coca, ou mesmo a bala
dela, podem ajudar; mas o melhor mesmo é dar ao corpo um período de adaptação,
descansando um pouco. Mas, como bem sabe o Caro Amigo, na CRKTour não tem
horário de descanso, então tomamos um banho e saímos para chuva, pois a cidade
estava bombando, apesar do domingo, tudo estava aberto e gente para todo lado.
Desistimos de ir à cidade Pisac, para a famosa feira dominical, pois nos
informaram que já era tarde e não valeria o esforço.
A cidade, a mais antiga do continente americano, cujo nome
significa o umbigo da terra, é a capital histórica do Peru, declarada, pela
UNESCO, Patrimônio da Humanidade, é conhecida como a mais linda do país, isso não
vamos negar, pois ela tem uma beleza ímpar. Discute-se a sua precisa data de fundação,
a maioria acredita que foi no século XII, pelo inca Manco Capac. Sendo que a
arquitetura sofreu forte influência dos conquistadores espanhóis, que assentaram
suas construções sobre os perfeitos muros de pedras, encaixadas como um
quebra-cabeça, do que foi a capital do Império dos Incas.
Fomos direto para a Plaza de Armas, adornada por floridos jardins,
com uma estátua do Inca Pachacutec ao centro, e rodeada por emblemáticos
exemplares do barroco; tendo, em segundo plano, as encostas da cidade, forrada
de casinhas, algo que tem que ser visto ao cair noite, quando tudo vai se
iluminado, como se fosse um lindo presépio.
Ao seu redor da praça, edifícios com arcadas e varandas fechadas,
entalhadas em cedro, são ocupados por restaurantes e lojas, onde as pessoas
entravam e saiam, no maior burburinho, comprando ou somente aproveitando para
admirar cardápios e os coloridos artesanatos, que enchiam as vitrines dando um
tom ainda mais alegre a todo o cenário da praça. Não fosse a chuva e o frio,
tudo estaria perfeito.
Ainda na praça, a Catedral e a Igreja Companhia de Jesus.
Visitamos a segunda, a um preço aproximado de dez reais por pessoa, para
apreciar, entre suas belas imagens, rico trabalho de entalhes e folheação a
ouro, um famoso quadro do casamento do sobrinho de Santo Inácio de Loyola com
uma princesa Inca, uma tentativa de unir os dois impérios.
Seguimos caminhando pelas ruas, que, além do ruído das pessoas, têm
um constante buzinar, típico do Peru, pois os motoristas amam utilizar o
instrumento de um modo assustado, parece que soa a música aos seus ouvidos. E
assim, meio sem destino certo, fomos parar na Plazoneta San Blas, aos pés de
sua fonte, reduto de artesãos famosos da cidade, já sem chuva.
Acabamos a noite jantando no Restaurante Café de La Paz (Calle
Triunfo 370), uma filial do que já havíamos conhecido em Lima.
Nada melhor que começar com uma Sopa Criolla (carne picadinha,
macarrão cabelo de anjo e caldo bem temperadinho) para espantar o frio.
Não é comum, no país, que
os restaurantes servirem couvert ou mesmo pão. Aliás, o pão é muito sem graça,
dos piores que já comemos.
Meu prato principal foi Rocoto Relleno a La Arequipa
E o Kuc comeu Lomo de Alpaca a La Pimiento.
Assim, fomos para nossa cama quentinha, pois, no dia seguinte, nos
esperava um longo dia, teríamos que nos levantar às cinco da manhã para visitar
o destino mais procurado do Peru que, como o Caro Amigo bem sabe, é ... estamos
quebrados, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Águas Calientes, 30 de dezembro de 2013.
Caro Amigo,
É iremos à maravilhosa cidade perdida dos Incas, Machu Picchu.
Quando decidimos revê-la e iniciamos nossas pesquisas, descobrimos milhões de
conselhos, dicas e modos inusitados de chegar até lá, pois é um passeio caro.
Iniciamos fazendo os cálculos para irmos por conta própria, então
necessitaríamos de um táxi de ida e volta a Poroy, pois o trem não sai mais de
Cusco, a cerca de 20Km (20 dólares). Precisaríamos compra, pela internet, os
bilhetes do trem, ida e volta (www.perurail.com), são
três as categorias oferecidas, Hiram Bengnham, o mais luxuoso, Vistadome,
intermediário, e Expedition, que seria o menos luxuoso, mas que é excelente,
oferece até um lanchinho e tem teto de vidro também; fizemos um simulado e nos
custaria, o mais barato disponível para a data, 272 dólares.
Teríamos que comprar os ingressos para Machu Picchu pela internet
(www.machupicchu.gob.pe), pois agora há limite de número de visitantes e é arriscado
ir sem ter comprado as entradas, pelo preço de 100 dólares. Necessitaríamos
comprar as passagens do ônibus de Águas Calientes, onde para o trem, para Machu
Picchu, ida e volta, cerca de 15 dólares. E, finalmente, teríamos que contratar
um guia na entrada do parque, a fim de aproveitarmos melhor o passeio, mais ou
menos pelo preço de uns dólares. Resumo da história, nos custaria cerca de 440
dólares, o casal, mais todo o trabalho que demandaria.
Procuramos,
então, alguma empresa que nos vendesse o passeio no Brasil, encontramos uma
empresa que nos ofereceu o tour (http://www.cuscoviaje.com/noticias.item.8/machupicchu-en-1-dia-en-cusco-peru.html), por 560 dólares o casal.
Dizem que do Valle Sagrado, de Ollantaytambo, o trem para Machu
Picchu sai muito mais barato. Fizemos um simulado no site da Peru Rail e a
economia seria de 30 dólares. Uma economia que nos custaria muita mão de obra,
pois teríamos que ir ao terminal de vans (na Calle Pavitos com Avenida Grau) e,
então, tomar uma até Ollantaytambo, cerca de 90 Km. Ou fazer o Tour ao Valle
Sagrado, casando o horário com o da saía do trem, e deixar o tour antes do
final, não conhecendo Chinchero, o que também não nos pareceu interessante. Talvez,
em outra época do ano, a diferença de valores seja mais significativa para
compensar o trabalho; mas, tínhamos que avaliar que viajaríamos em um período
dos menos recomendados, dezembro, período de muitas chuvas, o que significaria um
grande risco para viagem organizada por conta própria e que demandasse
utilização de vários meios de transportes, principalmente porque as rodovias
peruanas têm péssima fama.
Existem, ainda, a possibilidade de fazer a Trilha do Inca, caminhando
quatro dias. Os endereços abaixo dão boas dicas de como fazer a viagem por
conta, pensamos que cada um deve analisar todas as possibilidades e escolher o
que lhe for mais conveniente:
http://sundaycooks.com/2012/09/03/como-ir-para-machu-picchu/
http://www.precisoviajar.com/2012/09/manual-pratico-machu-picchu.html http://www.dividindoabagagem.com/search/label/Machu%20Picchu http://www.boaviagem.org/posts/peru/como-chegar-a-machu-picchu.html
http://andarilhosdomundo.com.br/2013/04/como-chegar-a-machu-picchu/
Em contato com o nosso hotel (www.amaruhostal.com/mallqui/
) de Cusco, recebemos a oferta do passeio a 502,00 dólares, o casal, só teríamos
que mandar cópia de nosso passaporte, para a compra das entradas em Machu Picchu
e fazer o depósito prévio de 200 dólares, West Union, através do Banco do
Brasil. Foi a nossa opção. Imaginamos que o Caro Amigo deve estar cansado de
tanto falatório e pouca ação, é que quisemos deixar tudo bem explicadinho, nos
seus mínimos detalhes, para que se, por acaso, o Caro Amigo decida verificar
tudo pessoalmente possa contar com informações mais precisas possíveis,
lembrando sempre que não se deve confiar em tudo que se lê, pois em tudo haverá
um toque pessoal do escritor (ah, ah, ah!).
Assim, depois de tudo isso, nessa fria madrugada, levantamos
sonolentos, às 05:00 horas, colocamos roupas confortáveis e quentes, tomamos um
café reforçado, agarramos nossas mochilas, com água, um lanchinho, capa de
chuva, guarda-chuva, protetor solar, repelente, chapéu, máquina fotográfica e
mais algumas bugigangas. É importante que o Caro Amigo se lembre que, por estar
em altitude mais baixa (2.400m), Machu
Picchu tende a ser mais quente que Cusco, portanto não esqueça de levar também
algo leve. Às 06:30 a excursão passou pelo nosso hotel.
Os noventa quilômetros de trem são vencidos em cerca de três horas,
por um agradável panorama, que inclui espetaculares de pequenas cidades, campos
e, principalmente, do La Verônica, um pico nevado.
Na chegada, uma confusão de pessoas e agências procurando seus
clientes, pois, em geral, elas os deixam na estação de trem em Poroy, para que
seu pessoal, de Águas Calientes, cidade mais próxima de Machu Picchu, as
receba. Há quem vá para essa última cidade, para passar uma noite e visitar
Machu Picchu bem cedo, para ver nascer do sol e aproveitar a cidade ainda sem
muitos turistas. É uma boa opção, embora Águas Calientes não tenha tantos
atrativos e o artesanato não tenha bom preço.
Pouco mais de vinte minutos de ônibus e chegamos à entrada da tão
esperada Machu Picchu, onde o Caro Amigo não deve se esquecer de usar o
banheiro e comprar algo que tenha esquecido, pois no interior do parque não há
nada além da maravilhosa cidade perdida, que deixaremos para mostrar no final
dessa expedição, pois as estamos muito atrasados em virtude da falta de
internet durante o percurso de ônibus.
Então passemos para o próximo passeio que é... é hora de levantar,
um longo e frio dia nos espera.
Beijos,
Sayo e Claudio
Cusco/City Tour, 31 de dezembro de 2013.
Caro Amigo,
O dia estava radiante, apesar de ainda muito frio. Nossa manhã
estava livre, pois faríamos um city tour à tarde, contratado através do hotel,
pelo preço de 13 dólares por pessoa. Resolvemos, então, aproveitar a manhã para
pesquisar um local mais barato para comprar aquelas dezenas de milhões de
coisinhas imprescindíveis para as mulheres e que os homens, sempre insensíveis,
chamam supérfluo; pois acontece que, nas lojas, os preços não nos pareceram
muito tentadores, principalmente porque percebemos que nenhum artigo porta seu
preço, ele é dado de acordo com a cara do freguês, que sempre deve pechinchar.
Por indicação da mocinha do hotel, fomos ao Mercado San Pedro, na
Rua Santa Clara, uma Torre de Babel, um verdadeiro pandemônio, principalmente
por ser véspera de Ano Novo, quando todos resolveram sair para comprar seu
último item amarelo, sem o qual ninguém, ninguém mesmo, pode entrar o Ano Novo.
Lógico que compramos os nossos.
O Mercado fica em um enorme galpão e, ao seu redor, havia, naquele
dia, uma desordenada feira, que só não era tão desordenada quanto o interior do
próprio mercado.
Não tem nada daquilo de setor disso ou daquilo, a coisa corre na
total informalidade e desordem. Dá pra comprar de um tudo, de “cuy” (o
porquinho da índia que eles comem) a banhos perfumados. Até costureira tem.
Já quanto a tomar o tal caldinho, que a mocinha do hotel
recomendou, preferimos declinar, ainda não era hora de nos juntarmos ao Senhor
(ah, ah, ah!), pois a higiene do local, para ser bonzinho, é muitíssimo
questionável. Nos contentamos em conferir o preço do artesanato.
No inicio da tarde, já com a temperatura mais agradável,
iniciamos, vivos, nosso city tour com o Sr. Beto, na Catedral, na Plaza de
Armas. A chegada até ele foi um pouco tumultuada, pois, pelo que pudemos
perceber, trilhões de tours se iniciam no mesmo horário e com o mesmo roteiro.
Então, alguém transporta o cliente até a entrada da Catedral e o deixa
esperando, junto com centenas de outros clientes, até que um outro alguém virá, falando em um radinho e gritando seu
nome que, apesar de falar javanês, terá que entendê-lo em peruano. Feito isso,
o pobre e infeliz cliente, após algum tempo de espera, se tudo der certo, será
levado ao seu guia, já dentro da igreja.
A entrada da Catedral custa em torno de 35 reais, dizem que é para
ajudar na sua restauração (?). Ela é
realmente majestosa, o que justifica os, praticamente, dois séculos, entre XVI
e XVII, que tardaram sua construção e decoração em estilo predominantemente
barroco. Ela tem forma de cruz, com doze capelas na parte central e foi
edificada sobre as fundações do que foi o templo inca ao deus Viracochacom;
está consagrada a Nossa Senhora da Conceição, cujo altar maior, todo laminado
de prata, é o mais rico da cidade. A grande maioria dos trabalhos foi finamente
realizada por mestiços, que aprenderam com espanhóis, destaca-se Marcos Zapata
nas pinturas; assim que é possível encontrar muitas obras conciliando costumes
incas, como é o caso da Santa Ceia, na qual são servidas frutas regionais e
“cuy”.
Além de toda a riqueza em ouro e prata de que é adornada a
Catedral, destacam-se a imagem do Senhor dos Temblores, enegrecido pelas fumaça
das velas, e a Cruz original trazida pelos conquistadores. Infelizmente, não
pudemos tirar fotos em seu interior e o city tour é um pouco rápido para que se
possa observar tudo com detalhes, mas a Catedral, como igreja que é, está
aberta das 06:00 às 09:30, para realização de missas e orações, assim o Caro
Amigo pode retornar rezar um pouquinho e observá-la melhor.
Seguimos caminhando pelas ruas da cidade, apreciando o maravilhoso
trabalho de encaixe de pedras realizado pelos incas, sobre os quais os
espanhóis construíram a cidade colonial, até chegar a Qorikancha, na Calle Arrayan, esquina com
Avenida el Sol, um antigo conjunto de templos inca, sobre os quais foi
construído o Convento de Santo Domingo, onde é possível observar claramente o
contraste entre as perfeitas paredes incas e as espanholas.
Os primeiros construíam seus edifício com uma pequena inclinação
(13 graus), com nichos vazios e janelas
e portas em forma de trapézio, justamente para torná-las resistentes a
terremotos. Na parte externa, é possível ver uma interessante parede curva e um
calendário em pedra. A entrada custa cerca de 10 reais.
Cusco é conhecida como a Capital Arqueológica da América; então,
nada mais justo que conhecer algumas de suas ruínas. Aqui o city tour deixou o
centro da cidade e partimos, de ônibus, para as outras três visitas. Para
realizá-las é preciso comprar um “Boleto Turístico”, total, cerca de 130 reais,
ou parcial, cerca de 70 reais; trata-se de um bilhete que permite a entrada à
16 pontos turísticos da cidade, inclusive ruínas, pois não é possível
comprá-las de forma individual, um bom modo de arrecadar dinheiro, pois,
dificilmente, o turista terá tempo de visitar tudo, mas terá que desembolsar uma
boa grana.
Aparentemente, os pontos,
que podem ser visitados com o boleto, sofrem alteração, pois lemos relatos que
indicam alguns locais distintos; ele pode ser adquirido na entrada de qualquer
dos locais que exigem sua utilização. Compramos o boleto completo, valido por
dez dias.
Nos dirigimos para Saqsaywaman, imponente santuário, construído
para homenagear os deuses, por volta do ano 1.400, com pedras de 60 a 120
toneladas. Vista do alto tem a forma da cabeça de um puma, cujo corpo é a
cidade de Cusco.
Em 1535, foi o local de refúgio dos incas que guerreavam contra os
espanhóis, foi o ponto de resistência índio. É possível chegar caminhando por 1
hora, desde a Praça de Armas e para ingressar usa-se o boleto turístico, assim
como as seguintes ruínas.
Puka Pukara, que significa forte vermelho, pela cor de suas
pedras, era um local de descanso de viajantes. Hoje só restam suas fundações
porque foi construído com pedras pequenas, que não resistiram à ação do tempo e
dos terremotos.
O City tour segue para Tambomachay, um templo à água, a 3.800m de
altitude, com fontes jorram uma água pura e rica em minerais, cuja origem é
desconhecida.
Qenqo, a 4km da cidade, foi
templo, onde se realizavam festas e sacrifícios, que, geralmente, eram de
animais, mas, em casos de catástrofes, eram sacrificadas belas e puras crianças
de até 14 anos, pois a cultura inca acreditava que a morte era só uma passagem
para outra vida.
Através um sistema de canalização para o sangue dos sacrifícios, o
sacerdote realizava previsões. Possui
também um anfiteatro, uma praça para as comemorações. Assim, terminamos nosso
passeio, um pouco corrido, pois as atrações merecem todo um dia de visita.
Voltamos para o hotel, justo com tempo para um rápido banho, antes
de partirmos, com nossos acessórios amarelos pois, em estando em Roma, há que
se agir como os romanos, para a busca de um restaurante para a ceia de Ano
Novo. Como não reservamos nada, não encontramos vaga naqueles maravilhosos, com
varanda de cedro entalhado e vista para praça. Acabamos comendo em um já nosso
conhecido, o....... Comemos filé ao molho de figo e vinho do porto com risoto
de quinua, uma combinação deliciosa.
E filé de alpaca com tamal, batatas douradas, tomate e cebola.
E para apimentar mais a vida, que já andava um pouco tediosa,
pedimos um pouco rocoto.
Não dispensamos a sobremesa, afinal, ainda não tínhamos provado
muitos doces no Peru, ela estava gostosa, mas não maravilhosa.
Agora era assistir a partida do velho ano na ... está na hora do
jantar, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Cuzco, 01 de janeiro de 2014.
Caro Amigo,
Hoje o dia amanheceu cruel, um frio desolador, dizem que por volta
de 5 graus, tudo cinza, preguiçoso, sem vida. Aparentemente a enorme festa de
passagem de ano na Praça de Armas deixou todos arrasados.
Não dá para descrever a balburdia que se instaurou na praça. A
prefeitura montou um palanque, em frente à Catedral, de onde um conjunto
animava o que já estava pegando fogo. Era gente usando assessório amarelo para
todo lado, numa animação total.
Fome também ninguém passava, pois ambulantes vendendo espetinhos,
caldos, milho e seu mais lá o que estavam por todo canto. Assim como vendedores
de bebida e de fogos de artifício, porque a prefeitura não realiza uma queima
oficial, mas, para compensar o povo sai
ponto fogo em tudo, uma balburdia.
Quando chega a meia noite, a praça explode, o céu se enche de cor,
sobra beijo e abraço para todo lado e, de repente, não conseguimos entender o
porquê, sai todo mundo correndo em volta da praça em ritmo alucinante. Visto
isso, fomos para cama.
Mas voltando ao horroroso primeiro dia do ano, tem uma coisa muito
boa na cidade, para o comércio não tem dia, assim que, diferentemente da
maioria das cidades que conhecemos, teríamos muito para fazer naquele feriado.
Nossa primeira parada foi no Convento de La Merced, na Calle
Mantas, cuja edificação, similarmente a muitas das igrejas que visitamos no
país, é feita com pesadas e sóbrias pedras de granito; guardando todas sua
suntuosidade para as capelas e altares, com finos entalhes em cedro, pó de ouro
e imagens vestidas com finos brocados, rendas e bordados.
Assim encontramos Nossa Senhora, vestida com as cores do Peru, branco
e vermelho, e adornada por jóias preciosas, incrustadas de pedras preciosas e
pérolas.
Apreciamos ver a população levando suas imagens do Menino Jesus,
nos mais variados trajes, alguns andinos, outros de pequeno príncipe ou
camisolões bordados, em suas cestinhas, para receberem benções. O mais lindinho
é o Menino Jesus do Espinho, sentadinho em uma cadeira, com uma das perninhas
sobre o joelho, olhando um enorme espinho na planta de seu pé.
Na Avenida el Sol, o Centro Artesanal Cusco já estava com boa
parte de suas lojas abertas. É um bom local para compras, onde se pode
encontrar tudo de típico, como brincos e anéis de prata incrustados com pedras,
cerâmicas, bordados, pashiminas, gorros, cachecóis, bolsas, mantas, camisetas,
calças, tudo muito colorido e alegre, ao bom estilo local, afinal a bandeira de
Cusco é composta, simplesmente, de sete listas com as cores do arco-íris. Talvez seja um dos melhores locais, em termos
de preço, juntamente com o Mercado San Pedro.
Mas a grande verdade é que, como nenhuma mercadoria tem preço, o
vendedor o determina de acordo com a cara e simpatia do freguês, que sempre
deve pechinchar.
Existem algumas coisas muito características na cidade e, talvez,
de todo o Peru, uma delas são as crianças ou senhoras de cara gorducha e
inocente, com seus trajes típicos, saia rodada, toda bordada, blusa e
casaquinho cheios de detalhes coloridos e seus mirabolantes chapéus, carregando
pequenos ovinos, com a cabeça enfeitada, ou llamas, oferecendo-se para tirar
fotos por 1 sol. Dá vontade de tirar com todas, para ter guardada, para sempre,
suas bonitas figuras. Pretinho básico? Nem pensar! Estamos no Peru!
O modo como carregam as coisas também é muito peculiar, uma manta
listada muito colorida, atada aos ombros, dentro da qual transportam
mercadorias e crianças. Fabricante de carrinho de bebê morre de fome por aqui
(ah, ah, ah!)
O táxi é muito barato, por 5 reais se vai para pontos mais
distantes da cidade, como a rodoviária, para o aeroporto são 7 reais. Eles têm
uma decoração bem peculiar, com santinhos pendurados, que ficam balançando,
panos forrando o painel, luzes, flores e frases, em dourado, invocando a
proteção do Senhor. A grande maioria deles está caindo aos pedaços; no início
dá até medo de entrar e sair todo sujo, depois a gente acostuma e passa até a
barganhar o preço, que deve ser acertado com antecedência.
Outra característica de Cusco é que chove quase todos os dias, não
importa que esteja um sol escaldante, com céu azul de brigadeiro, nunca ouse,
Cara Amiga, sair sem capa ou guarda-chuva, sob pena de acabar com sua chapinha
(ah, ah, ah!). Como excepcionalmente não choveu no primeiro dia do ano, o
passamos xereteando lojas e ateliers,
pois a escola cusquenha de pintura tem um estilo que nos agrada e pretendíamos
levar um exemplar para casa, preferencialmente com aquelas espetaculares
molduras entalhadas.
Jantamos no restaurante do Hotel Sol Plaza Inn (www.solplazainn.com),
uma boa opção de hospedagem, com preços razoáveis, 68 dólares o casal, bem no
coração da cidade, grudado na Plaza de Armas. Ele chama-se Uchuruta.
Eu arrisquei o Menu Turístico, pela bagatela de 12 reais, que
oferece opção de 4 entradas, 4 pratos principais e um suco de limão.
Já o Kuc comeu Alpaca a La Parrilla.
A comida estava boa, não excepcional, e o vinho tinha excelente
preço. Mas o quitute, que encheu nosso dia de alegria, comemos foi no almoço,
quando decidimos conhecer um dos minúsculos restaurantes, com mezanino, da
Calle Pampa del Castillo, lembraram-nos
os de Bogotá, onde comem os cusquenhos, conforme nos informou o no guia do city
tour, Sr. Beto. O Claudio jamais perderia um Chicharón, é só falar o nome e ele
já baba. Seguramente o Caro Amigo não tem a mínima idéia do que se trata e nem
vai ficar sabendo agora, pois temos que dormir, o dia amanhã será longo,
contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Valle Sagrado, 02 de janeiro de 2013.
Caro Amigo,
É ... o almoço de ontem foi bem à nordestina. Comemos no
restaurante Chicharroneria Los Mundialistas, o
chicharón de mesmo nome, composto de grandes pedaços de carne de porco bem
fritinhos, crocante; batata frita inteira; muitos grãos do enorme milho branco;
um pedaço de queijo; cebola roxa, hortelã e um pequeno tamal (espécie de
pamonha). Tudo regado a muito aji, aquela deliciosa pimenta. Nos esbaldamos.
Entre Cusco e Machu Picchu existe um vale fértil, no qual cada
monte tem seu nome e é considerado, pelo povo, um presente dos deuses. Conhecemos
o Valle Sagrado através de uma excursão guiada, um dos passeios que mais
apreciamos nesta viagem. Pois, além da beleza natural da região, o dia estava
magnífico e nosso guia, Aldo, era excelente, ensinou-nos, a cada ruína e cidade
que visitávamos, aspectos que nos fizeram entender melhor o modo de pensar e
agir da civilização inca.
Logo na partida, ficamos sabendo que os incas, uma confederação de
povos, dominara o vale, no século XII, com a intenção de se estenderem sobre a
selva, vizinha à região andina, a fim de controlar a agricultura, a coca e as
frutas da floresta. Assim eles foram fundando as cidades sobre o vale, para
tomar posse do território e dinamizar a agricultura que era tão abundante que,
além de alimentar toda a população, era usada como moeda de troca.
Para interligar suas cidades, os incas construíram 35.000 Km de caminhos
calçados com pedras, que dispunham de locais de repouso e alimentação, que
integravam a população e
estimulavam o comércio. Caminhos que são utilizados até hoje pela
população, continuando a cumprir seu papel, sendo que 6.000km foram declarados
Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
Os incas foram se estendendo sobre o vale do rio Vilcanota e
construindo seus terraços, plataformas, para evitar a erosão e otimizar o
cultivo agrícola.
Pisac, a 30km de Cusco, foi uma das primeiras cidades construída
pelos incas e sobre suas fundações os espanhóis edificaram, posteriormente, uma
cidade com características coloniais.
Está a 3.000m de altitude, é produtora do melhor milho branco do país e
de destacado artesanato, realizado por índios e campesinos, realmente artesãos.
O mercado de artesanato é permanente e estende-se por quarteirões
da graciosa cidade, que merece, pelo menos, um dia para percorrer suas ruelas
coloridas pelo trabalho dos artesãos indígenas e experimentar as iguarias
locais, como as empanadas.
As construções são de adobe, num tom rosado, muitas transformadas
em elegantes hotéis.
As ruínas de Pisac são construções de pedra sobre as montanhas,
tendo todo um silencioso vale aos seus pés, pois os incas preferiam aproveitar
as terras férteis dos vales para produção agrícola. Eles viviam, em média 75 anos, não tinham
propriedade privada ou dinheiro, viviam em pequenos quartos familiares, preocupando-se
com o bem-estar da comunidade. Os mortos eram enterrados em posição fetal para
economizar espaço e os objetos, que os acompanhavam, eram oferendas aos deuses.
Eles não conheciam a roda ou o ferro, cortavam e poliam as enormes
pedras de granito com outras pedras mais duras, como a hematita e o quartzo;
muitas de suas construções utilizam o barro para junção das pedras, não o
encaixe em forma de quebra-cabeça, sendo possível reconhecer que são de origem
inca pela pequena inclinação de suas paredes. As ruínas arqueológicas de Pisac
são algo impressionantemente mágico, que nada deve a Macchu Picchu.
Deixamos Pisac pelo fértil vale do rio Urubanba, onde, ao lado das
casinhas, apareceram frondosos pomares com cerejeiras, nêsperas, ameixas, maças
e outras frutas.
Nosso passeio custou 30 dólares por pessoa, a entrada para os
sítios arqueológicos era com o boleto turístico, e incluía um almoço no Restaurante
Tunupa (www.tunuparestaurant.com), situado a 78Km de Cusco, num casarão colonial, situado em meio a um florido
jardim, à beira do rio Urubamba.
Almoçamos na varanda,
observando o rio passar e escutando música nativa, tocada por um grupo localizado
no jardim, em frente.
Era um serviço de Buffet, que incluía muitos pratos típicos, como
carpaccio de alpaca, ceviche, causa (espécie de cuscuz) recheada, truta, e,
ainda saladas diversas, massas, carnes e aves.
Além de sobremesas, como saladas de fruta tortas, bolos, mazamorra
(espécie de gelatina a base de milho). Somos um pouco reticentes quanto a
comida de Buffet, pois, geralmente, não nos parece tão bem preparada quanto
à La Carte, mas, nesse caso, o restaurante
nos pareceu perfeito e agradável, assim que algum detalhe ou outro da comida
nem foi notado. O preço só inclui água e refrigerante, demais bebidas são pagas
a parte. O tour sem o almoço custa 16 dólares.
A parada seguinte foi em
Olantaytambo, a 2.800m de altitude, uma das principais e mais antigas cidades
incas que, politicamente, governava Machu Picchu, a segunda zona arqueológica
mais visitada do Valle.
Entre suas ruínas
observamos armazéns, dependurados nas encostas das montanhas, utilizados para
armazenamento de grãos e construídos com uma brilhante técnica que não permitia
que a temperatura subisse acima de 16 graus ou baixasse de 5 graus, propiciando
uma perfeita conservação das sementes, que não estavam sujeitas a ação do calor
e da umidade, garantindo, assim, a qualidade das espécies.
As pedras, pesando
toneladas, para construção da cidade, foram transportadas por rampas, em
troncos que eram rolados sobre outros troncos. Por uma escadaria, ou pelas
laterais delas, de forma menos exaustiva, chega-se ao topo, de onde é possível
observar todo o vale, a cidade e o local de onde as pedras eram trazidas.
Na entrada também há uma
feira de artesanato local, não muito diferente de todas as que já visitamos na
região. Aqui, muita gente deixa o passeio, para seguir para Macchu Picchu, pois
dizem que o trem é bem mais barato, mas
perdem o restante da excursão.
Chinchero esta a 3.800m
de altitude e chega-se a ela atravessando típicas paisagens andinas, com a
visão de impressionantes picos nevados, como La Veronica, pequenos lagos cristalinos
e rebanhos de ovelhas e carneiros pastando, vez por outra, algum porco ou
burrico.
Seguem-se as construções
de adobe e seu tom rosado, e surgem os agricultores cuidando de plantações que
desenham o terreno, enquanto suas crianças fazem arte ao redor.
Restam aqui, como em quase todas as zonas arqueológicas incas, a
confirmação da utilização de terraços para conter a erosão, onde sementes eram
estudadas e desenvolvidas, como em um laboratório para realização de trabalho
científico.
Assim voltamos para casa, quase sem fome depois daquele delicioso
almoço, mas sem querer abrir mão de nosso jantar de despedida da viagem (pelo
menos é o que pensávamos na ocasião), que foi no Restaurante Café Bagdad
(garysalzar58@hotmail.com), onde comemos:
QuinotoAnticucho de Corazón
Até às aventuras que nos aguardam no dia de amanhã!
Beijos,
Sayo e Claudio
P.S. – Ao sairmos do Brasil, uma Cara Amiga, Fátima, nos indagou
sobre um suposto caminho que integrava o Valle Sagrado a São Vicente, que se
chamaria Peabiru, conversando com Aldo, soubemos que realmente foram
descobertos trechos desse caminho, por quatro brasileiros, reconhecidos pela
UNESCO. O caminho sairia do Peru, atravessando Potosi, na Bolívia, e
continuando por Mato Grosso do Sul. Porém ainda não se sabe seu traçado
completo e se ele foi totalmente construído pelos incas, ou se cada civilização,
de cada país, construiu sua parte.
Cuzco, 03 de
janeiro de 2014.
Caro Amigo,
Embarcaríamos,
às 15:00 horas, desta sexta-feira, rumo à São Paulo, novamente de ônibus, pela
Ormeño. Aproveitamos a manhã para as últimas compras. Estávamos apaixonados
pela pintura cusquenha, principalmente, pelas suas molduras entalhadas e aproveitamos
realizar nosso sonho e comprar um quadro, teríamos um pouco de trabalho para
carregá-lo, mas certamente apreciar a imagem de Nossa Senhora em tão
espetacular trabalho de artesanato renderia-nos muito prazer.
Mais uns
presentinhos de última hora e, para fechar tudo com chave de ouro, um “Adobo” ,
no los Mundialistas, onde já havíamos comido o Chicharón, trata-se de um suculento caldo com enormes pedaços de
carne de porco e cebolas inteiras. Feito isso, voltamos ao hotel, pegamos as
malas e rumamos para o Terminal Terrestre, ou seja, rodoviária.
A senhora,
Nely, não estava com a cara muito boa, e foi logo dizendo que em virtude de
desabamento a partida estava atrasada, que o ônibus somente sairia à noite e, o
bem pior, que as nossas poltronas haviam sido vendidas em Lima porque, pasme o
Caro Amigo, a empresa não tem controle do que é vendido no Brasil. Que
conversinha para boi dormir. Não preciso dizer que o Kuc ficou “p”, pois esteve
namorando por mais de um mês as primeiras poltronas, bem de frente à janela
panorâmica sobre a cabine do motorista, ligou várias vezes para rodoviária e
foi comprar as passagens com mais de um mês de antecedência.
A pobre da
mulher até que nos ofereceu lugar no leito, muito mais caro. A pobre não
conhece meu aventureiro companheiro, o Caro Amigo acha que ele ia trocar a
vista panorâmica de toda a estrada, de onde poderia tirar mil fotos (mesmo que
tivesse que lavar o vidro do ônibus a cada parada, ah, ah, ah!), por uma
poltrona de primeira classe de avião, num compartimento lacrado, no primeiro
piso do ônibus, com vidro escurecido. Só posso dizer: Ah, ah, ah! Ela só
poderia estar doida. Conversa vai, conversa vem, como a Sra. Nely parecia não
muito interessada em resolver nosso problema e, inclusive, passou a nos tratar
de modo não muito adequado, preferimos chamar um dos policiais, que estavam pelo local
(nisso o Peru é bom, tem policial para todo lado). Resumo da história, ficou
decidido que, quando o ônibus chegasse de Lima, ela falaria com os passageiros
que estavam em nossos lugares.
Mas, para
sermos bem sinceros, temos que confessar que ficar um pouquinho mais em Cusco
não era nada mal, pois ainda tínhamos alguns lugares para visitar com nosso
Boleto Turístico (ah, ah, ah!). Deixamos as malas com a Ormeño e fomos para o
Museu Arqueológico Qorikancha, na Avenida el Sol, que não é lá aquelas coisas.
Como a
temperatura caiu muito e chovia cântaros, voltamos ao hotel, pois ficar na
rodoviária é impossível. Aproveitamos para mandar um e-mail para a Ormeño, já
apresentando nossas reclamações, inclusive referentes aos atrasos e condições
de limpeza do veículo em nossa primeira viagem.
Às 18:30,
estávamos novamente frente a Sra. Nely, que nos informou que o embarque seria à
19:30. Saímos fazendo hora, encontramos outro brasileiro, que iria no mesmo
ônibus, o Marcos, que é um feliz professor de português em Cusco, e ficamos
batendo papo. Ao voltarmos para o embarque, outra novidade, o guichê da Ormeño
estava em pé de guerra, abarrotado de passageiros reclamando, a maior muvuca,
pois o ônibus, que já havia chegado de Lima com seus passageiros, não partiria
naquela noite, em virtude do desabamento, pois teríamos que fazer um
transbordo, atravessado um trecho em veículo menor e o ônibus, que nos pegaria,
após o transbordo, ainda não havia chegado do Brasil em Puerto Maldonado,
portanto somente partiríamos no dia seguinte, à noite.
Pedimos o
livro de reclamações e a mulher nada de querer entregá-lo, alegando a todo
tempo que a empresa não tinha qualquer obrigação, pois posto se tratar de
problema originado pelas chuvas. Recorremos à polícia, uma vez mais, e fizemos
nossa reclamação por escrito, na presença dos dois guardas que permaneceram no
local, no meio do empurra-empurra dos insatisfeitos passageiros. A confusão foi tanta que até a Sutran
compareceu ao local exigindo providências da empresa, principalmente quanto aos
turistas.
Só nos foi
oferecida, aos passageiros, a possibilidade de dormir no ônibus; de qualquer
modo, ela não passava de simples empregada e somente iríamos pleitear qualquer
coisa, se fosse o caso, no Brasil. Então,
fomos obrigados (ah, ah, ah!) a voltar para o hotel, para aproveitarmos mais um
dia em Cusco, que delícia. E eu fui obrigada a agüentar o Kuc reclamado que
isso nunca nos acontece quando estamos na Europa. Também não se pode querer
tudo (ah, ah, ah!).
Decidimos
dormir no hotel, para aproveitar melhor o dia seguinte. Rimos muito com o rapazinho da recepção, que
nos fez a diária ao mesmo preço do Booking, acabamos comendo uma pizza e
tomando um vinho por ali mesmo, pois o clima estava cruel. Assim fomos dormir,
fazendo os planos para mais um dia na linda Cusco que, com as graças do bom
Deus, seria maravilhoso.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Cusco, 04 de
janeiro de 2014. Pachakuteq Inka Yupanki
Caro Amigo,
Nossas preces
foram atendidas, o sábado amanheceu maravilhoso, sol, céu azul e até uma
temperatura mais morninha. Retornamos para o hotel somente com nossa mala de
mão, nas quais tínhamos roupas leves, pois a previsão inicial é que teríamos
somente doze horas de frio, se o ônibus tivesse partido de acordo com o
programado. As outras malas ficaram na rodoviária, pois estavam lacradas e não
queríamos ter que abri-las. Assim que, um dia, mais quente era tudo que
precisávamos.
Após o café,
enviamos outro e-mail para Ormeño reiterando nossas reclamações e afirmando a
culpabilidade da empresa no ocorrido, posto que poderiam realizar a viagem por
outra estrada e/ou em transporte menor, mas eles não se dispunham a fazê-lo,
pois na verdade somente existem dois ônibus na rota, um que vai e outro que
vem. Ou deveriam, ao menos, a fornecer
condições dignas de permanência aos passageiros, muitos deles idosos e expostos
à baixa temperatura da cidade. E, antes
dos merecidos passeios que programamos, decidimos passar na rodoviária.
Encontramos a
Sra. Nely mais atrapalhada que nunca, mas bem mais educada e afável. Nos
informou que estava descartada a ida a Puerto Maldonado pela estrada que
viemos, pois estava totalmente interrompida, e que estavam estudando a
possibilidade de irmos a Juliaca, ao sul, no estado de Puno, e, então subirmos
para Puerto Maldonado. Fez algumas ligações e, após, informou que nada estava
decidido, porque na estrada de Puno a Maldonado também ocorreram desabamentos,
e informou que, de qualquer modo, só partiríamos às 20:00 horas. Deixamos um
cartão do hotel, para algum recado e caímos no mundo. Nossa primeira parada
foi, bem nas proximidades da rodoviária, no Monumento ao Pachakuteq Inka
Yupanki, um dos mais renomados governantes incas e melhores estadistas de todos
os tempos, que se preocupou com o manejo criativo do espaço e otimização do
processo produtivo; converteu as numerosas fontes de água em um complexo
sistema hidráulico, que permitiu o alto desenvolvimento da agricultura e
ganaderia, atividades básicas do homem andino, cuja cultura se baseava na
conexão equilibrada com a natureza. Ele viveu 125 anos, entre os séculos XV e
XVI, e integrou os vários povos através de alianças, formando a grande
confederação de povos incas, sua presença continua vigente na cultura como um
ícone da identidade andina e peruana.
Trata-se de
um monumento em forma de obelisco, em cujo interior aprendemos tudo que
relatamos ao Caro Amigo, vale a pena uma visita, embora um pouco afastado do
centro, inclusive para observar a cidade do seu topo. Sua entrada é com o
boleto turístico.
Partimos para
o Museu de Arte Popular, na Avenida el Sol, no edifício da Municipalidad, perto
da Plaza de Armas, outra visita que também apreciamos muito, principalmente por
um filme que conta a história de Cusco e das principais cidades do Valle
Sagrado. O museu tem coleção de fotos
antigas da cidade, vitrines com bonecos representando cenas da vida cotidiana,
em seus trajes típicos, e uma exposição de presépios.
Paramos para
comer no Restaurante Los Balcones (www.
), um menu turístico de 15 reais por pessoa, pois nosso sois estavam por
um fio, não queríamos trocar mais dinheiro
e não costumamos usar cartão de crédito no exterior, exceto em caso de
emergência. Nosso almoço foi um suco de limão e um chá, uma sopa creme de
aspargos, outra de tomate, um espaguete à bolonhesa e um omelete.
Não foi
nenhum manjar dos deuses, mas estava bem satisfatório e quentinho, além de
tratar-se de um restaurante agradável, com uma ótima vista para a Plaza de
Armas.
Como o Caro
Amigo pode observar, é possível fazer uma viagem econômica, freqüentando locais
legais.
Como desabou
uma chuva enorme, decidimos voltar para o hotel, afinal não queríamos ensopar
as poucas roupas de que dispúnhamos, já que esperávamos, ansiosos (ah, ah,
ah!), um atraso de mais um dia, para podermos conhecer mais três lugares de
nosso boleto turístico; assim restaria um único dos dezesseis indicados no
boleto, Fomos chegando, quase 16:00 horas e recebemos o recado, passado às
12:30 horas, da Sra. Nely, informando que deveríamos estar no terminal
terrestre as 15:00 horas para embarque para Juliaca, foi um banho de água mais
fria que a da chuva, lá fora. Foi-se o sonho de mais um dia em Cusco e, ainda,
estávamos uma hora atrasados.
Agarramos as
mochilinhas, nos enfiamos num táxi e fomos para rodoviária. Eu tinha certeza
que o ônibus não havia partido, pois estivemos com a Sra. Nely até meio dia,
nada havia de concreto e o pessoal, que dormiu no ônibus, estava todo passeando
pela cidade. Como é que, em duas horas e meia, ela conseguiria ligar para os
peruanos, que tinham voltado para casa, e localizar os que saíram para passear ?
Mas o Kuc estava puto! Chegamos na rodoviária e adivinhe?... O ônibus
continuava ancorado no local, os guardas da entrada do embarque já até nos
conheciam, nem precisávamos mais apresentar o bilhete (ah, ah, ah!).
A Nely, que
até perdeu o senhora, estávamos até ficando amigos, veio cheia das explicações
de que finalmente partiríamos às 22:00 horas (e o tal telefonema?), para
Juliaca, ao sul, no estado de Puno, perto do Lago Titicaca, onde faríamos o
transbordo para um ônibus menor e mais
alto, voltando ao norte, para Porto Maldonado, por uma outra estrada, na qual
também ocorreram desmoronamentos, mais tinha condições para passagem de veículo
menor.
Restávamos
rir e decidir o que fazer no resto do dia. O show de danças típicas, no Centro
Cosco de Arte Nativo, na Avenida el Sol, caiu-nos perfeitamente. Às 18:30,
aguardávamos, na porta, pelo espetáculo que se iniciaria em trinta minutos. A
entrada foi com o boleto turístico e ainda tivemos a oportunidade de visitar
seu pequeno museu de trajes. Tudo perfeito!
Às 20:00
horas, nos restava tempo para o jantar de despedida. Escolhemos o Restaurante
Valentina, na mesma avenida (www. ). Uma
pequena apresentação musical, um suculento file de Alpaca e espaguete à Alfredo
com camarões, tudo bem rapidinho e delicioso.
Voltamos à
rodoviária e, finalmente, próximo à meia noite, partimos.
Acabamos
ficando no leito para, na troca de ônibus recebermos nossas respectivas
poltronas, afinal nada havia para ver durante a noite. Mal amanhecia quando
chegamos a Juliaca, uma visão do ... estamos morrendo de sono, contamos depois.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Juliaca, 05
de janeiro de 2014.
Caro Amigo,
É ... uma
visão daquilo mesmo que o Caro Amigo pensou. Certamente Deus não criou nada
pior do que a cidade de Juliaca, local onde o infortúnio nos trouxe, para
trocarmos de ônibus, por um menor, que pudesse atravessar as áreas atingidas
pelo desmoronamento e chegar a Porto Maldonado que, um dia, desinformados,
achamos que era o pior lugar do mundo, ainda não conhecíamos Juliaca (ah, ah,
ah!).
No quiche da
Ormeño, naquela deplorável rodoviária, o Sr. Manoel, esposo da Nely (o família para sofrer, ah,
ah, ah!), atendia, delicadamente, aos impacientes passageiros com destino ao
Brasil.
Tudo era
poeira, lama ou estava quebrado. Para onde se lançasse o olhar, nada havia de
alentador.
Fomos à Plaza de Armas, a Igreja de Santa
Catalina que, num passado muito longínquo, deve ter sido um primor, mas agora
jaz no quase total abandono. Como era domingo, a igreja estava cheia de fiéis
e, a sua volta, imagens do Menino Jesus e suas roupinhas eram vendidas.
A cidade era
mal cuidada, feia e suja. Não achamos um lugar onde pudéssemos nos atrever a
comer algo, acabamos tomando papinha de bebê fria, nossa saída para situações
extremas, é melhor que morrer de fome ou, no caso, pegar uma infecção
intestinal. Eu já tenho know how nas mirabolantes viagens de meu digníssimo
marido (ah, ah, ah!).
Ao menos ele
matou a vontade de andar de Tuck-Tuck, aquele minúsculo carro que parece de
brinquedo.
Como tudo que
é ruim pode ser piorado, às 10:00 horas, daquele fatídico dia, fomos transferidos para um ônibus tão
deplorável quanto a cidade, não passava de um veículo de transportar
bóias-frias, todo acabado e tão sujo quanto.
A ocupação
dos bancos foi por ordem de entrada, pois não havia bilhete para aquele ônibus
e foram vendidas passagens a outros passageiros interessados; sentamos na 03 e
04, pois o Sr. Manoel estava ciente de que éramos uns chatos. O motorista um
doido, não tirava a mão da buzina, mas, pelo menos, era bom de volante.
Para salvar
nosso dia, a estrada tinha uma paisagem muito agradável, com largas planícies,
onde pastavam carneiros e lhamas, algumas pequenas lagoas, vegetação rasteira,
que também forrava as montanhas, tudo como que coberto por um tapete verde
musgo.
Cor que,
igualmente, tinham as rústicas casas, feitas de adobe e cobertas por palha. No
rádio o som monótono de música regional em quéchua, completava a preguiçosa
paisagem.
O ônibus
seguia vagarosamente pelas curvas que rodeiam as montanhas com picos, por
vezes, ainda nevados. O calorzinho vai se transformando em frio, as casinhas
vão sumindo e vão restando as encostas verdes, pontilhadas por brancas pedras e
rebanhos.
No alto das
montanhas já pedregosas, entre picos nevados, surgem os profundos cânions,
largo e imensos paredões de pedra e casas do mesmo material, com cobertura
plástica, onde vivem, rusticamente, pastores.
A estrada,
uma sucessão de estreitas curvas que vão descendo entre os paredões rochosos.
Ousamos pensar que tenha até valido à pena conhecer Juliaca, só para chegar até
ali.
O Indiana
(ah, ah, ah!) vibrava, principalmente quando, nas curvas à beira de penhascos,
o co-piloto descia para se assegurar que não vinha ninguém na outra mão. Lá,
bem no alto, o motorista para o ônibus na vista, calça-o com uma pedra e desce
para fazer sua oferenda de um litro de vinho a alguma divindade.
Ou quando,
nas curvas mais fechadas, o ônibus debruçava sua cara bem sobre o penhasco e as
mulheres, amedrontadas, gritavam o nome do Senhor. Finalmente ele tinha
realizado seu sonho transbordo, mais um carimbo em sua carteirinha. Onde é que
eu fui amarrar meu burro ? (ah, ah, ah!).
O violento
rio nos seguia, transformando-se em espuma branca ao bater, furiosamente, nas
pedras de seu leito. Cachoeiras escorriam, deixando seu longo rastro branco.
As plantações
de coca e de milho surgiram, ocupando pequenas áreas daquele relevo tão
acidentado. Um ou outro sítio arqueológico; uma ou outra pequena cidade, com
grande movimento, apesar do fim de tarde de domingo.
Realmente
ocorreram muitos e perigosos desmoronamentos, passamos por vários deles e por
vários trechos invadidos pelas águas, que brotam das montanhas, formando
pequenos rios a interromper a estrada.
Depois de 12
horas sacolejando e passando por altitudes de mais de 4.000 metros, chegamos a
Puerto Maldonado. Dessa vez, paramos na rodoviária escura e deserta. Ao fundo,
a visão do paraíso, o garboso ônibus da Ormeño, lembramos da história do Bode
Russo (ah, ah, ah!). O Kuc foi logo se adiantando, correu até lá, bateu no
vidro e saiu pulando de alegria. Eram os mesmo motoristas de nossa vinda,
nossos velhos conhecidos (ah, ah, ah!).
Na
rodoviária, apesar do chuveiro com água fria, tomei um merecido banho e tirei
toda a poeira de Juliaca, pois não queria levar de lá nem mesmo a poeira e,
nunca imaginei que o faria, agradeci ao bom Deus por aquele glorioso banho
frio. Falo pela minha pessoa, pois, seguramente, meu companheiro já está
doidinho para voltar, e só aparecer um mais doido para lhe fazer companhia (ah,
ah, ah!). Mas para comer não deu não.
Embargamos e
partimos. O Caro Amigo deve estar se perguntando qual terá sido o resultado do
dilema de nossas poltronas vendidas pela segunda vez? Apesar de... está na hora do almoço, contamos
depois.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Rio Branco, 06
de janeiro de 2013.
Caro Amigo,
Apesar de
nossa boa educação, não é preciso dizer que pulamos nas nossas devidas
poltronas, que compramos com muita antecedência. Os segundos compradores até
que quiseram protestar, mas o Juan, um dos motoristas, foi enfático, não havia
discussão, os lugares eram nossos, compramos primeiro. Eles receberam
confortáveis poltronas na primeira classe, no leito. É... quem tem padrinho não morre pagão (ah, ah,
ah!). Mas afinal, era o justo mesmo, inclusive porque eles iriam descer em Rio
Branco, para que fazer-nos mudar de lugar no meio da viagem.
Amanhecia
quando chegamos à fronteira. A imigração do Peru abriria às 07:00 horas.
Comemos algo, andamos um pouco e, pontualmente, fizemos nossa saída.
Atente, Caro
Amigo, quando for repetir essa feita, pois uma família de amigos, Ana Paula,
Dora e Balbino, os Ferreira Souza, muito simpáticos e solícitos, que, coincidentemente, viajaram conosco na
vinda do Brasil, tiveram que pagar multa por permanência no Peru, pois, quando
da entrada no país, o rapazinho da imigração deu-lhes, como prazo de
permanência, a data indicada na passagem
de volta, ou seja, a data que sairiam de Lima. Ora! Seria impossível sair de
Lima por via terrestre e chegar, no mesmo dia, à fronteira, inclusive porque,
em virtude dos desabamentos, ficamos praticamente dois dias parados. A multa
não é cara, um dólar por dia, mas é um transtorno ter que ir até a agência
bancária, esperar que ela abra, como foi nosso caso, pois o horário bancário se
inicia às 09:00 horas; para, então, retornar à imigração. Portanto, informe
sempre que ficará os três meses permitidos, pois o Caro Amigo nunca saberá
quando conseguirá sair do Peru (ah, ah, ah!).
Em nossa
fronteira, mesmo problema, uma peruana deveria pagar a multa, a coisa foi mais
rápida porque a multa pode ser paga em casas lotéricas. Mas tivemos que descer
todas as malas e passar por um escâner, algumas foram abertas, para constatação
de seu conteúdo, nada de grave foi encontrado, somente algumas frutas.
Continuando,
passamos em Brasiléia e vimos um acampamento dos haitianos, um mar de gente
numa grande casa com quintal. Eles também eram vistos perambulando pela cidade,
visão similar a que encontramos em várias cidades européias, ocupadas por
imigrantes ilegais, que nada têm para fazer e lotam as praças.
Às 05:00 da
tarde, vagávamos famintos, pois os motoristas, que fizeram sua viagem inaugural
conosco, quando viemos para o Peru, ainda, não estavam interados de
restaurantes onde parar. Na rodoviária de Rio Branco, a mocinha da única
lanchonete e/ou restaurante, informou que não tinha autorização para servir
antes das 06:30. Por um lampejo de sorte, lancei um olhar para um pequeno
mercadinho, onde avistei uma pequena estufa, cheia de salgadinhos.
Infelizmente
só comprei oito, sob os protestos do Kuc, que ainda sonha em comer uma costela
de boi, mas ele esqueceu-se que, além da escassez de restaurantes da região,
era segunda-feira, o dia dos restaurantes fecharem. Ao final, não consegui
comê-los sem dividi-los com a idosa senhora e os dois jovens peruanos ao nosso
lado, além dos dois motoristas. Aquele bolinho que eu pretendia comer, afinal
era meu aniversário, ficou na vontade. Para frente, estrada e mais
estrada.
De repente,
um posto de gasolina com restaurante, na cidade de Novo Contrato - AC, paramos
para o jantar. Melhor comer um pouco mais agora, pois não se sabe quando será a
próxima parada em que se encontre refeição para quarenta pessoas.
Diferentemente
de vinda, quando a maioria dos peruanos, já radicados no Brasil, voltava ao seu
país para passar o Natal em família, e nos ensinavam coisas sobre o seu país.
Agora, a maioria deles nunca esteve no Brasil, iriam tentar a sorte ou visitar
parentes e amigos, era a nossa vez, então, de lhes ensinar algumas coisas,
inclusive a diferença de comida por quilo, PF e marmitex, uma coisa tão óbvia
para nós (ah, ah, ah!).
Sobre aquela
tal travessia de balsa? Dizem que a
primeira vez a gente nunca esquece e,
acreditamos, na segunda a gente é rei, como em terra de cego. Assim, por
volta da meia noite conduzimos o pessoal, explicamos do que se tratava e, no
tempo livre, pois a coisa levou quase duas horas, em virtude da chegada de um
caminhão tanque que, por transportar inflamável, tinha prioridade e atravessava
sozinho, aproveitamos para colher algumas das mangas que lotavam os vários pés
existentes no local.
Na outra
margem do Madeira, pulamos na cama (poltrona) e dormimos regiamente o resto da
noite, só escutando o barulhinho da chuva, que alagava Rondônia.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Porto Velho,
07 de janeiro de 2014.
Caro Amigo,
A água tomava
conta de tudo. Olhando para a lateral da pista eram poças e poças de uma água
marrom. E a chuva não passava.
A estrada por
vezes boa, por vezes uma infinita sucessão de buracos, enormes poças de água
que não se podia imaginar a profundidade.
Como o
batedor de nossa primeira viagem, o Carlos, ainda estava em férias no Peru, o
Indiana, que quase não gosta, acumulou diversas funções. Ele era o batedor que,
quando parávamos, corria para inspecionar o local e constatar se o restaurante
tinha condições de banho e de servir comida para quarenta pessoas. Era também o
encarregado do DVD e o tradutor, que auxiliava os motoristas nos postos da
Policia Federal, balanças ou posto de gasolina.
Seguíamos
ensinando algumas palavrinhas básicas em português aos peruanos; dando-lhes
conselhos de como proceder no Brasil, principalmente na rodoviária e em grandes
aglomerações; verificávamos o melhor local para parada para os que não se
destinavam a São Paulo, que desceria no caminho.
Os Ferreira
Souza, com alguma experiência médica, cuidavam de aconselhar os peruanos que se
encontravam com algum pequeno problema de saúde, pois, fatalmente, em uma longa
viagem, como a nossa, as pessoas adoecem Os bebês, tínhamos dois no ônibus, até
que não deram trabalho, mas sentiam a falta de fraldas descartáveis, a
irregularidade de banho e o confinamento.
E todos fomos
trabalhando como tradutores, quando, nas paradas, surgia alguma dificuldade,
pois afinal de “enchufe” para tomada há uma grande diferença. Por mais que se
diga que português e espanhol são línguas muitos parecidas, a coisa, na
realidade, não é bem assim e, ademais, ainda existe a profunda diferença de
costumes e, para essa, serão precisos muitos anos para vencer.
Uma delas é a
que, no Brasil, os motoristas comem de graça, nos locais de parada para
refeições. Juan e Flores não o sabiam; assim, em todas as paradas, nós
conversávamos com os proprietários para que eles recebessem o benefício, afinal
eram uns heróis, que não só dirigiam, mas consertavam as coisas que iam se
quebrando, lavavam o banheiro, limpavam o ônibus (mais ou menos, ah, ah, ah!) e
até procuravam mercados para que as mães, sem experiência em longas viagens,
comprassem fralda para seus filhos. Seguiam sempre tranqüilos, risonhos, apesar
de não saberem quando voltarão para casa, pois, com os desmoronamentos,
provavelmente farão viagens somente entre São Paulo e Puerto Maldonado, por um
longo período.
Tudo por um
pequeno salário, tão pequeno quanto será... hora do jantar, contamos depois.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Alvorada
(MS), 08 de janeiro de 2014.
Caro Amigo
Tão pequeno
quanto será o miserável salário que muitos dos peruanos, que nos acompanhavam,
receberão em trabalhos escravos, que farão no Brasil, em confecções, a exemplo
do que vem acontecendo com os bolivianos. Uma vergonha para nós, brasileiros,
para qual o governo vem fechando os olhos por anos.
Uma situação
degradante para eles, que se vêem obrigados a abandonar suas casas, muitas
vezes deixar suas família, para submeterem-se a qualquer sorte de trabalho que
lhes é oferecida, em virtude da total e
desesperadora falta de condições de sobrevivência em seus países. Observe-se que eles não vêm pedir asilo e
lotar praças sem nada fazer. Eles vêm vender o único bem que ainda lhes resta,
sua força de trabalho, enquanto inescrupulosos tratam de explorá-los e
negar-lhes os direitos mínimos garantidos aos trabalhadores brasileiros.
O biótipo do
peruano, exceto do que vive na capital, onde já houve uma enorme miscigenação,
é muito similar ao do índio brasileiro, pele morena clara, estatura
média/baixa, cabelo preto liso, olhos amendoados. O que, por si só, muito
provavelmente, lhe representa um fator de discriminação quando da busca de
emprego aqui; além do fato de que, por terem visto de turista, estarão
trabalhando ilegalmente, mas um trunfo para os exploradores.
E, em meio a
tais conflitos, a chuva foi ficando para trás e sol chegando junto com Mato
Grosso e a quarta-feira.
Nos acostumávamos, dia a dia, à rotina do ônibus, a admirar a beleza da paisagem,
tão verde, a tirar muitas fotos e longos e reparadores cochilos. Entre tais
cochilos, muitas risadas, ao lembrar de certas passagens dessa viagem, que,
afinal, nos resultou muito peculiar e divertida.
E foi
chegando um preguiça de voltar a rotina de nossas vidas, afinal estava até
gostoso o nada ter que fazer por todos esses dias de viagem, só olhar,
escrever, escrever, escrever(pobrezinho do Caro Amigo que terá que ler tudo
isso, ah, ah, ah!) e dormir; isso meu companheiro também fazia com maestria,
descansou de todas as suas aventuras, afinal, como Dom Quixote, já não é tão
jovem, há que sentir o cansaço da estrada, por menos que queira admitir e, muito principalmente, há que por a mente a
maquinar novas aventuras (ah, ah, ah!).
E tudo
transcorreu na mais completa tranqüilidade até a nossa chegada a São Paulo, já
no dia 09/01/14, às 12:00 horas.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Santos, 10 de
janeiro de 2014.
Caro Amigo,
Conhecer
Machu Picchu (montanha velha em quéchua), sem ter escutado esse pouquinho de
história que compartilhamos com o Caro Amigo, seria um pecado, pois, para
apreciá-la devidamente, há que se conhecer as circunstâncias e ideais que
envolveram sua construção e perpetuação, assim como conhecer as perspectivas e
anseios de seus idealizadores; que permeiam, até hoje, apesar dos
conquistadores, o modo de ser do povo andino, os peruanos.
Então, em
30/12/13, fizemos nossa visita a Cidade Perdida dos Incas, declarada Patrimônio
Cultural e Natural da Humanidade pela UNESCO e escolhida como uma das Sete
Maravilhas do Mundo Moderno.
A cidade, a
2.400m de altitude, está quase sempre envolta em neblina, tem um ar fantasmal,
assim como sua própria história, envolta em profundos mistérios. O império inca
teve catorze imperadores e seu grande auge ocorreu entre os anos 1430 e 1525.
Pachakutec foi o grande idealizador dessa cidade que é a máxima expressão da
arquitetura imperial inca.
A cidade
divide-se, à grosso modo, em setor agrícola, composto por vários terraços, para
conter a erosão, com engenhoso sistema
de irrigação, nos quais se cultivava milho, mandioca, batata-doce, quinua e
coca, cujas folhas eram usadas para rituais.
A zona
urbana, composta por com um observatório astronômico, três praças e um complexo
de casas.
No setor sagrado
estão os Templos Inti Watana, das Três Janelas e do Sol.
Em muitas
partes da cidade, já tão envolta em mistérios, encontram-se referências a três
importantes divindades incas: o condor, no ar, que representa habilidade; o
puma, na terra, que indica força; e a serpente, sob a terra, representando
sabedoria.
A sua
localização foi escolhida em virtude da grande disponibilidade de água e da
matéria prima necessária para construção, as pedras, bem aos pés da Huyna
Picchu (montanha nova), que também pode ser visitada, por quem tiver preparo
físico, pois a caminhada, para subir ao topo da montanha, é íngreme, acidentada
e leva mais de uma hora.
Calcula-se que a sua construção, no engenhoso
sistema de pedras perfeitamente encaixadas,
para moradia de 500 a 700 pessoas, levou entre 50 e 80 anos. Acredita-se
que foi abandonada oito anos depois da chegada dos espanhóis, em 1540, sem que
se saiba exatamente o motivo.
As
edificações foram construídas em pedra com os tetos de palha, motivo pelo qual
nada sobrou deles, após 400 anos em que a cidade esteve abandonada, perdida e
tomada pelo mato, já que os espanhóis nunca puseram seus pés nela, ou lançaram
seus olhos sobre sua imensa riqueza, tudo foi mantido em segredo pelos nativos.
Acredita-se
que Machu Picchu destinava-se a morada de intelectuais, estudiosos e
sacerdotes, pessoas de inteligência bem dotada, seria um centro de estudos.
Alguns defendem que tenha sido o local de repouso do imperador inca. Há, ainda,
místicos que acreditam ser um local de contato entre incas e
extraterrestres. Fato é que o local era
suntuosamente adornado por riquíssimos objetos de outro e prata, um luxo
oferecido a poucos.
A cidade não
podia ser vista do vale, um dos motivos para somente ter sido encontrada em
1911, por um arqueólogo norte-americano, Hiram Bingham, com ajuda de um menino
quéchua, pois os moradores locais já sabiam da existência das ruínas. De posse
da correta localização de Macchu Picchu, dizem que ele a saqueado por anos,
levando para os Estados Unidos todos os objetos de valor encontrados no local.
Objetos que, hoje, se encontram em um museu particular de sua família.
Infelizmente, o governo peruano da época, nada fez, apesar dos protestos
ocorridos em várias cidades.
Machu Pucchu
foi encontrado intacto, capaz de fornecer informações preciosas sobre a cultura
inca, já que as demais cidades foram quase que totalmente destruídas ou muito
modificadas pelos conquistadores espanhóis, que edificaram suas construções
sobre as dos incas.
O local é
fantástico e mistérios a serem desvendados estão em cada pedacinho dele, mas,
em nossas mentes, a grande interrogação, o grande mistério, que permaneceu sem
qualquer resposta, é como os conquistadores, os invasores espanhóis, e uma
seqüência de governos desastrosos conseguiram destruir a grandiosidade e o
brilhantismo do povo inca, reduzindo seus descendentes à condição de quase
miserabilidade que vimos por muitos locais do país.
E aí,
lembramos de algo que lemos, recentemente, em nossa viagem para Santiago do
Chile, em um cartaz, dentro do metrô: ”Al cumprir 3 años un niño de una família
rica ha oído 33 milhones de palabras, el de uma família pobre, 11 milhones. ¿Cómo
revertiremos la diferencia? Cambia el mundo”. Ou seja, ao completar três anos,
uma criança de uma família rica escutou 33 milhões de palavras, a de uma
família pobre, 11 milhões. Como reverteremos essa diferença? Mude o mundo.
E percebemos,
uma vez mais, que foi na negativa à
educação que muitos de nós, latino-americanos,
fomos por eles transformados em pobres e ignorantes. Foi exatamente no
momento em que nossos bisavós, avós e pais, muitos deles migrantes e
imigrantes, deixaram de ter palavras para nos transmitirem sua cultura e foram
obrigados a aceitar o pouco que lhes era dado, como se fosse tudo que mereciam.
Foi exatamente nesse momento que deixamos de ser ricos; no momento em que
abandonamos nosso ecológico prato de folha de bananeira por um prato de lata de
goiabada, resto que alguém abastado já não queria e descartou, sobra!
Uma vez mais,
como sempre acontece, com a graça do bom Deus, tivemos o imenso prazer de
visitar lindos lugares, rever queridos amigos e conhecer pessoas admiráveis,
como já contamos ao Caro Amigo, que cruzaram o nosso caminho e contribuíram
para tornar nossas vidas ainda mais felizes; além de contar com a excelente
companhia do Caro Amigo, lógico!
Obrigado por
escolher nossa empresa para sua viagem (ah, ah, ah!)
Hasta la vista!
Beijos,
Sayo e Claudio
PS : Caso você não seja tão
aventureiro quanto nós, viaje junto com a Record, por meio do link abaixo.
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