sábado, 15 de novembro de 2014

Expedição Drácula (Hungria e Romenia) - 2009


Santos, 01  de junho 2009.

 

 

Caro Amigo,

 

 

Ouvimos dizer que, nas longínquas florestas da Transilvânia, na Romênia, o Conde Drácula voltou a atacar, mas que ele agora, na era da globalização, da modernidade e do neocapitalismo, só toma sangue de canudinho.

 

Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META (100.000 Km viajando, ah, ah, ah), resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada.

 

Aproveitaremos a oportunidade para descobrir se a cerveja Húngara é tão boa e barata quanto a Tcheca e para pegar uma corzinha no Mar Negro. Afinal, ninguém é de ferro !

 

Vem com a gente!

 

Sayo e Claudio

 

 

 

Caro Amigo,

 

Para que você, que irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.


 

--------Aéreo São Paulo-Paris;

--------Terrestre em carro (Renault Clio Estate);

 --------Aéreo Genebra-Londres;

--------Aéreo Londres-São Paulo.

 

Compre seu bilhete, faça as malas (não esqueça o protetor solar e o Engov, vai ter muita cerveja), pegue o passaporte, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o  gato com o vizinho e as crianças na casa da vó (a viagem será perigosa), prepare a pipoca, pegue uma Bohemia gelada (pode ser Brahma ou Antártica), espalhe muito alho pela casa, escolha uma poltrona confortável, ligue o computador  e  VEM COM A GENTE! 

 

Aproveite para enviar alguma dica para tornar nossa viagem mais interessante. Talvez alguma cidadezinha, que já visitou e achou incrível; um restaurante, que viu em alguma revista de turismo; um lugar que você gostaria de conhecer, mas ainda não teve tempo; ou mesmo o endereço de  uma avozinha húngara, que faz pães e geléias deliciosos, teremos imenso prazer em visitá-los e contar tudo, nos mais mínimos e prazerosos detalhes.

Mas, principalmente, mande-nos sua especial simpatia para espantar vampiros.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio 

 

 

Paris, 06 de junho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

Se você estiver em Paris, na primeira sexta-feira do mês, às 15:00 horas, poderá adorar, na Igreja de Notre-Dame, as relíquias da paixão de Jesus Cristo: um pedaço da cruz, um espinho e a coroa de espinhos, que é um circulo de junco, de 21cm de diâmetro, no qual foram incrustados, originalmente,  70 grandes e duros espinhos, que foram dispersados, com o correr dos séculos, através de doações feitas por imperadores de Bizâncio e reis da França, restando somente a coroa já sem espinhos.

 

Na cerimônia de adoração, as relíquias são levadas ao altar, em procissão, por Cavalheiros do Santo Sepulcro de Jerusalém, senhores vestidos com longas capas claras, e padres. É similar a uma missa e, após as leituras, sob a organização dos Cavalheiros, todos os participantes, em fila, podem ir ao altar para beijar a coroa, que está em uma redoma circular de vidro e ouro. Muito emocionante.

 


 

Mas para chegar a Notre-Dame, saímos cedo de casa, deixamos o carro perto da estação do metrô, que é o meio de transporte mais prático. Preferimos descer um pouco mais longe, a fazer várias conexões, afinal era um lindo dia de primavera, um pouco frio, mas claro, ensolarado e com o céu muito azul. Perfeito para cruzar o Sena e caminhar pelas pequenas barraquinhas, que ficam ao longo de suas margens, e vendem fotos, livros e postais antigos.

 

Mais perfeito ainda para cruzar o mercado de flores, com sua explosão de cores, que tem de lavandas a rosas, passando por orquídeas, gerânios, margaridas, dálias; de parreiras, cheias de cachos de uva, a oliveiras. Sem contar os enfeites para jardins, os anões, as pequenas fontes, os sapos, os bebedouros para pássaros.

 


 

Como chegamos muito cedo para a Adoração das Relíquias, resolvemos dar uma voltinha, fazer umas comprinhas básicas. Foi uma sorte, pois em frente à prefeitura havia um evento de divulgação do turismo na ... Adivinhe??? Na Romênia!!! Nós tínhamos pouquíssimo material sobre ela, pois não encontramos guias, tentamos contatar o consulado no Rio, porém não se interessaram muito em nos fornecer mapas e prospectos. Agora temos mapas e milhões de informações. Verdade que estão em francês, bem mas não se pode querer tudo, lendo umas 20 vezes chega-se a alguma conclusão. Vai ser divertido!

 

 No final da tarde, fomos ao Centro Georges Pompidou, um edifício modernoso, de cinco andares, em concreto, com tubulações coloridas, dispostas pela fachada e escadas rolantes para todos os lados; que abriga do Museu Nacional de Arte Moderna da França. Contrasta um pouco com a arquitetura da cidade, mas, afinal, são os tempos modernos. O que encontramos de maravilhoso (pedimos perdão a Matisse, Picasso, Miro, Dali e muitos outros) foi a vista da cidade que se tem do último andar, é imperdível ver os cinzentos e brilhantes telhados com suas chaminés (pois a grande maioria dos edifícios não têm mais que 4 andares), as pequenas varandas de ferro cheias de plantas e, logo ali adiante, a Torre Eiffel, mais alguns telhados, um pouco mais a frente a Sacré-Coeur, outros telhados,  Montmartre, telhados,  Montparnasse, lá ao fundo La Defense. Parece uma maquete da cidade que conhecemos do chão.

 


 

No Museu encontramos algumas coisas um tanto bizarras; em nossa opinião, de gosto e padrões artísticos um pouco duvidosos. Por exemplo, em uma das salas havia uma televisão passando um filme de uma mulher pelada com um bambolê de arame farpado, a medida que ia bamboleando, ia ferindo a cintura (????).

   

Já íamos esquecendo de contar, aqui você deve guardar seu bilhete de metrô usado até sair da estação, pois, a qualquer momento, pode entrar um fiscal no trem e pedir que o apresente, a falta dele gera uma multa alta, um montão de problemas, além do vexame.

 

Nunca havíamos visto fiscais no metrô de Paris, porém, nesse lindo dia de primavera, entram dois no nosso trem e vão pedindo os bilhetes, quando chega a vez do Cláudio apresentar os nossos (pois ele acha que deve guardar tudo, pois pensa que eu perco tudo), nem lhe conto o que aconteceu, tive vontade de pular pela janela do trem, encontrar um buraco bem fundo e enfiar minha cabeça ... mas já são quase duas da manhã e amanhã temos que ir à feira e preparar o jantar para os amigos, vai ser um dia puxado, contamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio  

 

Maison Alfort, 08 de julho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

Dos bilhetes de metrô que compramos no ano passado, sobraram quatro, guardamos. É uma espécie de superstição, uma simpatia, algo que fica pendente e que nos obriga a voltar no ano seguinte. Tem dado certo!

 

Como pretendíamos ir a muitos lugares, compramos mais 10 bilhetes de metrô, pois é uma das formas mais econômicas para os turistas. Então tínhamos quatorze bilhetes de metrô. Utilizando um dos antigos, passei, sem problemas, na catraca. Cláudio, em outra, tentou dois dos bilhetes antigos sem êxito; mudou de catraca e passou com o terceiro.

 

Então, quando os fiscais, um homem e uma mulher, entraram em nosso vagão, estávamos tranqüilos. Até que nos pediram os bilhetes e o Cláudio tirou dois dos antigos em meio aos dez novos, porém somente um estava marcado pela catraca, o outro não. Claro que era o meu, afinal onde está a gentileza masculina. Infeliz a hora que resolvi comprar para ele uma maravilhosa bolsa, com duzentos bolsinhos, ele ia puxando coisa de todo lado, inclusive dos bolsos da calça e do casaco, até o bilhete do primeiro vôo do 14 Bis apareceu, mas nada dos outros bilhetes que ele havia marcado. Já me imaginava levando baguete e camambet (chique não? Nada como ser preso na França) em alguma obscura masmorra de algum frio castelo.  A mulher me falava um monte de coisas em francês, como se eu fosse a culpada de tudo, e eu respondia, em inglês, que não estava entendendo nada.

 

E para mais uma vez provar que os franceses são um povo muito gentil, ela pegou o bilhete antigo, que não estava marcado, disse algo que parecia significar que a catraca deveria estar com problemas, escreveu algo no bilhete, rasgou um pedacinho, agradeceu e foi embora. No final do dia, como por encanto, Cláudio encontrou os outros dois bilhetes. Economizei o dinheiro da baguete e do camambet.

 

A feira do sábado não estava tão alegre, pois chovia, fazia o frio danado e não paramos para tomar um vinho e beliscar algo. Mas foi ótimo reencontrar os conhecidos: Fátima, a portuguesa da banca de peixes, a senhora da banca de queijos; o português que vende azeitonas, couve, chouriço.

 

Se a feira não estava tão boa, o jantar do sábado foi um verdadeiro sucesso. Vieram Natacha, Vicente, Rosário, Pepe, Marilor, Catherine, Francisco, Tsian, Paul, Olga, mais um montão de gente, tinha até um simpático cachorrinho, o Constant, que adorou o cardápio, comeu um montão.

 

A comida estava sensacional. De entrada tivemos castanha-do-pará, castanha de caju, azeitonas temperadas, tortilla (uma espécie de omelete de batatas de origem espanhola) e um patê de carne de porco (uma espécie de galantina, que só encontramos na França, uma coisa maravilhosa que mereceria todo um capítulo, qualquer dia contamos com detalhes). Baguete e muita caipirinha.

 

O prato principal foi curau salgado e arroz com jabá; vinho para acompanhar. Depois vieram os queijos, diversos tipos, nem nos atrevemos a repetir nos nomes, bem ao costume francês. A sobremesa, de lamber os dedos, foi gateux (não temos certeza se escreve assim), sorvete, doce de banana e cocada mole de maracujá e ameixa. Champagne, cafezinho, muita foto, conversa gostosa, risada e boa música. Melhor só no ano que vem.

 

Embora o clima em Paris estivesse selvagem (frio, chuva e vento), aproveitamos o domingo para ir à Igreja da Medalha Milagrosa, passear pela Champs Elisee, ver a iluminação noturna da Torre Eiffel e constatar que a cidade continua sseennssaacciioonnaall!

 

Segunda-feira, visitamos Saint-Germain-en-Laye, nos arredores de Paris. Que tem muitos jardins, um lindo castelo, a casa onde nasceu Debussy e o Museu Maurice Deni, dedicado a artistas simbolistas, que estava fechado. Voltamos por uma pequena estrada, margeando o Sena. Encontramos uma pequena ilha pluvial, vários peniches ( um barco comprido e achatado) e eclusas, que possibilitam a navegação pelos canais de várias regiões da França, inclusive a região dos castelos (viagem dos nossos sonhos, qualquer dia fazemos). 

 

Terça-feira, partimos cedo, pois até agora foi só introdução, a viagem começa mesmo daqui a cerca de dois mil quilômetros em ... já é hora de dormir, mais de meia noite. Amanhã contamos mais.

 

Beijos,

 

Sayo e Cláudio

 

PS – correção da carta anterior: chega-se. Provavelmente existem muitos outros, mas contamos com a condescendência do Caro Amigo, afinal é só um passatempo e viajando de graça não se pode querer muito (ah, ah, ah!!!).

 

 

 

 

 

 

Graz, 10 de junho de 2009.

 

 

Caro Amigo,

 

Tivemos um problema com a documentação do automóvel. Fizemos, como de costume,  no Brasil, um  leasing, então teríamos um carro 0Km e em nosso nome. Como a França está alterando o sistema de numeração das placas e está uma bagunça danada, recebemos uma documentação provisória, que vence dia 29/06, muito antes do fim de nosso contrato e do fim de nossa viagem. A Renault prometeu enviar o documento assim que fique pronto, mas ninguém sabe quando e nós não temos nem idéia onde dormiremos amanhã, pois organizamos a viagem para que seja sempre uma surpresa.

 

Resolvemos, então, alterar nosso roteiro, começando pela Romênia (entrando pela Hungria a partir de Viena), o país maior e mais longe da França, pois pensamos que, caso ocorra qualquer problema, estando na Hungria talvez seja mais fácil de resolver.

 

Foi com essa intenção que deixamos Paris para trás e nos dirigimos à Alemanha, pela região de Champagne. Fazia frio, de vez em quando chovia, de vez em quando fazia sol. Aproveitei para estudar o material que conseguimos sobre a Romênia, escolher as cidades que queria visitar, marcar tudo no mapa. De quando em quando, Cláudio chamava minha atenção para um campo de lavandas, algum castelo ou pequena cidade. Dentro do carro estava quentinho. Paramos para um picnic. Foi uma viagem bastante agradável.

 

No final da tarde, depois de  630 Km, paramos para dormir em uma pequena cidade alemã(é mais fácil para encontrar hotel), chamada Merklingen, entre Stutgart e Munique. Parecia a Legolândia, uma pequena cidade de brinquedo, tudo bonitinho, no lugar, e sem ninguém na rua, aqui e ali um gato imenso. Telhados feitos de um material parecido com ardósia, cor de grafite, bem inclinado, para escorrer a neve. As casas coloridas, bem pintadinhas, milhões de enfeites no parapeito das janelas, entre a cortina de renda, é claro, e o vidro. Os jardins muito floridos, com vasos, canteiros, anões, fontes... tudo. O hotel, uma delícia. Depois de umas comprinhas em nossa rede preferida de mercados (Audi), jantamos no restaurante do hotel; comida boa e cerveja barata, tudo que se precisa após um cansativo dia de trabalho. A Alemanha, embora não muito divulgada para o turismo, sempre nos surpreende.  

 

Pela manhã já havíamos resolvido mudar o trajeto da viagem, começar pela Hungria, afinal, nas viagens anteriores, nunca nos pediram documento nenhum de carro. Resolvemos, ainda, passar em Innsbruck, na Áustria, e visitar os amigos Marcela e Gonzalo, deixar umas coisinhas que trouxemos do Brasil (farofa, doce de leite e um presente para o bebê).

 

Mais um dia agradável de viagem, escolhemos uma pequena estrada  que serpenteava pelo tirol, em meio a picos nevados, pinheiros, lagos, pequenas cidades, pastos cheios de gordas vaquinhas. Lógico que também fizemos um picnic na beira de um lago. Após 416 Km de viagem, que nos tomaram todo o dia, pois a cada instante parávamos para uma tirar uma foto e admirar a paisagem, dormimos na casa dos amigos, tomamos vinho, beliscamos queijos, salame, tomates, pães, batata frita, molho picante, falamos sobre a vida e sobre o futuro.

 

Pela manhã já havíamos resolvido mudar o trajeto da viagem, começar pela Romênia, passando por Zagreb, para visitar Kresimir. O dia estava horrível, escuro, chuvoso, frio. Paramos várias vezes para telefonar para Kresimir, pois como em alguns países Corpus Cristi também era feriado, não sabíamos se o encontraríamos, já que nosso encontro estava planejado somente para o próximo final de semana em Budapeste; não conseguimos.

 

A chuva, o vento, a escuridão e o frio aumentaram, acho que nosso humor piorou, quando chegamos à entrada da Eslovênia, depois de rodar 506 Km, e nos informaram que tínhamos que comprar o selo, com validade de 6 meses (o mesmo que custa 7 euros por 10 dias na Áustria), pois é o menor, para dirigir por 30 a 40 minutos, até a Croácia, que custava a bagatela de 35 euros, quase enfartamos. Então, resolvemos alterar o trajeto novamente, não valia a pena ir a Zagreb sem ter certeza de encontrar Kresimir, e ainda pagar o absurdo de 35 euros (dinheiro não dá em árvore); também só tínhamos o e-mail da Ivana (outra amiga da Croácia), não dava para ter uma resposta tão rápida. Demos a volta e voltamos para a Áustria, resolvemos, então,  dormir em Graz e seguir para Romêmia pelo sul da Hungria, visitando duas ou três cidades Húngaras no caminho e, principalmente, sem nem pensar em passar pela Eslovênia..

 

Nos postos de gasolina da estrada encontramos umas coisas muito legais, destinadas aos caminhoneiros, compramos um equipamento para ligar o Notebook no isqueiro do carro e um rabo quente, também para ligar no isqueiro, para ferver água e fazer um cafezinho solúvel enquanto admiramos a fria paisagem.

 

 

Após o jantar, mudamos de idéia novamente... mas  quase 9 horas finalmente um dia de sol nos espera, temos que aproveitar, contamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

 

Kaposvár, 13 de junho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

 

Graz foi um oásis no meio de nossa tão confusa viagem. Encontramos uma filial da rede de hotéis econômicos, que costumamos ficar, bem no centro da cidade, somamos à simpatia da cidade e o resultado foi que resolvemos relaxar, ficar um dia para conhecer melhor a cidade e deixar de lado preocupações como: onde trocar dinheiro no final de semana, para onde ir primeiro, como será a comunicação nas pequenas cidades húngaras, encontraremos hotel com facilidade, quando chegará o documento do carro etc???? Afinal, não devemos esquecer que estamos em férias (ah, ah, ah).

 

A cidade é, como diria a Hebe, uma gracinha, tudo que se pode esperar de uma cidade austríaca, muito limpa e organizada, aqueles lindos edifícios de três ou quatro andares bem conservados (dizem que é o núcleo urbano antigo mais bem conservado da Europa Central). Não esqueçam as floreiras nas janelas e os coloridos jardins das praças. É patrimônio cultural da humanidade.

 

 

Por todos os lados é possível encontrar, em meio a estreitas ruelas, lindos exemplos de arquitetura gótica, renascentista e barroca. E, de quando em quando, em meio aos edifícios, um portal que conduz a um romântico pátio interno, onde funcionam lojas, restaurantes ou, simplesmente, estão ali para serem admirados.

 

As igrejas são maravilhosas: paredes brancas; altar principal e laterais em mármore, em tons que variam do terra ao negro; cenas principais retratadas em óleo sobre tela; imensas estátuas douradas, brancas ou negras de santos e anjos, que parecem voar em direção ao céu; grandes lustre de cristal; imensos órgãos; arabescos.

 

Mas ao lado do antigo, a cidade convive muito bem com o novo. Os jovens enchem os gramados dos parques ao final da tarde, com suas bicicletas e cobertores, onde se deitam para ler, estudar, conversar, ouvir música, namorar (pena que não trouxemos o nosso, algo a acrescentar em minha bolsa). A Ilha Murinisel é algo inusitado, uma ilha artificial flutuante, de aço e vidro, no meio do rio Mur, que foi construída quando Graz foi capital cultural da Europa e que une as duas margens do rio; onde funcionam uma cafeteria e um anfiteatro (que é usado pela moçada para tomar sol).

 

A Casa de Arte Grazer Kunsthaus também chama a atenção por suas formas futuristas, resumindo é uma grande bolha disforme de vidro, cheia de brotoejas.

 

A cidade é cheia de lojinhas, onde é possível encontrar desde acessórios femininos, de muito bom gosto, até objetos reciclados, também de excelente gosto, como luminárias de pet, robôs de lata de refrigerante, abridores de garrafa de corrente de bicicleta; passando por porcelanas, materiais para artesanato, e, acredite se quiser, máquina para fazer café expresso de mão (é algo parecido com uma bomba de encher pneu de bicicleta, que faz um café de cada vez), testamos e, realmente, faz café expresso gostoso, cremoso e quentinho, pena que o preço e salgadinho, no ano que vem seguramente estará mais barato.

 

As mulheres são muito elegantes, como não poderia deixar de ser. E aqui vai uma dica para a Cara Amiga: legg (com vestido, saia ou short; nada de usar com blusa curta e mostrar o bumbum), colares grandes (parecidos com os de Kiara do Caminho das Índias, um pouquinho menores), pulseira no braço do relógio, preto, branco e amarelo.

 

Agora, como pode ver, estamos na Hungria e nenhum daqueles problemas que imaginamos (acho que eu imagino sozinha, Cláudio nem esquenta a cabeça) transformou-se, realmente, em um problema. Mas já é hora do café, estamos morrendo de fome, conversamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Cláudio

 

 

PS – Veja a resposta da amiga Naila (brasileira que vive em Innsbruck) relatando sua experiência no metrô de Paris:

 

 

De:      Nayla (naylasaurer@uol.com.br)

Enviada:         quinta-feira, 11 de junho de 2009 13:31:30

Para:   Claudio Roberto kuczuk  (crktour@hotmail.com)

 

Oi querida!!!!

Só agora li teus 2 e-mails!!!!!É uma delícia, ler você... parece que a gente está aí,grudada em v6!!!!

Há 3 anos estivemos em Paris...nós 2 e um casal amigo ; Raimunda e Peter (os homens,organizados,orgulhosos de não precisarem de bolsas ou bolsos,não guardam papelzinho nenhum para futuros álbuns românticos das viagens dos sonhos...os "cleans") jogaram fora os bilhetes,apos passarem na catraca! Os fiscais deram AQUELA blitz, ao desembarcarmos.... o vexame foi total!....aí, eu e Veronika fomos tentar salvá-los,falando uma mistura de alemão com português, inglês, francês, braços, pernas, olhares desesperados.... mas não deu outra:50 euros de multa por macho!!!! Não teve discussão que convencesse a "gendarmerie"!!!! Acho até que estão angariando fundos pra campanha do PT !!!! Se vc falar:-"eu nao sabia" eles respondem:-" antes de usar nossos servicos,estude o assunto e aprenda um pouco de frances".Ponto final!Depois, rimos muito pois os austriacos andam só do lado direito....sao super honestos,nunca saem da linha....entao,nao vivem tais situacoes EMOCIONANTES,né? Pois adoraram a cena de filme policial da qual participaram .....sem querer!!!!E nós,mulheres,lavamos as almas...felizes da vida com nossas bolsas que contem TUDO,desde care-free até alicate de unha,passando por papel de bala amassado,pao de dieta do marido,micro-farmacia etc etc etc....pra salvacao dos maridos sortudos.....mas presas nao vamos,nao!!!!

 

Bom queridos, já sabem quando estarao por aqui,mais ou menos? pois temos pequenas viagens(dia 1 e 2 /7,Veneza,dia 10-14/7,Alto Adige),e nao quero perder de estar com voces!!!!Marcela vos  aguarda ,também,ansiosa!!!!

Mil bjks e Ótima continuacao de Viagem!!!!

Nayla

 

 

 

Pécs, 15 de julho de 2009.

 

 

Caro Amigo,

 

 

Trocamos o dinheiro, sem problemas, na fronteira, ou melhor, no que foi a antiga fronteiro, que hoje já não existe mais, pois a Hungria já faz parte da Comunidade Européia, embora ainda não tenha adotado o euro; onde também recebemos mapas e material sobre o turismo no país.

 

A Hungria é, visivelmente, um país mais pobre, percebe-se nas estradas (de mão dupla, com raríssimas autopistas), nos vilarejos humildes, na conservação dos monumentos e dos edifícios de modo geral, em muitos locais se observa a substituição da arquitetura original por algum pesado edifício, em forma de caixote, talvez herança do comunismo.

 

Porém a Hungria ganha muito no seu clima agradável, no sossego de cidades (pelo menos aos finais de semana), nos campos de girassóis (que ainda estão em botão, mas prometem um colorido maravilhoso), na amabilidade de seu povo e nos preços dos hotéis, da comida e da cerveja. Sem contar os enormes ninhos de cegonha, localizados nos finos postes de iluminação, cheios de filhotões (eles são mesmo grandinhos), afinal elas também ganham bebês, só não descobrimos quem os trás.

 

Embora estejamos no sul do país, em pequenas cidades, não muito expressivas ao turismo externo, não encontramos muita dificuldade em nos comunicar, embora o húngaro seja uma língua muito complicada, como já disse o Chico. Aliás, temos feito o maior sucesso, as pessoas se derretem em gentilezas ao saberem que somos brasileiros.

 

Kaposvár é simpática, a região central é agradável para um passeio de final de tarde, mas nada que valha a pena alterar roteiro para visitar. Foi interessante para assistir à entrada de alguns casamentos na prefeitura, no sábado à tarde.

 

Formam-se verdadeiros cortejos, nas proximidades da prefeitura. Aparentemente, a família do noivo vem à frente, seguida da noiva, de sua família e dos demais convidados, todos muito bem enfileirados. Na saída, vão para uma escadaria, ainda na própria praça onde também ficam a igreja, a prefeitura, a fonte e os principais restaurantes, organizam-se, bem direitinho, com os noivos à frente (parece um coral pronto para cantar) e, ao comando de uma pessoa, que parece ser o organizador do casamento, que grita palavras de ordem, vão batendo palma, fazendo saudações e tirando foto, inclusive uma com todos de costas, deve ser uma tradição, tentaremos descobrir a razão.

 

Outra coisa interessante no país, é o hábito de exibir enormes quadros de formatura de ginásio em vitrines de estabelecimentos comerciais, provavelmente de propriedade de parente de algum formando. Lembram aqueles álbuns de formatura que vemos nos filmes americanos. Trazem a foto individual de cada aluno, bem penteado e maquiado, no caso das meninas, sempre em uma pose especial (mãozinha embaixo do queixo, olhar sonhador) e, normalmente, com roupas iguais; e, ainda, a foto de alguns professores. Alguns são mais elaborados, trazendo foto do formando quando criança ou no dia do baile de formatura. Parece que há formatura agora no meio do ano, pois os quadros indicam 2005/2009 e temos encontrado um montão de adolescentes em viagem que parece ser de formatura.

 

Já Pécs é uma interessante cidade, seu centro histórico, fechado para veículos, foi declarado, pela Unesco, Patrimônio da Humanidade e, em 2010, será a capital cultural da Europa.

 

Encontramos um hotel legal bem no centro, deixamos as coisas e rapidamente saímos para aproveitar o lindo dia de sol. Fomos caminhando, seguindo o roteiro de um pequeno mapa que pegamos no hotel. Passamos na mesquita mulçumana que virou igreja católica, em vários edifícios com lindas fachadas e telhados coloridos, como o do correio e outros.

 

Colocamos nosso cadeado em uma das grades da Rua Jannus Pannonius Dizem que, para ter amor eterno, você deve gravar seu nome e de seu amado em um cadeado, juntamente com uma data (não sabemos exatamente qual, namoro, casamento, noivado ou se a de colocação do cadeado na grade) trancá-lo na grade e jogar a chave fora. Pode imaginar o que tem de cadeado!

 

As igrejas húngaras são diferentes das do oeste europeu, quase não tem estátuas, alto relevo, arabescos, ferro e mármore. Elas destacam-se pelos trabalhos de pintura, não somente os de cenas religiosas, como também os  verdadeiros mosaicos geométricos e florais que enchem todas as paredes e tetos.

 

Assim é a catedral de Pécs, dedicada a São Pedro. No teto, com ênfase no tom azul, entre losangos e rendados, a figura dos apóstolos. Mas, onde se destaca o tom acinzentado, delicadas pinturas geométricas, na parte inferior, e cenas da vida de São Pedro, na parte superior. A predominância de tons entre azul e cinza, a iluminação artificial, que vem dos enormes e pesados lustres, e a natural, que vem das poucas janelas, dão ao interior da igreja um ar mágico.

 

As paradas na Hungria foram, somente, nas cidades que estavam em nosso itinerário rumo à Romênia, depois retornaremos para fazer o restante.

 

A Romênia ainda tem os trâmites legais de fronteira, pois ainda esta no início dos trâmites de integração à Comunidade Européia. Pediram nosso passaportes e ... o documento do carro, gelei, pois para mim (Claudio acha tudo certo) o documento que nos deram, que, literalmente, não passa de uma folha de papel sulfite com umas coisinhas escritas (que eu  faria mil vezes melhor, e com mais cara de oficial, em meu computador, afinal não fiz faculdade de direito por correspondência). Como ia dizendo, pois para mim o tal documento não serviria nem para fazer aviãozinho de papel, quanto mais para passar pela fronteira de um país.

 

Aconteceu que... hora do café, dia de sol, muita estrada pela frente, contamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

Sighisoara, 17 de junho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

Aconteceu que o policial pegou o tal documento do veículo, olhou, começo a ver algo em seu computador e pediu que estacionássemos à esquerda. Acreditando que não deveríamos parar logo ali no meio da pista, dirigimo-nos a um estacionamento que havia, há uns cinqüenta metros e aguardamos. O calor era medonho.

 

Alguns minutos após, veio em nossa direção um outro policial, já o imaginava pedindo que descêssemos do carro, que tirássemos tudo do porta-malas etc. Disse-nos, simplesmente, que não poderíamos estacionar naquele local, que deveríamos aguardar junto ao guichê do guarda que checava o documento do veículo. Quando chegamos ao local, o policial devolveu-nos o “documento” do veículo e, desejando-nos boa viagem, liberou a entrada do veículo no país. E não é que o tal documento servia mesmo?

 

Entramos na Romênia pelo lado oeste, fronteira com a Hungria. Se, à primeira vista, encontramos um país muito sofrido e um povo humilde; estradas de não dupla, sem acostamento e, em geral, precisando de muitos reparos; edifícios e casas em precário estado de conservação, sendo quase inconcebível sua utilização, muitos já abandonados; grande parte população dedicada à agricultura e ao pastoreio, e utilizando carroça, puxada por cavalo, como meio de locomoção; grande desigualdade social; onde, nos disseram romenos, há muita corrupção. Prenúncios de uma viagem de férias não tão auspiciosa. Está parecendo um pouquinho com o Brasil, não é?

 

Um segundo olhar mostrou-nos a realidade de uma outra forma. O povo que, a despeito de toda a dificuldade, é gentil, hospitaleiro, tem orgulho de sua origem, sem afetação. Os edifícios, que necessitam de urgente manutenção, ainda contam histórias de príncipes e princesas, dão testemunho de um passado opulento, que nem o braço pesado do tempo e nem o descaso de  governantes conseguiram apagar.

 

Nossa primeira parada foi em Timisoara, a cidade dos parques e jardins, a cidade onde se desencadeou a revolução anticomunista, em dezembro de 1989. Encontramos um hotel legal no centro da cidade, a poucos passos do agito, mas que não tinha água quente. Aliás, a cidade toda não tinha água quente, pois na Europa não se usa chuveiro elétrico (que para eles é perigosíssimo, inimaginável) e aqui, na Romênia, como em outros países, o aquecimento da água é feito em grandes usinas termoelétricas e trazido para as casas através de tubulações subterrâneas, como a água fria.

 

Olhar a Catedral Ortodoxa de Timisiora , com suas inúmeras torres,a partir dos jardins da Praça Piata Vitorian , é como estar em um conto de fadas, olhando o castelo de Cinderela e passeando por seus jardins, cujas flores estão dispostas formando delicados desenhos e brasões. Elegantes senhoras enchem as cafeterias e restaurantes localizados ao seu redor. Meninas, vestidas de bailarinas, brincam entre suas fontes e flores, enquanto meninos tratam de matar dragões. Já os austeros senhores, resolvem problemas mundiais entre o jantar e o cognac. O acinzentado dos lindos edifícios antigos e a necessidade de manutenção aqui e ali não tiram a beleza da cena. Na verdade, deram a ela um certo ar nostálgico.

 

Sibiu foi capital cultural da Europa em 2007. É chamada cidade museu porque seus monumentos históricos e edifícios, em tom pastel,  perfeitamente conservados, espalham-se  por praças e ruas do centro antigo, onde não circulam automóveis, permitindo caminhar calmamente observando as maravilhas, realmente como em um museu.

 

Visitamos o Palácio Brukenthal para ver a pinacoteca que há em seu interior, com mostra de pintura flamenca, romena e de alguns conhecidos pintores europeus. Estivemos também na Catedral Ortdoxa da Santa Trindade e Igreja Evangélica, para ver o afresco da Cruxificação e o túmulo do Príncipe Mihnea, o Mau, filho de Vlad Tepes, o Drácula.

 

As estradas passam no meio de pequenas cidades, comumente se observam senhorinhas todas de preto, com lenço na cabeça, atarefadas ou, ao final da tarde, sentadas, em bancos localizados nas frentes das casas, conversando, enquanto cachorros cavam, crianças brincam, galinhas ciscam, pastores trazem vacas e ovelhas.  Formando um lindo quadro de cena bucólica.

 

Hora de jantar na casa de Drácula, depois conversamos mais.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio   

 

Brasov, 20 de junho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

Sumimos?? É que tiramos umas férias (ah, ah, ah, ah)!

 

Contam que, pelos meados de 1400, o Príncipe Vlad Tepes era filho de Vlad Dracul (que significa dragão ou demônio), vindo “Dracul” de uma sociedade secreta da qual o pai teria participado. O Príncipe, cristão valente, defendendo seus territórios dos turcos, foi muito cruel com os seus inimigos, cortando-lhes a cabeça e pendurando seus corpos em locais visíveis. Sendo essa uma estratégia de guerra para intimidar seus inimigos, já que tinha um exército pequeno, pois assim, quase mortos de medo, eles fugiam. Por esse motivo ele recebeu a fama de sanguinário, o resto é lenda, é o que dizem, mas ainda não estamos bem certos.

 

Jantamos na casa onde nasceu Vlad Tepes, um restaurante muito agradável, mobiliado como na época de reis e rainhas, bastante agradável. Comemos uma sopa de feijão com bacon, servida dentro de um grande pão, acompanhada de salada de cebola roxa; um ensopado de fígado de galinha e lingüiça, com muito molho de tomate, acompanhado de “polenta” (é polenta mesmo, muito parecida com a nossa, feita com farinha de milho pouca coisa mais grossa que nosso fubá), comida  parecida com a que fizemos na casa da Olga e do Paul; e cevapi (pequenos kafitas feito de carne de carneiro) com salada. Um jantar de comidas típicas da Romênia, conforme nos indicou nosso garçom.

 

Sighisoara é uma cidade medieval, localizada no alto de uma colina, considerada uma das mais belas cidades medievais da Europa. É palco de numerosos festivais culturais. Encontramos a cidade passando por severas reformas, assim que não pudemos desfrutar de toda sua beleza.  

 

As carroças, que utilizam como meio de transporte, têm o banco da frente, o do “motorista”, e atrás um enorme caixote retangular de madeira, onde se carrega de um tudo, feno, mudança, pessoas. Ontem, no começo da noite, encontramos com uma que trazia um alegre grupo, certa de 10 pessoas, que pareciam dirigir-se a uma festa, vinham cantando ao som de sanfona e uma espécie de flauta. Quando fizemos menção de tirar uma foto, pararam esperaram e fizeram uma festa ainda maior.

 

Faz calor, cerca de 30º, fresquinho na sobra e à noite. Céu de brigadeiro, com muito sol. Já estamos pegando uma corzinha. Sair do Brasil para tomar sol na Europa é coisa de doido, eles não acreditam.

 

Não encontramos muitos problemas de comunicação, muita gente fala inglês, sem sotaque e melhor que o nosso. O povo é gentil, quando faltam palavras, sobram gestos.

 

Seguindo viagem, pelo centro do país, rumo à Capital, Bucareste, pela Transilvânia, região dos Montes Cárpatos e de florestas, notamos grandes mudanças, algo como ir do norte do Brasil para o sul. Melhoram as condições de vida da população, as cidades são prósperas.

 

Brasov, cidade medieval, realmente merece o título de segundo destino turístico da Romênia, é um brinco de princesa. Maravilhosa no verão, quando parques, jardins e praças ficam lotados de gente alegre e falante, caminhando, para lá e para cá, com seus sorvetes e sacos de pipocas. Circundada por montanhas, é, seguramente, destino de esquiadores no inverno.

 

Todos os restaurantes têm mesas na rua, com confortáveis poltronas e sofás (parece uma sala de estar), sob enormes guarda-sóis quadrados, onde se lê: Probably the best city in the world. Para encontrar lugar à noite é preciso fazer novena.

 

Passeamos pela Praça Sfatului; visitamos a Igreja Negra, que recebeu este nove em virtude de um incêndio, e a Catedral Ortodoxa, religião de mais de 80% da população; caminhamos pelos lindos jardins do Parcul Nicolae Titulescu, que tem rosas quase do tamanho de um repolho (talvez tenhamos exagerado um pouco, mas como o Caro Amigo não está aqui, terá que acreditar em nossa palavra); subimos as torres Branca e Negra, que ficam nas muralhas que eram usadas como defesa da cidade.

 

Encontramos um pequeno apartamento, com um ótimo preço, na casa de uma senhora muito simpática, Tereza, dentro de um antigo edifício, onde também funcionam um cartório, um salão de beleza e alguns escritórios, e fomos ficando, pois é estratégico para visitar outras cidades da região. Ontem, Tereza trouxe-nos uma garrafa de Shinaps, feita por seu pai com as uvas que ele tem em sua pequena horta. Uma delícia!

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio    

 

Bucaresti, 22 de junho de 2009.

 

 

Caro Amigo,

 

A partir de Brasov, fomos visitar a pequena cidade de Sinaia, cerca de 30 km, para conhecer o Palácio de Peles, construído em 1883, para o primeiro rei da Romênia unificada, Carlos I, de origem alemã. Há quem diga que ele tem decoração excessiva, que é muito extravagante. Pura inveja! Ele é o que um castelo deve ser, quer coisa mais fora de moda que castelo “clean”. Ele foi construído como residência de verão do rei, em estilo neo-renascentista alemão. Como o rei adorava viver nele, foi fazendo ampliações, assim que, ao final ele tem vários outros estilos, italiano, espanhol, turco.

 

O castelo tem mais de 160 cômodos, visitamos o térreo, parte social, e o primeiro, onde se localizavam os quartos dos reis e de convidados, os  especiais, os outros andares estão fechados ao público. A madeira é o principal componente de sua decoração interior, há trabalhos de entalhe que parecem rendas, uma delicadeza ímpar; estátuas entalhadas onde quase se vê o sangue correndo nas veias; dizem que uma sala de visitas, que foi presente de algum marajá, levou mais de cem anos para ser entalhada, tamanha a riqueza de detalhes de seu entalhe.

 

Os reis somente tiveram uma filha que morreu muito cedo. Então, a rainha, dedicava-se às artes, pintava, tocava piano e escrevia; seu bom gosto e amor às artes transparecem na decoração do castelo, em esplendidos vitrais, pinturas, adornos, várias salas de música, inclusive um teatro, para 60 pessoas, onde se apresentavam jovens artistas do país. O castelinho de nossos sonhos!

Também fomos à cidadezinha de Bran, visitar o Castelo onde, supostamente, viveu Vlad Tepes, o Drácula, que estende majestosamente suas torres sobre um penhasco. Foi originalmente construído como fortaleza de defesa, portanto, tem características totalmente diferentes do anterior. Chegou a ser usado como residência da Rainha Maria, mas nunca perdeu suas características de fortificação. Quando ao Drácula? Parece que está em férias, continuaremos procurando.

 

As praças do centro histórico das antigas cidades têm características diferentes da nossa concepção, mas praças localizavam-se o coração da cidade, o centro comercial e administrativo, as feiras. Assim, elas nem sempre têm jardins e banquinhos, normalmente são circulares e têm ao seu redor aqueles belos edifícios de quatro andares, igrejas, chafarizes. Podem até ter sido acrescentados, atualmente, jardins e bancos.

 

Na noite de sábado, fomo à Praça Sfatului, em Brasov, para uma apresentação de Filarmônica de Brasov e de cantores italianos, em comemoração à chegada do verão (aqui, na Europa, é muito comemorada, inclusive é o dia da música). Foi um show a parte, não só a música, que foi de excelente qualidade, como as pessoas que lotaram a praça. Senhoras elegantézimas, tudo combinando (elas devem ter sapatos e bolsas de todas as cores do arco-íris, inclusive florido, que está super na moda), trazendo seus cachorrinhos pela coleira, com ar descontraído. Adolescentes tagarelando com amigas e ao celular (aqui também o adoram). Pais (aqui, quem diria, eles cuidam dos filhos) correndo atrás das crianças; alguns, mais moderninhos, colocavam o monstrinho (a) em um carrinho de controle remoto e saíam atrás dirigindo, brincavam o filho e o pai.

 

Visitamos, ainda, a Igreja Fortificada de Prejmer, declarada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.

 

A chegada à Bucareste foi traumática. Será que estávamos procurando pelo Drácula quando foi declarada a 3º Gerra Mundial? Porque, seguramente, ... hora do café! Contamos depois!

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

Constanta, 25 de julho de 2009.

 

Porque, seguramente, parece que várias bombas explodiram em Bucareste. Começamos a entender porque vários Romenos franziam o nariz quando dizíamos que visitaríamos a cidade. Ela é cinza e suja, os edifícios estão detonados; em nada nos lembrou o apelido que já teve: “Pequena Paris”. Os parisienses devem ficar “p” da vida com tal comparação. Sorte que chegamos domingo à tarde, pois se aliássemos a isso um trânsito caótico, não faltaria nada para o fim do mundo. 

 

Um lugar onde alguém só pensaria em ir em caso de calamidade pública ou para tirar a mãe da forca, foi o que pensamos. Dava vontade de dar as costa e ir embora. Mas, afinal, somos brasileiros, já encaramos coisas muito piores e, como a cidade está no roteiro, o Caro Amigo, seguramente, esperava visitá-la. Encaramos!

 

Foi um parto encontrar um hotel com bom preço e estacionamento, afinal encontramos um bem localizado e modernoso. Onde conhecemos uma recepcionista que falava espanhol, Violeta, e nos contou, com muito prazer, várias coisas sobre o país.

 

Saímos rapidamente para conhecer a cidade o mais rápido possível e fugir.

Fomos nos interando da geografia da cidade, grandes avenidas que facilitam o fluxo dos veículos e a locomoção dentro da cidade, grandes praças, chafarizes.

 

As igrejas ortodoxas não têm estátuas, somente quadros e pinturas murais que são, geralmente, verdadeiras preciosidades. Geralmente têm mais de duas torres, não muito altas e suas cúpulas são bem redondinhas. O dourado e o prateado são muito usados, cores alegres também. São muito comuns quadros feitos em metal, dourado ou prateado, onde só os rostos aparecem pintados.  Não têm altar; têm poucos bancos, somente em volta, e muitos tapetes.  

 

Assistimos parte da missa na Catedral Metropolitana Ortodoxa, que fica em um enorme complexo que inclui monastério, no centro da cidade. Mulheres, geralmente com um lenço na cabeça, ficam de um lado, homens de outro; em pé ou de joelhos. A missa foi toda cantada, parecia canto gregoriano, por padres.  Está foi uma das mais preciosas que visitamos.

 

Passeando pela cidade vimos muitos cartazes anunciando o musical Romeu e Julieta, passando em frente do Teatro de Operetas de Bucareste, às 17:50 horas, resolvemos arriscar. Compramos os dois últimos ingressos para assistir a apresentação de domingo, às 19:00 horas. Voamos para o hotel, afinal não dava para ir de bermuda (até dava, tinha um montão de turista assim, mas não combina com a gente), voltamos a tempo. O teatro estava lotado, venderam lugar até para sentar no chão, por sorte nossos lugares eram ótimos. A encenação foi linda (Romeu nem se fale), com várias trocas de cenário e figurino; algo entre o medieval e moderno. Os cantores... rouxinóis!

 

Bucareste começou a mudar de cara. Ou nossos olhos começaram a mudar. O trânsito não era tão caótico como imaginávamos e eles têm o ótimo hábito de estacionar em qualquer lugar, que facilita muito a vida do turista, que sempre quer tirar uma foto no local onde é proibido estacionar.

 

Visitamos, ainda, o Parque Herastrau, um museu a céu aberto, que representa as várias regiões do país através de suas cultura: casas (mobiliadas), igrejas, moinhos, jardins, instrumentos de trabalho, brinquedos. Vale a pena conhecer para ter uma visão geral do país.

 

O Parlamento é uma suntuosidade, o 2º maior do mundo, depois do Pentágono (USA). Fizemos uma visita guiada. São zilhões de mármore, de tapetes, de cortinas, de lustres de cristal, de lâmpadas. Feito pelo megalomaníaco Nicolau Ceausesco, para impressionar seus convidados  e, realmente, é impressionante.

 

O Parque Cismigiu é o paraíso na terra numa tarde de verão, depois de caminhar todo o dia. Cheio de frescas alamedas, fechadas pelas copas das árvores, bancos, jardins e de restaurantes, à beira do lago. Sentamos e tomamos uma cerveja, afinal ninguém é de ferro.

 

Ainda tem o Arco do Triunfo, o Ateneu Romano, a Ópera, o Banco Comercial Romeno, o Círculo Militar, a Avenida Victoriei, o Rio Dabovita e a Piata Unirii.

 

Hora de partir para Constanza, litoral. Uma pena, já estávamos até acostumados com Bucareste.

 

Beijos,

 

Sayo e Cláudio

 

Tulcea, 27 de junho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

De Constanta avistamos, pela primeira vez, o Mar Negro, que na verdade é bem azul e frio, com praias de areia, o que não é muito comum na Europa, onde as praias são, geralmente, com pedrinhas.

 

A cidade é a 2º maior do país, 4º porto da Europa, porém bastante decadente, sem muitos atrativos para turistas, portanto preferimos nos hospedar em Mamaia, cidade vizinha, uma estreita faixa de terra entre o Mar Negro e um lago, muito explorada turisticamente.

 

A disposição da cidade é bem diferente da das nossas cidades litorâneas, são vários aglomerados, que parecem uns labirintos, onde se encontra de tudo: hotéis, restaurantes, parques de diversão, praças, condomínios residenciais, mercadinhos, farmácias etc. Mas não são exatamente ruas bonitinhas, com calçadas e tudo mais; elas são estreitas, sinuosas e acabam dando num lugar estranho, como o jardim de algum hotel. Estacionar é quase impossível aos finais de semana, por sorte reservamos uma vaga em nosso hotel quando chegamos.

 

Parece que a Romênia inteira estava em férias, e todos vieram à praia, a coisa estava bombando. Mil shows, eventos nas praias, vendedores de tudo que se possa imaginar ou querer. Mas praia que é bom, só para quem tem pele de sapo e o pessoal aqui parece ter, não estão nem aí para o frio da água, afinal é verão, temperatura em trono de 30º, céu azul, eles vão de qualquer jeito, vestidos ou pelados, o importante é molhar o bumbum.

 

Rumo ao sul, divisa com a Bulgária, visitamos várias cidades: Mangalia, Neptun, Olimp, Costinesti, Euforie Sud e Euforie Nord. Todas mais ou menos como Mamaia.

 

Os girassóis começaram a florir, estão lindos. Os enormes bebês das cegonhas começam a sacudir suas também enormes asas dentro dos ninhos, logo voaram. Todos estão com filhotes, as cadelas, as vacas, as patas, as cabras, os cisnes brancos cuidam, atentamente, de seus estanhos filhinhos, que logo trocarão sua penugem cinza por lindas penas brancas. É o milagre da primavera se transformando em verão.

 

As estradas vão passando dentro de pequenas cidades, com modestas casas, que têm pequenos pomares, cujas frutas são vendidas em baldes nas calçadas (a cereja custa, em média, quatro reais o quilo, dá para comer como amendoim). Começamos a entender o motivo de vermos tanta gente carregando balde para lá e para cá, já que eles servem para colher frutas, pegar água no poço (quase toda cidade tem um na rua), dar de beber ao cavalo que puxa a carroça, alimentar animais etc.

 

Apesar de boa parte da população ainda usar a carroça como meio de locomoção, o celular já virou mania nacional por aqui também, é bem comum ver o pessoal na sua carrocinha falando ao celular.

 

Na Romênia é pecado mortal beber refrigerante, porque ele custa o mesmo preço da cerveja. Então, temos apreciado todas as cervejas locais. Come-se, em geral, carne de porco e cabrito; os embutidos são muito apreciados, tudo acompanhado com polenta, um creme de leite ácido, um queijo branco forte e salgado (talvez de leite e cabra) e muito molho de alho (talvez por isso não tenhamos encontrado nenhum vampiro).

 

Os rapazes são muito vaidosos, cabelo com corte e penteado moderno, roupa combinando, até a sobrancelha parece que fazem. Andam mais arrumados que as meninas.

 

Seguimos para Tulcea, para conhecer o Delta do Rui Danúbio, declarado Patrimônio Mundial e Natural da Humanidade pela Unesco. O rio divide-se em pequenos canais, como se fosse a raiz de uma árvore, formando charcos, ilhas fluviais, lagos.

 

Fizemos um passeio de barco por parte do Delta, pois ele é enorme, levaríamos semanas para conhecê-lo todo. O local está bem preservado, o barco era pequeno, com motor silencioso, enquanto ia navegando pelos canais, observávamos garças, pelicanos, cosmoranes, cisnes, patos, marrecos, e inúmeros outros pequenos pássaros, além de frondosos salgueiros derrubando suas copas sobre as águas, que as refletia como um espelho. De quando em quando, algum pescador sentado preguiçosamente na beira, ou outro barco cheio de turistas também maravilhados.

 

Seguimos para o norte do país, outras aventuras nos esperam.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

Targu Neamt, 30 de junho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

 

Contam que, pelos meados de 1400/1500, os nobres cristãos comemoravam suas vitórias, contra os infiéis islâmicos, construindo e decorando igrejas com pinturas que representavam sagas e contos bíblicos, assim os cidadãos humildes, que não sabiam ler, poderiam aprender através das imagens.  Atualmente, esses monastérios, assim são chamados por aqui, continuam sendo regularmente usamos pela população e muitos foram declarados Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Para conhecê-los viemos ao nordeste da Romênia, região da Moldova/Bucovina.

 


 

Passamos por Iasi, a cidade dos jovens e das universidades, que tem um enorme Palácio de estilo neoclássico, inaugurado em 1896, com pintura clara, milhares de janelas, e telhado, e torres, grafite e em forma de trapézio, onde hoje funciona um complexo de museus. A cidade é imponente, já foi capital.

 

Região de colinas e bosques. As estradas continuam passando por pequenas cidades, muitas que têm, como única rua, a própria estrada. Já notamos diferença na arquitetura, as casas têm um estilo mourisco, talvez meio árabe, com telhados de zinco, beirais trabalhados, como renda, e paredes também trabalhadas, formando barrados geométricos, principalmente em volta das janelas e portas.  Seguem os bancos na calçada, os pomares, os baldes. E surgem as galinhas, ciscando, em frente às casas, na beira da estrada.

 

Além da carroça, outro meio de transporte muito usado é a carona, pois, aparentemente, os vilarejos não têm interligação por transporte urbano regular no país. Todo mundo pede carona, velho, moço, criança, freira, padre.  Aparentemente são remuneradas, pois demos carona a uma senhora e, na hora da descida, ela ofereceu-se a pagar alguma coisa. Já uma freira, que nos acompanhou por cerca de 70 Km, deu-nos um santinho para pendurar no carro e algumas pulseirinhas que teceu durante o percurso. Retribuímos a gentileza, oferecendo-lhe uma toalhinha com bordado do nordeste do Brasil.

 

A população parece ser muito religiosa. As igrejas estão sempre movimentadas, diferentemente das católicas apostólicas romanas. O povo entra e sai, sempre apressados, beijando os quadros e benzendo-se muito, sempre em conjunto de três e na seqüência testa, peito, lado direito e lado esquerdo; compram velas, que são acendidas em local apropriado, para mortos ou para vivos, fora da igreja; escrevem mil bilhetes e entregam para o padre  ou para freira (sempre há um), com quem discutem o que está escrito; pegam pão e água benta, que ficam à disposição dos interessados; entram e saem no meio da missa sem qualquer cerimônia.

 

Os padres e as freiras são muito austeros, vestem-se de preto, até as meias. Elas ainda usam um chapeuzinho preto e sobre ele um lenço. Eles têm, em geral, cabelos compridos e usam chapéu; durante as celebrações religiosas, vestem suntuosos trajes coloridos.


 

Voltando às igrejas ortodoxas, no local onde supostamente seria o altar, elas têm um enorme portão muito trabalhado, geralmente dourado, com pinturas de santos, onde existem duas portas, através das quais os padres entram e saem durante a missa. Internamente são, geralmente, revestidas completamente com pinturas murais, em quadrados, de cenas religiosas. Os santinhos sempre têm um douradinho, um arabesco, uma florzinha, uma moldurinha. Parece que chegam à Deus mais pela beleza, que pelo sofrimento.

 

Saímos explorando os monastérios, que, apesar do nome meio pomposo, são igrejas não muito grandes. As formas arquitetônicas são distintas das igrejas ortodoxas de que vimos no sul do país, têm uma só torre e a cúpula lembra um chapéu de bruxa. Alguns estão encerrados entre muros fortificados, outras dentro das próprias cidades. Alguns com pintura mural até em suas paredes exteriores. Uns em excelente estado, outros bem deteriorados. São dezenas, visitamos os mais comentados.  

 

  


 

O Monastério de Agapia é precioso, além de ter toda beleza das igrejas ortodoxas, ele é branco, por fora, o que cria um belo contraste com o rico colorido do jardim. Também é toda branca a pequena vila, que dele faz parte; casas de madeira entalhada, cortinas de renda, vasos de flores por todas as varandas, pequenos pomares, jardins, cercas baixas, portões de ferro. Não se encontra lugar para olhar onde não se veja uma flor.

 

O Monastério Humor é de 1530, tem uma bonita representação da Caída de Constantinopla e da Volta do Filho Pródigo, mas precisa de restauração urgente.

 

Voronet é apelidado de Capela Cistina, pela qualidade de suas pinturas, Foi construído em 1488, suas pinturas exploram o tom azul e mostram a adaptação da arte clássica bizantina à realidade da Moldova,  pois as trombetas dos anjos têm a forma das túnicas da população da região e as almas, que ardem no inferno, têm turbante, como os turcos.

 

O Monastério de Sucevita é do final do século XVI, é o que tem o maior número de pinturas e está conservado em sua forma original, que combina elementos da arquitetura gótica e bizantina.

 

O Monastério de Arbore está em péssimo estado e em restauração, pouco ou, quase nada, se pode ver em seu interior.

 

O Monastério de Putna, na foto acima, é de 1469, mas sofreu grandes modificações em meados de 1600. Nele está enterrado o príncipe Stefan Cel Mare, um dos responsáveis pela expulsão dos trucos, é um dos que se encontra em melhor estado de conservação.

 

Estivemos também em Suceava, onde visitamos seu monastério e as ruínas de sua cidadela. Igualmente fizemos em Neamt.

Quanto aos documentos do carro? Venceram ontem, a Reanult fala, fala e não resolve nada. Veremos o que acontecerá na hora de passar pela fronteira.

 

Hora de dormir, já rezamos muito.

 

Beijos,

 

Sayo e Cláudio

 

PS – Em virtude de problemas técnicos, afinal somos uma pequenina empresa, com pouco capital e recursos técnicos (ah!ah!ah!), não enviamos fotos dos trechos anteriores da viagem. Parece que o problema foi solucionado, esperamos que recebam e gostem.

 

 

Kisses, Dear Ivana,

 

How are you and your family?

 

We are very well and enjoy our trip.

 

Unfortunately we do not have time to go to Zagreb this year because we are late, we ask forgiven.

 

We have a small gift for you and for our friends Silvia and Kresimir. They are traveling and we would like to know your address to send them If it is possible. 

 

Thank you.

 

Sayo and Claudio

 

 

Baia Mare, 02 de julho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

Estamos em Maramures, no noroeste do país. Região de montanhas, pinheiros e pequenas vilas, que guardaram vivas suas tradições e folclore.

 

Casas de madeira escura, sem pintura, encerradas atrás de enormes portões, também de madeira, com entalhes, que possuem uma pequena porta, para entrada de pessoas, e uma maior, para entrada de carroças e  gado.

 

Destacam-se na paisagem, as igrejas com torres muito altas, pontudas, e telhado em forma de escama de peixe, tudo em madeira. Internamente, trazem muitos tapetes e toalhas bordadas, inclusive nas paredes, que substituem as pinturas, tão tradicionais nas igrejas ortodoxas. Suas poucas pinturas internas são, geralmente, em tons de bege e marrom, mais rústicas.

 


 

Não há mais bancos nas frentes das casas, os baldes foram substituídos por cestos, que têm alça, como uma mochila, e são carregados nas costas. As galinhas devem estar na panela. Seguem os lenços na cabeça, já mais coloridos.

 

Conversando com algumas pessoas, jovens, nos chamou a atenção o fato de não terem uma posição radical contra o comunismo. Afirmam, inclusive, que a população tinha melhores condições de vida, somente se queixam de que tinham menos liberdade.

 

Também notamos que se ressentem por não terem boa fama na Comunidade Européia. Nos contaram que a culpa é dos ciganos (há uma quantidade muito grande na Romênia), que imigram e cometem barbaridades em outros países, recaindo toda a culpa ao povo romeno. Realmente, o país nos pareceu bastante tranqüilo, a população amistosa e gentil. Exceto no trânsito, pois adoram uma buzina, mas respeitam muito os pedestres.

 

Quando à pobreza do país, afirmam que a culpa é da corrupção dos governantes. Isso nós, brasileiros, já conhecemos de cátedra, diariamente convivemos com o mesmo problema. Talvez até em maior grau, afinal somos bem maiores e temos uma população ainda maior.

 

Mas tratemos de amenidades, estamos em férias!

 

Fomos atrás do Cemitério Alegre, e não é que ele existe! Na minúscula cidade de Sapanta, na fronteira com a Ucrânia, as lápides são feitas em madeira e entalhes destacam as qualidades, nem sempre muito boas, do falecido, fazem piadas ou contam detalhes de sua morte. Como não entendemos nada do que está escrito, observamos as ilustrações, mas não conseguimos saber se ele é realmente alegre, pelo menos é diferente.

 


 

Em Baia Mare, ficamos em uma pensão muito simpática, a melhor e mais confortável de toda viagem. A cama era enorme, com uma linda colcha e cheia de almofadinhas, o colchão parecia uma nuvem. Elvira, a dona, é romena, mas viveu muitos anos no Canadá e Estados Unidos, seu inglês é ótimo. John, seu marido é canadense.

 

Setenta quilômetros após deixar Baia Mare, percebemos que a bolsinha, onde carregávamos quase todo o dinheiro da viagem, tinha ficado em cima daquela linda cama. Pensamos: foi para o céu! Essa viagem realmente está cheia de sobressaltos ... mas o sol está alto, hora de ir às termas, contamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Cláudio

 

 

 

 

Oradea, 04 de julho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

Saímos de Baia Mare e, após 70km, na hora de fazer xixi, Claudio percebe que está sem a bolsinha de dinheiro que, normalmente levava na cintura.

 

Toda viagem sempre tem alguma nuvem negra, alguma bruxa(o) que levantou com o pé esquerdo e resolver estragar o dia do pobre turista. Bem, aquele dia foi o dia de pagarmos todos os nossos pecados e devem ter sido muitos! Voltar 70 km foi fichinha, o primeiro de uma série de contratempo de um longo e fatídico dia.

 

Pela primeira vez, nesta viagem, pegamos uma estrada errada, porque ainda viajamos no velho e bom método do mapa. El GPS soy (Sa)yo!(ah, ah, ah, ainda dá para rir!).  Mais 60 km aos 140 para ir e voltar de Baia Mare.

 

Encontramos a pior estrada da face da terra; pensando bem, nem a lua, com todas as suas crateras, deve ter estrada tão ruim. Anote em seu caderninho e jamais, em hipótese alguma, nem para tirar a mãe da forca, trafegue pela 1H, entre Simleu Silvanei e Alesd. São 30 ou 40Km de terreno minado, que nos custaram dois furos em um pneu e uma roda entortada.

 

Resumindo, saímos de Baia Mare, ás 11 horas, para rodar 200km até Oradea, onde chegamos, às 20 horas, após rodar 400km e ainda tínhamos que encontrar hotel.

 

Mas o Caro Amigo deve estar curioso para saber sobre o dinheiro! A faxineira a encontrou em cima da cama. Elvira e John já nos esperavam com a bolsinha na mão, já tinham até tentado ligar em nosso celular do Brasil (que ficou em casa desligado), pois deixamos nosso cartão de visitas, quando partimos pela primeira vez.

 

Demos uma caixinha para a faxineira, que ficou muito contente. Tomamos umas cervejas com John e Euvira . Comemos uma ciorba de burta (é sopa de bucho mesmo), eleita por Claudio como a melhor comida romêna, agora já sabem porque não temos problemas com comida em viagens, comemos até prego. Trocamos presentes, eles nos deram uma bebida típica, cujo teor alcoólico é 65º, uma verdadeira bomba, mas dizem que faz bem para o estômago e para a garganta, mas também, se não for, pelo menos nos deixará tão bêbados que esqueceremos a dor; e nós lhes demos uma garrafa de cachaça, castanha de caju e castanha do Pará. Demos muita risada e voltamos para estrada, rumo à Oradea, a segunda parte do calvário que já lhe contamos acima.

 

Viemos a Oradea para conhecer parques aquáticos de águas termais, muito famosos na Romênia, e foi assim que relaxamos no Day After, boiando na água quente.    


 

Encontramos um hotel muito divertido, de um “envelhescente”. Já conhecia essa? É algo parecido com a gente, que vai envelhecendo e agora quer fazer o que não fez na adolescência porque teve vergonha. Com experiência e um pouco mais de dinheiro é bem melhor (ah, ah, ah!). Além do mais, “envelhescente” é bem mais simpático que 3º Idade ou Melhor Idade.

 

Mas voltando ao hotel do Carol (Carlos), o tal envelhescente, que já foi à Fortaleza e adora o Brasil. Ele tem uma linda piscina, onde, pela manhã funciona uma escola de natação; tem uma pequena boate, onde a moçada vem para cantar, tocar e conversar, se der fome, pede comida para viagem. Tem também a Linda, muito linda, que teve oito cachorrinhos e divide a comida com a gente (ela come a nossa). O Carol, sua esposa e filhos, todos muito simpáticos, administram o local que, embora não seja uma jóia de organização, é muito agradável e acolhedor, rola um astral legal, está sempre cheio de jovens.

 

 

Oradea é a principal porta de entrada do país, embora não muito divulgada turisticamente, é uma bela cidade, cheia de edifícios barrocos e neoclássicos, muitos já declarados patrimônio histórico, dos quais boa parte já se encontra restaurada; pouco se vê daqueles horrorosos edifícios em forma de caixote.

 

Está chegando a hora de dizer adeus à Romênia, que vai deixar muitas saudades!

 

Aqui estão passando O Clone e Sinhá Moça, faladas em português e legendadas em romeno. E por falar em novela, sabe a quantas anda a novela do documento do carro? ... hora do café e de colocar, novamente, os pés na estrada. Contamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Cláudio

 

 

Tokaj, 06 de julho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

Enviamos vários endereços e telefones de hotéis onde estivemos; a Reanult dizia que o documento do carro estava pronto, mas nada de enviá-lo. Finalmente, admitiram que não, enviaram-nos uma carta de desculpas, num português bastante estanho (enviamos ao final), e outra, em inglês e em francês, que deveríamos apresentar a qualquer autoridade, que questionasse a validade do tal documento provisórios, informando que o problema era da prefeitura de Paris e que a Renault assumia toda a responsabilidade.

 

E lá fomos nós, atravessar a fronteira com duas folhinhas de papel. Pediram nossos passaportes e o documento do veículo. Entregamos o papelzinho vencido, guardamos um trunfo para o final. Olharam alguma coisa no computador e... estávamos liberados.

 

Então, chegamos sãos e salvos à Hungria novamente. Passamos na cidade de Debrecen, bonitinha, mas muito parada para um sábado à tarde, então seguimos, com muito prazer, para Tokaj, uma minúscula cidade no meio do país.

 

A Unesco declarou a região de Tokaj patrimônio mundial por um motivo muito interessante, um dos mais interessantes que já ouvimos falar, a qualidade de seu vinho, pois a vinicultura está preservada, em sua forma original, há mais de 1000 anos. Lógico que não deixaríamos de conferir essa para contar ao Caro Amigo, inclusive porque dizem que “é o rei dos vinhos e o vinho dos reis”.

 

Encontramos um gostoso apartamento, com um ótimo preço, no meio de um jardim florido e em cima de um “borosó” (adega em húngaro), não poderíamos pedir mais nada a Deus. Acabamos ficando alguns dias a mais para aproveitar as delícias da região.

 

A Hungria é muito famosa por seus banhos termais. Fomos conhecer as Termas de Miskolc-Tapolca, nota 10. Além das piscinas externas, existem várias internas e em meio a grutas, tudo bem quentinho, sensacional! Com correnteza, hidromassagem, pontes, jacuzi, cascatas, boate (na água), lanchonete, além dos inúmeros tratamentos de beleza e relaxante, não dá para enumerar. E como se ainda faltasse algo, eles descobriram uma serventia para aqueles inúteis secadores de mão que existem em alguns banheiros  públicos, que pensávamos ser só enfeite; os secadores estão nos vestiários, têm altura regulável, e servem para secar o cabelo, deixando as mãos livres (coisinha inteligente).

 

Visitamos o Parque Aggtelek,  também declarado patrimônio mundial pela Unesco, que fica na fronteira com a Eslováquia, com cerca de 700 grutas, divididas entre os dois países. A que tem a maior estalagmite do mundo, Dominica, fica na Eslováquia, fomos até lá, mas estava fechada, segunda-feira. Visitamos a Baradla, na Hungria, tem algumas formações interessantes e uma sala de concertos subterrânea, onde assistimos uma apresentação de luz e som, foi a única coisa interessante (além do picnic que fizemos na saída). As formações são, em geral, muito pretas, o frio é terrível e o guia super antipático, só fala em hungaro que, cá entre nós, é mil vezes pior que falar grego, não se entende uma única palavra. Não registre em seu caderno e não vá.

 

Valeu a pena também porque, no caminho, encontramos nossa rede de supermercado preferida, que é alemã e agora está chegando aos outros países, Aldi. Uma das coisas que adoramos é fazer tour em supermercado, dá para conhecer os hábitos da população, um montão de comidas diferentes (lema do Cláudio: a viagem é 50% o que vejo e 50% o que como. Pessoalmente (Sayo), acho que para ele é 50% o que fotografa, 25% o que come e 25% o que vê) e, ainda, encontrar umas promoções legais.

 

 

Temos uma coisa não muito agradável para contar, pedimos que o Caro Amigo não se aborreça e “não nos deixe só”, foi algo que fugiu ao nosso controle... mas temos que ir ao Museu do Vinho, o sol já está alto, contamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Cláudio

Eger, 09 de julho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

Não iremos a Budapeste! Sabemos que o Caro Amigo ficou triste, talvez até enraivecido, viajou até agora para abrir não de um dos pontos altos do roteiro. Pensamos da mesma forma.

 

Acontece que já estivemos em Budapeste, há 7 anos, e sabemos que ela é realmente uma maravilha. Têm mil teatros e salas de apresentações, com óperas, musicais, concertos; excelentes cafeterias e restaurantes, inclusive com garçons cantores; além de museus, igrejas e monumentos. Não valeria a pena ir para passar somente dois ou três dias e, infelizmente, a viajem está no fim.

 

Mas pense nas vantagens de tudo isso! Teremos que voltar no ano que vem (nossa simpatia) e o Caro Amigo terá um ano para meditar e decidir arriscar-se a vir pessoalmente com a gente (ah, ah, ah!).

 

Voltemos à viagem. Acabamos nos atrasando porque o binômio terma-vinícola torna a Hungria irresistível. Água quentinha de dia e vinho fresquinho à noite (e nem sabíamos que a Hungria produzia vinhos), obrigou-nos a ficar um pouco mais em cada cidade; foi o que também aconteceu em Eger.

 

Dizem ser uma das cidades barrocas mais bonitas do país. A vista dos muros da fortaleza nos obriga a concordar. A catedral é gigantesca, a segunda maior do país, assim como o seu órgão, há concerto diário na hora do almoço.

 

Ficamos em um minúsculo apartamento no meio do caminho entre o centro da cidade e o parque, onde se localizam as adegas, que, com pesadas mesas e bancos de madeira e paredes rústicas de pedra, sucedem-se num longo corredor, servindo vinhos de diversas qualidades, feitos na região. Na entrada do parque, pequenos floridos restaurantes.

 

O café-da-manhã, aqui na Europa Central, sempre inclui tomate, pepino e pimentão, além de uns embutidos diferentes.  Parece um pouco indigesto, mas o pimentão é mais suave que o nosso, menos amargo, e acaba resultando em uma boa combinação.

 

As sopas costumam ser acompanhadas por pão e uma pimenta fresca, verde e comprida, que vem em um pratinho ao lado. É de matar, solta lágrima, escorre o nariz, inesquecível.

 

Descobrimos que o pão que deu origem ao croissante, francês, e a media luna, argentina, surgiu na Hungria, quando, em comemoração a vitória contra os turcos, os padeiros húngaros fizeram pães no formato da meia lua da bandeira turca.

 

Na Hungria, as estradas são melhores, a condição econômica da população também e quase toda cidade tem um centro de informações turísticas. Porém, eles estão anos luz atrás dos romenos no quesito línguas. Os romenos estudam uma segunda, às vezes até terceira, língua desde o primeiro dia de aula e, pelo menos, por oito anos. Já os húngaros dificilmente falam uma segunda língua; todos os programas de televisão, de todos os canais, são dublados, se por um lado eles preservam a língua mãe (que ninguém no mundo fala), por outro lado eles dificultam a comunicação com outros povos. Quanto ao quesito simpatia, os romenos também dão de lavada, são latinos como nós.

 

Em ambos, as prostitutas costumam ficar na estrada, a coisa deve rolar no carro ou no matinho, essa não conferiremos.  Até nas minúsculas cidades, encontra-se acesso wi-fi (internet point) no meio da rua, em praças e estacionamentos, é a maior facilidade.

 

Nosso carro está parecendo uma carroça de cigano, já compramos metade da Europa (temos a esperança de conseguir enfiar tudo nas malas) e está tudo espalhado por ele, em compartimentos secretos e pelo chão. Além da metade do Brasil que trouxemos, que vai de bolsa térmica a varal para calcinha, passando pela farmacinha e adornos para o cabelo (da Sayo, lógico!), que fica selvagem com o clima seco e água cheia de calcário, só com muito enfeite para disfarçar. Mas não está muito diferente dos carros do pessoal por aqui, acho que nem parecemos mais turistas.

 

No caminho para Gyor, passamos no meio de Budapeste, nosso coração gelou, deu uma vontade danada de ficar. Vimos Buda, de um lado, separada de Peste pelo Danúbio uma verdadeira... pouparemos o Caro Amigo dos deliciosos detalhes, deixaremos para o ano que vem, já escolhemos até hotel (ah, ah, ah!).

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio  

Sopron, 11 de julho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

Quando estávamos em Gyor, o clima mudou bruscamente, temperatura em torno d 15º, chuva, vento, tudo que não deve acontecer em uma viagem, coisas de verão Europeu, já estamos acostumados, mas sempre inconformados.

 

A cidade é graciosa, está no maior agito porque, na próxima semana,  haverá  festival de teatro (pena que não estaremos aqui), tudo sendo arrumado limpo e pintado. Os restaurantes são ótimos e servem fartas porções, para Cláudio nenhum por defeito. Também tem banhos termais, mas o clima não ajudou.

 

Mas imperdível mesmo é o Monastério das Carmelitas, tem um tom rosado, colunas de mármore, pinturas no teto, as estátuas dos santos têm tamanho maior que o original e pintura em delicados tons pastéis, sua vestes têm uma leveza que parecem feitas de tecido. Em uma pequena capela há uma Nossa Senhora Negra, réplica idêntica da estátua de Ancona.

 

Nas proximidades de Gyor, na cidadezinha de Pannonhalma, existe um Monastério Beneditino, que continua em uso, cuja primeira parte da construção data do ano 996, que foi declarado Patrimônio Mundial pela Unesco. As visitas são guiadas, a maioria em hungaro, algumas em inglês, alemão e italiano. Por sorte recebemos um folheto com a tradução da visita em espanhol, que líamos enquanto a guia falava. Nada imperdível, se tiver algo melhor a fazer, não venha.

 

O Lago Ferto, que fica entre Hungria e Áustria, e suas redondezas também foram declarados Patrimônio Mundial, por seu ecossistema. São diversas pequenas cidades, hospedamo-nos em Sopron, a maior e porta de saída do país.

 

Não tenho muito a dizer sobre a cidade, pois como, na sexta-feira, amanheci com o maior baixo astral (talvez o clima, tristeza pelo fim da viagem, saudade de casa ou da Maria Clara), passei o dia no hotel. Perdi até o show de música lírica na praça principal. Cláudio contou-me que ela é legalzinha. 

 

Como ainda temos que rodar mais de 1000 km até Genebra, de onde voamos para Londres, resolvemos começar o caminho de volta, terminaremos a Hungria no ano que vem.

Saímos cedo para cruzar a Áustria, provavelmente dormir em Bregenz, na metade do caminho, uma cidade na beira do Lago Constanza, que fica entre a Alemanha, a Suíça e a Áustria. Se os Europeus em férias nos deixaram algum lugar em algum hotelzinho.

 

O dia não está muito quente, mas o céu está azul e o sol brilha, fizemos até umas comprinhas. As paradas para descanso da Áustria são nota dez, banheiro com papel higiênico, local para banho, máquinas de suco e café, brinquedos para criançada. Já entendemos porque uma amiga nos disse que dorme neles, tem até mesa para  picnic. Por falar nisso, está na hora do nosso, pintou até um laguinho, numa Rota Romântica.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

 

Lindau, 13 de julho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

O picnic foi super, no lago Mondsee, perto de Salsburgo. Além de toda beleza do lago, montanhas, veleiros, jardins, a comida estava deliciosa: vinho Tokaj (o rei dos vinhos e o vinho dos reis), queijo camambet e emental, galantina de carne de porco, tomate e pasta de páprica. E, como que para completar o cenário, vieram os pardais, os patos, os marrecos, pequenas gaivotas e uma família de cisnes, pai, mãe, brancos, e sete filhotinhos, cinzas, os patinhos feios. A comida quase não deu para tanta gente.

 

Depois teve uma paradinha no Aldi, que na Áustria chama-se Hofer, para as últimas comprinhas. 

 

Acabamos resolvendo ir para o Lago Constanza pela Alemanha, fomos até Munique. Devem ter evacuado a cidade, ou o país, porque por mais de 100km (graças a Deus na direção contrária a nossa),eram filas e mais filas de carros, trailers,  ônibus e caminhões.

 

 

 

 

 

 

Santos, 14 de julho de 2009.

 

Caro Amigo,

 

Viajar é auspicioso! Faz bem ao espírito e à mente.

 

Você se senta em alguma pequena esquina do mundo, e olha que ele tem muitas, o violino toca o tema do filme “Bonequinha de Luxo”, um cego dedilha o teclado.

 

Nove da noite, ainda claro. Nas mesas, a sua volta, gente conversa, fala ao celular, escuta, bebe, come, namora... se deleita. Os garçons, num vai e vem interminável, enrolam a língua em tudo quanto é idioma.

 

Pela rua, alheios, casais passam abraçados, crianças correm, transeuntes olham os cardápios dos restaurantes com vontade de ficar, mas o dinheiro não dá.

 

Sentar e apreciar tudo isso é um prazer, talvez não concedido a todos os deuses, talvez somente àqueles que não têm mundos a salvar e podem se dar ao luxo de tais desfrutes, de cometer pecados carnais.

 

Sentado em alguma pequena esquina do mundo você pode sentir-se um deles e por uma ínfima fração de segundos, enquanto ouve “Bonequinha de Luxo”, o mundo pára, os problemas desaparecem, não há desculpas a dar, contas a pagar, jantar a fazer, telefone a atender, lágrimas a chorar.

 

Você é um cidadão no mundo, sem o peso dos encargos cotidianos.

 

Na viagem também tivemos o imenso prazer de reencontrar velhos amigos e fazer novos.

 

E conhecer muitas outras pessoas admiráveis, que cruzaram o nosso caminho e contribuíram para tornar nossas vidas ainda mais felizes.

 

Hasta la vista!

 

Sayo e Claudio

 

 

Um comentário:

  1. entrem aqui na minha casa so os meus convidados minha filha cecilia os olhos de dracula

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