sábado, 15 de novembro de 2014

EXPEDIÇÃO BÁLTICO - Polonia, Lituania, Letonia e Estonia - 2010

Santos, 24 de maio 2010.

 
Caro Amigo,

 
Ouvimos dizer que, em comemoração aos duzentos anos do nascimento de Frédéric Chopin, um de seus filhos mais ilustres, a Polônia realizará, durante todo o ano de 2010, concertos gratuitos, todos os dias, em todas as praças do país.

Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos 100.000.000.000.000.000 Km viajando (acrescentamos alguns zeros porque estava muito fácil ah, ah, ah!), resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada.

Aproveitaremos a oportunidade para tomar um banho no Mar Báltico e visitar a Lituânia, a Letônia e a Estônia. Afinal, embora não pareça, estaremos em férias (ah, ah, ah!). E, ainda, se possível, pagaremos nossa dívida do ano passado, iremos a Budapeste.

Vem com a gente!

Sayo e Claudio

 

Caro Amigo,

Para que você, que irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.



 

Compre seu bilhete, faça as malas (não esqueça o protetor solar, afinal já é quase verão e iremos ao Báltico), pegue o passaporte, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o gato com o vizinho e as crianças na casa da vó (criança não gosta muito de música clássica), prepare a pipoca, pegue uma Bohemia gelada (pode ser Brahma ou Antártica), confira se suas caixas acústicas estão funcionando bem, escolha uma poltrona confortável, ligue o computador e VEM COM A GENTE! 

Aproveite para enviar alguma dica para tornar nossa viagem mais interessante. Talvez alguma cidadezinha, que já visitou e achou incrível; um restaurante, que viu em alguma revista de turismo; um lugar que você gostaria de conhecer, mas ainda não teve tempo; ou mesmo o endereço de sua adorável avozinha polonesa, que faz  Pierogi, Borstch e Frango Kiev como ninguém, teremos imenso prazer em visitá-los, conferir  e contar tudo, nos mais mínimos e prazerosos detalhes.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Paris, 28 de maio de 2010.


Caro Amigo,

 
É política de nossa empresa (CRKTour) escolher sempre o vôo mais barato, pode ser até no bico da cegonha. Então, este ano, voamos pela TAP. Aproveitamos, ainda, as vantagens de falar a língua da tripulação; além da cadeira espaçosa (apesar da classe econômica) e a comida até gostosa, nem parecia papelão.

Quase nove horas de vôo. Chegamos a Lisboa com pouco mais de uma hora para o vôo de conexão que nos levaria a Paris, já nos víamos sentados na sala de jantar da casa dos amigos Paul e Olga, tomando um vinho e beliscando uma baguete e uns queijinhos franceses (claro!). Já enxergávamos o jardim florido, já sentíamos o cheiro da casa dos amigos.

Porta 9, metade do pessoal já tinha embarcado no ônibus que nos levaria ao avião, quando, de repente, chega a informação de que o vôo estava suspenso. Greve dos controladores de vôo em Paris, adeus baguete, queijo, jardim florido, cheiros... Nenhuma previsão para o embarque...

Rosas amarelas no portal; gerânios carmins, lilases e cor-de-rosa nas floreiras da varanda com decoração indiana; roseiras com cachos de rosas coloridas por todo o jardim; o pé de loro com folhas novas e verdinhas. Realmente a primavera chegou. E nós também, bem a tempo de uma taça de vinho, acompanhada de queijos, baguetes, abraços, sorrisos e a sempre agradável conversa com amigos. O atraso foi só de uma hora, suficiente para causar suspense e tornar mais agradável a chegada.

Chegamos ao aeroporto de Orly, por volta das 17:30, com bagagem completa e intacta, que, atualmente, é motivo de comemoração. Ligamos de um orelhão para a empresa encarregada de entregar nosso carro zerinho que, em dez minutos, nos encontrava da porta D, da ala oeste, do aeroporto. Em menos de meia hora já estávamos dirigindo pelas ruas de Paris, que, apesar de fria e chuvosa, continua encantadora.

No domingo passado faleceu a mãe de nosso amigo Paul, são muito diferentes as pompas fúnebres aqui. Dia 28/05/10, um almoço em família,  despedida do corpo antes de ser colocado no caixão, seguida de uma cerimônia religiosa de corpo presente. Após, uma reunião de amigos e familiares em casa de Paul e Olga. Para nós, brasileiros, nos parece um pouco estranho fazer uma espécie de festa após um velório, mas parece que, afinal, entendemos a lógica das coisas: estavam todos muito tristes, a maioria chorou durante a celebração, pois as homenagens e as músicas foram tocantes; depois em casa, na companhia dos amigos e parentes, todos encontraram uma palavra amiga e consolo, finalmente, após uns copos de vinho e caipirinha, um pouco de alegria. Na segunda-feira, será a cerimônia de cremação.

Hoje fomos à feira, como bem sabe o Caro Amigo, um dos nossos programas prediletos. Parar em frente aos balcões cheios de queijos maravilhosos, frutos do mar estranhos, pães e bolos suculentos, frutas e verduras fresquinhas é uma verdadeira diversão, que completamos com um pouquinho de prosa com os feirantes, que se lembram de nós dos anos anteriores.

Bem, mas agora é hora de começar os preparativos para o nosso tradicional Jantar Brasileiro na França. O cardápio? Contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Maison Alfort, 31 de maio de 2010.


Caro Amigo,
 

A primavera aqui segue estranha, um dia de sol, céu azul e temperatura não muito alta, seguido de um dia chuvoso, céu cinza e muito frio, por volta de 15 graus. Para os que preparam a mala: guarda-chuva e casaco.

Resolvemos, para o jantar, arriscar uma Moqueca de Bacalhau, estávamos um pouco preocupados, afinal a combinação azeite de dendê, coentro e leite de coco até para brasileiros parece, por vezes, um pouco estranha. Para nosso espanto, todos adoraram, repetiram! De aperitivo, lógico, caipirinha; para acompanhar o prato principal vinho, afinal, já que estamos na França, não poderíamos perder a oportunidade de beber um vinho francês (ah, ah, ah!). Primeira sobremesa, um dos hábitos franceses que mais nos agradam, queijos de diversas qualidades, de leite de cabra e vaca, que cheiram bem ou, às vezes, não muito, mas todos de chupar os dedos. Segunda sobremesa cocadas, todos amaram. Muito falatório, cafezinho e cama.

À Cara Amiga, que sabemos está curiosíssima para saber como anda a moda por aqui, informamos que as calças leging (não sei se escrevi certo, são aquelas que parece uma meia, coladinhas na perna, mas sem pé) continuam em alta, com vestidos, saias e shorts, mas nunca com o bumbum de fora; podem abusar dos coletes de todas as formas e cores, curtos ou compridos, simétricos ou assimétricos, lisos ou estampados, pesados ou leves; echarps, pashiminas e cachecóis, tão variados quantos os coletes, adornam os pescoços de oito entre dez parisienses. Observe, Cara Amiga, que é a adaptação da moda a não tão quente primavera francesa, entre 15 e 20 graus, que facilmente se encaixa em nosso outono/inverno, é só por em prática.

Passamos o domingo passeando por Paris. Fizemos umas comprinhas na feira do Kremilim, bairro com muitos argelinos, um de nossos passeios dominicais favoritos, sempre é possível encontrar alguma besteira para comprar; pistache para beliscar na viagem ou alguma tranqueira que juramos precisar, mas que, fatalmente, acabará no fundo de alguma gaveta, sem qualquer uso.

 A vantagem das cidades antigas é que sempre eram construídas às margens de um rio, já que não existiam as complexas redes de distribuição de água que temos hoje.
 Assim, seguindo as margens do Rio Sena, aproveitamos o dia chuvoso e frio para rever, da janela do carro, os principais pontos turísticos de Paris. Passamos pela Ilê de La Cite, uma pequena ilha fluvial, no meio do Sena, onde está a Igreja de Notre Dame e a Saint Chapele; Museu do Louvre; Museu D’Orsay, famosos pelos quadros impressionistas; Ponte dês Arts, de madeira e só para pedestres, onde fazemos picnic no Dia da Música; Place de La Concorde; Ponte Alexandre III, a mais linda, cheia de estátuas douradas; Les Invalides, antigo hospital de combatentes, que hoje abriga o Mausoléu de Napoleão; Grand Palais; Torre Eiffel. Quando o tempo melhorava e o sol parecia que ia dar o ar de sua graça, descíamos do carro para caminhar um pouco e comer um crepe.     
 
Assistimos a missa na Igreja da Medalha Milagrosa demos uma voltinha pela Champs-Élysées, para passar pelo Arco do Triunfo, voltamos para casa, pois já tínhamos compromisso para um aperitivo na casa de amigos.
 
Hoje o dia amanheceu um pouco melhor, até com um pouco de sol, mas ainda frio, já dava para arriscar sair à pé. Caminhamos pelas imediações do Louvre, para comprar algumas lembrancinhas, e pelo Jardim de Tuileries. Seguimos pelas margens do Sena, observando as pequenas bancas dos vendedores de livros usados e gravuras; passamos pelo mercado de flores, uma maravilha de perfumes, cores e formas, que nunca deixamos de visitar; terminamos com uma rápida visita à Notre Dame.

Fomos ao mercado para comprar alguma coisa para nosso último jantar, deste ano, na casa dos amigos. Um de nossos passeios prediletos, conhecer o que o pessoal come em outros países e comprar coisas para nossos picnics.

Bem, mas agora temos que abrir um vinho, preparar o jantar e debruçar sobre o mapa de viagem com Paul, que sempre nos dá alguma dica legal, sobre alguma cidade francesa a visitar. E não podemos dormir tarde, afinal amanhã queremos adiantar a viagem, talvez rodar uns 800 km, e não temos nem idéia de onde dormiremos.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Görlitz, 03 de junho de 2010.
 

Caro Amigo,
 

Da janela de nosso quarto, víamos os jardins dos fundos das casas do quarteirão, tudo muito verde com canteiros coloridos de flores e de ervas, mesas, cadeiras e guarda-sóis para as deliciosas refeições ao ar livre; cerejeiras carregadas de frutas quase maduras, que, seguramente, farão a felicidade dos pássaros que já enchem as manhãs de cantos. Infelizmente teremos que partir sem provar as cerejas, para a alegria dos pássaros, mas, também seguramente, voltaremos no ano que vem, já que passar por Paris e Maison Alfort é quase um ritual de início de férias.

Como sempre, não partimos cedo da casa dos amigos, mais um cafezinho, uma última recomendação, um último abraço e o tempo foi passando. Também, para que pressa, não temos nenhum encontro marcado, estamos em férias!

Após cerca de 600 km, resolvemos dormir em Koblenz (Alemanha), uma pequena cidade na confluência do Rio Reno com o Mozel, que seria muito agradável não fosse encontrar-se toda esburacada por obras, certamente estará fantástica no ano que vem.

 
É a cidade natal de nossa mascote de viagem, o Stutt, que ficou muito contente em rever seu antigo lar. Uma coisa nos chamou a atenção na fria primavera da cidade, todos adoram comer ao ar livre, portanto todos os restaurantes têm mesas na calçada; mas como a temperatura gira em torno dos 15 graus, são colocados cobertores nas cadeiras, assim o cliente, que sentir frio, pode se agasalhar enquanto come. Claudio aproveitou para comer um enorme joelho de porco, pururuca, acompanhado por repolho azedo e cerveja de trigo, evidentemente não precisou do cobertor.

 


Seguindo a viagem rumo à Polônia, a estrada seguia preguiçosamente em meio a pequenas cidades, matas e extensos campos de pequenas florezinhas amarelas (que não sabemos o que é), um pouco de congestionamento, muitas obras de duplicação e algo pior que não receber os documentos do carro ou atolar em uma salina a 4.000 metros de altitude: nuvem baixa, neblina, chuva e temperatura de 10 graus, um verdadeiro desastre para férias de verão

Mais 600 km no segundo dia, afinal não saímos muito cedo, fizemos umas comprinhas no Aldi (nosso mercado alemão predileto), paramos para um picnic enquanto ainda existia sol. Seguimos até a fronteira, cidade de Görlitz, onde pararíamos para dormir, pois entrar em um país desconhecido, com moeda diferente, língua que ainda não estávamos acostumados e no início da noite, nos pareceu uma fria.

Eu (Sayo) rezava por uma caminha quentinha, uma comidinha ainda mais quentinha e, preferencialmente, que estivessem as duas juntas, não me imaginava tomando banho e saindo novamente no frio e na chuva, afinal fiz mala para primavera, com um raro dia de baixa temperatura não inferior a 13 graus, mas juntar 10 graus, chuva e vento é um verdadeiro abuso! Nem me atrevia a perguntar ao Claudio o que pretendia fazer, seguramente pretendia tomar banho, vestir roupa de festa e sair dançando na chuva.

Ainda na estrada, passamos em dois Gasthofs (uma espécie de pensão familiar e restaurante), lotados. Encontramos um hotel com vaga, porém, além de longe, o preço nos pareceu caro e como nossa viagem este ano é mais longa, não podemos começar esbanjando euro.

Já na cidade encontramos vaga em um Gasthof que tinha um Biergarten (restaurante em um jardim), ideal para uma cerveja num dia de calor, acho que nunca usam por aqui. A família não falava uma palavra de outra coisa que não fosse alemão, mas era simpática e nos entendemos. A cama era uma maravilha, com aqueles levíssimos e quentíssimos edrenons de pena; enormes e fofíssimos travesseiros também de pena; macios lençóis de malha.

Lá mesmo havia um pequeno restaurante fechado, a sorte realmente sorriu para mim (Sayo). Depois do banho descemos, pedimos uma enorme caneca de cerveja, pois na Europa é mais comum a cerveja de barril servida em copos; outra coisa que adoro é que ela não vem tão gelada como no Brasil, portanto desce redondinha inclusive no frio. Na hora de comer, foi mais fácil ainda, a senhora veio com uma batata e um nuggets na mão e nos mostrou, acenamos que sim, não dava para querer ficar escolhendo. É muito comum aqui servir uma batata que é cozida e, depois picada em pequenos pedaços, é frita, às vezes com cebolas ou ervas, é uma delicia, macia mas com aquela leve tostadinha em algumas partes. Nosso prato tinha essa batata, salada, nuggets de porco e dois ovos, não nos fizemos de rogados, comemos até o último pedacinho, afinal estava quente e saboroso.

Dormimos como anjos, acordamos e continuava a chuva e o frio, demos uma volta de carro pela cidade, muito interessante, onde contrastam os antigos e bonitos edifícios de cinco andares, com os caixotes do comunismo. Fomos uma vez mais ao Audi, afinal não sabíamos o que nos esperava na Polônia, não queríamos passar fome (ah, ah, ah! Acho que só viajamos para comer, passear é detalhe, ah, ah, ah!).

A Polônia entrou em 2004 na Comunidade Européia e ainda está em fase de transição, adaptando-se as regras. A fronteira estava a 7 km de Görlitz, já estava aberta como nos demais países da comunidade, a estrada ótima, também com paradas com banheiro e mesas para picnic. O tempo até melhorou, a chuva parou e a temperatura subiu para 15 graus. Seguíamos até mais animados para nosso próximo destino que é ...

Hora de uma  parada estratégica, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Wroclaw, 05 de junho de 2010.


Caro Amigo,

 
Chegamos então à Veneza Polonesa, assim é chamada a cidade de Wroclaw, por estar situada em diversas pequenas ilhas do Rio Odra, que são interligadas por mais de cem pontes e cortadas por canais, sendo considerada uma das mais bonitas e antigas cidade da Polônia.

Chegamos na quinta-feira, também feriado aqui, então não havia trânsito, observamos a cidade e constatamos que, como na maioria das cidades européias, é difícil estacionar no centro e os hotéis centrais, que têm estacionamento, são caríssimos. Partimos para nossa rede de hotéis já conhecida, Etap, que no Brasil é Fórmula 1; pelo menos teríamos garantidos estacionamento, limpeza e fácil locomoção para cidade, pois tomando o bonde em frente do hotel, chegávamos em 20 minutos ao centro.
 

Wroclaw  pode ser até a Pequena Veneza, mais também é a cidade das igrejas, só no centro antigo contamos mais de vinte, a Polônia é uma país bastante católico, haja vista que já teve até um Papa. A maioria delas em estilo gótico, pé-direito altíssimo, geladas, austeras, com poucas imagens e quadros, candelabros de ferro, vitrais, externamente de um tijolinho já escurecido, como que queimado. A catedral possui um lindo retábulo em prata e imagens douradas e prateadas, que contrasta com a austeridade do local. Seguimos a procissão, passando por diversas pontes e igrejas.


Esqueci de contar que a família do Claudio é de origem polonesa, então viemos ao país à procura de alguma herança, deixada por algum parente milhonário, para assim custearmos mais algumas viagens (ah, ah, ah!). Enquanto isso não acontece, ele aproveita para relembrar sua infância, principalmente reavivar sua memória gastronômica, lógico!

Terminamos o dia na famosa Praça do Mercado, em cujo centro está majestoso edifício gótico da Prefeitura, um dos maiores da Europa, com suas pontiagudas torres; rodeada por pequenos, coloridos e suntuosos edifícios de quatro andares, exemplos de arquitetura da época em que a burguesia vivia nos pequenos palacetes do centro da cidade, deixando o campo, a periferia, para os agricultores.

Além dos diversos restaurantes, acontecia, na Praça, uma Feira das Nações, com barraquinhas de venda de produtos e comidas típicas. Escolhemos um restaurante de comida polonesa e o Claudio (eu também) deliciou-se com Borsh (sopa de beterraba) e Pierogi (pequeno pastel de massa cozida, normalmente recheado de queijo e batata, servido com manteiga, cebola e bacon fritos), bateu palmas, voltou a ser criança (tenho dúvidas se ele um dia cresceu), pois era o que a sua velha avozinha polonesa colocava em sua mamadeira, ou quase isso


 
No dia seguinte, o sol estava radiante, embora ainda bastante frio. Pusemos rodinhas nos pés e saímos, afinal não sabíamos como seria o dia seguinte. Já que a cidade é conhecida por seu grande número de estudantes, visitamos, na Universidade de Wroclaw, a Sala Leopoldina, em estilo barroco, cheia de pinturas e querubins, que mais parece uma igreja, subimos à Torre de Matemática para ter uma visão geral da cidade.


 Enquanto passeávamos pelas pontes e ilhas, observando a arquitetura e os jardins da cidade, encontramos uma ponte cheia de cadeados com nomes de casais gravados, parece que eles tem o mesmo costume de Pécs, na Hungria, como já lhe contamos no ano passado, para garantir amor eterno; como já pusemos nossos nomes na ponte húngara, resolvemos economizar o dinheiro  do cadeado.

 
Passeamos de barco pelo rio Odra. Fomos ao antigo matadouro, hoje galeria de arte, e Jardim Botânico, onde ficamos maravilhados com uma flor chamada Iris, que deve ser a união da palma com a orquídea, cores muito variadas, inclusive flores com duas cores; acreditamos que a de cor azul arroxeado é a que aparece em um conhecido quadro de Monet, pesquisaremos o assunto.  

Visitamos o mercado e fizemos um tour pela cidade num antigo bonde.

Jantamos na Praça do Mercado, que estava ainda mais cheia, pois, além da feira, havia show e parece que toda cidade resolveu provar os quitutes dos outros países.  Terminamos o dia na Fonte de Wroclaw, nós e, provavelmente, toda população do país, assistindo ao costumeiro show de Águas Dançantes, luz e som,  que, naquela noite, foi abrilhantado com uma linda queima de fogos, coisa para Ano Novo nenhum por defeito; estendemos nossa manta no gramado do jardim e nos deleitamos.

Não muito longe de Wroclaw, fica a cidade Czestochowa, maior destino de peregrinação da Polônia, pois no monastério de Jasna Góra se encontra a Madona Negra, padroeira da Polônia.


 A origem da imagem da Virgem é rodeada de fascinantes lendas. Em um manustrito medieval se pode ler  que São Lucas, evangelista,  pintou a imagem na tabua da mesa da Sagrada Família de Nazaré; a imagem permaneceu em Jerusalém, depois em Constantinopla, indo finalmente  parar na Rússia;  tendo o quadro chegado ao Monastério de Jana Góra, no século XIV,  pelas mãos do príncipe Ladislao de Opole. Já visitamos Aparecida, Fátima, Lourdes e outros destinos de peregrinação, mas nunca tínhamos visto tamanha aglomeração, exceto na canonização de Frei Galvão. O quadro fica no altar, estava adornado por placa de prata e pedras preciosas; fila de mais de uma hora nos levou aos pés do altar, onde o percurso ao redor de Nossa Senhora é feito de joelhos.
 
Embora o complexo todo seja grande, a igreja não o é e, para complicar, estava em reformas, era sábado e próximo ao feriado de Corpus Christi. No estacionamento, ônibus, carros, barracas de acampamento, gente fazendo churrasco. Mas, por mais incrível que possa parecer, tudo funcionava bem.

Mais uma dica de moda para a Cara Amiga, abuse das meias (trabalhadas, rendadas, quadriculadas, arrastão etc.) e das saias tulipa, estão realmente em alta.

Observamos um hábito muito engraçado nas despedidas de solteiro masculinas, o noivo sai para comemorar, em bares ou restaurantes, acompanhado dos supostos amigos, vestindo uns modelitos sensacionais, já encontramos um Coelhinho da Play Boy, um Mulher Maravilha, um Mafioso e outros que não conseguimos nem descrever, com perucas multicores, bumbuns postiços e outros adornos.

O povo é gentil, boa parte das pessoas fala inglês, portanto temos nos comunicado com facilidade, porém não temos encontrado muito material turístico. Criança por aqui não falta, em todo canto existe aquele menino loiro, de cabelo lisinho, cerca de 8 anos, cara bem redonda e ares de anjo traquina, comendo ou procurando alguma arte para fazer.

Bem, mas é hora de fazer o check in, já mudamos de cidade e o Caro Amigo nem notou, nada como uma viagem confortável para relaxar (ah,ah,ah!). Agora estamos na cidade cujo centro antigo não foi bombardeado durante a II Guerra Mundial, encontrando-se em seu estado quase que original, tendo sido declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO... a moça está pedindo o passaporte, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Cracóvia, 09 de junho de 2010.
 

Caro Amigo,
 

Disse Wilhelm Feldman, autor e crítico, que para encontrar a alma da Polônia, deves buscar na Cracóvia. A cidade, que foi a capital do país até o século XVII, lugar de moradia de reis, ainda guarda colossos de arte e arquitetura. E junto com todo esse ar aristocrático, convive, harmoniosamente, uma cidade moderna e dinâmica, cheia de estudantes e turistas.

A Praça do Mercado é considerada a maior praça medieval da Europa, medindo 200x200m, abriga, ao centro, o edifício do Mercado de Panos (Sukiennice), edificado em 1349,  onde se pode comprar algum souvenir ou tomar um café,  e  Torre da antiga da Prefeitura; ao redor, as Igrejas de Santa Maria e São Adalberto,   casas (similares as da praça de Wroclaw) e restaurantes, inclusive o mais antigo da cidade, Wierzynek, de 1364, onde comeram reis e rainhas, nós também, mas não achamos a comida tão sensacional e os preços são bem salgados. Hoje, ela é o coração da cidade, ponto de encontro, onde tudo acontece festivais, comemorações nacionais, shows de artistas solitários em busca de algum trocado, provavelmente até casamentos e batizados. Infelizmente, sua parte central encontra-se em restauração, então, do provavelmente maravilhoso coração da praça, somente vimos a parte superior da torres, o restante está envolto em telas de proteção. Quem sabe na próxima.

A cidade situa-se em um ponto estratégico para visita de boa parte dos mais interessantes pontos turísticos do país, daqui fomos à Wieliczka, cidade que abriga uma Mina de Sal de mesmo nome, declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, um verdadeiro mundo subterrâneo, com clima terapêutico, pois lá as bactérias não se reproduzem, existem, inclusive áreas destinadas a tratamentos de saúde. As temperaturas ficam na média de 14  graus. É um labirinto de dezenas câmaras, em nove níveis, com lagos, capelas, ferramentas e impressionantes estátuas esculpidas em sal. O percurso aberto a visitação é de 2 km e 22 câmaras, entre elas a Capela de Santa Kinga, a patrona dos mineiros que trabalham em minas de sal, onde além das estatuas, afrescos e pisos serem esculpidos em sal, os candelabros, que parecem de cristal, também o são.

E, principalmente, aprendemos que, na época que o gelo ainda não era conhecido como meio de conservação de alimento, nem existia qualquer sistema de refrigeração que não o natural, o sal valia mais que ouro, porém sua extração em minas custou a vida de milhares de homens, pois não havia sistema de iluminação que não por chama, o que causava freqüentes explosões devido ao acúmulo de gás metano no interior das minas.  Equipamentos de segurança? Nem na imaginação, coisa do futuro.    

Estivemos em Auschwitz I e Auschwitz II-Birkenau, na cidade de Oswiecim, onde a maioria dos prisioneiros, minorias como ciganos, homossexuais, deficientes físicos, dissidentes políticos, pessoas que estavam no lugar errado na hora errada, e, na sua grande maioria, judeus, trazidos dos diversos países onde Hitller estendeu seu domínio, chegavam acreditando serem conduzidos a campos de concentração e trabalho; mas que, na verdade, se encontravam em verdadeiros campos de extermínio, cujos métodos eram a câmaras de gás, experiências “científicas”, tortura, trabalho exaustivo, fome ou falta de higiene. A grande maioria dos prisioneiros, que lá chegava, não vivia mais que quatro meses, por vezes nem chegava a ser cadastrada, era imediatamente exterminada.  A morte de muito mais de  um milhão de pessoas é algo que deve ser lembrado para que nunca volte a ocorrer.

Visitamos  Wadowice, a pequena cidade onde nasceu o Papa João Paulo II, visitamos sua casa, onde hoje funciona um museu, justo ao lado da Basílica da Apresentação da Santíssima Virgem Maria.

Visitamos Santuário da Kalvária Zebrzydowka, segundo destino de peregrinação da Polônia, declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. No alto de uma verde colina surgem as verdes cúpulas do santuário mariano; seu interior, em estilo barroco, apresenta, como a grande parte das igrejas que visitamos até agora, altares laterais em madeira pintada de preto, onde destacam-se esplendidas pinturas à óleo, estátuas de anjos e adornos dourados. Mesmo tipo de decoração usado no altar principal, onde em destaque está a figura da virgem. Uma verdadeira preciosidade em beleza e conservação.

Um final de tarde, observe o Caro Amigo que final de tarde aqui é mais de oito da noite, pois só escurece lá pelas dez; em uma pequena estradinha, quando já voltávamos para casa (hotel), morrendo de fome e imaginando que ainda teríamos que tomar banho, trocar de roupa, sair pela cidade procurando um lugar para comer. Eu (Sayo) já mais que decidida a dormir com fome ou a beliscar algo que sempre tenho em minha enorme mala de emergência; Claudio certamente não pensava como eu, nem ousei perguntar, somente ameacei: se você encontra um lugar para comermos aqui na estrada, vamos comer no hotel.

A cada curva da estrada, aumentava sua cara de desespero, quando de repente, não mais que de repente, um cartaz de um cozinheiro indicando, a poucos quilômetros, um “delicioso” restaurante, pelo menos era a opinião do proprietário. Era uma casinha de madeira, parecida com a de João e Maria; duas pequenas mesas na também pequena varanda; em uma delas, homens bebiam e conversavam, a outra seria a nossa.

Quando entramos, eles nos cumprimentaram com a cabeça, viram de cara que éramos turistas, há coisas que não se consegue esconder, e, prontamente, nos cederam um de seus bancos de madeira. Veio o cardápio e, para variar, escolhemos Borscht (sopa de beterrada) e Pierogi (pastelzinho cozido), cerveja para acompanhar. Minha sopa, temperado caldo de cor beterraba, tinha pequenos pierogis, já a do Claudio, veio acompanhada de um enorme croquete. Já nos pratos principais, cometemos um delicioso equívoco, apesar da ajuda do jovem proprietário, que falava inglês, um deles continha Pierogis com recheios variados (queijo, carne e vegetais), já no outro, os Pierogis eram doces, sobremesa, coisas de cardápio em polonês. Como o que não tem remédio, remediado está, dividimos o salgado e atacamos o doce, o recheio deles era de queijo levemente adocicado, estavam mergulhados num creme de baunilha, regados por uma liquida geléia de morango e cobertos com uma bela porção de chantily. Sabe o Claudio, aquele que diz que não gosta de doce? Tive (Sayo) que disputar com ele cada pierogi, a garfadas. Pensamos que o Caro Amigo já deve ter captado nosso grau de satisfação com a comida, desnecessários elogios.

Reservamos a terça-feira para fazer nosso passeio pela cidade velha, caminhando calmamente e desfrutando a belezas da arquitetura e das igrejas. Sabe aquele lindo menino gordinho e loirinho, especialmente produzido na Polônia, do qual já lhe falamos? Acontece que ele ... já é tarde (sete da manhã), temos que sair para nosso passeio pelos Tatras, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Zakopane, 11 de junho de 2010.


Caro Amigo

Aconteceu que, no mesmo dia que reservamos para o nosso calmo passeio pela cidade, afinal ainda não estamos no período de férias escolares, nem no verão e nem a Polônia é um dos destinos turísticos mais procurados, aquele lindo menino loirinho resolveu fazer o mesmo programa; porém acompanhado de seu amiguinho magrinho, de seu vizinho, de seu primo, de sua amiga, da amiga de sua amiga, de seu irmão mais velho, de sua irmã mais nova e todos os filhos e filhas da torcida do Flamengo. Eram verdadeiras hordas de crianças e adolescentes, acompanhadas de professores a beira de um ataque de nervos, que lotavam ruas, igrejas, museus e praças. Os pestinhas, que deveriam estar sentados sofrendo nos bancos da escola, estavam espalhados pelas ensolaradas ruas (pois o calor chegou), fazendo da vida dos turistas um martírio.  A cidade estava mais cheia que a Fontana de Trevi, em Roma. Rezamos para que se trate de um fato isolado.

Mas sigamos nosso roteiro, que se iniciou na Colina de Wawel, a 228 m do nível do mar, na beira do Rio Wístula, onde está localizado o Castelo, de mesmo nome e a Catedral. Por sua posição geográfica é possível ter uma bela visão deles de vários pontos da cidade. No Castelo foi coroado o primeiro rei da Polônia, em 1320, e mais 34 que o seguiram, que lá viveram, sendo que cada um foi agregando algo a sua arquitetura, o que fez com que possua exemplos de diversos estilos, medieval, romântico, renascentista, gótico e barroco. Chegou a ser usado, após o fim da monarquia, como hospital militar e como quartel general alemão, durante a II Guerra Mundial. A visita é dividida em várias partes, fomos aos Apartamentos Reais, à Sala de Porcelana e à Gruta do Dragão, que é o símbolo da cidade e dizem viveu nas profundezas do castelo, com essa última não perca seu tempo, você desce, desce, em meio a escadas únicas, estreitas e escuras, até sair do castelo e encontrar um dragão, muito do sem graça, no meio da calçada. Já a Catedral, não visitamos, a fila de anjinhos era imensa, provavelmente nos tomaria todo o dia.

Seguimos nosso roteiro pelo Caminho Real, que conduzia os cortejos reais do Castelo à Praça do Mercado, passando pelas igrejas de: San Andrés, San Pedro y Pablo, Monastério dos Padres Franciscanos, Monastério dos Padres Dominicanos, Igreja de Santa Ana, Igreja dos Padres Escolapios, Igreja da Sagrada Cruz, Igreja de San Adalberto e Igreja de Santa Maria. Já deu para ter uma idéia da religiosidade do povo polonês. Todas são maravilhosas, a grande maioria em estilo barroco, como teríamos que escrever um livro para falar de todas, destacaremos a de Santa Maria, que é imperdível. Sua construção foi iniciada no século XIII, é um belo exemplo de arquitetura gótica, um show de cores, paredes do terracota, quase vermelho, ao salmão, com detalhes em negro e azul; o teto de um azul celeste intenso, salpicado de estrelas douradas; no altar principal está o maior retâbulo gótico da Europa (11 x 13m),  entalhado em madeira dourada e policromada, são 200 figuras que atingem até de 2,7 metros e representam cenas da vida da  Virgem;  o coro é maravilhoso, cadeiras em madeira escura e, sobre elas, entalhes multicoloridos; um enorme crucifixo pende do teto; atrás do altar, os vitrais são pequenos quadrados trabalhados, parecem selos cheios de detalhes; é até difícil de descrever, pois, para cada direção que se volte o olhar, é possível encontrar uma relíquia de valor artístico inestimável.

 
Visitamos a Barbakan e a Porta de San Florián, que faziam parte do sistema de defesa da cidade no século XV, juntamente com o murro que a cercava. Passamos pelo Teatro Slowacki, cujo projeto é baseado na Ópera de Paris e pelo Collegium Maius, a sede mais antiga da universidade da Cracovia, fundada em 1400. Terminamos na Praça do Mercado.

Para conhecer o famoso bairro judeu, Kazimierz, optamos por uma visita no final da tarde. As construções estão, em geral, um pouco decadentes, necessitando pintura e restauração, mas o fato não tira o charme do bairro, que é lotado de jovens e restaurantes retrô. Jantamos no jardim de uma casa do antigo gueto judeu.

Na quarta-feira, resolvemos conhecer as montanhas Tatras, verdes e ainda com os últimos restos de neve. Partimos cedo para a cidade de Zakopane, aproveitaríamos para passar pelas pequenas cidades ao redor, apreciando as graciosas casas montanhesas, geralmente térrea, feitas em madeira, que é limpa a cada inicio de primavera para se conservem clarinhas, como novas. Subimos de funicular até uma das montanhas, para ter uma visão melhor da paisagem. Experimentamos o famoso queijo defumado, Oscypek, típico da região, que é vendido em banquinhas pela rua, tem a cor de nosso provolone, porém, além de ter decoração em relevo, tem vários formatos, como cilindros, cones, conchas.

Tudo seria perfeito, não fosse descobrirmos que a saída a passeio dos pestinhas não foi um fato isolado, eles lotavam as lindas cidadezinhas, as igrejinhas, as montanhas, os teleféricos, as trilhas; eram ônibus e ônibus lotados. Era quase impossível tirar uma foto sem que um deles fatalmente aparecesse. Teríamos que nos adaptar ao jeito polonês de estudar.

Os pratos rápidos poloneses, que podem ser comidos enquanto se caminha pela cidade, assim como os crepes na França, são o Ovwarzanek (uma rosca redonda de pão, uma espécie de pretzel, porém mais grossa e com a massa mais consistente, polvilhada com sal, queijo ou semente de gergelim), o Kebab (uma espécie churrasco grego melhorado, de carne ou frango, com salada, muita pimenta e um molho yogurt) e a zapiekanka. (espécie de pizza, com recheios diversos, porém feita na metade de um comprido pão). Além do sorvete, preferência nacional, já que a temperatura anda em torno dos 30 graus.  

Aproveitamos a manhã do dia de nossa partida para tentar conhecer a Catedral. Chegamos cedo, só havia dois ou três turistas. Nela, em suntuosos túmulos espalhados pelas capelas laterais, que mais parecem pequenas igrejas pela sua beleza e riqueza de detalhes, estão o corpo de vários reis e rainhas, Quando saímos, a criançada já estava enfileirada do lado de fora. Demos, ainda, uma passada na Fábrica de Schindler e no Bairro Nowa Huta, bairro especialmente projetado e construído, após a Segunda Guerra Mundial, de acordo com as regras do socialismo, estilo denominado realismo-socialista, enormes caixotes despidos de qualquer adorno.

As estradas são boas, apesar da maioria ser de mão dupla; mas o maior problema é que estão cheias de policiais, que controlam a velocidade com o auxílio de um aparelho manual. O Claudio já foi parado duas vezes. Sabe o que aconteceu?... meu olho está fechando, o Claudio está dirigindo e eu pescando no banco do lado, estou morrendo de sono, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Varsóvia, 14 de junho de 2010.


Caro Amigo 


Aqui, quando um policial vê você aprontando alguma, ele levanta uma palmatória branca redonda, que tem um circulo vermelho no meio (ele não abana a mão, como no Brasil), você deve parar imediatamente. O primeiro guarda que nos parou, viu a placa do carro francesa e veio logo arriscando um “bon jour”, quando nos identificamos com brasileiros, ele abril um enorme sorriso, fez sinal para que fossemos mais devagar, despediu-se e quase pediu um autógrafo, deve ter pensado: Pô! Os caras vão ser HEXA (nós, brasileiros, não estamos tão seguros, afinal queríamos mexer um pouquinho no time). Já o segundo, estavam em dois, não foram tão simpáticos, fizeram um pouquinho de cena, ensaiaram uma bronca, disseram “slow” e nos dispensaram.

Tenho (Sayo) que fazer uma pequena defesa, o pobre do Claudio nem vinha voando baixo, como à vezes faz nas estradas alemãs, é que o limite de velocidade na Polônia é muito baixo e, se você vier a 50 km por hora em uma estrada, com uma fila imensa de carros na sua traseira, pois não é sempre que se pode ultrapassar, certamente aquele polonês que está doido para chegar em casa e encher a barriga  de  Pierogis vai te dizer um montão de palavrões, nem vai querer saber se você será HEXA.

A Polônia não teve uma história de guerras religiosas, pois o país sempre foi tolerante, possuindo a maior população judia da Europa, assim como fiéis de diversas outras religiões; por mais de cem anos, deixou de figurar nos mapas como país independente, pois foi dividida entre Áustria, Prússia e Rússia, voltando a ser um país independente em 1918, ao final da 1ª Guerra Mundial. Pouco tempo depois, em 1939, no início da 2ª Guerra Mundial, é invadida pelos alemães.

Varsóvia, como já o fizera anteriormente, voltou a ser o centro da resistência. Os judeus da cidade foram segregados, pelos alemães, em um gueto, quilômetros de muro no meio da cidade, que, em virtude do levante ocorrido em 1943, foi completamente destruído, sendo os judeus mortos ou levados para campos de concentração. Em 01 de agosto de 1944, a resistência resolve iniciar um levante contra dos alemães, foram 63 dias de luta feroz, a população é derrotada, morta, expulsa da cidade ou enviada para campos de concentração, mais de 200.000 habitantes morreram. Os alemães começam, então, a destruir a cidade de modo sistemático. Bibliotecas, museus, templos, palácios eram queimados ou explodidos, assim como casas e edifícios, 84% da cidade foi destruída. Após o final da guerra, inicia-se um meticuloso trabalho de reconstrução, que foi feito com tamanha perfeição que passou a figurar na lista de Patrimônios da Humanidade da UNESCO.

Chegamos ao final da tarde. A princípio a cidade parece assustadora, tem avenidas muito largas, parece difícil chegar de um local a outro, trânsito pesado (mas só na saída do trabalho, para ir para o happy hour), depois a gente se acostuma. É ótima, como as demais cidades polonesas que visitamos, para sair de carro, pois é possível estacionar até sobre a calçada, sempre aparece uma vaga, mesmo ao lado de um dos mais importantes pontos turísticos.

Varsóvia tem três maravilhosos castelos, o Real, na cidade velha, onde está em exposição o famoso quadro de Leonardo da Vinci, A Dama e o Arminho; o Wilanow, mais afastado do centro, ótimo exemplo de construção estilo barroco; o Lazienki, residência de verão do rei, no meio de um lago, num imenso parque, onde, aos domingos, em meio a um jardim de rosas, ao lado do monumento à Chopin, são realizados concertos apresentando músicas do compositor, claro que fomos. Os três são realmente maravilhosos; mobiliário, quadros e trabalhos em estuque luxuosíssimos, difícil indicar qual o melhor. Então, melhor que o Caro Amigo  vá visitá-los num domingo, como fizemos, quando os dois primeiros têm entrada gratuita e no último, às 16:00 horas, assistirá o concerto.

A Praça do Mercado, localizada no inicio do Caminho Real, que liga o Castelo Real ao Lazienki, assim como lhe descrevi sobre as de Wroclaw e Cracóvia, é rodeada de casarões dos antigos burgueses e ricos comerciantes, em baixo dos quais funcionam restaurantes e lojas; tendo ao centro a escultura de uma sereia com espada e escudo na mão, símbolo da cidade, pois contam que ela, em retribuição a um favor feito pelos pescadores locais, prometeu defender Varsóvia para sempre.

Seguindo o Caminho Real passamos por mais de uma dúzia de igrejas, todas lindas, onde encontramos, em geral, mais quadros que imagens de santos; altares principais e laterais escuros, com anjos e arabescos dourados; vitrais muito elaborados; delicados arranjos florais e toalhas bordadas. Destacamos a Catedral, onde todos os dias, ao meio dia, há concerto de órgão; e a da Santa Cruz, onde se encontra o coração de Chopin. Passamos pelo monumento à Insurreição de Varsóvia, ao Pequeno Insurgente, pois as crianças ajudaram muito na época da rebelião, transportando correspondências e coisas.

O Palácio da Cultura e Ciência, maior e mais alto edifício da Polônia, com 114 m, construído de acordo com o projeto de um arquiteto soviético, divide opiniões. Lá funcionam teatros, cinemas, bancos, empresas, bibliotecas, correio etc. Nós gostamos, de sua torre tivemos uma ótima vista da cidade.

Também é imperdível o Museu da Insurreição de Varsóvia, uma das coisas mais impressionantes que já vimos, mais até que Auschwitz, tamanha é sua riqueza de detalhes, apresenta de muito claro toda a máquina de destruição criada por Hitler. São fotos, filmes, depoimentos, documentos, roupas, veículos, um sem fim de coisas, apresentadas em ambientes especialmente planejados e em meio a sons, que tentam recriar o ambiente e a atmosfera da época. Inesquecível!

Falemos de amenidades, e quem não gosta do tradicional sorvete da tarde pode se deliciar com Gorf morninho (waffle) , coberto com frutas, geléia e muito chantily. É um verdadeiro crime de tão bom, depois que você come o primeiro, nunca mais pesa em outra coisa, deviam condenar à morte quem inventou. Fomos conhecer um “fumacinha” local, aprovamos, carne e lingüiça boas, pessoal muito simpático e cerveja muito gelada. Nos despedimos da cidade, com chave de ouro, num excelente restaurante contemporâneo, comendo  um generoso filet de bacalhau fresco, regado com um molho especial polonês, coberto com mexilhão e caviar, e um filet de vaca ao ponto, acompanhado por uma terrine de tomate e berinjela grelhados, imersa em molho de manjericão, e batata corada. Sem comentários!

Mas agora vem a novidade, pensa o Caro Amigo que está se dirigindo calmamente para o Báltico, a fim de tomar um banho de mar? Acontece que há muitos anos atrás, o pai do Claudio, que tem documento de estrangeiro e certidão de nascimento polonesa, pois foi para o Brasil quando tinha dois anos e nunca quis naturalizar-se, tentou obter seu passaporte junto ao Consulado da Polônia. Na ocasião o cônsul negou, alegando que a cidade não existia mais, que o território pertenceria, então, à Ucrânia, e mais um montão de desculpas. Aproveitando nossa estada aqui, compramos um mapa atual mais completo e um do período de 1918/1939 e nem lhe contamos o que aconteceu... não contamos mesmo, precisamos dar uma paradinha para ir ao banheiro, estamos na estrada.

Beijos

Sayo e Claudio  

 

Wola Uhruska, 15 de junho de 2010.
 

Caro Amigo,
 

Então, de pose dos mapas, começamos nossa pesquisa e não é que encontramos a cidade de Wola Uhruska, bem na fronteira com a Ucrânia. Tínhamos que conferir com nossos próprios olhos, então voltamos, pois a cidade estava mais ao sul.

O documento do pai do Claudio diz que ele nasceu na aldeia de Wola Uhruska, na Comuna de Sobibór, sendo a certidão emitida pelo Oficial de Registro Civil da Comuna de Swierze, Distrito de Chelm, Província de Lublin, República da Polônia.

Nós encontramos, no estado hoje chamado Região de Lublin, cuja capital é a cidade de Lublin, uma cidade chamada Chelm, próxima da qual está Sobibór, onde, entre 1942/1943, funcionou o campo de extermínio nazista de mesmo nome. E, principalmente, nas proximidades de tudo isso, encontramos a cidade de Wola Uhruska. Então agora, o Sr. Mikiolaj Kuczuk, que o cônsul polonês tinha aconselhado a tirar um passaporte de apátrida, voltou a ser cidadão polonês legítimo, sem qualquer sombra de dúvida. Procuramos o sobrenome na lista telefônica, perguntamos ao pessoal do hotel se conheciam a família, porém, infelizmente, não encontramos nenhum parente rico.

A cidade é pequena, quatro ou cinco ruas. O correio, o banco, os estabelecimentos funcionam em casas; existe uma igreja e um hotel, bem simpático, onde, é lógico, dormimos e jantamos, porque não existe outro restaurante. A cidade somente aparece com algum destaque porque está na entrada de um parque e uma dolina, aonde o pessoal vem para fazer circuitos à pé e de bicicleta; além de pescar; e, principalmente por ser morada de cegonhas, encontramos dezenas de ninhos, lotados de filhotes com suas mamães, dizem que o país tem a maior população de cegonhas do mundo, que deve estar toda em Wola Uhruska.

Não encontramos no país aquelas simpáticas estradas, cortando pequenas cidades floridas, cheias de românticas casas coloridas, com varandas ainda mais cheias de flores.  As casas mais pesadas, mais quadradas, têm um tom mais acinzentado, quebrado por um ou outro telhado vermelho, mas tudo é rodeado por uma vegetação verde exuberante, o que dá o charme ao local; mas lógico que também existem lindos jardins.

Há muito morango, eles são vendidos, grandes e bem vermelhinhos, em cestinhas retangulares, que o pessoal carrega para lá e para cá. Como também é comum carregarem buquês de flores, pequenos e grandes; encontramos a figura da florista, com sua pequena banca na rua, vendendo seus singelos pedacinhos de arco-íris.

Deixamos a cidade com a intenção de rodar todo o todo o dia até as proximidades da Lituânia, onde dormiríamos para, então, entrar no novo país pela manhã. Em todas as cidades que passávamos sempre havia, na entrada, um simpático hotel com restaurante, já contávamos com um deles para um jantar bem calórico, umas cervejas durante o jogo do Brasil e uma cama quentinha, pois o frio voltou, 16 graus

Mas não foi bem o que aconteceu, pois quando nos pareceu que seria hora de parar, estávamos em uma região de fazendas, onde os povoados são minúsculos e os hotéis, que encontramos, estavam fechados ou tinham preços muito elevados, pois eram hotéis fazenda, já estávamos em uma turística região de lagos.

Sem melhor opção, acabamos entrando na Lituânia à noite, sem o dinheiro local, sem ter a mínima noção da língua e sem hotel. Na primeira cidade, péssima sorte. Seguimos para a próxima, 25 km depois, quase 8 horas, adeus jantar, cerveja e gols.

Chegamos à cidade, Alytus, pequena e deserta, avistamos, sobre um edifício ao longe, uma placa de hotel,  fomos a sua procura. Quem sabe teríamos melhor sorte? Mas isso contamos depois, tenho que preparar o café da manhã (lógico que sou seu, Sayo, pois o Claudio ronca sonoramente ao meu lado).

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Alytus (Lituânia),  16 de junho de 2010.
 

Caro Amigo,
 

A Lituânia é um pequeno país, com uma história muito parecida com a da Polônia, com quem se juntou, em 1569, formando o estado Lituano-Polonês, seguiram-se a anexação a Áustria, Prússia e Rússia e lutas para preservar idioma, cultura e religião (católica romana). Após 1ª Guerra Mundial, declaram sua independência, mas, com a 2ª Guerra Mundial, são dominados pelos nazistas e, posteriormente, pelos soviéticos; somente readquirindo sua independência em 1990.  

O país, embora pequeno, cerca de 65.000 km² e 3.4000.00 habitantes, tem muito orgulho de sua história, preservando suas tradições e seu folclore, que foram declarados Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO. É um país de natureza exuberante; planaltos, planícies, lagos e rios que proporcionam a prática de esportes náuticos, ciclismo e pesca. Povo muito tranqüilo e gentil; magros, loiros e de olhos claros.

A bebida nacional, infelizmente, é a cerveja, fabricam mais de 100 marcas, faremos o grande esforço de provar umas dezenas (ah, ah, ah!). Entre as comidas típicas uma sopa fria de beterraba e creme de leite; zeppelins (um grande nhoque no formato de um kibe, com massa mais pesada e consistente; recheado com uma mistura de carne, legumes e requeijão, servido com manteiga e cebola frita ou creme de leite ácido) e um pastel assado, muito parecido com as salteñas (já lhe contamos em nossa viagem para Salta, Argentina, do final do ano passado).

Os pães são nota dez, escuros ou claros, com mil grãos, aromas e gostos; massa firme, encorpada, dá até pena colocar queijo ou geléia, merecem ser comidos puros. Agora para acompanhar a cerveja nunca encontramos nada melhor que uns pequenos bastões de pão frito, com sabor de ervas e alho, bem durinhos e sequinhos, que a gente vai molhando em uma pasta de alho e queijo, ou são servidos besuntados nela. A gente vai mordicando entre os goles de cerveja, não tem batata frita, amendoim, azeitona, salame ou qualquer outra coisa que os vença, o Caro Amigo terá que vir para conferir pessoalmente tal iguaria, pois nos faltam palavras para elogiar-la

Mas o Caro Amigo dever estar querendo saber é sobre o tal hotel, que estava na placa. Chegando lá encontramos uma senhora gordinha, loira, de olhos claros, cara redonda (deve ser a mãe daquele garoto, sobre o qual já lhe falamos, que tem nos acompanhado pela Polônia e Lituânia) e muito simpática, que tinha um inglês bem pior que o nosso, mas não estava nem aí, falava pelos cotovelos, apresentou-nos sua filha, que estudava turismo e hotelaria, falou-nos de sua outra filha, campeã de natação, e o tempo correndo, e nós só pensando no jogo. Mostrou-nos um quarto de 30 euros; depois um pequeno apartamento, com TV LCD, uma pequena cozinha e um confortável sofá (excelente para assistir jogo, pensamos), por 35 euros, já estávamos mais que decididos, mas ela insistia em apresentar-nos as qualidades do apartamento. Levou-nos até uma cozinha maior e informou que também poderíamos usar. Eu (Sayo) lá queria saber de cozinhar, estava era doida para ver o jogo.

Depois de nos desvencilharmos da amável senhora, ainda encontramos, no estacionamento, sua filha adolescente, a campeã de natação do país, que estava louca para falar com os turistas brasileiros, afinal provavelmente tenhamos sido os únicos brasileiros que já estiveram na cidade, pelo menos foi o que nos deu a entender o gerente do banco onde fomos, no dia seguinte, trocar dinheiro. A menina era muito simpática e falava inglês muito bem, aliás, muito melhor que nós, proseamos um pouco, lhe demos uma caixa de bombom Garoto, ela ficou muito feliz e sua mãe mais ainda.

Agora o Caro Amigo deve estar pensando: Mas e o jantar? Dirigindo o dia todo, sem parar para almoçar, devem estar famintos! Aí lançamos mão de nosso pequeno estoque de emergência, que incluía vinho espanhol, queijo francês, embutidos e terrine alemães, pão e tomates poloneses waffles belgas e, ainda, uns chocolates lituanos, cortesia de nossa senhria (ah, ah, ah!). Nada como viajar pela União Européia, é possível encontrar comida da Europa toda no supermercado, por isso adoramos fazer excursões aos supermercados. Na hora que a seleção canarinho entrou em campo, estávamos confortavelmente sentados no sofá, não perdemos um só lance.

No dia seguinte, na hora da partida, ainda ganhamos morangos de nossa simpática senhoria. Então rumamos para a capital do país.

Nos vemos por lá!

Beijos,

Sayo e Claudio

PS- Sumimos por uns dias, mas estamos muito bem, estávamos sem internet. Colocaremos as noticias em dia.

 

Vilnius (Lituania), 18 de junho de 2010.
 

Caro Amigo,

 

No caminho, demos uma paradinha em Trakaj, uma pitoresca cidade localizada entre lagos, que já foi capital do país, para visitar o seu castelo de conto de fadas, localizado no Lago Galves.


Trakai is a fabulously picturesque little town on water.

 

 

The fairytale castle was rebuilt in the 1950s and is now known for being the only castle with a lake as its main defence in the whole of Eastern Europe.

Como na Lituânia não existe a rede de hotéis que estamos acostumados a ficar, ao chegarmos a Vilnius, resolvemos passar no Centro de Informações Turísticas, já sabíamos sua localização, pois tínhamos um mapa da cidade, continuamos não usando GPS, continuamos no velho e bom mapa, afinal não queremos perder a oportunidade de nos perdermos pelo mundo (ah, ah, ah!).

É uma boa opção quando não se tem hotel, geralmente, você diz o que precisa e quando quer pagar, eles fazem o milagre de arrumar. Lá conseguimos reservar um Bed & Breakfast, bem no coração da cidade velha, com ótimo preço e estacionamento, o que é bem difícil na Europa. É bem verdade que o banheiro privado do quarto não ficava dentro dele, mas sim no corredor, afinal não se pode ter tudo e, pelo menos, ele era só nosso. O hotel era realmente muito bem localizado e o pessoal, jovem e muito simpático, deram-nos boas dicas.

Vilnius, cortada pelo Rio Neris, tem uma população pouco maior que a da cidade de Santos, é uma cidade muito elegante, tem seu centro antigo muito limpo e bem preservado, com belos exemplos de arquitetura barroca, gótica e clássica, espalhados por seus claros edifícios de três andares, castelos, teatros e igrejas; e, por isso, está na lista de Patrimônio Mundial da UNESCO. Tem também uma parte nova, com enormes modernos edifícios.

 

 

The capital of Lithuania , Vilnius is the biggest and most beautiful city in the country.

 

 

 

 

 

 

 

 

Vilnius was first mentioned in 1323 in the letters of Lithuania's great ruler Grand Duke Gediminas, who invited craftsmen and merchants from all over Europe to settle here.The city has a stunning array of Baroque and Gothic architecture and one of the largest Old Towns in Central and Eastern Europe, which takes up 360 hectares and is on the UNESCO World Herita

Merece destaque a Basílica de São Estanislau e São Ladislau, com seu interior branco, estilo clássico, enormes colunas, lembrando um Fórum Romano. Quase que desprovida de estátuas, mas com enormes e coloridos quadros de molduras douradas. Também merece destaque a Igreja de Santa Ana, estilo gótico, famosa por sua fachada de tijolos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

By 2009, Lithuania's millennium, the Lower Castle , built originally in the 16th century, will have been re-erected next to the Cathedral after extensive renovation. St. Anne's Church (16 cent.) is a masterpiece of Gothic architecture famous for its intricate and beautiful facade ornamented with red-brick twists and turns and three graceful towers.

 

Next to St. Anne's stands the ensemble of St.Francis' and Bernadine Church , the latest discovery at which are several frescoes hidden from view for several centuries under a layer of plaster.They are now being restored.

 
A Dawn Gate (Porta Aurora) é uma das portas do antigo muro de defesa da cidade. Como era costume da época, em uma pequena capela (aproximadamente 5x3m), localizada em seu interior, foi colocada uma imagem da Virgem Maria, para proteger a cidade. Aqui se trata de uma pintura do século XVI, de autor desconhecido, que sobreviveu a diversas guerras e invasões. Hoje, ela é denominada Nossa Senhora da Misericórdia, sendo, curiosamente, um sagrado de renome tanto para os católicos romanos como os ortodoxos, que, ao passar pela porta, donde a Santa pode ser vista por uma janela, param para rezar ou sobem até a capelinha para fazê-lo mais de perto. A ela são atribuídos vários milagre e o Papa João Paulo II visitou o local.   

A cidade fervilha de gente bonita e elegante, com vida cultural intensa, mil teatros, cinemas e salas de apresentações. Aproveitamos a oportunidade para realizar um antigo sonho, assistimos a Ópera Carmen O teatro não era em um daqueles antigos e majestosos edifícios, que nos encantam, era mais moderno, mas não menos bonito e elegante; com grandes lustres de cristal; poltronas vermelhas e sofisticados bares circulares, em volta dos quais as pessoas bebiam drinks da cor da bandeira lituana (verde, vermelho e amarelo), uma taça de champanhe ou um café. A apresentação era em francês, com legenda, que fica na parte superior do palco, em lituano, do lado esquerdo, e em inglês, do lado direito. Figurino, orquestra, cenário, atores, tudo sensacional. Uma noite memorável.

Descobrimos que o Bed & Breakfast, em que estávamos hospedados, pertencia a uma pequena rede e existia um na cidade para onde nos dirigiríamos, Klaipeda, no Mar Báltico. Como seria final de semana, aproveitamos para fazer uma reserva, já que tínhamos simpatizado com o estilo dele e com o pessoal.

Partimos cedo, com duas missões a realizar, antes de chegar, no mesmo dia, ao nosso destino. A primeira era passar em um museu etnográfico a céu aberto, Leituvos Liaudies Buities Muziejus, onde poderíamos conhecer um pouco mais da arquitetura e costumes de todo o país. Ele é muito interessante, são dezenas de casas antigas, celeiros, igrejas, brinquedos, estábulos e oficinas de trabalho, em madeira; que foram desmontados na sua região de origem, trazidos e remontados no local. Estão mobiliados com riqueza de detalhes, muito interessante.

Nossa segunda missão era passar, rapidamente, pela cidade de Kaunas, dar uma olhadinha e seguir viagem, para chegar ao nosso destino, que estava a 200 Km, antes das 21 horas, hora em que a parte administrativa do hotel fecha, pois os hóspedes ficam com as chaves do local, para entrar e sair à vontade.

Chegamos à Kaunas por volta de 16 horas. O sol estava radiante, fazia até calor. A cidade é um verdadeiro brinquinho de princesa, muito romântica, pequenos edifícios de dois andares, com lindas varandas de ferro; iluminação feita por postes também de ferro, onde estavam penduradas floreiras e amarrados enormes laços brancos com flores; aqui e ali um palco; muita gente caminhando, com vestidos esvoaçantes, bonitos penteados ou pequenas coroas de flores nos cabelos. Parece que haveria uma festa. Agora tínhamos um grande problema, deveríamos partir, mas nosso coração nos pedia para ficar. Não tínhamos nem idéia de como telefonar para o hotel, a fim de alterar a reserva. Por isso não gostamos de viajar com hotel reservado! Depois pensar um minuto...  hora do café, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Kaunas, 19 de junho de 2010.
 

Caro Amigo,
 

Apesar da temperatura não ser de verão, a média é de 16 graus, no meio do dia chega a uns 20º e, à noite, chega a cair para uns 10º, situação que se complica com um constante ventinho gelado; temos nos divertido muito, os dias são bonitos, com sol, e os preços são bem baratos, um quilo de cereja custa cerca de R$4,00, dá para comer até enjoar.

O país é verde, cheio de parques e reservas, uma pena que os lituanos não tenham o hábito de fazer picnic ou comer algo rápido enquanto caminham por ruas e praças, são mais formais, só comem em restaurantes ou cafés. Nada de fazer farofa!

Como notou o Caro Amigo, nos rendemos aos encantos de Kaunas. Depois de pensar um minuto, lembramos que a nosso hotel também tinha uma filial na cidade, corremos até lá, alteramos a reserva para o dia seguinte e ficamos. Ótima decisão! Era um festival de música, em comemoração à chegada do verão.

O nosso hotel era ligado à cidade velha por um longo calçadão, de cerca de dois quilômetros. Ao centro, dois corredores de árvores, que garantiam uma caminhada confortável; alguns bancos, onde senhoras conversavam e mães vigiavam seus carrinhos onde, como anjos, dormiam aqueles loirinhos gorduchos. Nas laterais, lojas, cafés e restaurantes.

Caminhamos pelas ruas do centro, parando um pouquinho em cada palco, espalhados pelo centro. Todas as lojas estavam abertas, seus proprietários usavam roupas campestres, e tinham pequenas bancas, do lado de fora, onde demonstravam produtos, serviam quitutes ou, simplesmente, brincavam. Assistimos a apresentação das crianças; fizemos uma contribuição para a da Sociedade Protetora dos Animais, onde havia um concurso de gatos; ouvimos o solitário saxofonista e dançamos um pouco com a moçada. Paramos, para a cerveja e o jantar, junto ao palco da Velha Guarda, para escutar, entre boleros, salsas e blues, algumas músicas da Bossa Nova. Nos rendemos também àquele quentinho cobertor, que usam na área externa dos restaurantes, pois quando a noite chegou, também chegou o frio.

Estávamos em uma praça, em frente ao edifício onde são realizados os casamentos e onde são realizadas as despedidas de solteiro também. Parece que aqui os homens não têm o hábito de saírem fantasiados, mas as mulheres arrasam. Vimos a anja, toda de branco, com asa e tudo, e suas amigas capetinhas, de preto e com chifrinho vermelho; a presidiária, de roupa listada, com suas amigas policiais, de preto e com algemas na cintura; entre outras. O Claudio, muito assanhado, ia correndo tirar foto com todas, logo se apresentando como brasileiro, para fazer sucesso. Espertinho né?

O dia seguinte amanheceu chuvoso e gelado, partimos em direção ao Báltico com grandes esperanças, pois já que não encontramos nenhum parente rico, tentaríamos nosso plano número dois, que é ... hora de partir, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio  

PS – Nossa amiga Nayla, que vive na Áustria, contou-nos o motivo da criançada estar por aí, dificultando a vida dos turistas, estamos retransmitindo o email dela para o Caro Amigo.

Date: Sun, 13 Jun 2010 14:52:46 -0300
From: naylasaurer@uol.com.br
To: crktour@hotmail.com
Subject: Re: Zakopane

É isso aí minha amiga!!!!!Nesta época,as criancas européias já estao de férias pois já fecharam o programa e as notas mas a carga horaria ainda nao;por isso eles vao passear,visitar museus,concertos,musicais,torneios etc etc até o final do mes ,quando recebem os boletins e ai entao estao,oficialmente,de ferias!!!!!!
Bjns,
Nayla

 

Klaipeda, 21 de junho de 2010.


Caro Amigo,


O âmbar é uma das grandes riquezas do país. Dizem que pode, com facilidade, ser encontrado nas areias do Báltico.  Tentaríamos, então, encontrar um bocado deles e, assim, garantir nossas futuras viagens (ah, ah, ah!). De quebra, tiraríamos o maiô do fundo da mala e daríamos uns mergulhos.

Se você nunca ouviu falar de Klaipeda, não se preocupe, pois você não perdeu nada, risque o nome do seu caderninho e siga sua vida normalmente. A cidade, embora não seja feia, não tem a mínima graça, é sem vida. Quando o Caro Amigo vier à Lituânia e quiser molhar os pés no Báltico (outra coisa que não aconselhamos, pois ele é gelado e cinza) prefira hospedar-se em Palanga, uma cidade a 23 km, onde tudo acontece, é cheia de gente e de restaurantes super transados.

Também viemos à região para conhecer a Península de Neringa, declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, por sua flora, fauna e dunas de areia. Levantamos cedo, tomamos o ferry, atravessamos um pequeno braço de mar (Kursiu Marios) e chegamos a ela, que tem cerca de 60 Km,  sendo parte deles um parque nacional, com trilhas, ciclovia, mirantes e vilas de pescadores. Nida, uma das vilas, é uma gracinha, suas casas de madeira são muito coloridas e têm entalhes que imitam renda, com jardins primorosos. Mas já as tais dunas de areia! Sinceramente! É coisa de europeu! São de uma areia acinzentada, sem nenhuma graça, já vimos bem melhores no nordeste do Brasil. Assistimos, ainda, a um Show de Golfinhos, nunca tínhamos visto, é muito legal.

Assistimos ao segundo jogo do Brasil na parte externa de um restaurante, em Klaipeda, que tinha duas enormes TVs de LCD e bandeiras de vários países. Fomos a caráter, com camiseta, pulseira e cachecol. O pessoal não deu muita bola, até o povo da cidade era sem graça ou, talvez, torcessem para a Costa do Marfim; mas o alemão, que estava ao nosso lado, deu-nos o maior apoio. Teria sido bem divertido, não fosse sacanagem que fizeram com o Kaka.

Deixamos a cidade, sem qualquer tristeza, com a intenção de passar na Colina das Cruzes antes de deixar a Lituânia e entrar na Letônia, porém, como chovia muito e a temperatura era de 10 graus, revolvemos conhecê-la na volta e tocar de país, quem sabe o tempo por lá estivesse melhor.

A Letônia também é um pequeno país, com uma história muito parecida com a da Lituânia, foi parte da Polônia, invadida por suecos e russos. Após 1ª Guerra Mundial, declaram sua independência. Durante a 2ª Guerra Mundial é invadida pelos nazistas e, após a retirada deles, pelos soviéticos, que foram cruéis, deportando grande parte da população para a Sibéria readquiriram sua independência em 1991. 

O país é pequeno, arborizado, relevo suave, produtor de cereais e com indústria metalúrgica muito desenvolvida; possui muitos lagos e rios, que deságuam no Báltico. A maioria da população é luterana. Sua moeda vale mais que o euro, muito estranho, pois nos pareceu mais pobre que Polônia e Lituânia, as residências rurais e urbanas são mais humildes e mal conservadas; as estradas estão em pior estado. Dizem que têm ótimos chocolates e doces, produzidos por uma empresa chamada Laima, além de uma excelente cerveja, Aldaris. Descobriremos!

Próximo à fronteira do país, antes de nos dirigirmos à Capital, Riga, visitamos o Palácio Rundale, construído entre 1736 e 1740, como residência de Verão do Duque de Kurzeme’s, pelo arquiteto da corte imperial da Rússia, Francesko Bartolomeo Rastrelli, que também se encarregou de vários edifícios famosos de São Petesburgo. Um dos mais belos exemplos de arquitetura barroca e rococó que já vimos; os trabalhos em estuque, brancos, dourados e coloridos, são impressionantes em detalhes e variedades. Vale a  pena vir à Letônia para vê-lo.

Enquanto na Polônia os banheiros são indicados com um triângulo (homem) e um círculo (mulher), aqui temos encontrado, em muitas portas,  um coração, difícil foi descobrir do que se tratava, depois de muito pensar... hora de dormir, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Riga (Letonia)), 23 de junho de 2010.
 

Caro Amigo,
 

Depois de muito pensar, deduzimos que se anjo não tem sexo, coração também não deve ter, então entramos coração à dentro, e era verdade, porta com coração é comum para ambos os sexos.

Contam que, há muitos anos, vivia, às margens do Rio Dáugava, em uma cabana, um homem muito alto, que trabalhava carregando as pessoas de uma margem à outra. Uma noite, enquanto dormia, ouviu o choro de um menino, que vinha da outra margem. Rapidamente, foi buscá-lo. Na metade do caminho o menino tornou-se tão pesado, que o homem teve que fazer grande esforço para chegar à margem. Ao chegar a sua cabana, colocou o menino para dormir e, no dia seguinte, encontrou em seu lugar um grande saco de ouro, que ele guardou até a sua morte. Contam também que o homem se chamava Cristovão, que a fortuna deixada foi utilizada para fundar a cidade de Riga e que sua cabana ficava no local onde foram construídas as primeiras casas. Se é verdade não sabemos, mas é o que contam e nós vimos, com nossos próprios olhos, e inclusive fotografamos, a estátua do Santo às margens do rio.

O centro antigo da cidade, que foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, fica às Margens do Rio Daugava, sendo cortado por um canal e belos parques. Aproveitamos uma bela tarde de sol, embora fria, para percorrê-lo à pé, conhecendo pequenos becos e pátios, com pequenos cafés e antiquários. Passamos pelo esbelto Monumento à Liberdade, pela House of the Blackheads, pela Catedral, pela Igreja de São Pedro, observando o contraste de seus telhados com o azul do céu, e o quebra-cabeças que formavam com os outros telhados e edificações. Fomos conhecendo as pequenas estátuas dos gatos espalhadas pelos telhados. Mas grande destaque da cidade é sua decoração  Art Nouveau, um terço dos edifícios do centro foram construídos nesse estilo, a grande maioria está recém restaurada. Também fomos ao Museu Etnográfico da Latvian (é como eles chamam Letônia), algo parecido com o que já visitamos na Lituânia.

Resolvemos visitar o elegante balneário de Júrmala e tentar, mais uma vez, a sorte nas areia do Báltico, novamente ela não nos sorriu; é bem verdade que a areia estava mais clara e o mar um pouquinho mais azul, mas o frio e o vento estavam bem piores, e, mais uma vez, nada de banho e nada de âmbar, continuaríamos pobres e deixaríamos o banho para o chuveiro do hotel. Porém nem tudo foi perdido, a beleza da cidade compensou, casas de madeiras, em tons pastéis, com entalhes rendados, jardins muito coloridos, tudo em meio a muitas árvores. Muitas lojinhas, restaurantes e gente elegante caminhando com seus minúsculos cachorrinhos, não menos elegantes.

Temos encontrado muitos gatos, parece que são queridos pela população dos três países que já visitamos (Polônia, Lituânia e Letônia), eles são lindos, gorduchos, peludos e têm a cara grande e um andar sorrateiro, parece que estão sempre em busca da próxima vítima.

No dia 23, pela manhã, fomos ao supermercado, pensamos que havia sido deflagrada a III Guerra Mundial e todos tinham resolvido abastecer a casa de provisões, pois o mercado estava lotado. Também nos chamou a atenção a pressa das pessoas, seguramente algo, que nós não sabíamos o que era, estava acontecendo. Começamos a observar o que compravam: tochas, tomate, pepino, pimentão, batata, queijos, bebidas, doces, carvão, carne? Nada de arroz, feijão, açúcar, óleo, material de limpeza. Nada de coisas básicas, então, felizmente, não era guerra. Tratamos de apurar o que estava acontecendo, acontece que... hora do banho, temos uma festa hoje à noite,  contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio   

 

Riga (Ligo), 24 de junho de 2010.
 

Caro Amigo,
 

Acontece que Letônia comemora, com pompas e honrarias, a chegada do verão, é o feriado mais querido em todo o país (23 e 24/06), chamado Jãni. Teve origem em uma festa da fertilidade pagã, os antigos celebravam o dia mais longo do ano, quando a luz é mais potente, com músicas, danças e muita cerveja; acendiam fogueiras e, depois, pulavam sobre suas brasas, para ter boa sorte. De acordo com a tradição, os participantes deveriam ficar acordados até o sol raiar, no dia seguinte.

Também é uma tradição festejá-la no campo, no meio do mato mesmo, em rudimentares acampamentos, principalmente os jovens enamorados. As crianças, que nascem em março, nove meses depois, costumam ser chamadas de filhos do Jãni. Todas as conversas, em junho, são a respeito de onde passar o feriado, pois ninguém quer ficar na cidade, somente nós, os turistas, que ficamos sabendo tarde de mais, e não tivemos tempo de preparar nossa ida ao campo, pelo menos a Prefeitura se encarregou de organizar uma grande festa, para quem, tristemente, ficou na cidade.

As cabeças femininas encheram-se de lindas coras de flores, e as masculinas de enormes coroas de folhas. Por todos os lados estão vendedores de flores e fazedores das tais coroas. E quem não tem coroa, tem que, pelo menos, carregar um buque.

Então, como pode ver o Caro Amigo, o fato é que também encontramos Riga festiva. Também comemorando a chegada do verão, só não conseguimos entender, até agora, é onde ele está, pois o frio é cruel. Como dizem que a propaganda é a alma do negócio, improvisei minha coroa de flores e saimos desfilando pela cidade, quem sabe o verão se anima e resolve dar o ar da graça.

Aproveitamos a festa organizada na beira do rio, com palcos para apresentações musicais, fogueiras, feiras de produtos alimentícios regionais, artesanato, flores, churrasco, queijo, cerveja e muita gente andando para lá e para cá com buques e coroas de flores na cabeça, dançando, rindo e conversando. Realmente foi um dia longo, já passavam das onze da noite e ainda era possível ver claridade no céu.

Foram colocadas longas mesas comunitárias, com banco, onde o pessoal sentava para comer e assistir aos concertos. Sentamos em uma delas para apreciar tudo e, é lógico, comer e beber. Além da diversão da própria festa, um jovem casal, sentado ao nosso lado, também nos arrancou boas gargalhadas, a menina, uma daquelas Barbies, loirinhas, magrinhas, de fala macia e com cara de anjo era... estamos morrendo de sono, a estrada é muito monótona e a velocidade máxima é 90km, estamos morrendo de sono, vamos dar uma paradinha, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio  

PS – Encontramos, ao longo de toda essa viagem, um guia muito legal chamado ”In your Pocket”, conta um pouco da história e dos costumes, indica os eventos do mês, hotéis, restaurantes, trás mapas e detalha os pontos turísticos. É editado inglês e por cidade, são dezenas delas, sendo distribuído gratuitamente nos hotéis e centros de informações turísticas e pode ser baixado pela internet também, anote em sua agenda : www.inyour pocket.com.

 

Tallinn (Estônia), 26 de maio de 2010.
 

Caro Amigo,
 

A Estônia é um pequeno país, menor que os outros dois países Bálticos. Com história, clima e geografia muito similares aos da Lituânia, talvez um pouco mais plana e com ainda mais bosques virgens, que escondem as casas, deixando à vista pouco mais que seus telhados ao longo das estradas. Sua independência foi em 23/04/90 e, igualmente, estavam comemorando a chegada do verão, com um feriado de 5 dias.

Que o centro e o leste da Europa tinham o hábito de, no café da manhã comer tomate, pepino e pimentão, além de um montão de embutidos, já sabíamos; mas aqui na Estônia, além de tudo isso, eles comem umas conservas fortes de harenque (peixe), cebola, pepino etc. Logo de manhã? Com leite e café? Eu preferi provar em uma outra oportunidade, mas já o Claudio, e quem o conhece bem não tem qualquer dúvida, nadou de braçada em cima do tal peixe com pepino e cebola. Também tomam um mingau quente de aveia rústica, gostei!

Outra coisa que o estoniano adora é sauna, todo hotel tem, já vimos (e o Claudio lógico que fotografou) inúmeras portáteis, em uma espécie de trailer, até comentamos quais seriam os benefícios de você sair viajando com sua sauna a tira colo? Quem sabe o Caro Amigo tem alguma resposta para tão intrigante pergunta?

Hábitos estranhos de lado, embora acreditemos que o calor de verdade nunca chegue por aqui, pois não vimos uma casa, ou hotel, se quer com ar condicionado; a temperatura passa pouco dos 20 graus, mas com um ventinho e frio na sombra. Voltando aos bons hábitos, eles amam sorvete, passeiam com seus cones pela cidade ou sentam-se em alguma cafeteria para tomar um café, acompanhado com uma maravilhosa torta e muito sorvete. Aderimos à torta com café, dispensamos o sorvete. Experimentamos uma com ganache (chocolate derretido com creme de leite), pêra, lascas de amêndoa, nozes e calda de creme de leite e amora. Escorre saliva da boca só de contar (ah, ah, ah!)

Mas o Caro Amigo deve mesmo é estar querendo saber sobre a Barbie que conhecemos em Riga. Ela era uma verdadeira déspota (e há quem diga que eu, Sayo, pobrezinha, sou uma megera). Quando nos sentamos à mesa, ela estava sozinha, com sua linda coroa de flores na cabeça. Pensamos: - Pobrezinha, tão triste e sozinha num dia tão festivo; quem sabe não puxamos um papo e ela se anima.

Pouco tempo depois, chega, esbaforido, o pobre Romeu (não sabemos se ele na verdade se chama Romeu, mas, com certeza tinha cara, era tão lindinho quanto), coitadinho, carregado de quitutes para o “Projeto de Bruxa Malvada” (Sayo: - tenho que derramar um pouco de meu veneno em alguém, afinal ela não pode querer ter tudo, ser lindinha, magrinha e, ainda boazinha, tem que ter algum defeito, ah, ah, ah!). Ela bebia e comia tudo e logo tratava de pedir mais alguma coisa. Lá ia ele, o apaixonado namorado, encarar mais uma fila imensa, enquanto ela se requebrava toda, cantava e batia palmas ao som das bandas. Voltava o pobre Romeu, novamente carregando novos de quitutes, e ela pegava o celular e danava a falar não sei o que, com não sei quem. Alguns minutos depois, já tinha um novo desejo e lá ia Romeu desdobrar-se para atender suas vontades. O pobrezinho foi ao banheiro, demorou um pouco, pois as filas eram imensas, e levou a maior bronca. Quase uma da manhã, despedimo-nos com sorrisos, deixando o pobre infeliz ainda agonizando. Coisas do amor!

Tivemos muito trabalho para encontrar um hotel, em Tallin, pois, em virtude do feriado, o centro de informações turísticas estava fechado. Queríamos alugar um pequeno apartamento no centro, fomos a alguns que estavam indicados em nosso guia (In Your Pocket), encontramos tudo fechado, provavelmente preferiram sair para aproveitar o longo feriado. Tentamos alguns hotéis centrais, mas os preços não nos agradaram. Decidimos retornar e procurar algo um pouco afastado, pois já estávamos cansados e morrendo de fome. Finalmente encontramos um hotel legal, cerca de quinze minutos do centro, com um belo jardim e um ótimo café da manhã.

Caminhando ao longo das bancas de venda de flores, chega-se ao cinzento muro de pedras, que tem um rasgo entre duas torres, porta de entrada para a parte medieval de Tallinn, que lhe valeu o nome de Pequena Praga, um dos maiores complexos medievais preservados da Europa, Patrimônio da Humanidade. Estreitas ruas e vielas de paralelepípedos, imóveis preservados quase que em sua totalidade; jardins e mirantes com belas vistas para o mar e para a cidade.

É um museu a céu aberto, ou melhor, um cenário de cinema onde, inclusive, a própria população participa do filme. A vendedora, vestida com um rústico vestido de linho, retira o refrigerante de um tonel de madeira. A moça, que vende amêndoas açucaradas, com seu longo vestido, avental e capa, apresenta seu produto em uma pesada carroça. O ferreiro funde moedas e as vende como souvenir. Os restaurantes têm pesadas mesas de madeira, rústicas toalhas, cardápios em couro e brasões pendurados. Tudo feito com muito esmero, a cidade é deliciosamente convidativa para passeios à pé, chafurdando as pequenas lojas de âmbar e tecidos, escutando alguma camponesa convidar para um café ou observando as bancas de artesanato.

A Catedral Ortodoxa Alexander Nevski destaca-se no cenário, com suas douradas cúpulas redondas, seus ícones de ouro e mosaicos. No Parque Kadiorg, um pouco afastado do centro, está antiga residência de verão do Czar Pedro, o Grande, um palácio estilo barroco, quase na beira do Báltico.

Tallinn foi nosso ponto mais distante nessa viagem, já rodamos 6.000 km, iniciaríamos a volta, conhecendo alguns lugares que não foram vistos na vinda. Pretendíamos dar uma olhadinha em Pärnu, o balneário mais famoso do país, talvez até dos países do Báltico, por suas praias de areia (aqui na Europa não são comuns e o povo adora), suas águas quentes (é o que eles dizem, pois fomos conferir e é uma grande mentira) e seus festivais. Dizem que é o destino de nove entre dez estonianos, existe um ditado que diz que se você não encontrou algum de seus amigos durante o ano, deve vir a Pärnu, pois seguramente o encontrará. Nossa intenção era conferir, quem sabe encontrássemos o Caro Amigo.   

Acontece que, quando chegamos à cidade, justamente estava sendo realizada uma imensa festa, a maior que já encontramos nessa viagem, o “30º Internacional Hanseatic Days 2010”, o mundo todo estava em Pärnu (seguramente se não encontrarmos o Caro Amigo é  porque estava perdido em meio a tanta gente, ah, ah, ah!) e, para completar, o céu estava azul e fazia até um calorzinho, verdade que um pouco tímido, mas dava para esquentar. E nós iríamos somente dar uma olhadinha?

Mais uma vez nosso coração nos pedia para ficar, mas encontrar hotel seria, certamente, como encontrar uma agulha em um palheiro. Pensamos um pouco... já estávamos com nosso cronograma muito atrasado, finalmente decidimos que... o Claudio está me chamando para tirar mais uma foto dele, parece que está fazendo um Book para ser garoto propaganda para algum fabricante de pente (ah, ah, ah!). Contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Pärnu (Estônia), 27 de junho de 2010.


Caro Amigo 


Como pode notar o Caro Amigo, ficamos! Afinal, estamos em férias e, como bem sabe o Caro Amigo, não cumprir nosso programa é, na verdade nossa meta, pois assim seremos “obrigados” a voltar no ano que vem para cumpri-lá (ah, ah, ah!).

O Centro de Informações estava aberto, mais uma das boas coisas dessa cidade, a gentil mocinha nos arrumou a última vaga em um guesthouse (algo parecido com um B&B, menor que um hotel, que não envolve todo aquele serviço de recepção e de quarto), central e com ótimo preço. Precisamos confessar que fomos até lá desconfiados, afinal somos brasileiros e turistas experientes, desconfiamos quando a esmola é demais.  

Chegando ao local, encontramos a Villa Eeden, juntamente com um elegante restaurante chamado Paradiis, em uma simpática e muito bem conservada casa de madeira. Fomos realmente para o céu. Enquanto esperávamos que terminassem a limpeza de nosso charmoso e confortável quartinho, fomos ao restaurante tomar um café. Serviço impecável, porcelana branca, copo de água e um delicioso expresso acompanhado de um pequenino chocolate.

A liga Hanseática foi uma antiga associação de países da região, com o intuito de mutua ajuda comercial, que trouxe grande desenvolvimento, além de ser o motivo da grande festa que encontramos e que se espalhava por toda a cidade, que é pequena, do tamanho de Peruíbe. Em oito diferentes pontos, palcos, igrejas ou jardins; onde os espetáculos se sucediam, pontualmente, a cada meia hora. Assistimos a um animado grupo folclórico estoniano de senhoras, com trajes muito coloridos e cheios de enfeites, que, provavelmente, pelas caras que faziam e pelas risadas do público, falavam mal de seus amados maridos.

E, ainda, uma banda de sopro de jovens, um coral masculino da Holanda, um grupo folclórico de dança misto, um desfile de moto e carros antigos, coral masculino e misto, ballet feminino clássico e moderno. Enquanto caminhávamos pelas ruas da cidade, em meio a uma feira medieval, que vendia de embutidos a roupa, e bancas montadas pelas lojas, que estavam todas abertas. Uma divertida loucura.

A cidade chama a atenção pelo enorme número de casas de madeira, algo entre as casas de faroeste e os chalés de Santos. O mar está até mais bonito, mas já quanto ao banho no Báltico ou ao âmbar, nada feito, a linda toalha de banho que trouxemos, com a bandeira do Brasil estampada, voltará intacta ao país de origem.

Saindo da Estônia, paramos em Silguda, na Letônia, a cidade fica no meio de um Parque Nacional Gauja, no vale do rio de mesmo nome, região conhecida como a Suíça da Letônia. Bonitinha, mas só vale a pena para quem gosta de praticar esportes aquáticos, longas caminhadas em meio a florestas ou ciclismo, portanto seguimos.

Já na Lituânia, fomos à Colina das Cruzes, local de peregrinação de grande destaque no mundo todo, foi visitado pelo Papa João Paulo II em 1993. Contam que a tradição de colocar cruzes na pequena colina, próxima à cidade de Siuliai, surgiu no século XIV, para honrar mortos em batalhas, quando a cidade foi ocupada por Teotônicos; assim, desde tempos medievais, o local representou uma forma de resistência pacífica do catolicismo contra a opressão estrangeira. Contam, ainda, que na época da dominação soviética, após a 2ª Guerra Mundial, a peregrinação à Colina das Cruzes era uma demonstração de nacionalismo lituano. Os soviéticos tentaram, várias vezes, remover as cruzes, queimando as de madeira e lançando à sucata as de ferro, nivelaram a colina e encheram o local de lixo; sempre na tentativa de impedir a propagação da religião católica e de tal forma pacífica de protesto e nacionalismo. Mas as tentativas foram em vão, pois a população recolocava as cruzes durante à noite.

O local é impressionante, não só pelo número de cruzes, dizem que são mais de 50.000, mas pelos seus formatos e tamanhos; as mensagens que trazem; os nomes das pessoas nelas gravados, pessoas de todo o mundo que trazem sua cruz e a depositam no local, talvez com a intenção de amenizar o peso de seu sofrimento, ou a saudade de pessoa querida que já se foi. Deixamos a nossa. 

Como pode ver o Caro Amigo, os países são bem pequenos, são atravessados em 300 ou 400 Km. A viagem de volta estava uma delícia, mais quente (23º), com o céu azul a paisagem tinha outra cara, mais feliz.

As estradas são estreitas e vão serpenteando em meio a florestas, plantações e pastos, com alces, vacas e bezerrinhos, porcas e porquinhos, cegonhas procurando comida, gatos sorrateiramente traquinando, grandes rolos de feno já ensacados. Encontramos casas com fumacinha saindo da chaminé e flores no jardim; muitos rios, lagos, laguinhos e poças, verdadeiros espelhos, lotados de gente (eles acham que é realmente verão) e de ruidosos patos e marrecos, que voavam de lá para cá.

Adivinhe onde pensamos em parar para dormir?... Tem um cisne atravessando a estrada para entrar em um pequeno lago, vamos dar uma paradinha para ajudar, pois ele caminha muito devagar e pode causar algum acidente, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Dobre Miasto, 29 de junho de 2010.
 

Caro Amigo,
 

Houve um tempo, no qual eu (Sayo) era feliz e não sabia. Durante uma viagem, para tirar umas míseras fotos, tínhamos que carregar uma máquina pesada, um flash enorme e um montão de rolos de filme. Se por um lado isso nos sobrecarregava fisicamente e monetariamente, além de nos obrigar a ponderar, muito bem, antes de tirar a bendita foto; por outro, aproveitávamos melhor nosso tempo admirando, com nossos próprios olhos, as maravilhas da viagem e, posteriormente, tínhamos, em nossas próprias mãos, um lindo álbum de retratos (essa é para o pessoal mais velho), para, de vez em quando, abrir e recordar nossa linda viagem e até mostrar aos amigos.

Hoje com o advento das máquinas digitais, levíssimas e com gigantescas memórias, houve uma banalização da fotografia, tem gente, e não vou citar nomes, afinal não quero criticar meu companheiro de viagem (ah, ah, ah!), que anda tirando foto até do coco do cavalo do bandido e, além de tirar, quer ver se ficou excelente e, se for o caso repeti-la; depois enfia tudo num computador e ninguém mais houve falar no assunto. O Caro Amigo já se deu conta do quanto de tempo isso lhe rouba em uma viagem? Melhor começar a analisar!

Começamos nosso dia muito bem! Lá pelas 10 horas, resolvemos dar uma paradinha em um modesto restaurante, na estrada, pois uma placa informava que havia WI-FI. O local era freqüentado por caminhoneiros e, quando chegamos, eles comiam sonoramente um tigelão de uma sopa grossa e substanciosa. Estávamos morrendo de fome, pois na noite anterior, em virtude de uma rusga conjugal, não havíamos jantado e naquela manhã eu tinha comido algo muito leve e o Claudio, uma vez que não lhe entreguei nada na mão para comer (minha vingança), não tinha comido nada. Ele, ao ver os caminhoneiros debruçados e babando sobre as tigelas, não teve dúvidas, pediu a tal sopa, Goulach  (carne, legumes, feijão e molho de tomate); eu, me fazendo de rogada, pedi um chá; mas tão logo provei uma colheradinha da tigela do Claudio, mais ou menos como a garotinha dos Três Ursinhos, tratei logo de esquecer as diferenças, pedir meu tigelão e tomá-lo até a última colherada. Estava uma delicia! Gosto de sopinha feita em casa.

Esqueci de contar (Sayo), que lá em casa, como qualquer criança, o Claudio diz que odeia sopa, principalmente as pedaçudas (não sei se existe a palavra, presumo que se escreve assim). Alguns dias depois, entre risadas, lhe perguntei sobre o sopão que ele tinha derrubado sem nem respirar, ele me respondeu que era a “sopa do desespero” (ah, ah, ah!).

Descobri mais uma do desesperado, aquele que não gosta de doce. Outro dia, passeando por uma cidade ele disse, em alto e bom som, que estava procurando “uma coisa para mim”; inocente que sou, já me vi com um lindo anel de diamantes no dedo, um colar de pérolas no pescoço ou uma pulseira de esmeraldas no braço. Quando finalmente descobri que ele estava é procurando um gofry (o delicioso waffle com frutas e chantily), agradeci, sinceramente (infelizmente não sei fazer aqueles desenhos de cobras e lagartos que aparecem nos quadrinhos), e reticente aceitei a oferta. De posse de meu doce, educadamente, ofereci-lhe um pedacinho, ao que ele respondeu com a boca da menininha da Doriana (aquela que abocanha o pão inteiro), comendo, ao final, metade (ou mais) de meu doce. Também nunca tinha ouvido falar no “waffle do desespero” (ah, ah, ah!)

Somente agora, depois de quase trinta anos de casada, dei-me conta de mais essa artimanha do espertinho, quando quer comer doce, finge que quer me agradar, oferecendo-me a guloseima. Mas homem tem cada uma, fique muito atenta Cara Amiga (ah, ah, ah!).

Estamos de volta à Polônia. Percorrendo a região da Masuria, ao norte, conhecida como região dos mil lagos. Seguimos com a paisagem que já lhe descrevemos e, ainda, com longos túneis de árvores fechando a estradas, imensos campos de pequenas flores roxas e trigo, pequenas cidades com praias fluviais, muitos veleiros.

Paramos em alguns lagos e praias, muito gelados para banho. Paramos também em  Gierloz, para conhecer as ruínas do que foi a Trincheira do Lobo, quartel general de Hitler, onde ocorreu a tentativa de seu assassinato, que foi retratada no filme Operação Valkiria, com Tom Cruise. Hoje, mata fechada, mosquitos e escombros, pois os nazistas destruíram quase tudo quando bateram em retirada.

No meio de uma fazenda encontramos um Bunker, uma pequena fortificação de concreto subterrânea, com acomodação para doze soldados e guarita redonda de aço, com cerca de 30 cm de espessura, de onde os soldados nazistas vigiavam a região. Estava quase intacta e aberta à visitação; o senhor que tomava conta e guiava os turistas, facilmente  percebíamos em sua fisionomia, enquanto falava a alguns poloneses, que era apaixonado pelo assunto, infelizmente só falava polonês e umas poucas palavras em inglês; mas conseguimos ter uma boa noção do funcionamento do mesmo através de fotos e plantas afixadas nas paredes, além da ajuda e gentileza de todos. 

Já íamos esquecendo de contar, paramos para dormir, na noite passada, em Alytos. Isso mesmo! No hotel da senhora gordinha de cara redonda, aquela faladeira, que tinha uma filha campeã de natação e que nos deu morangos. Ela estava viajando, fomos atendidas por sua irmã, também loira, de olhos claros, gordinha e de cara redonda, mas que não falava inglês. Depois de alguns gestos, ela compreendeu o que queríamos, e levou-nos até nosso pequeno apartamento, não sem antes ligar para sua irmã, que fez questão de falar com a gente e agradecer um pacote de café brasileiro e havíamos deixado de presente.

Antes de seguir novamente para o Báltico, demos uma paradinha para visitar Grunwald, o lugar de uma das maiores e mais sangrentas batalhas da história da Polônia, ocorrida em 15/07/1410, entre cavalheiros teotônicos e as tropas polaco-lituanas. O local é de inegável valor histórico, porém não passa de um imenso campo com um monumento de granito no meio. Dizem, que na semana do aniversário da batalha, são realizadas imponentes encenações e numerosos atos militares montagens de cidades medievais e feiras, torneios medievais, festivais e concertos. Estávamos um pouco adiantados.

Por volta das 16:00 horas, chegamos ao nosso destino, temos que confessar que, a principio, ficamos um pouco decepcionados, não nos pareceu nada com o que estávamos esperando. Na entrada da cidade, encontramos um enorme congestionamento, fábricas e uma enorme refinaria.  Mas o que fazer agora? Tínhamos que seguir e encarar o que o futuro nos reservava.

Paramos, próximo à cidade velha, em uma rua que, para variar, estava em obra (não há uma cidade na Europa que não tenha uma obrazinha), para perguntar o preço de um hotel. O gerente, gentilmente, disse-nos que somente teria vaga para uma noite, pois a cidade estaria lotada no resto da semana, em virtude de mais um festival. Perguntamos sobre a localização do Centro de Informações Turísticas. Como não entendêssemos muito bem sua explicação, um gentil senhor, que parecia ser o dono, acompanhou-nos até a rua e nos indicou. Quando perguntamos se poderíamos deixar nosso carro ali na rua por algum tempo, com um sorriso nos respondeu: “24 horas por dia, sete dias por semana, é grátis!”. Muito simpático, a coisa começou a melhorar.

Dobramos à direita, atravessamos a ponte e o Claudio saiu correndo. Não estava fugindo, não! É que não queria perder a foto de uma enorme caravela deixando o canal. A coisa já tinha melhorado muito.

Quando lançamos nossos olhos sobre a Dlugi Targ, fervilhando de gente, o sol reluzindo no seu longo calçamento, polido de tanto andar de turista, seus magníficos edifícios com escadas de poucos degraus, com exóticos corrimãos de ferro e calhas, para escoamento de água, nos apaixonamos perdidamente.

 Aí entramos no Centro de Informações Turísticas e dissemos: “Buenas tardes!”.  Uma linda moça nos respondeu com um enorme sorriso: “Buenas tardes!”. Despejamos nosso espanhol sobre ela, mas ela sorrindo muito nos respondeu, em inglês, que não falava espanhol, mas que, se voltássemos no ano que vem, ela encontraríamos, certamente, falando, pois ela fazia de tudo para agradar os turistas. Estávamos seguros, então, de que seria um caso amor eterno.

O mais engraçado é que jamais, antes de chegar à Polônia,  tínhamos lido ou ouvido qualquer recomendação que indicasse essa esplendida cidade como destino turístico. O motivo não sabemos; talvez porque esteja um pouco distante de outros conhecidos destinos turísticos. Já adivinhou  o Caro Amigo onde estamos? ... temos que tomar café rapidinho, pois temos um encontro com a simpática moça do Centro de Informações Turísticas, Catarina, que nos garantiu que hoje teria informações em espanhol sobre a cidade, cuja parte antiga já elencamos entre as mais lindas do mundo, se não a mais linda, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Gdansk, 01 de julho de 2010.
 

Caro Amigo,
 

Já descobriu! Estamos na linda Gdnask, embora já tivéssemos ouvido falar muito da cidade por questões políticas e portuárias, jamais tínhamos escutado alguém dizer que havia feito turismo lá. É bem verdade que, para nossa grande tristeza, a parte nova da cidade deixa muito a desejar, está mal cuidada, tem enormes congestionamentos, é muito poluída visualmente; está precisando de sérias e grandes reformas. Mas, quando descobrimos que ela tem todos os problemas de uma grande cidade, já estávamos perdidos de paixão, e nada, sem ninguém poderia mudar tal fato.

 

Além do mais, conseguimos, com a ajuda daquele guia que indicamos ao Caro Amigo, um pequeno sobradinho, todo charmozinho, tão-somente a meia quadra do coração da mais linda rua da cidade, a Dlugi Targ, onde estão todos e tudo acontece. Além de tudo, ainda, a cidade está localizada em um ponto estratégico, perto de boa parte dos mais interessantes pontos turísticos do país. Como já ouvimos Roni Von (aquele mesmo da Jovem Guarda, o Caro Amigo mais novo pode perguntar a seu pai do que se trata) dizer uma vez com muita propriedade: “meus amigos, se não têm qualidades, eu invento”.  Não é que queiramos dizer que inventamos tudo de bom que Gdansk tem, somente queremos enfatizar que não é necessário só ter qualidades para ser amado.

 

47 km da cidade, fomos conhecer a Península de Hel, uma longa (50 km) e estreita faixa de terra que avança sobre o mar, impar do ponto de vista paisagístico e natural, pois reuni bosques, praias de areia de ambos os lados, e a imensidão do mar. Por vezes, é tão estreita, que correm, paralelas, a estrada, a linha férrea e a ciclovia, sendo possível enxergar o mar de ambos dos lados da estrada. O local tem quatro ou cinco vilarejos, bastante simpáticos e com várias opções de esportes náuticos; além de inúmeros campings, que já estavam lotados por trailers vindos de todos os cantos da Europa, principalmente da Alemanha, parece que não fomos só nós que resolvemos tirar umas férias. O verão promete!

 

Elblag é uma pequena cidade, há 60 Km de Gdansk, que não teria muita graça, não fosse o ponto de partida dos barcos para o Canal, de mesmo nome, que é uma verdadeira obra de arte de engenharia hidráulica. É um tipo de construção única no mundo, que inclui rampas, eclusas, represas e portas de segurança, que permitem vencer a grande diferença do nível da água no percurso de 80 km, entre Elblag e Ostróda.

 

Na prática, o barco vem navegando graciosamente por um estreito canal, entre bosques e fazendas, longos campos plantados, quando, de repente, não existe mais água, surge um imponente gramado, com inclinação de cerca de 30º, com um trilho, por onde correm duas balsa, em sistema de pêndulo (enquanto uma sobe, a outra desce), que entra na água, uma delas encaixa-se embaixo do barco, levando-o rampa acima, até, novamente, a água. Muito legal!

 

Mas quem roubou a cena foi um cachorrinho, na quarta rampa, pois são cinco. Ele é curtinho, rolicinho, com cara de raposinha, pelagem aloirada, baixinho, perninhas muito curtas. E o que faz o espertinho: vai latindo e correndo ao lado do barco, com cara de pobre coitadinho, de cachorro que caiu da mudança, para que os turistas, compadecidos de seu sofrimento, atirem algum alimento. E olha que o danadinho corre, com aquelas pequenas perninhas, e é um tal de gente atirando coisas, que ele cheira, analisa e, se for de seu agrado, come imediatamente, começando a correr novamente. Mas se o alimento não forde seu agrado, deixa para lá, quem sabe se para as horas difíceis. Ele é a grande atração turística do local, pois essa é sua rotina diária.  Esta noite ele seguramente dormirá como um anjo, pois, em nossa pequena cesta de picnic, trazíamos um suprimento de emergência com um bom bocado de salame fatiado e queijo Gouda picado. E adivinhe? O “pobrezinho” comeu quase tudo!

 

Ainda perto de Gdnask, visitamos o Castelo de Malbork, às margens do Rio Nogat, a maior fortaleza gótica da Europa, construído pelos Cavalheiros Teutônicos, em 1274, e declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Ele é realmente uma imensa fortaleza de cor marron avermelhada, que se destaca no horizonte desde muito longe, dizem que a maior construção de ladrinhos feita por mãos humanas, sendo que os tais ladrilhos são uma espécie de tijolo aparente.

 

Para visitar-lo há que se estar preparado para andar, pelo menos 5 horas, subindo, descendo e quebrando a cabeça, pois não fornecem mapas, talvez com intenção de vender as excursões guiadas, que para nós não valia muito a pena, pois eram em polonês, alemão ou inglês, e mesmo último, quando falado rapidamente, em meio a um montão de gente, não podemos entender tão bem que valesse o preço que cobravam. Também existem “audio guides”, algo parecido com um radinho com fone de ouvido, você vai caminhando, pára em um ponto numerado e escuta a descrição, mas não havia em português ou espanhol.

 

Compramos um pequeno livrinho, em espanhol, que dava descrições gerais, e fomos seguindo o caminho da numeração do “audio guide” e uma ou outra excursão. Visitamos vários salões com lindas arcadas em forma de mãos postas, apoiadas em esbeltas colunas, muito típico do estilo gótico, porém quase tudo vazio ou com um mobiliário rústico; o museu do âmbar, de armas e imagens sacras. É bonito, é um castelo destinado à moradia e à defesa; eu (Sayo), particularmente, ainda prefiro ainda prefiro aqueles palácios, bem cheios de rococó, mobílias douradas, tapeçarias e porcelanas.

 

Mas o Caro Amigo deve estar se perguntando sobre Gdansk. Visitaremos hoje, portando paramos para preparar o café.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

PS – Já ia esquecendo de contar que o Claudio está careca. Não, não estou louca, nem nasci cega! Já sei que ele é careca quase desde que bebê. Mas ele agora radicalizou, raspou a cabeça toda, aderiu à moda européia. Confesso que não fez muita diferença, ele não tinha quase nada mesmo (ah, ah, ah!). Agora, quanto ao “Booking” e à graninha como garoto propaganda, que garantiria nossas próximas viagens, pois nada de parente rico ou âmbar, não tenho nem idéia como ficará!

 

 

Gdansk (II), 02 de julho de 2010.

 

Caro Amigo,

 

A cidade, que já foi independente, é tão antiga quanto a Polônia, situa-se na costa do \Mar Báltico, junto à desembocadura do rio Vístula, foi berço do “Solidariedad”, movimento de defesa da liberdade, e sempre muito cobiçada por sua posição estratégica.

 

No coração Cidade Velha, também chamada Cidade Principal, o Caminho Real, por onde passavam os cortejos, inicia-se na Porta Alta e atravessa a rua Dluga e a Dlugi Targ, passando pelos seus suntuosos e coloridos edifícios, em estilo renascentista e maneirista dos países baixos, ricos em elementos decorativos, bons exemplos são a Prefeitura Principal, a Casa Senhorial de Artur e a Casa do Oro; seguindo pela Praça do Mercado, onde está a Fonte de Netuno que, segundo a lenda, foi o inventor do famoso licor de Gdansk, Goldwasser, de hervas com pedacinhos de ouros, pois Netuno, indignado, rompeu em pedacinhos, com o seu tridente,  as moedas que foram atiradas na fonte, que, desde então, decoram o licor.  Terminando na Porta Verde.

 

Assistimos dois concertos de órgão, um na Basílica de Nossa Senhora, que abriga um riquíssimo altar, em forma de retâbulo, folheado a oro; uma Pieta (Nossa Senhora com Jesus morto nos braços) de pedra, de 1410; e uma cópia do Juízo Final, de Juan Memling, cujo original vimos no Museu Nacional (às sextas a visita é gratuita), e retrata o fim dos tempos, os corpos levantando-se das tumbas e sendo julgados em uma balança, suspensa por um imponente anjo, de um lado está o céu, com São Pedro na entrada, fisionomias serenas, túnicas para cobrir a nudez; do outro, demônios com espetos arrastando as pessoas, muito fogo, fisionomias agonizantes e nudez; pairando sobre tudo Deus e Santos. Sinceramente não sei o motivo, não tenho a menor idéia, mas observei (Sayo) que do lado do inferno havia muito mais homens, enquanto as mulheres seguiam diretamente para o céu. Muito cuidado Caro Amigo (ah, ah, ah!).

 

Alguns dos edifícios do Caminho Real hoje são museus, onde é possível observar, principalmente, o luxo da arquitetura interna. Também há um sem fim de restaurantes, das mais diversas especialidades, encontramos até uma Pierogarnia, claro que o Claudio não perdeu, comeu Pierogi até de javali.

 

Lógico que comi outro Gofry, o tal waffle morninho, com chantily e frutas. Enquanto esperava, em frente ao Casa Nova do Tribunal, ao lado da Fonte de Netuno, para ver a senhorita Hedwiga, uma burguesa encarcerada pelo tio, no século XVII, que aparece, todos os dias, às 13:00 horas, na pequenina janela do sótão. Trata-se um famoso romance polonês, cuja protagonista residia naquele edifício, presa no sótão, e, todos os dias, saia à janela para observar a praça, talvez à espera de seu amado. Procuraremos uma versão em português ou espanhol para saber mais detalhes. Lógico, também, que o Claudio comeu metade de meu suculento doce.   

 

O outro concerto foi na Catedral de Oliwa, um bairro há poucos minutos do centro, famoso por seu parque com jardins franceses e pelo órgão, estilo rococó, com extraordinário som e peças decorativas móveis, como estrelas, sinos e trombetas. A cada hora há uma apresentação de 20 minutos, vale a pena assistir, o som é maravilhoso e é tocado um “poupurri” (não sei como se escreve, solicito ajuda ao Caro Amigo que domina a língua francesa) com pequenos trechos de músicas clássicas conhecidas, que ressaltam as qualidades sonoras e decorativas  do órgão.

 

Na Rua Mariacka, como que para completar a beleza do cenário, angelicais moças tocam violino e violoncelo; vendedores, em pequenas caixas de vidro, apresentam sua preciosidades em âmbar; pequenos restaurantes servem café a gentis senhoras e cerveja a alegres jovens;  em minúsculos porões, espremem-se pequenas lojas; lindos cachorrinhos passeiam aninhados nos colos de seus donos; estreitos edifícios, corrimãos, calhas,terraços, degraus.

 

Talvez o Caro Amigo não esteja acreditando muito em nossa descrição sobre a linda cidade, cheia de lendas e  de lindas, elegantes e maravilhosas pessoas, enviamos, então,  uma prova cabal, observe bem as fotos e verá por seus próprios olhos.

 

Mas como tudo que é bom a gente tem que provar um pouco e deixar um pouco para outra oportunidade, partimos de Gdnask em busca de novas aventuras, já pensando no dia de voltar.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

 

Poznan, 05 de julho de 2010.

 

Caro Amigo,

 

Antes de chegar aqui, passamos por Torun, terra natal de Nicolau Copérnico, o homem que parou o sol e fez a terra girar, e a cidade de maior concentração de arquitetura gótica da Polônia, sendo a maior parte em tijolinhos aparentes, também declarada Patrimônio da Humanidade.

 

Visitamos a casa onde nasceu Copérnico, hoje transformada em um museu e nos divertimos na Praça Fontana Miesjska Cosmópolis, em seu chafariz circular, rodeado de bancos. São pequenos orifício colocados no chão de granitos, formando um grande círculo, com uma pequena inclinação para o centro, para que a água não escorra pela praça toda, como se houvesse um chuveiro instalado ao contrário. A água jorra do chão, através dos orifícios, de modo aleatório, enquanto as crianças, para se refrescarem do calor de quase 30 graus, ziguezagueiam entre eles, de maiô, roupa, calcinha ou cueca. Muitos adultos, com a desculpa de cuidar das crianças ou ver se água está gelada, tiram uma casquinha.  O pior é que é proibido tomar banho no local, conforme uma enorme placa, que elenca tudo o que não se pode fazer, mas se trata de letra morta, ninguém dá a menor confiança, ou, então, eles não sabem ler, imagine nós.

 

À noite, a praça fica igualmente lotada, pois há show de luz e som, a cada hora depois que escurece, com duração de 20 minutos, quando as águas, coloridas por efeito de iluminação bailam ao som de clássicos. Como não sabíamos, após o jantar, por volta de 10:50, passamos pela fonte, vimos que havia muito gente mas não nos demos conta, admiramos e seguimos, pelo parque escuro, caminhando em direção ao hotel. Quando já estávamos chegando, escutamos a música, aí nos demos conta e só havia uma solução, sair correndo para tentar chegar a tempo de assistir pelo menos o final. E assim foi, saímos correndo, como dois doidos, pelo meio da escuridão, parecia que estávamos fugindo de um fantasma. O pior é que aqui o pessoal é super tranqüilo, ninguém corre, nem fala alto. Começou a latir um cachorro, que passeava com o dono, levamos um susto danado. Corríamos, dávamos risada e eu repetia ao Claudio que fossemos mais devagar, pois a polícia acabaria aparecendo para saber o que estava acontecendo, mas ele nem me dava bola. Afinal, conseguimos assistir boa parte do show.

 

Já Poznan é uma cidade maior, com algo estranho, com hábitos um tanto diferentes do resto da Polônia, talvez por ser uma das maiores do país, com muitas universidades e empresas multinacionais e sede de festivais e feiras internacionais. Na Cidade Velha, fica a Praça do Mercado, com diversos edifícios de interessante arquitetura, similar a que já lhe descrevi anteriormente, onde, antigamente, funcionava a Prefeitura e a casa dos comerciantes abastados, que tinham seu comércio na parte inferior de suas residências.

 

O maior destaque é para o enorme complexo jesuítico, cor de terracota e branco, está impecável. Na igreja chama a atenção as pesadas colunas e paredes em mármore marrom avermelhado, que contrastam com os capitéis e o teto, que são brancos e leves, com pinturas coloridas, muito dourado e estuques.

 

As diversas cidades da região têm divertidas estátuas de gente famosa, mas também de gente comum em suas tarefas da vida cotidiana. Procuramos, incansavelmente, um último Gofry, para deixar o país com chave de ouro, infelizmente não tivemos sucesso, talvez fosse muito cedo.

 

Assim deixamos a Polônia, como os demais Países Bálticos que visitamos, Lituânia, Letônia e Estônia, um país adorável, cheio de belezas naturais,  arquitetônicas e eventos culturais, de delícias gastronômicas, de  preços bastante acessíveis e, principalmente,  de gente reservada a primeira vista, mas muito gentil e hospitaleira.

 

Entramos na Alemanha com a intenção de torcer por eles na Copa já que... melhor não perder tempos com certos comentários. Com a intenção de torcer por eles porque amamos a Alemanha de paixão, aproveitando para visitar Desdren, pois quando estivemos aqui, na Copa anterior, a cidade estava um caos, reformas por todos os lados e, para completar, chovia à cântaros. Passamos também no início dessa viagem, mas a chuva continuava a mesma de 2006.

 

Chegamos ao final da tarde, fazia calor. À noite, fomos jantar no centro, refrescou um pouco. Pela manhã.... hora do café, contamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

 

Dresden, 06 de julho de 2010.

 

Caro Amigo,

 

Pela manhã, o dia estava trágico, a temperatura tinha caído 10 graus, ventava, chovia. Impossível caminhar pela cidade! Fomos à recepção do hotel, cancelamos a segunda diária e recebemos nosso dinheiro de volta. Retornamos ao quarto, assistimos a previsão do tempo na TV e, olhando os mapas, discutimos sobre o melhor local para gastarmos nossos últimos dias de féria, Fizemos as malas e partimos, como os pássaros, em busca de dias mais quentes. Tentaremos Dresden na próxima Copa, quem sabe tenha parado de chover e terminado as reformas da cidade.

 

Mas o fato é que já viajamos pela Alemanha mais de uma vez, dividimos o país e fizemos metade nas férias de 2006, e a segunda metade nas de 2007; sem falar nas vezes que passamos a caminho de outro lugar. Então, não foi tão fácil escolher um novo destino, com novas aventuras e mistérios a desvendar.

 

Seguramente a melhor decisão do dia foi a de que seria dia de “comproterapia”, dia do “Alditour”, já lhe contamos sobre uma rede de supermercados alemã chamada Aldi, que adoramos visitar porque sempre encontramos umas ofertas legais. Quase toda cidade tem um e com alguns produtos diferentes, então fomos parando em todos.

 

Evitamos a autopista, pois passa fora das cidades e não permite ver a área comercial; seguimos por uma pequena estrada, que passava justamente no meio das cidadezinhas, floridíssimas, e fazendas, verdíssimas, permitindo ter um melhor visual da região e dos Aldis. Fomos seguindo e fazendo nossas comprinhas, enquanto o tempo ia mudando.

 

Em Chemnitz, cidade um pouco maior, paramos em um shopping, pois havia uma Media Market, nossa loja predileta para eletrônicos. Lá encontramos o “Mc Donald do Claudio”, seu fast food do coração, que se chama Nordsee (mar do norte) e só vende comida à base de peixe e frutos do mar, ele é apaixonado pelo sanduíche de harenque salmonado com pepino azedo (Bismarckbaguette). Fuçamos por livrarias e lojas de roupa e aproveitamos para fazer as últimas compras no Aldi, pois já passava das 4 horas e não estávamos nem na metade do trajeto previsto para o dia. Foi uma agradável parada, pois, no interior do shopping, o clima era ameno, havia muita luz, vinda do teto de vidro, e vasos com flores e árvores colocados ao redor da fonte; mas era hora de acelerar, encontrar hotel para dormir, para jantar e tomar uma cerveja, afinal nem só de compras vive o turista (ah, ah, ah!).

 

Na verdade a Alemanha é um país muito agradável. Os alemães são muito bem resolvidos, de bem com a vida, gentis e educados. Vestem bermuda de bolinha, camisa xadrez, chapéu florido, sandália com meia de lã saem para rua e se divertem; tão pouco cuidam da vidas dos outros, portanto se pode ir a um restaurante e pedir café com cerveja, ou sopa com uma bola de sorvete dentro, que o garçom não se admirará de nada, sorrirá e, em poucos minutos, trará seu pedido, pode ser até que experimente para ver se fica bom.

 

Se existe aquele alemão sisudo, grosseiro e com cara feia somente uma ou duas vezes encontramos com ele, em todas as nossas andanças pelo país, que é muito limpo, organizado e cheio de lindos palácios, igrejas, rios e lagos. E além de tudo isso, tem bons preços e muitas fábricas de cerveja. O Caro Amigo não deve deixar de pensar na Alemanha como seu próximo destino de férias.

 

Será que o Caro Amigo tem uma vaga idéia de qual foi a cidade que escolhemos, para falar a verdade nem nós havíamos nos apercebido dela antes, embora localizada em uma famosa rota... hora de dormir, já estamos cochilando com o computador no colo, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Bamberg, 10 de junho de 2010.

 
Caro Amigo,
 

Bamberg é Patrimônio da Humanidade pela preservação de seu conjunto arquitetônico único, pois representa a estrutura de um núcleo urbano medieval da Europa central. Está localizada perto de Nuremberg e de Frankfurt, na Rota Romântica, que percorre pequenas cidades, entre rios e castelos, que já havíamos feito há alguns anos. Porém, na ocasião, não nos apercebemos dela, felizmente, porque agora teríamos diversão garantida


Para defini-la, sensacional seria pouco, é algo entre Bruges (a Veneza belga),  Colmar (apelidada a cidade mais linda do mundo) e Veneza, pois tem até gôndola. Tão linda que nos fez abrir mão de ir a Baden Baden, terra da famosa cerveja, para ficarmos mais uns dias por aqui, roubou de Gdansk metade de nosso coração.

 
Como a cidade não estava em nosso roteiro original de viagem, não tínhamos qualquer meta a cumprir, somente aproveitar o calor e o sol, descobrindo as belezas dos locais. Fomos ao Centro Informações Turísticas, onde conseguimos mapas, indicações sobre a cidade e sobre a região, colocamos a havaiana e saímos caminhando.


Ruas estreitas de paralelepípedo, edifícios com fachadas românticas, a cada curva uma novidade. A ilha artificial sobre o Rio Regnitz, sobre a qual se apóia parte da cidade. Canais, aonde os marrecos chegam voando para brigar por um pedaço de pão. Pequenos edifícios com seus jardins sobre o rio, um deleite para quem passa navegando. Na ponte de pedra, o imponente edifício da antiga Prefeitura, com afrescos róseos pintados em suas paredes externas. Uma casa azul decorada com estuques. Sobre uma colina a Catedral Imperial, o Palácio Antigo, a Nova Residência e o Jardim de Rosas, perfumado, para sentar, tomar um café e esquecer da vida. Dez cervejarias artesanais, para esquecer de tudo.


Nos arredores, cavernas, parques aquáticos, minúsculas cidades floridas, o Castelo de Seehof, lagos, rios, riachos, onde o pessoal já se espreme, em campings e hotéis, para passar o verão.


E como foi o dia do jogo? Mais um dos motivos pelos quais adoramos a Alemanha! Encontramos o país embandeirado; casas, carros, bicicletas, roupas, cabeças, rostos, tudo trazia a bandeira ou as corres do país. Estavam felizes. No dia do jogo, a rua parou e os bares lotaram. Durante o jogo, muita vibração e frases de apoio. No final do jogo, mais algumas cervejas. No dia seguinte, as bandeiras permaneciam no mesmo lugar e o povo sorrindo; continuavam apoiando sua seleção, que entendem estar fazendo o máximo.


Agora estamos novamente na estrada, rumo a Darmstadt, perto de Frankfurt, de onde partiremos, amanhã, para o Brasil, com escala em Lisboa. Chegando lá, teremos a árdua tarefa de conseguir colocar tudo que compramos dentro das malas e, principalmente, de não ultrapassar o peso permitido. Temos a firme esperança de conseguir ainda com tempo para o último jantar dessas férias, em Frankfurt, num restaurante que conhecemos, localizado em um barco às margens do rio Main.


Se estamos tristes com o fim das férias? Não! Na verdade já iniciamos os planos para as férias de dezembro. O Claudio já está até falando em voltar ao Xingu em agosto. Dizem que ele foi eleito fotógrafo e  cozinheiro oficial da expedição. Quanto às fotos, estou segura, não restar uma só peninha de cocar de índio que não seja fotografada (espero que ele deixe passar as penas das tangas das índias). Já quanto aos dotes culinários, tenho grandes dúvidas, pois, lá em casa, ele não sabe nem ferver água. Tem gente que gosta mesmo de viver perigosamente (ah, ah, ah!).

Beijos,

Sayo e Claudio

 

Santos, 11 de julho de 2010.

 
Caro Amigo,


Numa certa manhã de domingo, em Torun, na Polônia, enquanto preparávamos o café, a TVE, espanhola, apresentava uma entrevista com a Sra. Carmen Guaita, que acabava de lançar o livro “Desconhecidas”, A Geometria da Mulher.

 

Em determinado momento da entrevista, ela afirmou que as pessoas do século XX perderam a “rede social de ajuda”. Expressão nova aos nossos ouvidos, não imaginávamos seu significado. Ela prosseguiu, explicando tratar-se da rede informal de ajuda mútua, que existia entre parentes, amigos e vizinhos, difundida principalmente pelas mulheres.

 

Lembrei-me, então, que, quando era criança, minha mãe, muitas vezes, ao precisar sair, deixava-me, juntamente com minhas duas irmãs, na casa de uma vizinha, Dona Linda. Era nosso dia de princesa, nos metíamos no lindo e imenso jardim, a fazer comidinha com as flores, enquanto Dona Linda, uma gentil e idosa senhora, trazia quitutes para enchermos nossas panelinhas.

 

Pensando bem, hoje vejo que, talvez, ela não fosse tão idosa, o jardim não fosse tão fantástico e as comidinhas nem fossem gostosas; pois, por vezes feliz, por vezes infelizmente, os olhos de criança enxergam diferente. Mas, na verdade, isso não tem a mínima importância. O que realmente importa é que jamais, enquanto eu viver, essa boa lembrança se apagará de minha memória, ela seguirá maravilhosa.

 

E o mais importante ainda, é que eu a tenho em virtude da “rede social de ajuda” em que minha mãe estava inserida. Pouco antes de viajarmos, ela me disse que havia ido à casa de uma vizinha adoentada, para quem ela fazia sopinhas e compras. Percebemos, então, que minha mãe, hoje com 70 anos, continua inserida na rede.

 

Refletindo, nos demos conta de que, atualmente, as pessoas mal sabem os nomes de seus vizinhos e que, nem por sonho, cogitam tocar uma campainha para oferecer ou solicitar ajuda num momento de precisão. Mas por quê? Será uma das milhões de síndromes e doenças que a modernidade nos trouxe?

 

Ou talvez seja simplesmente o orgulho das pessoas que, hoje, julgando-se auto-suficientes, acreditam ser desnecessário, por vezes até tolo, uma mão estendida, uma xícara de chá com um conselho.

 

Ou, ainda pior, talvez seja a soberba das pessoas que se julgam superiores, ocupadíssimas, não dispondo de tempo, muito menos de boa vontade, para prestar ajuda. 

 

A resposta certa, infelizmente, não temos, mas lamentamos que as coisas tenham tomado esse rumo e esperamos que Deus nos livre de mais esse mal, já que nós, muitas vezes, nos omitimos de fazê-lo.

 

Na mesma viagem também tivemos o imenso prazer de reencontrar alguns velhos e amados amigos Olga, Paul, Natacha, Vicent, David, Maria, Catherine, Francisco, Tsian e Valerie, que deixam nosso coração cheio de saudade.

 

E o prazer de conhecer:

 

1- Glória – a tão querida, risonha e prestativa espanhola de San Sebastián, que nos incentivou a conhecer as belezas de sua cidade;

 

2- Eduardo e Gabriela – o aventureiro casal mineiro, buscando desvendar os mistérios da Transilvânia;

 

3- Rogério e Susana Maria – o simpático e falante casal de Florianópolis, turistas profissionais, de carteirinha;

 

4- Os empregados e proprietários do Hotel Graupner, em Bamberg – sempre muito pacientes, atenciosos e  prestativos;

 

5 – Suzana – a meiga e beijoqueira, moça que divulgava o turismo em seu estado;

 

6 – A gerente do Hotel Etap de Darmstadt – atarefadíssima e atrasadíssima, mas que encontrou tempo para nos atender com imensa cortesia.

 

 

 

E muitas outras pessoas admiráveis, que cruzaram o nosso caminho e contribuíram para tornar nossas vidas ainda mais felizes.

 

Saudades!

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

 

PS – Quanto às nossas metas? Ouvimos Choppin, rodamos 9.000 km, mas, para sermos sinceros, o banho no Mar Báltico foi impossível de cumprir, é coisa para pingüim. Ficamos devendo Budapeste, acho que teremos que retornar à Europa no ano que vem (ah, ah, ah!)

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