sábado, 15 de novembro de 2014

EXPEDIÇÃO MOINHOS DE VENTO - 2013


Santos, 26 de maio de 2013.

 

Caro Amigo,

 

Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2011


Dom Quixote - Epílogo


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Naquele dia, D. Quixote acordou em sobressalto.

Sonhara com moinhos de vento, batalhas, caminhos poeirentos de lança em riste, sempre na companhia do seu fiel vizinho do fundo da rua, Sancho Pança.

Esfregou os olhos, cego pelo raiar da manhã. Dois tímidos raios de sol rasgavam a janela e aqueciam a penumbra do quarto. Estava atrasado.

Os combates – ditavam as boas regras da cavalaria – deveriam sempre dar-se inicio ao alvorecer da manhã.

Tentou sair da cama em silêncio.

- Quixote… onde vais a esta hora da manhã?

- Ahhh… Dulcimeia, minha querida… acordei-te… dorme, meu amor… ia simplesmente buscar um copo de água…

- Quixote… conheço esse teu ar… é o ar de quem estava a pensar levantar-se.

- Não, não, claro que não, que ideia…

- Quixote !

O tom não admitia réplica.

- Bem… talvez estivesse a pensar… levantar-me um pouquinho, sim… mas só um pouquinho…

- Isso já eu sabia… mas porque insistes tu nisso? Quantas vezes já falámos nós sobre esse assunto?

- Mas, querida…

- Não, Quixote, não… não insistas. Eu é que ouço depois a mulher do Sancho Pança a queixar-se, que o marido chega todo cansado a casa, que tu o obrigas a correr atrás do teu cavalo e sei lá que mais…

- Dulcineia, meu amor, mas eu…

- Não, Quixote… mil vezes não. Volta imediatamente para a cama.

Ele olhou desconsolado para a porta entreaberta do quarto.

- E se for só um passeio pequenino? – ainda tentou – talvez só até ao moinho…

- Quixote !

Aquilo soou como uma ordem.

- Sim, meu amor…

- Quixote… que idade pensas que tens? Vinte anos?

- Não…

- Pois claro que não… tinhas vinte anos quando nos conhecemos e sim… nessa altura podias fazer tudo isso, lutar contra os teus moinhos de vento… até o teu vizinho Sancho Pança – que nunca foi magro – ainda conseguia correr… mas agora, Quixote… não crês que já é hora de descansares?

-Mas… Dulcineia, meu amor…

- Quixote… tens oitenta anos, querido… vá, vem para a cama…

- Dulcineia… mas que queres tu que eu faça? A minha pobre cabeça ainda não percebeu a idade que o corpo tem…

Dulcineia sorria.

Esperou que ele se deitasse novamente e ajeitou-lhe as pontas do lençol.

- Pronto, meu Quixote, assim ficas mais quentinho, dorme mais um pouco, ainda é muito cedo… eu depois chamo-te, está bem?

Dom Quixote acenou-lhe um sim e fechou os olhos. Adormeceria de novo e em sonhos recordaria de novo os moinhos da sua juventude, as batalhas passadas e aquele dia de sol, numa tarde de verão em que conhecera Dulcineia, a sua amada.

Rolando Palma

 

 

 

Santos, 27 de maio de 2013.

 

 

Caro Amigo,

 

 

É ... também ouvimos dizer que Dom Quijote (ou Quixote) hoje está velho e, embora seu coração de menino ainda o impulsione seguir, a alçar vôos, a guerrear com seus moinhos de vento, em companhia de seu fiel escudeiro, Sancho Pança; Dulcinéia, a voz de sua consciência, teima em pregar seus pés ao chão, ao duro e frio chão, para onde a própria vida, um dia, se encarregará de levar a todos nós

Dom Quixote

Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos zilhões de quilômetros viajando, resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada.

Moinhos de Vento 2013

Aproveitaremos a oportunidade para comer mais um bacalhauzinho lá por Portugal, quem sabe regado a vinho do Dão; para assistir a um show de dança flamenca e comer uma “paella marinera”, lá pelo sul da Espanha; e, muito principalmente, para participar do casamento de amigos muito queridos, lá na França. Tudo muito chato, não é?

 

Mas nada estará completo sem a sua deliciosa companhia, portanto: Vem com a gente!

 

 

Sayo e Claudio

 

 

 

Santos, 28 de maio de 2013.

 

Caro Amigo,

 

 

Para que você, que irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.

Mapa da Europa

 

Compre seu bilhete, faça as malas (não esqueça o protetor solar e o maiô, já que o corpinho não está permitindo biquíni, afinal é quase verão e iremos pegar umas praias portuguesas), pegue o passaporte, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, deixe o gato com o vizinho, prepare o bolinho de bacalhau, abra um vinho branco geladinho (talvez seja melhor um cálice de Porto com pastel de Belém), desligue o celular, escolha uma poltrona confortável, ligue o computador e VEM COM A GENTE! 

 

Aproveite para enviar alguma dica para tornar nossa viagem ainda mais interessante. Talvez alguma cidadezinha, que já visitou e achou incrível; um restaurante, que viu em alguma revista de turismo; um lugar que você gostaria de conhecer, mas ainda não teve tempo; ou mesmo o endereço de sua adorável prima portuguesa, que faz  que faz uns docinhos conventuais de comer rezando, pois teremos imenso prazer em visitá-las, conferir os quitutes e contar tudo, nos mais mínimos e prazerosos detalhes.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

 

Lisboa, 01 de junho de 2013.

 

Caro Amigo,

 

Partimos de Guarulhos em direção à BH (o nome carinhoso de Belo Horizonte), estranho, né? Também achamos, mas nos valeu uma economia de 400 dólares, partir para Lisboa desde BH, pois como os preços do aeroporto de Guarulhos são astronômicos, as empresas aéreas estão preferindo sair de outras cidades. Não se esqueça de observar isso em sua próxima viagem, perde-se algumas horinhas, é um pouco mais cansativo, mas a economia é legal, nos valeu cerca de 1/3 do valor do carro que usaremos na viagem.

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O vôo TAP não teve grandes novidades, saiu no horário, a comida não teve nada de excepcional, estava até um pouquinho salgada; mas também, servir arrumadinho de carne seca no avião é algo arriscado. Saímos pontualmente no horário e assim também chegamos a Lisboa, um final de manhã de sábado, ensolarada e quente.

 

Sem muita demora já estávamos arrumando as malas dentro do nosso carro, um Peageout, 207 SW, uma espécie de perua, pois com a crise na Europa, não conseguimos fazer leasing com a Renault e, tão pouco, conseguimos o carro mais econômico da Peageout, quase ficamos foi sem carro.

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Mas valeu à pena, pois conseguimos, por um pouco mais, um carro com porta-malas maior, que acomodou, confortavelmente, nossas três boas malas, uma das quais só será aberta no final da viagem, Pois são presentes para nossos amigos franceses e para o casamento. E, de quebra, ainda recebemos um teto envidraçado, para admirar melhor o cenário durante a viagem.

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Até pegarmos o carro, ainda não havíamos decidido que caminho seguir, seguramente não ficaríamos em Lisboa, onde já estivemos algumas vezes, nossa dúvida era se seguiríamos em direção a Aveiros, onde interrompemos a viagem passada, ou se iríamos para Sintra. Rapidamente optamos pela segunda e pedimos o auxilio do senhor, que nos entregou o carro, já nosso conhecido do ano passado, para programarmos o GPS, afinal, o carro já vinha com um embutido no painel, seria nossa primeira experiência com essa máquina mirabolante. Nem bem ele fez a programação e, na primeira esquina, resolvemos, antes de seguir para Sintra, comer um pastelzinho de Belém.

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A cidade estava calma, sem trânsito, as praças cheias de gente desfilando suas bermudas, recheadas de pernas branquíssimas, pelo sol e, em cada uma delas, uma festa, com brinquedos infantis, feirinhas de bugigangas e muito comes-e-bebes; descobrimos que o motivo de todo o alvoroço era a comemoração do Dia da Criança. As pequenas lojas abertas, cheias de gente bisbilhotando; alguns lendo jornal em pequenos cafés; uma divina tarde de sábado, não fosse aquela portuguesinha, que mora dentro do tal GPS, romper a harmonia reinando ao ficar repetindo, com aquela voz chata, faça isso, faça aquilo, enlouquecida com nossa mudança de planos. Isso lá são férias? Acho (Sayo) que prefiro o velho e bom mapa que, ao menos, é mudo e obediente, como todo marido deveria ser (ah, ah, ah!). Vamos ver qual será a opinião do Kuc... ele adora modernidades!

 

Como sempre, encontramos o Pastel de Belém maravilhoso, aquela massa morna, super crocante, que lembra uma massa folheada e faz croc-croc a cada mordida, recheada de um creme de sabor muito delicado, tudo polvilhado com açúcar impalpável e canela; se acompanhado de um cálice de vinho do Porto consegue ficar ainda melhor. Dessa vez, aproveitamos para provar também o pastel de bacalhau (o nosso bolinho de bacalhau) do famoso “Pastéis de Belém”, que vem com uma casquinha muito morena e rija, que contrasta de modo muito interessante com seu interior, amarelinho e macio, muito bom, mas poderia ser servido mais quente.

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Sintra fica em uma região serrana, muito próxima a Lisboa. Uma linda paisagem, onde a estrada estréia serpenteia por bosque de árvores frondosas, pedras cobertas de musgos e elegantes palacetes que, embora já não estejam em seus áureos tempos, ainda guardam muito de sua imponência. Com a chegada da noite, a temperatura cai terrivelmente; encontramos um hotel bem charmoso, com proprietários muito simpáticos, que nos deram um bom desconto, pois os preços locais, por tratar-se de cidade muito procurada por turistas, é um pouco salgado.

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Depois de um delicioso banho e com roupas mais quentinhas, saímos para cumprir mais uma meta... jantar um suculento bacalhau, claro! Afinal estamos em Portugal e há que se fazer como os portugueses.

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Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

 

Sintra,  03 de junho de 2013.

 

Caro Amigo,

 

É ... acabamos ficando um pouco mais em Sintra. Nosso hotel, já no moderno conceito de boutique hotel, estava tão aconchegante, e a cidade tão cheia de coisas interessantes, que acabamos ficando. E lá vai nosso primeiro atraso da viagem, vislumbramos não cumprir nossas metas, já que Sintra nem estava no nosso roteiro, pois já a havíamos visitado, há bons quinze anos. Mas prometemos não perder nem os moinhos de vento, nem o casamento.

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E por falar em rever locais já conhecidos, temos nos apercebido da grande diferença que enxergamos, agora mais velhos, nos locais que conhecemos mais jovens. Locais históricos, como o caso de Sintra, pouco ou nada mudam ao longo de vários anos, uma restauração aqui, outra ali, mas nada que altere sua essência. Já não podemos dizer o mesmo dos olhos com que os olhamos, da maior atenção que damos a cada detalhe, de como o novo e completamente impecável já não nos parece tão bonito, do quão importante passou a ser conhecer um pouquinho mais da história que cerca o local. Aprendemos a ver a beleza no que, talvez,  tenha perdido seu viço, mas que guarda, em seus traços, a essência do belo.

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Depois de um delicioso “pequeno almoço” (café da manhã em Portugal), com direito a um expresso à beira da piscina, caímos no mundo; pois já que a cidade foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, assim como suas serras, e escolhida para construção de castelos de verão de reis e duques, além de muitos lindos chalets de ricos e famosos, espalhados pelos bosques e encostas, havia muito por fazer.

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Existe um bilhete único no valor de trinta e quatro euros, que inclui os principais pontos de visitação da cidade, mas houve um mal entendido entre nós e a mocinha do guichê (até parece que não falamos português! Ah, ah, ah!), que acabava de iniciar seu dia de trabalho, e parecia mais perdida que nós, que acabou nos vendendo um de trinta e dois euros, que não incluía o Chalet da Condessa. De qualquer modo, o Caro Amigo fica ciente de que poderá comprá-lo e, o mais importante, usá-lo durante um mês, outro detalhe que não nos foi informado, nem está escrito nos cartazes e bilhetes, mas que faz toda diferença, pois nos danamos de andar, sem parar nem para comer, a fim de cumprir o roteiro do dia (ao menos pudemos nos esbaldar no bacalhau do jantar, já que gastamos muitas calorias).

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O romantismo trouxe um estilo arquitetônico no qual as casas passaram a ter menor tamanho, visando uma maior interação e intimidade familiar; janelas e portas aumentaram de tamanho, a fim de possibilitar maior ventilação e iluminação, com vistas a uma vida mais sã; aparecem os sistemas de aquecimento central, água encanada e o quarto de banho, visando uma maior comodidade; os móveis, principalmente sofás e camas, deixam as paredes dos aposentos e se espalham por ele de forma mais harmoniosa; surgem os ambientes masculinos e femininos, como sala de jogos, biblioteca, sala de leitura e de trabalhos manuais; é também a época da vida ao ar livre, dos bailes suntuosos, com troca de olhares e código de leque   

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Por ordem de excelência, o Palácio da Pena é imperdível, construído por D. Fernando II, no século XIX, o primeiro edifício com água encanada de Portugal e o melhor exemplar de arquitetura romântica do país. Ele é realmente lindo, está mobiliado de forma primorosa.

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Outro item imperdível, embora pobre de mobiliário, é o Castelo de Montesserrate, muito rico em detalhes arquitetônicos, num estilo eclético, que harmoniza o romântico, da época, traços góticos e  modejar (do qual falamos no ano passado), de influência mourisca. Francis Cook, um abastado comerciante inglês, o mandou construir o pequeno castelo como casa de verão, em 1856.

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Ele, assim como o anterior, é cercado por um enorme parque, local para uma boa caminhada ou cenário para um gostoso piquenique.

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No pequeno centro da cidade, localiza-se o Palácio Nacional de Sintra, que tem raízes árabes, que teve seu início de construção no século XIV, é interessante, mas não imperdível.

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O que de melhor posso (Sayo) aconselhar sobre o Castelo dos Mouros é que o veja de longe, é de onde ele é mais fotogênico. Claro que o Kuc, seguramente, dará outro conselho, que o Caro Amigo o escale pedra por pedra, degrau por degrau, que pague todos os seus pecados. Não vi muita serventia, a não ser para a dieta, em conhecê-lo pessoalmente, pode até lembrar as Muralhas da China, mas nem de longe tem toda sua fama. A bonita vista que proporciona pode ser igualmente vista de muitos outros lugares da região.

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Quanto ao Convento dos Capachos, ou Convento da Cortiça, pela ampla utilização desse material para revestir suas frias paredes de pedra, também é algo dispensável, o local está quase em ruínas. Edificado em 1560, pelos Franciscanos, é um conjunto de minúsculas selas, igreja e outros pequenos cômodos, parte deles escavados em rochas, que demonstram a extrema pobreza em que viviam os padres.

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Hoje, ainda pela manhã, fomos ao Chalet da Condessa d’Edla, a segunda esposa de D. Fernando II, o que construiu o Palácio da Pena. Provavelmente a construção foi feita para satisfazer os gostos da Condessa, pois tem uma decoração berrante, que nos pareceu de muito mau gosto, quase grotesca, em nada lembra a elegância do Palácio. Os jardins do entorno são famosos por abrigarem espécies botânicas dos quatro cantos do mundo colecionadas pelo casal.

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Despedimo-nos, com muitos abraços, de João e Maria, nossos senhorios, e partimos. Já em Alcobaça, ao chegarmos ao hotel, percebemos que o Kuc esqueceu... estamos morrendo de fome, o dia foi puxado, contamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

 


 

 

Óbidos,  03 de junho de 2013.

 

No caminho para Alcobaça, paramos para conhecer Óbidos, um pequeno vilarejo, construído no século XIV encerrado entre pesadas muralhas, famoso pela Ginja, um licor feito de uma espécie de cereja, que tem o gosto um pouco amargo, e é vendido em cada esquina, em garrafas ou copinhos de chocolate, para beber na hora.

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A cidadezinha é graciosa, cheia de lojinhas que vende, além da Ginja, muitas peças de cerâmica. Ruas estreitas, feitas de pedrinhas já muito polidas pelos pés dos turistas, ladeadas por casarios assobradados, lembrando a arquitetura de algumas cidades da Bahia ou Paraty.

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Chama a atenção os vasos presos às fachadas por anéis de ferro e as trepadeiras, que brotam de pequenas cavidades feitas na calçada, defronte das casas, e que enchem suas fachadas de vida e cor. 

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Chegando a Alcobaça, quando entrávamos no hotel, que fica bem em frente ao Monastério de Santa Maria de Alcobaça, a maior igreja do país, declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, o Kuc se apercebeu que havia esquecido seu passaporte o hotel de Sintra. Lembramos da vez que ele esqueceu todo o dinheiro no hotel, lá na Romênia, pelo menos agora só teríamos que voltar pouco mais de cem quilômetros, seria moleza (ah, ah, ah!).

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E por falar no Monastério de Santa Maria de Alcobaça, é nessa igreja que estão enterrados de Dom Pedro I (de Portugal), filho e herdeiro de Dom Afonso IV, e Inês de Castro, aquela Inês de “agora Inês é morta”. Contam que, nos meados dos 1300, Pedro, que vivia nas imediações do rio Mondego, em Coimbra, em virtude de acordos políticos, casou-se com Constança Manuel, filha dos reinos de Aragão, Castela e Leão; mas veio a apaixonar-se perdidamente por Inês de Castro, a dama de companhia de sua esposa, e foi correspondido. Sabendo do romance, que se tornou um escândalo na corte, o rei manda exilar Inês em Castela, mas o casal segue se correspondendo apaixonadamente. Com a morte de Constança, o príncipe trás de volta sua amada, para um palácio perto do mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, e o casal passa a se encontrar na Fonte dos Amores, que até hoje jorra, na Quinta das Lágrimas, onde está instalado um hotel, que pode ser visitado pelos turistas.  Pedro torna-se amigo dos irmãos de Inês, Álvaro e Fernando, e, novamente, a política volta a ditar o destino do casal, pois o rei, D. Afonso IV, vê perigo nessa relação, tanto pela possibilidade de desagradar Castela, como pela de os irmãos virem a causar algum mal a seu neto legítimo, filho de Pedro e Constança, a fim de colocar um bastardo, filho de Inês, no trono de Portugal. Aconselhado por três de seus conselheiros – Pedro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco – decide-se pela morte de Inês, que se consuma em 7 de janeiro de 1355, quando os três a encontram só, pois Pedro havia saído para caçar, e a degolaram impiedosamente, enterrado seu corpo na igreja de Santa Clara. Pedro ficou louco de dor e num arrobo de cólera, levanta um exército contra o pai, que revida, sendo a paz restabelecida após a intervenção de Dona Beatriz, a rainha mãe. Mas nada consola o coração do pobre Pedro que, com a morte do pai, dois anos depois, é coroado rei e, como primeiro ato, consegue por as mãos em dois dos assassinos de sua amada, Pedro Coelho e Álvaro Gonçalves, o terceiro foge, e os manda matar arrancando-lhes os corações, um pelas costas e outro pelo peito, é o que contam. E não satisfeito... o Caro Amigo já deve estar cansado de tantas intrigas palacianas, deve até já conhecer a tal história, voltemos à viagem.

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Felizmente, o Kuc ficou íntimo da moça que mora dentro do GPS, a Maria, vai para todo lado de braço com ela, então voltamos a Sintra num piscar de olhos. Já que perdi minha função de co-piloto, dedico-me, agora, somente à elaboração do roteiro e à escrita, penso que, se ele arrumar uma máquina que faça malas, acabará me deixando em casa (ah, ah, ah!). Outra “comodidade” de nosso carro é o teto de vidro, para mim está mais para “incomodidade”, já que não sou muito fã de sol, enfim ... deixo o Kuc divertir-se um pouco com o novo brinquedo e aproveitar o delicioso verão.

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No caminho de volta para Alcobaça, já com o passaporte na mão, paramos novamente em Óbidos, agora para jantar. A cidade que, durante o dia vibrava, agora estava quase sem vida. Escolhemos o restaurante e, para nossa surpresa, o bacalhau havia acabado, já não cumpriríamos a meta de comê-lo todos os dias, restou-nos o polvo, que estava de chupar-se os dedos.

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Beijos,

 

Sayo e Claudio

 

 

Tomar, 05 de junho de 2013.

 

 

Escolhemos a cidade Alcobaça como base, para conhecer os arredores, que pontilhado de interessantes cidadezinhas. Após o café, saímos para linda manhã de sol, há que aproveitá-la bem, pois a meteorologia prevê queda de dez graus na temperatura, a partir de amanhã.

 

Nossa primeira parada foi em Fátima, para rever a Virgem e agradecer as bênçãos recebidas desde a nossa última visita, no ano passado. A cidade está um brinco, já toda reformada, muito limpa e cheia de hotéis.  Encontramos Nossa Senhora com sua linda carinha serena, quase sorrindo, a dizer-nos para não ter medo. Compramos algumas lembranças, assistimos a missa, enchemos garrafas com água benta e seguimos.

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Demos uma paradinha no supermercado LIDL, o nosso predileto depois do ALDI, afinal é preciso preparar suprimentos para possíveis piqueniques e para o caso de perdermos a hora do jantar, já que estamos na Europa e nem sempre se encontra um restaurante aberto depois das dez da noite. Continuamos pela estrada, que, estreita, segue por pequenas propriedades, onde as senhoras, com lenços na cabeça e vestidos surrados, regam suas hortas e videiras; atravessa olivais, com seu verde acinzentado e vai seguindo, vagarosamente, por pequenas vilas, onde a vida caminha sem nenhuma pressa.

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Tomar é uma pequena cidade, com um centro histórico preservado, arborizada, realmente talvez tivesse sido a melhor opção de hospedagem para conhecer a região, porém, agora, “Inês é morta”.  É berço da ordem dos Cavaleiros Templários, que nela construíram uma fortaleza, em 1160, onde foi feito um oratório, baseado na rotunda do Santo Sepulcro, de Jerusalém, com um octógono de altares, onde os monges-cavaleiros entravam, montados em seus cavalos para rezar, mais conhecido como charola, que foi declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO.

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Com a extinção dos templários, o castelo passa para a Ordem de Cristo, em 1319, que o vão ampliando e o transformam em um enorme convento, com detalhes manuelinos e azulejos em sua decoração.

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Na saída passamos pelo Aqueduto de Pegões e seguimos para Constância, já a beira do rio Tejo, muito simpática, de casas brancas com detalhes amarelos, como geralmente se vê na região, e um pequeno jardim botânico, dedicado Camões, que traz exemplares de das plantas por ele citadas, junto ao trecho do poema que a elas se refere.

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Avistamos o Castelo de Almourol, que se ergue solene de uma ilha no meio do Tejo, também construído pelos templários. Dizem que ele é assobrado pela alma de uma princesa, que suspirava de amores por um escravo mouro.

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E fomos seguindo pela Rota do Vinho Ribatejo, passando por Golegã e pequenas aldeias agrícolas, em direção a Santarém.

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Como estamos na primavera, rosas e gerânios colorem os jardins das casas, nas pequenas vilas por onde vai seguindo a estrada.

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Chegamos a Santarém, já mais de seis da tarde, ainda com tempo de receber um carimbo do Caminho de Santiago, na Igreja de Nossa Senhora da Piedade, pois como estamos percorrendo cidades que estão na rota, resolvemos completar nossa credencial, um modo de recordarmos o maravilhoso Caminho que fizemos no ano passado.

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Porém não chegamos cedo o suficiente para visitar a Igreja de Nossa Senhora das Graças, onde está o túmulo de Pedro Álvares Cabral. Observamos o Tejo, com seus vários bancos de areia, desde a Porta do Sol.

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E por hoje é só, já são 08:30 da noite e se o Caro Amigo não está cansado, nós estamos e doidos para comer um bacalhau no Restaurante Antonio Padeiro, um dos melhores da cidade, que nos recomendaram no hotel. Sobre o fim da história de Pedro e Inês? Contamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio  

 

 

 

Alcobaça, 06 de junho de 2013.

 

Caro Amigo,

 

 

E não satisfeito, Pedro jura ter se casado com Inês em segredo, o que a tornava rainha. Ele, então, ergue um mausoléu em mármore branco, finamente esculpido, na igreja Santa Maria de Alcobaça, em cuja tampa aparece a cabeça da rainha coroada, para onde o corpo, após ser desenterrado, é levado em um cortejo seguido por cavaleiros, damas e clero, tendo, ao longo de todo o caminho, mais de mil homens com círios nas mãos, fazendo com que o corpo seguisse sempre entre velas. Mas não sem antes colocá-la no trono, coroá-la e obrigar os nobres a beijar sua mão cadavérica, porém já tarde demais, pois agora Inês é morta. E que fim levou o pobre Pedro é o que o Caro Amigo deve estar se perguntando, logo veremos.

 

Visitamos o Monastério de Santa Maria de Alcobaça , fundado em 1156, para honrar uma promessa do rei Afonso Henrique de construir uma igreja para os cistercienses, caso conseguisse tomar a fortaleza de Santarém.

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Com exceção da sala, onde a história da vitória do rei é contada em azulejos (azuis, claro!) e algumas poucas estátuas de reis portugueses que restaram; o monastério, em estilo gótico, é tudo muito austero, pé direito altíssimo, pesadas colunas de pedra, tetos abobadados, arcos em forma de mãos postas.

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Lógico que, em lá estando, todos os olhos buscam, avidamente,  o corpo de Inês e lá está ele, quase que perdido em meio às gélidas colunas e abóbodas de pedra, de uma igreja desprovida de muitos adornos, no final do longo corredor de bancos da nave principal, na lateral esquerda, já bem junto ao altar, e na lateral direita, fitando-o por toda a eternidade, jaz o também frio e branco caixão mortuário de Pedro, seu eterno amado.

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Voltando à viagem, há um bilhete único, que custa 15,00 euros, com o qual se pode visitar os três monastérios, Tomar, Alcobaça e Batalha, podendo ser usado durante sete dias. Porém a visita aos túmulos de Inês e Pedro é gratuita, pois estão dentro da igreja.

 

Seguimos para Nazareth, já na beira do mar, um balneário bastante famoso e movimentado, onde pescadores ainda secam seus peixes em grandes armações ao longo da praia, sob os atentos olhos dos turistas e das gaivotas.

 

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Apesar do sol, a manhã estava fria e o vento espalhava o cheiro de sardinha pela cidade toda.

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Subimos a Sítio, o pequeno vilarejo onde está a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, que recebeu esse nome porque a pequena imagem da Santa amamentando Jesus, que pode ser visitada em seu altar, de lá foi trazida no século IV . Contam que, durante a invasão moura, ela foi escondida entre as pedras do alto penhasco, no qual a vila foi edificada; sendo novamente escondida durante a invasão de Napoleão, que buscou avidamente a valiosa imagem, sem encontrá-la. Trata-se de uma imagem acinzentada pelo tempo, quase negra, mas de um valor sentimental e histórico quase incalculável. Também nos contaram que já houve tentativas de restaurá-la, mas a tinta escorre e não adere à superfície da imagem.   

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Na saída da igreja de Kuc teve um súbito desejo de comer (?) (não existe isso no dicionário dele, pois está sempre em estado de desejo de comer algo ah, ah, ah!)  sardinha na brasa, já passava do meio dia, realmente o estômago já ensaiava algumas notas. Eu, como sempre a voz da prudência, sugeri um dos simpáticos restaurantes da pracinha da igreja, pois já previa o nefasto que seria um piquenique com sardinha na brasa.

 

Ele fez beiço, pois considera uma das regras da CRKTour não parar para o almoço, diz que perde-se tempo; portanto,  se Caro Amigo deparar-se, em uma de nossas andanças com um maravilhoso restaurante, no horário do almoço em uma daquelas paragens paradisíacas, onde um dos melhores chefs do mundo resolveu dar uma palinha, preparando as melhores iguarias do mundo, tudo regado a vinhos das melhores safras, em meio a macios tapetes e almofadas, com eunucos abanando grandes leques, gueixas servindo e odaliscas bailando, saiba que, sem sobra de qualquer dúvida, terá que seguir o roteiro de empresa e não parar para almoçar, mesmo que o jantar do hotel seja arroz, feijão, quiabo e jiló. Creio que só haverá exceção se for tudo, absolutamente, tudo boca livre. Eu bem que acredito em milagres, mas, dessa vez, acho que não haverá almoço.  

 

Mas voltando às sardinhas, e ele tanto fez que pediu as sardinhas para viagem e fomos visitar o Farol, enquanto elas eram preparadas.  O local tem uma linda vista do mar, que estava selvagem, bravio, arremessando-se furiosamente contra as pedras e formando enormes ondas, que se dissipavam na praia.  

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Voltamos ao restaurante e, já com em mãos, Seguimos em direção a Batalha, buscando o local para o tal piquenique, encontrada uma pequena estradinha, que corria entre pinheiro, paramos. Ele logo profetizou: vou parar aqui mesmo, aqui não passa ninguém. Com o coração na mão peguei os talheres, ele até riu: Comer sardinha de talher (ah, ah, ah!). Eu, meio patricinha, declarei odiar ficar com a mão fedendo, ainda mais a sardinha, posto que não havia onde lavar a mão, e fui logo pegando o meus talheres.

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Abrimos o vinho, cortamos o tomate, pegamos um naco de pão, ele meteu a sardinha inteira na mão e adivinhe... é isso mesmo, e eu, com minhas lindas mãozinhas limpas, não dirijo, então foi uma correria, mas chegamos a Batalha, contamos depois.

 

Beijos,

 

Sayo e Claudio