Santos, 08 de agosto
de 2014.
Caro Amigo,
Ouvimos dizer que,
no auge do verão, nas longínquas terras da Noruega, o sol jamais se põe; ele
chega a quase deitar-se no horizonte, num lindo pôr do sol avermelhado, para,
novamente, percorrer o caminho de volta ao meio do céu, sem que nunca chegue o
anoitecer.
O andar do Sol da Meia Noite
das 18hs às 6hs
Fonte: http://umdenosdois.blogspot.com/2008/04/sol-da-meia-noite.html
Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos 100.000.000.000.000.000 Km viajando, resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada.
Aproveitaremos a
oportunidade para descobrir o que há (se é que há) de podre no reino da
Dinamarca e para dar uma voltinha pela Suécia.
Mas nada estará
completo sem a sua companhia, portanto: Vem com a gente!
Sayo e Claudio
Santos, 10 de agosto
de 2014.
Caro Amigo,
Para que você, que
irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se perca
da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.
Compre seu bilhete,
faça as malas (não esqueça o guarda chuva e um casaco quentinho, afinal verão
na Escandinávia é inverno no Brasil), pegue o passaporte, avise os familiares,
desligue o gás, regue plantas, deixe o gato com o vizinho e as crianças na casa
da vó (as crianças modernas não gostam de natureza, prefere computador),
prepare o bacalhau, pegue um copinho de Aquavit (não exagere que a coisa é
forte), escolha uma poltrona confortável, ligue o computador e VEM COM A
GENTE!
Aproveite para
enviar alguma dica para tornar nossa viagem mais interessante. Talvez algum
fiorde, que já visitou e achou incrível, de tirar o fôlego;
um restaurante, que
viu em alguma revista de turismo; um lugar que você gostaria de conhecer, mas
ainda não teve tempo; ou mesmo o endereço de sua adorável prima norueguesa, que
faz que prepara um Gravlax
ou um Smorbrod como
ninguém,
teremos imenso prazer em visitá-los, conferir e contar tudo, nos mais mínimos e prazerosos
detalhes.
Beijos,
Sayo e Claudio
Maison Alfort, 12 de
junho de 2014.
Caro Amigo,
As férias, este ano,
saíram um pouquinho mais tarde. Abandonamos a Europa no final da primavera,
início do verão, nosso período predileto, por um motivo justíssimo, a Copa do
Mundo no Brasil, não poderíamos perdê-la e, afinal, não nos arrependemos um
milímetro.
É bem verdade que
não ganhamos, nem sequer fizemos tão bonito como imaginávamos, ou melhor, a
seleção não o fez, porque, de modo geral, ressalvadas todas as atrapalhadas tão
típicas nossas, a Copa foi um sucesso todos (quase) adoraram o Brasil e os
brasileiros . E nos adoramos participar de junto, assistir um jogo
pessoalmente, conhecer gente de outros países e reunir amigos para grandes e
alegres comilanças. Perdemos a Copa mas ganhamos uns bons quilinhos (ah, ah,
ah!).
Assim nossa viagem
veio parar no alto verão Europeu, ocasião em que os vovozinhos deveriam ficar
em casa (ah, ah, ah!), resguardados do calor escaldante. E foi para fugir do
calor que escolhemos ir à Escandinávia, pois já que não somos muito chegados a
temperaturas muito frias, coisa muito comum no nosso destino deste ano,
imaginamos que o verão nos traria temperaturas mais agradáveis.
Voamos com a KLM,
que se uniu a Air France. Como sempre, nossa escolha baseia-se no preço, ela era
a mais barata na ocasião da compra. Apesar do preço, não nos decepcionou, ainda
guarda um pouquinho daquela clamour de andar de avião, quando isso não era para
qualquer pobre mortal.
Distribuiram aquelas
toalhinhas quentes para limpar as mãos; aperitivo antes do jantar; vinho à
vontade em pequenas garrafas; sanduíches e sucos, toda a noite, à disposição;
os copos eram plásticos, os talhares também, nem tudo é perfeito, pelo menos
eram de boa qualidade.
A chegada foi
tranqüila, com as malas todas quase inteiras, mas ao menos, tudo que levamos,
um alambique todo, chegou intacto. Nos esperavam os amigos, Paul e Olga, no aeroporto.
Chamamos a empresa
do leasing e, em pouco tempo, já procurávamos um posto para colocar diesel no
carro.
Depois de algumas
voltas estávamos em nossa casa de Maison Alfort, ao lado de Paris. Mais um
pouco e chegavam os amigos Francis e Catherine para nos saldar. Como é início
de agosto, a maioria dos amigos está de férias, fora de Paris, assim que nosso
jantar brasileiro será um pouco menor
este ano.
Entre um copo e
outro começamos a falar de nosso roteiro de viaje. Paul e Olga fizeram um muito
parecido, há dois anos, e nos mostraram dois livros com as fotos de sua viagem,
seus mapas e nos deram vários valiosos conselhos, além de nos dizerem que era
impossível ir à Noruega sem ir ao Círculo Polar, onde realmente se vê o Sol da
Meia Noite.
Isso significaria um
acréscimo de cerca de mil quilômetros ao norte em nossa viagem, além da mudança
parcial de nosso roteiro original, uma cifra bem significativa, principalmente
porque estamos quase sempre atrasados e quase nunca conseguimos cumprir todo o
nosso roteiro, como bem sabe o Caro Amigo que nos acompanha.
Que fazer? Pensamos
bem e, finalmente ... hora do jantar, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Paris, 13 de agosto
de 2014.
Caro Amigo,
Bem sabemos que o
Caro Amigo, que nos conhece bem, já está mais que seguro da decisão que
tomamos, já até enrolou um cachecol mais quentinho no pescoço. Sim ... e,
finalmente, decidimos que vamos até Tronso, mil quilômetros não é nada (ah, ah,
ah!), já fizemos isso na Turquia, só para dormir uma noite em uma pequena
cidade litorânea que gostamos; já fizemos isso no Brasil, para jantar um Bife
de Chorizo em Puerto Iguaçu. Como diz o caipira, é um tirico de espingarda (ah,
ah, ah!) e, como bem sabe o Caro Amigo, o Kuc jamais perderia a oportunidade de
poder contar suas proezas pelo Ártico (ah, ah, ah!).
Hoje tivemos um dia
a quatro, nos levaram os amigos a conhecer algumas coisas em Paris. Começamos por um bairro “Bobo”, já havíamos
lido o termo em uma revista Viagem e, realmente, é uma moda em Paris, embora na
opinião de Olga, e na minha (Sayo), seja algo muito paradoxal; é um bairro
boêmio / burguês, não conseguirmos entender bem como um burguês pode ser
boêmio, nos parece dois opostos que se repelem por suas próprias definições; a
não ser que haja falsidade em um dos dois conceitos. Enfim, fomos a Paris 5 (os
números são como anéis que identificam os bairros).
Subimos pela Rue
Mouffetard, ladeadas por aqueles pequenos negócios, com vitrines graciosamente
arrumadas, como desenhos de um livro infantil, sorvetes, roupas, queijos,
vinhos, frios, terrines, frutos do mar.
Assim chegamos a
Place de La Contrescarte, onde de deveríamos encontrar uma feira que, inexplicavelmente, não estava, talvez agosto, quando todos saem
de férias e não se incomodam de fechar seus negócios. Se por um lado o trânsito
da cidade fica excelente, por outro é péssima a impressão de andar pela cidade
com a maioria dos estabelecimentos fechados, inclusive padarias e restaurantes.
Fazia frio e, de
quando em quando, até umas gotinhas de chuva caiam do céu acinzentado. Assim
que um cafezinho quente, no Café dês Arts, nos caiu como uma luva, assim como o
papo com o proprietário, que nos contou que Pierre Barrault, amigo de Baden
Powell que escreveu a música tema do filme Um homem e uma Mulher, continua
freqüentando o local.
Fomos a Bairro
Chinês, Avenida D’Ivry, onde almoçamos, Ravioli (guioza no Brasil) de Camarão e
de Porco, Pato Laqueado, aquele que eles costuma pendurar nas vitrines dos
restaurantes. O Mercado Tang é uma boa opção para compra de produtos orientais,
comidas ou louças.
Depois, acredite o
Caro Amigo se quiser, fomos ao Canal de L’Ourcq, na Avenida Quai de Valmy, em plena
Paris 10, uma estreito canal navegável, com eclusa e ponte giratória.
E voltamos para casa
passando pelo Chatêau Vincennes. Já havíamos planejado jantar “Restô Dontê”
(nós também damos aula de francês para franceses, ah, ah, ah!) e aproveitamos a
noite para planejar os detalhes do jantar do dia seguinte, pois costumamos
fazer alguma comida brasileira para os amigos. Dessa vez seria uma comida
goiana, um Arroz de Puta... depois damos os detalhes, estamos cansados.
Beijos,
Sayo e Claudio.
Paris (Ille de La
Cité), 14 de agosto de 2014.
Caro Amigo,
Jamais iríamos a
Paris sem passar na Igreja da Medalha Milagrosa, que conhecemos no Brasil como
Nossa Senhora das Graças, onde a Virgem fez suas aparições à Santa Catarina de
Labouré, em 1830, dizendo-lhe como deveria ser cunhada sua medalha, que, de um
lado, trás Maria sobre o globo terrestre (mundo), pisando em uma serpente
(mal), de suas mãos abertas partem raios (graças, milagres) e trás os seguintes
dizeres: “Ó Maria concebida sem pecados, rogai por nós que recorremos a Vós”.
Já no verso trás doze estrelas (apóstolos), um “M” (Maria), uma cruz (Cristo),
um coração coroado de espinhos (Jesus) e outro transpassado por uma espada
(Maria). Medalha que garantiria proteção a quem a portasse com fé. Deixamos o
site da igreja para que o Caro Amigo observe os horários de missa e
funcionamento, quando for sozinho: http://www.chapellenotredamedelamedaillemiraculeuse.com/PT/a__Bem-vindo.asp.
Assim, saímos pouco
depois das oito, com destino à Rua du Bac, nº 140, para participar da missa das
10:30 horas, descendo na estação Sévres-Babilônia, da linha 10 do metrô.
Chegamos um pouco adiantados e aproveitamos para dar uma passeada no mercado
Boun Marché, uma perdição, dá para comer por lá; se deliciar com os bolos e
doces; ou mesmo só ficar namorando tudo que há para comprar.
Depois fomos a uma
exposição sobre o Oriente Express, aquele famoso trem que ligava, inicialmente,
Paris à Istambul, o ocidente ao oriente, e chegou a ligar Londres ao Cairo.
Rota de trem que foi imortalizada por Agatha Christie, James Bond e tantos
outros. O Instituto Mundo Árabe, onde
estava a exposição, é um lugar interessante para uma visita, no último andar
tem um elegante restaurante e um pátio, que pode ser visitado, com uma bela
vista do Sena, cortado por barcos, ao fundo da Notre Dame. Dá até para comer
algo de modo mais informal num bem transado café árabe, que fica no subsolo. É
só pegar a linha 10, do metrô, e descer na estação Jussieu.
De lá seguimos
caminhando até a Notre Dame, passando pela beira do Sena, justamente passando
pelas tão peculiares banquinhas dos vendedores de livros usados, fotos e
pôsteres; muitas fechadas em virtude das férias.
Encontramos a Pont
de L’Archeveché entupida de todas as formas de cadeados, garantia de que, quem
neles escreveu seu nome, jamais se separará da pessoa amada (Será?). Uma
paradinha para comprar um crepe e seguir comendo. Dessa vez não fomos à Notre
Dame, pois as filas eram homéricas.
Abandonamos a praia
na Pont dês Arts, nossa preferida, por ser o local de nossos piqueniques, no
dia da Mísica, 21/06, entrada do verão europeu. Lá paramos para namorar a Ille
de La Cité, que divide o Sena em dois braços, nos quais repousam alguns
peniches, que observam passar barcos lotados de ruidosos turistas, enquanto um
sol quentinho bate em nossas costas e afugenta
o inoportuno frio.
Atravessamos o
Louvre, observando seus lindos edifícios e sua estranha pirâmide de vidro, e
fomos direto para o metrô, pois ainda tínhamos o jantar para preparar.
Alguns dias antes de
nossa viagem, assistimos à entrevista de uma “chef” de cozinha que falava de
uma comida de seu estado, Goías, um tal Arroz de Puta Rica, originado nos
bordéis, a partir da mistura de sobras de comida encontradas na geladeira, após
uma noite de trabalho, que era servido às trabalhadoras e seus clientes
remanescentes; que foi aperfeiçoada por uma suposta francesa, dona de um dos
tantos bordéis, para atrair clientes, que nomearam o prato de Arroz de Puta
Rica, enquanto o servido nos outros bordéis era Arroz de Puta Pobre.
Em resumo, no arroz
vai de um tudo. Como adoro (Sayo) mudar receita para melhorá-la (o que nem
sempre acontece, ah, ah, ah!), coloquei cebola, alho, pimentão, azeite, carne
seca, frango, lingüiça, paio, milho, tomate, ervilha, caldo de carne, pimenta,
cominho, cúrcuma e salsinha. Para acompanhar (?) fiz um pouquinho de feijão
preto e um montão de caipirinha. Estava gostoso, mas não foi o prato que
arrancou mais elogios, a moqueca de bacalhau, que preparei há dois anos, fez
mais sucesso.
De qualquer modo fez
muito sucesso no nosso piquenique. Sim... porque sou nordestina e, na falta de
uma matula de frito, vai a matula de Arroz de Puta Rica. Mas voltemos ao
jantar, da matula falamos depois, ou melhor... falamos de tudo depois, estamos
podres.
Beijos,
Sayo e Claudio
Dülmen, 15 de agosto
de 2014.
Caro Amigo,
Nosso jantar
transcorreu tranquilamente, como entrada tivemos embutidos, mariscos e lula em
“su tinta”, acompanhados por baguetes e caipirinha. Prato principal, o Arroz de
Puta Rica com feijão preto, servidos com vinho tinto. Como não poderia deixar
de ser, os queijos com mais baguete. Finalizando com cocada e bombom Garoto.
E a coisa já ia lá
pela uma da manhã, quando saímos à francesa (diz nossa amiga francesa que o
termo correto é “sair à inglesa”, ah, ah, ah!), pois estávamos puro pó (viajar
também cansa, ah, ah, ah!), o pessoal começava a cantar, promessa de uma noite
longa. Nos contou Olga que a coisa acabou lá pelas três da manhã, foi então
que descobrimos que 15/08 é feriado em
boa parte da Europa, dia da Ascensão de Nossa Senhora.
Deixamos Maison
Alfort, e os queridos amigos, num chuvoso e frio dia de verão, muito típico na
região de Paris. Chegamos à Bélgica, que não se encontrava em muito melhor
situação, atravessando vilarejos e beirando o rio Meuse, que é navegável graças
às suas eclusas; uma viagem de barco pelos canais e pequenos rios da França é
um de nossos sonhos.
Numa das eclusas,
decidimos parar para nosso primeiro piquenique, com o tal arroz da matula, um
copinho de vinho, baguete (amamos!) e queijo Coloumier, uma delícia, mas que já
deixava nosso carro com um cheiro terrível, pois seu odor é muito parecido ao
do queijo Camambet. Já estávamos famintos e estressados, pois a nossa nova
acompanhante Eva Maria, a mulher que mora no nosso GPS, assim batizada por
falar demais, repetir demais e criticar demais (“você está acima do limite de
velocidade!”). Imaginamos que ela seja, mais ou menos, como a Eva, que só tinha
o Adão para azucrinar, então passava o dia atormentando o pobre. Ele não teve
sogra mas, em compensação, teve a Eva. O Maria é uma herança de família, já que
minhas irmãs e eu somos Marias, além do mais, adoro nomes duplos.
É, Caro Amigo,
estávamos estressados, pois a Eva, nascida no Brasil, procurando o caminho mais
curto, mudava a cada instante de estrada, nos deixando loucos, pois, como ainda
não temos confiança total em sua pessoa, por ser sua primeira viagem,
tratávamos de conferir tudo que ela dizia em nossos mapas, já que não somos nem loucos de sair sem eles.
Vai que ela fica muda (não seria nada mal, ah, ah, ah!)!
Ia beirando às nove
da noite quando decidimos parar para dormir, não quisemos parar na região de
Dortmund, na Alemanha, procurávamos uma cidade mais calma. Um erro gravíssimo,
que sempre acabamos cometendo, portanto, Caro Amigo, atenção, quando não tiver
hotel reservado ou lugar certo para ficar, procure parar antes das seis horas,
assim terá tempo para traçar um plano “B”, antes que escureça. Nós nunca temos
hotel reservado, nem certeza de onde vamos parar, gostamos de olhar a cara do
lugar antes de decidir.
A primeira
cidadezinha em que paramos, Haltern, muito elegantezinha, tinha somente dois
hotéis tão elegantes quanto. Seguimos para a cidade seguinte, Dülmen, tão
elegante quanto a outra. Escurecia, a vontade de tomar um banho aumentava e a
necessidade de comer algo quentinho gritava, rezávamos para encontrar um Zum,
hotel que fica em restaurante, assim não teríamos que nos deslocar para comer.
Mas, realmente, de rezar a ser atendido há alguma distância... mas falaremos
dela depois, vamos parar para um café.
Beijos,
Sayo e Claudio
Lübeck, 16 de agosto
de 2014.
Caro Amigo,
E no dia seguinte,
recompostos, tomamos um bom café da manhã, com ovos quentes (eles têm até
máquina para isso) e muitos embutidos. Saímos do hotel com intenções de seguir
viagem e, à luz do dia, a cidade nos pareceu até muito simpática, com um centro
comercial ótimo (nada com fazer umas compras para melhorar o astral).
Em nossos estudos
sobre a Escandinávia, descobrimos que a Noruega é o país mais caro do mundo,
informação inclusive confirmada pela Cara Amiga Nayla; onde uma água custa mais
de quinze reais, um simples, simples mesmo, jantar mais de quinhentos. Assim,
pensamos num plano para baratear a viagem, que será um pouco longa, e não
precisar fazer algo tipo CVC. Decidimos fazer compras na Alemanha e já levar um
bom estoque para piqueniques, inclusive noturnos. O Kuc costuma dizer que não
sai do Brasil para dormir em euro, pois é muito caro, quero só ver o que ele
vai fazer na Noruega, que é caríssima, ainda bem que tem o sol da meia noite,
assim ele não precisará nem dormir (ah, ah, ah!).
Então o centro
comercial nos caiu como uma luva, encontramos nossos mercados prediletos, Audi
e Lidl, além de lojas de roupas. Nos divertimos muito! Passava das duas da
tarde, quando seguimos em direção ao norte, para Lübeck, chegando quatro horas
depois, bem a tempo de correr para a Saturno, afinal era sábado, e comprar uma
máquina fotográfica nova, pois a nossa legal quebrou e estávamos só com uma
“Xereta” (só os mais velhos saberão o significado, ah, ah, ah!). A Alemanha é
um ótimo país para comprar câmeras, os preços são bons e tem modelos de última
geração.
Estávamos perto da
estação de trem e, não muito distante, encontramos um hotel com restaurante, já
com preços mais módicos, que, do mesmo modo que o da cidade anterior, também
pertencia a yoguslavos.
Bem sabemos que não
há mais Yoguslávia, mas foi assim que eles se apresentaram quando perguntamos
de onde eram, pois se percebia que, entre eles não falavam alemão; não seriamos
nós a dizer que não eram. Por isso, aconselhados pelo muito simpático garçom,
que nos deu as dicas para a travessia para a Escandinávia, resolvemos comer pratos típicos dos Bálcãs, “cevapcici ou
cevapi”, que, em resumo, são carnes picadinhas (moídas) assadas de vários modos
e com vários temperos.
Uma saladinha de
entrada e chegaram os pratos cheirosos e fumegantes. O meu tinha um formato de omelete, mas era pura
carne com recheio de queijo de cabra, arroz, salada e fritas; já o Kuc
experimentou algo em formado de quibe, com os mesmos complementos. Tudo estava
delicioso, a carne muito suculenta.
Algumas cervejas e dormimos como anjos.
A travessia por
Puttgarden, há 100 km de Lübeck, nos pareceu o percurso mais curto, que
baratearia a balsa. Ainda paramos, na simpática cidade de Burg para as últimas
compras, já que encontramos os nos nossos mercados prediletos, que estão
espalhados pela Alemanha toda, para nossa sorte. Era domingo, estava todo
comércio aberto e gente comprando como se fosse estourar a 3ª Guerra Mundial,
não imaginávamos tínhamos absoluta certeza do motivo. Mas tivemos a confirmação
quando pagamos a balsa para a Escandinávia, quase enfartamos, 45 minutos por
... está na hora do café, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Helsingborg (Suécia), 18 de agosto de 2014.
Caro Amigo,
Tivemos a confirmação quando pagamos o ferry, 92
euros pelos 45 minutos que nos levaram à Dinamarca. Por isso o pessoal comprava
o mundo, porque, ao que parece, toda a Península Escandinava é caríssima.
Parece que compramos pouca coisa, aproveitaremos para fazer um regime (ah, ah,
ah!).
A empresa chama-se Scandline (servicecenter.germany@scandlines.com) e tem
ferry a cada hora. Na verdade é algo bem luxuoso, com restaurante,
brinquedoteca, lanchonete, lojas e duty free, onde ainda é possível fazer as
últimas comprinhas. Lembra um transatlântico, os veículos vão e andares, na
parte inferior, e os passageiros podem divertir-se nos pisos superiores.
Assim chegamos à Suécia o terceiro maior país da
União Européia, uma monarquia constitucional, cuja rainha é uma brasileira, com
sistema parlamentar de governo. Chegamos a Helsingborg, a cidade onde o Brasil
ganhou a Copa do Mundo de 1958, conhecida por ligar o país ao restante da
Europa. O ferry chega exatamente no centro da cidade, que não é grande, tem
cerca de cento e cinco mil habitantes.
Quando chegamos o clima não podia estar pior, chovia
muito, ventava, fazia frio, menos de 14 graus, tudo estava fechado, nem
cachorro andava pela rua, aparentemente o mundo havia acabado. Um horror! Hotel
barato também é artigo de luxo, assim como o verão. Imaginávamos que jamais
encontraríamos muito calor por aqui, mas, por ser alto verão, esperávamos algo
em torno de 20 graus. Finalmente, com ajuda de Eva Maria, já que os centros de
informações turísticas estavam fechados, pois era domingo à noite, encontramos
um hotel legal por 106 euros, uma verdadeira catástrofe para nosso
orçamento.
Felizmente, o dia seguinte amanheceu com uma cara
até melhorzinha. O Kuc até esqueceu que jantou no quarto, quanto viu a mesa do
café da manhã cheia de arenque marinado e pepino azedo. O sol não durou muito,
aparentemente, por aqui, o clima muda em segundos, do sol para uma pancada de
chuva ou uma rajada de vento gelado. De qualquer modo, lugar de turista é na
rua, outro dos lemas do Kuc.
Nossa primeira parada foi na Igreja de Santa Maria,
luterana, em estilo gótico, retábulo de madeira entalhada policromada, com
cenas da vida de Nossa Senhora. O púlpito. Também de madeira entalhada
policromada, mostra cenas que vão da criação do mundo à ascensão de Jesus
Cristo, com delicados trabalhos de machetaria, um verdadeiro primor. Os vitrais, embora não apresentem uma tão
grande riqueza de detalhes, têm um colorido profundo, que alegra o sóbrio ar da
igreja, emprestado pelo ar bege e marrom da madeira dos bancos e dos tijolos que revestem suas paredes em
estilo gótico. Quando nos preparávamos para sair, alguém começou a tocar o
órgão, acabamos nos sentando novamente para desfrutar toda beleza um pouquinho
mais.
O imponente prédio da Câmara Municipal segue o
estilo gótico e os tijolos da igreja, está localizado frente ao mar, como que
observando a entrada e saída dos barcos. Não muito longe fica o Centro de
Informações Turísticas, onde conseguimos um mapa do país e algumas indicações
para visitas na região.
Da fortificação original, onde nasceu a cidade, que
pertencia, inicialmente, à Dinamarca, resta somente a Torre Kärnan, na qual
subimos para apreciar, do alto, a cidade. Na bilheteria da torre, é possível
comprar um bilhete conjugado para visita a quatro locais por cerca de 12 euros.
Caminhamos um pouco mais e estávamos no Estádio Olimpic, onde a seleção do
Brasil jogou em 1958.
Seguimos, agora de carro, para o que foi o palácio
de verão dos monarcas suecos, Sofiero, que fica há 5 km da cidade, cuja entrada
estava no bilhete conjugado. Não se
trata de nenhuma suntuosidade, parte dele transformou-se em restaurante, parte
em uma cafeteria ótima para um bolinho com café, principalmente se for bolo de
chocolate com geléia e frutas frescas. Já nos cômodos restantes, há exposição
de fotos, objetos e móveis. O ponto alto da visita são os jardins do palácio,
nos disseram que é o mais lindo da Europa. Realmente não mentiram muito.
Infelizmente as rosas se acabaram, mas restaram as
coloridas dálias e o que seriam brancos bancos, sob a sobra das folhagens,
donde se podia observar um sem fim de pequenas flores silvestres; frutas e
legumes enchiam canteiros; macieiras se tornaram cercas vivas, enquanto uvas
enchiam estufas de vidro. Algumas abelhas para espalhar o pólen; pássaros de
peito colorido fazendo festa; esquilos escondendo sementes. Felizmente os
momentos de chuva cessaram um pouco e restou o delicioso sol. O paraíso sem
dúvida existe e é por aqui mesmo.
Ainda voltamos ao Centro de Informações Turísticas,
para ver algumas exposições no mesmo edifício, também parte do bilhete
conjugado, mas não foi muito proveitoso, fizemos tudo meio porcamente, pois
encerrava às seis da tarde. A cidade continuava uma tranqüilidade, muitos
comércios fechados, pouca gente na rua, o restante, muito inteligentes, foram
passar o verão em outro lugar (ah, ah, ah!). Como voltava a chover e o frio
aumentava, voltamos para o hotel, onde nos esperava um copo de vinho e uma
salada com arenque defumado.
Quanto estivemos no Centro de Informações
Turísticas, recebemos uma dica de seguir para Gotembugo por uma pequena estrada
que, por vezes, beirava o mar até Kullaberg, uma área de preservação, estamos
pensando em alterar mais uma vez a viagem, o problema é saber se não nos
faltará tempo para fazer os três países que programamos e os 1.500 km que
resolvemos seguir para ir ao Círculo Polar Ártico... mas isso fica para amanhã.
Beijos,
Sayo e Claudio
Kullaberg, 19 de agosto de 2014.
Caro Amigo,
Como não sabemos quando voltaremos ao oeste da
Suécia, principalmente em virtude do verão de 15 graus (no sol, quando há)
resolvemos seguir a indicação. Infelizmente não conseguimos sair muito cedo,
pois nos faltava a última visita do ingresso conjunto.
Iniciamos um roteiro beirando o mar, que nos foi
indicado como algo imperdível, já mais de onze horas. Na saída de Hittarp,
primeira cidade do roteiro, um moinho, casas de fazenda à beira mar, macieiras
carregadas de pequenas maçãs vermelhinhas e um lindo B&B, pena que não
vimos antes, fica para a próxima.
Tínhamos uma indicação para comer por lá um
delicioso sanduíche de arenque, encontramos o pequeno quiosque, em uma
minúscula praia perdida, deserta, mas o nosso santo não cruzou com do tiozinho
que os vendia, então resolvemos seguir e fazer um piquenique em algum lugar,
eles que como seus tais sanduíches, já que não haverá ninguém para fazê-lo em
uma terça-feira, naquele fim de mundo. Esperamos que seja ele o tal bruxo desta
viagem; em nosso imenso manual de teorias de viajante, temos um capítulo que
trata da existência, em cada viagem, de um bruxo para atormentar o pobre
turista; assim como alguma “roubada” na qual, infalivelmente, o viajante
cairá.
Vilarejos com ruas sem calçadas, casinhas de boneca,
com telhados muito inclinados, talvez por causa da neve; alguns poucos degraus
para a porta de entrada, iluminada por lampião; vasos floridos, chaminés e
muitas janelas, através das quais o sol entrava e os olhos curiosos, como os
nossos, assistiam aos pequenos adornos colocados pelas zelosas proprietárias, vasinhos com flores,
castiçais, abajures, bibelôs, delicadas cortinas esvoaçantes. Foi em um banco
de um jardinzinho florido, em uma minúscula praça de um desses vilarejos, que
paramos para nosso piquenique; o sol estava maravilhoso, mas o vento cortava.
Era, afinal a rota dos ventos e dos moinhos,
encontramos três deles. Há ônibus urbano de Helsingborg para Kullaberg,
portanto o Caro Amigo, quanto não estiver motorizado, pode aproveitar toda a
beleza da rota ou, se preferir, pode até se hospedar em um dos muitos hotéis e
B&Bs da região.
Em Kullaberg, encontramos o parque, com campos de
golfe, parece que os suecos adoram o jogo, e muita área para caminhadas, mas,
como a tarde já ia bem adiantada, seguimos pois ainda tínhamos muito chão até
nossa próxima cidade, onde chegamos já passavam das seis, novamente
descumprimos uma regra de nosso manual, chegamos tarde para ainda procurar hotel.
Eva Maria nos levou diretamente para o centro de
Gotemburgo, bem na hora do rush, não que houvesse congestionamentos, mais era
um vai e vem de pessoas apressadas, já estávamos cansados, o Centro de
Informações Turísticas fechado e os hotéis, encontramos por ali, eram muito
caros e sujeitos a uma taxa de estacionamento de 4 euros a hora. A esse preço sairia mais barato levar o carro
para o quarto, para dormir na cama com a gente, pois o hotel sairia mais barato
(ah, ah, ah!).
Nosso carro, como em quase toda viagem, está
parecendo um carro de cigano, tem coisa espalhada por todo lado, até embaixo
dos bancos. Lembrancinhas que já compramos; as roupas de verão que, agora, já
sabemos que não usaremos; as provisões para os piqueniques; algumas garrafas de
vinho e latas de cerveja, pois a carne é fraca e os impostos sobre bebidas
alcoólicas são caríssimos. Mas para dar um ar mais digno à coisa, sempre
trazemos um pano preto, para cobrir tudo. Como descascamos esse pepino?... está
na hora do café, contamos amanhã.
Beijos,
Sayo e Claudio
Gotemburgo (Göteborg/Suécia), 21 de agosto de
2014.
Caro Amigo,
Finalmente, depois de duas horas, acabamos ficando
no Ibis Style, numa pequena cidade há 5 km de Gotemburgo, nos pareceu o melhor
custo benefício, pois não pagaríamos estacionamento. Viajar de carro tem suas
vantagens, nos dá mais autonomia, porém tem alguns inconvenientes, como o custo
dos estacionamentos nas grandes cidades, ainda assim preferimos. A Suécia é um
país caro é bom pesar os gastos.
O tal Ibis Style nos pareceu um engodo, a rede Accor
tinha, na Europa, uns hotéis chamados Etap, de bom preço e, normalmente,
localizados nas aforas das cidades. Parece que eles mudaram o nome para Ibis
Style, incluíram o café da manhã, diminuíram os quartos (uma minúscula cabine
de navio, conforme o Kuc, ainda bem que ele adora mar, ah, ah, ah!) sem nem
secador; mas com preços bem altos. De qualquer modo, a recepcionista foi
simpaticíssima, nos deu muitas dicas e até uns presentinhos, em retribuição ao
chaveiro do Fuleco, que lhe demos.
Era um lindo dia de sol, quando saímos para conhecer
a Gotemburgo, mas calor não fazia. Pegamos o ônibus em frente ao hotel e em
quinze minutos estávamos no centro da cidade.
O que ela tem de mais lindo está nas ruas, a arquitetura em estilo
art-nouveau de seus edifícios de quatro ou cinco andares, nos lembrou Karlovy
Vary, na República Tcheca, talvez um pouquinho menos romântica, mas tão
primorosamente bem cuidada quanto.
Chegando ao Parque Tradgards Foreningen, às margens
do Rio Gota, que corta a cidade, demos de cara com um branco palácio de
cristal, uma estufa onde estátuas e plantas conviviam harmoniosamente. Um
jardim de rosas, muito gramado para descansar e uma cafeteria para quem quiser
tomar uma taça de vinho, no final da tarde, apreciando toda essa beleza, ou até
um café.
Trata-se a segunda maior cidade do país, mas, vista
dali nem se percebia. Em verdade é um pais silencioso, as pessoas falam
baixinho, os carros são muito silenciosos e buzinar deve dar pena de morte (ah,
ah, ah!).
Vale à pena visitar Igreja da Rainha Cristina,
construída em 1648, em estilo barroco, com diferentes vitrais nos quais os
santos aparecem emoldurados em oratórios; seus lustres reluzem como se de ouro
fossem.
Não dá para dispensar uma passadinha no mercado, tão
limpo que dá (quase) para comer no chão e, passeando por seus corredores, dá
até para provar muitos dos quitutes locais
Deixamos a cidade sob uma chuva torrencial,
temperatura de onze graus, mas, mesmo assim, resolvemos seguir os conselhos do
rapaz do Centro de Informações Turísticas e dar uma esticadinha na viagem
passando por Lysekil, que fica a 14 km da estrada que nos levaria a
Oslo, bem na beirinha do mar.
Como por milagre, a pesada chuva que
caia parou, a cidade nem sequer estava molhada, são os mistérios suecos. É a
cidade das coloridas casinhas de madeira e do aquário chamado Havet Hus. No centro da pequena cidade, um
cemitério com ares de jardim; um jardim com ares de uma pintura de Monet. Tudo
perfeito.
A Igreja de Lysekil, foi construída em
granito, estilo neo-gótico, com decoração interior no estilo art-nouveau. Ela
tem uma simpatia cativante, que convida qualquer um a entrar e por ali ficar,
ainda que não para rezar, mas, tão-somente, para sentar nas mesas de sua
cafeteria, logo na entrada, à esquerda, e de lá somente admirar a beleza de
seus detalhes: seus arcos muito pontudos, que conduzem ao céu; suas rosáceas de
vitral e granito; o delicado retábulo e o triunfal crucifixo do altar; seu púlpito de madeira entalhada, com cenas
da Anunciação de Maria à Ascensão de Jesus Cristo, que se é sobrio em cores, é precioso em detalhes, que dão
vida a santos e anjos, sabor a frutas e aroma a flores; o silêncio de seu
órgão.
No caminho encontramos uma placa
indicando de Patrimônio da Humanidade, somos doidos para visitar todos eles,
então fomos ao Museu Vitlycke, na região
de Tanum. Trata-se de um conjunto de rochas com pinturas rupestres, que são exemplos excepcionais da Idade do Bronze. Há representação de animais,
de crianças, de barcos, de homens e mulheres nas atividades cotidianas,
caçando, dançando, rezando. A gravura mais famosa, denominada The Bride and
Groom, é um casal namorando (?), um símbolo de amor e fertilidade. A visita é
gratuita, há uma parte didática, em um pequeno edifício, com banheiro, lojinha
e cafeteria, depois é só percorrer um caminho mapeado, sendo que parte dele
pode ser feita de carro. Completamos nossos dois mil quilômetros de viagem!
Seguimos mais alguns quilômetros e
estávamos em Strömstad a outra cidade de casinhas de madeira, que nos foi indicada
pelo gentil rapaz do Centro de Informações Turísticas de Gotemburgo, que nos
conseguiu, inclusive, mapas do país e informações em espanhol, uma raridade por
aqui. É a cidade dos SPAs, tão simpática com a outra, com aquela limpeza ímpar,
um agradável píer, onde os barcos se espremem, jardins bem cuidados e linda
arquitetura. Alguns poucos turistas aqui e ali, gente de mais idade, que já
sabe apreciar os delicados prazeres da vida com mais vagar (espero que o Kuc um
dia chegue lá, ah, ah, ah!).
Chegar a Oslo foi fácil, já encontrar um
hotel que coubesse em nosso orçamento, já foi um outro assunto, bem mais
complicado, porque... estamos morrendo de fome, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Oslo, 22 de agosto de 2014.
Caro Amigo,
Chegamos à Noruega carregados de informações, um
guia, que compramos em Portugal, em alguma de nossas viagens por lá; muitos
folhetos no Centro de Informações Turísticas da estrada, logo na entrada do
país; e várias pesquisas de sites de outros turistas, entre eles, o de um casal
de viajantes que se parece muito com a gente, quando tínhamos uns vinte anos
menos (ah, ah, ah!) (http://retratoserelatos.com/noruega-entre-fiordes-e-vikings/).
A Noruega é uma monarquia constitucional, com
democracia parlamentar, que já pertenceu à Dinamarca e à Suécia, tornou-se
independente em 1905. Um país rico, em virtude do petróleo retirado do Mar do
Norte. Mais da metade do país está acima do Circulo Polar Ártico. É o
país mais desenvolvido do mundo, com o mais alto índice de desenvolvimento
humano.
Tomamos um baile
para encontrar hotel porque os preços são realmente caros e, diferentemente do
que imaginávamos, que ninguém viria gastar seu verão no frio, a cidade estava
cheia de gente para o final de semana. Não tínhamos reserva, então fomos
tentando a lista que havíamos feito e alguns hotéis de nosso guia. Alguns lotados, outros caros demais e outros
nem sequer existiam. Nada!
Perdemos um, bem
central, por acreditar que seu custo estava muito elevado, cerca de 120 euros,
pelo pouco que oferecia, pois não tinha café da manhã, mas tinha uma micro
cozinha, e teríamos que pagar estacionamento, cerca de 20 euros o dia; quando
resolvemos voltar, o quarto já estava ocupado; mas fica a dica (www.cochspensjonat.no),
pois, finalmente, para quem está à pé, é uma boa opção para ficar bem no centro
da cidade e economizar cozinhando.
Estávamos cansados, embora tenhamos chegado cedo, já começava a cair a
noite.
Decidimos, então, passar no B&B Villa Grogner, (www.bedandbreakfast.no), que vimos na internet que estava lotado,
afinal perguntar não ofende. Realmente estava lotadíssimo, gente dormindo até
no escritório. Mas como Deus é bom e não nos desampara nunca, o dono era muito
atencioso e ligou para alguns hotéis e nos encontrou um (www.voksenaasen.no).Há 10km, na montanha, próximo ao Holmenkollen, um complexo com uma
enorme rampa para salto de esqui, onde se realizam competições. Ele nos
garantiu que tinha uma vista maravilhosa para a cidade e para o fiorde Oslo e
que o preço estava excelente. A principio a coisa nos pareceu uma roubada, mas
precisávamos dormir naquela noite e, afinal, estávamos de carro, depois
resolveríamos.
Na verdade era um hotel 4 estrelas, com piscina (só
para inglês ver com o frio que faz aqui ah, ah, ah!)) sauna, pianos para todos
os lados, lareira e um café da manhã bem legal. A diária é 130 euros, caríssimo
para nosso orçamento, mas considerando que não se encontra nada decente na
cidade por menos de 100 euros, exceto Albergue da Juventude, que não encaramos.
Pesamos a qualidade do hotel; que não pagaríamos estacionamento; que poderíamos
ir para o centro de carro e deixá-lo em alguma das ruas próximas do castelo,
onde não se cobra estacionamento; que a localização era sensacional, em um
bosque na montanha, cujos vizinhos eram vilas de típicas e formosas casas de
madeira norueguesas, cobertas de terra, onde cresce grama, que serve como
isolamento e onde, no interior, cabras pastam, aqui na capital parece que era
só para dar charme. Resolvemos ficar as três noites nele mesmo, pois a vista, desde
nossa cama, do fiorde e da cidade, entre
pinheiros, quando o dia começava a amanhecer sobre a cidade, banhando tudo de
um tom azul enevoado, que ressaltava as luzes como pequenos pontinhos diamante
muito brilhantes, era algo de muito valor.
O grande agito da cidade fica na Karl Johans Gate (uma rua), que tem em uma
ponta o Palácio Real, Slottet, muito sem graça, se não dissessem nem
acreditaríamos, exceto pelos militares, que montam guarda à sua frente, ouvimos
dizer que a troca de guarda (não descobrimos o horário), só os vimos fazendo
alguns exercícios; e visitas guiadas em inglês e norueguês, não nos
interessaram muito ao palácio. Ele fica no meio de um parque que vale o
passeio.
Na outra ponta, fica a estação de trem e, no meio
dos dois quase tudo. O Teatro Nacional, em estilo barroco, foi construído em
tijolo, em 1899 e lembra um pouco o estilo de arquitetura que temos em grandes
edifícios construídos, no mesmo período, aí no Brasil, teatros e estações
ferroviárias de grandes cidades, à sua volta estátuas, que fazem alusão a peças
teatrais e jardins.
Em frente a ele, a Universidade de Oslo, um imenso
edifício em estilo neoclássico, de 1852.
A rua vai seguindo, entre fontes, alamedas
arborizadas, estátuas, restaurantes, mesas sob guarda-sóis, onde alguns já se
arriscavam em um almoço leve, lojas elegantes, artistas de rua. Tivemos que
parar, assim como metade dos demais transeuntes, para observar um homem
levitando, incrível!
Mais adiante, o Parlamento, Stortinget, inaugurado
em 1866, ele sim tem cara de palácio, pode ser visitado aos sábados.
E a rua segue passando pelo mercado de flores e por
nuvens de espanhóis, quase nos acreditamos na Rambla, não fossem os preços.
Chegamos à majestosa catedral, Oslo Domkirke, cuja construção se iniciou em
1694, ficamos devendo a visita, pois nas duas vezes que lá passamos estava
fechada.
A rua é um charme só, a maioria dos locais parece
que vai para ver e ser visto, talvez arriscar umas comprinhas, pois as roupas,
aparentemente, são mais baratas que a comida e não existe nenhum tipo comida de
rua, um sorveteirozinho ou um vendedor de cachorro quente, deve ser por isso
que as lindas norueguesas loiríssimas são tão magrinhas, sem nem cheiro de
celulite. No final da rua está a estação de trem, onde é possível trocar dinheiro,
na Forex-Bank pois a Noruega não usa o euro, nem está na União Européia, não
quiseram, pois são milhonários, nadam no petróleo do mar do norte, eles usam o
NOK.
E quando já deixávamos a Karl Johans Gate e nos viramos para um último
olhar, um último adeus, ela estava coroada por um arco-íris, do pote de ouro,
claro, não vimos nem o cheiro, pois os
noruegueses já devem tê-lo encontrado e enterrado no quintal de suas casas (ah,
ah, ah!).
Vamos deixar um pouquinho para manhã porque hoje já
exageramos.
Beijos,
Sayo e Claudio
Bygdoy, 23 de agosto de 2014.
Caro Amigo,
Há um cartão, chamado Oslo Pass, que pode ser
adquirido inclusive nos hotéis, e dá direito a entradas grátis e muitos museus,
uso de transporte público, inclusive ferry, desconto em lojas e restaurantes
etc; o válido para 24 horas, custa cerca de 150 reais, analisamos os custos dos
museus que queríamos ver e, como estávamos de carro, achamos que não
compensaria. Em vários locais, inclusive hotéis, é possível encontrar uma
revistinha chamada Oslo – Guide, tem em várias línguas, inclusive espanhol, dá
para ver o preço dos museus e os que são gratuitos, assim ninguém fica sem ter
o que fazer na cidade. Os museus têm um preço médio de 40 reais, é bom estudar
bem o custo benefício.
Perto da estação de trem fica a Oslo Ópera House,
edifício concluído em 2008, revestido de mármore branco, que foi construído
como lugar de encontro para eventos culturais, recreação e passagem de pessoas.
Nas imediações da Karl Johans Gate está a prefeitura,
Radhuset, de tijolos, modernista e com cara dos edifícios construídos no
período do comunismo, um caixote ser charme (nos perdoem os que gostam). Nele
se realiza, anualmente, a entrega do Prêmio Nobel da Paz.
Perto da prefeitura, visitamos o Centro Nobel da
Paz, numa antiga estação de trem, mas foi uma furada, não recomendamos, pois é
caro, as exposições são interativas, em norueguês e inglês, não dá para brincar
nessas línguas, tem que ser na nossa ou em espanhol, mas o último não é muito
usado por aqui. De qualquer modo deixamos nossa mensagem para propagação da paz
e democracia.
Perto do Centro Nobel, no porto Arker Brygge, fica a
Fortaleza de Akersus, construída em 1299, pelo Rei Hákon V, para defender a
cidade de invasões pelo mar.
Um dos passeios
imperdíveis da cidade, Vigeland Park, com mais de 200 esculturas do artista
Gustav Vigelang. Fica a alguns quarteirões para trás do Palácio, a entrada é
grátis e o pessoal local aproveita o delicioso parque para prática de esportes
(http://www.vigeland.museum.no/en/vigeland-park). As estátuas
estão dispostas ao longo do eixo central do parque, são em bronze e apresentam
aquele tom esverdeado, de que se reveste o material, quando exposto ao tempo; representam o homem nos diversos
momentos de sua vida e em seus diversos humores.
A
cidade tem museus a dar com pau, como os preços impedem a visita de todos,
escolhemos os que mais nos interessavam. Na península
de Bygdoy, que já foi uma ilha, estão os vários deles. Inclusive o Museu do
Barco Viking, que é um dos pontos altos da visita à Oslo. Ele foi construído
próximo ao local onde foram encontrados enterrados, na segunda metade do
século XIX, por fazendeiros que trabalhavam na terra, três navios vikings
do séc. IX, em muito bom estado de conservação. Achados históricos de valor
incalculável, pois permitiram conhecer muito dos hábitos do povo viking, que
habitou o país. Oseberg, Gokstad e Tune
são seus nomes. Eles serviram como urna funerária, motivo pelo qual estavam
praticamente intactos.
Os vikings usavam barcos rápidos, o que facilitava fugas e
ataques, e tinha, à frente, esculpida a cabeça de um animal, motivo pelo qual
receberam o nome de “drakkars” (dragão). Foi com esses barcos à vela que eles
foram os primeiros europeus a chegar à América do Norte, não tem nada de
Cristovão Colombo. Acreditavam em deuses que, assim como os humanos, eram bons
e maus, realizavam cultos e adivinhavam o futuro através das hunas. A morte era
festejada, enterravam as pessoas importantes mais ou menos como os egípcios,
com seus pertences, animais, escravos e até, no caso dos homens, enterravam sua
mulher predileta viva. Dizem que o uso do capacete com dois chifres, para
evitar que o céu viesse a cair em suas cabeças é, na verdade, uma crença celta,
não nórdica; assim que os vikings usavam um capacete cônico, sem nada de
chifres, o resto é invencionice artística das óperas, que tentavam dar-lhes uma
imagem bárbara e reforçar o nacionalismo, no século.
Ainda em Bygdoy, visitamos o Museu Kon-Tiki, que conta a realização
dos sonhos e viagens do explorador Thor Heyerdahl, que queria provar sua teoria
da possibilidade de viajar do novo ao velho mundo, em barcos simples, cruzando
oceanos; o que explicaria a similaridade de estátuas encontradas no Egito e na
Bolívia. Sua viagem mais famosa foi a realizada na jangada, em 1947, a
Kon-Tiki, durante 101 dias e foi do Peru à Polinésia, pelo Pacífico.Mas ele
realizou outras, como a de Marrocos a Barbado (1970), em um barco de papiro.
Mas foi quando deixamos o primeiro museu, que nos deparamos com
uma cena inusitada, que somente acreditávamos existir em desenhos animados, ou
em filmes antigos. Ela justificou e valeu toda a nossa viagem à Noruega, bem em
frente a uma das elegantes casas... precisamos para umas fotos, temos que
aproveitar que a chuva deu uma folga e o sol até apareceu.
Beijos,
Sayo e Claudio
PS – Caro Amigo, estamos um pouco atrasados em enviar as notícias,
atente para a data em que foram escritas.
Geilo, 24 de agosto de 2014.
Caro Amigo,
Logo atrás da Galeria Nacional, onde está “Grito”, o
quadro de Edvard Munch, um dos mais famosos pintores do país, fica o Museu
Histórico, o último que visitamos em Oslo, que abriga uma câmara com moedas, o
maior tesouro em ouro da Noruega; além de exposições da America, China. Ártico, povos indígenas e
Oriente médio.
Mas voltemos ao que vimos nas proximidades do Museu
dos Vikings, sentadinhos em frente à casa em que moravam, junto a uma
branquinha mesa, onde se viam decorados cupcakes, copos e uma garrafa de
limonada; dois anjinhos de cabelos muito clarinhos, assim como seus olhos, que
nem chegavam aos sete anos, tentavam angariar dinheiro para alguma de suas
travessuras, vendendo os quitutes (a coisa não está boa nem para criança aqui,
ah, ah, ah!). E os danados falam até inglês, divergiram um pouco quanto à
quantidade de suco a colocar no copo, mas acabaram se entendendo, porque,
lógico, compramos algo, era impossível não fazê-lo, mesmo com preços
noruegueses. Mas eles teriam enriquecido se vendessem simplesmente o direito à
foto, pois não havia quem passasse que não parasse, risse e tirasse uma foto,
tal a formosura e docilidade da cena (ah, ah, ah!).
Em virtude de nossa decisão de ir ao Circulo Polar Ártico, tínhamos
pensado em abrir mão de uma região, Lillehammer e Hamar, no centro do país, mas
nos escreveu a Cara Amiga, Aldina, que esteve a pouco na região, recomendando a
região, assim, fizemos uma nova alteração no roteiro e deixamos Oslo em direção
a Lillehammer, no centro do país na beira do Lago Mjosa, o maior da Noruega.
Paradas de descanso (as estradas aqui sempre têm, com banheiro,
papel, água quente e sabonete) de frente para espelhos transformados em lagos,
que refletiam os pinheiros que os circundavam e davam repouso a pequenos
veleiros. Assim seguiu a estrada, um espelho de água aqui, outro ali e chegamos
a Hama. Metade da cidade estava em obras, mas por onde conseguimos passar, só
vimos casas de madeira cuidadas com todo esmero, macieiras carregadas (aqui dá
mais maçã que chuchu na serra, ah, ah, ah!) e flores. Mas chovia cântaros e
fazia 12 graus, não arriscamos descer para visitar o museu Hedmarksmusset, com
mais de 50 edifícios e jardim aromático, vamos ficar imaginando o cheirinho.
Fomos seguindo em direção a Lillehammer, que sediou as Olimpiadas
de Inverno de 1994, namorando o lago e as paradas para piquenique, uma mais graciosa que a
outra e com vistas espetaculares dos muitos lagos. A cidade, que parece inspirou Liliput, das
Viagens de Gúliver,parece interessante,
mas como era domingo, estava praticamente tudo fechado e quase ninguém
na rua.
Deixamos o entorno do lago, e entramos em montanhas e florestas de
pinheiros, salpicadas de lagos e de gorduchos carneirinhos dorminhocos, que,
após alguma curva, encontrávamos cochilando no meio da estrada. Quando
avistamos nossa primeira igreja de madeiras, perdida na estreita estrada, em
meio a pinheiros, uma das muitas que povoam o país e são um de seus cartões
postais. Mas não era uma daquelas 1000, que foram construídas pelos anos 1100 e
1300, e das quais só restam 28, chamadas Stavkirke, que são as que estamos
caçando, ainda assim, era bem simpática, qualquer hora encontraremos as
nossas.
Na Noruega, aparentemente, não se encontra hotel por menos de 400
reais, por isso o país é lotado de campings e de cabanas. Paramos, na estrada,
para ver o preço de uma delas, realmente é uma economia considerável, custa
cerca de 150 reais, com beliches e cozinha, mas o banheiro é fora. Chovia muito
e a temperatura andava por volta de 10 graus. Como bem sabe a Cara Amiga,
mulheres menopausadas têm calores, levantam várias vezes durante à noite para
beber água ou ir ao banheiro; a economia poderia ser boa, mas achei que o crime
não compensaria, deixei para experimentá-las quando o tempo estiver um
pouquinho melhor. Dizem até que existem umas cabanas que funcionam na base da
confiança, o indivíduo encontra a chave na porta, usa, deixa tudo em ordem, o
dinheiro numa caixinha e vai embora; vamos procurar ah, ah, ah!).
Chegamos a Geilo, uma muito falada cidade, que era nosso destino
para aquela noite. Uma grade furada porque ... vamos preparar nosso piquenique
noturno, estamos famintos, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Eidfjord, 25 de agosto de 2014.
Caro Amigo,
O trajeto até aqui foi
maravilhoso, mas a cidade foi uma roubada porque parecia uma cidade fantasma, é
a principal e mais famosa estação de esqui do país, mas no verão e em um
domingo chuvoso é um horror. Nos lembrou Las Leñas, a maioria dos hotéis
fechados, assim como o comércio, e uns poucos loucos vagueando pela solidão.
Não nos pareceu pitoresca no verão como ouvimos dizer.
Por sorte não encontramos nenhum “troll”, uns horríveis duendes
escandinavos, que aparem à noite e transformam-se em pedra durante o dia. Há
quem diga que eles são malvados e horrosos seres mitológicos, que raptam
princesas para fins libidinosos (acho que não preciso ter medo, já passei da
idade de correr esse risco e nem princesa sou, ah, ah, ah!). Outros dizem que
eles são uns pobres feiosinhos, discriminados por todos, e que não são piores
que qualquer ser humano (os tempos mudam, ah, ah, ah!). Vamos investigar! Quem
sabe encontremos um para o Stut, nosso mascote de viagem, que coleciona bichinhos
perdidos na rua por crianças descuidadas, recolhendo-os para que não vivam
sujos e sofrendo, pisados por transeuntes.
De qualquer modo valeu porque na
saída da cidade, encontramos um hotel muito simpático (www.ektegeilo.no), todo construído de madeira, a um estilo que parece chamar-se
“laft”, que utiliza troncos empilhados, que, após assentarem-se, acabam fazendo
com que as construções tenham um pé direito um pouco mais baixo.
O hotel é muito agradável, assim como seus donos, muito limpo e cuidado, com
cortinas xadrez, feitas do mesmo tecido das cúpulas dos abajures e arandelas.
Um grande salão dividido em diversos ambientes menores, decorados com móveis de
madeira robusta, estofados macios e mantas para afugentar o frio; para que
famílias e amigos pudessem confraternizar. Nos sentamos em um deles para nosso
piquenique; bem próximo um casal tomava chá; o pai lia historinhas para suas
pequenas filhas, que riam copiosamente. Que pena que não entendíamos uma palavra!
No caminho para a cidade de Eidfjord, há cerca de 80km, passamos
pelo Hardangervidda, um Parque Nacional,uma área de preservação ambiental, que
nos lembrou a travessia dos Andes, encontramos até pedras empilhadas (Pacha
Mama, oferendas à mãe terra, que vimos no norte da Argentina, parece que a
teoria de Thor Heyerdahl, do Kon-Tiki) pois a vegetação torna-se rasteira,
aparece um terreno pedregoso e surgem alguns restos de neve, os lagos continuam
sendo uma tônica no caminho preservação. O sexto maior glaciar da Noruega fica
no parque, o Hardangerjokulen. Tem a maior população de renas selvagens da
Europa, não encontramos nenhuma. Mas encontramos casas, estilo iglu, feitas de
pedras e cobertas de vegetação, bem interessantes.
É a região do maior e mais alto planaldo da Europa, de 1100 a 1400m. Pelas indicações da estrada,
deve nevar toneladas. Vários rios de
degelo nascem franzinos, correndo estreitos e tortuosos, até formar a Catarata
Voringsfossen, de 180m de altura, e outros rios caudalosos da região. Túneis
esculpidos em pedras maciças, gigantescos paredões de rocha. Apesar do frio de
8 graus, em certos momentos, o sol brilhou o caminho todo e pudemos desfrutar
tudo e chegar ao Eidfjord (Eidfiord) o nosso primeiro fiorde, de água verde
esmeralda e com cachoeiras que escorregam das altas montanhas, cheias de
pinheiros, para alimentá-lo.
O país temuma área
de cerca de 330.000 km² (um pouco menor que o estado de Goiás) e somente 5
milhões de habitantes, que se concentram na parte sul do país. Apesar de bem
menor que o Brasil, tem uma extensão costeira de quase duas vezes e meia a
nossa, 25.000 km de costa, um litoral muito peculiar por ser todo recortado
pelos fiordes (fjordes), que são escavações feitas nas montanhas, há milhares e
milhares de anos, pelo derretimento de geleiras na era glacial, que originaram
fissuras, fendas, que foram preenchidas pela água do mar. São imensos paredões
de rocha, cânions que se estreitam e alargam, preenchidos de água do mar, cujas
cores vão do azul ao verde, de acordo com sua diluição em água doce,
proveniente de chuva e de degelo; que chegam a avançar dezenas de quilômetros a
dentro do país e com alturas que chegam a 1.500m e chegam a ter profundidades
superiores a 400m. Algo meio parecido com as ria, que vimos na Espanha, mas em
uma escala muito, muito superior. Eles são uma das maiores razões do turismo na
Noruega.
Seguimos para
Lofthus, justamente margeando o Eidfjorde e o Hardangerfjord, por uma estrada
muito estreita, por onde mal passavam dois carros. De um lado fiorde, do outro
pomares, plantações de frutas se sucediam. Em pequenos quiosques, idosas
senhoras vendiam as frutas que colheram. Contam que o Hotel Ullensvag era um
dos lugares favoritos de Edvard Greig, local onde ele se inspirou para compor
suas imortais obras musicais e, até hoje, celebridades e famílias reais
escandinavas visitam o hotel para apreciar a bela vista da Geleira Folgefonna,
com seus 1600m sobre o fiorde Hardanger.
Por um complexo
conjunto de túnel/ponte/túnel, que tem, inclusive, rotatória em seu interior,
localizado entre Eidfjord e Lofthus, atravessamos o fiorde e as montanhas para
seguir em direção a Bergen pela E 07, pela beira do Hardangerfjord, que tem 180
km de extensão e 500 metros de profundidade.
A quantidade de
túneis e pontes que formam a intrigada rede viária do litoral da Noruega, para
torná-lo transitável, é uma coisa assustadora. E há, ainda, todo um sistema de
ferrys, que cruzam os fiordes, tornando a viagem mais prazerosa, mas não
sabemos exatamente quão mais cara. Por isso não nos preocupamos em programar
nenhum cruzeiro pelos fiordes, pois lemos que, viajando de carro, fatalmente,
teríamos que realizar alguma travessia em um dos milhares de ferrys; assim que
faríamos nosso cruzeiro.
Nosso destino
final era Bergen, na costa. Não se preocupe, Caro Amigo, era simplesmente o
destino final do dia, ainda temos muito que viajar (ah, ah, ah!). Onde
pretendíamos chegar cedo, ainda, com tempo para, calmamente, escolher hotel;
mas não foi bem o que aconteceu, pois é humanamente impossível não parar a cada
minuto para apreciar melhor a paisagem e tirar uma foto. Chegamos no final da
tarde, com a lista de alguns hotéis; embora seja a segunda maior cidade do
país, não é assim tão grande e o trânsito estava tranqüilo. Imaginávamos que
não teríamos muito dificuldade, o que não foi bem verdade, pois parece que todo
o universo resolveu conhecer a Noruega em agosto, nunca mais viajaremos nesse
mês, voltaremos ao nosso querido junho. E para completar, quando estamos em uma
movimentada rua do centro, um doido pula, repentinamente, na frente do nosso
carro, nosso coração parou, não atinávamos o que havia acontecido, se havíamos
feito alguma “M” (com letra maiúscula), transgredido alguma lei, ou se o tal
homem tivera um surto, quando voltamos a respirar e a raciocinar... encontramos
uns espanhóis, vamos parar para trocar umas palavrinhas, contamos depois.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Bergen, 27 de
agosto de 2014.
Caro Amigo,
O que aconteceu,
pasme, foi que o retardado do homem coleciona placas de veículos. Então, o
doido varrido pulou na frente de nosso carro por temos uma placa diferente, que
é vermelha, o que não é comum na Europa, pois é um leasing. O amalucado começou
a se sacudir, puxou sua máquina de fotografias e fotografou nossa placa, sempre
gesticulando e se explicando. E não é que, no dia seguinte, vimos o talzinho
fotografando placas no estacionamento de nosso hotel. Não da vontade de atropelar um infeliz
desses, e ainda dar ré para ter certeza que ele está bem mortinho (ah, ah,
ah!).
Os hotéis mais
econômicos estavam lotados, entenda-se por econômico algo em torno de 400
reais, uma verdadeira loucura. E foi isso que pagamos para ficar em uma
Hostelling (www.hihostels.no), em uma das oito montanhas que rodeiam Bergen, há
5 km do centro. Pelo menos o quarto era para dois e tinha banheiro, tudo muito
simples, sem TV e tínhamos que fazer a cama, com lençóis que pagamos o aluguel.
Pagamos basicamente o mesmo preço do hotel de Oslo, porque Bergen é muito mais
turística, é a entrada para os fiordes. Aqui também tem a revistinha com as
informações da cidade e o cartão Bergen Pass, para entradas em museus e
desconto em diversos lugares, mas, como em Oslo, achamos que não compensaria,
até porque não tínhamos a indicação de nenhum museu que fosse excepcional.
Mas, afinal,
gostamos muito, pois como continuamos fazendo economia de guerra (senão não tem
viagem em dezembro ah, ah, ah!), a grande cozinha nos serviu para preparar o
jantar, observar hábitos de outros povos (bisbilhotar, adoramos, ah, ah, ah!);
e conhecer um monte de gente legal, como é o caso do casal Manoel, espanhol
(?), e Elizabete, argentina (adoramos encontrar uma hermana, ah, ah, ah!); e de
Ximena, chilena, que era voluntária no Hostelling, um programa de intercâmbio
montado por um brasileiro. Além disso eles realizavam atividades para
confraternização, café à tarde, caminhadas, visitas guiadas à cidade; tudo
“free”, como todo mundo que estava lá precisava.
Agora vamos a
Bergen (já fofocamos muito) a cidade que olha diretamente para o oceano, que
trás correntes marítimas, que ajudam a amenizar as baixas temperaturas e de
onde, anos atrás, pequenos barcos chegavam cheios de peixes para transformar a cidade em um dos mais
movimentados portos de pescado do mundo. Hoje, os barcos já não chegam de
profusão, mas ainda existe o Mercado de Peixes, que se transformou em algo para
turistas, cujos comerciantes fala até em português.
Logo ao lado está
Bryggen, um conjunto de antigos armazéns, feitos em madeira encaixada, com
tábuas sobrepostas, conhecido por Cais Alemão que foi declarado, pela UNESCO,
Patrimônio da Humanidade. Em verdade elas não são originais, pois foram todas
queimadas em um incêndio, em 1702, mas sua reconstrução foi exatamente aos
moldes das casas originais.
Conhecemos a
cidade em um tour guiado, gratuito, que o Hostelling organiza todas as terças.
No final, tem até cafezinho com bolacha à beira mar. Não subimos de teleférico
para olhar a vista da cidade, porque também já o fazíamos dos jardins do hotel.
Se o Caro Amigo quiser se hospedar lá pode ir de ônibus, mas compre o bilhete
antes, em máquinas ou até supermercados, pois direto com o motorista é bem mais
caro (se é possível ser mais, pois já custa cerca de 15 reais só uma viagem), é
só tomar o ônibus 12, para Montana, no em frente ao coreto, ou pérgula, uma das
coisas mais graciosas que já vimos, com sua cúpula esverdeada, esguias colunas
brancas encimadas por arcos ornamentados com rendilhados, de onde pendem vasos
cheios de flores.
O Festplassem,
Parque da Cidade, circunda um lago artificial, seu gramado verdinho convida a
um descanso ou rápida parada para admirar suas flores amarelas. É, seguramente,
uma das cidades mais simpáticas e fotogênicas que conhecemos. É uma cidade para
descobrir a cada passo.
Se o Caro Amigo
tiver apenas poucas horas na cidade, aconselhamos um passeio por Nordness, um
bairro onde o tempo parou, que não foi destruído em bombardeios da 2ª Guerra e
as ruas seguem muito estreitas, com casas de madeira colorida coladas umas as
outras, jardineiras e vasos de flores espalhados pelo cenário.
Até tentamos
visitar a Catedral, mas estava fechada. Assim como a nossa primeira Starvkirkje, toda em madeira, cheia de pequenas torres
pontudas, como um pequeno castelo; de qualquer modo, pudemos apreciar a riqueza
de detalhes de seu exterior,
Por aqui o pessoal parece não comer muito doce, no
café da manhã as únicas coisas doces são iogurte e geléia. Mas eles comem um
queijo muito estranho, pense o Caro Amigo em um doce de leite em barra, como um
tijolo, escurinho, macio para cortar em fatias; agora tire praticamente todo o
açúcar e ponha uma pitada de sal, pois é isso.
Indagamos a uma argentina (afinal eles são os reis do doce de leite),
ela nos disse que amou, nós ainda estamos inseguros para opinar, continuaremos
provando (ah, ah, ah!). O gravlax (salmão curado), já comemos de montão, é
muito bom. Os smorbrods também já provamos de vários sabores, são deliciosos,
mas um pouco complicados para comer, pois falta a fatia de pão da parte de cima
do sanduíche (deve ser para economizar, já que aqui tudo é muito caro ah, ah,
ah1!), justamente a que evita sujar as mãos e ajuda a apertar o recheio para
morder. No café da manhã não faltam pepino e beterraba em conserva, além de
variações de arenque em conserva, salmão e sardinha.
Beijos,
Sayo e Claudio
Fjaerland, 28 de agosto de 2014.
Caro Amigo,
Deixamos Bergen pegando o caminho até Voss, pela
E16, a cidade é uma estação de esqui, dedicada à prática de vários esportes,
mas não era o que buscávamos, então seguimos adiante. Cruzamos com dezenas de ônibus de excursão, trailers e
turistas em automóvel e moto, todos procurando o que a Noruega tem para dar e
vender, natureza intocada, paisagens deslumbrantes de tirar o fôlego, calma e
tranqüilidade. O custo é alto, mas vale muito à pena pagar. Por isso a população
ama tanto a prática de esportes ao ar livre. Ainda seguindo a E16, chegamos ao
Naeroyfjorden, (Vestnorsk fjordlandskap), Patrimônio da Humanidade, declarado
pela Unesco, é o fiorde mais estreito país, passando pelo Stalheim Canyon, que o ladeia. Fascinante!
Casas coloridas de madeira repousando em tapetes de
grama verde. Paredões de pedra, montanhas com restinhos de neve e muitos
pinheiros. Céu azul com algumas poucas nuvens brancas, outras sentadas entre as
montanhas e pinheiros verdes. Espelhos d’água de transparentemente esverdeados
ou azulados, lagos ou fiordes, onde toda paisagem está refletida. Corredeiras e
cachoeiras espalhando seus véus brancos por longos e pedregosos caminhos.
Campings com pequenos chalés de madeira para aluguel, localizados justamente
nas mais lindas curvas dos pequenos riachos. Era a paisagem que encontrávamos a
cada curva. Sol agradável, beirando os
vinte graus.
De Guddvangen seguimos em direção de
Bakka, para acompanhar o Naeroyfjorden
um pouquinho mais e ver uma grande embarcação chegando, navegando
solitário pelo fiorde, porque não havia qualquer outra embarcação em suas
águas. Atravessamos dois túneis, mais de 15 km, e estávamos em Flam, de frente
para dois enormes transatlânticos que fazem cruzeiros pelos fiordes, os mesmo
que, no verão vão ao Brasil.
Estávamos um pouco preocupados quanto
aos horários dos ferries, para os trechos que, obrigatoriamente teríamos que
cruzar os fiordes neles. Por sorte, no Centro de Informações Turísticas de
Flam, trabalha um brasileiro, que nos deu informações sobre os horários que,
agora, no verão, são praticamente a cada hora. Também nos falou sobre a famosa
viagem de trem entre Myrdal e Flam, disse que, para quem está de carro não
acrescenta nada, é na verdade meio que uma daquelas furadas que criam fama e
pelas quais os turistas acabam pagando.
Seguimos, então, para Laerdal, pelo
Laerdalstunnelen, de 24,5km, que, em certos trechos tem uma iluminação azul,
lembrando o fundo do mar e parece ainda ser o maior do mundo. No final dele pegamos a E5, passamos por
Laerdal e cruzamos o Naeroyfjord, em ferry, até Kaupanger, foi nosso primeiro
passeio em águas de fiorde, para sermos bem sinceros: é lindo, mas de carro é
mais bonito. O ferry é confortável como um barco, com cafeteria, mesas e poltronas
confortáveis.
Encontramos outra Starvkirkje, perdemos
duas no caminho, mas estava fechada, ainda não foi dessa vez que visitamos uma.
Aliás, os horários das igrejas são um pouco estranhos, estão quase sempre
fechadas, parece que eles aqui não têm muito a pedir a Deus, também, com tanta
beleza, é melhor deixar Ele para os mais necessitados (ah, ah, ah!).
É bastante perceptível que um país tem
uma densidade demográfica muito baixa, pois cruzamos, até aqui, exceto Bergen e
Oslo, somente vilarejos e pequenos aglomerados de casas, nos quais, não se vê
ninguém na rua, sequer em alguma janela, por vezes dá impressão de ser somente
um cenário para um novo filme. Os cachorros não latem, as crianças não gritam;
talvez, só talvez, os adolescentes tenham um pequeno, quase imperceptível traço
rebelde. Tudo parece funcionar dentro da mais perfeita ordem.
E assim chegamos ao Sognefjord (Fiorde
dos Sonhos), que figura como o maior do planeta, o Rei dos Fiordes, com seus
204 km de cumprimento e 1.308 metros de profundidade. E daí subimos, pela E5,
para o Parque Nacional de Jostadelsbreen, onde está o maior glacial da
Europa, para, justamente, ver-lo.
Na verdade já era tarde, quase seis, e
já não havia tantos hotéis e campings como no restante do trajeto. Perguntamos
em dois, os chalés estavam lotados; os hotéis estavam pela hora da morte, algo
em torno de 600 reais. O jeito era seguir, por falta de opção melhor. Já
pensávamos em dormir em alguma parada de descanso, afinal tinham banheiro (com
água quentinha), sabonete e papel. Um banho de toalhinha não faz mal a ninguém.
Comida para piquenique tínhamos, assim como vinho e alguma cobertinha. O sol ia
até as nove o país é seguríssimo, tudo sairia bem, não se preocupe o Caro
Amigo, você está com a CRKtour (ah, ah, ah!).
Mas... chegamos ao glacial, parada
para foto contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Dalsnibba, 29 de agosto de 2014.
Caro Amigo,
Não foi essa vez que dormimos na rua,
quando chegávamos a Fjaerland, que dizem ser a cidade dos livros, gente vem de longe
para comprar e trocar livros antigos, avistamos a placa de camping. Meio
desanimados fomos perguntar; o solícito senhor nos disse que não tinha cabanas,
mas sim quartos, com banheiro e cozinha compartilhados, embora o preço houvesse
caído muito, era algo em torno de 200 reais. Ele nos sugeriu que víssemos os
quartos, pois eram muito pequenos. E realmente era, mas estavam em uma daquelas
casinhas de madeira com gramado no telhado e o camping tinha fundos para o glacial e frente para um imóvel lago
profundo, não perderíamos. Pagamos mais coisa de 70 reais pelos lençóis
descartáveis e a toalhas forneciam.
Ao final foi muito divertido, já havia
uma família hospedada, dois médicos com um casal de filhos pré-adolescentes.
Depois de nos debulharmos em cumprimentos e conjeturas em inglês, descobrimos
que eram espanhóis, de Sevilha. Então, entre reclamações quanto aos preços das
coisas e elogios à beleza do local, dividimos nossas comidas, e bebidas, e nos divertimos muito. A casinha tinha todo
equipamento de coxinha, microondas, fogão, geladeira, panelas, pratos , copos,
talheres etc. Uma banheiro era para os homens, outro para mulheres; o chuveiro
era pago, era possível escolher banho de 5 (três minutos) ou de 10 coroas.
A primeira entrada, que tomamos,
ao Glacial Jostedalsbreen foi Supphellebreen . No adiantado do verão, o
glacial chorava e suas lágrimas se transformaram em uma cachoeira, que escorreu
para algum rio, que chegou ao oceano; pouca coisa restou. Seguramente é mais
interessante no inverno.
Na entrada seguinte, Boyabreen, da azulada língua de gelo, que
escorre pela encosta da montanha até a beira de um lago, pouco restava; se
desfazia em mais uma cachoeira, como tantas a sua volta. Temperatura: 9 graus.
Sol e céu azulíssimo.
Atravessamos o túnel Fjareland, de 6km, para nos deparamos com
mais uma das cinematográficas cenas de tirar o fôlego, com montanhas
pedregosas, resquícios de neve, lago espelhado, gramado lisinho, pinheiros
verde esmeralda e minúsculas casinhas coloridas. Como já estamos nos tronando
repetitivos, sempre que falarmos em cena cinematográfica fica combinado que o
Caro Amigo saberá que é a isso que estaremos nos referindo, pois é o que aqui
se vê sempre, a cada palmo do caminho. Estávamos na região do Nordjfjord,
trocamos a E5 pela E39. Depois, em Byrkjelo, tomamos a 60, para Stryn.
Está meio chatinho esse detalhamento de estradas, mas foi essa uma
das nossas grandes dúvidas nessa viagem, que estrada tomar entre tantas
maravilhosas, em muitos sites que pesquisamos as pessoas comentam os locais,
mas não informam a estrada, o que dificulta muito localizar a informação ou escolher,
em meio ao intrincado emaranhado de túneis, ferries e estradas que povoam a
região, que caminho tomar. Pois apesar de nossa relação com Eva Maria ter se
tornado, na medida do possível, algo bem cordial, seguimos adorando mapas e,
principalmente, ter domínio e uma visão detalhada do que estamos fazendo,
fornecendo a ela apenas trechos pequenos, para que não enverede pelo caminho
que não queremos seguir.
Cruzamos uma região de montanha,
Briksdal, provavelmente, no inverno, há muita neve, mas agora somente
resquícios. Logo baixamos e a estrada, muito estreita, beirando um dos braços
do Nordjfjord; por vezes, é necessário parar e dar passagem ao carro que vem em
direção contrária. Ainda margeando o braço, passamos por Loen, mais uma
daquelas cidades de conto de fadas, de cenários cinematográficos. Agora
atravessamos montanhas, pela 15, em direção a Geiranger. No alto das montanhas,
após uma sucessão de túneis, voltamos a encontrar uma geografia parecida com a
do cruzamento dos Andes, mas com pequenas cachoeiras, formadas de água de
degelo, que acabam em lagoas. Tomamos a estrada 63 e uma placa indica mais um
Patrimônio da Humanidade: Geirangerfjorden
Encontramos outros empilhamentos de pedra, mas agora já
acreditamos que são “trolls”, apreciando a paisagem, pois como o sol brilha
radiante, eles estão petrificados. Pensávamos em não levar nenhuma lembrança da
Noruega, exceto as que trazemos em nosso coração, pois os preços são
proibitivos, pensamos melhor e nos demos conta de que será muito barato levar alguns
“trolls”, basta esperar que virem pedra, se der excesso de bagagem não há
problema, no Brasil é baratinho (ah, ah, ah!).
Estamos na Estrada da Àguia, ou Dourada, e avistamos Dalsnibba, a
mais alta vista de fiordes a partir de uma estrada (Toll Road), 1500m acima do
mar, é acessada por um desvio à esquerda, paga-se cerca de 50 reais para subir
pela pavimentada estrada que sai de frente de um azul lago. Sobe-se ao topo,
bem juntinho a um branco tapete de neve, para, lá no fundo, ter a primeira
visão do Geirangerfjorden.
Na descida até a cidade, Geiranger, mais umas paradas para
apreciar o fiorde, que é Patrimônio da Humanidade, que tem forma de “S”.
Chegamos cedo à cidade, maneira de dizer, ao pequeno vilarejo, a partir do qual
faríamos o nosso mais longo passeio por um fiorde.
Bem sabemos que o Caro Amigo já deve estar preocupado, indagando:
Que horas serão? Onde dormirá essa
noite? Para dizer a verdade, nós também, mas resolvemos relaxar, pois Deus
proverá.
Beijos,
Sayo e Claudio
Geiranger, 28 de agosto de 2014.
Caro Amigo,
E Deus realmente proveu. E ficamos numa adorável casinha
(www.marak.no), bem de frente para o fiorde Geirander e de sua janela, quando
comíamos um quentinho (pois só andávamos a sanduíche e petiscos, economia de
guerra ah, ah, ah!) Macarrão ao Pesto, que cozinhei, avistamos o
transatlântico, todo iluminado, sumir lá no fundo do fiorde, deixando o mágico
cenário na santa paz de Deus.
O preço não era lá muito barato (aqui só o marido da barata ah,
ah, ah!), cerca de 300 reais, mas nos apaixonamos, pois além de ela ser
lindinha e limpinha, ter uma linda vista para o fiorde, era graciosamente
decorada, tinha equipamentos e louças de primeira, além de estar situada em um
pomar de macieiras, todo gramado, que o dono cuidava como quem cuida de um
bebe, com todo mimo. A tal casinha era realmente um doce, sala conjugada com
cozinha, quarto de casal, quarto para as crianças e, sobre o banheiro, em uma
espécie de mezanino, dois colchões de solteiro.
Como chegamos cedo e nos hospedamos com rapidez, tivemos a
oportunidade de assistir um concerto de música folclórica, na igreja da cidade.
Não havia muita gente, uma pena, pois era algo beneficente, e quem não foi
perdeu a oportunidade de desfrutar uns momentos agradáveis, pois o interior da
igreja valia a visita. O concerto, embora curto, foi bonito, teve piano,
trompete (nos corrijam os mais conhecedores), órgão e um instrumento típico da
Noruega, cujo nome não conseguimos entender, com som que lembra um berrante. E
foi muito divertido ver o pastor, homenzarão loiro, todo tímido, explicando
detalhes da igreja e das músicas.
Fizemos a travessia do fiorde Geiranger em ferry, um verdadeiro
cruzeiro de mais de uma hora, pois, como já dissemos, eles são super
confortáveis. O custo foi de aproximadamente 240 reais, o valor do carro inclui
o motorista e foi cobrado mais uma pessoa. Durante a viagem eles dão
informações sobre os pontos turísticos do percurso, que também são apresentadas
em uma grande tela de teve. Há ferry a cada hora e meia, a partir das oito (www.fjord1.no).
Tomamos o ferry das nove e meia, o frio era cruel, então fiquei (Sayo),
sentadinha vendo tudo de dentro, enquanto o Kuc ia para lá e para cá, feito
criança, como bem pode imaginar o Caro Amigo.
Passamos por um vilarejo que só tem acesso por uma estrada em
forma de zig-zag. Cruzamos outros barcos em as calmas águas verdes esmeralda do
fiorde, com o sol batendo no topo dos paredões de pedra, que as circundam, nos
quais se observa rastros deixados pelas águas que escorreram no degelo, dos
quais alguns ainda vertem água, em forma de cachoeiras, maiores ou menores. A
mais famosa é a Sete Irmãs, há 1000m de altura. Avistamos minúsculos produtores de maçã, que produzem
toneladas, mesmo em condições tão adversas. Esta segunda experiência, navegando
em um fiorde, foi bem mais interessante, mas, ainda assim, preferimos fazer o
passeio de carro e parar, onde nos aprouver, para admirá-los.
E, em uma hora e dez minutos, estávamos em Hellesylt, com grandes
intenções de chegar, ainda hoje, em Alesund, se os duzentos milhões de fotos
imprescindíveis, que o Kuc tira, deixarem. Tomamos a direção de Stranda, pela
60. Não quero desanimar o Caro Amigo, mas, no passo que vai, não sairemos da
Noruega nos próximos trinta dias, assim é melhor ir esquecendo Suécia e
Dinamarca, ficarão para outra ocasião (ah, ah, ah!).
Em Stranda, um novo ferry
nos esperava, para Llabygda, exatamente quando chegamos, onze e trinta, mas o
trajeto é curtíssimo, custo de cerca de 45 reais, dez minutos de percurso.
Tomamos a 63, em direção Andalsnes, passando pelas passarelas de
Gudbrandsjuvet, sobre o rio Valldola, que permitem caminhar sobre erosões
subterrâneas, como corredeiras, com a água escavando seu caminho nas rochas.
Vagarosamente a estrada
sobe às montanhas, volta à vegetação árida, chegamos à Trollstigen
(paredão de Troll), a maior parede vertical de toda a Europa, que chega à
1800m, estamos na Estrada dos Trolls. No meio do caminho há um conjunto de
miradores, justamente antes da estrada começar a descer em zig-zag até a cidade
de Andalsnes.
Daí partimos, pela 136
(E39), já passando das três da tarde, beirando o fiorde Romsdals, na tentativa
de vencer os pouco mais de 100 km, que nos separavam de Alesund, ainda hoje. E chegamos,
mesmo com algumas paradas, inclusive para conhecer uma grande rede de mercados,
algo como o Atacadão, chamada Rema 1000, há preços pouca coisa melhores,
principalmente nos produtos que têm o rótulo deles. O dinheiro norueguês
chama-se Coroa Norueguesa, NOK para os mais íntimos.
Como chegamos antes das
seis da tarde, passamos no centro de informações turísticas e conseguimos, em
um camping (www.volsdalencamping.no)
uma pequena quitinete, por cerca de 300 reais o dia, sem lençol (já tínhamos o quase descartáveis, de TNT do
outro hotel) e sem toalha (sempre trazemos algo para emergências). Os
chalezinhos são mais legais, e baratos, pois estão de frente para o fiorde,
junto com as barracas e trailers, porém o banheiros deles é fora, junto com os
campistas. Ele fica há 2,5 km da cidade, é perto, e o dono gosta muito de
brasileiros, nos deu um desconto de 20%.
Só nos restava dormir e
sonhar com o que Alesund tem de melhor e que é um dos pratos prediletos do brasileiro,
principalmente do santista, que, se o custo permitir (ah, ah, ah!), iremos
provar amanhã. Só para constar, um café expresso custa 15 reais. Até amanhã!
Beijos,
Sayo e Claudio
Alesund, 31 de agosto de
2014.
Caro Amigo,
A cidade tem vários
títulos como o de Capital do Bacalhau ou de Veneza Nórdica. O primeiro deve-se
ao fato de viver da pesca, principalmente do bacalhau, são responsáveis por
quase três quartos da exportação de bacalhau seco do mundo. Já o segundo, é por
estar em um arquipélago, com quatorze (há divergências) ilhas, e possui canais,
tudo interligado por pontes, túneis submarinos e ferry.
Mas, principalmente,
falar de Alesund é falar de seu conjunto de casa construídas em estilo art
nouveau, que lhe rendeu o título de Patrimônio da Humanidade, dado pela UNESCO.
Contam que, em janeiro1904, um terrível incêndio destruiu 850 edifícios,
deixando mais de dez mil pessoas sem casa; então, mestre e arquitetos de todo o
país vieram e reconstruíram a cidade em somente três anos, dando a ela a mais
harmoniosa arquitetura modernista do mundo.
Uma das coisas que nos
chama a atenção, no país, é o pequeno número de habitantes, que torna os locais
quase desertos. As casas parecem sempre vazias; lindas, limpas e arrumadas, mas
sem moradores. Nas fazendas raramente se vê alguém trabalhando. As obras estão,
quase sempre, paradas. Nos perguntamos: onde eles estão? Os noruegueses são
discretos, silenciosos, até um pouco frios, mas muito educados e solícitos,
basta verem a gente com mapa na mão, e cara de dúvida, para prontamente
oferecerem ajuda, mesmo sem solicitação; são muito patriotas, é muito comum
hastearem bandeiras nas casas. Aparentemente, não são muito religiosos, pois
são poucas as igrejas e quase sempre estão fechadas. O que o país tem de
melhor, que vem atraindo turistas do mundo todo, é a natureza quase intocada,
Embelezada pelos fiordes.
Subimos de carro ao Monte
Aksla, ao mirador Fjellstua, para ter uma visão da cidade e ilhas que a formam.
É possível subir caminhando, mais de 400 degraus, ou com aqueles ônibus que
fazem os pontos turísticos das cidades, com explicações em várias línguas,
todas as cidades turísticas daqui têm.
Depois saímos a caminhar
pela cidade, com uma paradinha na rua Apotekergata, para observar uma pequena
praça e a arquitetura de seu entorno e os pequenos iates ancorados em seu
porto, ao lado de barcos, que vendiam seu peixe (literalmente) e dividiam a
atenção dos transeuntes.
Era sábado e a Kongens Gate
estava cheia de gente todos vieram à feira gastronômica, o grande evento da
cidade; que, além dos muitos quitutes (salmão, carne de baleia, doces, wafles,
queijos, geléias, pães, arenque, sucos, sorvetes etc ) para comprar e provar,
teve até desfile de bandas, aula de culinária e mágico.
No mais foi caminhar
pelas ruas e observar a linda arquitetura das casas coloridas, em estilo art
nouveau, principalmente as da Rua Apotetekergata.
Já no final da tarde,
saímos para um passeio de carro nos arredores, queríamos conhecer os túneis
submarinos, que chegam a 150m de profundidade. E foi como chegamos, a
pouquíssimos minutos do centro, a paisagens que conjugavam fiorde e cenas
rurais, com gramados verdes, pinheiros, vaquinhas pastando, enormes rolos de
grama aparada, que alimentaria, no inverno, as vaquinhas e os cavalos, que por
lá pastavam, ao lado das românticas casas de madeira, cada vez mais
delicadamente cuidadas, enfeitadas e floridas.
O
consumo de álcool não é incentivado, os mercados vendem cerveja de baixo teor
alcoólico, as demais bebidas alcoólicas são vendidas em lojas do governo, com
impostos altos, chamadas “vinmonopolet”, que fecham à noite e não abrem aos
domingos. Nos pareceu que o hábito de comer em restaurantes também não é muito
comum, não se vê um grande número deles, como em outros países, e os que
existem são fechados nada daquelas adoráveis mesas ao ar livre (talvez o
frio?); são mais comuns comidas tipo fast food, como kebab, pizza (a qualquer
hora), massas e comida mexicana..
E não ficamos sem nosso
bacalhau! Passamos no mercado e compramos ele fresco, que já vem em uma
assadeira, é só temperar e colocar no forno; para acompanhar brócolis. Não faltaram cerveja e vinho, trouxemos da Alemanha (ah, ah, ah!).
E deixamos Alesund pela
136, até Andalsnes, onde tomamos a 64, direção Afames; a 660, direção Stuboen;
a 62 e a 70, quando deixamos os fiordes por monótonas paisagens de montanhas e
pinheiros; até a E6, que nos levou a
Trondheim e nos levaria a quilômetros e quilômetros de belezas e mistérios, já
que os nossos plano original não incluía os dois próximos destinos, mas
resolvemos mudá-lo, acrescentando, aos 4.000Km que já rodamos, mais uns 4.000 somente para conhecê-los. Um
deles é Tromso que, como já sabe o Caro Amigo, foi recomendação de Paul, nosso
amigo da França; o outro, um destino paradisíaco, que Ártico e praia, nos foi
recomendado pelo casal de médicos espanhóis, Silvia e Iñego, é o... estamos
morrendo de fome, vamos parar par um piquenique, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Caro Amigo,
Não é difícil fazer a
mala para Noruega, não há necessidade de roupa formal, pois eles são muito
descontraídos e adoram usar roupa para prática de esporte; dizem que elas estão
entre os únicos produtos baratos no país, fizemos uma pesquisa e elas não são
realmente muito caras. Lógico que algo, um pouquinho menos formal sempre tem
que vir, vai que o Caro Amigo seja convidado a participar de algum evento (ah,
ah, ah!).
A cidade de Trondheim é
uma graça, é pouco comentada, pois, acreditamos, como está mais afastada do
eixo das excursões, o povo acaba não vindo até aqui. Uma pena! Nem parece
Noruega, as ruas cheias de gente jovem (deve ser cidade universitária)
passeando, conversando; um montão de restaurantes com mesinhas na rua. Uma
cidade cheia de vida, rodeada pelo fiorde de mesmo nome e pelo rio .
Nossa intenção era só
passar por ela para trocar dinheiro, pois nas cidades menores não se encontra
onde fazê-lo. Em Alesund só era possível trocar no Centro e Informações
Turísticas, mas a cotação era péssima e acreditamos que quanto mais ao norte,
mais difícil ficará fazê-lo. É possível sacar dinheiro diretamente em caixas
eletrônicos, no meio da rua, mas é uma prática que não nos agrada, pois no
Brasil nunca se sabe quanto se pagará pela comodidade; estávamos na Argentina
quando o dólar, de um dia para outro, dobrou de preço, imagine como foi pagar o
dobro por tudo que se gastou, sem falar nos impostos. Também da para pagar tudo
com cartão, até os parquímetros de estacionamento na rua. Como era domingo, a
Forex, que fica dentro da estação ferroviária, estava fechada. Assim, de muito
bom grado, acabamos ficando na cidade, num hotel da rede P, norueguesa.
Também é uma cidade de
peregrinação, tem um caminho que parte do sul do país, Caminho de Santo Olav,
com 643 Km, no mesmo estilo de Santiago de Compostela, na Espanha. Foi a
primeira igreja católica apostólica romana que encontramos no país, as outras
eram luteranas, Catedral Nidarosdomen, consagrada a Santo Olav, um rei morto em
batalha em 1030, sobre qual túmulo foi construída, no ano de 1320, conjugando
estilos normando, românico e gótico, sendo a maior construção medieval do país.
Realmente ela é grandiosa, com seus 102m de comprimento e 50m de largura. Sua fachada tem uma rosácea e, a seu lado,
dezenas de estátuas, de santos, alinhas; ao longo do tempo sobre vários
incêndios, logo se percebe, mas nem por isso perde sua beleza e imponência. Em
seu interior estão guardadas as jóias da coroa norueguesa, inclusive as
próprias coroas. Beirando às cinco da tarde, já não foi possível visitar seu
interior, mas pudemos, junto com os demais turistas que enchiam a praça em
frente à catedral, escutar o concerto do sino, que toca quase dez minutos,
anunciando cinco horas.
A região do Bryggen,
armazéns, está um show, não deve nada a de Bergen em graça, pois os armazéns
estão restaurados, muitos
transformaram-se em apartamentos, e seus coloridos fortes dão mais vida ao rio
que defronte deles.
As casas de madeira,
encontradas as dezenas, por vezes, têm um arzinho de faroeste; outras vezes,
cara de casa de boneca. A mais suntuosa delas, Stiftsgarden, tornou-se uma das
residências reais e pode ser visitada. Mas a cidade também tem construções em
vários outros estilos, não menos belos, que podem ser apreciados num passeio
informal pelo centro.
Deixamos
a cidade, passava um pouquinho das oito, após troca dinheiro. Nada tem vida até
das dez da manhã, não sendo nada diferente no domingo. Assim, se o Caro Amigo
quiser encarar a estrada cedo vai rodar quilômetros, subir e descer montanhas,
sem ver viva alma, exceto próximo às cidades maiores. Policiais são coisa rara,
mas dizem que eles observam tudo por câmeras, então é bom andar na linha. As
estradas são boas, mais cansativas, pista única, duas mãos, com velocidade, em
geral, de 70Km/h.
Dá
para viajar acampando por todo país, pois a rede de campings é imensa. Quem vem
de trailer nada de braçada. Também é possível encontrar muitas cabanas para
alugar, os cartazes indicam “hytter”, ”ledgi”, “rom” ou algo assim. Ao que
concluímos, das várias redes de hotel, as de melhor preço a PI (www.p-hotels.no)
(ficamos em um é básico, mas legal, o café é deixado numa sacolinha) e a City (www.cityliving.no)
(não ficamos, estão quase sempre cheios), mas nem pensar em achar algo por
menos de trezentos reais.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Saltfjellt, 02 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
Céu
e pinheiro são, praticamente, só o que vimos depois que deixamos Trondhein;
algum lago ou rio, que bordeávamos, com alguma ilhota no meio. Amargamos um
pouco, como que seguindo fila de enterro, atrás de algum trator ou trailer; mas
sobrevivemos. Subimos montanhas com estações de esqui e voltamos para beira dos
fiordes, sempre acompanhados por paradas para descanso em locais com visual de
tirar o fôlego, campings e pequenas cabanas de aluguel.
Foi
na E6, um pouco à frente de Mo I Rana, dentro do Parque Nacional Saltfjellet,
com temperatura de 15 graus, que
cruzamos o Círculo Polar Ártico, infelizmente o sol, que nos acompanhou até
aqui, perdeu-se entre um montão de nuvens. Não encontramos, no Pólo, os ursos
brancos, nem os icebergs, tão pouco as malévolas rainhas de gelo, coisas que
povoam o inconsciente de quase toda coletividade humana, um lindo sonho
romântico de alguma história infantil. Nem foi tão emocionante, pois o local
não está sinalizado com toda a pompa que julgamos merecer, parece que para eles
é algo que não tem tanta importância, mas para nós, que vivemos bem abaixo da
linha do Equador, é um marco, uma viagem (ah, ah, ah!). Mas quem sabe
encontremos alguma rena, ainda procuramos por elas e os cartazes indicam que
elas realmente existem.
Dormimos
em um hotel junto ao centro de informações do Parque Saltfjellt, ao lado de um
posto de gasolina e um camping com chalés. O local é simples e os preços como
de toda Noruega, mais de 400 reais, mas o ovo frito com bacon, servido no café
da manhã, foi de babar, como todo o resto. Dizem que, quando não se tem fome, a
goiaba tem bicho; por outro lado, quando se está economizando, ovo frito é
banquete (ah, ah, ah!).
Junto
com a entrada no Círculo Polar Ártico, voltou o tempo nublado e frio, 13 graus,
apesar de jamais ter feito um calor muito grande nessa viagem, a temperatura
nunca passou de 22 graus; somente na tarde que passamos em Trondhein consegui colocar um vestido com um
casaquinho nas costas. E para piorar, a previsão do tempo indicava chuva e frio
para os próximos dias. Nossa idéia era ir a Lofoten primeiro e depois Tromso,
mas curtir praia com esse tempo seria um horror. E as maravilhosas fotos que o
Kuc pretendia tirar? E como veríamos o Sol da Meia Noite e a Aurora Boreal?
Decidimos, logo cedo, fazer uma troca de planos, seguir primeiro para Tromso e,
depois, ir a Lofoten, quando já estivéssemos baixando, antes de entrarmos na Suécia.
Outro
fenômeno óptico muito famoso na Noruega, e outras regiões polares, é a Aurora
Boreal, luzes coloridas que dançam no céu, que ocorre em virtude do contato de
partículas de vento solar e poeira espacial com o campo magnético do planeta.
Ela é mais comum nos meses de setembro e outubro (estamos com sorte, quem sabe?),
março e abril. O fenômeno foi batizado por Galileu Galilei, em alusão a deusa
do amanhecer, Aurora, e seu filho, Bóreas.
Tromso e Lofoten são um ótimo
lugar para caçá-la, dizem que basta pegar uma estradinha e se afastar das luzes
da cidade. Mas com esse tempo tão nublado? É terrível chegar até aqui e voltar
para casa de mão abanando!
Pegamos
novamente a estrada, não tão cedo quanto pretendíamos, deixando as altas
montanhas do parque e baixando para Saltfjorden. Tempo nubladíssimo, alguma
chuva, mas ainda assim lindo. Há trem
fazendo todo esse roteiro, deve ser bem legal, pois segue junto à estrada e,
por vezes, passa em locais até mais interessantes que ela, como a beirinha dos
fiordes.
Na
região próxima a Bodo, há uma grande quantidade te túneis, sendo pequena a
distância entre eles e, ao sair-se de cada um dos escuros túneis, tem-se uma
mais grata visão das enormes montanhas circundadas por fiorde, já que realçadas
pelo contrate do olho acostumado com a penumbra. O outono, próximo, já tinge
algumas folhas de amarelo e marrom. Na água, outro tom de azul começa a
aparecer, mais claro, cor de piscina.
Em
Bognes, mais um ferry, para Skarberget, agora da empresa Torgatten Nord (www.thn.no),
cerca de sessenta reais, por trinta minutos de travessia. Mais um belo fiorde a
atravessar, pena que chovia e estava tudo cinza, monocromático. Era,
literalmente, um banho em todos os nossos planos, não tem nada pior para um
viajante que chuva, acompanhada de frio então... ninguém merece. E, para
piorar, o que já não está bom, a previsão dizia que, nos próximos três dias,
pelo menos, nada de melhora; mais ou menos o tempo que ainda ficaríamos na
Noruega. Bye bye Sol da Meia Noite. Bye Bye Aurora Boreal.
A
menos de uma hora de Tromso, mudamos E8, parece que os altos picos estão mais
próximos, com o resto de neve ao alcance da mão. A chuva parou um pouco. Com a
proximidade da noite as águas do fiorde vão sumindo na penumbra da paisagem, as
nuvens, estacionadas no topo das montanhas, chegavam a dar a impressão de que
nevava.
Uma
vez mais, descumprimos uma de nossas principais regras, chegamos a uma nova
cidade quando já havia escurecido. Um problema para olhar mapas, placas e
numeração de ruas; afinal, não temos 20 anos, nem 30 e nem 40 anos, os olhos já
não são a mesma coisa (ah, ah, ah!). Por sorte, pelo menos tínhamos mapas e
guias da cidade, que conseguimos em Alesund. Na estrada, havíamos analisado a
lista hotéis, para tentar encontrar algo de preço razoável (ah, ah, ah!),
próximo ao centro e com estacionamento, afinal, ainda acreditamos em Papai
Noel.
E
por falar nisso, é ele que decidimos visitar na Suécia, por muita insistência
do Stut, que quer entregar sua cartinha, ao Papai Noel, pessoalmente. Por isso,
incluímos a Lapônia no nosso roteiro. Mas voltemos à busca do hotel, pelo menos
tínhamos a Eva Maria (GPS) e fé em Deus (que é Pai e não nos desampara nunca)
e, assim, iniciamos nossa caça. No primeiro que paramos... vamos tomar café,
contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Tromso, 03 de
setembro de 2014.
Caro
Amigo,
No
primeiro hotel que paramos, ficamos. A senhora que nos atendeu era
amabilíssima, admirou-se muito de ver brasileiros no hotel, nos deu um desconto
é até esboçou algumas palavras de consolo quanto ao fatídico jogo contra a
Alemanha. O hotel era gracioso; tinha, pasme o Caro Amigo, café quentinho e
cookies, como cortesia, à disposição dos hóspedes. E eu que estava babando por
um naquela noite fria, pois para pagar quinze reais por uma minúscula
xicarazinha precisa ter muito peito, principalmente porque sirvo um dos mais
saborosos da cidade, de graça, para Deus e o mundo (se o Caro Amigo ainda não
provou, passe lá em casa, será um prazer), já que sou do país onde ele é
servido como sinal de hospitalidade aos
visitantes, tenho meus princípios (ah, ah,ah!).
Vamos
combinar que não era tão baratinho não, chegava perto dos quinhentos reais,
mas, por aqui, isso já virou pechincha, foi mais ou menos o que pagamos para
ficar no albergue da juventude em
Bergen, com bem menos conforto e afastado do centro, e no hotel da
estrada, na noite passada. E eu ainda poderia ficar negrinha de tanto tomar
café (era a conversa da minha mãe para não dar café para criança, acho que
herdei a criatividade dela, ou será a maluquice? Ah, ah, ah!) e me deliciar com
as caras engraçadas da simpática senhora (ah, ah, ah!). Agora era só rezar para
o tempo melhorar um bocadinho que fosse.
Chegar
até aqui, em tão curto espaço de tempo foi puxado. Não pela quilometragem, que
tiramos de letra, mas pelas condições climáticas e pela questão das
dificuldades da estrada, que, embora bem pavimentadas, têm muitas subidas e
descidas, curvas, limites de velocidade, radares, túneis, pontes, balsa e
dificuldade de ultrapassagem, pois é de mão dubla, sem acostamento e não muito
larga. É para ser percorrida vagarosamente, namorando paisagem, tirando mil
fotos; o que não fizemos, pois a pressa em chegar e o clima não nos permitiram.
O ideal é levar três dias para o percurso Trodehim/Tromso, cerca de 1200km. Fica
a dica para o Caro Amigo.
Tromso
é a Capital Mundial da Aurora Boreal, situa-se entre fiordes, no Mar do Norte.
Já fomos ao fim do mundo, em Ushuaia, Argentina, agora estávamos na latitude
69, nosso ponto mais ao norte. O centro não é grande, tem as simpáticas casas
de madeira, juntamente com edifícios de arquitetura sem muita definição, não é
feio. Tem muitas lojas e supermercados, percebe-se que se trata de um local
muito procurado pelos turistas. Há também vários restaurantes e, por incrível
que pareça, o mais recomendado foi uma pizzaria, Pepe’s. Aparentemente, tudo
funciona a mil de julho a agosto, verão, depois, os horários e algumas coisas
fecham até o próximo verão.
Visitamos
a Polaria, um aquário, que apresenta dois filmes interessantes, um sobre a
Aurora Boreal e outro sobre a geografia, flora e fauna da região. Há túnel
envidraçado, a partir do qual se vê as focas brincando e um pequeno show
com elas, 12:00 horas. A arquitetura do
edifício simula blocos de gelo caindo.
Tentamos
visitar a Catedral do Ártico, Ishavskatedralen, com arquitetura moderna, forma
triangular, seu talhado simboliza a aurora boreal. Ela tem interessantes
vitrais, mas vimos de longe, pois estava fechada.
Caminhamos
pelo centro e encontramos a Catedral aberta, ela é pequena, não tem nada de
muito especial. No Centro de Informações Turísticas, descobrimos que havia
previsão para possível visualização da Aurora Boreal, por volta da meia noite,
em dois pontos, cerca 50km distantes da
cidade; sexta-feira seria o melhor dia,
mas ainda era quarta, não ficaríamos, pois o tempo estava péssimo, chovia de
balde e estava um gelo. Assim, tentaríamos essa noite.
Ainda
tentamos dar um passeio de carro por
Kvaloya, uma furada com chuva. Existem outros museus, teleférico e
shopping, mas acabamos voltando para o hotel, afinal ele era bem quentinho e
tínhamos que adiantar as coisas para, às dez da noite, sairmos à caça da Aurora
e de seu filho Boreas.
No
horário previsto, vestimos tudo que tínhamos, e que conseguisse afastar o frio,
como diz a Cara Amiga Rosana: estávamos como cebola. Ainda se via algum
movimento na cidade, os retardatários, que ficaram tomando mais um traguinho. A
estrada, deserta, só escuridão e escuridão. Nas proximidades de Breivikeidet,
casas de madeira com os abajures, um dos tantos adornos colocados nas janelas,
acessos, não que houvesse alguém acordado, parece ser um costume para que,
mesmo à noite, se possa admirar a decoração. Fomos até o local de saída do
ferry, 45km mais ou menos, só deserto. Parece que só estes dois malucos,
resolveram sair para procurar a Aurora Boreal. Escolhemos um lugar bem escuro e
estacionamos, onze horas. E parece que ia escurecendo cada vez mais e chovendo
cada vez mais. Medo de ladrão? Não tínhamos, isso parece impossível na Noruega,
era mais fácil sermos abduzidos por um ET.
Tentávamos
fazer a hora passar, mas ela fazia questão de caminhar segundo por segundo, sem
saltar nenhum milímetro. Mas medo de que alguém nos visse, nos achasse
estranhos (imagine, ah, ah, ah!) e chamasse a polícia; a isso sim, nos
preocupava. Mas lemos que por aqui ou pela Suécia, ou ambos, há leis que
garantem o direito das pessoas caminharem por todos os locais, mesmo
propriedades particulares, como um direito de ir e vir aperfeiçoado, desde que
não causem prejuízos ou transgridam outras leis; por isso não há muros, nem
portões. Mas o nosso grande medo mesmo é que aparecesse algum Troll malvado
(ah, ah, ah!). E voltamos para o hotel, dois bocós, sem Aurora Boreal, sem
Luzes do Norte, como chamam aqui.
Hoje
começamos nossa volta, deixamos as frias terras da latitude 69. O sol parece
que, até de propósito, resolveu brincar de esconde-esconde, aparecendo, lá e
cá, entre uma nuvem e outro. Continuamos acompanhando as previsões do tempo e,
tudo indica, amanhã teremos um dia de sol, em Lofoten, nossos desejos parecem
que serão atendidos, quem sabe até a Aurorinha venha nos visitar esta noite, a
esperaremos com uma taça de vinho e um jantar caprichado, em alguma casinha de
pescador, em alguma minúscula aldeia, lá em Lofoten. Como é bom sonhar!
Beijos,
Sayo
e Claudio
Fredvang, (Lofoten) 04 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
Partimos
de Tromso com o tempo pouquinha coisa melhor, algumas frestas de céu azul
apareciam entre as nuvens, até o sol arriscava-se. Pegamos a mesma E8 que nos
trouxe à cidade, ao menos dessa vez podíamos, como era manhã, divisar o
contrate das corres da paisagem, o outono chegando, os restos de neve que à
distância, pareciam pequenos flocos.
Temos
que confessar que, chegando ao fim de nosso passeio na Noruega, em coisa de
dois ou três dias, sentimos uma pontinha de tristeza, pois adoramos o país, ele
é lindíssimo e vale cada centavo de seu custo. E, devo confessar, para a Cara
Amiga, que me compreenderá muito bem, que foi um aprendizado, saio do país sem
ter comprado absolutamente nada, exceto um adesivo com o brasão (colecionamos
dos países que visitamos) e alguma coisinha que nos faltou das provisões que
trouxemos da Alemanha, basicamente pão; mas sobrevivi, sem nem sofrer tanto
como imaginava que sofreria, pois sou uma compradora inveterada. De qualquer
modo ainda preciso comprar uma xícara para minha coleção, o resto deixo para
comprar na Alemanha, é bem mais barato (ah, ah, ah!).
Quanto
àquele queijo marrom, muito típico do país, finalmente, depois de muito
prová-lo, concluímos que, em verdade, é doce de leite, com quase nada de açúcar
e uma pitada de sal. Outra coisa que eles comem muito por aqui é algo que
apelidamos de “parede”, porque, em geral, tem o mesmo gosto, já conhecíamos
algo similar no Brasil; não é bolacha, é algo que seria mais saudável, para
natureba, com fibra e com gosto duvidoso, entre parede e algo pior, as daqui
não são tão ruins, principalmente se encher de geléia, arenque, queijo etc (ah,
ah, ah!).
Para
economizar fica mais uma dica, um cachorro quente vendido em pequenas lojas,
que vendem revistas, guloseimas e outras besteiras (parecidas com os
“quiosquos” argentinos). Ele não é
pequeno, é feito na hora, com pão prensado, quentinho, e dá para cobrir de uma
cebola crocante deliciosa, além de maionese, mostarda e catchup. O preço é 20
NOKs, pouco menos de dez reais. Se o Caro Amigo tomar um café da manhã legal e
eles são bem servidos, mesmo nos hotéis mais baratos (baratos? Ah, ah, ah!),
que foram os que ficamos, dá para comer um cachorro quente no almoço e só
jantar, algo que comprou no mercado, pois é bem mais barato, embora ainda caro.
Nós
mudamos nossa rotina de viagem, deixamos de jantar em restaurantes, se estamos
em casas, cozinhamos algo; em hotéis, tomamos lanche. Temos aproveitado mais o
dia, admirando as belezas naturais que o país tem para dar e vender. Por esse
motivo temos chegado sempre tarde para procurar hotel. Essa nova rotina tem
funcionado legal por aqui, pois as noites já estão bem frias e dá um pouco de
preguiça sair, depois de um banho quentinho. Assim, tomamos nossos santos
copinhos de vinho e cerveja, conversamos, comemos algo gostoso, mandamos nossa
cartinha para o Caro Amigo e vamos dormir felizes da vida.
Lofoten
é um arquipélago, formado pelas ilhas Austvagoy, Ginsoy, Vestvagoy, Flakstadoy,
Moskenesoy, Vaeroy e Rosty que, hoje, encontram-se interligadas, exceto as duas
últimas, por pontes e túneis, num total de
mais de 300km, portanto podem ser
percorridas de carro em coisa de quatro ou cinco horas, teoricamente, por que,
em verdade, é possível ficar semanas, ou meses, desfrutando as belezas do
local. Há ônibus ligando uma ponta à outra, entre Narvik e A, o percurso leva
oito horas, ele faz várias paradas.
A
medida que íamos para o sul, o tempo piorava terrivelmente. A chuva engrossava,
o céu escureceu e uma neblina ia se apoderando de tudo. Ao menos aqui não tem
comboio (ah, ah, ah!) Temperatura de onze graus. Atravessaríamos o arquipélago
todo pela E 10, tomando a 185, no seu pequeno trecho, para beirar o mar,
voltando à E10, pois decidimos seguir diretamente para “A”, cidade na última
ilha interligada por rodovia, na esperança de que o tempo melhorasse um pouco
no dia seguinte, para que pudéssemos aproveitar melhor as maravilhas de
Lofoten.
Era
o que pensávamos estar decidido, mas não foi o que aconteceu. Aproximadamente
25 km antes de “A”, na ponta do arquipélago, um túnel interrompido, homens
trabalhando e uma pequena fila. Pensamos: coisa de dez minutos. Pois aqui tudo
funciona com uma presteza incrível. Aí observamos um veículo, da obra, vir, em
direção à fila, e para conversar com cada motorista. Já logo concluímos que o
pior estava por vir. Já passava das sete e o loiro rapaz, quando se aproximou
de nosso carro, informou-nos que a estrada estava interrompida e que talvez,
frisou bem o “maybe”, conseguisse liberá-la por volta das dez.
Esperar
por algo que podia nem acontecer, embaixo de um frio daqueles, com o vento
começando a uivar e sem nem saber onde dormiríamos do outro lado? Nem a pau
Juvenal (ah, ah, ah!). Demos a volta e fomos voltando em cima do rastro,
procurando um lugar para dormir. Lugarzinhos encontramos muitos, mas com o
número do telefone na porta e nos nem trazemos celular em viagem. Encontramos
até um com um montão de bacalhau pendurado secando (ai que vontade, mas a da
picanha é maior ah, ah, ah!). Resolvemos atravessar a fantástica ponte e chegar
até Fredvang, um vilarejo um pouco maior.
Na
primeira tentativa, um local cheio de gente, banheiro coletivo, não deu. Aí
fomos atrás da placa de uma tal Mila. A mulher nos atendeu quase de pijamas,
pois era sua casa, e reclamando mais do
frio que nós, perguntamos sobre quarto e ela nos mostrou ... está na hora do
café, o dia nos aguarda, contamos depois.
Beijos
Sayo
e Claudio
Lofoten,
05 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
Perguntamos
sobre o quarto e ela nos mostrou uma agradável casinha, cheia de quadros de
pintura em seda (lembramos das Caras Amigas Rosa e Fátima, fotografamos tudo)
feitos por ela, enquanto já ia ligando o aquecedor, entregando a lenha para a
lareira, mostrando a cozinha equipada e perguntando se tínhamos café. Não deu,
nem dava para não ficar, pois o preço era pouco menos de trezentos reais, um
dos menores que já pagamos aqui e a Casa da Mila deliciosa (bros@online.no). O
tempo só permitia fantasma vagar pela rua, nada de procurar a Aurora, acho que
vamos ter que voltar em outras férias, por enquanto sonharemos com a foto que
alguém tirou (ah, ah, ah!).
Os
lugares são como as pessoas, uns são horríveis, cheios de defeitos, não que não
tenham nada de aproveitável, mas, simplesmente, são difíceis de conhecer;
outros são insossos, passam pela vida sem sequer serem percebidos; outros,
ainda, nasceram privilegiados, têm mais beleza e qualidades que todas as contas
de um rosário.
Aí,
no arquipélago, o mar também chegou, trazendo areia fininha, água azul cor de
piscina, espuma branca e o vai e vem das ondas, para embalar todo o cenário,
que já sente a proximidade do outono e seus tons amarelados. E chegaram também
os pescadores de bacalhau com seus pequenos barcos, para alimentar os que,
famintos, chegavam às ilhas, dando-lhes abrigo em suas pequenas casas vermelhas
(rorbu/rorbuer).
Conseguimos
a foto aérea, que está acima em um site.
A
paisagem rural não deixou de comparecer, com gorduchas ovelhas, vacas bem
marronzinhas e cabras, que garantem uma famosa produção de queijos e embutidos.
Lofoten
é também um paraíso para os mais diversos esportes, surf, trekking, ciclismo ou
simples caminhadas; sem falar em pesca, vela ou caiaque. Aves marinhas encontraram
nessas ilhas um local seguro para fazerem seus ninhos e muito pescado para seu
sustento.
O
bacalhau seco daqui está entre um dos melhores do mundo, ele é pescado entre
março e abril, ficando 4 meses secando, pendurados em armações de madeira. Por
todo canto é possível ver armações de madeira usadas para secá-lo, os vilarejos
até cheiram a bacalhau. Paramos numa charmosa delicatesse e cafeteria,
arriscamos até comprar um pedacinho de bacalhau e uns snacks do bicho, uma
delicia e bem mais saudável que batatinha frita.
Há
pontes de todos os tamanhos e modelos, assim como túneis, cada um deles ligando
uma coisa agradável à outra ainda melhor. O sol, infelizmente, não deu as
caras, ele poderia ter transformado o lindo em maravilhoso, mesmo assim o lugar
é um escândalo de bonito.
A
partir de “A”, fomos vagarosamente voltando pela E10, entrando em pequenas
estradas vicinais, para espiar algum minúsculo lugarejo. Não vimos muito
movimento de turistas, moradores ou pescadores, talvez a época do ano, boa parte
de negócios estavam fechados. E quando pensamos que já vimos tudo, encontramos
três doidos viajando em uma bicicleta e dois skates, nada como ser jovem e
destemido.
No
final da tarde, o sol nos brindou um pequeno sorriso, as nuvens foram se
dissipando um bocadinho, o azul do céu apareceu até mostrou algumas nuances, do
mesmo modo como os contrates entre as cores da paisagem. Estávamos ainda nas
proximidades de Leknes, a maior cidade, um pouco moderna demais para o cenário
de Lofoten. Havia uma festa Country, metade da cidade estava de chapéu de
cowboy, nada haver.
Decidimos
que passearíamos por mais uma hora, iríamos até Unstad, uma praia de surfistas,
e procuraríamos um lugar para dormir. Estávamos a coisa de 70km da casinha da
noite passada, bateu até uma vontade de voltar para dormir lá, mas se tínhamos
avançado tão pouco, voltar poderia nos atrasar mais ainda. Estávamos um pouco
frustrados, não vimos o sol da meia noite, pois chegamos tarde à Europa, voltar
sem ver a Aurora Boreal era frustrante, afinal era um de nossos propósitos, por
isso encaramos o inverno no verão, inclusive foi um dos nomes cogitados para
essa expedição.
Bem
pertinho da praia encontramos chalés e quartos para alugar, mas nada haver com
a gente, point de surfistas, já nos tínhamos deparado com um peladão na praia,
vestindo sua roupa de neopreme (ou será noeprene? Não sabemos como escreve).
Imagine o Caro Amigo o que rolava nos chalés, o lago positivo é que eles são
todos louros, jovens,, bonitos e sarados (ah, ah, ah!).
Um
pouco adiante, uma placa, “rorbu”, casinha vermelha de pescador para alugar.
Era uma ótima pedida! O local parecia mesmo ser um local de pescador, uma casa
grande (provavelmente a do dono), um armazém (para guardar coisas de pesca),
píer com barcos (um veleiro bem legal) e
um edifício, de dois andares vermelho, a casa de pescador que estava para
alugar, bem na beira do fiorde. O dono vinha justamente carregando umas
madeiras, perguntamos e ele respondeu que tinha e que o custo era coisa de 350
reais. Pedimos para ver, suspeitamos, e ele nos mostrou o andar superior da
casinha (casona!) vermelha (r.krong@live.no,
não tem site).
Bem
se via que esse pescador não era do Brasil, quisera eu ter uma casinha dessas
em qualquer lugar do mundo. Ela era graciosa, dois quartos, sala, cozinha e
banheiro. E para completar tinha máquina de lavar roupa e louça, TV de led,
microondas que grelha, louça de primeira, freezer imenso (pensamos até em
pescar, mas os peixes não chegam perto, pois o Kuc não consegue ficar mais de
um minuto parado ah, ah, ah!) etc etc etc... E uma vista, que parecíamos estar
em um barco navegando. Tratamos para uma noite e o dono, que estava apressado,
disse que voltaria mais tarde para receber.
Casa
arrumada, fomos cuidar do bacalhau para o jantar, já o estávamos dessalgando
durante o dia (nosso pequeno kit de emergência sempre inclui uma tigela com
tampa. Viu com serve, ah, ah, ah!). Vinho tínhamos, entrada de caviar branco e
queijo Goda e Bacalhoada à Sayo, com o especialíssimo bacalhau de local, que é
menos salgado e mais firme, substancioso. Quando o dono passou para receber,
perguntamos sobre a Aurora Boreal, ele respondeu que seria praticamente
impossível. Mesmo assim, não resistimos, resolvemos ficar duas noites, tirar um
dia de féria em Lofoten não nos cairia mal, se não der para cumprir o roteiro
original, certamente o Caro Amigo nos perdoará, afinal não é todo dia que se
está em Lofoten (ah, ah, ah!), além do mais, a previsão era de sol para o dia
seguinte.
E,
pouco depois das onze da noite, quando aproveitávamos para escrever para o Caro
Amigo, nosso senhorio bateu, muito afoito, no vidro do nosso quarto. Que teria
acontecido, foi o que nos perguntamos? Adivinhe, Caro Amigo? Por essa nem nós
esperávamos, ele veio nos avisar que...
vamos ao supermercado, contamos depois.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Mervoll
(Lofoten), 06 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
Ele
veio nos avisar que havia Aurora Boreal. Juramos! Saímos que nem doidos,
enrolamos cobertores por cima do pijama e fomos curtir as Luzes Polares. Ela
estava bem lá no alto do céu, não próximo à linha do horizonte, como vimos em
muitas fotos. Parece que alguém foi percorrendo o céu, de um lado a outro,
deixando um rastro de areia que escorre pela mão. A cada instante o rastro
tinha um formato diferente. Às vezes, uma linha mais estreita, outras se alargava;
então fazia uma curva, para voltar a se alongar.
Parecia
brincar com a gente, quando nos virávamos para um lado, para olhá-la tão linda,
ela fazia um desenho ainda mais interessante do outro lado. Nas fotos ela
aparece esverdeada, não sabemos explicar o motivo, mas ela é esbranquiçada.
Havíamos lido várias dicas sobre como fotografá-la, mas o que funcionou para a
gente foi SCN (Cena noturna sem tripé) A nossa máquina é uma Cannon, Power
Shot, SX50HS.
O
ideal é vê-la de um lugar escuro, longe das luzes da cidade. Maervoll, onde
estávamos, como alguns dos vilarejos de Lofoten, não podem nem ser chamados de vilarejos, pois
são ainda menores, por vezes não chegam a uma dúzia de casas; portanto não
tínhamos tanta luz, somente umas poucas, do próprio local onde estávamos, e outras de três ou quatro vizinhos, um pouco
afastados, que ainda estavam acordados.
Ainda
em Lofoten, no nosso dia de férias (ah, ah, ah!), um sábado, levantamos cedo,
junto com o lindo sol e caímos na estrada, para conhecer todos os outros pontos
de interesse do arquipélago que estavam marcados com uma florzinha em nosso
mapa. Muitos deles são pontos de visualização de belas paisagens, outros são
monumentos ou museus.
Não
encontramos, na viagem, aquelas tais cabanas perdidas, cujo uso é feito na base
da confiança, deixando o pagamento em uma caixa. Em Eggun, encontramos algo
parecido, para visitar as ruínas de uma fortificação, construída, pelos
alemães, na II Guerra, para colocação de um radar, e um monumento, com uma
escultura, um rosto que aparece de modo diferente dos quatro ângulos que se
olhe; para fazer a visitação. Há um cartaz que indica que a importância de
20NOKs deve ser colocada em uma caixa,
só na Noruega mesmo (ah, ah, ah!).
A
estrada para Henningsvaer (816) é show, rodeia uma encosta rochosa, enquanto no
mar aparecem dezenas de ilhotas que não passam de montes de pedras. Duas pontes
levam ao pequeno vilarejo. Vale muito a visita, principalmente para observar os
edifícios, em forma de elegantes palafitas, sobre o canal ladeado de barcos.
Svolvaer,
a capital, é até charmosa, mas sábado, à tarde, estava morta, esperávamos um
montão de turistas, alguma feira, mas nada. O que não é de se estranhar em
termos de Noruega, parece que eles passam o fim de semana escondindinhos dentro
de casa, fazendo tricô (eles amam) ou lendo, pois eles são um dos povos que
mais lêem no mundo. O povo sumiu, mas as vaquinhas foram aproveitar a praia
fria (ah, ah, ah!).
Quando
já voltávamos para casa, encontramos uma tímida loirinha vendendo “maffins”,
sob a supervisão de seu orgulhoso pai, que lhe traduzia o que falávamos. Parece
que eles incentivam as crianças a lutarem por seus objetivos. Aproveitamos para
comprar uns bolinhos para o café, que eu amo, como sabe o Caro Amigo, quiser me
agradar é só convidar para o café com bolo.
À
noite, após o jantar, que teve entrada de caviar branco e carne de baleia (não
comi não, fiquei com pena, mas o Kuc não dispensou) e Penne com Mexilão,
ficamos curtindo a casa até as onze. Ui,
já ia me esquecendo, tenho que contar esta para a Cara Amiga! Sabe qual é a
nova do Kuc? A idéia de fazermos as viagens de bicicleta, por pequenos
vilarejos, ele deixou para quando(?) estivermos (mais) velhinhos, escapei por
sorte! Agora, o bonito me veio com a história de que gostou da nossa nova
rotina de cozinhar nas viagens, usando produtos locais, inclusive como fazem
muitos “chefs” famosos. É bem verdade que, modéstias à parte, sou uma boa
cozinheira, como a Cara Amiga bem sabe, mas já imaginou eu passando minhas
férias com a barriga no fogão e, depois, ainda lavando a louça. É! Porque ele fala nossa nova rotina, mas quem
arca com o ônus sou euzinha, enquanto o bonito fica lendo a cartinha para o
Caro Amigo e selecionando as fotos. Dessa vez acho que ele viajou demais, deve
ser algo na água, acho que não lhe caiu bem (ah, ah, ah!).
Mas
como íamos contando, lá pelas onze, começamos a vigiar o céu, quem sabe! Havia
mais nuvens e as casas estavam mais iluminadas. Mesmo assim a Aurora Boreal
apareceu, embora tímida. E pudemos nos despedir, com chave de ouro, desse
encantador país e da encantadora Lofoten.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Abisko
(Suécia), 07 de setembro de 2014.
Caro Amigo,
A Noruega vai
deixar saudades. Oh país danado de tranqüilo. Cruzamos, pela última vez, boa
parte da ilha, pois estávamos próximo a Unstad, como era cedo e o sol brilhava,
apesar da névoa azulada que parecia envolver tudo, ainda pudemos desfrutar da
magnífica paisagem por mais uns 200km, até encontrar, muito rapidamente, uma
família de alces que cruzou a estrada, eram três, mas não deu tempo de
fotografar. Fica para a próxima
Atravessamos
para Suécia pela própria E10, por uma região de grandes altitudes e baixa
temperatura, estação de esqui. Um lugar um pouco estranho, as árvores dão a
impressão de terem sido queimadas, resta o caule e os galhos secos, a maioria
não tem folhas, ação do frio, área muito rochosa, árida. Apesar disso, há
muitas casas de madeira e muitos carros ao redor. Aparentemente, é local de
casa de final de semana e prática de esportes. Um tanto inóspito para o nosso
gosto, mas, em fim, gosto não se discute.
Na fronteira
não há qualquer trâmite, passasse livremente. Assim chegamos à Suécia, em busca
à Casa do Papai Noel e a de mais um dos Patrimônios da Humanidade, a Laponia.
Paramos no vilarejo de Abisko, que dizem ser um dos melhores lugares para ver a
Arurora Boreal, por ter um micro-clima único. O fato é que, no início de
setembro, como é o caso, o local é horrível, quase tudo fechado, inclusive
hotéis. Encontramos um hotel de nome bonito, Abisko Montain Lodge (www.abiskomountainlodge.se), mas em
termos de custo benefício, o que pagamos mais por muito menos serviço prestado.
Custou cerca de trezentos e cinqüenta reais, por um quarto que era um ovo, onde
mal conseguimos entrar com as malas, sem TV, sem secador. Às oito da noite todo
mundo vai embora e ponto. Para
completar, nada de Aurora, talvez só o seu perfume, ao longe, e um frio de
cinco graus. Pode até ser que na alta temporada a coisa seja melhor, mas, pelas
dúvidas, melhor que o Caro Amigo vá se encontrar com a Aurora em Lofoten, que
ganha disparado em tudo preço, beleza e temperatura.
A Laponia
Sueca, (também há na Finlândia) Patrimônio da Humanidade, é uma região de
florestas intocadas, onde vivem os Sami, indígenas europeus, que aqui vivem há
mais de dez mil anos, muito antes que a Escandinávia estivesse dividida nas
atuais fronteiras. Como a maioria dos povos indígenas do mundo, os samis
sofreram extermínio generalizado, restando atualmente, na Suécia, cerca de
vinte mil, que se dedica ao pastoreio de renas, alces, seguindo as manadas em
busca de pasto.
Até
Estocolmo, temos cerca de 1.200 km, temos dois mapas do país e algumas
indicações, que recebemos no Centro de Informações Turísticas de Gotemburgo, de
lugares interessantes que estão localizados do centro do país para o sul. Assim
que nos restava decidir o que fazer na parte norte, pois quando planejamos a
viagem não pensávamos chegar até aqui. Finalmente decidimos fazer um roteiro
conhecendo os locais declarados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, pois o
país tem quinze. Como deve se lembrar o
Caro Amigo, já estivemos em um, antes de chegar a Noruega, as gravuras rupestre
de Tanun. Para tanto, parte da viagem será pelo leste do país, junto ao Golfo
de Botnia, Mar Báltico, e outra parte pelo centro.
A paisagem
continua estranha, aquelas árvores com cara de queimadas e folhas amarelecidas,
pedras e alguns riachos. Estrada boa, sem viva alma, se notamos a baixa
densidade demográfica na Noruega, aqui, na Lapônia, a percebemos bem mais,
quilômetros e quilômetros sem cruzar com um só carro. Nada de camping ou
cabanas para alugar, teremos que ter mais atenção quanto ao local. Isso não tem
cara de terra de Papai Noel, ele deve ter se mudado para Noruega e nem deixou o
endereço (ah, h, ah!).
Passamos por
Kiruna, uma cidade um pouco maior para trocar euro por coroa sueca (SEK), antes
de seguir, pois nas cidades pequenas é mais difícil. Não há nada que justifique
uma estada maior, então partimos para a vilarejo de Jukkasjarvi, menos de 20km.
O pequeno
vilarejo abriga uma das grandes atrações do país. O Ice Hotel, Hotel de Gelo,
com 65 quartos, o primeiro e maior do mundo, em cuja construção trabalham,
anualmente, sim porque ele é
reconstruído todos os anos, em catorze semanas, utilizando mil toneladas de gelo e quarenta artistas, que realizam
esculturas em gelo. Quando chegamos, já
não havia a parte de gelo, mas sobra uma estrutura de hotel normal com cabanas,
cuja diária é um tiquinho mais barata do que a que pagamos ontem.
Seguimos para
Pajala, pela 395, quase na fronteira com a Finlândia, para conhecer o Arco
Geodésico de Struves, Struves Meridianbage, Patrimônio da
Humanidade.
Agora
começamos a entender o que chamam de “depressão outonal”, muito comum aqui na
Europa, quando a tristeza dos dias cinza muda o humor das pessoas. Hoje parece
que tudo está feio e triste, não passa de 10º, o dia parece que nem amanheceu e
já está escurecendo. Talvez saudades da Noruega, lá já estávamos super bem
adaptados, compreendíamos as placas e cartazes, e, até, já admirávamos o modo
de ser daquele povo pacato, discreto e amistoso, enfim, já nos sentíamos em
casa. Deve estar na hora de comer um
chocolate.
Mas a melhor
o Caro Amigo ainda não sabe, chegamos ao local do tal Struves Meridianbage, muito bem sinalizado por placas
enormes, indicando ser Patrimônio da Humanidade. Ele ficava numa saída da
estrada principal, um local super deserto, a própria estrada já o era! Chegamos
a uma pequena clareira, com cartazes e um placa indicando um caminho de um
quilômetro, que deveria ser percorrido à pé. Em verdade era uma picada, entre pinheiros da floresta, seguramente era
o caminho de João e Maria, estava na cara, notamos por suas pequenas pegadas,
pelas casas de sapos (ou seriam cogumelos), pela profusão de cores que se derramava
pelo chão, não eram flores, não, eram as próprias folhas que,
inexplicavelmente, tinham colorido de flores, vermelhas, amarelas e brancas.
Iniciamos o lindo caminho e ele transformou-se em uma
subida íngreme, enquanto a neblina baixava uma neblina e tudo tomava um ar
tenebroso. Aí nos demos conta de que havíamos subido sem nossas bolsas, tudo
havia ficado no carro, mas já percorrido mais da metade do caminho, não íamos
voltar. E se roubassem o carro? Não tínhamos nenhum documento conosco. Não, não
íamos voltar, afinal o país é seguro. Continuamos seguindo as sinalizações que
indicavam Patrimônio da Humanidade, como João e Maria seguiam as pedrinhas do
caminho.
Então chegamos ao Struves Meridianbage, que para sermos
sinceros não tínhamos muita certeza do que seria, pois vimos somente uma foto
que alguém postou na internet, que era a seguinte:
Esperávamos
descobrir tudo sobre ele no local, que pensávamos seria um museu, ou algo
parecido. E quando chegamos lá, pasme o Caro Amigo, encontramos ... temos que
parar para fotografar umas renas do Papai Noel, contamos depois.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Lulea, 09 de
setembro de 2014.
Caro Amigo,
E quando
chegamos lá, depois de tantas placas, encontramos o que o Caro Amigo pode ver
na foto abaixo, que nem vou gastar palavreado para descrever.
Ao menos, a
casa da bruxa estava destruída e demos muita risada, no caminho de volta, das
besteiras que turista faz (ah, ah, ah!). É como sempre dizemos, não acredite em
tudo que lê (ah, ah, ah!). E no caminho de volta, tivemos a sorte de encontrar
algumas renas brancas (nem sabíamos que existia), comemos nosso chocolate e
cruzamos de volta do Circulo Polar Ártico; foi quando tudo começou a melhorar.
E para não
ficarmos com cara de bestas, pesquisamos e descobrimos que Georg Wilhelm Von
Struve foi que demonstrou, pela primeira vez, que a terra é achatada nos pólos,
através de uma série de vértices, repartidos em dez países da Europa, para
medições geodésicas e triangulações. Elas foram realizadas em 265 pontos, entre
o oceano Ártico e o Mar Negro. Então, o que fomos visitar foi um desses pontos,
para dizer a verdade, descobrimos que, nessa mesma viagem passamos ao lado de
vários desses pontos que, provavelmente, têm aquele lindo monumento, que
mostramos inicialmente. Agora por que foram indicar como Patrimônio da
Humanidade somente aquele raio-que-o-parta? Não temos a menor idéia, vai ver
que foi para por emoção em nosso dia.
E fomos parar
em Lulea para dormir, pois lá estava nosso próximo ponto de visitação
Gammelstaden, no Golfo de Botnia. Aplicando o que havíamos aprendido na
Noruega, ao nos aproximarmos da cidade, prestamos atenção nas placas de camping
e cabanas. Dito e feito! Apareceram duas, no primeiro, a recepção fechava às
cinco. Há que se ter cuidado ao viajar para a Escandinávia, parece que tudo
funciona em junho, julho e agosto, no resto do ano a coisa é de rosca. Já no
segundo, fomos muito bem atendidos por uma loirinha (redundante, aqui todas são
ah, ah, ah!), eles tinham camping, cabanas e hotel. O local é bem agradável,
com mini golf, sauna, cadeiras de massagem, além de chá, café e biscoitos de
cortesia (nos apaixonamos por eles, ah, ah, ah!). O preço também estava bem
legal, mas sempre considerando que a Suécia também não é muito barata. Ficamos
no hotel (www.ornviken.se).
Chegamos a
Lulea pela E4, estrada legal, mas o Caro Amigo pode esquecer aquelas paradas
para descanso, com banheiro e água quentinha, o pipi é no matinho, porque quase
não tem posto de gasolina e eles não costumam oferecer banheiro de cortesia,
como no Brasil. A cidade é bem simpática, fica em um arquipélago, portanto há
várias opções de passeios de barco, mas não foi atrás disso que viemos.
Na linda
manhã de sol, fomos visitar a aldeia paroquial Gammelstaden, deixamos o caminho
de João e Maria e fomos visitar as casinhas dos Anõezinhos e da Branca de Neve.
Contam que, há muitos e muitos anos atrás, quando o Brasil nem tinha sido
descoberto, lá pelo século XV, as pessoas, aqui na Suécia, eram obrigadas, por
lei, a participar do culto, porém, a maioria, vivia no campo, em suas fazendas,
e a lei dizia que os que morassem até 10km deveriam vir toda semana e os que
morassem até 20km deveriam vir a cada duas semanas. Assim, muitos fazendeiros
resolveram construir nos “Kyrkstads” (vilarejo da igreja), uma pequenina casa,
ao redor da igreja, para dormirem, com suas famílias, pois, naquela época, um
percurso de 20km levava horas e horas. Elas não tinham, em geral, mais que um
cômodo, um pequeno hall de entrada, para conter o frio, e um minúsculo depósito
de lenha; não possuíam banheiro.
E essa
maravilha de conjunto de mais de quatrocentas casas de anõezinhos, a aldeia
paroquial Gammelstaden, foi declarada, pela UNESCO, com justíssima razão,
Patrimônio da Humanidade. A igreja, Mederluleakyrka, de pedra, tem uma beleza
singular, sua nave é revestida por pintura mural, cujas cores tênues demonstram
serem originais. Os púlpitos são sempre um show a parte, talvez porque seja
deles que os protestantes fazem suas pregações, esse trazia os apóstolos, à
volta de Jesus, entre colunas adornadas por cachos de uva, uma demonstração de
abundância. No altar, um retábulo, com pinturas nas portas e corpo em madeira
entalhada, para qual não se poupou ouro, alguns poucos detalhes coloridos,
rostos, barbas, algum pequeno detalhe dos trajes, em tom azulado. Como somos
sortudos, tinha alguém tocando o imponente órgão.
Espiamos um
montão, sim, porque a grande maioria é mantida com as janelas abertas, assim
que se pode espiar pelo vidro. Se o dono não pretendia isso, deveria trancar a janela,
mas muito pelo contrário, os malvados colocam cada enfeitinho, cada luminária,
cada cortininha, cada vaso de flor, que nos sentimos tentados, como naqueles
desenhos que o cheirinho gostoso vem, como uma fumacinha dançante, e vai
carregando o pateta flutuando. Foi bem como nos sentimos. A princípio, tentamos
até manter a compostura, espiando rapidamente.
Depois, como percebendo que não havia ninguém nas casas, pois o verão
acabou e era dia de semana, perdemos o pudor e começamos a babar nas janelas.
E nada de
criticar, pois bem sabemos que o Caro Amigo está doidinho para saber o que
víamos. Em geral, se vê o ... hora do
jantar, contamos depois.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Örnsköldsvik
, 10 de setembro de 2014.
Caro Amigo,
Em geral, se
vê o tal cômodo, que não é grande e costuma ter uma cama de madeira, tipo
armário (mandamos fotos em outras viagens), muito usada antigamente, ou tipo um
grande sofá de madeira. Há uma mesa, que
costuma ser daquele modelo que tem abas que se levantam, aumentando-a para
receber toda a família. Sempre há uma lareira, muitas são usadas como fogão
também. Em quase nenhuma observamos uma cozinha, então acreditamos que a pia
deve estar no pequeno hall que havia, já que hoje, com os novos sistemas de
vedação de porta, ele deixou de ser tão importante. Também não vimos nenhum
banheiro, imaginamos que esteja no pequeno depósito de lenha. E nem pensar em
eletrodoméstico, não vimos não.
Agora quando
às decorações, daria para escrever um tratado, desde o revestimento das
paredes, fotos de família, quadros pintados ou bordados, por vezes com papel de
parede; aos tecidos estampados que revestem os sofás, as almofadas das cadeiras
ou cobre as mesas. Sem falar nas pequenas lembranças de família que estão sobre
os móveis, porta retratos, bibelôs, prataria ou porcelana, finamente decorada.
E quanto aos trabalhos de agulha, crochê que cobre as luminárias ou adorna a
mesa sob um pequeno vaso de amor perfeito. Partimos com tristeza, pois
ficaríamos até o dia que chegasse alguém e nos convidasse para um café com
bolo, seria uma pequena visita ao paraíso.
Voltamos a
estrada para mais uns bons quilômetros rumo ao sul, para dormir em nas
proximidades do nosso próximo destino. A Costa Alta (Höga Kusten), uma região
de ilhas rochosas e escarpados de granito, lugar de maior elevação tectônica de
todo mundo, que foi declarada Patrimônio da Humanidade, pela UNESCO, justamente
por suas pitorescas e únicas paisagens terrestres e marinhas, assim como seus
maciços rochosos e falésias de granito vermelho de Nordigrä.
Vínhamos na
esperança de encontrar um daqueles agradáveis campings, com cabanas, para nem
termos que entrar nas cidades maiores, assim curtiríamos mais a natureza. A Costa
Alta estende-se de Örnsköldsvik (norte) a Härnösand (sul), cerca de 100km, e mais ou menos a mesma distância de leste para oeste, do mar, onde
estão as ilhas, para o interior. Mas não foi bem o que aconteceu, pois os
campings que passamos, muito bem estruturados, estavam fechados. Alguns hotéis
estavam com a portaria fechada, plena seis da tarde, quem está hospedado tem
chave, quem não está precisa ligar. Mais um hotel, Scandic, uma grande rede,
estava lotado.
Aí fomos
parar em um hotel/restaurante, para os lados da estrada e nem queira saber o
Caro Amigo o que se passou. Já desconfiamos de cara, pois o rapaz não falava
uma palavra em inglês (é impossível entre os suecos) e também não era loirinho.
Ele veio gesticulando, mostrando uma tabela, multiplicando o valor por dois e
apresentando um valor igual ao do hotel que ficamos em Abisko, um assalto à mão
desarmada, e o lugar, aparentemente, era algo pior, bem pior, que o outro. Ele
deve ter bem notado nossos olhos pularem da cara, pois foi rapidamente lá para
dentro, falar com alguém, aí tivemos certeza que o fulano era “brima”. Logo
volta o dito, com uma conversa de Ali Babá, já nos concedendo um desconto de
25%. Muito desconfiada, pedi para ver o quarto. Foi por Deus, porque o danado
me mostrou um quarto que, seguramente era onde eles dormiam, eram três camas,
com os lençóis tão amassados e puídos que, provavelmente, até Maomé deve ter
dormido neles (ah, ah, ah!). Fui rapidinho para o rumo da escada, agradeci e
sebo nas canelas, enquanto ele gesticulava indicando qualquer coisa, mas nem
sob tortura dormiria lá. Pelo menos conseguimos pegar um mapa da cidade, na
portaria, e demos muita risada da falante “brima”, que deve estar, até agora,
procurando onde fomos parar (ah, ah, ah!).
No mapa de
Örnsköldsvik, havia uma lista de hotéis da cidade e conseguimos um hotel legal
(www.hotellfocus.se), para passarmos uma noite calma, sem sonhar com os
quarenta ladrões (ah, ah, ah!). Pela manhã passeamos pela cidade, bem graciosa,
que ainda mantinha, penduradas nas ruas do centro, as bandeiras dos
participantes da Copa do Mundo. Muito simpático.
Skuleberget
foi nossa primeira parada, é à beira de um lago, um teleférico para subir até o
monte rochoso, mas estava fechado. Parece que, como na Noruega, as coisas só
funcionam por aqui entre junho e agosto, no verão, ou na alta temporada de
inverso, lá por dezembro, quando esquiam. Deve ser por isso que tudo é tão
caro, para custear os meses que eles não trabalham e fecham os enormes complexo
turísticos, que devem ter custado uma fábula para serem construídos.
Dizem que uma
das coisas que a Suécia tem de melhor é a qualidade de sua luz, que torna tudo
mais bonito, não vamos dizer que não, pois o dia estava particularmente
agradável, principalmente para percorrer as estradinhas que margeavam lagos,
entre pinheiros verdes e céu azul. Vez por outra um vilarejo florido, como
Nordingrä e Mjällom. As pequenas estradas seguem, como os dedos de uma mão, até
o mar, que, apesar da proximidade, nem sempre é visto, pois fica escondido pelos
altos pinheiros.
No meio de
caminho encontramos a segunda maior ponte pêncil da Escandinávia, com o
comprimento de 1867 metros, a Ponte Höga Kusten, sobre o Rio Angermanälven.
E ficamos
passeando pela Costa Alta até chegar Härnösand, por volta das cinco, a cidade
não é grande, mas é muito elegante, com pequenos palacetes e muitos vasos de
flores pelas ruas. Fica à beira em uma espécie de ilha, portanto é cortada por
canais e pontes.
Mas,
infelizmente, também não encontramos aqueles hotéis românticos, em edifícios de
madeira, com uma pequena cozinha para nos divertimos. Eles existiam, mas
estavam lotados ou havia que ligar, pois, por incrível que pareça, aqui é comum
não manter recepção aberta ou fechá-la às oito da noite, o hóspede fica com a
chave do quarto e da porta de entrada do hotel.
Acabamos
dormindo em um hotel que ficava em um restaurante, na entrada da cidade, na
região do centro comercial. Era imitação de um antigo posto de gasolina, de
alguma estrada americana. Foi o melhor preço que encontramos e o local era algo
divertido, nos sentimos em “Grease, nos Tempos da Brilhantina”, tomando
milkshake em uma lanchonete. O proprietário deve adorar cinema, então o hotel é
decorado à Hollywood, com cartazes de filmes por todos os lados e cada quarto é
dedicado a um ator, cujos pôsteres lotam suas paredes.
E foi em
Härnösand que experimentamos nosso primeiro “Systembolaget” sueco e, como bem
sabe o Caro Amigo, a primeira vez a gente nunca esquece, é algo um tanto
estranho porque parece que ... mas tratamos de dormir cedo, pois levamos um dia
para percorrer 100km, nesse passo só chegaremos ao Brasil em 2020 (ah, ah,
ah!), contamos depois.
Sayo e
Claudio
Järvsö, 11 de
setembro de 2014.
Caro Amigo,
Ir a um
“systembolaget”, aqui na Suécia, é como ir a um Vinmonopolet
(www.vinmonopolet.no), na Noruega, é o local onde se pode comprar bebida
alcoólica, parece que a gente está cometendo alguma contravenção, que todo
mundo está olhando para gente. Como parece que esta viagem versará sobre
histórias e filmes, nos sentimos naqueles filmes de Al Capone, na época da lei
seca, que a bebida era comprada às escondidas (ah, ah, ah!). Os systembolagets
funcionam das 10:00 às 19:00, das 10:00 às 15:00 nos sábados, domingos e
feriados não abre.
Compramos uma
lata de um famoso petisco sueco, arenque fermentado que, contam, é pescado na
primavera, no mar Báltico, quando é salgado e deixado para fermentar, sem
nenhuma pressa, para só então ser enlatado, um mês antes de ir para a
prateleira dos supermercados. Dizem, ainda, que ele continua fermentando dentro
da lata, que seu cheiro é acre (deve ser um fedor danado) e que o gosto é
forte, picante e ácido. É coisa para o Kuc, que é destemido, acho que vou
passar, nem gosto muito de arenque, depois... imagine o bafo de foca que deve
dar (ah, ah, ah!). O nome da coisa é “surströmming”.
Saímos cedo, na medida do possível, não sem antes passar no systembolaget,
pois nosso vinho estava nas últimas, jantar em casa e com água ninguém merece!
Nossa meta era encontrar o próximo Patrimônio da Humanidade, Hälsingegardarna,
segundo nosso mapa, mas algo não conferia, pois tentamos encontrar no Google, e
mesmo no site oficial do país, mas não obtivemos resposta, assim que fomos meio
ressabiados, a coisa estava para lá de suspeita, lembramos de nossa primeira
experiência, o Arco Geodésico (ah, ah, ah!). Mas vimos alguma menção quando
visitamos Gammelstaden e onde há fumaça há fogo. Como não havia estrada de
tijolos amarelos a seguir, seguimos a estrada de pinheiros verdes.
Deixamos
o litoral e nos dirigimos para o centro do país. Num dado momento, lá pelas
imediações do local indicado pelo mapa, uma área rural, entre fazendas, mas não
no local exato, encontramos uma placa, onde estava escrito: Hälsingegardar. Não
era exatamente o que procurávamos, nem havia placa da UNESCO, mas era uma placa
marrom com uma florzinha, indicação de local de interesse turístico. Resolvemos
segui-la... deu em nada! Alguns casarões vermelhos de madeira, janelas e portas
brancas, num deles uma indicação de cafeteria, mas tudo fechado, pois o verão
acabou e na Suécia, depois de 30 de agosto, tudo fecha.
Voltamos
à estrada e continuamos em direção ao ponto indicado no mapa. Agora ainda mais
desconfiados. Então, por encanto, no ponto indicado, apareceu a placa da UNESCO
indicando uma fazenda, à entrada de Järvsö, uma minúscula cidade. Estava quase
tudo fechado, alguns operários trabalhavam na reforma do teatro; jardineiros cuidavam
das plantas, com primor, do lindo jardim.
A
casa principal destoava da arquitetura local, descobrimos que o proprietário,
diferentemente dos demais fazendeiros, havia contratado técnicos e arquitetos
para sua construção, dando-lhe um estilo neoclássico, com influência urbana. Na
fazenda, que foi transformada em um centro cultural, havia um centro de
informações turísticas, que funcionava das 11:00 às 15:00, e nele encontramos
explicações do que era exatamente o Patrimônio Humanidade. Desde o séculos XVI,
fazendeiros costumavam decorar salas, com pinturas especiais em suas paredes,
para festividades, como casamentos e batizados. Por vezes, uma única fazenda,
chegava a ter quinze salas decoradas, que não eram usadas no dia a dia, mas sim
em festividades. A região de Hälsingland
tem as maiores salas e mais delas que no resto do mundo.
Todas
que tentamos visitar estavam fechadas, mas no centro de informações, havia
alguns prospectos e a montagem de parte de uma das casas, que nos
possibilitaram visualizar como eram as casas. Se o Caro Amigo quiser conhecer
tudo pessoalmente, não esqueça de ir de junho a agosto, porque depois, só dá
para ver por fora.
E
voltamos à estrada de pinheiros verdes, para procurar onde dormir, antes de
nossa próxima aventura, quem sabe a Casa dos Três Ursinhos? “...Após
comer o mingau, Cachinhos Dourados foi em direção à sala. Lá encontrou três
cadeiras, como estava muito cansada, resolveu sentar-se.
Achou a primeira cadeira muito grande ...”. Eles seguramente moram por aqui (ah, ah, ah!).
Achou a primeira cadeira muito grande ...”. Eles seguramente moram por aqui (ah, ah, ah!).
Beijos,
Sayo
e Claudio
Falun,
12 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
Não
dormimos, infelizmente, na casa dos Três Ursinhos, mas encontramos um local bem
legal. Como já estamos ressabiados com a história das portarias fecharem muito
cedo, aparentemente todo mundo para de trabalhar lá pelas quatro, embora o
inverno não tenha chegado, parece que eles já estão se adaptando; quando foi
dando cinco horas já começamos a observar a placas de hotéis e foi assim que
encontramos o Kungshaga Hotell (www.kungshaga.se), numa região rural, ao lado
de uma fazenda de criação de gado e cavalos, bem à beira de um lago salpicado
de ilhas desabitadas, ou melhor, habitadas por pinheiros. O hotel lembra
aqueles pavilhões ou castelos de caça de que tanto se houve falar na Europa, um
edifício imponente e sóbrio. Da janela do nosso quarto, uma vista do pôr do sol
de fazer inveja a qualquer cidade praiana.
Como
era cedo, fomos dar uma voltinha em Mora, uma das cidades que nos foi indicada
em Gotemburgo, pelo rapaz da Informação Turística. Incrivelmente, o comércio
estava aberto e a rua cheia de gente. A cidade é bem graciosa, florida e, como
quase todas por aqui, fica a beira de um lago, o que a trona ainda mais
simpática. Aqui viveu o mais ilustre pintor sueco Anders Zorn.
Observando
o mapa da Suécia, assim como o da Noruega, observa-se que eles não têm qualquer
problema quanto à água, pois rios e lagos estão espalhados por todos os lados,
de modo assombroso, somente na região de Värmland, no interior do país,
informam existirem mais de dez mil lagos.
Aliás, ela é ótima de sabor, enquanto na maioria da Europa ela é
salobra, e eles divulgam que a água da torneira pode ser bebida sem nenhuma
preocupação. Observamos que, enquanto na Noruega as paisagens são abertas, com
grande amplitude visual, na Suécia, quase tudo é cercado por florestas de
pinheiros, que tornam a visualização do horizonte reduzida, impossibilitando,
inclusive, a percepção dos lagos e rios ao redor.
Estamos em
uma região chamada Dalarna, que dizem ser a mais sueca de todas, por preservar
os costumes, as tradições e o artesanato, que se pode admirar nos “dalahäst”,
estátuas de um cavalinho colorido, e nos “tällberg”, trajes folclóricos. Sobre
tudo no entorno do lago Siljan, onde está a cidade de Mora e a de Rättivk. É
daqui a famosa corrida de esqui, Vasaloppet, com 90 km e 15.000 participantes
ocorre entre Sälen e Mora. Nós, pessoalmente, adoramos a região, o litoral é
uma maravilha, certamente, mas o interior do país nos cativou mais.
Contam
também que a famosa cor vermelha, que cobre as paredes de metade cabanas e
casas suecas, e se denomina “faluröd” ou vermelho Falun, justamente porque
provem do cobre produzido nas Minas de
Falun, capital da Dalarna, o nosso próximo Patrimônio da Humanidade. Dela saiu o cobre que se transformou no
telhado da maioria das igrejas e castelos da Europa. A mina teve enorme
influência no desenvolvimento técnico, econômico, social e político da Suécia.
Em 1992, ela foi desativada, mas segue a
fabricação da tinta vermelha característica das casas suecas, com os restos da
mina. O Kuc, mais destemido, foi encarar o frio de cinco graus, lá no fundo da
mina, eu preferi ficar pelo museu, dez graus já me bastavam.
Passando
por Hedemora, um pequeno vilarejo, parece que estamos meio redundantes nessa
viagem, todos os locais são lindos, os vilarejos são pequenos, os jardins são
floridos, as casas de madeira são graciosas, as macieiras carregadas etc, tudo
é realmente assim por aqui, nós é que precisamos incrementar nosso vocabulário,
para contar de modo diferente, vamos procurar um dicionário de adjetivos, se é
que existe (ah, ah, ah!). Mas voltando a Hedemora, quando passamos pela cidade,
perto das três da tarde, vimos uma feira. Uma novidade nesta viagem, pois, como
bem notou o Caro Amigo, ainda não havíamos encontrado nenhuma, tudo aqui é meio
diferente quanto a costumes e horários, ao menos depois do verão (?). Paramos,
lógico, ela não era grande (trocamos o
pequena ah, ah, ah!) e artesãos, produtores rurais e caseiros vendiam suas
mercadorias. Havia um cantor, de música country, algumas mesinhas, onde o
pessoal tomava um lanchinho e batia papo.
Até
nós batemos papo, pois um dos senhores veio conversar com a gente, ficou
curioso quanto ao fato de turistas brasileiros estarem por lá. Mas o melhor da
feira foi um bolo de maçã que compramos, daqueles que mais amo, feitos
especialmente para tomar com uma xícara do bom café lá de casa (pena que não
vai durar até lá), ele é fofinho, tem fatias de maça e um perfume, de alguma
erva que não conseguimos identificar, que vai ficar na nossa lembrança por
muito tempo. Que bom que temos o capuccino, que fizemos no Brasil, para tomar
com ele quando chegarmos no próximo hotel! A gente nem precisa de tanta coisa
para ser feliz, não é Caro Amigo?
De
Dalarna passamos para Engelsbergs Bruk,
nosso próximo Patrimônio da Humanidade, um conjunto bem preservado de edifícios
industriais, dos séculos XVIII e XIX,
onde se produzia aço de alta qualidade. Chegamos lá só para fotografar
por fora, estava fechado, antes das quatro horas. Havia um cartaz que indicava
visita guiada às onze. Fazer o que? Seguir.
Já
estávamos perto de Estocolmo, pouco menos de 200 km, mas chegar à noite, não
seria uma boa opção, então resolvemos dormir em uma das cidades que estava no
nosso roteiro original Uppsala, assim seguiríamos para a capital pela manhã,
com tempo para achar o Centro de Informações Turísticas aberto e encontrar um
lugar legal para ficar, pois, provavelmente ficaríamos umas três noites.
Chegamos justamente no horário que o pessoal estava saindo do trabalho, era
bicicleta para todo lado. Meio minuto antes das seis e ainda fomos atendidos
com sorrisos no Centro de Informações Turísticas, recebemos mapas e informações
sobre hotéis e sobre a Noite Cultural, que ocorreria no sábado. E saímos a caça
de mais um hotel, o que não foi tão fácil, porque ... vamos parar para um
lanchinho em um comício político (descobrimos outro jeito de economizar, ah, ah, ah!), contamos depois.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Uppsala,
13 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
Não
foi tão fácil encontrar hotel porque estávamos na quarta maior cidade do país,
uma cidade universitária, às vésperas de uma virada cultural, o que tornava os
hotéis centrais caros e com problemas de estacionamento.
Acabamos
dormindo no Scandic (www.scandichotels.com), uma grade rede da Escandinávia,
com hotéis, geralmente, caros, quatro estrelas, porém o que ficamos estava há
2,5 Km do centro e tinha um preço bem legal. Eles oferecem algo similar ao
Ibis, aí do Brasil, mas com maior qualidade, pois o quarto é espaçoso, tem
secador de cabelo, ferro de passar (não
quero nem imaginar para que, ah, ah, ah!) e espelho de aumento no banheiro. O
café da manhã também é nota 10, tem até feijão (deve vir do gosto dos suecos
pela comida mexicana).
Na
melancólica manhã de sábado, o dia parecia não querer despertar. No verde
escuro rio, marrecos faziam círculos, mergulhando em busca de algum alimento.
Escuras grades de ferro, encimadas por pinhas, seguiam todo curso sinuoso do
rio e, ao lado delas, um sem fim de bicicletas, de todas as cores, marcas e
modelos, nem elas queriam andar naquela preguiçosa manhã. Sobre o rio, pontes
singulares, cada uma com sua beleza, assim como diferente era a embarcação, que
nele flutuava, um caixote embalado pelo som da sanfona. Apesar disso, a florida
cidade preparava-se para o dia de festa.
Adoramos
a cidade, nem pense, Caro Amigo, em ir a Estocolmo sem dar uma passadinha,
ainda que rápida, em Uppsala e visitar a catedral, Domkyrka, a maior e mais
alta igreja da Escandinávia, com seus tijolos cor de terra, túmulos de reis e
maravilhar-se com todo o charme da cidade.
Partimos
para Estocolmo perto da hora do almoço e levamos cerca de uma hora para chegar.
Nossa idéia era aproveitar a tarde de sábado e o trânsito tranqüilo. Assim
poderíamos passar no Centro de Informações Turísticas e, calmamente, escolher
um hotel. Ledo engano! O Trânsito estava um caos, milhões de carros nas ruas,
um montão de obras bloqueando túneis e pontes, que interligam as ilhas, e, para
completar, havia uma corrida, uma maratona,
interrompendo o trânsito em boa parte do centro. E, como desgraça pouco
é bobagem, era véspera de eleição.
A
moça das informações turísticas já sofria da síndrome que acomete os moradores
das grandes cidades turísticas, portanto queria que os turistas se explodissem.
Assim, não foi muito útil na localização de um hotel legal; as sugestões dela
deram em nada. No final saímos olhando uma lista que tínhamos conseguido no
Tripadvisor, o grande problema é que, como compramos a Eva Maria de última
hora, não sabemos manejá-la muito bem, não sabemos colocar vários endereços
para ela ordená-los e depois seguirmos. Resumo da história, íamos endereço por
endereço, tendo que enfrentar todo aquele trânsito e, por vezes, cruzar pela
terceira vez o mesmo túnel.
Não
que a cidade não tenha muitos hotéis, o problema é que são muito caros; os mais
baratos nem sempre têm banheiro privado e, muitos deles, não tinham vaga para o
sábado. A noite já se aproximava, eu já pensava em voltar para dormir em
Uppsala e vir todos os dias a Estocolmo, pois lá o hotel estava com um
excelente preço, a economia pagaria as despesas da viagem. Então pensamos
tentaremos o último e desistiremos, iremos para fora do centro ou para outra
cidade.
Fomos
a caça de um tal Reimersholme Hotel, voltamos a um túnel que já havíamos
cruzado “n” vezes, o mais congestionado da cidade, já não era um bom sinal.
Quase lá perto duas entradas interditadas pela corrida. Eva Maria estava quase
louca, só repetindo desvio de rota, recalcular a rota. No segundo bloqueio, há
1 km do hotel, um dos senhores nos deu um mapa da corrida e explicou como
chegarmos a Reimers-Holme, que é uma das menores ilhas do arquipélago, onde se
situa a cidade de Estocolmo, o hotel ficava nela.
Primeira
batalha vencida, chegamos lá. A ilhota é uma graça, cheia de barcos ancorados e
muito verde. O hotel também nos pareceu simpático, ficava logo após o arco de
entrada na ilha, tinha um pátio com mesinhas e guarda-sóis, vasos com gerânios
vermelhos. Tudo que precisávamos! Era hora de resolver o mais importante,
encontrar um quarto para dormir... a menina da recepção era morena, tinha o
cabelo bem pretinho e até uma aparência meio árabe, era muito simpática e
prestativa. Ela olhava que olhava a tela do computador com cara de preocupação,
precisávamos de três noites em um quarto com banheiro, aí ela nos disse que,
infelizmente ... estamos muito atrasados, temos que ir ao mercado, contamos
depois.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Estocolmo/
Djurgärden, 14 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
Ela
nos disse que, infelizmente, para aquela noite, só poderia nos oferecer um
quarto com banheiro compartilhado e, no dia seguinte, poderíamos mudar para um
com banheiro privado. Aceitamos! Não tínhamos mais forças e a localização era
excelente, afinal, seria só por uma noite. O hotel (www.reimersholmehotel.se) ocupa dois
edifícios distintos, não é lá aquelas coisas, lembra um albergue, tem um monte
de estrangeiros, principalmente turcos, inclusive famílias, que moraram nele,
aparentemente por motivo de trabalho. O edifício onde fica a recepção parece
ser o melhor em termos de hotel, no outro há mais moradores, foi lá que
ficamos. É um hotel meio surreal, lembra uma pensão. Enfim, é ficável, mas meio
confuso; doido de carteirinha só tinha mesmo um polonês, que punha bilhetes no
armário da cozinha para que não mexessem nas coisas dele; ele babava, mas não
mordia, então nos divertimos, com a cara dele e, principalmente, espiando os
quitutes que nossa vizinha, aparentemente turca, cozinhava para sua família,
uns panelões enormes, fervilhantes e cheirosos (ah, ah, ah!). E, apesar de tudo, ainda conseguimos fazer
nosso piquenique nas mesas do pátio, sob um guarda-sol, apreciando as belezas
da pequena ilha.
Quando
pensarmos em Estocolmo, em nossas mentes sempre estarão os lindos edifícios de
tijolo marrom e os vários formatos das suas tantas torres, em contrates com
seus telhados azinhavrados pela oxidação do metal que os reveste, puro verde,
nos quais, vez por outra, brilha o dourado do polimento. Tudo estampado no céu
azul. E ainda tem o mar, que vai entrando ao redor das ilhas, e trazendo várias
embarcações, que ficam ancoradas, observando a cidade e completando a beleza do
cenário.
Tudo
que ouvimos ou lemos, não chegou nem perto de dar à cidade o lugar de destaque
que ela merece, ela é linda de morrer e de matar. Nem a confusão do trânsito,
as dezenas de placas ou os tapumes de desvio conseguiram se quer ofuscar o
brilho da pérola que se espalha em catorze ilhas sobre o Báltico, no
Arquipélago de Estocolmo. Ela é suntuosa, elegante, fotogênica, parece um
encontro de castelos de contos de fadas.
Ela mantém o glamour que a maioria das capitais européias tinham e perderam.
Ela não é nenhuma mocinha, foi fundada em 1252 e sua localização, espalhada
entre catorze ilhas, reudeu-lhe os títulos de Rainha das Águas e Veneza do
Norte.
Refeitos
da chegada, resolvemos aproveitar o domingo, com menos engarrafamento, em
verdade a cidade não tem trânsito, parece que aquele sábado foi algo atípico.
Então, resolvemos aproveitar o domingo para conhecer as coisas mais afastadas.
Assim fomos à ilha Djurgärden, no coração da cidade, que já foi campo de caça
de reis e, hoje, abriga um grande
parque, vários canais e vários dos melhores museus, além de fornecer belos
ângulos para fotos da linda Estocolmo.
Nossa
primeira parada foi o Museu Vasa, um dos mais famosos da cidade, pois abriga um
luxuoso galeão de guerra, que seria o maior da frota sueca e afundou em sua
primeira viagem, em 1628, ficando no fundo do mar por trezentos anos, até
ser resgatado e recuperado. Foram cinco
anos de trabalho para retirá-lo das águas e sua recuperação segue até hoje,
embora, visto no museu, ele pareça perfeito. O Vasa é um verdadeiro tesouro
artístico, pois possui mais de 700 esculturas entalhadas. No museu, é
apresentado um filme contando toda a história do galeão; há sessões em várias
línguas, demos sorte de chegar na hora que começava uma em espanhol com legenda
em inglês. Contam que ele afundou porque tinha pouco lastro para seu peso e
tamanho.
Quanto
aos ingressos dos museus, tudo aqui é caro, nada costuma custar menos de 50
reais. O transporte também está pela hora da morte, por volta de 11 reais. A
hora do estacionamento, cerca de 15 reais. Há aqueles cartões que são comprados
e dão direito a transporte público gratuito (ônibus, metrô e balsa) e entradas
em museus; mas é bom prestar atenção, pois não é aceito em todas as atrações e
o de 24 horas não dá tempo para conhecer muita coisa, seria preferível o de 48
ou 72 horas. As revistinhas sobre a cidade, fornecidas nos Centros de
Informações Turísticas e hotéis, onde os tais cartões também são vendidos,
informam os preços das atrações, o ideal é analisar o que realmente vale à pena
e fazer a conta. O centro pode ser feito todo caminhando em um mesmo dia, com
dois bilhetes de metrô, ida e volta para o hotel. Há ainda a opção daqueles
ônibus vermelhos que fazem os pontos turísticos e se pode subir e descer.
Ainda
na ilha Djurgärden, fomos ao Skansen, um museu a céu aberto, dizem que é algo
para crianças, mais observamos que os adultos se divertem tanto quanto. Ele foi
fundado em 1891, tem mais de 150 construções, casas, fazendas e negócios,
mostrando exemplares de diversas regiões do país, de onde foram trazidas.
Muitas são abertas à visitação e, no seu interior, se pode observar mobília e
louça originais, além de pessoas nas atividades cotidianas, que vão explicando,
ao público, como as coisas eram feitas antigamente. O parque representa, de
forma lúdica, cinco séculos da história sueca. Tem ainda um pequeno zoológico,
com animais do norte do país. É bem legal para levar um piquenique e ficar o
dia todo, mas turista não pode se dar a esse luxo (ah, ah, ah!), pelo menos
umas três horas é bom reservar.
Demos
uma voltinha pela cidade, nas proximidades da Teatro Dramático e resolvemos ir
até Tantoluden, que fica em Södermalm, uma ilha vizinha à nossa. Já comentamos
com o Caro Amigo, em outras viagens, sobre umas pequenas casas, localizadas nas
periferias em meios a jardins, que parecem uns pequenos loteamentos. As vimos
na Espanha e na Alemanha, mas não sabíamos exatamente como era o funcionamento
da coisa. Contam que os loteamentos de jardim surgiram para que os
trabalhadores urbanos, que não tinham uma casa de campo, pudessem desfrutar de
uma vida campestre, o de Estocolmo data de 1919 e tem 115 lotes. São pequenos
lotes, imaginamos que 10x5m aproximadamente, arrendados para população, para que
neles façam jardins e pomares. Cada proprietário decide como fazê-lo e se quer
construir algo. A imensa maioria tem uma pequena casa, quase uma casinha de
boneca, e, em seus pequenos quintais, são espalhados mimos, comedores para
passarinhos, cata-ventos ou estatuazinhas, e plantadas árvores frutíferas e
flores de tudo quanto é cor e tamanho. Mesas, com toalhas xadrez, esperam
deliciosos almoços em família; e cadeiras esperam corpos cansados para um
merecido repouso acompanhado por uma xícara de chá quentinho, enquanto se
observa os jardins ao redor.
Nos
chamou a atenção a grande quantidade de estrangeiros, africanos e do oriente
médio, aparentemente os suecos se preocupam com trabalho humanitário e concedem asilo político; mas, em geral, não
vimos essa população estrangeira parada nas praças, sem fazer nada, como em
muitos países, inclusive, agora, no Brasil; a grande maioria trabalha e está
integrada à sociedade. Já havíamos lido que não é difícil conseguir visto de
trabalho na Suécia, há que se conseguir o trabalho e, em o tendo, o visto é
concedido.
Aí,
toda bela e formosa, resolvi cozinhar uma noite, aproveitar a cozinha do hotel
e mostrar, aos vizinhos, que o brasileiros também sabem cozinhar. Lá em
Lofoten, na loja que compramos o bacalhau e os snacks de bacalhau, compramos um
pacotinho, cuja foto está abaixo. No nosso já ótimo norueguês, tratava-se de
sopa de bacalhau, que imaginávamos tomar em uma noite bem fria. Então pensamos,
no pacotinho deve ter lasquinhas de bacalhau e temperos. O abrimos e foi o que
enxergamos. Então preparamos um arroz, daqueles de saquinho e pensamos em usar
o conteúdo do saquinho, mais uns tomates e algumas outras coisinhas, juntar o
arroz e fazer um risoto de bacalhau. Despejamos todo o conteúdo do pacote na panela e o Caro Amigo nem pode
imaginar o que aconteceu, nele ... chegamos ao hotel, contamos depois.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Estocolmo/Prefeitura/Gamla
Stan, 15 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
Nele,
no tal pacote, só tinha tempero, e bem apimentado, não tinha nada de sopa de
pescado ou bacalhau, acabamos comendo risoto de atum, pois tínhamos uma lata no
carro. Teremos que melhorar nosso norueguês para a próxima visita (ah, ah,
ah!).
Mas
voltando ao nosso hotel e ao que fomos observando de seus habitantes, agora já
não tão estranhos. Em verdade, os poloneses eram quatro jovens trabalhadores,
que saiam super cedo e voltam à noite, cozinham algo rápido e depois passam
horas no celular, falando com a família. Já a nossa vizinha, que cozinha super
bem, o marido não vimos, só os cinco filhos, duas meninas pré-adolescentes, um
rapaz adolescente e um casal de jovens, não descobrimos exatamente quem
trabalha da família, provavelmente o pai e os dois jovens; descobrimos que não são da Turquia, são do Afeganistão,
conversamos com eles. Há um senhor solitário, que usa uns chapéus diferentes,
adora umas biritas e fica andando por todo lado, o apelidamos de xerife; pela
manhã ele está sóbrio, banhado e arrumadinho para trabalhar. Gostamos da
experiência de ter ficado nesse hotel!
Nossa
primeira parada do dia foi na prefeitura, Stadshuset, onde ocorre o banquete da
entregues os prêmios Nobel, exceto o da Paz, que é em Oslo. O enorme edifício
de tijolo marrom escuro tem pouco mais de oitenta anos, mas foi construído com
a intenção de aparentar mais, talvez para que não destoasse do resto do
conjunto da cidade. Seu Salão Azul nunca chegou a ser azul, contam que assim
constou no projeto e era essa a intenção, mas foi tão bonito o resultado em
tijolos que desistiram de pintá-lo; nele tem-se a impressão de estar no
exterior, olhando para janelas e balcão de edifícios,seu órgão é segundo maior
órgão da Escandinávia. O Salão Dourado, é todo de mosaicos, uma fina lâmina de
ouro 23 quilates os reveste, dizem que é o salão mais lindo do mundo, suas
paredes contam a história do país e uma deusa, representando a cidade de
Estocolmo, destaca-se ao meio ladeada por representações de países do oeste e
do leste. Todas as visitas são guiadas e
duram 50 minutos. Ao meio dia e às 6 da tarde, é possível ver São Jorge, e
outras imagens, no relógio da torre.
Saindo
da Prefeitura, caminhamos por um canal, passamos pelo Parlamento até alcançar o
Kungsträdgarden, um parque urbano, ponto
de encontro e local de banho de sol e de almoço de boa parte da população, que
se espalha por ele com seus lanches e saladas. Parte dele tem ares de uma praça
tradicional, com bancos e canteiros de flores; a outra parte é mais moderna,
com mais concreto.
Daí
seguimos para Gamla Stan, a cidade velha, para o Stockholms Slott, o Palácio
Real, nele ficam os gabinetes administrativos da Corte Real da Suécia e usado,
pelo rei, para fins administrativos, como chefe de Estado, pois a família real
vive em outro castelo, há poucos quilômetros da cidade. Há troca de guarda às 12 horas, aos domingos
é às 13:00. Infelizmente, como não abre às segundas, só o vimos de fora o
imponente edifício, reconstruído em 1754,
que, dizem, possui suntuosas
salas.
Ao
lado do Palácio fica a Catedral, Storkyrkan, nela se realizam coroações e
casamento reais. Tem altar de prata e assentos reais, mas não podemos dizer que
foi a que mais gostamos, nos pareceu um tanto sóbria demais.
Próxima
da Catedral está a Tyskakyekan, uma igreja que nos atraiu mais, principalmente
pelo colorido de seus trabalhados vitrais.
Uma
das melhores coisas a se fazer na cidade é caminhar pelas ruelas de Gamla Stan,
observando as velhas construções em tons pastéis, que hoje abrigam dezenas de
lojas e restaurantes, que são a paixão dos turistas, que lotam suas ruas e
praças num burburinho sem fim. É o coração da cidade, uma das cidades medievais
maiores e mais bem conservadas da Europa.
E
para descansar os pés, pois os olhos não se cansam nunca de admirar, fizemos um
passeio de barco, chamado Canal Real, que pegamos próximo ao Parlamento
(Riksdag) e circunda a Djurgarden. Assim pudemos ver a cidade de outro ângulo e
apreciar, calmamente, a beleza de suas formas. A empresa (www...), tem várias
opções de passeios diferentes, escolhemos um que tinha áudio-guide em espanhol,
algumas tem só em inglês. Há também opções em outras empresas, inclusive com
refeições a bordo.
O
país tem cerca de nove milhões e quinhentos mil habitantes, foi o primeiro país
a legalizar o casamento entre homossexuais, tem uma das melhores qualidades de
vida e um povo que se considera muito feliz. O que notamos aqui é que eles são
super tranqüilos, vivem numa paz de dar gosto e amam a natureza; os jovens
casais têm vários filhos, dois ou três, com idades muito próximas; é grande o
número de adoções, notam-se muitas crianças de origem asiática e africana. Os
pedintes já chegaram ao país, vê-se ciganos nas portas das igrejas e dos
mercados.
E
íamos ficar três noites na cidade e seguiríamos para o sul, rumo à Mälmo e à
Dinamarca. Esse era o plano original, mas parece que essa foi a viagem de
mudança de planos. Acontece que, quando passávamos por uma avenida à beira mar
, o Kuc viu uns navios e descobriu que... vamos visitar um castelo, contamos
depois.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Estocolmo/Castelos
Gripsholm e Drottningholm, 16 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
Acontece
que, quando passávamos por uma avenida à beira mar , o Kuc viu uns navios e
descobriu que era um hotel, sabíamos que existia um albergue em um barco, mas
com banheiro coletivo, então nem procuramos. Agora ele havia encontrado um
hotel, na verdade são vários, um ao lado do outro. Sempre sou eu quem sai atrás
dos hotéis, ele faz corpo mole, diz que seu inglês é pior que o meu, inventa
mil motivos e fica no carro esperando que eu resolva tudo. Dessa vez ele parou
o carro, com uma conversa de que iria tirar uma foto e foi logo lá, descobriu
tudo, e voltou com cara de criança que quer brinquedo. Até parece que ele nunca andou de navio. Se
já é chato com ele andando, imagine o Caro Amigo como deve ser chato parado
(ah, ah, ah!). Mas como eu sou uma santa (ah, ah, ah!), sugeri, que
alterássemos uma vez mais o roteiro e ficássemos mais uma noite em Estocolmo,
para dormir no navio hotel (www.rygerfjord.se), numa
cabine com janela, para namorar a vista à noite, afinal gostamos tanto
dela. E, assim, visitaríamos o que planejamos fazer fora da
cidade e voltaríamos à noite.
A
Suécia não é famosa pela culinária, que parece que começa a despontar agora,
mais é muito famosa na área de designer, por suas idéias inovadoras e desenhos
modernos e arrojados. A famosa loja IKEA, que vende de um tudo para casa, dizem
que até parede, é daqui. Fomos dar uma
espiadinha e nos pareceu igual à que existe em São Paulo.
Há
60km de Estocolmo, fica a cidade de
Mariefred, onde está o Castelo Gripsholm, à beira do lago Mälaren. Fomos
de carro, mas é possível ir de barco e deve ser ainda mais maravilhoso. Seja de
barco, de trem, de ônibus ou mesmo de bicicleta, o que o Caro Amigo não pode é
deixar de ir, pois foi o castelo que mais gostamos. A cidade já é uma delícia,
com suas casas de madeira e cara de que o mundo parou por lá. Ela, por si só, é
um lindo museu.
Nossa
primeira vista do castelo foi a partir do lago, desfilando, a sua frente, uma
família de cisnes, um ângulo de visão que não poderia ser mais perfeito. Ele é
marrom, quase querendo ser vermelho falun (agora o Caro Amigo já sabe sobre
essa cor que, embora não seja o azul ou o amarelo da bandeira, é tão sueca),
seus telhados são negros, duas cores tão austeras para as formas tão arredondas
e sexuais do castelo, mas até isso parece combinar perfeitamente com o cenário
e a cor do céu. Seu interior não desmerece sua beleza exterior em nada. Ele foi
construído em 1380, pertencendo à família Jonsson, passando, posteriormente,
por confisco, para mãos do rei e sofrendo várias renovações e usos, inclusive
como prisão.
Hoje,
ele é um museu, no qual 65 salas podem ser apreciadas. Elas contem fartos
mobiliários, objetos de decoração, tetos ricamente trabalhados e paredes
finamente pintadas; mas o principal é que o Castelo abriga a maior parte da
Coleção Nacional de Retratos (Statens Porträttsamlingar), excelentes pinturas
lotam as paredes de todas as salas, possibilitando observar costumes, vestuário
e rostos de séculos de história. O teatro, no interior do castelo, é magnífico,
espelhado, com imponentes colunas e, no palco, há todo um aparato de cenários
de ficar de boca aberta.
Fomos primeiro ao Castelo de Gripsholm, que
era mais distante de Estocolmo, e deixamos o Drottningholm, para o final, pois
estava mais próximo da capital, 11 km, e tínhamos maiores expectativas quanto a ele, pois é Patrimônio
da Humanidade. Mas, em resumo, não fizemos um bom negócio, visitamos a cidade
de Mariefred muito rapidamente, pois a visitação do segundo castelo encerrava
às 16:30 horas e, no fim das contas, não o achamos tudo aquilo, pelo menos o
que pode ser visitado, pois, por ser residência dos reis da Suécia, não é tão grande
a parte aberta ao público.
O
Castelo de Drottningholm (Ilha da Rainha) é uma construção do século XVII, em
estilo barroco francês e com inspiração no Palácio de Versailles, é suntuoso e
tem salas finamente decoradas, temos que admitir, mas nada que já não
tivéssemos visto igual ou parecido. Ainda fomos cair na besteira de comprar uma
visita guiada.
Eu
(Sayo) vinha toda feliz e satisfeita com meu inglês (apesar de tupiniquim e
meia boca, bem sei, ah, ah, ah!), pois vinha até me saindo bem por toda viagem,
mas quando nosso guia, um senhorzinho, abriu a boca pensei: estou com problema
de audição, tenho que ir com urgência ao médico, ou pegamos a excursão errada,
deve ser em javanês (ah, ah, ah!). Só entendia uma coisa “fourteen”, “sixteen” e não sei mais que “teen”, não era possível!
Quando a mocinha fez as apresentações e dividiu os dois grupos, inglês e sueco,
eu havia entendido tudo, o que estaria acontecendo? O senhor parecia falar com
uma batata quente na boca! Perguntei ao Kuc: tá entendendo alguma coisa? Ele
respondeu que ia me fazer a mesma pergunta. Começamos a olhar em volta, umas
suecas, que acompanhavam um casal de amigos estrangeiros, parece que entendiam
tudo; um casal de ingleses também, ou, ao menos, fingiam; já um casalzinho
ucraniano, estava como nós, mais perdido que cego em tiroteio.
Decidimos
sair à francesa, mas não queríamos passar por mal educados; também não
poderíamos agüentar mais quarenta minutos daquilo; tão-pouco poderíamos falar
diretamente com o senhor, pois não entenderíamos nada do que ele iria nos
responder e pagaríamos o maior mico em público. Então ficamos para o final da
fila e pedimos as suecas para transmitirem nosso pedido de desculpas. Elas,
aparentemente, não nos entenderam muito bem, pensaram que não estávamos gostando,
que estávamos achando uma chatice, pois argumentaram que ele estava contando a
história do país, nos desculpamos e repetimos que não o compreendíamos uma
frase completa do que ele falava e, novamente, sebo nas canelas. O pobre senhor
deve estar procurando a gente até agora, nós bem que adoramos histórias, o Caro
Amigo bem sabe, mas temos que, pelo menos, entender parte dela para poder
inventar o resto e contar ao Caro Amigo (ah, ah, ah!).
Foi
a nossa sorte, porque compramos as entradas conjugadas com o Pavilhão Chinês,
pois é mais barato, mas não sabíamos que ele fechava uma hora mais cedo, às
15:30. Assim que, se tivéssemos seguido a visita guiada, não teríamos visto o
pavilhão, pois ele está a uma boa caminhada do Castelo, teríamos jogado cerca de
sessenta reais pelo ralo. É bom atentar para esses detalhes, pois na hora da
venda dos bilhetes conjugados eles não nos informaram.
O
pavilhão não atendeu as nossas expectativas, o que ele tem de mais bonito é o
edifício, pode ser visto de graça dos jardins. A coleção de objetos de seu
interior nos pareceu fraca para tanto custo. Não visitamos o teatro, pois
tivemos poucas referências dele, então achamos que o alto custo não
compensaria.
Quanto
aos jardins, são bonitos, muito gramado, estátuas, pontes, lagos, mas não tem
flores. Jardim sem flor é como feijoada sem caipirinha, é boa, mas não é
perfeita.
Fim
do dia, voltamos a Estocolmo, para dormir no barco. Como sou muito prevenida, preparei, na noite
anterior, ... contamos depois, está na hora de procurar novo hotel.
Beijos,
Sayo
e Claudio
Malmo,
18 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
Como
sou muito prevenida, preparei uma pequena bolsa, com as coisas essenciais, que
precisaríamos para dormir uma noite, pois imaginei que a cabine seria pequena.
Dito e feito, era um ovo, mal cabia a gente e o Stut. O hotel funciona em três
barcos, tem albergue e restaurante, com mesas internas e externa, na popa e no
cais.
Na
frente, há uma enorme sala de estar, com
TV e diferentes mesinhas entre
pares de poltronas, postas justamente lado de janelas, para que se possa
apreciar, bem do outro lado da baia, o edifício da Prefeitura, com sua torre
quadrada adornada pelas três coroas, e o resto da cidade. Pegamos nossos
copinhos de vinho e cerveja, algo para beliscar e nos sentamos num par dessas
poltronas, para escrever, espiar e vigiar a noite chegar, bem devagarzinho,
desde a posta do sol até o aparecimento das luzes cintilantes. Outros casais
foram chegando e se sentando, com livros e xícaras de chá; alguns se
embrulhavam nas mantas e até tiravam um cochilo, embalados pelo balançar, que
se originava das marolas feitas pelos
navios que circulavam. A cidade não podia estar mais linda.
Do
centro para o sul do país as florestas de pinheiros não são tão densas, surgem
grandes áreas de agricultura e pastoreio. As cidades continuam com suas casas
de madeira, como o restante do país. Lagos e rios estão por todos os lados.
Saímos cedo, pois queríamos passar em mais um Patrimônio da Humanidade, o Porto
Naval de Karlkrona, construído em 1680, com uma eficiente estrutura de
proteção. No local funciona, até hoje, uma base naval, então a visitação não é
aberta ao público, mas há um museu naval interessante.
Passamos
em Lund, para conhecer sua famosa catedral, mas não rolou hotel com bom preço.
Então seguimos para Mälmo, há 20km, quem sabe teríamos mais sorte. O horário
não era muito propício, já passava das oito, pois foram mais de seiscentos
quilômetros percorridos e com parada para visita. Se temos algo a reclamar nesta viagem é o horário de fechamento das coisas. É a nossa primeira
vez na Europa em setembro, não sabemos se é assim em todo continente ou só
coisa da Escandinávia; o fato é que, quatro da tarde, tudo quanto museu fecha,
o pessoal para de trabalhar e as ruas lotam de carros. Cinco horas, está todo
mundo jantando, porque os restaurantes também fecham cedo; até portaria de
hotel fecha, em geral, antes das oito. Isso encurta muito o dia, a gente só tem
das 10:00 às 16:00 horas para visitar as coisas, se elas abrirem às dez,
algumas só abrem à tarde e, muitas fecham por todo o outono/inverno. Ainda bem
que paisagem não fecha nunca, elas são das melhores coisas que existem aqui, na
Escandinávia (ah, ah, ah!).
Em
Mälmo, encontramos um hostel com preço razoável, o proprietário era super
solícito, ia mostrando tudo e deixando a gente bem à vontade. O quarto era
legal, bem claro, as instalações da cozinha também. Acabamos ficando, mesmo
com o banheiro compartilhado, estávamos cansados, morrendo de fome e
passaríamos só aquela noite, pois pretendíamos chegar a Copenhague cedo. Não
valia a pena perder mais tempo procurando, já se aproximava das oito da noite.
A
região Mälmo/Lund era Dinamarca, nota-se bem na arquitetura, não se observam as
casas de madeira, pintadas de vermelho falun. Surgiram as casas de alvenaria, telhado
triangular, bem pontudo, em material metálico. Lund é um excelente local para
observá-las. É uma das mais antigas do país, data de anos novecentos, época dos
vikings, tem muita história para contar .
Nossa
intenção era conhecer a catedral, Domkyrkan, chegamos dez segundos depois do
meio dia, portanto só tivemos tempo de ver o final do concerto do relógio
astronômico e espiá-la rapidamente, pois se iniciou o culto. Notamos seus tons
pastéis e sua sobriedade, é mais impactante vista de fora. É possível assistir
o concerto do relógio, com bonequinhos que dançam, às 12:00 e 18:00 horas.
Tivemos que
deixar a Suécia sem ter visto tudo de interessante que o país tem para mostrar,
principalmente Gotlands, que, nos contou um Caro Amigo, é maravilhosa, mas o
tempo está segurando nossos pés, aproxima-se a hora de voltar para casa,
ficarão para uma próxima visita.Torramos nossas últimas coroas suecas no Lidl e
seguimos para o momento mais esperado do nosso dia, que era a travessia do
Canal de Oresund, através da ponte que liga a Suécia à Dinamarca, uma grandiosa
obra de engenharia, a maior ponte rodo-ferroviária da Europa. Ela foi
inaugurada em 2000, seu comprimento total é 7845 m, na verdade não se trata só
de uma ponte, mas sim via de comunicação, que engloba ponte e túnel, para
permitir a passagem de navios, num total de 16km, que levaram nove anos para
serem construídos, sendo terminada três
meses antes do previsto. A única coisa não muito legal nela é o preço da travessia,
46 euros.
Cruzando a ponte
chegamos a Kobenhav (Copenhague), na Dinamarca. Novo país, nova língua, novo
dinheiro e, principalmente, novo hotel em uma grande cidade. Chegamos cedo, no
princípio da tarde, assim acreditávamos que não seria tão complicada a tarefa.
Quando chegávamos à
cidade, vimos um “guest house”, até paramos, mas achamos a coisa meio devagar.
Como tínhamos perspectivas de encontrar várias opções de hotéis, não
sabíamos se estávamos longe do centro, que
imaginávamos caro, mas não um
assalto, nem chegamos a falar com os proprietário, seguimos.
Bem... mas se a
Noruega é o país mais caro do mundo, Copenhage deve ter os hotéis mais caros do
mundo. Só para que o Caro Amigo tenha uma vaga idéia, o Albergue da Juventude
custa, em setembro, que já é baixa temporada, 500 reais a diária, sem lençóis e
toalha de banho, que são alugados, e sem vaga para aquela noite, só para o dia
seguinte. Está certo que é às barbas do Tivoli e que o imenso prédio é novinho,
mas assim já era demais, só dava para pagar isso se fosse para dormir no quarto
da rainha, Margrete II, (ah, ah, ah!). Pesquisamos, no Brasil o preço de vários
hotéis, sabíamos que não seriam baratos, mas acreditamos que, pessoalmente,
pudéssemos encontrar algo mais simples e com preços mais acessíveis.
No Centro de
Informações Turísticas, o rapaz, de poucas falas e muita má vontade, estava
mais preocupado em vender algo ou fazer reservas de hotéis, pois cobravam uma
comissão, do que, na verdade, nos ajudar a encontrar um local legal, que
atendesse às nossas necessidades, ele realmente não estava lá para dar qualquer
informação alguma. Não admira que o local estivesse vazio, com só ele para
atender o público, numa cidade imensa e com tantas atrações, aparentemente os
turistas perceberam que é melhor se informar em outro lugar. Ao menos
aproveitamos, nas proximidades, para trocar dinheiro na Estação Central, na
Forex, que nos pareceu a melhor opção em toda a Escandinávia.
E para complicar, a
cidade é uma cratera, buraco para todo lado, parece que vão fazer um metro até
o Japão (ah, ah, ah!), o que torna muito difícil circular de carro. Depois de
mais de três horas procurando hotel, o que encontramos de mais barato chegava
aos 700 reais. Não, Caro Amigo, não é a semana não, é só um dia! Decidimos sair
pegar a estrada e procurar algo nos arredores da cidade. No caminho, na verdade
a pouco mais de 3 km do Parque Tívoli, o grande coração pulsante da cidade, o
Caro Amigo nem imagina o que encontramos... temos que preparar o café, contamos
depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Copenhague
(Kobenhavn)/ Castelos, 19 de setembro de 2014.
Caro
Amigo,
No
caminho, encontramos aquele “guest house”, o da chegada à cidade. Agora nos
animamos a tocar a campainha e perguntar. Um homem atendeu o interfone e pediu
que esperássemos. Ele deve ter ido tomar banho, fazer a barba e cortar o
cabelo, depois de alguns minutos que pareceram uma eternidade, aparece um
senhor muito gentil, mas muito atrapalhado, daquele tipo que, a Cara Amiga bem
conhece, diz que tudo quem sabe direitinho é a mulher dele. Mas, ao final,
ficamos com um quarto, por menos da metade do preço do albergue.
O
La Villa (www.lavilla.dk)
fica no andar inferior de um sobrado, onde residem seus proprietários, são
cinco quartos. Há cozinha, sala de jantar e uma área externa que, em dias
quentes, dá para curtir um jantarzinho legal. É um local simpático, embora os
proprietários não sejam um exemplo de organização. Ao lado, tem um mercadinho,
pizzaria e kebaberia, para quem não quer cozinhar. Sua localização é ótima, com
ônibus ou metrô (três estações) para o centro, quem gosta de andar pode ir
caminhando. O transporte público funciona da mesma forma que na Suécia, bilhete
válido por uma hora, que pode ser comprado na estação, com moeda ou cartão de crédito,
ou em quiosques; para quem vai usar muito, é mais econômico comprar dez
bilhetes .
A
Dinamarca é uma grande península, a Jutlândia e centenas de ilhas, como a
Zelândia, onde fica a capital, Funen,
Falster e Bornholm, motivo pelo qual, muitas vezes, é chamada de Arquipélago
Dinamarquês. É uma monarquia constitucional, com sistema parlamentar de
governo. É membro da OTAN e da União Européia, embora não tenha aderido ao
euro, sua moeda é coroa dinamarquesa (dkk). Assim como Noruega (nok) e Suécia
(sek), com as quais já formou um único reino, tem altos níveis de
bem-estar e igualdade de divisão de
riquezas, alicerçados em normas de saúde, assistência social e educação. É
considerado um dos países mais pacíficos e menos corruptos do mundo.
Embora seja possível fazer tudo caminhando, compramos um pacote que incluía dois roteiros de ônibus e um de barco, naqueles ônibus que se pode descer e subir à vontade, Hop On Hop Off (www.stromma.dk), com validade de 48 horas, então poderíamos fazer tudo com calma e ainda havia desconto em várias atrações. O preço era interessante, cerca de 110 reais, principalmente pelo passeio de barco, de uma hora e meia. Descobrimos, depois, que existe um tour free, já usamos o serviço em outros países, em Berlim e em Coimbra, é muito interessante porque, em geral, são estudantes que guiam o tour e eles dão uma verdadeira aula de história; no final aceitam gorjetas, mas é algo voluntário, sem qualquer pressão. Fica a dica, quando o Caro Amigo estiver viajando, verifique se não há o serviço (www.neweuropetour.eu) ou pergunte no centro de informações turísticas.
Nossa primeira parada foi o Palácio Real Amalienborg, onde, ao meio dia, é possível assistir a troca de guarda. Trata-se de um conjunto de quatro edifícios, datados de 1760, estilo rococó, construídos em volta de uma praça.
Apesar de ser a atual residência oficial da família real, a rainha Margrete II e seu marido, príncipe Henrik, ele não tem estereótipo de palácio, com o qual as crianças sonham, onde vivem princesas e príncipes; ele é austero, lembra mais um museu. Não são muitas as salas que podem ser visitadas, justamente por ser uma residência, mas as que vimos são abarrotadas de pequenas lembranças e porta-retratos, algo bem divertido. Gostamos, especialmente, da sala da Rainha Loise, por sua decoração e estofados em capitonê; do escritório Frederik VIII, vermelho e dourado; da coleção de compoteiras de cristal e de presentes, com muitas jóias em diamantes e pérolas.
Ao fundo fica a Igreja de Mármore, decorada com mosaico e sem imagens. Somente uma cúpula, a maior da Escandinávia. Em todos os palácios e igrejas, que visitamos na cidade, é permitido fotografar, achamos ótimo. Os dinamarqueses são mais descontraídos que os suecos e noruegueses, parecem viver mais despreocupadamente. Há carrinhos vendendo comida na rua, até crepe, e as bebidas alcoólicas são vendidas como no Brasil, em qualquer lugar.
O Rosemborg Palace foi construído, entre 1606 e 1634, como castelo de verão, por Christian IV, um dos mais famosos reis da Dinamarca, patrono das artes e construtor de muitos dos mais significantes edifícios de Copenhague. Após a construção do Palácio Frederiksberg, em 1710, Rosemborg passou a ser usado para guardar heranças familiares , tronos e insígnias reais, vindo, em 1838, a ser aberto ao público como museu, com a intenção de representar a história do país a partir da história da própria casa real, com exposição organizada em ordem cronológica, não por tema, até o último rei morto. Para quem gosta de palácio com toda pompa e circunstância, como é o nosso caso, ele é imperdível, não só por suas tapeçarias, como pelos painéis pintados de suas paredes e, principalmente, pelos seus trabalhos em estuque, branquinho glacê de bolo decorando tetos.
Ele é um pouco escuro, em virtude do sistema de iluminação, o que lhe confere um ar de mistério. Nos calabouços estão as mais valiosas jóias do reino, inclusive a própria coroa da rainha Margrethe II. Os jardins, que não desmerecem o castelo, são um ótimo local de descanso.
O rei Christian IV, em uma viagem à Holanda, apaixonou-se por seus canais, e quis fazer, em sua cidade, uma cópia deles. Em 1618, o rei doou terrenos a comerciantes que quisessem construir, à beira do canal, edifícios similares aos holandeses, assim chegaram muitos comerciantes alemães e assim nasceu Christianhavn, um dos canais por onde pulsa o agitado sangue da cidade, onde, hoje, estão museus, cafés e restaurantes, como o famoso restaurante Noma, de comida nórdica, um dos melhores do mundo, e até a famosa torre barroca, em forma de espiral, da Vor Frelsers Kirke, que foi incluída, por Jules Verne, no livro a Jornada ao Centro da Terra, pode ser vista a partir dele.
Outro famoso porto da cidade é o Nyhavn, com suas pitorescas casas e apelidado de o maior restaurante do mundo, pela sucessão de bares e restaurantes que se instalaram ao longo do canal, perto do qual está a casa onde viveu Hans Christian Andersen. É um local para caminhar, tomar uma cerveja e provar um smorrebrod, aqueles sanduíches abertos.
E admirando a Pequena Sereia, que sofre por seu príncipe encantado, nos despedimos por hoje, pois até o Caro Amigo deve estar cansado, deixaremos um pouquinho para amanhã.
Beijos,
Sayo e Claudio
Copenhague/Carlsberg /Tivoli, 20 de setembro de 2014.
Caro Amigo,
A Dinamarca, de tradição viking, é um país moderno, que legalizou o aborto e o casamento entre homossexuais, com população inferior a da cidade de São Paulo, gente feliz, que se preocupa com o meio ambiente, com a emissão de carbono e que lota os bares, nos finais de tarde, para conversar com os amigos e rir muito. É a terra da Pequena Sereia e do Patinho Feio, da famosa poltrona Egg, de destacados nomes da arquitetura e do design, como Verner Panton e Arne Jacobsen, e de castelos fantásticos. Os dinamarqueses definem seu design como funcional, elegante e atemporamente simples, nos parece que assim também se pode definir o espírito deste povo, é assim que eles vivem nesta linda Capital. O país tem muito a oferecer ao turista que quiser se aventurar por aqui.
Aproveitamos a manhã para uma visita à Cervejaria da Carlsberg (www.visitcarlsberg.dk), nos arredores da cidade. Fundada por Jacob Christian Jacoben, em 1847, figura, hoje, como o quarto grupo cervejeiro do mundo. É um enorme complexo de tijolos vermelhos, com uma entrada faraônica, com dois enormes elefantes. Durante a visita é possível conhecer, de forma sucinta, fases da fabricação da cerveja, através de projeções, visitar a coleção de garrafas de cerveja e veículos, além de tomar dois copos da dita cuja.
Mas não dá para ir a Copenhague sem dar uma caminhada, para observar, com mais vagar, os magníficos edifícios de tijolo marrom e suas torres e cúpulas esverdeadas, algo similar as de Estocolmo. Então, há que se deter, por alguns minutos, diante do suntuoso edifício da Prefeitura, construído na idade do ouro da cidade, para admirar suas formas e sua vizinhança. Depois, continuar pela Stronget, a enorme rua de pedestres e de lojas, onde se encontram marcas internacionais e dinamarquesas de renome, além de muita gente diferente para observar.
Entre as coisas que mais nos impressionaram durante nossa visita estão os imensos lustres de cristal, os estuques e a biblioteca, branca e dourada. A Great Hall é a maior das salas reais de recepção e está decorada com uma fantástica coleção de tapeçarias moderas, datadas do ano 2000, que contam a história da Dinamarca e do mundo nos últimos 1000 anos. Visto de fora, o palácio não aparenta as jóias que tem em seu interior, pode até chegar a parecer feio e passar desapercebido, não fossem as três elegantes coroas de sua cúpula, mas é uma visita imperdível, inclusive para subir em sua torre e expiar a cidade desde o alto.
E no final da tarde, quase seis, chegamos aos Jardins do Tivoli e o que dizer dele... parece que resta muito pouco, já foi dito que ele é “para sempre como nunca antes”; que é parte integrante e o principal representante da cultura, música e entretenimento da Dinamarca; que é um parque para todas as idades e preferências; que ele é velho, moderno, vintage, fantástico, sem graça, grande, pequeno e não sabemos mais quantos adjetivos. O fato é que ele entrou em funcionamento em 1843 e recebe, anualmente, mais de quatro milhões de visitantes, interessados em descobrir seus segredos. Há quem diga que sua grande fama vem de sua montanha russa, que data de 1914, completando 100 anos, uma das mais antigas em funcionamento no mundo; outros afirmam, com convicção, que seu sucesso se deve ao The Five Star, o carrossel mais alto do mundo, com 80m; ou que se tornou imortal quando inspirou Walt Disney a criar a Disleylândia. O parque conta com 26 atrações, lago, muitas lojinhas, diversos cafés e restaurantes, além de apresentações teatrais e musicais, atrações curiosas, performances a céu aberto e queima de fogos. Sem falar em um hotel butique, o Nimb Hotel, com dezessete quartos, só para celebridades, até o Lula ficou lá (imagine o preço Caro Amigo). Tudo numa área de jardins de 21 hectares, bem no meio da cidade. Tudo isso já foi dito dos Jardins do Tivoli, mas nos parece longe de defini-los.
Resolvemos visitá-lo no final da tarde para, justamente, vê-lo iluminado pela luz do dia e, posteriormente, pelas milhões de luzes coloridas que o decoram, à noite. O que fizemos foi caminhar, sentar em algum banco, observar e, novamente, caminhar. E o que nos pareceu? Lindo! Maravilhoso! Um enorme carrossel, colorido, iluminado, vivo, inebriante. Ele pode até ser meio antiquado, tomando-se como base os mega parques atuais, eletrônicos e ruidosos. Mas acontece que, aos nossos olhos, não tão crianças, ele mostrou coisas que povoaram nossos sonhos e desejos infantis, e que, na ocasião, não tínhamos condições de conhecer. É muito bom realizar sonhos (ah, ah, ah!).
E agora, gostaríamos de dizer ao Caro Amigo o que há de podre no Reino da Dinamarca, contam por aqui que alma do Rei Hamlet apareceu a seu filho, o príncipe Hamlet da Dinamarca, clamando por vingança, pois ele fora envenenado por seu irmão, Claudio, que, tornou-se amante da rainha Gertrudes, com quem se casa apressadamente, após assassinar seu irmão, para tornar-se rei. Hamlet, então, jura vingar o pai e divaga sobre os dilemas existenciais, afirmando que há mais mistérios entre o céu e a terra do que possa imaginar a nossa vã filosofia e que há algo de podre no reino da Dinamarca.
Ele finge-se
de louco, agindo como perturbado. Ser ou
não ser, eis a questão. Em sua obsessão pela vingança, rejeita o amor de
Ofélia, filha de Polônio, conselheiro de Claudio. Chega ao castelo uma trupe de
artistas e Hamlet arquiteta um plano; monta uma peça teatral, encenando o
assassinato do próprio pai. No momento da morte do rei, Claudio demonstra forte
emoção, que Hamlet interpreta como culpa. Temendo por sua vida, Claudio manda o
príncipe para Inglaterra, acompanhado de dois amigos, para que lá ele seja
assassinado.
Antes de sua
partida, Gertrudes, aflita, chama o filho a seus aposentos e com ele discute
violentamente; é quanto Hamlet ouve ruídos atrás de uma cortina e, acreditando
tratar-se de Claudio, desfere um golpe mortal, mas era Polônio, que cai morto.
Ofélia, louca com o ocorrido, vagueia pelos corredores do palácio; seu irmão,
Laertes, volta da França.
O príncipe
Hamlet não chega à Inglaterra, pois seu navio é atacado por piratas e ele foge,
retornando à Dinamarca. Ofélia suicida-se e Claudio convence Laertes a competir
com o príncipe, usando uma espada envenenada e, caso ele não morra, lhe será
oferecida uma taça de vinho contendo veneno. Hamlet vence e sua mãe, para
comemorar ... vamos visitar uma catedral, contamos depois.
Beijos,
Sayo e
Claudio.
Helsingor
(Elsimore), 21 de setembro de 2014.
Caro Amigo,
Voltando ao
que contam por aqui, Hamlet vence e sua mãe, em comemoração, bebe a taça de
vinho destinada a ele. Laertes fere
Hamlet com a espada envenenada e, num combate, corpo a corpo, que se segue,
as espadas são trocadas e Hamlet fere Laertes com a espada envenenada. A rainha
confessa tudo e morre. Laertes conta que o rei é o culpado de toda a trama e,
antes de morrer, reconcilia-se com o príncipe. Hamlet obriga Claudio a beber a
taça com veneno e morre dizendo: o resto é silêncio.
E foi em meio
ao silêncio que chegamos, na fria manhã, ao Castelo Kromborg, em Helsingor,
onde tudo se passou. Pesadas colunas de pedra, em cujos pés o musgo, verde, se
espalhava, e rachaduras, sinais fortes do tempo, assim nos recebeu o castelo.
Há quem diga que nada disso se passou, pura invenção de Shakespeare. Mas há os
que afirmem que um amigo escutara tudo de sua avó, que tinha uma prima, cuja
tia contou que seu pai ouviu tudo da boca de seu padrinho, que lhe foi contado
pelo seu bisavô, que tudo presenciou. Cabe ao Caro Amigo decidir em quem
acreditar.
O que vimos
foi um castelo/fortaleza, debruçado sobre o Mar Báltico, com canhões vigiando o
inimigo. Num canto ou outro, traços amargos, fotos, frases, tudo a lembrar a
triste história e os vários incêndios que sofreu. Tapeçarias, nas paredes, e
pesada mobília recordam a opulência que um dia teve, quando rainhas e reis
caminhavam por seus corredores e combatiam inimigos.
Mas há uma
preciosa e fresca capela, que permaneceu intocada, livre do ardente fogo, com
seus coloridos painéis de madeira entalhada, prova viva da beleza que, outrora,
revestiu o castelo e de que, por ali,
ainda caminham princesas, vestidas de branco, com buques de flores nas mãos,
amparadas pelos vigorosos branços de seus pais orgulhosos, em direção a seus
gentis príncipes encantados, com quem viverão felizes para sempre. E em todos
esses contrates, que nada mais são que os contrastes da vida de qualquer um,
reside a beleza do Castelo Kromborg.
Essa foi a
nossa primeira visita do dia, a cidade de Helsingor, a coisa de 40 km de
Copenhague, o Castelo Kromborg, que foi construído entre 1574 e 1585, no reinado de Cristian II, no estreito
entre Suécia e Dinamarca, é Patrimônio da Humanidade. Há visitas
guiadas com dramatização, mas os horários não bateram com os nossos. De
qualquer modo, todas as visitas têm uma pequena introdução, de meia hora, com
um guia, mas dessa vez também não tivemos sorte, a nossa guia além de um
sotaque estranho, tinha um cacoete, mexia os olhos de um modo estranho, ao
menos, era mais alegre que o guia do
Castelo Drottningholm.
Daí seguimos
para Hillerod, também no norte da ilha
Zelândia, há 20 km da Capital, um agradável passeio por campos de golfe, casas
de campo e bosques, nos quais o outono já estendeu suas mãos. O Castelo de
Frederiksborg é o maior da Dinamarca e, dizem, uma das mais belas construções
do país. Em estilo renascentista, foi construído por Christian IV, no início do
século XVII, sendo quase todo destruído por um incêndio em1859. O fundador da
Carlsberg, J.C. Jacobsen, teve
importante papel na restauração do mesmo e, em 1877, propôs sua transformação
no Museu de História Nacional, que ilustra quinhentos anos de história dinamarquesa,
através de retratos, pinturas históricas, mobília e arte decorativa.
Atravessando uma cidadela de tijolos marrons e cruzando a
ponte sobre um lago, chegamos à fonte, onde deuses mitológicos vertiam água e,
ao fundo, o castelo de conto de fadas, Frederiksborg, com relógio, torres, cúpulas
e estátuas. A capela mercê destaque, seu tom azulado, quase cinza, com detalhes
dourados, retâbulo de prata e estuques nas paredes e teto. O interessante da
visita é que donzelas caminham pelo castelo, trajando réplicas de roupas dos
quadros, e conversam com os visitantes e explicam partes da história. A partir
de seu jardim barroco, o castelo tem uma vista espetacular.
Outro passeio interessante, que pode ser feito a partir de
Copenhague, é Roskilde, há 40 km, que foi a primeira capital da Dinamarca, seu
nome significa flor de primavera, por ter sido fundada nessa estação. Hoje, sua
catedral, embora de aparência quase modesta, interior branco com alguns poucos
detalhes em tijolo vermelho, é Patrimônio da Humanidade e abriga trinta e nove
túmulos reais, muitos dos quais são verdadeiras obras de arte.
Assim deixamos a Ilha Zelândia, com destino a Odense, na Ilha de Funen, cruzando uma enorme
ponte, outra interessante obra de engenharia, o custo da travessia é de cerca
de cem reais, não tão barato, mas ela possibilita chegar à Alemanha sem
precisar tomar aquele ferry de 92 euros e ainda conhecer um pouquinho mais da
Dinamarca. Na paisagem aparecem os enormes cataventos, uma forma de produção de
energia não poluidora e que não agride o meio ambiente, muito utilizada no país,
e zonas rurais.
E o Caro Amigo deve estar se
perguntando o que nos levou a Odense e teremos imenso prazer em contar. Senta
que lá vem história: Não se sabe como, mas entre os ovos de uma pata apareceu
um maior. Mãe zelosa, ela chocou todos com o mesmo carinho. Nascem os patinhos
e um deles destaca-se por seu tamanho, cor e falta de jeito. É perseguido pelas
outras aves, por ser feio, diferente de seus graciosos irmãos. Um dia, desiludido,
já cansado de sofrer e sem ter amigos, encontra sua verdadeira família e
descobre que é um lindo cisne. Aliás, o cisne é a ave símbolo da Dinamarca.
E aí? Descobriu Caro Amigo? Não... não
viemos experimentar carne de cisne (ah, ah, ah!).
Beijos,
Sayo e Claudio.
Caro Amigo,
Chegamos à cidade e iniciamos a caça a
um lugar legal para ficar. O frio era cruel, 10 graus e com vento forte. Demos
uma olhada no centro, nada! Fomos atrás de algumas indicações da Eva Maria
(GPS), alguns B&B, sem vaga! Pensamos que talvez fosse melhor ligar, que
ficar batendo perna naquele frio, precisávamos de wi-fi, para usar o skipe.
Entramos em uma “musiteca”, uma biblioteca de música, não sabemos se isso
existe no Brasil e qual é o nome correto. Foi lá que encontramos a nossa fada
madrinha de plantão, uma senhora que tinha mesmo cara de fada madrinha, mas sem
varinha, que nos indicou como acessar a internet, nos ajudou com a máquina de
café, que estava quebrada, e o frio exigia um café quente, e até nos conseguiu,
não temos idéia onde (deve ter sido com a varinha de condão, ah, ah, ah!), um
mapa da cidade com indicações de hotel. O primeiro que ligamos, não tinha vaga;
o segundo, não atendeu, mas resolvemos ir pessoalmente até lá.
A pesada porta de madeira só estava
encostada, como não havia campainha fora. Empurrei a porta e entrei, do pátio
eu enxergava duas pequenas macieiras, carregadas de frutos vermelhos; uma
parreira, com pequenos frutos escuros; uma mesa, sobre a qual havia um vaso de
flores, com quatro cadeiras; vidros de geléias, ou seriam compotas, talvez
chutney; lá no fundo, um jardim, tudo uma lindeza. Quem vê de fora as antigas
casas, com ar muito sóbrio, nem pode imaginar os tesouros de seu interior. Era
onde adoraríamos morar pelo o resto de nossas vidas.
Toquei a campainha doida para que
aparecesse algum cristão, mas nada, nem alma penada. Toquei três vezes e
nenhuma resposta. Mas quem sairia deixando o portão só encostado? Que falta de
prudência! Será que demorariam? O jeito era ir procura vaga em outro lugar, não
podíamos ficar por ali a noite toda, esperando algo que poderia nem acontecer,
vai que foram jantar em casa de parentes em outra cidade! Quando me aproximei
da porta de madeira e já estendia a mão para empurrá-la, ela se abriu, como por
encanto, ou melhor, por obra de Deus, que é Pai e não nos desampara nunca, e um jovem senhor, loiro e bonitão, entrou no
pátio e sorriu.
Perguntei sobre o quarto do B&B,
ele respondeu que não tinha quarto, mas sim um apartamento, sem café da manhã,
querendo dar a entender que era algo mais caro. Já que eu estava por ali mesmo,
sem coisa melhor para fazer (ah, ah, ah!), não custava nada perguntar o preço, estava
tão acostumada com a carestia que nada me assustaria. Ele respondeu 600 coroas,
perguntei novamente, pensando não ter entendido direito, porque o preço era uma
bagatela para o país, cerca de 250 reais, ainda mais por um apartamento todinho,
onde poderíamos até cozinhar, ele confirmou. Mais que rapidamente disse que
estava ótimo, antes mesmo de ver, para que ele não mudasse de idéia. E, como o
seguro morreu de velho e o desconfiado até hoje é vivo, bem dizia meu pai, pedi
para conhecer o “AP”, embora tivesse certeza que nada ali poderia ser meia
boca.
E realmente não era, não. Ocupava o andar
térreo da casa; o proprietário, e sua família, moravam no andar superior. Ele
era gracioso, com cozinha equipada, sala de jantar, sala de estar enorme,
quarto e banheiro, até com máquina de lavar roupa. Tudo limpinho, bem cuidado e
decorado, o sonho de qualquer turista cansado. O proprietário é muito simpático
e solícito; até pão, preparado por ele, nos levou uma noite. Tudo era tão
perfeito que não nos animamos a ir embora. E foi o que fizemos, ficamos morando
nele, resolvemos sair cedo para conhecer as outras cidades, não nos
importávamos de rodar 150 km e voltar, ganharíamos o tempo da procura hotel e o
prazer de morar ali uns poucos dias. E, no final, nosso senhorio nos deu até um
desconto, pois ficamos quatro noites.
Mas, finalmente, o Caro Amigo descobriu
o que viemos fazer aqui? Viemos visitar
o museu do filho mais famoso da cidade, talvez o mais famoso do país, Hans Christian Andersen. Quando eu (Sayo) era
criança, adorava histórias infantis, lia muito, de algumas delas jamais me
esqueci, fecho os olhos e enxergo as figuras que ilustravam os livros, foi o
que nos trouxe a Odense, a vontade de rever A Polegarzinha, A Rainha do Gelo, a
Princesa e a Ervilha, A Vendedora de Fósforos, A Roupa Nova do Rei, O
Soldadinho de Chumbo, A Pequena Sereia, O pequeno Claudio e o Grande Claudio
(não parece familiar, ah, ah, ah!), A Caixinha de Surpresa, os Sapatinhos
Vermelhos e, quem sabe, conhecer alguma
nova historinha.
O autor nasceu em 02/04/1805, em
Odense, filho de um sapateiro e de uma lavadeira, não teve uma infância de
conto de fadas, viviam em um cômodo apertado, que também era a oficina de seu
pai, que o amava muito, contava-lhe muitas histórias e construiu para ele um
pequeno teatro de marionetes. Mas o pai morreu cedo e o autor, com catorze
anos, muda-se para Copenhague para ficar mais perto do teatro e de uma vida que
pudesse levá-lo a concretizar seus sonhos. Ele era alto, alguns diziam que até
feio, teve alguns amores, mas nunca se casou; viajou e conviveu com amigos.
Morreu em 1875, mas não sem antes deixar seu nome escrito na história, pelas
obras literárias que escreveu, peças de teatro, histórias,
contos, canções patriotas e principalmente, contos infantis, que levaram seu
nome por lares do mundo todo.
Por um edifício, em meio a um jardim,
entra-se no museu H.C.Andersen, um não grande edifício moderno. Em seu
interior, a vida do autor contada cronologicamente e de modo bastante didático,
é possível compreender em linhas gerais, mesmo não tendo um excelente inglês. É grande o acervo de objetos do próprio autor
e, ligada ao edifício moderno, está a casa onde ele nasceu, onde ocupavam
apenas um dos quartos, pois não pertencia a seu pai, que era muito pobre; a
mobília que guarnece a casa não é original, mas é o que supostamente existiria
na época. Na lojinha do museu, esperávamos encontrar algum livro em português,
com os contos do autor, mas, infelizmente, não; encontramos um em espanhol, mas
pequeno, longe do lindo livro, cheio de ilustrações, que gostaríamos de ter
comprado. Fica a recordação!
Na saída do museu, pode-se ver a casa
amarela de Andersen de frente, justamente na antiga rua parada no tempo, onde
as casas permanecem como quando ele por ali deu seus primeiros passos. Tudo na
cidade gira em torno do autor, locais ligados à história de sua vida estão
indicados com um “sol”, feito por ele mesmo, que adorava fazer figuras
recortando papel. Há ainda, em outros endereços, a casa onde ele passou a
infância e um centro cultural, Fyrtoejet, que se dedica a narrações, jogos e
encenações das obras do autor.
A cidade tem muito a oferecer, como um
passeio pelo parque Munke Mose ou ao Zoo. Uma das principais atrações são os
passeios pelo rio Odense, com pedalinhos ou de balsa, para espiar os jardins
das casas, que ficam ao fundo delas e não podem ser vistos da rua. Imperdível
também é Den Fynske Landsby, um museu a céu aberto, feito com mais de vinte
construções, retiradas de diversos pontos da ilha, e contam um pouquinho da
história local no século XIX; além dos cenários, há gente com trajes da época,
em suas atividades cotidianas. Sem falar em compras, pois o comércio é agitado,
há, inclusive, uma loja que só vende coisas antigas, a Kramboden, que fica na
Rua Nedergade; em frente ao Museu Andersen, visitamos uma muito simpática que
vende enfeites de natal, cartões e móbiles recortados, como os que o autor
fazia. Mas, como faltou tempo, vamos deixar para conhecer mais dessas
maravilhas na próxima visita, como bem sabe o Caro Amigo, é nossa teoria sempre
deixar algo por conhecer, assim a gente tem uma desculpa para, um dia, voltar
aos locais que gostou (ah, ah, ah!).
E por falar nas coisas que a gente
gosta, ir a Roma e não ver o Papa é algo inconcebível, assim como vir à
Dinamarca e não ir à Billund para ver a... mas temos que fechar a mala,
contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Billund, 23 de setembro de 2014.
Caro Amigo,
O mundo sempre esteve, está e estará
cheio de artistas. Vez por outra aparece alguém que inventa algo que marca a
humanidade para sempre. Assim foi a invenção da roda, da calça jeans, da
camiseta, da havaiana, do leite em saquinho e um montão de outras coisas. O
dinamarquês Ole Kirk Christiansen figura entre esses inventores, responsáveis
por quase mudar o destino da humanidade com suas invenções, muitas vezes,
aparentemente bobas. Ele inventou algo capaz de levar mentes infantis, e
adultas, a arquitetar e construir maravilhas sem fim, como uma simples
brincadeira, ele inventou o “lego”, que, em latim significa juntar, unir
partes, o pequeno tijolo plástico.
De Odense a Billund são 103 Km, uma cidade com mais de nove mil
habitantes, que, direta ou indiretamente, trabalham para a Lego, quer na
própria fábrica, quer no parque, a maravilhosa cidade da Lego, a Legolândia.
Inaugurada em 1968, a cidade do faz-de-conta, onde nem tudo que parece é, foi
construída com mais 59 milhões de tijolinhos coloridos, em uma área de 140 mil
metros quadrados. Lógico que, num país de dezenas de castelos, de príncipes e
princesas, de pequenas sereias, de grandes contadores de história, não poderia
deixar de existir uma cidade de faz-de-conta, onde tudo pode acontecer.
Dizem que se trata de um parque
para crianças até doze anos, mas isso realmente não nos pareceu verdade, pois
vimos gente de todas as idades, inclusive nós, e sem companhia de qualquer
criança, de boca aberta e maravilhando-se como se crianças fossem, ou melhor,
mais do que se crianças fossem. Mas com o que? Com um montão de pequenos
retângulos justapostos? Não! Com um mundo todo construído em tamanho pequeno, a
Lilipute de Guliver, onde é possível ir de Atenas aos Estados Unidos, da China
à Alemanha em poucos passos e com muita diversão.
O parque tem três montanhas
russas, casa assombrada, barquinho, navio de batalha, aquário, bate-bate,
elevador panorâmico, trenzinho, montanha russa aquática, rafting com canoa e mais
algumas coisinhas, tudo infantil, ou para criança grande, adolescente deve
achar meio bobo. Tem até secador de gente, para quem se exceder nas
brincadeiras, já viu isso? Além disso, há vários restaurantes, lanchonetes,
lojas, cidade cowboy, sorveteria, loja da Lego (claro, ah, ah, ah!) e tudo que
manda o figurino, o que, por si só, já bastaria.
Aí a gente se depara com a
Miniland, um mundinho em miniatura, formado por réplica dos mais lindos e
interessantes monumentos e cidades do mundo, com requinte de detalhes.
Caminhando por lá encontramos, em miniatura, a fábrica da Wolkswagen, uma via
férrea de Dusseldrof, os castelos Amaliemberg e Fredensborg, a central do Corpo
de Bombeiros e o Nyhavn de Copenhague, o
aeroporto de Munique, Beverly Hills, o Canal de Göta, a Costa Escocesa,
Amsterdã, Bergen, a Estátua da Liberdade, a Acrópole, o Capitólio e mais um
montão de coisas e bonecos feitos de lego, até turista tinha por lá (ah, ah,
ah!).
Mas o sensacional, o maravilhoso,
o “the best” (meio redundante, mas se muitos falam o plus a mais, nós também
queremos dizer o the best) é que as miniaturas feitas com lego, não só miniaturas, elas tem movimento, os
trens realmente andam em seu trilhos; os barcos navegam em rios calmos,
atravessando eclusas e pontes elevadiças..........; os caminhões trafegam por
rodovias; os guindastes carregam carga; os balões flutuam; os aviões taxiam,
enquanto o túnel de acesso de passageiros se movimenta; o foguete da NASA solta
fumaça; a batalha de Star Wars prossegue. E nada ocorre em silêncio, tudo com
seu respectivo som, para dar mais autenticidade. Ouvimos dizer que, para o ano
que vem, tudo terá cheiro também (é mentira, ah, ah, ah!).
É um passeio imperdível então,
Caro Amigo, quando programar sua viagem para Dinamarca, não esqueça de atentar
para o mês, pois, assim como os Jardins do Tivoli, a Legolândia fecha no
inverno. É uma diversão para o dia todo e é bom levar um lanchinho, porque o
preço dos restaurantes é um pouco salgado. O passeio vale cada centavo do custo
do ingresso, que está por volta de cento e quarenta reais e com direito a
entrar de graça na temporada de 2015, já estamos pensando em voltar no ano que
vem. Está a fim Caro Amigo (ah, ah, ah!).
Tentamos aproveitar o restinho do
dia para conhecer Arhus, que fica alguns quilômetros adiante mas já era final
de tarde e encontramos tudo fechado, a visita só não foi de todo perdida porque
encontramos exemplares de peculiares telhados feitos de palha, usados em
antigas construções.
Então voltamos para nosso
“apzinho”, em Odense, para tomar uma tacinha de vinho e preparar o jantar,
enquanto programávamos o dia seguinte.
Beijos,
Sayo e Claudio
Egeskov/Ribe, 25 de setembro de 2014.
Caro Amigo,
Não longe de Odense, há 20km, está um
castelo, um dos mais famosos do país. Aliás, ele é muito mais que um castelo, é
um verdadeiro parque de diversões e, se o Caro Amigo for pela estrada 167, em
direção à Kvaerndrup, o programa estará completo, pois ela segue por cenários
de um país tranqüilo e rural, com pomares e plantações, pitorescas casas de telhados de palha com
madeira cruzada no topo, praças, jardins, igrejas, pequenas vilas imóveis,
cidades de brinquedo, legolândias.
O Castelo de Egeskov é uma construção
renascentista, datada de 1554, um dos
mais bem preservados da Europa e está envolto em várias lendas, uma delas é que
foi derrubada toda uma floresta de carvalho para construir os alicerces que o
mantém sobre as águas, daí o seu nome, que significa justamente floresta de carvalho.
Outra história é sobre um boneco de
madeira, que fica sobre um travesseiro, num canto do sótão, próximo ao local
onde há a exposição de brinquedos antigos, dizem que se ele for removido do
local o castelo desabará na noite de natal; nós o vimos, é algo meio tétrico.
O que sabemos de fato é que, hoje, o
castelo pertence a um conde, Michael Ahlefeldt-Laurvig-Bille, que o herdou de
seu pai, uma figura excêntrica que mandou fazer uma armadura, de cavaleiro
medieval, para si.
Mas, lendas à parte, o castelo por si
só já vale uma visita, ele é de tijolos marrons, tem as cúpulas de metal
esverdeado, como grande parte das grandiosas construções que encontramos pela
Escandinávia, e parece flutuar sobre um espelho de água. As salas abertas à
visitação estão muito bem decoradas, possibilitando conhecer costumes e um
pouquinho da opulência com que viviam os nobres. Merece destaque a sala de caça e sua coleção
de armas, com algumas caixas com pares de pistola para duelar (pensávamos que
era coisa de filme, ah, ah, ah!); e por todo castelo há elegante mobília e fina
porcelana, sofisticação em cada pequeno detalhe.
O grande destaque do Egeskov é uma
casa de bonecas, Titania´s Palace, que foi construída por um irlandês para sua
filha, entre os anos de 1907 e 1922, a coitadinha nem desfrutou, já estava
grande quando ficou pronta. É a réplica de um palácio, que foi adquirido pela
Lego e emprestada ao Egeskov. A perfeição e a riqueza de detalhes são de
impressionar e de deixar qualquer criança com água na boca, imaginando-se
arterando por aqueles minúsculos corredores e quartos.
E nos jardins há muito mais para ver
e fazer. Visitar o Museu de Trajes e, quem, sabe escolher seu vestido de noiva,
bem à moda antiga.
Perder-se pelos labirintos de cerca
viva. Apreciar o jardim de rosas ou o só dedicado a brincos-de-princesa. Comer
algo na lanchonete ou piquenicar Roubar algum temperinho na horta que abastece
o castelo.
Conhecer a coleção de carros,
motocicletas, caminhões de bombeiro e de aviões.
E, finalmente, se ainda não estiver
cansado, praticar arvorismo, em pontes suspensas, entre as árvores do bosque,
em 100 metros de passarelas, suspensas a mais de dez metros.
Ribe, há 128km de Odense, é a cidade
mais antiga do país, data dos anos 700, quando os vikings ainda viviam por
aqui. Por isso, antes mesmo de ver a cara da cidade, fomos ao Vikingcenter, que
fica nas aforas da cidade.
É a reprodução de uma cidade viking.
É possível entrar nas casas, conhecer as construções, famílias e o modo de
vida, as camas cobertas de pêlos de animal; o fogão no meio do cômodo, sobre o
qual pende um suporte para secar carne e pescado, modo similar ao de muitos
indígenas brasileiros; os legumes e cereais utilizados na alimentação; os
trabalhos de tecelagem e agulha. Aí descobrimos que é de origem viking o
interessante telhado de palha que vimos em Arhus.
Os ofícios também estão retratados. É
possível ver ferreiros, marceneiros, vidreiros, carpinteiros, padeiros e
fazendeiros todos trabalhando em suas devidas funções; confeccionando produtos
e objetos que, por vezes, são vendidos aos turistas. Durante o dia ocorrem
dramatizações, com lutas, e apresentações de falcões e corujas.
Já na cidade, em seu centro histórico
medieval, as casas com paredes tortas, tijolo carcomido e vigas de madeira
escurecida, quase petrificada, não negam a sua idade, nem escondem sua beleza.
É para caminhar e admirar, parar para um café e admirar novamente, sem qualquer
pressa, sem trajeto definido.
A Catedral, mais antiga do país, internacionalmente conhecida,
está localizada em uma praça que lembra a Catedral de Siena, na Itália. É
possível subir em sua torre para ter uma visão da cidade e das imediações, além
de visitar seu museu.
É uma igreja, no mínimo curiosa, pois,
em parte, lembra a Catedral de Córdoba, com colunas, arcos em forma de
ferradura, pintados com quadrados brancos e marrons, um toque românico ou
mudejar. Mas ela apresenta também traços góticos, com arcos em forma de mãos
postas. Seu púlpito não é tão glorioso como muitos que já vimos, mas tem
colorido e formas bem agradáveis de observar.
Sua maior polêmica está no altar, por
conta de trabalhos executados por Carl-Henning Pedersen’s, entre 1982/1987, sete
mosaicos com motivos bíblicos, os afrescos do teto e os vitrais, que causam controvérsia até hoje; algo estilo
psicodélico, que faz até lembrar Gaudí. Em nossa modesta opinião, eles, no
mínimo, não combinaram com o conjunto da obra.
E roubando um fruto da árvore proibida,
uma maçã vermelha como a da Branca de Neve, nos despedimos da Dinamarca e da
nossa adorável casinha de Odense. É hora de seguir para... vamos parar para ver
o que aconteceu, está o maior congestionamento na estrada, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Hasbergen (Alemanha), 27 de setembro de
2014.
Caro Amigo,
Em verdade é hora de começar a voltar
para casa... Já sabemos... também achamos que é cedo, mas alguém na CRKTour tem
que trabalhar e, parece, que somos nós (ah, ah, ah!).
Mas ainda temos uns poucos dias para
aproveitar, fazer umas comprinhas, pois já estamos com síndrome de abstinência,
e jantar fora, pois já estamos magrinhos (ah, ah, ah!). A viagem pela
Escandinávia foi maravilhosa, o Caro Amigo não achou? É bem verdade que foi só
um aperitivo, não vimos nem metade de tudo que há para conhecer, mas foi o
suficiente para amar e querer voltar. Principalmente, foi uma viagem para
aprender e mudar a rotina, mudar (?) alguns conceitos consumistas ou, ao menos,
verificar que dá para sobreviver sem eles. Conseguimos viver com metade da mala
que levamos, porque o verão nunca chegou, o máximo que conseguimos, uma tarde,
foi 23 graus e por nada mais que duas horas; assim que tudo que levamos de
verão, ficou em sacos plásticos, embaixo do banco do carro, para, pelo menos,
não atrapalhar.
Tenho que confessar à Cara Amiga, que
sei me compreenderá, que até gostei do negócio de jantar em casa. Não que não
ame jantar fora, adoro! Acontece que acordo muito cedo, em geral antes das
seis, é quando escrevo, se não o fiz no carro, durante o trajeto, e é quando
verifico a programação do dia. Assim que, à noite, depois de ralar o dia
inteiro (porque passear dá trabalho, ah, ah, ah!), estou cansada, tomo banho e
passo vinte mil cremes, um para cada pequena parte do corpo. Se não for sair,
faço dois rolinhos no cabelo (que agora cismei de usar cacheado) agarro uma
taça de vinho, ponho a roupa de casa e, mesmo que vá cozinhar, já estou
relaxada.
Acontece que, ao Kuc, não basta sair
para jantar, num cantinho qualquer de um pequeno e simpático restaurante, que
sirva uma comida saborosa e ponto, preferencialmente o primeiro que
encontrarmos. Ele gosta de fazer do jantar o maior acontecimento do dia (ou
será martírio, ah, ah, ah). Então, quando saímos para jantar, tenho que me
vestir a altura e iniciar a via sacra,
pois ele caminha por todos os restaurantes da cidade, analisa seus cardápios,
para ver se há realmente comida regional, como estão os preços e se é um lugar
hiper-super. Depois, indeciso, ele volta a repetir todo o roteiro, até escolher
onde comer. Aí vem o drama da mesa, que deve estar muito bem colocada,
preferencialmente às margens do Sena ou do Nilo; por vezes, mudamos de mesa
mais de uma vez.
Chega o cardápio, outro estresse,
porque ele me pergunta sobre todos os pratos que lá constam, independentemente
dele estar escrito em javanês e de eu nunca ter estado no país; até que eu
escolha o prato dele e o eu, que deverá ser a segunda opção dele, para que ele
satisfaça sua vontade duplamente, comendo uma parte do meu. Horas depois,
pratos escolhidos, chega a hora da foto do casal, o pobre do garçom tem que
fazer das tripas coração para entender as explicações, em português, de como
mexer na câmera, de que ângulo deve ser feita a foto e a que distância, minha
cara até dói de tanto fazer pose e a foto não fica boa. Mas ainda falta a foto
de cada prato individualmente, que tem que ser analisada para conferir se ficou
exatamente como o esperado, sob pena de ser feita nova foto. A essa altura o
restaurante inteiro já está olhando para nossa cara, se bobear até o pessoal do
restaurante ao lado. E a comida? Já congelou. Então, Cara Amiga, é melhor
cozinhar qualquer engasga gato, já que ele não ousará reclamar do prato que eu
fizer, e lavar a louça (ah, ah, ah!).
Confesso, ainda, que me parece bestial
a banalização do ato de fotografar que chegou com a máquina digital. Chega à
beira do ridículo, que os portadores de máquinas fotográficas se julguem seres
superiores aos demais mortais, com licença para incomodar quem quer, simplesmente,
apreciar uma imagem ou um ponto turístico, julgando que tem prioridade sobre os
demais semoventes. Qualquer dia eles vão achar que são como o próprio 007, que
tem licença para matar e vão sair matando quem se atreva a impedi-los de tirar
as fotos tão sonhadas (ah, ah, ah!). Chego a achar que é uma invasão de
privacidade ser fotografado a todo momento e que é uma enorme perda de tempo
parar para tirar foto de tudo o que se vê. Não que não goste de fotografias,
julgo ser uma maravilhosa recordação, desde que dentro dos limites do razoável
e de que seja realmente uma fotografia, não algo que ficará enfiado dentro de
um computador e que ninguém verá ou, sequer, se lembrará. Infelizmente,
confesso que vivo com um aspirante a 007.
Voltando à viagem, paramos para dormir
pelo centro da Alemanha, em Hasbergen, o trânsito, de sexta-feira, nos
atrapalhou um pouco. Ao menos encontramos um daqueles hotéis com preço legal
(55 euros) e até um restaurante que nos surpreendeu, em uma cidade tão pequena.
Lógico que o Caro Amigo, que vem
passando uma fome danada, está louco para saber o que comemos, muito simples,
um 66- SCWEINRÜCKENSTEAK (mit Speck, Zwiebeln, Pfifferlingen, Champignons,
gebackener Kartoffel und Salatteller), que nada mais é que uma bisteca de porco
grelhada, coberta com champignons refogados com cebola e bacon, e acompanhada
por batata recheada com queijo tipo cottage.
E um 78 – SCHWEINELENDCHEN MIT
GORGONZOLAKÄSE (überbacken, Bohnen im Speckmantel, Röstis und gem. Salatteller),
que é filé de cordeiro grelhado, com molho de gorgonzola, acompanhado por
feixes de vagem amarrados com bacon e pequenas batatas rosti.
Uma salada de entrada (com aquele
pepino agridoce e molho de yogurt), pão, patê e cerveja alemã para acompanhar.
E tudo pelo preço módico de 31 euros, voltamos à Europa barata, nem no Brasil
comeríamos comida com essa qualidade por esse preço (ah, ah, ah!).
E melhor que o jantar, só as compras, o
centro comercial da cidade é novinho, mal acabou de inaugurar. Em verdade,
encontramos uma loja inaugurando, com direito a coquetel, champanhe, descontos
e sorteio.
Encontramos até nossos mercados
prediletos, Lidl e Aldi. Foi a maior diversão, afogamos nossas mágoas pelo fim
da viagem, não queremos nem ver as lágrimas na hora de ter que enfiar as coisas
na mala, mas essa é uma equação que resolveremos depois (ah, ah, ah!).
No início da viagem, passamos por uma
graciosa cidade, na fronteira da França com a Bélgica, Givet, em Ardenne, não
paramos para dormir porque estava perto de Paris, uns 280 km, e estávamos
ansiosos por chegar na Escandinávia. Nada melhor que parar agora e apreciar com
mais vagar a pequena cidade, pois só precisaríamos chegar a Paris no domingo.
Tínhamos cerca de 420 km para rodar, deixamos Hasbergen perto do meio dia,
imaginando que só estaríamos nós na estrada. Mas não foi bem assim porque...
vamos fazer uma parada estratégica na
área de descanso, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Caro Amigo,
Havia um jogo importante, lá para os
lados de Dortmund e a estrada não estava tão veloz quanto gostaríamos; porque
metade da Alemanha parecia querer assisti-lo. Na área de descanso, encontramos
uma turma de torcedores que vinha em uma van e também fizeram uma parada
estratégica, mas a deles foi para tomar uns tragos. Brincaram com a gente
falando em francês, pois a placa de nosso carro é francesa, tivemos que
responder que éramos brasileiros e, mostrando nossa boa educação,
parabenizá-los pela Copa do Mundo. Pena que não fotografamos as caras deles,
ficaram de boca aberta, preferimos acreditar que não foi por nosso inglês ser
incompreensível, mas sim por receber cumprimentos de brasileiros e para arrematar ainda os presenteamos com
uma caneta do Fuleco, comemorativa da Copa de 2014. Se o time deles ganhou o
jogo não sabemos, achamos mesmo que eles nem se importaram, pois o dia deles
estava ganho (ah, ah ah!).
Casas de pedra escurecida, desgastadas
pela erosão do tempo, telhados negros, parece que a primeira guerra, que este
ano completa seu centésimo aniversário, acabou de ocorrer, pois o tempo parou
por aqui. Qualquer colorido mais
exuberante fica por conta do verde dos bosques, do azul do céu e das flores,
que estão por todos os lados, trabalho paciencioso de muita gente.
É a fronteira da Bélgica com França,
Dinant e Givet. Rota das Fortificações, margem do Rio Meuse e suas eclusas. Foi
por aqui que os alemães entraram, apesar da ferrenha resistência e da Bélgica
ter destruído suas pontes na tentativa de impedir o avanço.
Demos uma rápida parada em Dinant, que
estava em festa, comemorando o bicentenário de nascimento de Adolphe Sax o
inventor do saxofone. Visitamos a catedral, gótica, quase negra, com vitrais
delicados como um rendado e onde um anjo, pousado sobre o púlpito, com trompete
na mão, aprecia querer anunciar algo.
Em Givet, uma simpatia, caminhamos pela
cidade admirando-a e procurando um hotel. Foi muito fácil, encontramos opções,
acabamos ficamos no Ibis, a 52 reais (www.ibisbudget.com). Após um banho
rápido, saímos para nosso jantar de despedida da viagem, não sabíamos como
seria nosso domingo, pois tínhamos que devolver o carro à noite. Andamos um
pouco pela cidade, mas não encontramos nada que atendesse às especificações
(ah, ah, ah!). Pegamos o carro e, entre Givet e Dinant, encontramos um local
legal, o salão estava lotado, tudo reservado, mas havia mesa no terraço, parece
que ninguém queria se sentar à beira do rio, estavam com frio, mas nós, como o
Caro Amigo bem sabe, queríamos (ah, ah, ah!).
O Kuc estava doido para comer o prato
típico da Bélgica, que é mexilhões com batatas fritas, escolheu-os preparados
com alho, salsão, cenoura, vinho branco, cebola e creme. Como de costume, os recebeu
numa grande caçarola, em cujo fundo sobra uma deliciosa sopa.
Eu escolhi um menu (uma combinação de
três pratos pré determinados) que incluía entrada, que escolhi escargot,
preparada com champignon, creme e bacon; o prato principal foi osso buço com
talharim; finalizando com uma saladinha com queijos (gorgonzola, brie e gouda).
Vinho, uma taça de moscatel (cortesia do restaurante) e um café, tudo perfeito.
Às cinco da manhã, levantei para tentar
colocar tudo dentro das malas e bateu o arrependimento, chegou a hora de
chorar, era uma missão totalmente (?) impossível, as coisas somente caberiam se
arrumássemos uma máquina de miniaturizar. Será que já inventaram? Não que
tenhamos comprado mais que de costume, acontece que compramos coisas mais volumosas
e, além do mais, não costumamos trazer malas grandes, trazemos uma tipo mala de
bordo, de fibra, para carregar as garrafas de pinga, uma pequena e duas médias,
em duas delas conseguimos chegar perto dos
32 kg permitidos, as outras duas ficam pelos 20 kg, assim que tínhamos direito
a peso, mas não tínhamos espaço para colocar as coisas. O jeito era sair para
caçar uma mala maior, mas domingo, na França ... a onde?
Perguntamos na portaria do hotel e
Givet estava descartada. Há alguns
quilômetros outra cidade, mercado aberto, mas era pequeno, não vendia mala.
Outra cidade, mas o Carrefour fechava 12:30 horas, chegamos 12:20 e já não era
possível entrar.
Começávamos a pensar em abandonar parte
das coisas. Quem sabe o fogão elétrico portátil? Mas ele é tão fininho, não
pesa nada, parece uma placa de vidro, só passar um paninho e está limpo,
poderemos até cozinhar na varanda. Os chocolates? Mas eles são tão gostosos, os
belgas são sensacionais. Os marzipans? Mas são de Lubeck, onde, dizem, se
fabricam os melhores do mundo. Pensamos até em passar na casa dos amigos e
deixar alguma coisa, que não fossemos precisar, ou mesmo as coisas que sempre
trazemos, assim já estariam na Europa no ano que vem. Se não encontrássemos a
mala seria a solução.
Toda região da Rota das Fortificações é
um sonho, dá para ficar meses explorando, principalmente se for navegando, um
de nossos planos para o futuro, pois é possível alugar um pequeno barco,
cabinado, e viajar por rios e canais da França. Agora, infelizmente, só tivemos
tempo para uma rápida olhada.
Ainda atrás da mala e em direção à
Paris, entramos na região de Champagne. Paramos em Reims, uma linda cidade,
quando o Caro Amigo estiver pela região não deixe de conhecer, já estivemos lá
duas vezes, dessa só paramos para procurar a mala. Havia uma feira, mas só
encontramos sacolas, sem rodas, não dá para carregar 32 kg no muque, já somos
velhinhos (ah, ah, ah!). O centro comercial da cidade estava fechado.
Então chegamos a Paris, passava das
três da tarde, e sem a famigerada mala. Lembramos que há um bairro de
imigrantes, o Kremlin, que tem feira no domingo e muitos mulçumanos que abrem
suas lojas. Demos o endereço para a Eva Maria e estávamos a caminho ou quase
lá, não sabemos ao certo, quando nos deparamos com o cruzamento da Avenue Porte
de Montreuil com Boulevar Davout. A coisa estava um verdadeiro pandemônio, os
guardas ensandecidos, mandavam o lápis em tudo quanto é carro, o mercado de
Marrakesh não chegava nem aos pés daquela bagunça. Parecia qualquer lugar,
menos Paris, talvez algum país africano, Turquia, aliás, a confusão era tanta
que, talvez fosse a Faixa de Gaza ... chegou o jantar, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Paris, 29 de setembro de 2014.
Caro Amigo,
Havíamos chegado a Paris 20, algo, no
mínimo, peculiar, mas no exato local onde se pode comprar uma mala maior no
domingo à tarde, justamente o que precisávamos e que, algum dia, algum Caro
Amigo pode precisar, anote o endereço. Tinha mala de tudo quanto é tamanho,
cor, modelo e marca. Aliás, vendia-se de absolutamente de um tudo, tinha gente
vendendo até a mãe do cunhado (ah, ah, ah!). Compramos uma enorme, assim
poderíamos colocar a pequena dentro e completar com as outras comprinhas; não
compramos nada caro porque desistimos de ter malas boas, pois eles as destroem
no avião, sempre chegamos com alguma delas quebrada..
Marchamos para o hotel. Chegando lá, a
primeira coisa que fizemos foi fechar as malas, vai que precisássemos voltar a
Gaza para compra mais uma (ah, ah, ah!). Como teríamos que entregar o carro
naquela noite, nas imediações do Aeroporto Charles de Gaulle (CDG), de onde
partiríamos no dia seguinte, reservamos, com bastante antecedência o Ibis Aeroport,
para facilitar as coisas, pois nosso vôo decolaria às 07:20 da manhã. E sobre o
horário do vôo, gostaríamos de dividir uma experiência com o Caro Amigo.
Em nossas andanças, experimentamos
várias opções. Quando já se conhece alguma grande cidade, é legal fazer escala
lá, chegando cedo e partindo no princípio da noite. Assim dá para passar o dia
e rever, rapidamente, alguma coisa conhecida. Fizemos isso em Madrid, para
rever o Museu do Prado, almoçar no nosso restaurante predileto e tomar “unas
cañas” no “Museo del Jamón”. Também fizemos para comer um joelho de porco em
Munique, na maior cervejaria do mundo, HB e para passear na rambla em
Barcelona.
Em nossas últimas viagens, temos optado
por voar durante o dia. A princípio, pode parecer um pouco estranho, mas é
legal. A primeira vez, o fizemos por acaso e repetimos por achar interessante.
Como o Caro Amigo deve ter notado, chegamos em cima da hora de voltar a
trabalhar, para falar de modo gentil, pois, em verdade, chegamos um pouco
atrasados. Então, temos que chegar, na medida do possível, inteiros. Assim, na
noite anterior ao vôo dormimos legal, pois ele parte pela manhã, chegando ao
Brasil à tarde, de modos que, à noite, estamos em Santos, onde tentamos dormir
uma boa noite de sono. No dia seguinte, estamos, na medida do possível, até que
inteiros e não sofremos muito com a mudança de fuso.
Agora voltando ao Ibis do aeroporto,
também é uma ótima opção, porque simplesmente é possível ir caminhando para o
embarque. O terminal nº 3, fica pertinho, basta uma pequena caminhada. Para os
terminais nºs 1 e 2, basta tomar o trenzinho, que também sai das imediações do
hotel.
Mesmo com quatro malas grandes, duas de
mãos (bem pesadinhas) e mais as bolsas pessoais (nada leves), fizemos o trajeto
com os pés nas costas. Então, não é preciso táxi. O preço do hotel não é dos
melhores, cerca de 140 euros, mas se a reserva for feita com mais de quinze
dias de antecedência, o preço cai para 83 euros. E para completar, ainda há um
português na recepção, gentilíssimo, nos deu o estacionamento de cortesia, que
as Caras Amigas solteiras não podem deixar de conhecer, Cédric, um gato (ah,
ah, ah!). Deixamos nosso cartão, pois ele disse que pretende, um dia, morar no
Brasil.
Outra coisa legal é que, naquela noite,
fomos conferir o caminho até o local de embarque, para não termos sobressaltos
na manhã seguinte, e já fizemos o “check in eletrônico”, em terminais de
computador, que emitem o cartão de embarque e as etiquetas para a bagagem. O
interessante é que a máquina pede o passaporte, na página da foto, realiza a
leitura por meio de um scâner; em seguiada, aparecem todos os dados do vôo e
ela pergunta (a danada fala nove línguas) quantas bagagens o passageiro tem.
Com isso, na manhã do vôo, não precisamos pegar aquelas imensas filas para
fazer o “check in”, perguntamos à mocinha que estava na recepção da fila,
indicando que já tínhamos os bilhetes e indagando sobre as duas malas de 32kg
permitidas aos brasileiros, pois essa é uma prerrogativa de poucos países no
mundo (Brasil, USA, Venezuela e Senegal) e aí residia nossa dúvida sobre o
“self check in” ou “check in eletrônico”. Ela nos indicou o guichê para
despachar as malas, sem fila alguma, e informou que não haveria qualquer
problema quanto ao peso das malas, exceto se excedessem 34kg.
Mas ainda havia um detalhe, que nos
deixava reticentes quanto ao hotel Ibis e dentro do aeroporto. É que gostamos
de fazer um jantar de despedida para fechar a viagem. Sem carro e no Ibis, que
está para um hotel como o MC Donald está para um restaurante, algo previsível,
comível, mas sem glamour. Ainda mais no fim do mundo do aeroporto! Também temos
que dizer que foi uma boa surpresa, pois o local, onde fica o hotel, é
denominado Ville, e há algumas opções de restaurantes, inclusive, uma área de
máquinas de venda de comida, com microondas e mesas, onde se pode fazer o maior
piquenique.
Optamos por jantar no Restaurante Sud
et CIE, e ficamos bem satisfeitos. Os preços não eram tão baratos como o jantar
da noite anterior. Aliás, restaurantes de aeroporto nunca são, mas também não
eram caros quanto o Aeroporto de Guarulhos, e a comida estava saborosa, bem
temperada, com gosto de comida de verdade. O Kuc escolheu uma Parrillada de
Frutos do Mar, marisco, camarão, bacalhau (fresco) e salmão, servidos numa
prancha quente, acompanhado de sortido de legumes e batatas. Ele só lastimou
que a quantidade fosse pequena.
Optei, novamente, por um menu de 24 euros.
A entrada era Carpaccio de Salmão; prato principal, Bacalhau Ensopado com
risoto; sobremesa, Creme Bruleé e uma garrafa de água com gás, poderia ser uma
cerveja ou uma taça de vinho, mas já havíamos pedido uma garrafa. Estava uma delícia.
Às 04:30,
levantamos e, após uma banho, repetimos o trajeto, agora com as malas e
tudo correu muito bem. Voamos pela KLM, o cardápio não estava tão interessante
quanto o da vinda, almoçamos frango e jantamos pizza. Mas o serviço de bordo é
muito bom, vinho à vontade, três refeições, chocolates, guloseimas e sucos
sempre à disposição. A classe econômica até que tem um espacinho razoável. Se
não der para dormir, tem uma boa seleção de filmes e, como era aniversário do
Kuc, ganhamos até... estamos aterrissando, temos que apertar os cintos, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Santos, 30 de setembro de 2014.
Caro Amigo,
A velha caçarola,
meio amassada, com uma alça mais feia que ela própria, só continha arroz, que
fora feito e trazido desde uma outra parada. Foi assim que nos apercebemos
delas! Da caçarola, com arroz, e das garotas. Uma interrogação, de imediato,
surgiu em nossas mentes. Afinal, quase ninguém come arroz na Europa!
Em um pequeno prato
de sobremesa, uma mais pequena parte dele foi colocada e aquecida no
microondas. Eram duas, as garotas. Uma delas não chegava aos trinta anos, cabelos
castanho, querendo ser chanel, olhos claros que, de onde observávamos, não
conseguíamos precisar a cor. A iluminação do refeitório não era tão boa e a
noite já havia caído, mais de dez horas. Mas estávamos seguros de que nos
observavam, tanto quanto nos a elas. Além do arroz, um pequeno pedaço de
queijo, não maior que dois dedos, e uma lata de cerveja.
A outra um pouco
mais velha, cabelo um pouco mais claro e um pouco mais curto, uns poucos anos a
mais, sua cerveja estava em uma pequena garrafa e era bebida no próprio gargalo.
Acompanhando aquele mesmo arroz, o da velha caçarola, não mais que três fatias
de salame, que tirou de um pequeno pedaço, que receberá de um companheiro, que
passou rapidamente, trocou umas poucas palavras e saiu.
Foi quando nossa
dúvida aumentou, pois nos apercebemos da língua que falavam, não que fosse tão
estranha, afinal, tudo em volta era estranheza. É que seu estranho nos soava
familiar. Arrisquei que eram romenas. Claudio afirmou que eram russas.
As parcas misturas,
queijo e salame, não dividiram, só o arroz e umas poucas batatas de um tubo de
Pringles, não todas, guardaram o restante. Enquanto nos observavam, e nós a
elas, volta o amigo e conversa mais um pouco, mas não come. Pelos trajes, não
se intimidavam com o frio. Seguimos trocando olhares.
Quando já se tinham
levantado, posto sobre a caçarola uma tampa, mais velha ainda, antes de voltar
a pô-la na geladeira, e estavam prestes a agarrar suas coisas e partirem,
sentimos que a última chance nos escapava entre os dedos.
Então, rapidamente,
perguntamos, à de cabelo quase chanel, que mais nos fitava: Where are you from?
Ao que nos respondeu, como se uma
criança fora, entre meios sorrisos encabulados, de quem estava doido para
falar, e pequenas sacudidelas de corpo, de quem quer saltitar: Ukraine.
Milhões de outras
perguntas vieram a nossas cabeças. Mas ela, como uma criança, que ninguém
consegue calar, seguia avidamente contando algo, que o forte sotaque quase não
nos permitia entender, mas a educação e o prazer de vê-la tão feliz em contar suas façanhas, nos permitia sorrir,
balançar a cabeça em aquiescência e, ao final do discurso, desejar uma boa
viagem.
E muito mais dessa
cena teríamos a contar, mas nada, nunca, seria, ou chegaria, tão perto do real
como o que agora povoa a mente do Caro Amigo, que conosco compartilhou tão
auspiciosa experiência, a proximidade, o interesse, a preocupação, o olhar
compassivo para quem está ao nosso lado.
Uma vez mais, como
sempre acontece, com a graça do bom Deus, tivemos o imenso prazer de visitar
lindos lugares, rever queridos amigos e conhecer pessoas admiráveis, como já
lhe contamos, que cruzaram o nosso caminho e contribuíram para tornar nossas
vidas ainda mais felizes; além de contar com a excelente companhia do Caro
Amigo, lógico!
Obrigado por
escolher nossa empresa para sua viagem (ah, ah, ah!)!
Hasta la vista!
Sayo e Claudio
PS – E quando já
tínhamos lavado nossa louça e observávamos um pouco mais, bebericando um
pouquinho mais de vinho, elas voltaram, com suas canecas de metal, para o chá.
E ainda pudemos dar-lhes dois bilhetes de ônibus, que nos sobraram, e dizer:
Nice to meet you. Um prazer conhecer vocês!
O que ganhamos no
vôo? Já íamos esquecendo de contar, foi champanhe.
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