domingo, 26 de abril de 2015

EXPEDIÇÃO XINGU - 2009



  
Santos, 29  de agosto  de 2009.


Caro Amigo,


Ouvimos dizer que, o Parque do Xingu criado em 1.961, pelos irmãos Villas Boas para proteger os povos xinguanos do progresso predatório da região centro-oeste está ameaçado.  


Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro de nossos irmãos indígenas. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META (100.000 Km viajando, ah, ah, ah),  resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada (ou será nas selvas e rios do Xingu).

Infelizmente nossa escritora oficial ( Sayo), não estará presente nesta expedição e também, devido as dificuldades de comunicação, não será possível enviar as mensagens de forma diária.

Participe conosco desta grande aventura!

Abraços,

 Claudio



From: ckuczuk@terra.com.br
Subject: Caros Amigos Mapa
Date: Sun, 30 Aug 2009 19:14:17 -0300

Caro Amigo,

Para que você, que irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.

----- Percurso Terrestre

----- Percurso Aéreo

Haverá trechos em barco e a pé pela floresta.

Compre seu bilhete, faça as malas (não esqueça o protetor solar e o repelente),, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o  gato com o vizinho e as crianças na casa da vó (a viagem será perigosa), prepare a pipoca, pegue uma Bohemia gelada (pode ser Brahma ou Antártica), escolha uma poltrona confortável, ligue o computador  e  VEM COM A GENTE! 

Abraços,

Claudio 

From: ckuczuk@terra.com.br
To: crktour@hotmail.com
Subject: Xingu
Date: Sun, 30 Aug 2009 19:30:41 -0300
Olga
Yo conosco la película.
El sítio donde vamos esta mui lejos de todo, voi con mi amigo antropologo que ja estuve en esta aldeia y conoce el cacique.
Sigue un rato del parque:

Parque Indígena do Xingu

                                           Pátio da Aldeia Kamaiurá, Alto-Xingu. Índios tocando a flauta "Uruá"

O Parque Indígena do Xingu (antigo Parque Nacional Indígena do Xingu) foi criado em 1961 pelo então presidente Jânio Quadros, tendo sido a primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Seus principais idealizadores foram os irmãos Villas Bôas.

A área do parque, que conta com mais de 27 mil quilômetros quadrados (aproximadamente 2.800.000 ha, incluindo as Terras indígenas Batovi e Wawi), está situado ao norte do estado de Mato Grosso, numa zona de transição florística entre o planalto central e a Amazônia. A região, toda ela plana, onde predominam as matas altas entremeadas de cerrados e campos, é cortada pelos formadores do rio Xingu e pelos seus primeiros afluentes da direita e da esquerda. Os cursos formadores são os Rios Kuluene, Tanguro, Kurisevo e Ronuro - o Kuluene assume o nome de Xingu à partir da desembocadura do Ronuro, no local conhecido pelos indígenas como Mÿrená. Os afluentes, os Rios Suiá Miçu, Maritsauá Miçu, Auaiá Miçu, Uaiá Miçu e o Jarina, próximo da cachoeira de Von Martius.


Atualmente, vivem na área do Xingu, aproximadamente 5.500 índios de catorze etnias diferentes pertencentes às quatro grandes famílias lingüísticas indígenas do Brasil: Carib, Aruak, Tupi, . Centros de estudo, inclusive a UNESCO, consideram essa área como sendo o mais belo mosaico lingüístico puro do país. As tribos que vivem na região são: Kuikuro, Kalapálo, Nahukuá, Matipú, Txikão (Ikpeng) (todos de tronco carib), Mehináku, Waurá, Yawalapití (tronco Aruak), Awetí, Kamaiurá, Juruna, Kayabí (tronco tupi-guarani), Trumãi (língua isolada), Suiá (tronco Jê); já tendo ainda morado na área do parque os Panará (Kreen-akarore), os Menbengokrê (Caiapó) e Tapaiuna (beiço-de-pau). Criado o Parque Nacional do Xingu, posteriormente denominado Parque Indígena do Xingu, em 1961, Orlando Villas Bôas foi nomeado seu administrador Geral. No exercício dessa função, pôde melhorar a assistência ao índio, garantir a preservação da fauna e da flora da região, reaparelhar os Postos de assistência. Ainda como administrador do Parque, Orlando Villas Bôas, favoreceu a realização de estudos de etnologia, etnografia e linguística a pesquisadores não apenas nacionais como de universidades estrangeiras. Autorizando, ainda, a filmagem documentária da vida dos índios, deu margem a um valioso acervo audiovisual. A épica empreitada dos irmãos Villas Boas é um dos mais importantes e polêmicos episódios da antropologia brasileira e da história indígena. A concepção do Parque Indígena do Xingu, os custos para sua implementação e suas drásticas consequências, o constante ataque de madeireiros e latifundiários, as políticas indigenistas do Estado brasileiro são temas importantes para a reflexão sobre o significado de toda esta experiência.


O Parque Indígena do Xingu engloba, em sua porção sul, a área cultural conhecida como Alto Xingu, integrada pelos Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Trumai, Wauja e Yawalapiti . A despeito de sua variedade lingüística, esses povos caracterizam-se por uma grande similaridade no seu modo de vida e visão de mundo. Estão ainda articulados numa rede de trocas especializadas, casamentos e rituais inter-aldeias. Entretanto, cada um desses grupos faz questão de cultivar sua identidade étnica e, se o intercâmbio cerimonial e econômico celebra a sociedade alto-xinguana, promove também a celebração de suas diferenças.


As demais etnias que habitam o Parque – Ikpeng, Kaiabi, Kĩsêdjê e Yudjá – não fazem parte desse complexo e são bastante heterogêneas culturalmente. Foram integradas aos limites da área demarcada por razões de ordem administrativa, em alguns casos implicando o deslocamento de suas aldeias. Há, contudo, casamentos freqüentes entre esses grupos, que acarretam uma maior articulação entre eles.


Um movimento recente vem ainda fazendo convergir todos os povos do Parque em nome de interesses comuns. As organizações indígenas (sobretudo a Associação Terra Indígena do Xingu) têm se estabelecido como um importante meio de interlocução com a sociedade nacional e fomento de projetos de educação, alternativas econômicas e proteção do território.






terça-feira, 21 de abril de 2015

EXPEDIÇÃO CAVALO DE TROIA - TURQUIA - 2011

Santos, 03 de junho de 2011.
Caro Amigo,
Ouvimos dizer que, pasme, existe um lindo, quente e hospitaleiro país que é banhado por quatro mares (Mediterrâneo, Egeu, Negro e Mármara); que possui mais ruínas gregas que a própria Grécia e mais sítios arqueológicos romanos que a própria Itália; que está localizado em dois continentes (Europa e Ásia); que nele estão localizadas as ruínas de Tróia, a casa onde Nossa Senhora viveu seus últimos dias na terra e o local onde aportou a Arca de Noé; e, como se ainda fosse pouco, tem linda arquitetura, excelente comida e o Gran Bazar, o maior mercado fechado do mundo (Sayo: -  vou me acabar ah, ah, ah!).
É bem verdade que também ouvimos dizer que o país é desorganizado, sem infra-estrutura, com estradas péssimas e serviços públicos precários; que pouca gente fala inglês, ou qualquer outra língua e que a higiene não é um dos pontos fortes do país e que estrangeiras sozinhas devem ter muito cuidado ao circular pelas cidades.
Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro da humanidade e que possamos constatar, com nossos próprios olhos e corpos inteiros, o que realmente existe nesse tal misterioso e contraditório país, chamado Turquia. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos 100.000.000.000.000.000 Km viajando (ah, ah, ah!), resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada e dar início à “Expedição Cavalo de Tróia”.
Vem com a gente!
Sayo e Claudio
Santos, 05 de junho de 2011.
Caro Amigo,
Para que você, que irá nos acompanhar em mais uma árdua jornada até os confins da terra, não se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.
Reserve já o seu lugar, faça as malas (não esqueça, Cara Amiga, de levar um veuzinho para visitar as mesquitas), pegue o passaporte, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o gato com o vizinho e as crianças na casa da vó, pegue uma caneca de chá (çay), uma das bebida mais comuns na Turquia (não agradou? Põe um pouco de cognag dentro, fica ótimo para espantar o frio), escolha uma poltrona confortável, ligue o computador e VEM COM A GENTE! 
Aproveite para enviar alguma dica para tornar nossa viagem mais interessante. Talvez alguma cidadezinha, que já visitou e achou incrível; um restaurante, que viu em alguma revista de turismo; um lugar que você gostaria de conhecer, mas ainda não teve tempo; ou mesmo o endereço de sua adorável prima turca, que prepara um karniyarik (berinjela recheada com carne de cordeiro moída, pinhão e frutas secas) e um bünkar begendili köfte (almôndegas servidas com purê de berinjela defumada e queijo) como ninguém, teremos imenso prazer em visitá-los, conferir e contar tudo, nos mais mínimos e prazerosos detalhes.
Beijos,
 
Sayo e Claudio

Lisboa, 07 de junho de 2010.
Caro Amigo,
Chegamos ao aeroporto um pouco cedo e o vôo estava um pouco atrasado, então, com umas quatro horas de aeroporto, aproveitamos para dividir com o Caro Amigo um pouco das inquietações que povoam nossos corações. Assim, quem sabe, o Caro Amigo aproveita para nos dar algum conselho, pois viajar em férias é, realmente, uma tarefa muito árdua (ah, ah, ah!).
Disse um muito famoso filósofo francês, ou um muito sábio guru indiano, ou talvez até um muito falante contador de causos nordestino, já não lembramos exatamente quem foi, mas o que importa aqui é o que ele disse. Voltando, disse, então, esse tal indivíduo, que o homem não precisa para viver de nada além do que ele possa carregar, foi com essa grande filosofia em mente que arregacei as mangas e dediquei dias a fio na mais difícil tarefa da viagem, preparar as malas. É, Cara Amiga, só! Porque na hora mais difícil o Claudio sempre pula fora, ele não quer ter a mínima noção do que está levando, prefere não perder noites de sono, e os últimos fios de cabelo que lhe restam, preocupando-se com coisas fúteis, como preparar malas. Confia, lógico, no meu bom gosto, sabe que jamais o deixaria desfilar pela Europa de calça de bolinha, camisa com flores havaianas, sandália com meia social, ou algo do gênero.
Então, perdi umas boas noites de sono arrumando as malas, outras noites mais trocando tudo o que estava dentro, ou porque ainda está frio na Europa, ou porque a Turquia é mulçumana e existe um vestuário um pouco mais composto, ou porque sou um pouco maluca e desocupada. A pobre da Edite é que sofreu, pois teve que escutar todas as minhas razões e filosofias a respeito de uma certa blusa ou calça que havia decidido por ou tirar da mala. Resumo da história: uma mala media com todas as nossas roupas (16Kg), uma mala pequena com sapatos e acessórios (13Kg) e uma mala maior com traqueiras (18Kg).
Deve o Caro Amigo estar intrigado a respeito das tais tranqueiras que pesam tanto, que nada mais são os cremes e shampos; remedinhos, chazinhos, álcool gel, lysoform e lencinhos umedecidos; adoçante capuccino (adoramos café), leiterinha elétrica para ferver água (não viajamos sem ela) e utensílios para picnic; canetas, chaveiros e CDs de músicas brasileiras (presentes para os amigos que fizermos); capa de chuva, guarda-chuva (É verão? Não se pode confiar, se fizer sol usamos como sombrinha); lanterna, CDs, tapetes e protetor de sol para o pára-brisas do carro; resumindo são coisas que, em sua maioria, se acabarão no transcorrer da viagem, abrindo espaço para a montanha de coisas que, apesar de termos jurado não comprar, seguramente compraremos, afinal a qualidade do algodão turco é excelente, as pedras são maravilhosas, os preços convidativos etc etc etc.  Não somos malucos, não! Mas de perto também ninguém é normal.
Mas ainda temos duas malinhas de mão, 5kg cada, com os eletrônicos e o guia da Turquia, onde já marcamos todo o percurso que pretendemos fazer, alguns  roteiros sugeridos por agências de viagens e revistas, além dos mapas e folders que conseguimos no Consulado Turco, porque ainda continuamos viajando sem GPS, ajuda-nos a manter a cabeça um pouco pensante.
Então, Caro Amigo, prepare-se bem,  pois, além das cinco malinhas, que seguramente podemos carregar, temos de certo o carro, que nos aguarda em Genebra, a reserva para uma noite de hotel, na mesma cidade, e algum dinheiro no bolso. Daí para frente, estamos por nossa própria conta e risco. A Turquia tem uma parte muito turística, oeste e centro, mas também uma parte, leste, que não aparece nos roteiros turísticos convencionais, que também pretendemos conhecer.
Dizem que a população em geral não fala inglês, que a religião mulçumana impõe um a série de restrições, principalmente às mulheres, portanto, certamente, conheceremos Istambul, Tróia, Éfesus, Pamukale, Tarso, Capadóccia, Konya, Monte Nenrut, Estreito de Dardanelos, Divrigi, Antioquia, Nevsehir, Ancara e algumas outras localizadas na parte mais turísticas. Quanto ao resto? O futuro dirá! Se decidirmos não ir ao oeste, lá para o lado Asiático na fronteira com o Irã e a Geórgia, ou se sobrar tempo, temos umas cartinhas na manga: Bulgária ou Budapeste.
O avião está chegando em Portugal, onde fazemos escala antes de ir para Genebra!
Beijos,
Sayo e Claudio

Genebra, 8 de junho de 2011.
Caro Amigo,
Sabemos que você está triste, assim como nós, já se deu conta que não iremos à França, como fazemos todos os anos, não encontraremos nossos Caríssimos Amigos de Maison Alfort, não veremos Paris, nosso coração está em prantos; a Turquia é muito longe, pensamos que levaremos uns quatro ou cinco dias para chegar até lá, mas fica a promessa para o ano que vem.
A viagem foi ótima, conseguimos aqueles lugares lá na frente, onde se pode esticar as pernas, ninguém reclina o banco e deita no seu colo, já sempre viajamos de classe econômica, senão não dá para bancar uns 30 e uuunnnsss dias na Europa. Bons filmes a bordo e comida razoável. Voamos TAP.

Não conseguimos ficar no nosso hotel de costume (Etap) em Genebra, quando tentamos fazer a reserva já estava lotado, ficamos em um da mesma rede, que já não está com os preços tão convidativos de antigamente, descobrimos um mais barato, tentaremos na volta ou, talvez, o hotel que ficamos na nossa primeira visita à cidade, em 1998, somos um pouco saudosistas.  Atenção quando vier a Genebra, tem sempre um monte de feiras e eventos, da ONU, OIT, Cruz Vermelha e outras, então não se esqueça de reserva seu hotel predileto com bastante antecedência.
Para variar, nossas malas chegaram quebradas, uma delas percebemos no desembarque, reclamamos; a outra só notamos no hotel, reclamaremos no Brasil. O aeroporto de Genebra é dividido em dois lados, desembarcamos no lado Suíço e deveríamos pegar nosso carro (Peugeot 207, zerinho, cheirozinho e no nome do Kuc, leasing, ótima opção!) no lado Francês.   Não tivemos nenhum problema nenhum problema para chegar a ele; paramos em um estande de locadora para perguntar sobre a localização da Peugeot, onde pegaríamos nosso carro, já havíamos notado que um simpático rapaz moreno nos observava, encostado em um balcão, um pouco mais adiante.
A simpática mocinha prontamente gritou para o rapaz do balcão, Abdel, que veio sorrindo e falando em Inglês; quando perguntamos se falava espanhol, sorriu mais, disse que era marroquino e saiu com seu espanhol impecável, já que Selta, cidade espanhola, fica na África e é vizinha de Marrocos, que é separado do sul da Espanha somente pelo Estreito de Gibraltar. Voltando ao Abdel, rapidamente nos deu alguns papéis para assinar; entregou os documentos do carro; perguntou o dia e hora que o devolveríamos, e como seria às 04:00 da manhã, pasme Caro Amigo, disse-nos que nem precisaríamos fazer as confirmações de praxe, pois ele já as estava apontando tudo e, como seria muito cedo, bastava deixar a chave em baixo do balcão e o carro no estacionamento, onde o pegaríamos agora, ninguém estava interessado em saber em que estado o devolveríamos, o seguro é total. Demos uma carona para o Abdel, até o seu carro, e seguimos.

Acabamos dando umas voltas maiores que as necessárias, mas finalmente chegamos ao hotel, já 9 da noite. A cidade estava morta, não é para menos, segunda-feira, chuva, 15 graus. Resolvemos jantar o restaurante do Íbis, uma versão um pouco mais cara da mesma rede do nosso hotel, que fica grudado nele, porque nem sempre é possível jantar após 10 da noite na Europa, já amargamos muitas noites sem jantar. Menu de Jour, que incluía salada ou sopa de cenoura e meio galeto com tomate recheado de ervas e aquelas tais batatas que são a paixão do Kuc, pedaços fritos com casca, macios por dentro, crocantes por fora, salpicados de especiarias. Vinho da Maison (da casa) e água natural, é de graça, a mineral é quase o preço da cerveja.

De volta ao hotel, preenchemos os relatórios (paixão do Claudio, resquícios dos tempos de Telefônica. Que Deus os tenha em bom lugar!) e reorganizamos as malas que, após a retirada das tranqueiras, que permanecerão no carro quase toda viagem, viraram duas, mais a frasqueira e a bolsa térmica de picnic. Fomos dormir.
Dia seguinte, nada mudou, muita chuva e 15 graus, parece que ainda estamos em São Paulo. Atravessaríamos a Suíça em direção à Áustria. No trajeto inicial da viagem, parecia que estávamos em um daqueles trenzinhos elétricos que passeiam por aquelas perfeitas, coloridas e lindas cidadezinhas, montanhas e lagos, onde está tudo colocado, com o maior espero e milimetricamente, no seu devido lugar, e onde mais nada se move além do trem, já que também não encontramos praticamente ninguém nas ruas frias de primavera.
Passamos pelos Lagos Neuenburgersee, Bielersee, Zürichsee, Walensee e outros menores; muitas parreiras e macieiras; túneis, montanhas e bosques; pequenos restaurantes e cafeterias debruçadas sobre os lagos; lindas casinhas de telhado marrom e salpicadas de flores; uma ou outra criança perdida, voltando da escola, com cara de poucos amigos.
Já deve o Caro Amigo estar pensando se não temos mais nada de bom a fazer, em plenas férias, que não escrever e escrever; acontece que, enquanto o Kuc dirigi, resta-me a difícil tarefa de admirar tudo e ir contado, quase que simultaneamente, e, muito de quando em quando, dar uma olhadinha nos mapas. A cada segundo o Claudio interrompe minhas divagações para apontar algum lugar lindo e maravilhoso, quando me queixo que ele não pára para que eu possa conhecer, responde: que está chovendo; que só rodamos 330km e eu já estou querendo parar e que os lugares pertinho ficam para quando estivermos velhinhos, com poucas forças, assim poderemos fazê-los de bicicleta. Ai! Pobre de mim, que já me imaginava de cabelo branquinho, vestida com cachecol e sapatinhos de lã, descansando com um lindo gatinho no colo, tomando um chazinho, folheando um bom livro e admirando a paisagem pela janela!  Lindos sonhos, mas acho que não viverei para fazê-lo (ah, ah, ah!).


Terei mesmo é que sofrer,  envelhecendo com os pés na estrada (ah, ah, ah!)
O Caro Amigo nem pode imaginar o que acabo de ver, o Aldi, nossa rede supermercados predileta. Teremos que parar!
Beijos,
Sayo e Claudio.

Bernau (Alemanha), 09 de junho de 2011.
Caro Amigo,
Tanto Suíça, como na Áustria, é necessário comprar um adesivo para utilizar as estradas de maior velocidade, é o tal “vignette” ou “matrica”. No primeiro país, infelizmente há que se comprar um adesivo para o ano todo, uma exploração, já na Áustria é possível comprar para períodos menores.  Como não tiramos visto para viajar pela Sérvia, Decidimos atravessar a Suíça, a Áustria, a Hungria, a Romênia e a Bulgária, 2.400km; motivo dos quatro ou cinco dias de viagem, tentando parar somente para dormir.
Acontece que entre Innsbruck e Salzburg, na Áustria, a melhor estrada passa por um pedacinho da Alemanha, que, como bem sabe o Caro Amigo, é um dos países que mais gostamos. E foi assim que viemos parar no Aldi e na pequena cidade de Bernau, onde decidimos dormir, afinal já era quase oito da noite, estamos cansados, com fome (não paramos para almoçar) e doidos para tomar uma cerveja alemã.    
A parada no Aldi acabou com metade de nossas boas intenções para a viagem. Compramos demais (sempre tem liquidações), engordamos demais (tem uns queijos, uns vinhos e um tiramissú de enlouquecer) e transformamos nosso carrinho, todo arrumadinho, em uma carroça, uma verdadeira zona, com compras enfiadas em todos os cantos, ficou com cara de carro europeu em férias, que mais parece um prolongamento dos armários da casa. Mas, afinal, estamos mesmo em férias, uma baguncinha não faz mal.
O caixa do mercado nos indicou um Gästehaus (hotel). Tocamos a campainha do grande casarão familiar e uma senhora, muito solicita, nos atendeu, falava somente alemão e umas cinco ou seis palavras estratégicas em inglês. Entendemo-nos perfeitamente! O quarto, que sofreu adaptações, tinha, em seu interior, um box, com chuveiro, e uma pia, porém vaso sanitário somente no banheiro do corredor.
Assim mesmo, decidimos ficar, pois a senhora era só simpatia e o hotel muito agradável, com cortinas cheias de babados e rendas, vasinhos de flores, fotos de família, bonecas, carneiros, anões.

Ela nos indicou um restaurante que também nos deliciou. Também bem típico, com garçonetes usando vestidos longos vestidos franzidos pretos, com aventais e babadinho branco no decote. Cheio de alemães grandes, vermelhos e sorridentes, já com a cara cheia de cerveja. Escolher a comida foi muito fácil, joelho de porco, algumas salsinhas especiais, de fabricação local, mostarda, raiz forte e pão. Para beber... cerveja, lógico! Depois de dois litros, dormimos como reis.

Pela manhã, após um delicioso café da manhã, partimos. A temperatura já subia um pouco e o sol dava as caras.
Partimos com a intenção de jantar uma Ciorba de Burta (sopa de bucho) na Romênia, ou, talvez, uma Mamaliguta (polenta), para matar nossa saudade do país, mas não foi possível!
Beijos,
Sayo e Claudio

Kiskunfélegyháza (Hungria), 10 de junho de 2011.
Caro Amigo,
É, tivemos que parar para dormir na Hungria, já passava das 7 da noite, ainda faltava uns 100km para a fronteira, o corpo pedia um banho e um descanso e nunca é boa idéia chegar em cidades desconhecidas após escurecer.
Tentamos primeiro a cidade de Kecskemét, demos uma volta, era grande, não localizamos hotel com facilidade, seguimos até Kiskunfélegyháza também sem muitos atrativos, mas, pelo menos, encontramos um hotel.
Há 2 anos, estivemos na Hungria, fizemos um tour pelas cidades turísticas, que encontramos impecáveis. Essas duas que passamos agora estão um pouco tristes, pesados casarões sem muito charme, herança do comunismo, boa parte em precário estado de conservação, parecendo até abandonados, muitos abandonados mesmos e a venda. O país também já cobra pela utilização de suas auto-estradas, mas se pode optar por quantidade de dias.
De qualquer modo, Kiskunfélegyháza (que palavrão!) é bastante arborizada e tem um edifico, no centro da cidade, que provavelmente já foi sede de governo, hoje um centro comercial, cujo trabalho de fachada e telhado valem a visita. O mesmo é possível dizer do agito da cidade, às 8 da manhã, com o vai-e-vem de bicicletas; as senhoras carregando enormes cestas ovaladas de vime, cheias de frutas, verduras e flores (com o fim das sacolinhas plásticas, esperamos que esse lindo hábito volte ao Brasil); e a turma do “ o verão chegou”, com bermuda no meio da canela, sandália e blusa cavada, apesar dos 15 graus.

Reencontramos as andorinhas, os enormes filhotes de cegonha e, pasme o Caro Amigo, a internet gratuita no meio da rua, uma facilidade que os países menos ricos gentilmente dividem.
Mas para pasmar mesmo é entrar na Romênia e ter que pagar o tal pedágio para usar as estradas, obrigatório, compulsório, como eles dizem, o tal “roviniete”. Cinco euros por 7 dias não é muito, mas quando lembramos das perfeitíssimas estradas alemãs, onde não se paga nada? Deve lembrar o Caro Amigo quando, há dois anos, viajamos pela Romênia e encontramos estradas muito parecidas com as do Brasil, mão dupla, onde ultrapassar os caminhões é quase um parto, sem qualquer estrutura (bem diferente dos outros países da Europa, com banheiros e locais para descanso e picnic), passando bem no meio de vilarejos e cidades, onde se divide espaço com carroças, tratores e até cadeiras de roda motorizadas; sem falar nos pedestres, caminhando pelo acostamento inexistente e pedindo carona, já que a transporte intermunicipal é inexistente. Veremos se algo melhorou!

Já desabafamos, então voltemos à viagem. A entrada em Arad, primeira “grande” cidade romena é um pouco traumática. Parte se parece com alguma cidade dos confins do nordeste do Brasil, misturado com o Largo da Concórdia, em São Paulo, cheia de gente morena, com cara de árabe, e alguns ciganos. Já na outra parte parece que uma bomba acaba de explodir, tudo caindo aos pedaços.
Mas, muito felizmente, aos poucos, a primeira impressão via desaparecendo, apesar do péssimo estado de conservação da maioria dos imponentes edifícios, não há como negar sua beleza retratada nos delicados trabalhos de estuque, nas emaranhadas tramas dos gradis de ferro ou na sobriedade das estátuas, leões e colunas, embora, nem sempre mantenham sua perfeição original. Paramos no Centro de Informação Turística, quase toda cidade do país tem um, para levar um mapa de recordação para um amigo brasileiro, cujos pais são daqui.

Pelo que notamos até agora, as estradas não mudaram em nada, a turma continua pedindo carona (só damos para senhoras idosas e freirinhas) e tem um trator bem na nossa frente, provavelmente só chegaremos à Turquia no ano que vem. Fazer o que? Tomaremos muita “Ciorba de Burta” (ah, ah, ah!).
Beijos
Sayo e Claudio

Craiova, 11 de junho de 2011.
Demos uma paradinha em Timisoara, para comprar um dicionário (encomenda) e para dar uma espiadinha na praça central, que é mesmo um sonho e está mais florida e agitada do que quando de nossa primeira visita. Dá vontade de ir ficando, mas o tempo não permite, quem sabe na próxima.

A Cara Amiga deve estar ansiosa (o Caro Amigo também, temos certeza, embora prefira não confessar) pelas dicas sobre a moda européia, bem o xadrez está em altíssima, para homens e mulheres, em camisas com dois bolsos e outras peças. Também não podem faltar os cachecóis para ambos.                                                
Realmente dormimos na Romênia, em uma cidade sem graça chamada Craiova, mas pelo menos no restaurante do hotel tinha “Ciorba de Burta e “Mamaliguta”.

As estradas romenas não ajudam em nada, cheias de curvas e constantemente cortando vilarejos de uma só rua com casarões modestos, mas que sempre têm uma parreira, uma pequena horta flores e um banco, onde idosas senhoras, curvadas pelo trabalho duro, sentam-se, no final da tarde, para observar o movimento e os patos e galinhas, que ciscam no acostamento.
Encontramos muitos ciganos no nosso trajeto, já morando em casas, que, aliás, são de péssimo gosto, uns imensos mausoléus, algo entre um castelo e um templo chinês, cheios de pequenas torres, com telhado metalizado enfeitado, com acabamento horrível ou sem ele. São horrorosas, assim como a cara dos ciganos que encontramos.

Hoje, sábado, é dia de feira, em todo vilarejo encontramos uma, de casamentos, também foram muitos, e de botecos cheios de homens bebendo, foi o que mais encontramos. Encontramos também dois enterros, o cortejo se inicia com pessoas carregando cruzes e guirlandas de flores, depois o padre e pessoa à pé, seguidas pelo carro com o caixão e demais veículos; curioso que amarram um pano no braço esquerdo, em geral toalhas de rosto, das mais coloridas, não descobrimos o motivo.
A Bulgária, diferentemente da Romênia, tem a fronteira aberta, como na maioria dos países europeus, não há ninguém para  olhar seu passaporte e dar uma carimbadinha, para que se possa ter uma prova documental da visita, porém o guichezinho do “vignette” tem, ao custo de 5 euros por 7 dias, não está mal, estradas pouca coisa melhor que as da Romênia.
Pelas estradas que rodamos, encontramos cidades feias, tristes, cinzentas, com muitos edifícios e fábricas abandonadas, casas sem cor e sem vida, quase ninguém nas ruas; tudo como nos parece ter sido o comunismo.  Eles usam o alfabeto Greco, então as placas da estrada são um grande mistério, felizmente algumas já trazem os nomes nos dois alfabetos. Por sorte, encontramos, na estrada, um pé de cereja carregado, como as mais baixas estavam verdes, ou já haviam sido retiradas por um outro espertinho, o Claudio tratou logo de subir na árvore e colher as que estavam um pouco mais maduras, porque as maduras mesmo estavam altíssimas, portanto deixamos para os passarinhos. A tarefa alegrou um pouco nosso cinzento dia, comê-las mais ainda.
Terminamos dormindo na Bulgária, estávamos a menos de 100 km da Turquia, mas, como provavelmente haveria trâmites na fronteira e a noite já caia, preferimos não arriscar, pois chegar a cidades desconhecidas, à noite, nem sempre é uma boa opção.
Mas nem pense o Caro Amigo que nosso dia terminou cinzento... hora de ver o hotel, contamos depois!
Beijos,
Sayo e Claudio
 
Haskovo (Bulgária), 12 de junho de 2011.
Caro Amigo,

Realmente, pela volta que demos pela cidade, não vimos muita graça, mas já nos animamos com o preço do hotel, simples, mas novinho e pela bagatela de 27 euros (já estamos pensando em mudar para cá, ah, ah, ah!). Consultamos se aceitavam euro, pois como estamos só de passagem, não queríamos trocar dinheiro, o rapaz, não muito simpático, e que ainda pensou que nos enrolou no troco (faz parte de toda viagem um (a) bruxo malvado, que tenta encher de nuvens o lindo céu do turista sofredor, damos risada e preferimos considerar aprendizagem), disse que sim; indagamos se o restaurante também aceitava, ele alegou não saber, então o Claudio resolveu ir até lá e foi aí que o nosso dia começou a mudar e as nuvens deram lugar a céu de brigadeiro.
O Kuc voltou saltitante, seguramente teria arrumado um modo de encher a barriga, apesar o cardápio naquela língua estranhíssima, no qual só entendemos duas palavras: Passaport e omelet. Não dava nem para distinguir o que era bebida ou comida, entrada ou prato principal, nada, nem café. Ele voltou saltitante porque a muito prestativa garçonete, que não murmurava uma palavra em inglês, do restaurante que também não tinha cardápio em inglês, imediatamente telefonou para sua irmã, que falou com o Claudio e garantiu que faria as necessárias traduções. Ele voltou à recepção com sorriso de orelha a orelha, já contando que o restaurante estava cheio, pois havia uma festa de aniversário, e que não teríamos problema. Como bem há de se recordar o Caro Amigo, umas das filosofias do Claudio é que, dos 100% de uma boa viagem, metade refere-se ao que se vê, já a outra metade (bem mais importantes), ao que se come. Imagine um homem desse com fome!
Corremos para o banho e descemos para o restaurante. Pedimos a “beer”, isso todo mundo entende, e a garçonete ligou para sua irmã que, muito gentilmente, perguntou o que gostaríamos de comer, não titubeamos: comida típica do país, com carne e legumes. E não nos preocupamos mais, ficamos aguardando os quitutes, enquanto assistíamos, de camarote, a amimada turma do aniversário, que tinha mais ou menos nossa idade, dançar músicas folclóricas com uma bandeira na mão, algo parecido com a dança que aparece no filme Zorba, o grego. Perto de nossa mesa, havia uma turma de jovens, também muito animada, que também dançava muito bem. Até Embalos de Sábado à Noite rolou.

E o jantar? Começou com uma salada composta de azeitona preta, cubos de tomate, pepino e pimentão, coberta por um queijo (tipo feta) ralado, servida juntamente com um pratinho onde, lembrando bolas de sorvete de coco, estava quatro bolas de coalhada, decoradas com azeitona e salsa.
Como prato principal, serviram-no uma bandeja de pedra fumegante com grelhado de filé de frango e de porco, cogumelos, cenouras, pimentões, berinjelas, batatas, abobrinhas, cebolas, temperados com cominho e cobertos por queijo derretido.
Para acompanhar, uma pizza de massa fininha e crocante, com uma fina cobertura de queijo. E para sobremesa, ganhamos bolo, claro! Ele alternava massa branca e de chocolate, com um recheio cremoso com gosto de amêndoas, saboroso.


Terminamos com um cafezinho, pagando a ridícula conta de 17 euros, e cumprimentando e agradecendo a todos, que continuaram curtindo a noite, enquanto nós, pobre turistas, fomos dormir porque o dever nos esperava na manhã seguinte ah, ah, ah!). E claro que demos uma gorjeta, um CD de chorinho e uma canetinha do Brasil para a garçonete.      
Manhã seguinte, destino Turquia, para início das férias (ah, ah, ah!), se a Bulgária não nos pareceu, a primeira vista um país tão bonito, já se tornara inesquecível pela simpatia de seu povo. Cruzar a fronteira não foi algo tão simples como nos demais países, acontece que... temos que levar o carro para o controle de bagagem, contamos depois!
Beijos,
Sayo e Claudio
PS – Uma correção, a Bulgária utiliza o alfabeto cirílico, conforme gentilmente nos informou nosso Caro Amigo Gonzalo.


Çanakkale, 12 de junho de 2011.
Caro Amigo,
Realmente a passagem pela fronteira turca é algo um pouco cansativo, porque primeiro há o controle do passaporte, depois o do veículo, um terceiro para controlar a bagagem, que só te avisam quando você está no quarto guichê e o rapaz te pede o respectivo carimbo de controle de bagagem. Aí você volta e, após conseguir o tal carimbo, encara uma fila quilométrica.
É chegamos a Turquia e não encontramos sultões gordinhos e morenos, com longos bigodes enrolados, colete, calças largas, pantufas bicudas, turbante e adaga na mão, correndo atrás de mulheres que arrastam o sári pelas ruas do mercado; ou mercadores trapaceiros, vendendo lâmpadas mágicas das mais diversas cores e formas; nem fanáticos religiosos lendo o  Alcorão aos gritos pela rua, seguidos por mulheres embrulhas em negras burcas. 

A primeira impressão que tivemos do país foi ótima, apesar dos contratempos da fronteira e do tempo, que continua frio e chuvoso, pois o pessoal da fronteira é gentil e encontramos um Free Shop digno de primeiro mundo, imenso. Também em nossa primeira parada, para um café, encontramos um elegante outlet, com marcas como Levi’s, Benetton , Pólo, onde não se percebia tratar-se de um país mulçumano, pois só vimos duas ou três mulheres cobrindo os cabelos com lenço.
Paradoxalmente, encontramos diversos pastores com seus rebanhos caminhando pela estrada que, provavelmente, é uma das mais importantes do país.

Resolvemos deixar Istambul para o final da viagem, para não arrastar as sacolas de compras (que seguramente faremos no Gran Bazar) pela Turquia toda. Então, de Edirme, na fronteira, seguimos para a região chamada Turquia do Mar Egeu, em direção à Península de Galípoli. O Mar de Mármara, que dizem ser o menor do mundo e o único que banha só um país,  fica dentro da Turquia, ele se liga ao Mar Negro através do Estreito de Bósforo, em Istambul, e ao Mar Egeo, através do Estreito de Dardanelo, onde fica a Península de Galípoli. Foi uma ótima escolha, pois na região o clima havia mudado completamente, fazia sol e 27 graus, nosso primeiro dia de férias, e de verão, ou melhor, quase verão.
Durante a 1ª Guerra Mundial, a Turquia lutou ao lado dos Russos e Austro-Húngaros e a Península de Galípoli foi palco de sangrentas batalhas, em 1915, pois os aliados pretendiam tomar o Estreito de Dardanelo, para dominar Istambul e impedir o avanço Russo; após 9 meses de luta os aliados retiraram-se. Hoje, a região das batalhas é uma espécie de parque, no qual uma estradinha vai percorrendo, entre pinheiros e pequenas flores amarelas, monumentos, cemitérios, trincheiras. Tudo bem organizado, sinalizado e limpo. A região é bem elevada, permitindo linda vista do mar, do Estreito e de praias desertas.

Cruzamos o Estreito num enorme Ferry Boat, partindo de Esceabat e chegando a Çanakkale, a travessia é rápida, só 15 minutos, mas dá uma bonita visão de ambas as margens, com suas pequenas cidades, e dos muitos navios que navegam pelo canal.

Lemos várias indicações sobre uma pequena cidade chamada Assos, cerca de 80km de Çamakkale,  onde Platão fundou uma escola de filosofia, 340 a.C., e por onde São Paulo passou durante sua peregrinações; inclusive que seria a mais linda cidade da Ásia Menor, localizada à beira do mar, de frente para a ilha grega de Lesbos. Resolvemos conferir e comemorar o Dia dos Namorados com um jantar nessa tão falada cidadezinha.
Saindo da estrada (E-87), seguimos 18km por uma estrada muito estreita, cheia de subidas, descidas e curvas, lembrou-nos algumas estradas de ilhas da Croácia, com longos muros de pedra empilhadas, vegetação rasteira seca, amarelada; aqui e ali, oliveiras (o país tem um enormidade delas) e outras  árvores verdes resistentes ao calor. Chegando à cidade, no alto, já quase escuro, observamos siluetas de quadradas casas de pedra e dos restos do que foi, originalmente, uma cidade grega, com Acrópole, ginásio, teatro; passando a cidade Romana, com banhos, mas nada de tão excepcional.
Descemos para o porto, espremidinho entre a água e a colina, um pequeno braço de pedra formava uma marina, onde estavam ancorados barcos de pescadores e alguns poucos veleiros, redes de pesca empilhadas ao logo do ancoradouro;  pesados casarões quadrados de pedra,onde funcionavam hotéis, pousadas e restaurantes; gatinhos por todo lado. Onde não havia espaço para parreiras, amoreiras, oliveiras, primaveras e pés de figo, que emanam o delicioso perfume da fruta; surgiam vasos, grandes e pequenos. Alguns restaurantes também tinham mesas na pequena calçada de pedra, bem à beira da água de um azul transparente.

Ficar ou não ficar? Eis a questão. Tem um rapaz um hotelzinho falando em inglês com a gente...  contamos depois!
Beijos,
Sayo e Claudio


Assos, 13 de junho de 2011.
Caro Amigo,
Claro que ficamos! O rapaz nos ofereceu hospedagem, era simpático e seu pai mais ainda, contou-nos que tinha parentes que imigraram para o Brasil e até arriscou uns passinhos de Sampa (terrível, ah, ah, ah!).


Um dos pontos altos da gastronomia do país são as entradas, dizem até que há quem fique somente nelas, foi o que fizemos. Experimentamos peixe e polvo marinados, pimentas recheadas com queijo de cabra, coalhada com verdura (não temos idéia de qual seja), antepasto de berinjela, azeitonas, um pão parecido com o italiano, que tinha sido salteado na frigideira, e cerveja.

 Delicioso. Nosso primeiro café da manhã turco foi um pouquinho diferente do brasileiro: chá (não vem coado, é como o café turco, tem que esperar o pó abaixar), mel, pepino, tomate, ovo cozido, azeitona (preta e verde), manteiga, queijo de cabra, queijo de vaca e um gatinho pidão, para comer metade da comida (os gatinhos lá de casa não são pidões).

Os turcos são muito amáveis, adoram dar informações, você pergunta algo e eles já puxam um mapa e vão explicando tudo, de um modo ou de outro a gente acaba entendendo. Assim foi que acabamos encontrando um guia para as ruínas de Assos. O Senhor Elibol (73 anos) disse bom dia, respondemos; indagou de onde éramos, respondemos; elogiou nosso país e nós, claro que não deixamos por menos, elogiamos o dele; ele foi caminhando com a gente e contando um pouco da historia dele, do país e da cidade. Tudo no nosso inglês tupiniquim e no dele carregado de sotaque turco.
Descobrimos, então, que os turcos do leste e do sul são mais afáveis, enquanto os do oeste mais radicais; que os alemães, ingleses e americanos estão comprando todas as casas da cidade, para veraneio ou para construir caras pousadas, quando as dos turcos são mais baratas; que eles também levaram boa parte das principais antiguidades turcas para museus em seus países. Descobrimos, ainda, que Elibol tem origem grega, o que é um pecado na Turquia, pois eles se odeiam.
Visitamos, inclusive, a mesquita da cidade, pois ele tinha a chave e abriu para nos mostrar; é vazia, sem imagens, tapetes foram o chão e o lugar, que está voltado para Mega, é marcado por algo que seria um pequeno monumento. 

Ele me presenteou com uma pulseira de contas retangulares de vidro colorido, como o de murano, e nós lhe demos um CD de música brasileira, uma canetinha e uma gorjeta. Ficou combinado que, quando voltarmos ao país, para umas férias mais tranqüilas, não viremos de carro, pois ele nos pegará no aeroporto, ficaremos hospedados em sua pousada e ele nos levará para conhecer, mais detalhadamente a região. Simpático, não?  Em uma de nossas primeiras viagens, pelos idos dos anos 80, uma senhora, em Bariloche, ao nos despedirmos nos disse que no mundo só as montanhas não podem se reencontrar. Quem sabe?
Deixamos a cidade por uma pequena estrada, voltando um pouco ao norte, para conhecer as ruínas do Templo de Apolo e de Agora, mas principalmente para conhecer as ruínas cidade de Troya.
É interessante, principalmente pela bagagem histórica do local, a Guerra de Tróia, que ocorreu no século 13 A.C., relatada por Homero, no Ilíada, que deu origem a um símbolo de traição mundialmente conhecido, o Cavalo de Tróia, que deu nome a nossa expedição porque a Turquia era um mistério para nós, não sabíamos o que encontraríamos dentro. Porém, com sinceridade, não achamos muito que ver, embora tenha sido declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, precisa usar muito a imaginação, há ruínas bem mais interessantes e restauradas, mas, pelo menos, entramos numa réplica do tal cavalo (a última  foto não é real, é do filme, só para animar um pouco, ah, ah, ah!).





Dizem que os turcos são comerciantes natos, muito espertos, e que há que pechinchar muito para fazer bons negócios. Temos que afirmar que é uma grande verdade, se você bobear, eles, com carinha de santo e simplicidade, como se fosse um simples jogo, te tapeiam. Tivemos a oportunidade de sentir na pele, logo no início da viagem pelo país, quando fomos... chegamos a mais uma ruína, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio

Bergama (Pergamo), 14 de junho de 2011.
Caro Amigo,
A coisa se passou mais ou menos assim, chegamos a Bergama e iniciamos a procura de hotel. No primeiro, um 3 estrelas, que aqui são mais luxuosos que os do Brasil, nos pediram 100 liras turcas (aproximadamente R$100,00). No segundo, 70 liras, era bem mais simples. Tentamos o terceiro, intermediário entre os dois primeiros, eram quatro homens (quase não vimos mulheres trabalhando no comércio)  na portaria e eu (Sayo), pobrezinha, enquanto o Claudio, espertinho (talvez mais que os turcos), esperava no carro, para a bomba estourar só na minha mão. 
O mais jovem (aprendiz de feiticeiro o danado) derreteu-se em sorrisos, mostrou-me o quarto, os detalhes do banheiro, perguntou de onde eu era, sorriu mais ainda, disse que tinha internet gratuita e que, a partir de 1º de julho o preço seria 100 euros, mas, como estávamos em junho, me faria um precinho camarada (coisa de “brimo”!), somente 80 euros. Tá certo que não sou muito boa em conversão, mais partindo do principio que o dinheiro deles tem praticamente o mesmo valor do nosso, desconfiei logo que o “brimo” estava querendo me passar a perna, que queria me cobrar quase R$200,00, por um quarto que na Turquia valeria menos de R$100,00.
O Caro Amigo, que bem me conhece, pode imaginar a cara que fiz, arregalei um baita olho, acho que até o “brimo” se assustou, e pedi o preço em liras turcas; ele sorriu, disse que me daria um desconto, falou com os outros três (em turco, claro) e veio com 138 liras. Respondi que estava caro, que o hotel em frente era 70. Então ele disse que o café da manhã do outro hotel era ruim e, levando-me ao salão de café, informou que o dele era farto, buffet. Agradeci, disse que ficava para a próxima vez e fiz menção de me retirar; ele respondeu que falaria com seu chefe, um dos homens que estava lá, e me veio com 110 liras; repeti minha resposta e dei alguns passos em direção à porta; ele me ofereceu 90 liras;  agradeci, disse que ficava para uma próxima vez e fui para rua. Então, alguns segundos depois, ele veio correndo e dizendo que me fariam o mesmo preço do outro hotel, 70 liras, tudo com a maior simplicidade e com um sorriso no rosto. Deve ter pensado bem, afinal não é todo o dia que se tem o prazer de hospedar brasileiros, principalmente sócios fundadores da CRKTour, uma da empresas de viagem mais descolados do planeta (ah, ah, ah!).
        
Além de nos divertirmos com os “brimos”, visitamos as ruínas da antiga Pergamo, fundada pelos gregos no século 8º A.C. Na Acrópole, que no alto de um morro, com uma bela vista para toda região, ficam o Templos de Trajano, brancas colunas de mármore, e Atenas; o Teatro, com lugar para mais de 10 mil pessoas; o Altar de Zeus, perto da Ágora (praça do mercado); além das ruínas da Biblioteca, que continha mais de 200 pergaminhos, parte dos quais, contam, foram parar na Biblioteca de Alexandria, como presente de casamento de Marco Antonio para Cleópatra.



Há alguns quilômetros as ruínas da Red Hall, Templo de Serapion e, mais adiante, as de Asklepion, que era uma espécie de hospital, para que os enfermos permanecem bem longe da cidade. Vale à pena a visita!

E também dizem que os turcos, além de ótimos comerciantes, são muito assanhados e cheios de gentilezas com as ocidentais; o que também tivemos a oportunidade de constatar ser uma grande verdade. O comércio é agitadíssimo, lojas por todos os lados, que funcionam até altas horas. Dezenas de tendinhas ao lado dos pontos turísticos, parar em frente a uma delas e lançar os olhos, embora que despretensiosamente, é assinar sentença de morte, pois eles vão te seguir para o resto da vida, oferecendo coisas. Responder um simples “no, thank you”, é querer morrer lenta e agonizantemente, pois eles vão descobrir (não sabemos como) que você é brasileiro e sair logo com um “bom, bonito, barato” (com sotaque brasileiro!), vão grudar em você, feito carrapato ou tatuagens (para os mais românticos), e só vão largar após uma comprinha.
Mas está na hora do café... contamos nossa última experiência depois.
Beijos,
Sayo e Claudio


 Izmir, 15 de junho de 2011.

Caro Amigo,

                
Então o Claudio resolveu comprar um Cavalinho de Tróia e, enquanto ele negociava com um “primo”, o outro, todo cheio de gentilezas, elogiava minha beleza, enquanto me mostrava algumas jóias em prata e, quando me dei conta, ele já estava, “muito inocentemente”, com a mão no meu decote e, “muito respeitosamente”, prendendo um brochinho com um olho azul (símbolo de sorte na Turquia) no meu vestido, tudo para garantir minha boa sorte por toda a viagem e ainda, com a mão na minha cintura, me acompanhou até a saída da lojinha. Que “briminho” bonzinho (ah, ah, ah!). Na verdade eles acabam sendo graciosos, estão sempre rindo e falando muito, pelo menos quando se está de bom humor.

A cidade de Izmir localiza-se em um golfo, a 3ª maior do país, moderna, cheia de lojas, gente e carros, que buzinam o tempo todo, uma preparação para a agitada Istambul, mesmo assim adoramos. O bairro de Konak é o melhor lugar para se hospedar, dá para visitar tudo à pé e evitar a maluquice do trânsito

Fomos ao Museu de Arqueologia, no qual se destacam jóias de ouro, do século 3 A.C., de uma perfeição impressionante. Amamos o Museu Etnográfico, são sempre nossos prediletos, pois mostra cenas do cotidiano da população, trajes regionais, mobília, utensílios domésticos, resumindo, dá uma rápida idéia da vida local. Mas quem fez sucesso mesmo fomos nós, pois a criançada, que fazia visita escolar, ficou agitadíssima com a presença de brasileiros no local, na verdade todos tem se admirado com nossa presença.

Endoidecemos no nosso primeiro Han, grandes armazéns, construídos no período dos seljúcidas e dos otomanos (mais ou menos entre séc. XII e XIII), juntamente com os Caravaçaras, abrigos gratuitos, que serviam com ponto de apoio para os comerciantes e suas caravanas e incentivava o comércio por toda região.  Visitamos o Han Kizlaragasi, é uma grande bazar, que já foi engolido por Kemeralti, também bazar. Resumindo, é algo como o Saara, no Rio, um pouco diferente da 25 de Março, em São Paulo, pois nele as ruas são mais estreitas, onde,  normalmente, não circulam carros, e as lojinhas são menores.

São centenas de lojinhas, grudadinhas, por dezenas de ruelas, onde se encontra de um tudo, desde vestidos de noiva, roupas, trajes de sultão, jóias, comida, chás, frutas, artesanato, leques, doces (provamos um que parecia um canudo feito maria mole resistente, recheado com uma geléia e nozes, babamos!), lembrancinhas para casamento, prataria, pedras, bijuterias, utensílios domésticos, até equipamento de mergulho e pesca; além de gente, gente e gente, e mais gatos e vendedores ambulantes. Tudo que o Caro Amigo remotamente imaginar precisar, seguramente pode ir até lá que encontrará. Depois que nos matamos de andar, sentamos em bancos forrados de tapetes turcos de uma das pequenas casas de chá e tomamos, calmamente, um delicioso chá de maçã, admirando o vai-e-vem das pessoas.

A Torre do Relógio de Konak é um assunto a parte, linda, branquinha, é como uma toalha de renda sobre o azul do céu; ao lado, duas verdes palmeiras. No centro da praça, perto de uma pequena mesquita, rouba todos os olhares e atenções. Não voltamos à noite, para vê-la iluminada, ainda mais bonita. Visitamos também as ruínas de Ágora.

E só para saber, a República da Turquia tem cerca de 75 milhões de habitantes e está dividida entre os continentes europeu e asiático, tratando-se de uma república democrática estabelecida em 1923, após o fim do Império Otomano. Suas fronteiras são limitadas por oito países: a oeste pela Bulgária, ao nordeste pela Armênia, ao leste pelo Irã e o Nakichevan Azerbaijano e a sudeste pelo Iraque e a Síria. É banhada pelo Mar Negro ao norte, pelo Mar Egeu e o Mar de Mármara a oeste e pelo Mar Mediterrâneo ao sul. Sendo que 99% da população seguem a religião muçulmana, em sua maioria o ramo sunita. Mas vimos poucas mulheres com véu e muitos bares e restaurantes servem bebida alcoólicas, que eles também bebem, além do tradicional chá. No país já viveram civilizações importantes para a história humana, como a  hitita, persa, grega, romana, bizantina, seljuk, otomana.

Esquecemos de contar que... temos que parar para procurar hotel, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio


Kusadasi, 17 de junho de 2011.

Caro Amigo,

Esquecemos de contar que com, a água azul turquesa (lógico, estamos na Turquia, ah, ah, ah!) do Mar Egeu, também chegou o sol, o calor, aproximadamente 35 graus, e o céu azul, quase turquesa. No final da tarde, cai uma chuva rápida e uma brisa torna a noite muito agradável.

O país não está preparado para o turista independente. Na entrada das cidades não há placas indicativas do centro, como na maioria dos outros países; então a gente tem que dar umas voltas até se orientar, o que também não é nenhum bicho de sete cabeças, já que as cidades não são tão grandes e a orla do mar sempre ajuda nessa tarefa. Nos Centros de Informações Turísticas também não encontramos muito material, alguns tem só mapinha da cidade e gente com cara de poucos amigos, o que é estranho, pois o povo turco é, em geral, muito comunicativo e alegre. Mas, ainda assim, tem sido muito fácil e lindo viajar pelo país, além de econômico. Os turcos são gentis, calmos e sociáveis, exceto quando estão ao volante, quando, então, buzinam o tempo todo e nem cogitam a idéia de parar nas faixas para ceder passagem a pedestres.

Kusadasi é uma cidade balneária muito concorrida, destino de europeus, que já trataram de comprar sua casinha de veraneio por aqui, e de  milhares de pessoas, que descem todos os dias dos navios de cruzeiro, a fim de conhecer algumas das atrações turísticas mais famosas e visitadas do país, Éfesos, a Casa de Nossa Senhora e a Igreja de São João. Encontramos um hotelzinho com ótimo preço e sacada, com vista para o mar turquesa, ficamos.

Há 8 km, fica a cidade de Selçuk, onde se localizam as ruínas de Éfeso, a antiga Jônia, sendo que a cidade, que é vista hoje, foi fundada no século 3º A.C., que chegou a ser capital do Império Romano da Ásia, importante centro filosófico e comercial, com 200.000 habitantes. Lá se encontram os monumentos melhor preservados do país, como o Grande Teatro, para 20 mil espectadores, o Pequeno Teatro, a Biblioteca de Celso, a 3ª maior da época, a Porta de Augusto, o Templo de Artemis (uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo), a Porta de Hercules, o Templo de Adriano e a primeira igreja consagrada a Nossa Senhora; que são somente as principais construções, pois há muitas de outras. Colunas de mármore branco, com capitéis entalhados, fachadas com delicadas decorações, estátuas em mármores, cujas dobras das roupas parecem ser de tecido, tanta a riqueza de seus detalhes, são só poucos exemplos do que se encontra por lá.

É um lugar fantástico, visita imperdível, que exige havaiana, chapéu de sol e muita água, quem sabe até um lanchinho, pois a cidade, além de grande, ficava em uma encosta. Visitamos sem guia, utilizando “áudio-guide”em espanhol, um aparato com fone de ouvido, que segue uma numeração e detalha cada construção. Dá  para ter uma nítida noção da suntuosidade e riqueza da cidade em seus áureos tempos; dizem que até Marco Antonio e Cleópatra andaram tirando umas férias por lá e que São João pregou contra o paganismo e adoração a Artemis, no grande teatro.

Enquanto os ricos e famosos viviam no centro de Éfeso, nos arredores vivia o resto da população. Há 8 km, visitamos a casa onde Nossa Senhora passou seus últimos anos na terra, trazida por São João, quatro anos após a morte de Jesus, fugindo da perseguição aos cristãos. É uma pequena casa de pedra, de três cômodos, no alto de uma colina, um lugar marcante. Quando visitamos o local, há 11 anos, havia somente a casa e uma fonte de água, que se acredita ter poderes curativos. O local foi declarado, pelo Papa Paulo II, centro de peregrinação cristã.

Hoje, há um local para realização de missas e a prefeitura de Selçuk transformou o local em um parque, cobrando entrada e estacionamento; instalando loja de lembrancinhas e posto do correio, são mulçumanos e não se incomodam de receber lucros da fé cristã, pois uma placa informa que a casa é mantida por doações e venda de produtos de sua pequena loja, pois todo o dinheiro das entradas vai para a prefeitura. Rezamos; deixamos nossos pedidos escritos em um lencinho de papel amarrado, junto a milhares de outros, na parede de pedra junto às torneiras da fonte, onde pegamos água; compramos algumas medalhas.

Visitamos as ruínas da Igreja de São João, onde está enterrado seu corpo, que foi construída pelo Imperador Justiniano; a Caverna dos 7 adormecidos, onde, contam, sete jovens, fugindo da perseguição aos cristãos, adormeceram e acordaram 200 anos mais tarde, quando o cristianismo já fora adotado como religião oficial do Império Romano; posteriormente eles foram enterrados lá, também só restam ruínas
                                                                           
Kusadasi ainda tem vários parques aquáticos e restaurantes para todos os gostos. Em nossa primeira noite jantamos em um bem pitoresco, cheio de tapetes coloridos, pois eles adoram os tapetes e as coisas muito coloridas, às vezes, até exageram um pouco. Já em nossa segunda noite, encolhemos um restaurante pequeno, coisa mais de local, onde o proprietário cozinhava, enquanto seu filho e neto serviam as mesas; os turistas, que lá jantavam, pareciam ser muito íntimos (talvez já tenham suas casinhas de veraneio na cidade), pois se despediam dos proprietários com beijinhos no rosto, coisa não muito comum na Europa, quando não se tem um certo grau de intimidade; também já fizemos amizade e prometemos voltar.

E para piorar tudo a cidade ainda tem um Gran Bazar, onde turistas e vendedores travam aquela luta feroz, que já lhe contamos, um querendo comprar mais por menos e o outros querendo vender muito mais, por um preço ainda maior. Esquecemos de contar que a Turquia é uma das rainhas da...., vamos parar para umas fotos, contamos depois!

Beijos,

Sayo e Claudio


Bodrum, 19 de junho de 2011.

Caro Amigo,

Esquecemos de contar que a Turquia tem lugar de destaque na venda de produtos falsificados..., tem Louis Vuitton, Chanel, Ray Ban, Armani, Polo e muitas outras marcas conhecidas, com versões para todos os gostos, desde as mais grosseiras até réplicas impecáveis dos últimos modelos lançados, os produtos são encontrados nas lojas, expostos nas vitrines, sem qualquer restrição.  Quando estivemos em Kusadasi, há 11 anos, em um cruzeiro, nosso guia nos contou que o algodão turco é um dos melhores do mundo, então que se levássemos uma blusa falsificada de alguma marca famosa, provavelmente teríamos um produto de melhor qualidade que o original.

O Caro Amigo já ouviu falar em Bodrum? Pois é, nem nós até iniciarmos o roteiro de nossa viagem. Mas acontece que todo o resto do mundo já! E vieram de transatlântico, veleiro, lancha, iate, barco a remo, caiaque, até o Pequeno Polegar veio remando em uma casquinha de noz. Acredite se quiser?

Mas Caro Amigo deve estar muito curioso, querendo saber o que toda essa gente veio fazer aqui. Encostas áridas, terra seca; aqui e ali, o verde das coníferas, palmeiras e oliveiras; dependuradas, nas encostas, quadradas casinhas brancas, todas brancas, com telhado reto e, às vezes, janelas azuis, lembrando uma paisagem grega; muros de pedra; teimosas primaveras vivamente coloridas, trepando, despudoradamente, por todo lado; labirintos de ruelas com lojas, lojas e lojas, além dos restaurantes, restaurantes e restaurantes, que ficam abertos até acabarem as forças do último cliente; praias com espreguiçadeiras, colchões, tapetes, redes, cadeiras, canapés, almofadões e guarda-sóis, para descansar o corpo, tomando uma barata, saborosa e gelada cerveja turca, Efes, e olhar o mar azul turquesa. À noite, a rua principal, onde ficam as lojas, é iluminada como o dia e mais cheia que a 25 de Março na semana do Natal. Será que foi por isso que eles vieram? Talvez (ah, ah, ah)? Já escolhemos onde será nossa casa na Europa!
     
Assim é Bodrum e as pequenas cidades que ficam na península de mesmo nome, Gumbet. Yali, Bagla, Gumusluk, Akyarlar, Turgutrei,Torba e outras  que fomos visitando no ensolarado domingo, caminhando um pouco pelas praias e molhando os pés no Egeu, que é frio, um pouco menos que nos outros países europeus..

De acordo com as regras da religião mulçumana, os fiéis devem, em tese, rezar cinco vezes por dia. As mesquitas têm o teto arredondado e, ao seu lado, pelo menos um minarete, uma comprida e pontiaguda torre cilíndrica, na qual, normalmente, estão os autofalantes, que chamam o povo para as orações, através de uma ladainha que parece uma música. Já escutamos algumas, mas não vimos ninguém rezado. Continuamos vendo quase nenhuma mulher de véu.

As cidades são cheias de gatos e cachorros comunitários, que vivem em liberdade e convivem pacificamente com a população, que não os maltrata, pelo contrário, é comum encontrar potes com água e comida, e gente brincando com eles. Aparentemente muitos são castrados, pois usam um brinco de marcação na orelha.

Estamos hospedados em Bodrum, num hotel legal, repleto de velhinhos ingleses, que passam o dia torrando na piscina e, à noite, saem para tomar cerveja nos restaurantes vizinhos, nem descem até a praia. Já vinha nos causando estranheza a presença de tantos ingleses na região, inclusive a intimidade que parecem ter com a população local. Descobrimos que se trata de um dos destinos preferidos dos ingleses, que lotam as cidades, retornando cada ano. Se é barato para nós, imagine para eles, com libras.

E em Bodrum visitamos o Museu de Arquologia Marinha, que fica no Castelo de São Pedro, uma grande fortificação com cinco torres,  construída no início do século XIV, que, dizem, foi construído com as pedras do Mausoléu de Halicarnasso, que é uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, que também fica na cidade, mas do Mausoléu só restam ruínas, que vimos desde as grades de um portão, pois fecha às segundas-feiras. Já o Castelo, conhecemos palmo a palmo, observando, a partir de seus muros, diferentes ângulos do mar Egeu, da baia e do porto, lotado de barcos.

 Nosso primeiro jantar aqui foi sensacional! Bem daquele jeitinho que o Claudio gosta, como já contei ao Caro Amigo em nossa última viagem, ao Uruguai, com mesa na beira do Sena ou do Nilo.  Nossa mesa ficava a menos de dois metros das águas do Mar Egeu, muna praia de pedrinhas brancas. À direta, a silueta do Castelo, desenhada no céu que começava a escurecer, com queima de fogos. À frente, dezenas de veleiros, com luzinhas que, ao anoitecer, pareciam estrelas caídas do firmamento. Comida excelente, Caçarola Mista, de camarão e lula, delicado molho de tomate com uma pitada de creme de leite, gratinada com queijo; Camarão Grelhado, enormes e tenros, com fritas, salada e um especial molho de alho.

Mas chegou a hora de partir, próximo destino é Marmáris e a Península de Datça, que é o ... hora de procurar hotel, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio


Marmáris, 21 de junho de 2011.

Caro Amigo,

A Península de Datça é o ponto de encontro do Mar Egeu com o Mar Mediterrâneo, a cidade de Marmáris fica em uma pequena baia nas proximidades das penínsulas de Bozburun e Datça. Outra cidadezinha sensacional (já estamos mudando nossa casinha de Bodrum, ah, ah, ah!). Na parte antiga da cidade carro não transita, existem ruelas tão estreitas que quase nem gente transita, um verdadeiro labirinto de casas e alguns restaurantes com terraço e vista para o porto, também lotado de barcos, que fazem passeios noturnos, diários ou semanais.

No longo calçadão, de um lado os barcos aportados; do outro, elegantes restaurantes, com mesa na calçada e terraço, para quem quiser ver mais longe no infinito mar azul.  Um Grand Bazar, centenas de lojinhas abertas sábado, domingo e feriado.  Show!

Seguindo pela avenida que circunda a baia, encontramos lindos jardins, altas palmeiras, além de vários restaurantes e hotéis, que se tornam mais moderno a medida de se afastam um pouquinho da zona central. Seguem as lojinhas de doces que normalmente especiarias, chás (o de maçã é o melhor que já tomamos na face da terra), potes mel com pequenas castanhas e sementes, arrumadas como um mosaico, e um montão de pequenos quadradinhos coloridos enfeitados, pequenas jóias para o paladar; as de roupas e acessórios, na marca, cor e modelo que o freguês quiser, dos mais simples aos mais sofisticados, coisas de Turquia; e também as joalherias, que fazem meus (Sayo) olhos saltarem, dá para passar dias admirando.

O relógio do carro já chegou à temperatura de 41 graus, nossa mala de roupas, com 16kg, agora parece que já pesa 100, não que tenhamos comprado muita coisa (estamos deixando as compras para Istambul), mas sim em virtude do trabalho de levá-la para lá e para cá, em cada hotel que ficamos, que não são 5 estrelas, portanto nem sempre há alguém para carregá-las por nós. E o pior é que mais da metade da roupa tornou-se inútil, pois é para temperatura mais fria, ou para lugar mais recatado, como pensei que seria um país mulçumano, mas, pelo menos por enquanto, tudo está como no Brasil; então resolvemos abandonar parte delas em sacolinhas pelo carro, assim evitamos carregar peso morto, porém alertamos o Caro Amigo que não é uma prática recomendável, na verdade a regra para todo turista é nunca deixar nada dentro do carro, resolvemos arriscar.  Seguirei pacienciosamente tentando e um dia chegarei à mala ideal. Mais umas 20 ou 30 viagens e chego lá (ah, ah, ah!)

Também devo (Sayo) confessar à Cara Amiga que tive que dar adeus à vaidade e me render à havaiana e ao gel, pois o calor é infernal e, entre as prioridades de viagem, arrumar cabelo está ficando lá para trás. Mas encontrei uma solução turca para o problema, afinal eles estão achando que eu sou turca, várias pessoas já vieram falar comigo em turco e comentam que tenho feições de nativa; uma falsificaçãozinha a mais, não fará grande diferença num país tão grande, passará quase desapercebida, veja na foto (ah, ah,ah!).

A geografia mudou muito, a costa é bastante acidentada, são montanhas rochosa, cortadas por estradinhas de terra, provavelmente para turismo de aventura; muitos pinheiros e, entre uma curva e outra, lá embaixo o mar azul. Por vezes a entrada das várias baias é tão estreita é elas estão tão circundadas por montanhas que se tem a impressão de estar em um lago, talvez na lagoa azul. Coincidentemente, colocamos um CD do TIM e ele cantou: Azul da Cor do Mar. Oh, feriazinhas danadas de boas!

Fomos seguindo pelas estradas das penínsulas, entre os pinheiros, parando em uma praia ou outra, para um merecido mergulho. Encontramos vários Jeeps de turismo, levando o pessoal para conhecer a região e, assim como em Bodrum, linhas de microônibus (dolmuses) fazem o percurso entre as várias cidades e barcos oferecem pequenos cruzeiros com almoço incluso.

Na cidade fomos a nossa primeira feira turca, algo parecido com nossa feira livre, porém a parte de legumes e frutas é menor, grande mesmo é a filial dos Bazares, que vendem de um tudo, são as lojas em barracas, com vendedores ainda mais falantes.  

A comida turca é muito boa (já sabemos que o Caro Amigo não nos dá muito crédito nesse quesito, pois sabe que comemos quase tudo que não nos morder primeiro, mas juramos que é a mais pura verdade) e saudável, abusando dos grelhados, dos ensopados e do uso de condimentos perfumados, berinjela, pepino, tomate, cebola, alho, folha de uva, abobrinha, carne de carneiro (o mulçumano não come carne de porto), pescado, frutas frescas e secas, sementes, castanhas, coalhada, mel, azeitonas, gergilim e pães. Prova disso é que a população não é obesa, aliás, os turcos são lindos de morrer. A Cara Amiga pode arrumar um namorado turco, pela internet, sem qualquer medo, e, inclusive, nós teremos imenso prazer em voltar à Turquia para sermos padrinhos de seu casamento (ah, ah, ah!).

Continuamos fazendo muito sucesso, em primeiro lugar, claro, por nosso magnetismo pessoal (ah, ah, ah!), segundo porque somos brasileiros, e eles acham o máximo que tenhamos vindo de tão longe, sós, para conhecer a Turquia. E a terceira razão é que o Alex de Souza joga em um time daqui.
Mas a Grande verdade é que os turcos são muito gentis e educados; é muito comum ser recebido, inclusive em lojas e restaurantes, com um forte aperto de mão e um largo sorriso.

Outro dia fomos jantar em um restaurante, ao lado de nosso hotel, em Mármaris, inclusive do mesmo dono e já na entrada... a viagem a Pamukkale é longa, temos que partir, contamos depois!

Beijos,

Sayo e Claudio



Pamukkale, 22 de junho de 2011.

Caro Amigo,


Como estávamos contando, já um bonito rapaz nos dava as boas vindas e tecia um discurso sobre o cardápio e sobre a comida regional, que buscávamos, sem deixar de apertar nossa mão e perguntar de onde éramos. Ele foi seguido por diversos garçons que fizeram questão de passar por nossa mesa, com nossos apertos de mão e um dedinho de prosa, todos muito gentis e solícitos.

Então chegou o Atila, que, quando soube que éramos brasileiros, fez uma reverencia, dizendo que jamais tinha visto brasileiro na cidade (também tomada por ingleses) e danou a tecer mil elogios ao Alex de Sousa, que chamava de seu herói; contou-nos as peripécias que fez para assistir a um jogo dele em Istambul, há catorze horas viagem;  quis saber, com detalhes, o que nos levou a vir à Turquia e o que mais visitaríamos; arrematou elogiando o Brasil e declarando seu grande sonho de conhecê-lo. De quando em quando, voltava a nossa mesa para mais uma prosinha e um elogio; numa dessas vindas, resolvemos presenteá-lo com uma canetinha do Brasil, foi o fim, ele derreteu-se em sorrisos e saiu mostrando a caneta para os fregueses das outras mesas e colegas de trabalho. Ao final do jantar, ofereceu-nos, cortesmente, dois cafés Mais uma prova da amabilidade do povo.

Tomamos uma estrada para o centro do país e, após 150km, chegamos à cidade de Denizli. Mais 20km e estávamos nas ruínas de Hierápolis, um hospital fundado no alto de uma colina,, em 190, pelo rei de Bergama, em virtude das fontes termais curativas existentes na região; sendo a necrópole um ponto alto a visita, em virtude da grande diversidade e riqueza de detalhes dos túmulos.

Ainda dentro do que foi a cidade está Pamukkale (Castelo de Algodão), uma das jóias do turismo turco, declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, o trabalho paciencioso realizado pelo escorrimento das águas ricas em calcário, que foram se depositando em degraus, formando terraços travertinos; suaves cascatas brancas piscinas de águas azuladas e quentes.

É um impressionante trabalho de sedimentação, que não teria sido melhor feito pela mão do homem. Melhor ainda é banhar-se, em suas águas normas, admirando o imenso vale que se estende aos seus pés. O local tem uma boa estrutura de banheiros, alimentação, lojinhas, centro de informações turísticas, posto do correio e fontes de água espalhadas. Porém não encontramos mapas da própria Hierápolis e nem serviço de audioguide, como em Éfeso. A dica é já ir de maiô e havaiana, para aproveitar as piscinas naturais, com uma roupa super leve por cima. Há uma parte de piscinas pagas (R$30,00), não vimos vantagem, pois não têm o mesmo charme das ao ar livre. Prepare-se para andar muito e sob um sol de rachar taquara, o Caro Amigo mais aventureiro, que não é meu caso (Sayo), pode fazer como o Kuc e alugar uma bica motorizada.



Fethiye, 23 de junho de 2011.

Caro Amigo,

É impossível não saber que se está na Turquia, pois a bandeira (vermelha com uma meia lua e uma estrela brancas) tremula por todos os lados, eles são muito patriotas e orgulhosos (com justíssima razão) de seu país. Também se encontra a foto de Mustafá Kemal, o Atatürk (pai da Turquia), general do exército, herói da Guerra de Galípoli (1915/6), que ajudou decisivamente na criação da República Truca, em 1923; sendo posteriormente eleito chefe de estado e trazendo o país à modernidade com uma identidade própria.

Então, por indicação das brasileiras, paramos em Fethiye, antiga Telmessos, para conhecer uma praia paradisíaca, que aparece em muitas fotos famosas, e foi o que encontramos. Oludeniz, uma pequena faixa de terra que invade o mar, circundada por águas calmas e cercada por beleza e infra-estrutura. Enquanto eu descansava meu pobre corpinho em uma espreguiçadeira, o Claudio andava de caiaque e mergulhava. A região também é bem servida pelos pequenos e modernos ônibus; além de barcos que fazem passeios pelas várias ilhas. Na cidade também encontramos alguns túmulos Lícios, povo que ocupou a região, por volta do séc. IV a.C., e que escavava seus túmulos em rochas, à beira de penhascos, muitos deles aos moldes do que seriam as casas dos mortos.
Os Centros de Informações Turísticas melhoraram muito, com pessoal mais simpático e preparado e mais informações à disposição, inclusive em espanhol, porque em português... nem pensar! As estradas são boas e já descobrimos como se escreve centro em turco, “sehir merkezi”, já podemos decifrar as placas ao chegar às cidades.  Também aprendemos a dizer bom dia, “günaydin”. Então, já estamos dominando a Turquia (ah, ah, ah!).

Desde que chegamos à zona do Mediterrâneo observamos imensas estufas de plantação de tomate, que é um dos vegetais mais consumidos na culinária local, tanto ao natural, como nos Kebabs (basicamente um tipo carne ensopada com alguns tipos de legume), ou em uma pasta apimentada que servem como entrada, acompanhada de iogurte com hortelã. No café da manhã continua não faltando tomate, pepino, azeitona, ovo cozido, mel manteiga, queijo branco e chá. Ainda não arriscamos o café turco, sem coar, o expresso é encontrado com dificuldade, mas o Nescafé é amplamente utilizado. 

A bebida alcoólica popular no país é o Raki, feito de uva e anis, com sabor agradável, mas que é uma verdadeira bomba, 40 graus; é servido com muito gelo e água, para amenizar seus efeitos. Encontramos algo parecido com o nosso pão sírio, numa versão maior e ovalada, polvilhado com gergelim, que é servido bem quente e inchado, cheio de ar como pastel.

Um hábito muito popular é o jogo de gamão. Em muitos bares e restaurantes, encontramos tabuleiro sobre as mesas, que são comumente utilizados por pessoas de todas as idades e sexos. Já o dominó é jogado por homens de mais idade, provavelmente aposentados, que ficam nos bares, diga-se de passagem, tomando chá.
Os preços são muito baratos, uma garrafinha de água custa entre R$0,60 e R$1,50, dependendo da sofisticação do estabelecimento; a cerveja de 1/2l, em torno de R$6,00, porque tem imposto de 400%, já que é bebida alcoólica e o país e mulçumano; os hotéis, nos  quais ficamos, que são simples, mas alguns tinham  piscina, saíram entre R$80,00 e R$110,00; um gostoso jantar, do jeito que o Claudio gosta, com muita cerveja, mesa ao lado da grade do terraço, com vista para o horizonte (ele abandonou as mesas na beira do Rio Sena e rendeu-se ao charme dos terraços com vista para o mar, ah, ah, ah!) custa, em média R$85,00.

Mas está na hora de tomar café da manhã, para variar estamos morrendo de fome, como sempre!

Beijos,

Sayo e Claudio

PS – Minha linda foto não acompanhou o email passado, segue agora.

  
Kalkan, 24 de junho de 2011.

Inicialmente, ao longe nos pareceu um pouco sem graça, casinhas brancas espalhada em encostas muito íngremes, baía fechada pequena, mar azul, poucos barcos, mas quando a olhamos mais de perto, amor a segunda vista! É bem verdade que é cheia de ladeiras de tirar o fôlego, tanto por sua inclinação, como pela fascinação que causam. Lembra aquele charme da cidade de Paraty, emoldurado por parreiras cheias de fruta e primaveras floridas.

As estreitas ruas do centro, onde não circulam carros, têm piso de pedra, já muito polida pelo andar das pessoas, e, a cada metro delas, coloridas surpresas, visuais e gastronômicas; “lujinhas” com maravilhosas quinquilharias coloridas e brilhantes e pequenos restaurantes em terraços gradeados, sobre as pequenas edificações, de dois ou três andares, com floreiras e pisca-pisca (nem é natal e já ganhamos presente!), num deles conhecemos outro rapaz, o “Levent”, que adora o Brasil e tem o sonho de conhecer a Amazônia. Circundando a pequena baia estão outros restaurantes, mais elegantes. Gatos por todo lado (amamos os gatos), dormindo sobre os tapetes e cerâmicas das lojas; observando atentamente sobre o balcão da joalheria; discutindo com algum companheiro. Os cães também estão, mas um pouco mais de bons modos. Há ninhos de andorinhas.

A sacada, da pensão em que nos hospedamos, tem vista para o mar, acordei (Sayo), como sempre, muito cedo, e observei, no silêncio da manhã, o ruído do motor do pequeno barquinho que partia, deixando um rastro de espuma branca no mar azul, e os gritos das andorinhas, que voavam desordenadamente. Pensei em mudar novamente minha casinha de local, mas o Claudio, muito prático, como sempre, encontrou uma solução melhor, compramos um barco, assim mudamos de local quando bem nos aprouver (ah, ah, ah!).

Paramos nessa linda e agradável cidade para conhecer as ruínas de Pinara, onde nasceu São Nicolau (Papai Noel) e que tem uma longa praia de areia (na Europa são, em geral, de pedras); além das ruínas de Xanthos e Letoon, as duas últimas declaradas Patrimônio da Humanidade pela UNESCO; e o Desfiladeiro Saklilikent, um grande cânion cortado por um rio gelado. Atrações localizadas em cidades próximas, também bem servidas por sistema de transporte público. Porém esses pontos turísticos não nos conquistaram, não valeram a visita, são muito sem graça; melhor ficar curtindo a linda cidade.

Mas, em compensação, fomos a uma feira do pessoal local, sem turistas (só nós, claro!), fizemos umas comprinhas e observamos um tipo de vestimenta feminina bem esquisita, mas amplamente utilizado pelas mulheres, de todas as idades, da região. É composto por uma ampla calça saruel (aquelas largonas, com o cavalo lá embaixo) de malha, sempre estampada, com fundo escuro e flores; uma camiseta lisa de manga comprida; uma túnica aberta e o lenço no cabelo colocado ao estilo de uma camponesa, não como uma mulçumana tradicional, cujo lenço cobre, inclusive, o pescoço, chegando até o queixo. É realmente algo horroroso, com combinações estapafúrdias, mas elas usam na maior tranqüilidade, devem achar bonito! O Claudio, muito meu amigo, estava doido para comprar um modelito desses para mim. Muy amigo! Eu ia ficar parecendo um balão de festa junina! 

Mas, em compensação, nas estradas, conhecemos, espalhados pela zona rural da região, pequenos restaurantes familiares muito peculiares.  Talvez lembrem um pouco um restaurante japonês com tatame. São várias plataformas quadradas, limitadas por três paredes, um pouco elevadas do solo, dois ou três degraus, dispostas no que seria a varanda de uma casa; forradas de tapetes e com várias almofadas, colchões e uma pequena mesa ao centro. Nas laterais da casa, onde seria o jardim, estruturas de madeira rudimentares, lembrando uma casa na árvore ou clubinho construído por crianças; também com tapetes, almofadas e mesinhas. É como fazer um picnic dentro de um restaurante.

Em um dos cantos da frente do restaurante, sem paredes, uma outra plataforma com dois fornos, à lenha, arredondados e com chaminé; de aproximadamente 40cm de altura e 70cm de diâmetro. A lenha é colocada em seu interior e a comida assada sobre sua cobertura arredondada, como uma cúpula, que não sabemos se é de ferro ou pedra. As mulheres ficam sentadas nessa plataforma preparando as comidas e chamando as pessoas que passam pela estrada.

Não resistimos e atendemos ao chamado, seria uma grande falta de educação não fazê-lo. Tiramos os chinelos e nos aboletamos em nosso compartimento. Uma adolescente veio nos atender, trouxe um cardápio que tinha a tradução, em inglês, dos pratos, porém sem nenhum preço (2ª regra do bom turista: nunca beba ou coma nada sem saber, antecipadamente, o preço). A garota praticamente não falava nada de inglês, então revolvemos, uma vez mais, descumprir nossas regras e pedimos dois chás de maçã, uma panqueca mista (queijo e carne) e truta, que meio acompanhada por pão, conserva de pimenta doce, fritas e vinagrete. A truta foi colocada, inteira sobre uma das tais cúpulas e a massa da panqueca foi derramada sobre a outra. Comemos, fotografamos tudo (ou melhor, o Claudio fotografou tudo) e pedimos a conta, que foi... estamos chegando em uma cidadezinha, vamos dar uma paradinha, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio



Antalia, 26 de junho de 2011.

Caro Amigo,

A tal conta nos surpreendeu terrivelmente, foi dinheiro de gorjeta no Brasil, somente R$12,00, é doze reais!

A estrada para Antalia, D400, segue pelo litoral, passa por penhascos rochosos, que descem até o mar e, de quando em quando, formam pequenas praias, onde as pessoas tomam banho de sol e de mar. É um agradável trajeto, que lembra, um pouquinho a Costa Amalfitana, na Itália.

No caminho paramos em Demre (antiga Myrra) para visitar a Igreja Bizantina de São Nicolau (Papai Noel), onde estava enterrado o Santo, cujos ossos já foram transferidos para Itália; ou o que resta dela, pois foi destruída pelos árabes, em 80. É local de grande devoção dos ortodoxos, que rezavam fervorosamente diante do túmulo de pedra. Até o momento, a única igreja, em condições de realização de atos religiosos católico, foi na Casa de Nossa Senhora. Nota-se bem que a religião do país é mulçumana, embora boa parte da população não seja praticante.

Até agora, não encontramos, na Turquia, cidades com altos edifício, em geral são de 4 andares; também não encontramos cidades modelo, super organizadas e limpas, de 1º Mundo. A verdade a coisa toda é um pouco bagunçada, lembra um pouco o Brasil.

Antalia é uma grande. Na parte moderna, estão as grandes avenidas, ladeadas de palmeiras, os parques e muitas lojas, que trabalham freneticamente todo o domingo, com música em alto volume e compradores enfurecidos. A parte antiga está assentada sobre um penhasco rochoso em frente a um pequeno porto, onde o mar azul e proximidade da Cordilheira de Taurus impressionam; tem ruelas estreitas, cheias de hotéis, restaurantes e loijinhas (claro!). Não é feia, mais esperávamos mais, já que é tida como o centro do turismo de toda a região.

Sua visita torna-se obrigatória para conhecer o Museu de Arqueologia de Antália, um dos melhores do país, que, além de seu excelente acervo de peças arqueológicas, organizadas de modo bastante didático, que facilitam a compreensão até de quem não domina a língua, conta com um grande acervo de estátuas e frisos romanos de mármore, do século II, retirados das ruínas da cidade de Perge, cuja riqueza de detalhes realmente impressiona. Por vezes, tem-se quase a certeza de que o tecido está realmente escorregando pelo perfeito corpo das brancas mulheres, deixando seus seios quase desnudos. As urnas funerárias também são impressionantes.

No sábado, à noite, havia um show de música na grande praça sobre o penhasco, sentamos para assistir. Aparentemente algo popular, pois os ouvintes cantavam junto e aplaudiam muito. O som era melodioso, algo um pouco melancólico, como um lamento. O cantor, um elegante cinqüentão, era acompanhado por clarinete, violino, ud (instrumento regional de corda, arredondado) e darbuka (instrumento regional de percussão, normalmente com corpo de cerâmica). Também visitamos Mesquita do Minarete Estriado, símbolo da cidade, feito de tijolos marrons e decorada com pequenos azulejos turquesa, que não são perceptíveis à distância.

Há poucos quilômetros de Antália está o Anfiteatro de Aspendos, romano, construído por volta do ano de 162, que dizem ser um dos mais bem conservados do mundo, onde se realiza o famoso Festival de Ópera e Ballet de Aspendos, entre junho e julho. Assistir a uma apresentação nesse maravilhoso teatro era um dos pontos altos da viagem que planejamos. Programamos nossa chegada no final de semana com esse fim, porém não imaginávamos que as apresentações eram no meio da semana. O ballet Lago do Cisne seria apresentado na quarta-feira, dia 29/06, tempo demais para permanecer na cidade, atrasaria toda nossa viagem. Mas deixar de conhecer o teatro em noite de exibição era um crime. O que fazer Caro Amigo?
  
Outra coisa que nos trouxe à cidade foi a proximidade com as ruínas de Termessos, que ficam no Parque Nacional Güllük Dag, entre as montanhas, e tem indicação para ser declarada Patrimônio da Humanidade. Guarde bem esse nome, Caro Amigo! Se por acaso, algum dia, algum amigo o convidar para esse passeio pense bem. Pense novamente! E mais uma vez! Tenha a plena certeza que ele é, na verdade, seu inimigo. Nem o Alexandre, aquele, o Grande, atreveu-se a estender seus domínios até lá, pois viu que era uma fria.

Domingo de sol e lá fomos nós, a CRKTour com toda sua equipe, ou melhor, por sorte deixamos o Stut (nosso mascote) no hotel, ele teria chorado lágrimas de sangue. Entramos no parque e, após 9Km de estradas, chegamos no estacionamento. Percebi (Sayo) que estava praticamente vazio, meu sexto sentido me avisava: é fria. Mas fazer o Claudio desistir, naquela altura, nem morta. Começamos a subir a íngreme montanha por uma estradinha péssima, cheia de pedras e de uma vegetação cheia de espinhos. Eu ameaçava voltar, pedir o divórcio, mas ele não se comovia, dizia: Alexandre, o Grande, não foi, mas a CRKTour vai, faz parte de nosso compromisso com nossos clientes.

Fomos continuando, em meio à floresta pedregosa, por uma estradeca sem qualquer sinalização, sem encontrar viva alma e ouvindo, de quando em quando, uns gritos, alguma alma penada que, até então, não encontrou o caminho de casa. Num dado momento, passaram três rapazes, ainda não sabemos se  vivos ou mortos.  Já estávamos quase no Monte Olimpo e nada de achar as tais ruínas. Encontrei um banco e resolvi me fingir de estátua. O Claudio continuou subindo, foi lá e fotografou tudo. Vi as fotos e me dei por muitíssimo satisfeita.

Mas ainda havia a volta e os tais Túmulos Lícios, esculpidos nas rochas! Utilizando um muito confiável (?) mapa, que havia num fouder de propaganda de um restaurante, nos convencemos de que havia uma outra trilha, que passaria pelos túmulos e terminaria no Templo de Artemis, no estacionamento. Chegou um jovem casal, não sabemos que língua falavam, mas notamos que a menina xingava a mãe do rapaz e todos os seus parentes até a última geração. Andamos alguns metrinhos juntos, ela xingava e nós riamos; encontramos dois imensos caixõezinhos de pedra, tombados pelo caminho, e eles já se deram por bem satisfeitos e voltaram por onde vieram. Eu não teria a mesma sorte, teria que enfrentar o desconhecido, descobrir se, por aquele caminho, realmente chegaria ao estacionamento e quanto isso me custaria ... parada estratégica no posto de gasolina, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio





Konya, 28 de junho de 2011.

Caro Amigo,

Como contávamos, Alexandre, o Grande, desistiu de dominar Termessos, que está a 1050m de altitude, mas a CRKTour, como pode perceber o Caro Amigo, foi e sobreviveu para lhe contar os detalhes. Então seguimos o caminho indicado no tal mapa. Fomos descendo, pelo meio da floresta e das pesadas pedras, que foram um dia a famosa cidade, numa estradinha muito íngreme e cheia de desafios. Encontramos os famosos túmulos entalhados, que o Claudio fotografou sem nenhum turista para molestá-lo. 

Ao longe alguém gritou para testar o eco (ou medo de algum fantasma, naquele lugar tão deserto), foi a deixa para o Claudio gritar, imitando todos os bichos da fauna brasileira. No inicio, alguém respondia, mas depois deve ter morrido de pavor ou despencou em algum desfiladeiro. Demos muita risada das maluquices que turista inventa de fazer e, finalmente, chegamos ao estacionamento. Alguns minutos depois, chega o jovem casal, que não quis nos seguir, e nos olha com cara de quem estava vendo fantasma. Veja a grande vantagem que tem o cliente da CRKTour, participa de tudo desde a confortável poltrona de sua casa (ah, ah, ah!).

Quanto ao Festival de Ópera e Ballet de Aspendos? Claro que resolvemos assistir! Compramos os ingressos em um posto, na entrada Museu de Arqueologia de Antalya, no domingo, e alteramos o trajeto da viagem, paranão perdermos muito tempo parados.  

Foi assim que viemos parar em Konya, 300km para o interior do país, já na região da Anatólia Ocidental, capital do sultanato seljúcida de Rum, no século XIII. A temperatura caiu 15 graus e a geografia mudou muito, surgiram as vastas planícies, estepes, uma ou outra montanha ao longe. A cidade é um importante centro religioso, onde nasceu a ordem  Mevlevi, mais conhecida como a ordem dos dervixes que rodopiam, fundada pelo místico Mevlâna (Celaleddin Rumi), que lá vivia e acreditava que pela música e dança, rodopio (sema), era possível chegar a um estado de estase de amor universal.

O Sema é um ritual, composto por orações (versos do alcorão), cumprimentos e improviso musical. Os dervixes rodopiam com a palma da mão direita para cima e a da mão esquerda para baixo, para que a energia divina circule, pelo seu corpo, do céu para a terra. Eles vestem-se de branco, com uma ampla saia e um chapéu cônico. Assistiremos ao ritual em Istambul.

A cidade tem, para os turcos, a mesma importância que Aparecida tem para os brasileiros, é lotada de devotos. Aliás, as duas cidades se parecem muito, com suas milhares de lojinhas, vendendo objetos religiosos e lembrancinhas, e hotéis para hospedar os milhares de devotos e turistas. Hoje, o Museu de Mevlâna ocupa a área do antigo seminário, composta de jardins, pequenos quartos, cozinha e túmulos. Além da mesquita, com sua torre de azulejos verdes, onde, em uma caixa de madrepérola, estão pelos da barba de Maomé.

Foi a primeira cidade onde realmente notamos a presença da religião mulçumana;  na vestimenta das mulheres, na freqüência às mesquitas e no nosso jantar, regado a suco. Mas, pelo menos, provamos comidas típicas, servidas nos casamentos em Konya: sopa de iogurte com arroz e carne com servida em cubos, com iogurte e pequenos pedaços de pão fritos, parecidos com crutons.

Visitamos o Istiklal Harbi – Sehtligi, nome bem difícil para o que parece ser um memorial e um museu mostrando cenas da Batalha de Galipoli e da vida cotidiana. O lugar é muito lindo, com bandeiras, piso em mármores e colunas ricamente trabalhadas. Seguimos 90km ao leste, até o Lago Meke, um lago salgado que fica na cratera de um antigo vulcão, que tem ao centro uma ilha e está rodeado por montanhas. O lago deveria estar cheio de água azul, contrastando com as montanhas, em tons ocre, porém estava com pouca água, mostrando uma fina capa de cristal de sal. Não estava feio, mas poderia estar mais bonito. Fica para próxima.

Quanto mais adentramos ao país, maior a gentileza do povo, que sempre oferece o çay (chá) como cortesia. Já tomamos chá em hotéis, em lojas e até em postos de gasolina.  Um bom dia, um como vai e aperto de mão são imprescindíveis, não interessa a classe social do indivíduo. A gente vê na cara deles o imenso prazer de ser gentil.   

Deixamos o frio e voltamos para o mar, para a Turquia do Mediterrâneo, que também foi atravessada pelos Cruzados, por volta do século XI, que buscavam livrar a Terra Santa dos mulçumanos.

Beijos,

Sayo e Claudio

PS- Estamos com problemas no hotmail, não estamos conseguindo acesso todos os dias aqui, na Turquia, embora, no Brasil, esteja funcionando normalmente; então enviamos o Caro Amigo para um sobrinho no Brasil, o Rafa, que acessa nossa conta e o envia, além de nos retransmitir, para o Terra, as mensagens que recebemos. Esse é o motivo pelo qual, às vezes, as fotos não estão seguindo, não sabemos como colocá-las no texto através do Terra, e não temos tempo para parar e estudar o assunto. Se algum tiver uma solução prática e rápida, por favor envie.



Side, 30 de junho de 2011.

Caro Amigo,

Side é uma cidade muito louca, parte dela está bem na beira do mar literalmente, outra parte, dentro das ruínas, não é preciso nem pagar ingresso e, de repente, é possível jantar ao lado do que já foi parte de algum templo grego ou romano. A parte proibida à circulação de veículos tem tanta loja e restaurante que chega a desanimar, pois é impossível ver tudo, fomos dormir mais de uma da manhã e tudo permanecia aberto e lotado de turistas. A região é repleta de hotéis de tudo quanto é tipo e para tudo quanto é bolso; existe rede de transporte urbano entre ela e as outras cidades, há poucos quilômetros; e, também, passeios de barco para tudo quanto é lugar.

O  ballet O Lago dos Cisnes conta a triste história do amor entre Odette, uma princesa que, por encantamento de um bruxo, transforma-se, durante o dia, em cisne e, durante a noite, em mulher, e Siegfried, um jovem príncipe. Após maquiavélica trama, do mesmo bruxo, para casar o príncipe com sua filha, Odile, o casal decide que, se não podem viver seu amor na terra, não vale à pena seguir vivendo, suicidam-se, afogando-se no lago, e se encontram no céu, onde viveram juntos por toda a eternidade. A história é baseada em um conto russo, sofrendo algumas alterações de uma montagem para outra, e a composição musical é de Tchaikovsky.

Assisti-lo no anfiteatro romano, um dos mais belos teatros clássicos de mundo, construído no ano de 162, durante o reinado de Marco Aurélio, com capacidade para 150.000, o melhor conservado da antiguidade e que tem uma acústica impecável. Sentado nos bancos de pedra onde, em um passado muito distante, outros se sentaram para assistir gladiadores lutarem até a morte. Assisti-lo sob o céu estrelado fez toda a diferença.

Foi uma apresentação do Opera, Ballet e Orquestra do Estado de Izmir, com lindo figurino e excelentes bailarinos, que saltavam e rodopiavam parecendo voar delicadamente como anjos. É bem verdade que o sincronismo, nas danças realizadas em grupo, poderia ser um pouquinho mais trabalhado, mas isso em nada ofuscou o brilho do espetáculo. A orquestra era ouvida nitidamente de qualquer ponto, sem qualquer amplificação. Foi uma noite memorável.

Seguimos para Alanya, que é sensacional, a Pérola da Riviera Turca, um verdadeiro Oasis entre o Cordilheira e o mar azul. Uma larga avenida beira mar, com palmeiras na ilha central e jardins ao longo da praia, que deixaram os de Santos no chinelo, pois, além de serem vizinhos de um vasto mar azul, salpicado de veleiros e iates, são impecavelmente bem cuidados, floridíssimos e irrigados, com piscinas públicas, fontes, em forma de aquedutos e templos romanos, cadeiras para descanso, mesas para pícnic, restaurantes sensacionais, lanchonetes, discotecas. É uma cidade moderna, cheia de novos edifícios, inclusive muitos recém construídos e à venda (já estou mudando minha casinha de novo) e hotéis. É mil vezes mais interessante que Antalya.

E ainda tem o Castelo, construção seljúcida de 1220, com sua longa linha de duplos muros defensivos circundando a cidadela; uma fortificação localizada em um promontório rochoso, que avança sobre o Mediterrâneo, num interessante contraste de cores. No porto, a Torre Vermelha, uma estrutura hexagonal de 35m de altura, domina a paisagem. E se o Caro Amigo ainda não estiver satisfeito, tem umas poucas centenas de milhares de lojas e lojinhas, realizando qualquer desejo. Portanto, não se esqueça de anotar o nome da cidade!

Tem nos chamado a atenção o elevado número de turistas que temos encontrado, principalmente na região Mediterrânea, um pouco incomum para o mês de junho, quando ainda não é o período de férias para o europeu, que normalmente vai de meados de junho a meados de julho. Nós achávamos que íamos descobrir a América, ou melhor, a Turquia. Que bobos! Os europeus já descobriram, há muitos anos, e dominaram, estão comprando tudo. Nada bobos, país de gente alegre e afável, ensolarado, barato e seguro.

É! Seguro! Pelo menos é a sensação que temos desde que chegamos, nos sentimos confortáveis e seguros para andar pela rua, a qualquer hora do dia e da noite. É bem verdade que os turcos, bons comerciantes, sempre vão querer ter um lucro maior, principalmente em cima do turista, que vem usufruir das maravilhas que Deus lhes deu; assim como nós também pretendemos lucrar, pagando um preço muito mais barato do que pagaríamos em nosso país. Mas tudo não passa de um jogo, você brinca se quiser. Mas não seremos nós os doidos de vir até aqui e deixar de fazer umas comprinhas e provar as delicias; às vezes pagando o preço justo; às vezes pagando um bocado a mais. Faz parte da brincadeira.  

A estrada entre Alanya e  Tarsus é estreita e tem tanta curva, que chega a dar enjôo, segue por altas encostas entre pinheiros e bananeiras. Ela vira para esquerda, repentinamente para direita, sobe, desce, mas tem sempre o mar azulzinho lá embaixo. Está sendo duplicada, como a maior parte das estradas na Turquia, então está cheia de caminhões, desvios e poeira.

E o Claudio sempre me aprontando algo, no caminho... chegamos, hora de procurar hotel, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio



Tarsus, 01 de julho de 2011.

Caro Amigo,

No caminho, vindo de Alanya para Tarsus, paramos no Castelo de Anamur, construído pelos cruzados, na Idade Média. Uma fortaleza de pedra, com fosso, que se encontra, hoje, espremido entre a estrada e o mar. Veio um senhor falar comigo, em inglês, o meu é péssimo, mas é bem melhor que o do Claudio. O senhor me mostrava umas flores, que ele havia plantado, amavelmente respondi. Na maioria das vezes, a coisa acaba com eles querendo vender alguma coisa para gente. Aí lá vem o Claudinho, tão bonzinho, dizer que a culpa é minha, que deveria ter respondido em português, assim ninguém perturbaria mais. Ele é sempre assim, não fala quase nada, não se dá ao trabalho e, depois, joga a culpa de tudo em mim.

Fiquei P, mas tratei de bolar minha vingança. Deixei o anjinho com cara de dois de paus, plantado na entrada; voltei sozinha ao carro, comi um chocolatezinho para melhorar o humor, bebi água fresca (estava gelando minha vingança) e voltei. O senhor me perguntou se poderia nos ajudar, respondi que não e fui visitar o Castelo sozinha, também não tive que tirar nenhuma foto para o álbum de retratos do Claudio. Segunda parte da vingança, quando, na saída, o Senhor veio novamente falar com a gente, pois parece que ele vendia foto do Castelo, disse a ele que meu marido não gostava que eu falasse com homens, porque ele era ciumento. Ah, ah, ah! Me diverti muito a cara do Claudio! Terceira parte da vingança, estou contando tudo para você, Caro Amigo, que sei vai me dar toda razão (ah, ah, ah!).

Paramos para dormir em uma cidade chamada Tasucu, um fim de mundo do qual nunca havíamos ouvido falar, pois a estrada consumiu mais tempo  do que imaginávamos e estávamos cansados, com fome e com muita sede. Parece que chegamos bem a tempo, estávamos no lugar certo e na hora certa para assistir uma festa de casamento turca.

É! Ela ocorreu bem no meio da única praça da cidade. Estavam dispostas as mesas dos convidados, com toalha e decoração; cadeiras colocadas como para assistir a uma apresentação, que, pelo que entendemos, eram destinadas aos que não eram convidados oficiais, mas queria presenciar tudo; um telão, transmitindo o evento; alguma decoração pela praça; uma mesa com duas cadeiras, decoradas como tronos, atrás das quais havia um coração. Não aparentava ser um casamento rico, mas aparentava ser um costume local.

Como, no final da praça, junto ao mar existiam mesas de um pequeno quiosque, escolhemos uma com boa vista do evento, pedimos uma cerveja e observamos. Chegam os noivos, recebidos por alguns fogos e dançam algo, que equivaleria a nossa valsa, pareciam peixes fora d’água, não se acertavam; discursos e todos começam a dançar algo bem mais animado, parecido com dança do ventre, aí a noiva se solta.
O problema é que não rolava nada para comer, muito menos para beber, só na mesa dos noivos havia água. Ainda bem que não éramos convidados, assim estávamos liberados para encher a cara. E o povo seguia dançando, agora algo parecido com aquela dança grega do Zorba, mas nada de comes e bebes. Famintos, atravessamos a rua e fomos ao único restaurante da cidade. No caminho vimos que decoravam, com flores naturais, um bolo com vários andares, mas muito simples. Jantamos no terraço, observando, ao longe, a movimentação da praça.

Infelizmente perdemos a divisão do bolo, mas imaginamos, pela quantidade de gente e criança, que deu até morte. Quanto voltamos à praça, ainda dançavam, mas nem sobra de qualquer outra comida ou bebida. Portanto, Caro Amigo, quando for convidado para um casamento turco, pense bem! Vá, mas leve um lanchinho na bolsa (ah, ah, ah!)  

Na nossa rota estava planejada uma rápida para em Silifike, para conhecer a cova de Santa Tecla, que, quando muito jovem, conheceu São Paulo e se converteu ao cristianismo, deixando sua casa para pregar. Por duas vezes, condenada à morte, foi salva por milagre; na primeira, quando ia ser queimada viva, uma chuva inundou a cidade; na segunda, atirada aos leões, eles nada lhe fizeram. Já idosa, refugia-se na cova, para fugir da perseguição aos cristãos, e lá prega e faz curas, despertando a irá dos médicos, que vão até lá para matá-la. Em fuga, ela cai nas rochas e desaparece, deixando seu manto convertido em rocha. Encontramos uma pequena caverna, fria e unida, com um quadro da Santa e os poucos restos do que foi uma igreja.

Passamos rapidamente por Mersin, uma grande cidade, notamos, pela primeira vez, a presença de um parque industrial, a cidade não é feita, mas não tem o glamour e o turismo dos outros portos que conhecemos.

Tarsus, um pouco afastada do litoral, é a cidade de nascimento do São Paulo, é uma cidade sem graça, meio decadente e desorganizada, bastante parecida com muitas que conhecemos no Brasil, dá até para confundir.. Visitamos o Poço de São Paulo, localizado no pátio do que foi a casa do Santo, cuja água, dizem, tem poderes curativos; a Igreja de São Paulo, construída depois que o Imperador Constantino reconheceu o cristianismo como religião oficial do Império Romano, no século IV. Também estivemos na Porta de Cleópatra, que se localizava nos antigos muros da cidade, por onde a Imperatriz passou, quando em visita à cidade.
Paramos par dormir em Nigde, mais um jantar regado a refrigerante, e seguimos buscando um dos pontos altos de nossa viagem, local de filmagem de Guerra nas Estrelas... hora de procurar hotel, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio

Avanos, 04 de julho de 2011,

Caro Amigo,

Deixamos a Turquia Mediterrânea e rumamos para o norte, em direção à Anatólia Central, à Capadócia, uma região de 300km², que, devido à sedimentação de cinzas e lava da erupção dos vulcões Melendiz Dagi e Erciyes Dagi, agora extintos, e ao trabalho de erosão de ventos, chuvas e diferenças de temperatura, apresenta formações singulares, as tufas, criando um cenário lunar repleto de torres, vales, fendas, cânions, onde, inclusive, foi gravado o filme Guerra nas Estrelas.   Aparentemente são castelos de areia, montes de areia, que alguém esculpiu, realizando um incrível trabalho paciencioso, prontos a desmoronar a um simples sopro, mas na verdade são duros e compactos.

No caminho, cruzamos por vales de terras férteis, devido ao depósito das cinzas vulcânicas, salpicado de plantações uva (a região produz vinhos), romã, damasco, cereja, beterraba e grão-de-bico, em oásis irrigados. Ao fundo, montes áridos, que, ao longe, assumem tons que vão do marrom ao ocre, passando pelo verde escuro; aparentemente sem vegetação, ou com alguma muito baixa.  Cinzentas casas de cimento, que apresentam, hoje, algum telhado, onde, antigamente, a cobertura era feita com terra. Uma linda visão, sem qualquer requinte de sofisticação, mas, ainda assim, maravilhosa.

Nos 330Km² da área ocupada pela Capadócia, existem diversas cidadezinhas, cada uma com a sua peculiaridade, sendo muito fácil circular entre elas e conhecer todas as atrações, que, em geral, estão a céu aberto, sendo ligadas por transporte público, mas os mais aventureiros podem alugar uma moto, um cavalo ou um triciclo. Escolhemos a cidade Avanos, porque nos pareceu simpática e encontramos um Guest House muito acolhedor, ao lado de uma mesquita, construído com pesadas pedras, muito usadas na região, que nos permitiu ter, pelo menos, uma leve idéia da vida local, já que a proprietária também lá vivia com sua família e seus milhões de gatos.

Oficiais eram somente dois, porém no pátio, repleto de vasos e objetos singulares, retirados de escavações ou utilizados, no passado, na vida cotidiana, onde também ficavam algumas mesas para refeição, com bancos e tapeçarias, e que estava sempre com suas duas portas abertas, havia um canto com potes de comida e, aparentemente, todos os gatos da cidade passavam por lá, em alguma hora do dia, para fazer uma boquinha.

As edificações, da região, têm também cor de areia, com pequenas variações entre o bege e o cinza. Há uma certa monocromia entre a arquitetura feita pelo homem e a feita por Deus, quebrada pelo azul do céu.  Uma leve poeira impregna o ar. Fizemos nosso primeiro vôo de balão, é delicioso, como levitar, algo muito suave. Os balões coloridos sobem, por volta de 6 da manhã e vão deslizando pelos vales e entre as estranhas formações, cheias de cavernas e casas de pássaros. Eram cerca de 50 balões, o que tornava muito difícil decidir onde estava o melhor espetáculo, no céu ou na terra, e o que fotografar. É uma experiência ímpar, que termina com champagne e suco de cereja, já em terra firme, e que tem o preço de 120 euros, por pessoa, por uma hora de vôo; descobrimos que os melhores preços são conseguidos agendando através do próprio hotel, pois o preço é, em geral, 160 euros.                 

A cidade de Goreme é uma das mais procuradas, não só pelo seu charme pessoal, é graciosa, mas porque abriga o Museu a Céu Aberto de Goreme, Patrimônio da Humanidade, um dos pontos altos do turismo no país. Um complexo de igrejas e capelas escavadas, como cavernas, por volta do século X, na tufa vulcânica, que é uma formação relativamente macia e possibilita que tal trabalho seja realizado com certa facilidade. Muitas das igrejas apresentam belos afrescos, até em bom estado, com cenas bíblicas e da vida de Jesus e Maria, com coloridos vivos, em tom cobalto e vermelho. A visita é facilitada, para quem for sem excursão, por um serviço de Áudio Guide. Algumas das cavernas da Capadócia, ainda servem de moradia para a população local, enquanto outras foram transformadas em lojas e em curiosos e confortáveis hotéis.

Existem muitas cidades subterrâneas na região, construídas por cristãos para fugirem de perseguições e eram super equipadas, com quartos, cozinhas, estábulos, poço de ventilação etc. Estivemos na cidade subterrânea de Derinkuyu, Patrimônio da Humanidade, ou melhor, o Claudio esteve, desisti logo no começo, pois me deu uma impressão horrível, lembrei dos mineiros no Chile. Ela tem 60m de profundidade e é uma das que está em melhores condições para visita.

Fomos a Uçhisar; de longe, a partir do Vale dos Pombos, a cidade domina a paisagem, com enorme castelo escavado no alto de uma montanha. No caminho para Zelve vimos as Chaminés da Fadas, formações cônicas com um chapéu. Passamos ainda por Ürgup, onde a erosão moldou, na pedra, formas de animais e empilhamentos que se mantém em pé por um fio de cabelo.  

Conhecemos nosso primeiro caravançará, o Sanhan, perto de Avanos, que funciona, hoje como um centro de cultura e de realização de Cerimônia Dervixes, o Sema.  Os caravançarás são enormes edificações de pedra, em forma quadrada, que foram construídas com o intuito de dar abrigo aos comerciantes e suas caravanas, que circulavam pelas várias rotas do interior do país. Geralmente, possuem um grande pátio interno, ao redor do qual ficam os estábulos e aposentos, sempre contam com uma pequena mesquita, para as orações. Assistimos uma Cerimônia Dervixes.

Mas se o Caro Amigo pensa que estamos por aqui somente passeando, sem fazer nada de útil em prol da humanidade, esta redondamente enganado, temos realizado um belo trabalho de preservação da fauna local. É! Durante nossas andanças pelas estradas... está na hora do café, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio


Gazi Antep, 06 de julho de 2011.

Caro Amigo,

A Turquia deve ser um país cheio de tartarugas, porque durante a viagem já encontramos quatro tartarugas transitando pelas rodovias da região. Paramos o carro imediatamente e tratamos de auxiliá-las, transportando-as para um lugar seguro, em meio à vegetação. Parece que elas não gostaram muito, duas nos receberam com banho de xixi (esperamos que seja bom para pele, talvez rejuvenecedor ), as outras duas com tentativas de mordidas e muitas reclamações. Fazer o que, nem só de sol, bela paisagem, boa comida e preço barato é feita a Turquia (ah, ah, ah!).
Deixamos a Anatólia Central e seguimos para a Anatólia Oriental, região de fronteira com a Síria, Iraque, Irã, Azerbaijano, Armênia e Geórgia; que desperta nossa curiosidade por se encontrar, dentro de seu território, o fértil vale entre os rios Eufrates e Tigre, a Mesopotâmia, algo que nos parecia tão misterioso nas idas aulas de história. A região é a mais quente do país, 42 graus na sombra, terrivelmente seca e poeirenta, mas com lindo rios azuis.

Um  verdadeiro deserto, que se encontra bastante desenvolvido em virtude do Projeto do Sudeste da Anatólia (GAP), levado a cabo pelo governo federal, com o intuito de abastecer a região sudeste do país com água (irrigação agrícola) e energia elétrica, através construção da Represa de Atatürk, a 6ª maior do mundo, um modo de fixar a população e evitar migrações e imigrações. Os principais produtos agrícolas são damasco, pistache, cereja (temos pago R$3,00 o quilo), azeitona, uva, berinjela, abobrinha, pimentão.

Um dos costumes correntes no país é beber água e lavar o rosto e as mãos em fontes espalhadas pela cidade, nas proximidades das mesquitas, algumas têm umas canequinhas penduradas, o povo enxágua e bebe. Outros hábitos interessantes, que vimos em algumas cidades, são o de oferecer uma colônia de limão siciliano, ou lencinho umedecido, para passar nas mãos na saída de restaurantes, hotéis e lojas, e o de oferecer frutas ao final das refeições. Os turcos não comem muito doce e a maioria é à base de uma massa folheada com mel e nozes ou pistache.  

Gazi Antep é uma cidade grande, moderna, plana, com um grande parque industrial, muito agitada em certos horários, possui todos os itens para não ser uma boa opção turística, porém nos encantamos com ela. Apesar de tudo, ela tem um ar amistoso, é plana, tem pessoas gentis, tem uma cidadela interessante, um lindo por do sol, nas longínquas e poeirentas montanhas. Chegamos exaustos, depois de dirigir quase o dia todo, pois erramos uma estrada e fomos parar no meio das montanhas, em estradas de terra, à beira de penhascos, com dezenas de obras de ampliação e passando dentro de diversos pequenos vilarejos; encontramos, com facilidade, hotel, comida e cerveja, não poderíamos deixar de adorar a cidade.

Caminhando pela cidade antiga, entre edifícios de pedra bege, com algumas pretas para decoração, e visitamos, em uma fortaleza de 36 torres, o Museu Panorâmico da Defesa e do Heroísmo, com estátuas, em bronze, retratando a resistência da cidade contra a ocupação inglesa e francesa, ao final da 1ª Guerra Mundial, e a história e seus mártires.

Demos uma paradinha no Museu da Cozinha, chamado Mutfak Muzesi,  (ganhamos umas receitinhas para testar no Brasil) e, a convite de um gentil senhor, entramos em um caravaçará para fugir do sol e do calor, descansar e tomar uma água e um chá (sempre quente, independentemente da temperatura do dia) em seu estabelecimento, ele ficou contentíssimo, pagamos pelo chá, mas ele nos obsequiou com um sanduíche, feito em um pão pouca coisa mais grosso que o nosso pão sírio, recheado com legumes e muita pimenta, e um suco salgado de coalhada, chamado Ayran, muito bebido no verão, que ainda não tínhamos provado. Ele ainda fez questão de tirar uma foto nossa para guardar de recordação. Nessa região, não é muito comum o aparecimento de turistas, brasileiros, então, é mosca branca; também é mais difícil encontrar quem fale inglês, mas no gesto e na onomatopéia (imitação do som), tudo se ajeita.
Fomos ao bazar, compramos umas coisinhas de seda típicas da região, que está na rota da seda e paramos para observar os trabalhos dos artesãos que produzem, na porta de seus estabelecimentos, produtos de cobre, estanho e pequenos móveis com marchetaria de madrepérola. Visitamos o Museu Etnográfico Bayazhan, mas o que realmente nos trouxe à cidade foi conhecer A Moça Cigana, um famoso mosaico, cuja expressão enigmática o compara à Mona Lisa, que é o símbolo das escavações de Zeugma, cidade romana do século II. Porém, infelizmente, o museu está fechado. Veremos a Moça e os outros mosaicos na próxima vez. De qualquer modo, adoramos a cidade.

Mas, infelizmente, tivemos que partir, afinal o Caro Amigo conta conosco para conhecer o país todo. Próximo destino: cidade que, lá no longínquo, muito longínquo passado, chamava-se Ur, que foi onde... hora da cerveja, achar um local para tomar cerveja e jantar é algo quase impossível aqui, em Ur, temos que correr. Contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio   


Sanli Urfa, 07 de junho de 2011.

Caro Amigo,

Sanli Urfa é, com toda certeza, uma das cidades mais feia, bagunçadas e estranhas que conhecemos, mas, apesar de todos esses predicados, não se pode deixar de vir à Turquia e não conhecê-la. Na cidade que, no passado, chamou-se Ur , está a pequena cova onde nasceu, por volta do ano 2.000 A.C., Abraão, o patriarca do catolicismo, do islamismo e do judaísmo, com sua renúncia ao politeísmo e pregação de um único Deus;  sua grande fé que o levou a aceitar sacrificar seu filho, Isac, a pedido de Deus; e  a partida de sua terra em busca da terra apontada por Deus, que fez dele uma grande nação.

O trânsito é caótico; o centro está meio demolido; há sujeira por todo lado; pessoas com vestimentas estranhas, burcas véus, calças saruel; homens com lenços amarrados na cabeça à moda árabe; hordas de homens entrando e saindo dos cemitérios; parte das ruas sem calçada, com lojas espalhando seus produtos por elas e impedindo o transito; gente jogando água na rua na tentativa de amenizar a poeira e o calor (o relógio do carro marcou 47 graus); sem turistas estrangeiros, somente os turcos em peregrinação à cova de Abrão, meninos, em férias, correndo e tramando por todo lado. Se o inferno não for assim, é bem parecido.


Dentro de um belo parque, um lampejo de sanidade dentro do caos que é essa cidade, bem aos pés da antiga muralha de proteção de Ur, entre lagos de carpas e jardins, ficam duas mesquitas, que tornam obrigatória a visita à cidade, destino dos peregrinos das três religiões, mas a grande maioria mulçumanos. Uma delas está construída sobre a cova onde nasceu Abraão, homens rezam separados das mulheres, que precisam estar com véu e túnica cobrindo todo o corpo, há algumas para empréstimo; o local é cheio de fieis orando, ajoelhados sobre tapetes, e gemendo, rogando por algum milagre, em frente a um vidro, que impede a entrada no interior da cova propriamente dita, e também é muito úmido, em virtude de uma nascente de água pura, que dizem ter efeitos milagrosos, e que todos bebem e levam em garrafinhas. Também enchemos nossa garrafinha que somada às inúmeras que já trazemos da casa de Nossa Senhora e do Poço de São Paulo vão estourar o peso de nossa bagagem.

A segunda mesquita do parque está sobre o local onde a fé de Abraão foi testada pela primeira vez, pois o Rei Nemrut politeísta e querendo ele próprio ser considerado um deus, opôs-se as precações monoteístas de Abraão, condenando-o a ser queimado vivo em uma fornalha, da qual ele saiu ileso, sem qualquer queimadura. Então a segunda está sobre o local onde estava a fornalha.

Por sorte encontramos um hotel bem legal, com um rapaz que falava inglês, o Salih, e adorava dar informações e dicas, um dos poucos lugares onde se conseguia tomar cerveja na cidade, foi a nossa salvação.

Fomos visitar a Usina Ataturk, a 40km da cidade, à beira do Eufrates. Depois, por indicação de Salih, circulamos por pequenas estradas, com quilômetros de plantações de pistache, uma árvore de porte pequeno, com cachos de um frutinhos de forma amendoada e coloração verde; passamos por pequenas e pobres cidades, por grandes áreas irrigadas, cheia de plantações, tudo muito plano; e chegamos a Eski Halfeti, onde fizemos um passeio de barco, pelo Rio Eufrates, em meio a um grande canion, que nos lembrou o cânion do São Francisco, na Hidroelétrica do Xingó, que visitamos há alguns anos. No trajeto do barco, conhecemos os restos da cidade que foi alagado pela construção da represa.

Há cerca de 50km da cidade, em direção à Síria, esta Harran, onde Abraão viveu alguns anos de sua vida, que chegou a ser a 2ª cidade mais importante do estado Assírio, onde funcionou uma das maiores universidades islâmicas do mundo, com conceituada escola filosófica.

Reconhecido o grande valor histórico, hoje, há que se admitir que são escombros, em meio à sujeira, ao pó e a um estranho povo que vive em esquisitas casas em forma de colméia, ou casulo, feitas de barro, muito quentes, que obrigam os moradores a dormir em plataformas, envoltas em panos, fora das casas, com suas dezenas de filhos. Tudo muito bonito para filósofo, mas, na prática, deprimente. A idade já nos trouxe o direito de permitir-nos deixar parte dos problemas da humanidade para os mais novos resolverem, tentamos fazer nossa parte, mas sem exageros, já não temos a grande ilusão de que seremos os salvadores da terra e já questionamos um tom de engessamento e hipocrisia do politicamente correto, bem como, o real significado de ajuda e salvação.  Mas voltemos à viagem!

Mas de tanto andar para lá e para cá, fomos nos acostumando com a cidade e, por mais incrível que possa parecer, notei (Sayo) certos olhares estranhos, principalmente dos homens. Aquilo me incomodou o dia todo, estava trajada de modo bem discreto, vestido cobrindo o joelho e o ombro, não muito colado no corpo, também não poderia ser pela beleza estonteante que nunca tive, nem pelas maravilhosas formas de meu corpo gorducho, já com mais de 50 anos. Mas o que seria? Notei, então, que os olhares... hora da cerveja, para tirar o pó da garganta, contamos depois!

Beijos,

Sayo e Claudio


Díyarbakir, 09 de julho de 2011. 

Caro Amigo

Notei, então, que os olhares tinham um destino certo e, pasme o Caro Amigo, dirigiam-se a pouco mais de um palmo de minha canela, que estavam à mostra. Nos demos conta, então, que boa parte das mulheres locais nem usava o véu mulçumano, podiam até mostrar parte do braço, mas nunca, nunca mesmo, mostravam a canela, usavam saias longas ou calça comprida. No final, por incrível que pareça, nós é que éramos os estranhos na cidade (ah, ah, ah!). Vivendo e aprendendo! Mas continuei fazendo a alegria dos homens, mostrando minha sexy canela, pois o calor de quase 50º aliado aos próprios calores da menopausa não me permitiam vestir calça comprida (ah, ah, ah!). Portanto, Cara Amiga, não esqueça de incluir uma sai longa em sua mala, quando vier para o lado leste da Turquia.

Deixando Sanliurfa, seguimos para Mardin, bem na beira da fronteira com a Síria, parte da estrada segue junto à cerca de arame farpado que separa os dois países, também já perto da fronteira com o Iraque, mas tudo calmo, sem qualquer espécie de policiamento especial. Mas notamos o que nos disse o amigo de Assos, o lado leste do país é mais atrasado e as pessoas têm a mente menos aberta.


Olhando a encosta do morro onde se localiza a cidade, é com dificuldade que se nota sua presença, pois sua cor, entre o bege e o dourado, de acordo com os raios solares, se confunde com as cores do próprio solo e das pedras, nele existente, e com as quais a própria cidade foi construída. As ruas são tortas, intrincadas e com algumas belas edificações de pedra com entalhes. A pequena Igreja de Nossa Senhora, a segunda católica que encontramos em funcionamento no país, é delicada e graciosa, apesar de feita com pesadas pedras, merecendo grande destaque os quadros de Nossa Senhora, São José e Santo Antonio.

Tomamos a estrada em direção ao interior do país, por imensas planícies douradas, onde o trigo, já colhido, deixou pequena parte de seu caule, já seco, que serve de alimento para cabras. De quando em quando, plantações irrigadas, bem verdinhas. Chegamos a Díyarbakir, à beira do Tigre, marrom e feio, cidade dos curdos, que estão para a Turquia, mais ou menos como os bascos para a Espanha, há uma animosidade, um clima de conflito e de desejo separatista.

Apesar de termos lido que os curdos são hospitaleiros, o clima da cidade não nos agradou pareceu um pouco hostil, mas como as muralhas de proteção da cidade, feitas em basalto preto, com cerca de 6km de extensão, uma das maiores do mundo, que foram erguidas pelos romanos, no século III, sendo aperfeiçoadas pelos seljúcidas, no ano de 1.100. Voltando, mas como as tais muralhas estão na lista para integrar os Patrimônios da Humanidade da UNESCO e, principalmente, dizem que pode ser vista do espaço, a CRKTour não poderia deixar de espiá-las. Se os astronautas viram, também tínhamos que ver e contar ao Caro Amigo (Ah, ah, ah!). Assim, dormimos uma noite na cidade, vimos e partimos.

Mas não sem antes passar duas vezes no Centro de Informações Turísticas e encontrá-lo fechado. Precisávamos de um mapa mais detalhado da região, pois só tínhamos o geral do país e queríamos nos aventurar, por um parque nacional, em busca de mais um Patrimônio da Humanidade, mas necessitávamos dados mais precisos sobre uma certa travessia em balsa, de qual a sua freqüência, e de uma estrada que cruzaria o parque e nos deixaria mais perto de nosso próximo destino. Nada de mapa mais detalhado! O que fazer?... o termômetro do carro está indicando 49 graus, o clima é super seco, temos que parar para uma merecida cerveja (descobrimos que nas cidades onde os restaurantes não servem, normalmente os hotéis servem, então o jeito é jantar no hotel), contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio


Adiyaman, 10 de julho de 2011.

Caro Amigo,

Claro que nos aventuramos, o Claudio não perderia essa! Ele já andava meio frustrado, talvez até tristonho (?),  pois não concordei em ir à Chipre, metade país independente, metade invadido pela Turquia, com cerca dividindo, inclusive a capital, e uma burocracia complicada para travessia de um lado para o outro; também não encontramos tanques de guerra patrulhando a fronteira da Síria, ou nas proximidades do Iraque, nem qualquer acampamento de refugiados, apenas campos e agricultores. Acho que a viagem já estava ficando entediante para ele (?), pois é como uma criança, precisa sempre de uma novidade (ah, ah, ah!).  Então fomos.

Para variar, não conseguimos sair muito cedo, sempre falta algo para olhar, algo para comer ou algo para comprar. Encontramos uma tranqüila estrada até Siverek, onde paramos em um posto de gasolina para pedir informações, o senhor falava turco com perfeição que, somado com seus gestos manuais, levou-nos até a beira do azul Rio Eufrates, sem qualquer erro, diretamente à fila da pequena balsa.  Aguardamos meia hora e conseguimos, por sorte, partir na balsa, que tinha capacidade para cerca de 16 veículos espremidos, a próxima só sairia dali a 2 horas. A travessia é curta, algo como 15 minutos, tempo suficiente para a meninada ficar doida ouvindo a gente falar em português e os senhores especularem, do Claudio, todos os detalhes de nossa viagem, o que os deixou muito orgulhosos e satisfeitos, afinal os turistas brasileiros já chegavam à Turquia. Mais uns 20km e chegamos à cidade de Narince,  porta de entrada  do Parque Nacional  Nemrut Dagi.

Um dia maravilhoso, boas estradas, lindo visual e temperatura abaixo de 35 graus, uma verdadeira benção de Deus. A estreita estradinha que vai subindo para o Monte Nemrut, há 2.150m de altitude, parece que acabou de ser construída ontem, está impecável, sobe por montanhas áridas, quase sem vegetação, e permite enxergar, em meio a leve poeira que nubla o horizonte longínquo, a incrível geografia do Rio Eufrates, todo cheio de recortes e curvas.  No topo do Monte Nemrut, estão os restos de um santuário funerário, construído no século I A.C., pelo Rei Antióquio I, de Commagene, uma colossal obra de engenharia, com o recorte de três esplanadas, criando terraços onde foram colocadas colossais estátuas de leões, águias, Apolo, Zeus, Heráclio, Tyche e do próprio Rei, Patrimônio da Humanidade. Hoje, as enormes cabeças encontram-se no chão, caíram de seus corpos, provavelmente, em virtude de algum dos muitos terremotos, que já assolaram o país em milênios.

Chegamos ao monte vindo da direção de Adiyaman, que tem uma estrada linda, mas a subida ao topo é pesada, cerca de meia hora, à pé, subindo entre pedras. Nossa intenção era visitá-lo e partir do parque por outra estrada, em direção a Malatya, que tem uma subida para o topo mais suave e adiantaria nossa viagem em mais de 300km quilômetros. Porém, apesar de distarem somente uns 300m, não há ligação entre as duas estradas. O passeio é bem legal e, dizem, que é melhor ainda para assistir o pôr ou o nascer do sol, essa perdemos, pois ainda faltavam mais de 4 horas para o pôr do sol, que só ocorre mais de 8 da noite, e ainda tínhamos que refazer nossos planos originais, em virtude da falta da estrada. Mas para compensar, fizemos amigos e prometemos voltar para ver o sol se pôr.

Quando descemos do topo do monte, uma família nos avisou que havia uma peça solta em nosso carro, o pai, um simpático senhor, confirmou que éramos do Brasil e estava doido para conversar. Sentamos para beber algo, em uma mesa comunitária, ele sentou ao nosso lado e foi puxando conversa, perguntou sobre nossa profissão e o que já havíamos conhecido no país; descobrimos que ele era da aeronáutica, da área de saúde e morava em Adiyanan. Aos poucos, foi chegando o resto da família e a conversa foi seguindo; ele nos disse que sua filha fazia coleção de moedas, reviramos o carro, mas não encontramos moedas do Brasil, lhe demos uma da Bulgária e outra da Suíça e uma nota de R$2,00, que ela fez questão de retribuir com moedas turcas, já o CD da Elis que lhe demos, esse não tem preço! (está parecendo propaganda de banco, ah, ah, ah!). Eles iam ficar para ver o pôr-do-sol e nós, prometendo voltar para assistirmos juntos, partimos. Acabamos dormindo em Adiyanan e achamos as moedas do Brasil, enviamos um email para eles e as deixamos na portaria do hotel.
Já que não pudemos adiantar os tais 300km da viagem, resolvemos fazer uma pequena loucura, decidimos... vamos dar uma paradinha para tirar umas fotos, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio



Kalkan, 13 de julho de 2011.

Caro Amigo,

Observando que já iniciamos o caminho de volta, o Caro Amigo deve estar muito contente, não pela possibilidade de nos encontrar, em carne, osso e formosura (ah, ah, ah!), pelas ruas da cidade; mas, certamente, porque já tem certeza que, em 2012, teremos que retornar a este Maravilhoso País, a Turquia, para terminar de conhecê-lo, pois nos faltou praticamente a metade. Já havíamos, há alguns dias, percebido que foi uma grande presunção acreditar que seria possível conhecer um país tão grande e lindo, cheio de história e de diversidades culturais, geográficas e gastronômicas em tão poucos dias; então iniciamos os planos para a viagem do ano que vem, a fim de decidir até que ponto chegaríamos nessa.
Mas não se anime muito o Caro Amigo, pensando que já pode descansar, pois, apesar dos litros de água benta e das toneladas de compras que já fizemos (de cortina a balacinha para pesar mala) está mantida a promessa de visitar Istambul e fazer mais umas comprinhas. A viagem não acabou!

E, depois do balanço, observando que nos sobrariam uns dois dias, caso fizéssemos os percursos de carro com maior empenho (dirigindo por mais tempo e parando menos para as tais fotos), decidimos fazer a pequena loucura de voltar ao Mediterrâneo. É, Caro Amigo, voltamos! Apesar do tempo já meio apertado, por ainda querermos encontrar amigos croatas e franceses, em algum ponto da viagem de volta da Turquia para a Suíça, e, principalmente, querermos passar uns 5 dias em Istambul; decidimos que merecíamos um descanso e tiramos umas férias (ah, ah, ah!).  

Dirigimos o domingo todo, mais de 1.200km, ou melhor, o Claudio dirigiu, pois, como bem sabe o Caro Amigo, eu não dirijo, então dediquei-me a alimentar e hidratar o motorista; cuidar, com muita atenção, dos mapas, pois não há uma estrada direta e não podíamos perder tempo errando a rota; e a escrever um pouquinho (?) para interar o Caro Amigo das novidades. Foram mais de 14 horas de viagem, pois no percurso subimos montanhas (Taurus), atravessamos planícies poeirentas, encontramos obras de ampliação (os pobrezinhos trabalham até no domingo, será que a Copa vai ser aqui? Certamente as estradas já estarão prontas, ah, ah, ah!), passamos por pequenas cidades e praias, além de encontrar um montão de gente voltando para casa do fim de semana. Mas foi uma viagem agradável.

Já quase onze e meia da noite e ainda estávamos na estrada, sem ter parado para almoçar ou para jantar, mas não fique preocupado o Caro Amigo, pois ir para Kalkan já é como voltar para casa, já conhecemos a cidade e já temos nossa pousadinha predileta. É bem verdade que o nosso quarto, com vista para o lindo mar azul e sua pequena ilha, estava ocupado (fazer o que, não fizemos reserva), mas o importante é que chegamos, acordamos o nosso senhorio, que estava com uma gripe danada, mas nos recebeu com sorriso, e, um pouquinho depois da meia noite, estávamos sentados em um terraço, tomando uma Efes geladinha e comendo umas mezes. E, principalmente, estávamos em Kalkan, nosso pedacinho de céu.

Então, aproveitamos os dias de férias para ir ao arquipélago de Kekova, contratamos um barquinho, a partir do vilarejo de Üçagiz, e fomos com o Rambo, o muito peculiar e alegre dono do barco, até Kekova, observar as ruínas afundadas, no ano de 530, por um terremoto, o castelo fortificado, algumas tartarugas que nadavam; aproveitamos para nadar também. Uma outra manhã, pegamos um barco de linha, em Kas, e descemos em Limanagzi Bilal Bic  mais um banho de mar e um solzinho.

Jantamos no restaurante do Adam e de sua família, que nos deram efusivas boas vindas, na estrada entre Kas e Kallan. Sentamos no terraço de pedra com vista para o mar, e nos deliciamos com uma mussaka, que aqui só é feita com carne e berinjela, com um refogado de legumes, carneiro e ervas, servido em uma panela fumegante, parecida com uma yok, e, para sobremesa, crepe de limão siciliano com sorvete. Deixamos uma mensagem no livro de visitantes e um CD do Tom, que prometemos voltar para ouvir com ele no ano que vem. Fizemos uma comprinha na loja de nossa amiga, Selda, que ficou muito feliz e surpresa em nos ver novamente e nos recomendou que bebêssemos uma cerveja por ela em Istambul (isso é que é amiga, ela nem imagina que beberemos não só uma, mas várias, quase todas), sua cidade predileta, e que voltássemos no ano que vem para visitá-la.
E, com o coração apertado, dissemos adeus à Kalkan, para percorrer os 900km que nos separavam de Istambul. Nos vemos por lá!

Beijos,

Sayo e Claudio



Istambul -  Sultanahmet, 16 de julho de 2011. 

Caro Amigo,

A viagem até aqui foi tranqüila, sem qualquer contratempo, fizemos os 900km em 10 horas. Mas a chegada não foi tão feliz, chegamos no horário de pico, nos sentimos como em São Paulo, o transito é infernal, tanto que a molecada fica vendendo água entre os carros, não é igual? E para piorar a sinalização é péssima, existem várias pontes, as ruas, normalmente, não tem placa com o nome (aliás, na Turquia quase toda) e a diversão nacional é buzinar. Então, apesar de termos um mapa da cidade, a coisa foi bem complicada, entramos com uma espécie de marginal, inicialmente com a indicação de nosso destino, que logo desapareceu, sem o nome da avenida também não conseguíamos descobrir onde estávamos.

Com o cair da tarde, também ficava mais difícil visualizar o mapa, decidimos seguir as placas de aeroporto para então, daí, termos um ponto de localização e retornar ao centro, nosso destino, o que também não foi tão fácil. No caminho, encontramos um senhor que nos indicou direções pelos bairros periféricos; mais adiante, um rapaz nos deu outras dicas; passamos pela linha férrea e vimos o mar, as coisas começavam a melhorar; entramos em um pequeno bairro e perguntamos, metade dele se reuniu, discutiu e, finalmente, encontrou um alemão, que parecia residir na Turquia, que nos disse que estávamos no bairro errado e explicou-nos o caminho certo. Mais algumas voltas e estávamos no nosso bairro, duas horas e meia após nossa chegada na cidade.

Mas teve a sua vantagem, pelo menos demos uma boa olhada na cidade, geralmente nos concentramos no centro, que é onde fica a maioria dos pontos históricos, que foram construídos num tempo em que não havia metrô ou ônibus, os meios de transporte eram precários e as cidades ocupavam um pequeno perímetro. Vimos que ela é enorme, com modernos edifícios, shopping centers, vários jardins, à beira mar, onde o povo faz picnics homéricos aos domingos, com direito à tapete, que chega enrolado no ombro, e a churrasqueira, onde não falta, no cantinho, a chaleira, eles realmente amam “çay” (chá).       

Chegamos no nosso bairro, mais ainda nos faltava encontrar local para ficar, não costumamos fazer reserva com antecedência porque gostamos de conhecer o hotel (com nossos próprios olhos, não com os do computador, que nem sempre enxerga como nós), pois já que não ficamos em hotéis cheios de estrelas, nem sempre se pode confiar nas informações da internet. Hotéis não faltavam, alguns lotados, mas muitos com vagas; alguns terríveis e outros caríssimos. Finalmente, encontramos um com um custo/ benefício que nos pareceu muito bom e uma localização melhor ainda, poderíamos caminhar para quase todos os lugares que queríamos visitar, ou, se estivéssemos com preguiça, pegar o bondinho (VLT) e andar  duas ou três estações; tem até um terraço, com vista para o mar, onde dá para relaxar, ao final de um pesado dia de turista (ah, ah, ah!), observando as gaivotas e andorinhas voando, os vários barcos, que cruzam de lá para cá, e a noite que vai chegando sorrateiramente.

Então ficamos hospedados em Sultanahmet, que nada mais é que Sultão Ahmet. Istambul é a única do mundo que se situa em dois continentes, europeu e asiático, sendo que o Estreito de Bósforo, que liga o Mar Negro com o Mar de Mármara, separa os dois continentes, que são ligados por diversas pontes. Foi capital do Império Romano do Oriente, quando se chamou Constantinopla, do Império Bizantino, quando se chamou Bizâncio, e do Império Otomano, quando recebeu seu atual nome; continuou sendo capital turca no início da república, até que  Atatürk mudou a capital para Ancara, algo parecido com o que fizemos com Brasília.

A parte velha da cidade foi declarada Patrimônio da Humanidade, e ela não é só velha, boa parte dos estreitos e cinzentos edifícios particulares, que geralmente não ultrapassam sete andares, estão desabando por falta de manutenção, apesar de abrigarem moradores e hotéis, não têm qualquer estilo arquitetônico, são feios caixotes quadrados, as ruas são estreitas, tortuosas, não lá muito limpas, lotada de pequenos estabelecimentos, que roubam parte da minúscula calçada que seria dos pedestres; é, literalmente uma bagunça.  Mas Istambul realmente tem algo misterioso, enigmático, que vai conquistando a gente, apesar do improvável que possa parecer inicialmente, e acabamos por achar que está tudo como sempre deveria ter estado, no seu devido lugar.

O velho senhor sentado, na frente de sua lojinha, tomando seu çay com seu pequeno tercinho na mão; o cordão de luzes vermelhas enrolado no tronco da centenária árvore; os baixinhos banquinhos de plástico das minúsculas cafeterias, que entulham a calçada, onde os fumantes param para um café; os cabeleireiros com seus varais de toalhas na frente do estabelecimento; gatos dormindo, passeando ou fuçando alguma lixeira; comerciantes tentando, desesperadamente, convencer algum cliente a entrar em sua loja; pedaços do muro que caiu, há uns vinte anos, atrapalhando a calçada; antenas, fios e aparelhos de ar condicionado pendurados em fachadas e telhados; vendedores de suco, engraxates, entregadores de chá, pó, suor, sem chuva, mas com cerveja. Mas se fossemos mudar tudo isso, organizar, reconstruir e limpar tudinho, a cidade perderia sua essência, não estaríamos em Istambul, não estaríamos na Turquia. E assim nos afeiçoamos à cidade e já não dávamos atenção ao que ela tem de estranho, só tínhamos olhos para suas belezas, seus mistérios, suas curiosidades. Não dizem que quem ama o feio, bonito lhe parece (ah, ah, ah!).

Beijos,

Sayo e Claudio

Istambul / Hipódromo, 17 de julho de 2011.

Caro Amigo,

Hospedados, alimentados e descansados, hora de sair para o mundo. Iniciamos pelo Hipódromo (At Meydani), construído em 203 D,C., onde eram realizadas as corridas de bigas, no período do Império Romano e podia abrigar cerca de 100 mil pessoas. Hoje uma imensa praça, onde encontramos, dos vários monumentos que um dia adornaram o local restaram o Obelisco de Teodósio (Obelisco Egípcio, Dikilitas), construído em 1.500 A. C., que foi trazido Karnak, região de Lúxor por Teodósio I; a Coluna Serpentina, de 479 A.C., vinda de Delfos, e a Coluna de Constantino Porfirogeneta.

Em torno dessa enorme praça estão quase todas as principais atrações de Istambul: Mesquita Azul, Santa Sofia, Cisterna da Basílica, Museu de Artes Trucas e Islâmicas, Banhos de Roxelana, Bazar da Cavalaria, Túmulo do Sultão Ahmet I, Museu do Mozaico e Museu de Tapetes. Então, torna-se muito fácil conhecer tudo, dando uma paradinha para um lanche, ou um “çay”, nos restaurantes e carrinhos, que também ficam pela praça, inclusive comer castanha portuguesa assada. Ou dando uma paradinha para descansar, em algum dos bancos, admirando o cair das águas da fonte. Um passeio imperdível é assistir o cair da noite no Hipódromo, tendo de um lado Mesquita Azul e do outro a Santa Sofia, foi a melhor vista que tivemos delas, foi onde nos pareceram mais lindas e gloriosas, recortadas contra o céu, que adquire um azul intenso e é só aí que realmente se tem a noção da magnitude de ambas, pois mais nada desvia nosso olhar ou chama nossa atenção, até o vôo das andorinhas e gaivotas ficam em segundo plano.    

A Mesquita Azul  (Sultan Ahmet Camii) é um do mais famosos monumentos religiosos do mundo islâmico, uma construção de pedra, de 1609, em tom marrom acinzentado, com seis minaretes, quando a maioria das mesquitas têm um ou dois, possui 260 janelas, responsáveis pela iluminação de seu interior, que é decorado por mais de 20 mil azulejos produzidos na cidade de Iznik, próximo a Istambul, e é do tom azul, que predomina nos azulejos, que ela recebeu o nome de Mesquita Azul. Não nos pareceu tão azul como o nome diz, já que os azulejos têm, em sua decoração, ramos e arabescos em tons azuis e fundo, geralmente, branco, mas é realmente algo grandioso, com sua cúpula altíssima, 141 pés de altura.  

Em frente à Mesquita Azul está a Basílica Aya Sofya (Santa Sofia, Igreja da Santa Sabedoria), que foi construída pelo imperador romano Justiniano, em 537 D.C., e já foi uma das maiores basílicas cristãs do mundo, com uma cúpula de 200 metros de altura, porém, após a conquista otomana, foi transformada em uma mesquita, com alterações em sua arquitetura, sendo acrescentados minaretes, fontes e túmulos. Hoje um museu que, basicamente, exibe restos de seus antigos mosaicos, entre os mais importantes que restaram da era bizantina, além de sua arquitetura.
Dizem que o Pilar de São Gregório, que fica no térreo, realiza cura, então o povo introduz o dedo polegar em um buraco do pilar e faz um circulo, passando os outros dedos pelo pilar, no sentido horário. Não custa tentar!

A Cisterna da Basílica (Yerebatan Sarayi) foi uma das edificações que mais nos impressionou, com suas 336 colunas, com mais de 8m e capitéis diferentes, em estilo coríntio e dórico, sustentando as abóbodas, já foi palco, inclusive de cenas de um dos filmes de James Bond. Sua construção data de 532 D.C., por determinação de Justiniano, para armazenamento subterrâneo de água para atender o palácio, pois, durante as guerras, os soldados inimigos destruíam os aquedutos. A penumbra envolve quase todo o local, luzes indiretas refletem as silhuetas das colunas na água, onde montes de carpas nadam, ao som de música clássica, caminha-se em passarelas, sobre a água e entre as colunas. O local tem a solenidade de uma igreja, pede uma oração. Aqui e ali, a água goteja, talvez benta.

Infelizmente, com o advento da máquina digital, houve uma banalização do ato de fotografar, já que, na busca de uma boa foto, hoje é possível tirar mais de cem, sem praticamente qualquer custo. Então, o direito a apreciar uma obra parece que ficou proporcional ao tamanho de sua objetiva. Quem deseja admirar com, simplesmente, um par de olhos (pobrezinho!), tentando guardar sua beleza na memória e no coração, está fadado ao quase fracasso, é praticamente obrigado a ceder lugar a poses e flashes de quem praticamente nem olha para a obra. Por isso, infelizmente, a visita à Cisterna ficou um pouco prejudicada, assim como quase todas as outras visitas.

Museu de Artes Turcas e Islâmica, além de apresentar coleções de caligrafia (uma verdadeira arte no país, principalmente em exemplares do Alcorão), jóias e tapetes, possui uma seção etnográfica bem legal. Ainda no Hipódromo, o Bazar da Cavalaria foi uma cocheira e abriga, hoje, várias lojinhas. Já nas proximidades da estação Çemberlitas, encontramos a Coluna de Constantino (Çemberlitas ou Coluna Queimada, por ter sofrido vários incêndios), ou o que resta dela, que foi construída no ano de 330 D.C., mas o que chamou nossa atenção, já que ela nem tem tanta graça, é que dizem que inúmeras relíquias sagradas estão enterradas na base dela, entre elas o machado que Noé utilizou para construir a arca, um frasco de óleo de Maria Madalena e restos dos pães do Milagre da Multiplicação dos Pães. Mas a nossa curiosidade é saber onde encontraram tudo isso.
Mas nós viemos aqui para comprar, não para conversar, o Caro Amigo deve estar querendo maiores detalhes sobre o que comprar! Bem, inicialmente, é um pecado quase mortal vir à Turquia e não comprar... hora do jantar, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio


Istambul / Bazares, 18 de julho de 2011.

Caro Amigo,

Não se pode vir à Turquia e deixar de comprar o olho azul (conhecido aí no Brasil como olho Greco, que os turcos não nos ouçam), pois dizem, com toda propriedade, que dá muita sorte, afasta mal olhado de qualquer espécie, além de mandinga, quebranto ou praga, até mesmo as lançadas por professoras primárias, que enlouquecem para ensinar a tabuada e o b-a-ba. Ninguém acreditará que o Caro Amigo veio à Turquia se não voltar com um olhinho azul.

Também não dá para deixar de comprar um pratinho (já que não dá para levar o aparelho de jantar completo) de cerâmica pintadas à mão, pois eles são maravilhosos, esbanjam no colorido, como o próprio país, e têm uma riqueza de detalhes de espantar. Os mais corajosos podem levar um conjunto para aperitivo, arrasarão nos almoços de família!

Os chales, lenços, echarpes e pashiminas, tecidos à mão ou não, com bordados e pedrarias, dos mais variados materiais, são os itens mais procurados pelas mulheres. Inicialmente, víamos o fato das mulçumanas cobrirem os cabelos como algo meio ditatorial, castrador; porém já mudamos nosso conceito, observamos que a mulher mulçumana moderna usa seu lenço como um adorno, combinando com o colorido de sua roupa, com broches e enfeites, amarrados de mil formas diferentes, formando laços e drapeados. Agora, imagine a Cara Amiga, poder sair de casa sem se preocupar com o cabelo, preocupação número 1 das mulheres, basta escolher sua roupa, seu maravilhoso lenço e sair triunfante. Acho que nós é que vivemos na ditadura da chapinha, da tintura, dos alisamentos e dos permanentes. Prometo (Sayo) que no ano que vem, quando voltar à Turquia, tratarei de aprender direitinho como usá-los.

Outro item que não pode faltar na mala de volta é o chá e seus acessórios. Quem toma chá em xícara, na Turquia, é turista! O turco bebe chá em um pequeno copinho de vidro, arredondado na base e que se abre, como uma flor, que vem sobre um pequeno pires do próprio vidro, de porcelana ou metal. As chaleiras são bem diferentes, na verdade são duas chaleiras, uma sobre a outra. A superior contém o chá, bem concentrado; a inferior, água quente, para ser misturada ao chá na hora de servir ou ser utilizada para fazer chá de outros sabores. Chá de saquinho? É pecado! Quanto aos sabores, não tem fim; os mais comuns são flores, maçã, romã, limão, preto e do Ceilão.

Adornos para a casa em prata e outros metais também são muito apreciados. Pequenas travessas com tampa, açucareiros, base e tampa para xícaras. Os em vidro também são muito procurados, coloridos, como um mosaico, e decorados com pedacinhos de espelhos; são abajures, luminárias, castiçais.

Os objetos em couro merecem destaque. Inicialmente pela excelente qualidade, são muito macios e leves, chegam a parecer tecido. Nada daquela tradicional jaqueta de couro, são modelos muito modernos, com recortes, entalhes, encaixes, laços e drapeados que, realmente, não parecem ter sido confeccionados em couro. As bolsas de couro com detalhes em tapeçaria ou bordado em seda são deslumbrantes. No ano que vem, não deixo (Sayo) a Turquia sem uma. 

Trabalhos de machetaria em madeira e madrepérola são encantadores, caixas de diversos tamanhos, tabuleiros para jogos, com temas geométricos ou florais. Os tapetes e kilims turcos têm fama mundial, em lã ou seda, por sua qualidade e tipo de nó; pequenas lojinhas e enormes magazines dedicam-se a sua venda, nós só os admiramos através das vitrines, pois os vendedores de tapete são como carrapato, grudam no seu couro e só te largam quando te venderem um tapete, que eles “garantem” ser voador. Imagine, o Caro Amigo, a economia em passagem de avião (ah, ah, ah!). Pensaremos em comprar um no ano que vem.

Todas as marcas famosas, que já ouvimos falar, como Prada, Louis Vuiton, Ray Ban, Pólo, Armani e muitas outras que nem conhecíamos, pois coisas de marca não são nosso forte, estão lá. Em diversas versões, cores, modelo  e preços, algumas chegam, em qualidade, muito perto das originais, os vendedores até passam o isqueiro nas bolsas para provar que são de couro mesmo

Ainda há as perfumadas especiarias, que dão o toque especial aos saborosos pratos do país; as sementes e frutos secos; os doces, geléias e meles; as carteirinhas e marcadores de livro em tecido; os sabonetes e cremes feitos de azeite de oliva; as jóias em prata e ouro, com pedras diversas; as coloridas bijuterias; os mil acessórios para dança do ventre; os narguiles de todos os tamanhos; cafeterias e restaurantes.

E foi muito de tudo isso que encontramos no Grande Bazar (Kapali Carsi), fundado pelo sultão Mehmet II, em 1453, após a conquista otomana, nos seus mais de 4.000 estabelecimentos, espalhados em ruelas e pequenas praças, tudo coberto, além de cinco mesquitas e seis fontes, com dezoito portas de entrada. Delicioso nem que seja só para andar e observar o ritual dos vendedores tentando convencer os compradores. Por incrível que pareça todos têm um “brimo” no Brasil, dançam samba e conhecem muitos jogadores de futebol (ah,ah,ah!). Numa versão menor, mais tranqüilo e barato, o Bazar  de Especiarias (Egípcio), vende mais ou menos os mesmos produtos, talvez com um preço um pouco menor. O primeiro fica em Sultanahmet e o segundo no bairro de Eminönü, perto do porto e da Ponte Galata.
E por falar em Ponte Gálata, ela conduz o turista ao... vamos parar para mais umas fotos, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio


Istambul - Torre Gálata/Castelos, 18 de julho de 2011.

Cruzando a Ponte Gálata, chegamos à torre de mesmo nome, no bairro Beyoglu, num morro, com uma bela vista para o Corno de Ouro (pequeno braço de água, em forma de chifre, que sai do Estreito de Bósforo; e que também proporciona uma bela vista da cidade.

Subindo um pouco mais, encontramos a Istiklâl Caddesi, muito elegante, cheia de belos edifícios do final do século XIX. Lá encontramos muitas lojas de grife; as lindas passagens Avrupa e Çiçek Pasaji, cheia de restaurantes e cafeterias; tomamos um sorvete na Mado; fomos à Igreja de Nossa Senhora de Draperis e ao Convento de Santo Antonio; a Livraria Robson Cruzoé, onde compramos um livro de receitas turcas em espanhol, não havia em português. Nas proximidades fica o Hotel Pera Palas, famoso por hospedar os passageiros ilustres do Oriente Express e mais famoso ainda porque Agatha Christie fazia dele seu segundo lar. No final da rua, que é longa, fica a Praça Taksim, tomamos o pequeno bondinho de madeira e voltamos para o início da rua; para, então,tomamos o funicular, que desce por túnel e chegamos à Ponte Gálata novamente.

Um passeio de barco pelo Bósforo tem que constar da visita à Istambul, ele pode ser feito através de empresas particulares, a um preço de cerca de 35 euros, ou particularmente, em barcos mais simples, no ponto final do bonde, na estação Kabalas, pelo custo de R$12,00, com explicações em inglês. As águas do Bósforo também são azuis, o passeio inclui o lado europeu e o asiático, passando por mansões, clubes, praias e pontes.

O Palácio Topkapi, construído em 1475, na junção do Estreito de Bósforo com o Corno de Ouro, é super, para sultão nenhum por defeito, um luxo e não poderia ser de outro modo, já que foi realmente a casa dos sultões otomanos por 400 anos, bem como de suas mulheres e concubinas, que viviam no harém, embora quem o veja de fora não imagine, ao olhar o  pesado e murado edifício de pedra. Ele é um complexo de edifícios espalhados entre pátios e jardins, que tem o dobro da área do Vaticano e foi transformado em um Museu, com coleções de prata, cristal, porcelana chinesa, trajes dos sultões, tronos riquíssimos e jóias, com um dos maiores diamantes do mundo, o Diamante do Comerciante de Colheres e uma das mais ricas coleções de relógios do mundo. Sua beleza arquitetônica também é ímpar, assim como a decoração dos azulejos que revestem muitos dos ambientes, uma característica do país.

Mas, como se já não bastasse tanta beleza, o Topkapi abriga, ainda, relíquias sagradas de grande importância, que leva os fiéis a se espremerem diante das vitrines da sala onde estão a espada de David, o bastão de Moisés, alguns ossos de São João, mas, para os mulçumanos, os maiores destaques são a espada de Maomé, sua pegada e fios de sua barba e cabelo, além de algumas das vestes do profeta, dentro de um caixão de ouro, atrás de uma janela de vidro, há uma constante reza no interior da sala.  A área do harém, era destinada ao sultão e sua família; filhos, esposa, dezenas de concubinas e mãe, para tentar organizar tudo; guardas castrados vigiavam sua entrada. Visitamos o Palácio usando áudio-guide, não gostamos muito do harém, que tem ingresso separado, pois está vazio, mas tivemos a sorte de assistir, nos jardins, uma Banda Otomana de Música.

Saindo do Topkapi, passamos por charmosas mansões otomanas restauradas, na Sogukçesme Sokagi, muitas das quais foram transformadas em hotéis. E seguimos para a Estação Sirkeci, onde parava o trem Expresso do Oriente, que já não tem a mesma pompa, mas firmaram um convênio, entre Turquia, Síria e Arábia Saldita, para ligar Istambul a Dubai, imagine, o Caro Amigo, o que vai ser isso. Não perderemos!

O Topkapi foi abandonado em 1855, pois o sultão Abdulmecit I mudou-se para o Palácio Dolmabahce, seu novo palácio, na beira do Bósforo, se o primeiro já era deslumbrante, imagine o segundo, mandado construir com toda pompa e circunstância. Em um dos salões há uma escadaria com pilastras feitas de cristal Baccarat, um dos banheiros é revestido com alabastro egípcio. Ele está finamente decorado com mobília original e um de seus lustres de cristal, feito na Inglaterra, é o mais pesado do mundo. Há finos trabalhos de estuque dourado, delicadas pinturas nos tetos, muita seda, brocado e renda. Não deve nada para os mais lindos castelos do mundo (Valeu Nayla! Amamos!). Todas as visitas são guiadas, em inglês ou turco.

A Igreja de São Salvador in Chora (Kariey Camii), do século XI, fica um pouco afastada do centro, mas vale o passeio. Seus afrescos e mosaicos são um tesouro, são considerados os mais importantes remanescentes da arte bizantina no mundo, representam passagens da vida de Jesus e de Nossa Senhora.

E foi tudo o que conseguimos ver e fazer nos cinco dias que estivemos em Istambul, além de ficarmos conhecidos pelos comerciantes das redondezas do nosso hotel, principalmente do barbeiro, que não sossegou enquanto não cortou a barba e o cabelo do Claudio, o meu deixo para o ano que vem. Sabemos que ainda existem muitas outras coisas, assim como pequenos detalhes que gostaríamos de fuçar, mas ficarão para o ano que vem. Nos despedimos da cidade com um jantar no terraço de nosso hotel, no sexto andar, com uma linda vista para o azul Mar de Mármara, uma Efes geladinha, Casarole de Camarão, Casarole de Champignon e Cafta, quanto ao sabor e ao aroma, temos certeza de que o Caro Amigo, depois de tantos dias na Turquia, já conhece muito bem (ah, ah, ah!).
Beijos,
Sayo e Claudio


Genebra, 23 de julho de 2011.

Caro Amigo,

Então chegou a hora de voltar para casa, para descansar das férias (ah, ah, ah!), mas o mais chato é ter que voltar e encontrar pelo caminho os europeus saindo de férias, normalmente viajam entre 15/07 e 15/08, com seus carros carregados de tralha, bicicletas, trailers, barcos, caiaques, em resumo, metade da casa.  Deixamos Istambul numa linda manhã de sol, com mais de 30 graus e justos 4 dias para fazer o caminho de volta. A passagem pela fronteira turca nos roubou algumas horas do tempo que já não tínhamos, nunca estivemos tão atrasados. Tivemos que passar as malas e as duzentas sacolinhas, que tínhamos, passar tudo pelo raio X, inclusive o próprio carro, vazio. Sai de uma fila, volta para outra, espera 15 minutos aqui, mais quinze acolá. Finalmente passamos.

Na entrada da Bulgária, outra confusão, filas imensas, até que alguém (santo homem) se ligou que os estrangeiros estavam na fila destinada à alfândega dos búlgaros, fomos retirados da fila e, entramos finalmente,  rapidamente.  A Bulgária e separada da Romênia por um rio, acontece que resolveram recapiar a ponte, bem no meio das férias de verão, interditando metade dela, com rodízio para ir e vir. Advinhe o resultado? Filas quilométricas de caminhões e turistas arrancando os cabelos. Férias na fila, uma nova modalidade! Essa deixaremos para outro experimentar (ah, ah, ah!). Após a passagem da ponte, mais fila, pois a estrada é de uma só mão e veículos que vinha na contramão, tentando fugir da fila, bloqueavam a estrada. Foi aí que a coisa acabou em tapas e pontapés, alguns para apartar e muitos para por fogo, mas, finalmente, entramos. E os guardas? Nem Deus sabe!
Atravessamos a Romênia por uma estrada que passa por Bucareste e segue pelo meio do país, não a que tomamos na vinda, nem a havíamos utilizado quando de nossa viagem para o país, há dois anos. Foi um trajeto muito agradável, apesar da pista simples e da quantidade de caminhões, pois a estrada segue, em boa parte, o curto de um rio, passando por graciosas cidades. Encontramos um agradável hotel, Villa Ancora, com cara de sitio, que, embora fosse de um italiano, serviu-nos, para deleite do Claudio, Ciorba de Burta e Mamaliguta, pratos tipicamente romenos, e um Filé à Pizaiolo.  E, ainda, por sorte, passamos nas proximidades da cidadezinha de Câlnic, onde se localiza uma fortaleza de mesmo nome, que foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, aproveitamos para conhecer.

A passagem da fronteira da Romênia para Hungria foi mais calma, havia enorme fila de caminhões, mas a policia estava organizando a coisa e dando prioridade aos veículos pequenos. Mais na Hungria a temperatura começo a cair e a chuva chegou. Atravessamos para a Áustria com a temperatura de 15 graus e muita chuva, no meio do verão, deve estar mais ou menos igual ao inverno do Brasil, pelo menos não estranharemos tanto (ah, ah, ah!).

As outras fronteiras são tranqüilas, já não há qualquer tipo trâmite, na verdade já não há ninguém, passa-se livremente.  Paramos novamente em Bernau, para dormir naquele gracioso Gästehaus Höhensteiger, aquele do do início da viagem, a proprietária nos reconheceu e nos recebeu com muitos sorrisos, descobrimos que ela e a mãe é que cuidam (de maneira impecável) daquela adorável pensão, pois o pai já faleceu, trata-se de um enorme terreno, com jardim e pomar, onde também é a casa delas. Quem sabe da outra vez ficamos um pouco mais, para conhecer a região que deve ter muitos atrativos, já que existem muitos hotéis na pequena cidade, nossa pensão estava lotada e o restaurante também. Quem sabe voltamos no Natal, se no verão faz 15 graus, no inverno deve ser menos 15, nossa senhoria nos disse que, no jardim, a montanha de neve tem mais de meio metro.

No dia seguinte, últimas compras no Aldi e o último trecho de estrada até Genebra. A Suíça estava cheia de congestionamentos, mas ainda chegamos com tempo de encontrar um hotel perto do aeroporto, fechar as duas últimas malas, incluindo as últimas comprinhas e jantar na França, em Fernet Voltaire, que fica ao lado do aeroporto de Genebra.

E, após o balanço da viagem, restou-nos a velha conclusão de que a felicidade nunca esteve, e nunca estará, na mão de outro que não nós mesmos. É bem verdade que somos pessoas privilegiadas, pois Deus nos voltou sua face e sorriu, mas nós também sorrimos em retribuição. Contamos com Ele, mas não cruzamos os braços e deixamos que ele faça tudo, tentamos, com afinco, fazer a nossa parte.   

Nessa viagem não tivemos o imenso prazer de reencontrar velhos amigos, mas fizemos novos, como já lhe contamos, e conhecemos muitas outras pessoas admiráveis, que cruzaram o nosso caminho e contribuíram para tornar nossas vidas ainda mais felizes
Obrigado por escolher nossa empresa para sua viagem (ah, ah, ah!).
Hasta la vista!
Sayo e Cláudio

PS – Quanto às nossas metas: não cumprimos todas. Ficamos devendo o Mar Negro, o local onde aportou a Arca de Noé e mais um montão de coisas. Nosso castigo, por tamanha negligência, será retornar o ano que vem e conhecer tudo, o castigo que pedimos a Deus (ah, ah, ah!). Já as coisas ruins que ouvimos falar sobre a Turquia, tudo mentira de gente invejosa, nosso Cavalo de Tróia estava recheado de maravilhas e delícias.