Santos,
21 de julho de 2015.
Caro
Amigo,
Ouvimos
dizer que,
assim como em Portugal, no Brasil, há uma Serra da Estrela que, embora não
produza um famoso queijo, como nossa irmã, não é menos afamada, sendo berço de
uma cidade imperial.
Assim,
em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos
que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim
de que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o
legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos 100.000.000.000.000.000
Km viajando, resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada.
Mas
a grande verdade é que aproveitamos a oportunidade para dar um “oi” ao Caro
Amigo, já que neste século, ou melhor, nesta década (tudo agora anda muito
rápido e um século é quase uma era) de redes sociais, e relações cada vez menos
interpessoais, receber uma cartinha e quase um privilégio, se não para quem
recebe, por falta de tempo para lê-la, ao menos para quem escreve, já que
brincar com palavras é como brincar com um livro de colorir, tão na moda para
adultos atualmente, como um modo de relaxar. Estranhas sutilezas do mundo
moderno!
Então,
aproveitamos para dizer “olá” ao Caro Amigo, que já esperava pela rotineira
viagem de meados do ano e deve estar se perguntando o que teria acontecido. Bem...
para este ano, marcamos nossas férias para outubro, pois é a época oportuna
para uma viagem à Índia e Nepal, e havíamos programado uma com amigos, para uma subida ao Campo Base do
Everest. E como o Caro Amigo já deve ter presumido, por motivos óbvios, tivemos
que cancelar esse ambicioso projeto. Mas, de qualquer modo, um pouco tristes, estamos tentando programar algo divertido para
as férias.
Mas
enquanto outubro não vem, resolvemos dar uma voltinha por aqui, pois já estamos
entediados de ficar em casa ouvindo falar da Operação Lava-Jato e outras
mazelas, e temos a dizer que nada estará completo sem a sua companhia,
portanto: Vem com a gente!
Beijos,
Sayo
e Claudio
Taubaté,
22 de julho de 2015.
Caro
Amigo,
E
a Serra da Estrela permaneceu praticamente desconhecida pelos portugueses por
mais de 200 anos, já que uma parede montanhosa, de mais de 1000 metros, e a
presença de índios Coroados impediam sua ocupação e o desenvolvimento de
atividade econômica. Mas, quando os bandeirantes descobriram ouro em Minas
Gerais, em 1704, abriu-se o Caminho Novo, permitindo a viagem entre as vilas
mineradoras, parte do conjunto de caminhos do Brasil Colonial, que formavam a Estrada
Real, que foram responsáveis por incrementar a unidade geopolítica e
administrativa do país, ligando o interior ao litoral, promovendo unificação
cultural, resultando na ocupação e no desenvolvimento de uma imensa região, que
passou a ser ocupada por fazendas, ranchos, pousos e vendas. Sendo que, a
partir de então, a atividade administrativa pública organizou-se, funcionários públicos passaram
a controlar a zona mineira, exercendo a função de fiscais e corregedores; foram
criados Registros ao longo dos Caminhos; foram criadas as Casas de Fundição e
da Moeda, monetarizando-se a economia e surgindo uma classe média sólida.
O
Caminho Novo encurtou o tempo de viagem de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, que
era realizada pelo Caminho Velho em 99 dias, em um terço. Em 1824, passavam por
ele diariamente, em média, 153 mulas e
77 pessoas. Bernardo Proença recebeu uma sesmaria (lotes de terras não
cultivadas, que eram cedidos aos povoadores) no Alto da Serra e abriu a
Variante do Caminho Novo, passando pelo Córrego Seco, que possibilitou o
desenvolvimento da região, com distribuição de outras sesmarias ao longo do
Caminho. Sendo que a fazenda mais progressista da região, no início do século
XVIII, pertencia a Antônio Tomás de Aquino Correia, Padre Correia, que criava gado de corte e cultivava cravo,
figo, jabuticaba, uva, pêssego, marmelo , milho, maçã e outras frutas de origem européia; além
de fabricar ferraduras, para atender à demanda dos tropeiros que transitavam
pela região. D. Pedro I esteve várias vezes na fazenda, que foi herdada por
Dona Arcângela Joaquina da Silva, irmã do Padre Correia, após sua morte em
1824.
Encantado
com a exuberância do local e a amenidade do clima, o Imperador desejou adquirir
a propriedade para construção de um palácio de verão, tradição das monarquias
européias. Inclusive porque sua filha Dona Paula Mariana, de cinco anos, sempre
doente, recuperou-se bem no local e Dona Amélia sentia que as visitas da
comitiva imperial, formada por mais de cinqüenta pessoas, estavam trazendo
problemas para a proprietária; que não concordou com a venda, mas indicou uma
fazenda vizinha, a do Córrego Seco, que foi adquirida por D. Pedro, em 1830; assim
como outras propriedades do entorno, em Quitandinha e no Retiro, ampliando a
área de sua fazenda, batizada como Fazenda da Concórdia. Mas o projeto do
palácio de verão não se concretizou, pois, em 07 de abri de 1831, o Imperador
abdicou para retornar a Portugal.
Com
a morte do pai, em 1834, D. Pedro II herda a propriedade, que passa por vários
arrendamentos, até que Paulo Barbosa da Silva, Mordomo da Casa Imperial, decide
retomar os planos originais e construir um palácio de verão no alto da Serra da
Estrela. Paulo Barbosa manda construir, no Caminho Novo, no qual só transitavam
tropas de mulas, a Estrada Normal da Serra da Estrela, permitindo o acesso de
carruagens até a fazenda; obra do engenheiro alemão Júlio Frederico Köeler, com
mão de obra de colonos alemães, provenientes da região de confluência dos rios
Reno e Mosel, que haviam imigrado para a
América em virtude da crise em seu país, originada pelas conseqüências da Revolução Francesa, da abolição da
escravatura e da revolução industrial.
O
país entre, 1840 e 1850, encontrava em boas condições financeiras, em virtude
da cultura cafeeira e do afastamento dos ingleses. Paulo Barbosa e Köeller
elaboram um arrojado plano para fundar o que denominavam povoação-palácio, que
compreendia a doação de terras da fazenda imperial a colonos livres, que
construiriam uma nova povoação e seriam produtores agrícolas, substituindo o
trabalho escravo pelo trabalho livre. Em 16 de março de 1843, D. Pedro II,
assina o Decreto Imperial nº 155, que arredava as citadas terras à Köeler que,
após elaborar a planta geral da povoação-palácio, em janeiro de 1845, coloca,
na Bolsa de Valores, ações da companhia por ele criada para execução do projeto,
que são totalmente vendidas em quatro meses. Em 29 de junho, chegam os primeiros
imigrantes alemães para se instalarem no local e iniciar a construção do
arrojado plano urbanístico de uma cidade entre montanhas, aproveitando o curso
dos rios, com inversão do estilo português de construir, com rios passando ao
fundo das casas, para serem utilizados como esgoto, passando-se a aproveitar as
margens dos cursos de água para traçar avenidas e ruas e com preocupação com a
preservação da natureza.
A
presença do Imperador na cidade era uma constante, pois dedicava a ela um
imenso amor, assim como aos colonos alemães. As temporadas de verão, no palácio
da Serra da Estrela, costumavam durar seis meses e a cidade se desenvolvia
rapidamente, com tendências aristocráticas, não só pela presença do Imperador e
sua corte, como com a presença de políticos, diplomatas, grandes senhores,
ricos senhores e intelectuais, para os quais eram construídos palacetes e hotéis.
Edifícios que, hoje, integram o patrimônio arquitetônico da cidade. Em 1981, o
Decreto nº 80, impediu demolições e construções que descaracterizassem o Centro
Histórico e atribuiu à cidade o título de Cidade Imperial.
E
agora, Caro Amigo, depois de tanta dica já sabe qual cidade visitaremos? Sim,
é... está na hora de procurar hotel, contamos depois.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Petrópolis,
23 de julho de 2015.
Caro
Amigo,
Saímos
de casa pouco depois das 9 da manhã, afinal o dia estava horrível, bem com cara
de inverno, frio e chuvoso, e a previsão para o final de semana era a mesma, dava
até vontade de ficar em casa, só curtindo cama, TV e sopinha quente. Mas fazer
o que, lugar de turista é na rua, conforme o Kuc. Resolvemos ir direto (ah, ah,
ah!) para Petrópolis, sem parar no Gadioli (um restaurante delicioso em
Quiririm) ou em Penedo (uma graciosa cidade de colonização finlandesa), pois,
embora tenhamos consultado o site oficial da cidade, sem encontrar qualquer
evento especial programado para o final de semana, verificamos, através da
internet, que a maioria dos hotéis estavam lotados. Como não gostamos de fazer
reserva antecipada de hotel, para podermos mudar o curso da viagem a nossa
conveniência, decidimos que seria conveniente chegar à cidade o quanto antes
possível.
Já
na Dutra, em Lorena, demos de cara com a enorme Estátua da Liberdade, símbolo
das lojas Havan, uma enorme rede de magazines de Santa Catarina, que vende
roupas, acessórios de cozinha, cama, mesa e banho, não encontramos nada de
muito especial e nem preço de arrasar. Ao exemplo do que se vê na Europa, a
loja estava em meio a um complexo comercial onde também encontramos um
atacadista, Spani, que não conhecíamos. E por que não dar uma espiadinha?
Espiamos e gostamos, principalmente do preço dos vinhos, como o espaço no carro
ainda (ah, ah, ah!) permitia, resolvemos
comprar algumas caixas, afinal o inverno estava aí mesmo.
Chegamos
à cidade, no alto da Serra da Estrela, às cinco da tarde, uma verdadeira noite,
com 11 graus e sob uma névoa grossa, uma garoa, um verdadeiro fog londrino, que
era rompido, aqui e ali, pela luz amarela que tentava luzir no topo dos baixos
postes de ferro fundido, uma das figuras emblemáticas da cidade imperial.
Apesar de tudo, a rua estava cheia, lojas abertas, um vai-e-vem de gente,
provavelmente voltando do serviço, porque comprar mesmo, na atual conjuntura do
país, é coisa para poucos atrevidos.
Começamos
a procura de um hotel, com preço e qualidade que nos parecessem aceitáveis.
Realmente os hotéis medianos estavam cheios, encontramos vagas em alguns
baratos, onde era impossível ficar, e em outros cujo preço não nos agradou em
nada. Na cidade, a exemplo de Campos do Jordão, também seria realizado, pelo
SESC, um festival de inverno, que não aparecida no site de Prefeitura, além do
encontro de jovens “Jornada Diosezana da Juventude”. Decidimos deixar o centro
e procurar nos bairros, em Quitandinha, na entrada da cidade, encontramos a
Pousada Capadócia (Rua Domingos Silvério, 158, Quitandinha, Petrópolis, RJ,
telefone (24) 2247-9227/2243-1017, com quartos minúsculos, mas limpinhos e
novos; localização segura, próximo a um batalhão da PM; e café da manhã decente.
O nome já nos era simpático, perguntamos se o dono era turco, descobrimos que
não, na verdade visitou a cidade e ficou apaixonado e tentou reproduzir o
encanto em seu hotel.
O
que faltava ao quarto em espaço, sobrava em gentileza ao Fabiano, que nos atendeu
na recepção e concedeu um desconto de 10% de desconto pela longa estadia,
informando que só teria vaga até sábado, mas prometendo que, se houvesse
qualquer desistência, não guardaria a vaga para o domingo. Na mesma noite,
enquanto jantávamos, recebemos seu telefonema informando que já estava tudo
resolvido e poderíamos ficar até domingo.
Mas
voltando à dica do Fabiano... está na hora do café, contamos depois.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Petrópolis
/ Palácios, 24 de julho de 2015.
Caro
Amigo,
Com
a indicação do Restaurante Majorica, Avenida do Imperador, nº 754, (24)
2242-2498 (www.majorica.com.br), voltamos para a chuvosa noite e para o
trânsito chato, um esforço ínfimo perto do prazer que nos aguardava. É bem verdade
que no ar havia um odôr de comida um pouco além do desejável, provavelmente
porque o frio obrigava a manutenção de portas e janela bem fechadas, mas era um
pequeno detalhe que em nada afetou nosso jantar. Fomos muito bem recebidos e
nosso garçom, Michael, com presteza nos ajudou a escolher entre um Bife de
Chorizo e um Bife Ancho, o primeiro com uma capa de gordura ao redor e o
segundo, mais alto, com gordura interna, marmorizada, só queríamos saber se
estariam à altura de um bife argentino. E não adianta torcer o nariz, Caro
Amigo, carne sem uma gordurinha é palha!
Ele
também nos foi de grande valia na escolha da batata para acompanhar o bife,
pois era grande a variedade. Nos decidimos pela Batata Piamontesa, com
cogumelos puxados na manteiga, aos quais são agregados presunto, batata ralada
e creme de leite fresco; tudo colocado em uma assadeira, polvilhado com queijo
e levado ao forno para gratinar, receita declamada (é, Caro Amigo, porque
comida aos nossos olhos e ouvidos é poesia , ah, ah, ah!). Nem é preciso dizer
como estava bom, nada de chamar cachorros e passar embaixo da mesa; era para
comer bem escondidinho, para não ter que dividir com ninguém. E o bife? Só
podemos dizer que nunca comemos um Bife Ancho tão bom fora da Argentina, em
nenhum dos restaurantes argentinos que já comemos pelo mundo; ele era macio,
tinha aquela casquinha queimadinha pela brasa, firme e crocante, seu interior
era vermelho, macio, escorria líquido, era para comer gemendo. Uma delícia!
A Cidade de Pedro (Petro / Polis), como o Caro
Amigo já sabe, nasceu com uma herança imperial, aristocrática, e seguindo o
curso dos rios da região, o Quitandinha e o Piabanha, o que torna um simples
passeio pela Avenida Tiradentes e arredores, para observar seus suntuosos
casarões, palacetes, um prazer indescritível, um caminhar entre jardins, cursos
de água, pequenas pontes e maravilhosas e exuberantes construções. Uma
verdadeira aula de história, de decoração e de bom gosto. Seu conjunto
arquitetônico é variado, incluindo o mediterrâneo, o eclético e o neoclássico
francês, e a conservação dos edifícios, em sua maioria, está invejável.
As
varandas de ferro fundido, ora vazias e silenciosas, parecem prestes a receber
algumas senhoras, em seus amplos vestidos de tafetá, para um chá em serviço de
limoges (fina porcelana francesa) e conversas sobre amenidades, enquanto as
crianças se dedicam a traquinagens no jardim.
Fomos
passeamos pelos casarões e seus jardins e passamos pela Catedral de São Pedro
de Alcântara, na rua de mesmo nome, onde estão os restos mortais da família
imperial, de Dom Pedro II, da rainha Thereza Cristina, da Princesa Isabel e seu
esposo, Conde D’Eu. Seu estilo neogótico francês e seus vitrais merecem uma
paradinha para observar mais algumas das maravilhas que Deus nos proporciona.
Seguindo
o passeio é possível visitar o Palácio Amarelo, na Praça Visconde de Mauá, 89, construído
como casa de veraneio de José Carlos Mayrink, na metade do século XIX, que
abriga, hoje, a Câmara Municipal. Há uma pequena visita guiada, gratuita, para
conhecer o elegante salão onde se realizam os trabalhos.
O
Palácio do Rio Negro, ou Palácio dos Presidentes, na Av. Koeler, 255, telefone
(24) 2246-2423 (www.mprn@museus.gov.br) foi
construído em 1889, por um rico produtor de café, o Barão do Rio Branco, com
escadarias em mármore e piso em parquet (mosaico feito através do encaixe de
madeira de tonalidades variadas), feito com madeiras nobres do país e desenhos
de grãos de café. O Palácio passou a ser usado como residência de verão dos
residentes da República a partir de 1903. Contam que Getúlio adorava suas
temporadas no palácio e costumava sair, para seus passeios pela cidade, com os
bolsos cheios de moedas e balas, para distribuir para a criançada.
Nos
fundos do Palácio, fica um pequeno museu da FEB, cuidado pelos filhos dos
pracinhas, que foram mais de 200 de Petrópolis a lutar na 2ª Guerra Mundial,
quatro ainda vivos. Vale a pena uma visitinha para prestigiá-los e deixar uma pequena
contribuição para preservação de sua história.
Demos
uma paradinha para brincar no Museu de Cera, na Rua Barão do Amazonas, 35 (www.museudeceradepetropolis.com). Há
personagens de semelhança impressionante. Seria perfeito não fosse termos
encontrado ao Dilma e o Lula juntos, aí não tem brasileiro que agüente (ah, ah,
ah!).
Conta
a lenda que, na Europa medieval, havia uma... bem. Mas já estamos atrasados
para o café, hoje é dia de compras, contamos depois.
Beijos,
Sayo
e Claudio
PS
– O jantar em uma região chamada Centro Gastronômico, porque concentra bares e
restaurantes, no Restaurante S ’a Carola, Rua Gonçalves Dias, 414, telefone
(24) 2237-9562 (sacarola@globo.com). Comemos
massa, lógico, já que o restaurante é italiano, uma com molho de gorgonzola e
camarão e a outra como molho de tomate, manjericão e camarão. Recomendamos o
local, pois a comida é boa, o pessoal muito gentil e o ambiente bem charmoso.
Não deixe de provar a torta mousse de chocolate.
Petrópolis
/ Museu Imperial, 25 de julho de 2015.
Caro
Amigo,
Havia
uma velha curandeira, chamada Eslovenka, que vivia a espalhar o bem às pessoas
que a rodeavam. Como não poderia deixar de ser, em um triste dia um invejoso
conde, que desejava ter as atenções do povo só para ele, acusou-a de bruxaria e
mandou que seus guardas a prendessem. Mas a providência, que sempre ampara os
que fazem o bem, enviou-lhe um lindo anjo, que lhe sussurrou ao ouvido um modo
de deixar sua casa invisível aos inimigos, colocando proteções decoradas nas
beiras da casa. Assim, o anjo ensinou a boa Eslovenka a fazer lambrequins, e
com a casa toda linda e enfeitada, ela ficou livre dos malvados que queriam
jogá-la na fogueira.
Se
é tudo verdade não sabemos, mas o fato é que difundiu-se pelo mundo o uso dos
lambrequins (recortes e pendentes, que podem ser feitos em madeira, metal,
tecido ou outros materiais, e são usados na arquitetura ou decoração), trabalho
paciencioso de verdadeiros artistas, são rendados que pendem ao final dos
telhados, dão aos casarões um ar romântico, de casinha de brinquedo. Mas dizem,
ainda, que não se trata de um simples rendilhado, dizem que eles têm significados
Os cachos de uva, por exemplo, afastam a miséria e trazem fartura; já os
animais representam sorte na pecuária; as flores afastam a discórdia, trazendo
paz e harmonia e os corações, lógico, trazem muito amor. Não é lindo! Agora o
Caro Amigo também não está ansioso para encher sua casa de lambrequins?
Fomos
aos ares na “A Encantada”, na Rua do Encanto, 22, telefone (24) 2247-522 (www.petropolis.rj.gov.br), curiosa
casa de Santos Dumont, um chalé estilo alpino francês, que parece mesmo flutuar
no ar. Uma casa super austera, projeto dele, foi construída em 1918, quando ele
já era famoso por seus feitos. A casa composta por oficina, sala, quarto e
banheiro, sem cozinha, pois ele encomendava comida do Palace Hotel que ficava
ao lado, Dumont projetou também os móveis aproveitando ao máximo os espaços da
pequena casa, de modos que sua cama virava escrivaninha, o armário ficava atrás
da porta, as escadas eram formadas por meios degraus e o chuveiro, uma espécie
de balde, misturava água quente e fria. É possível assistir um filme contando
um pouco da vida do ilustre inventor.
Ir
a Petrópolis e não visitar a Boemia é algo inadmissível, pecado quase mortal
que jamais cometeríamos. Ela também fica no centro da cidade, na Rua Alfredo
Pachá, 166, (24) 2020-9050 (www.cervejariabohemia.com.br), onde
facilmente se chega caminhando. É um divertido programa, que conta a história
da cerveja, desde sua descoberta, de um modo lúdico e interativo. E para fechar
com charme de ouro, é possível degustar os últimos lançamentos, comprar
lembrancinhas e até fazer refeições.
Do
mesmo autor do projeto do Cristo Redentor do Rio de Janeiro, é o Trono de
Fátima de Petrópolis. Um monumento de 14 metros de altura. Uma cúpula, apoiada
em sete colunas, que representam os dons do Espírito Santo, abriga uma estátua
de 3,5 m, em mármore branco, da Virgem; e sobre ela há uma imagem do anjo
Gabriel. Do local, no alto de um morro, é possível ter uma boa visão da cidade
e entender porque o trânsito na cidade é chatinho, pois as ruas são estreitas,
já que foram construídas entre morros e cursos de água.
Outra
visita obrigatória é o Museu Imperial, na Rua da Imperatriz, 220, (24)
2247-8000, (www.museuimperial.gov.br), que
funciona onde, outrora, foi a residência de verão de D. Pedro II, um palácio em
estilo neoclássico, e um de seus locais prediletos. Ele não fica nada a dever a
muitos palácios que vimos fora do Brasil, com tetos pintados e decorados com
estuqueses, mobiliado e decorado de modo a permitir conhecer os hábitos de seus
moradores e um pouco do modo de vida da época, em seus aspectos sociais,
políticos, culturais e econômicos; além de guardar peças preciosas, como a
coroa do Imperador e a pena, de ouro, com a qual foi assinada a Lei Áurea.
Em
alguns dias da semana, normalmente aos finais, melhor o Caro Amigo confirmar
antes de ir, são realizados espetáculos de luz
e som e saraus no museu, à noite, cujos ingressos podem ser comprados
conjuntamente com desconto. O espetáculo de luz e som gostamos, já vimos bem
melhores, a quantidade de pessoas é grande e a coisa fica muito confusa; vale
mais pelo pouco de história que se escuta, que pelo que se pode ver de imagens.
Já
o sarau, adoramos. É um bate papo entre a Princesa Isabel e alguns amigos,
entremeado por apresentações musicais e declamações de poesias. Os artistas
interagem com o público, convidando a platéia a subir ao palco e ler notícias
dos jornais da época, declamar e até cantar. Por vezes é hilário. Nos jardins
do palácio há um pequeno restaurante, no qual é possível comer algo leve,
pensamos em jantar por lá, mas não nos pareceu que a comida fosse tão gostosa.
E
em falando de família imperial, era costume, na época, realizarem exposições de
flores e produtos agrícolas no passeio público, onde hoje está a Rua Alfredo
Pachá, mais à frente da Cervejaria Bohemia. Então, a Princesa Isabel e seu
esposo, o Conde D’Eu, encomendaram, na França, uma estrutura de ferro fundido e
paredes de cristal, uma estufa para abrigar as exposições, o Palácio de
Cristal. No local, hoje, existe um Centro de Informações Turísticas e são
realizados shows e eventos.
Mas
voltando ao Palácio, enquanto estávamos por lá, lendo alguns dos painéis
explicativos, que falava sobre os estuques de flores e frutas, encontramos uma
palavra que nos chamou atenção, pois no pareceu bem estranha, não tínhamos a
menor idéia do que seria a tal “cornucópia”, mas fomos pesquisar e, pasme o
Caro Amigo, trata-se de... está na hora do café, contamos depois.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Petrópolis
/ Compras, 25 de junho de 2015.
Caro
Amigo,
Já
íamos esquecendo de contar, jantamos na Adega Luigi, na Praça da Liberdade,185,
(24) 2244-4444 , (www.luigi.com.br). O restaurante, italiano, é bem
movimentado, tem uma boa carta de vinhos, uma mesa de antepastos e as massas
são legais, mas nada de excepcional. Comemos nhoque de manjericão e ravióli de
gorgonzola. A diversão da noite ficou por conta de um casal de Caros Amigos, de
Santos, que encontramos por lá. O mundo é mesmo um ovo!
Assim
como quase todas as cidades fundadas antes da era dos automóveis, quase tudo
pode ser visitado com simples caminhadas, a cidade está bem cuidada e limpa, o
que torna o ato um grande prazer, embora haja uma grande deficiência de placas
de rua. Assim que se hospedar no centro facilita muito a coisa. Nós acabamos
ficando no bairro Quintandinha, o que não foi um grande problema, pois vamos de
carro até o centro, onde estacionamos em alguma rua sem zona azul, e o pegamos
no final do dia, para voltar ao hotel antes de nos prepararmos para o jantar.
Dizem que, passado julho, os preços dos hotéis caem bastante e é muito fácil
encontrar hospedagem no centro da cidade.
Estivemos
também na Casa de Claudio de Sousa, na Praça da Liberdade, 247, (24) 2231-5156;
que foi um médico e escritor, membro da Academia Brasileira de Letras. Além dos
locais que visitamos, existem ainda diversos casarões e museus abertos à
visitação, que podem ser vistos em uma visita mais prolongada e de acordo com
os interesses pessoais de cada um.
A
cidade é famosa por ser um excelente local para compra de vestuário, um deleite
para as mulheres, mas um martírio para os homens, que ficam com a parte ruim de
carregar as sacolas (ah, ah, ah!). Destacam-se o Bairro de Bigen e a Rua Teresa.
Visitamos a última, com as suas mais de 1200 lojas, a maioria com confecção
própria. Fomos conferir! Pelo que dizem, demos sorte de ir num sábado
excepcional, com poucos compradores, mas não foi o que nos pareceu. Por sorte
chegamos cedo, assim tivemos a chance de ver boa parte da rua ainda vazia, sem
fila para provar roupas e para pagá-las. Na Rua Teresa há uma doçaria
(esquecemos de anotar o endereço exato), Doces Húngaros, com folheados
deliciosos e um Centro de Atendimento aos Turistas, com banheiros, wi-fi etc.
Já que os preços não estavam ruins, fomos obrigados a fazer algumas comprinhas,
mas nos pareceu que o Pari, onde estivemos recentemente com algumas amigas,
estava ainda mais barato.
Fomos
conferir também uma tal “Feirinha”, na BR-40, no trevo de acesso ao distrito de
Itaipava, é algo parecido com um camelódromo, pouca coisa mais sofisticada. São
cerca de 390 stands, que vendem vestuário, calçados, bijuterias e algum
artesanato. A grande vantagem é que o local tem estacionamento, banheiro e é
coberto, assim evita-se chuva e sol.
A
região nos arredores de Petrópolis, entre os distritos de Araras, Itaipava e
Correas, é badaladíssima, é famosa por sua gastronomia e recebe um grande
afluxo de turistas vindos do Rio somente para tomar uma cervejinha e se
deleitarem com seus quitutes. Fizemos um happy hour no Restaurante Bordeaux,
Rua Ipiranga, 716 (www.bordeauxvinhos.com.br) e não nos
arrependemos.
Procurávamos
um restaurante alemão para o jantar, mas não tivemos sorte, o Pavelka, que nos
indicaram com sendo um, dedica-se mais a lanches e fecha às 21:00 horas.
Acabamos jantando perto do hotel, num restaurante italiano, o Manarolla, na Rua
Olavo Bilac, 165, (24) 2245-3009. Nada excepcional, com boa variedade de vinhos
e Filé ao Gorgonzola saboroso e preparado bem ao ponto.
Mas
e a tal cornucópia? Achamos a palavra fantástica, surreal, coisa de jornada nas
estrelas e, afinal, descobrimos que se trata de um símbolo de fertilidade,
riqueza e abundância, uma espécie de chifre, transformada em vaso, a partir do
qual se espalham flores e frutos. Sua origem na mitologia greco-romana, dos
chifres da cabra Amalteia, que amamentou Zeus/Júpiter quando criança. Hoje,
simboliza a agricultura e o comércio, sendo utilizada em vestuário e decoração
em uma forma estilizada.
Como
os dias estavam lindos, apesar do frio, decidimos ficar mais alguns dias pela
região serrana do Rio, para descansar um pouco mais e comprar uns acessórios
muito especiais, resolvemos dar uma esticadinha até... estamos atrasados, vamos
a um concerto, contamos depois.
Beijos,
Sayo
e Claudio
PS
– Adoramos as cornucópias e como descobrimos que elas são enviadas no Dia de
Ação de Graças, como um cartão desejando prosperidade, resolvemos enviar
algumas para o Caro Amigo, com os mesmos votos, que poderá colorir-las,
aproveitando para relaxar.
Petrópolis/Quitandinha,
26 de julho de 2015.
Caro
Amigo,
Mas
antes de deixar a cidade para o nosso próximo destino, fomos ao Quitandinha, Avenida
Joaquim Rolla, 2, (24) 2245-2020, para uma das oficinas do Festival de Inverno
do SESC, que incluía uma visita guiada pelas
instalações do que foi, a seu tempo, na década de 40, o maior hotel/cassino das
Américas, que talvez tivesse contribuído para tornar o Brasil uma Las Vegas,
não fossem as carolices de uma primeira dama (não custa sonhar). Mas à medida
que formos realizando a visita, que muito nos impressionou, iremos contando um pouco mais dessa
interessante história. Afinal, adoramos contar histórias e acreditamos que o
Caro Amigo adore escutar (ah, ah, ah!).
Na
região de Petrópolis, havia uma fazenda que montava uma pequena quitanda para
vender seus produtos, uma quitandinha. Quando Joaquim Rolla, um visionário, um
empreendedor como poucos; nascido em Minas Gerais, no ano de 1899, em uma
família paupérrima, decide construir seu cassino/hotel na região, para fugir
das pressões dos concorrentes no rio, compra a tal fazenda, em 1939, e o local
passa a chamar-se Quintandinha.
E
como ele consegui o dinheiro para essa obra monumental? Quando criança
trabalhou como tropeiro e, na adolescência, passou a trabalhar com um tio
empreiteiro, economizando todo o dinheiro que ganhava. Aos 30 anos, muito
articulado e já com uma fortuna considerável, vai para o Rio e torna-se amigo
de Getúlio. Ao conhecer o Cassino da Urca, apaixona-se pelo ramo do
entretenimento. Compra esse cassino e o reforma, transformando-o num grande
sucesso, inclusive com contrato de exclusividade de Carmen Miranda. Aí já é um
homem rico, proprietário de muitos outros cassinos, inclusive o de Araxá.
Em
12/02/44, o Hotel Cassino Quitandinha é inaugurado com toda a pompa e circunstância,
com seu exterior em estilo normando francês, com frotas de limusines para trazer
os hóspedes do Rio para Petrópolis. Seu interior é um arraso, em arte nouveau e
art déco, utilizando contraste de cores, motivos marinhos e muitos estuques em
gesso.
Sua
cúpula, com vão livre, só perde em tamanho para a do vaticano, sob ela
funcionava o cassino, em meio a uma perfeita acústica, que projetava toda a
profusão do ruído das roletas e seus jogadores, sob a grande cúpula que, azul,
continha todas as estrelas do céu e um gigantesco lustre, em forma de globo
terrestre, que se iluminava no país de origem dos freqüentadores do cassino no
dia. Um desbunde!
Na
galeria das estrelas, onde ainda pendem os lustres elaborados pela Tiffany, em
forma de estrela, especialmente para o Quitandinha, vitrines exibiam as mais
finas jóias das mas famosas joalherias, outra tentação para os freqüentadores.
Hoje elas exibem fotos das personalidades famosas que se exibiram no local.
Os
pisos são de mármore e granito, formando arabescos. Há um jardim de inverno
que, outrora, era repleto de pássaros e flores naturais, trazendo um ar calmo
onde os freqüentadores podiam ler e repousar; que podia ser observado pelos
hóspedes que faziam uso da piscina térmica cenográfica, em formato de piano, iluminada, que com profundidade de um a
quatro metros, a fim de proporcionar as condições ideais de reflexão dos
motivos marinhos que revestiam as paredes do salão, formando um verdadeiro
efeito 3D.
A
sala de refeições contém um pequeno avarandado, onde músicos tocavam violino
durante todas as refeições, e espaço suficiente para mil pessoas. Mas por que
toda essa maravilha acabou? Uma ótima pergunta! Porque, em 1946, somente dois
anos após a inauguração do Quitandinha, o então Presidente da República, Dutra,
a pedido de sua esposa, que, muito religiosa, foi influenciada pela igreja,
assinou um decreto proibindo os cassinos, o jogo, no país.
Joaquim
Rolla tenta manter o Quitandinha funcionando, realizando shows e eventos, como
bailes de carnaval e o Concurso de Miss Brasil, que passaram a ser realizados
onde funcionava o Café Concerto, mas as medidas foram insuficientes, pois a manutenção
do complexo era muito dispendiosa. No final dos anos 50, Rolla vende, a parte que
correspondia ao hotel, que foi transformada em apartamentos, para particulares,
nascendo um condomínio no local. A parte inferior é vendida para um clube e,
posteriormente, locada para eventos, o pior período para o Quitandinha, pois foi saqueado e quase destruído.
Finalmente,
em 2007, o SESC compra a parte inferior e inicia uma grande reforma que, pouco
a pouco, vai trazendo de volta os tempos áureos do magnífico Quitandinha, que,
agora, pode ser visitado pelo público de terça a domingo, durante todo o ano. E
por falar em SESC, o Festival de Inverno organizado por ele ocorre em
Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, simultaneamente, com diversos eventos,
como apresentações musicais, oficinas e exibição de filmes, ocorrendo em vários
pontos das três cidades.
Estamos
notando, no semblante do Caro Amigo, que a conversa já foi longe demais, é que
o entusiasmo de nossa guia nos contaminou e ficamos apaixonados pelo assunto,
vamos dar uma folguinha e deixar nosso novo destino para amanhã.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Nova
Friburgo, 27 de julho de 2015.
Caro
Amigo,
Como
já é de seu conhecimento, resolvemos esticar até Nova Friburgo. Uma viagem de cerca
de duas horas, entre vilarejos, refúgios da correria das grandes cidades,
montanhas e pequenos vales, onde são plantadas hortaliças. E, pasme o Caro
Amigo, pois a princípio nem nós acreditamos, pela estrada ainda é possível
deleitar-se observando, aqui e ali, estampadas contra um cenário azul
esverdeado ou verde azulado, pequenas flores cor-de-rosa, que enchem tortuosos
galhos, parcos de folhas. Ainda é possível ver as cerejeiras floridas! Há uma
colônia japonesa em Nova Friburgo, que realiza, anualmente, em meados de junho
a Festa da Cerejeira, precisamos voltar no ano que vem (ah, ah, ah!).
A
tarde ia avançada quando chegamos à cidade. Encontramos hotel com facilidade,
afinal, domingo à tarde, a maioria dos turistas já voltou para casa. Ficamos no
bairro Suspiro, no Hotel Mount Everest, localizado na Rua Manoel Antônio
Ventura, 75, (22) 2522-7350 (www.hotelmounteverest.com.br). Ele é um
hotel mediano, algo entre duas e três estrelas, assim como todos os hotéis que
costumamos ficar, mas é bem legalzinho, tem uma pequena piscina, lareira, ótima
localização e café da manhã delicioso, com uma grande variedade de deliciosos
bolos, tortas, mousses e salgadinhos, que, descobrimos, são feitos pelo
confeiteiro de uma das melhores padarias da cidade, que vem ao hotel para
prepará-los.
Logo
na chegada, comprado ingressos para o concerto do Festival de Inverno daquela
noite, no SESC. Os lugares não eram numerados, mas demos a sorte de sentar bem
no meio da primeira fileira, na turma do gargarejo, para nos deleitarmos e nos
emocionarmos com a Orquestra Ouro Preto e Zé Renato apresentando, lindamente,
Beatles. O maestro nos contou que se trata de um projeto da Universidade de
Ouro Preto, realizado a partir do desejo do reitor de trazer os jovens, nas
noites de sexta e sábado, ao teatro para escutar boa música. Foi um de nossos
maiores acertos em toda a viagem, pois um espetáculo foi simplesmente maravilhoso.
Completamos
a noite no La Bamba, na Rua Salusse, 7, (22) 2522-9869 mas não foi dançando
não, infelizmente, pois adoramos dançar. Foi jantando uma das iguarias da
região, trutas, uma com molho de ervas finas, batatas douradas e arroz com
brócolis, a outra com batatas soutê, alcaparras e creme de espinafre. Tudo
delicioso, mas sem aquele delicioso café expresso no final da refeição, parece
que aqui no Rio o pessoal não é fanático pelo expresso como nós em São Paulo.
Mas
o Caro Amigo deve estar se roendo de curiosidade para saber o que foi que
viemos comprar aqui, e contaremos, com detalhes, mas só amanha, pois estamos
muito cansados, afinal foram tantas emoções para um só dia que os velhinhos
precisam de um descanso (ah, ah, ah!).
Beijos,
Sayo
e Claudio.
Friburgo/Compras,
28 de julho de 2015.
Caro
Amigo,
Não
levantamos muito cedo não, afinal segunda-feira é o dia internacional do regime
e da preguiça. Depois do café, caminhamos pela cidade e fomos ao Centro de Informações
Turísticas. A Nova Friburgo não tem muito a oferecer em termos de museus e
monumentos, mas tem vários circuitos gastronômicos e ecológicos pelos
arredores, pois possui uma das maiores áreas de Mata Atlântica do país e
montanhas com mais de 2.000 metros de altitude, que deixaremos para outra
oportunidade. A cidade, para atrair turistas durante todo o ano, tem um vasto
calendário de festas: Festa do Colonizador, Fest Truta, Festival de Inverno,
Festival das Colônias, Festa de Queijos e Vinhos, Friburgo Festival, Festa da Arte
e Festa Alemã, entre outras.
Como
o comércio abre após 13:00 horas nas segundas, aproveitamos a manhã para fazer
um passeio de teleférico, que parte da Praça dos Suspiros. Lá do alto é
possível observar a cidade e seu entorno, e, para os que gostam, jogar boliche
ou brincar em algum dos brinquedos do parque de diversões.
O
Country Club fica em um enorme parque, utilizado pela população para agradáveis
caminhadas à sobra da vegetação exuberante, que rodeia os lagos. O local também
é utilizado para realização dos muitos eventos e feiras que movimentam a
cidade.
Passavam das
13:00 horas e nos dirigimos às compras, já que, dizem,
a cidade é um destaque nacional no
pólo de moda íntima, com centenas de lojas de lingerie, oferecendo qualidade e
preços para todos os bolsos. Como mulher
sempre encontra algo que esteja precisando para comprar, principalmente se os
preços forem convidativos, não me (Sayo) fiz de rogada e me diverti entre
calcinhas, sutiãs, cuecas, camisolas, meias e moda fitness. Os preços são
realmente bons, a partir de R$3,00 ou R$4,00 reais já se pode comprar algo, mas
também tem peças mais finas. Já quanto à qualidade, contaremos daqui a alguns
meses (ou dias) de uso (ah, ah, ah!).
O Circuito Caledônia passa pelos bairros mais nobres
da cidade e por montes, vales e cachoeiras, em direção ao ponto mais alto do
município, o Pico da Caledônia. Muitos chefs resolveram estabelecer, na região,
seus restaurantes, principalmente no Cônego. Foi por lá que encontramos um
tradicionalíssimo restaurante alemão, o Bürgermeíster. É um pequeno restaurante
familiar, de decoração agradável, onde o Sr. Braulio, descendente de alemães, e
seu filho, encarregam-se de quase tudo, inclusive da elaboração de bebidas,
como licor de laranja (Countreau),
schnaps (com água ardente, passas, damasco e maçã) e walcholder (água
ardente de gengibre), que deve ficar uma delicia no chá, para espantar o frio
de alguma noite de inverno. Compramos
alguns, claro!
Mas
vamos à comida, um joelho de porco defumado tenro, tão macio que se soltava do
osso ao simples toque do garfo; batata rosti que, como o Caro Amigo já sabe, é,
basicamente, batata ralada acrescida de toucinho picado e cebola, levada ao
fogo (ou forno) em uma frigideira, adquirindo o formato de um omelete redondo;
chucrutes (repolho azedo), mostardas e raiz forte. Tudo deliciosamente
impecável, melhor que a grande maioria dos que já comemos na Alemanha, e Sr.
Braulio explicou o motivo.
Acontece
que ele segue, à risca, as receitas de um livro de receitas alemão, editado em
1800 e bolinha, realiza uma culinária mais que tradicional, já no próprio país
de origem, na Alemanha, as receitas vão se modernizando, agregando novos
ingredientes e modos de preparo, mais simplificado, em virtude da correria da
vida moderna. E há muita lógica em suas palavras, inclusive ouvimos igual comentário
quando o imperador do Japão veio a Santos e provou a culinária dos imigrantes
japoneses. Saímos de lá arrasados de tanto comer e bem alegrinhos, já que
provamos todas as bebidas por ele produzidas. Tomamos até um cafezinho de coador,
porque expresso não tinha, e temos que confessar que até nisso o Sr. Braulio é
expert, estava melhor que o meu, que é bem bonzinho.
E
chegou a hora de voltar para casa. Sim, Caro Amigo, também gostaríamos de ficar
mais um pouco, mas o dever nos chama. Porém, antes, para não perder o hábito,
pois sempre o fazemos quando andamos pelo Rio, faremos uma visitinha a... vamos
dar uma paradinha na Casa Suíça para compra alguns queijos e chocolates,
contamos depois.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Penedo,
29 de julho de 2015.
Caro
Amigo,
Demos
uma paradinha em Penedo, um vilarejo de Itatiaia, colonização finlandesa, já na
saída do Rio. Ele parece uma casinha de bonecas, vale uma pequena visita, nem
que seja para um curta caminhada e um café com uma fatia de bolo (que, devo
confessar, é uma das minhas maiores paixões).
Só
que decidimos esticar a paradinha, ficar para dormir e comer um fondue, afinal
é inverno. Não com facilidade encontramos hospedagem a preços módicos, pois a
cidade, por incrível que possa parecer, numa terça-feira, estava lotada.
Ficamos na Laço e Nó,uma pousada simples, com chalés, na Avenida Brasil, 718, (24) 3351-2410, (lacoeno@hotwave.com.br), com
localização excelente, bem no centro da rua principal de Penedo.
Vários
restaurantes ofereciam o rodízio de fondue, oferecendo o de queijo, servido com
pão, de chocolate, servido com frutas frescas e bolacha, e de carne (filé,
frango, lombo de porco e lingüiça defumada), servido com molhos: mostarda, alho
azeitona, rose, tártaro, morango. Acabamos optando pelo Restaurante Aglio e
Olio, na Rua das Velas, 220, (24) 3351-2242, por que seu fondue de carne é
preparado numa chapa quente, muito mais saudável que o dos demais restaurantes,
que o preparam em uma panela de óleo. De modo geral estava ótimo, pode-se comer
à vontade, então, no de carne, ficamos quase que só no filé, nosso predileto.
Quanto ao de queijo, não era exatamente a boa receita suíça que tenho, com
queijo do reino, vinho branco e kirsch (pinga de cereja), era um creme que
continha mais creme de leite que queijo; reclamei e recebemos algo com um pouco
mais de queijo e menos creme de leite, mas, mesmo assim, não era o fondue de
queijo que conhecemos, apesar de ter gosto agradável.
Viajar
é como ir à escola, aprende-se muito, transformam-se conceitos. Quando saíamos
de Nova Friburgo, paramos na Casa Suíça, (22), 2529-4000 (www.casasuica.info) onde
comemos uma maravilhosa torta de chocolate (fina e crocante massa; recheio de
mousse de chocolate e creme de banana, cobertura de ganache de chocolate);
visitamos a fábrica de chocolate e de queijos; compramos alguns dos principais
produtos por eles fabricados, queijos de cabra, chocolates e biscoitos
amanteigados. Mas, principalmente, ao visitar o Museu da Colonização, que
existe no local, e nos surpreendemos com o muito que aprendemos e que gostaríamos
de dividir com o Caro Amigo.
A colônia de
Nova Friburgo foi criada por decreto real, no dia 16 de maio de 1818, quando D.
João VI contratou a vinda de 400 famílias suíças para instalar-se nesta área,
que na época era conhecida como Fazenda do Morro Queimado. Isso foi a primeira coisa que nos causou
estranheza, não sabíamos, acreditávamos que a imigração de colonos havia
começado só após a abolição da escravatura, em 1888; mas, dizem, o próprio D.
João VI acreditava no trabalho de homens
livres (ou não queria comprar briga com a Inglaterra). Em 1824, foi acrescido à
Vila de Nova Friburgo um contingente alemão. A partir dessa data, a região
passou a receber imigrantes italianos, austríacos, libaneses espanhóis,
portugueses e japoneses, entre outros. A cidade foi a primeira colônia de
europeus do Hemisfério Sul.
Mas, como bem
sabemos, via de regra, ninguém deixa seu país, onde vive confortável mente para
aventurar-se e tentar ganhar seu sustento em terras desconhecidas; são as
desgraças, quase sempre, infelizmente, que impulsionam o mundo. E o Caro Amigo, assim como nós o fizemos,
deve estar se perguntando o que teria trazido os suíços até aqui.
Em 1816, após
a guerra com Napoleão, instala-se, na Suíça, um cenário de fome e morte.
Máquinas e produtos ingleses são vendidos pela Europa, já que a Inglaterra foi
a precursora da Revolução Industrial, que substituiu o trabalho artesanal pelo
assalariado e com uso de máquinas, e, em conseqüência, os salários caem e o
desemprego aumenta, instalando a miséria na mesa do operário e do artesão.
A Europa
sofre com uma crise alimentar, em face de uma catástrofe ecológica na Ásia, a
erupção do vulcão Tambora (dê uma lida: https://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_Tambora), na
Indonésia, a maior já ocorrida na terra, que transformou o clima europeu,
fazendo com que a chuva e o frio prevalecessem sobre a luz e o calor, não houve
verão no hemisfério norte. A neve impede a alimentação do gado; inundações
destroem a lavoura; autoridades gastam fortunas para importar trigo, arroz e
lentilha. Também não conhecíamos esse detalhe da história.
Contam que a
fome dominou a Europa e, principalmente, todo o leste da Suíça, que a desgraça
rompeu destinos e básicos laços sociais, obrigando homens da deixarem suas
famílias e se alistarem no exército francês; mães a se jogarem nos rios para
não ouvir os filhos chorarem de fome; pais a obrigarem os filhos a mendigar. Dizem
que se via gente comendo carniça e pastando com cavalos e vacas. E, lógico, a
população, debilitada pela carência alimentar e pelo sofrimento, não resiste à
agressão de bactérias, adoecendo e morrendo.
Sendo esse o tenebroso
cenário que trouxe os suíços à Nova Friburgo, à América, e que, muito
provavelmente, é m cenário muito parecido que moveu, move e moverá imigrantes
pelo mundo. Conhecer essa pequena parte da história, com essa riqueza de
tristes detalhes, sinceramente no chocou, mas nos fez parar para refletir um
pouco sobre muito do que vemos acontecer atualmente, duzentos anos depois, e
sobre o nosso papel nesta vida tão fugaz.
E, absortos
em tão complexas conjunturas, demos uma paradinha em Aparecida para, uma vez
mais, agradecer a Deus pelas bênçãos que sempre derrama sobre nós e, ainda
cismando, lembramos das palavras de um sorveteiro a um camelô, em uma praça, em
Nova Friburgo, em resposta à indagação de como ele estava passando:
“_
Em saber que você está bem, eu fiquei ainda melhor”.
Palavras
muito boas de serem escutadas! E é o que respondemos aos Caros Amigos que,
saudosos, assim como nós, nos enviaram mensagens.
Uma
vez mais, como sempre acontece, com a graça do bom Deus, tivemos o imenso
prazer de visitar lindos lugares e conhecer pessoas admiráveis, como já lhe
contamos, que cruzaram o nosso caminho e contribuíram para tornar nossas vidas
ainda mais felizes; além de contar com a excelente companhia do Caro Amigo,
lógico!
Obrigado
por escolher nossa empresa para sua viagem (ah, ah, ah!)
Hasta la
vista!
Beijos,
Sayo e
Claudio