terça-feira, 6 de outubro de 2015

EXPEDIÇÃO PASO DE LOS TOROS - URUGUAY - 2013

Expedição Paso de Los Toros:

Santos, 11 de fevereiro de 2013.

Caro Amigo,

Ouvimos dizer que a linda cidade de Paso de Los Toros, no centro do Uruguai, às margens do Rio Negro, possui uma fantástica represa, onde é possível pescar peixes enormes, pesados como um touro (ah, ah, ah!)

Assim, em nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim de que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos 100.000.000.000.000.000 Km viajando (acrescentamos alguns zeros porque estava muito fácil ah, ah, ah!), resolvemos colocar, novamente, nossos pés na estrada.

Aproveitaremos a oportunidade para fazer umas comprinhas fronteira, em Rivera; rever Montevideo e Punta del Leste; e, principalmente, para tomar umas Patricias, uns Tanats e comer umas “morcillas dulces”, uma das tantas maravilhosas iguarias do país.
E como somos bonzinhos, deixaremos o Paso de los Toros, a tal “gaseosa de Pomelo”, para o Caro Amigo provar, afinal, tomar refrigerante, seria um sacrifício muito grande, que nem a CRKTour seria capaz de fazer (ah, ah, ah!).

Então, como pode ver o Caro Amigo, nada estará completo sem a sua companhia, portanto: Vem com a gente!

Sayo e Claudio




Caro Amigo - Santos
Date: Thu, 14 Feb 2013 00:16:05 +0000
Santos, 13 de fevereiro de 2013.

Caro Amigo,

Voltar ao Uruguai? Outra vez? Já imaginamos sua cara de decepção, Caro Amigo, afinal deve imaginar que temos quase o mundo todo por conhecer e estivemos no Uruguai em dezembro de 2010 e 2011.
Normalmente, viajamos em dezembro, aproveitando o recesso e as férias escolares, mas, infelizmente, os últimos quatro meses foram um pouco tristes para nós, descobrimos que nosso primogênito, o Francisco, nosso lindo e grande gato preto e branco de quinze anos, é portador de doença renal crônica; descobrimos que, embora para nós ele seja só um bebe, sua a idade começa a pesar e que ele não é eterno, como os pais, assim como nós, sempre acreditam que os filhos são.
Da descoberta da doença até o diagnóstico de sua extensão e a decisão de um tratamento, foram consultas e mais consultas, com vários veterinários; realização de inúmeros exames de sangue, urina, ultrassom; experimentação de vários medicamentos. Um terrível estresse para ele, que é temperamental, genioso, bravo; mais terrível ainda para nós, que não suportamos vê-lo sofrer, pois amamos profundamente nossos gatinhos. Mas, em resumo, hoje, conhecemos a extensão de sua doença e temos planos de um tratamento que lhe garantirá, se Deus permitir, permanecer com a gente ainda um bom tempo e, o que é bem importante, na rotina de vida que ele sempre viveu, que escolheu para si. E agora, enquanto escrevemos, imaginamos que ele esteja reinando, refestelado em nossa cama, em meio a travesseiros de pena, embaixo do ventilador (Santos está muito quente), sendo cuidado pela sua babá, pois foi assim que o deixamos, quando partimos. Gato danado de folgado, ah, ah, ah!
Tristezas à parte, não nos sobrou, portanto, muito tempo para fazer mirabolantes planos de viagem, já que não sabíamos nem se viajaríamos; tampouco nos sobrou muito tempo para viajar, mas realmente estávamos merecendo uns dias de descanso. Então, optamos por voltar ao Uruguai, pois já conhecíamos boa parte do roteiro, que escolhemos, e a distância não é tão grande, embora demande uns bons dias ao volante, que o Kuc disse não se importar, já que eu (Sayo), não dirijo e nem quero me preocupar com isso, pois não tenho qualquer intenção de ser a Super Mulher, aquela que lava, passa, cozinha, cuida das crianças, trabalha fora, administra a casa, faz artesanato, canta no coral e ainda dirige. Pensando bem, ninguém critica o homem que não passa, não lava, não cozinha, mal cuida do peixe, não prega um botão, não sabe comprar nem tomate na feira, mas dirige. E eu sempre tenho que ouvir um certo tom de crítica quando declaro que não dirijo, todos sempre são mais exigentes com as mulheres, parece que sempre temos que provar algo.
Deixo tais preocupações existências com os mais novos e volto a aproveitar as pequenas férias e os pequenos prazeres da vida, já tão cheia de armadilhas e ciladas. Saímos de Santos numa manhã já adiantada e nublada, com a intenção de fazer nossa primeira parada em Curitiba. Pela estrada, quase não se viam os retardatários do final do Carnaval, fomos seguindo pelos pequenos vilarejos e cidades, da SP-55, entre bananais e restos de uma mata que, um dia, foi Atlântica, em direção à BR-116.
Entrando no Paraná, pouca coisa mudou no acinzentado do céu, talvez só a vã tentativa do sol de querer aparecer, que se traduziu em lampejos de claridade, que dava ao céu um tom mais branco. Represas quase sem água, ipês amarelinhos e quaresmeiras rosa e lilás, é, estamos mesmo na quaresma. Junto com as araucárias, às portas de Curitiba, também nos esperavam a chuva, pingos grossos e persistentes, e um friozinho; uma péssima recepção para quem sai em férias de verão.
Assim, anime-se e lembre-se, Caro Amigo, como bem diz a música: nada do que foi será igual ao que a gente viu a um segundo, tudo muda o tempo todo no mundo. Seguramente, teremos uma viagem diferente!

Beijos,

Sayo e Claudio




Caro Amigo - Mapa da Expedição
Date: Tue, 12 Feb 2013 21:41:29 +0000


Santos, 12 de fevereiro de 2013.
Caro Amigo,

Para que você, que irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da Expedição Paso de los Toros.

---------Terrestre em carro
Compre seu bilhete, reserve seu lugar, faça as malas (pode levar tudo que quiser, mas não exagere, pois pretendemos trazer muito vinho e o carro, embora grande, não é um caminhão) pegue o passaporte, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, jogue fora a fantasia, deixe o gato com o vizinho e as crianças na casa da vovó, pegue um queijinho e um Tannat, escolha uma poltrona confortável, ligue o computador e VEM COM A GENTE!
Aproveite para enviar alguma dica para tornar nossa viagem mais interessante. Talvez alguma cidadezinha no sul, que já visitou e achou incrível; um restaurante, que viu em alguma revista de turismo; um lugar que você gostaria de conhecer, mas ainda não teve tempo; ou mesmo o endereço de sua adorável sogra uruguaia, que faz um delicioso “dulce de leche”, teremos imenso prazer em visitá-los, conferir e contar tudo, nos mais mínimos e prazerosos detalhes. Pode até mandar aquele palpite infalível, aquele número que a cartomante viu nas cartas e garantiu que lhe trará sorte, faremos sua aposta no cassino, só não garantimos entregar-lhe o dinheiro, afinal... viajar é muito caro (ah, ah, ah!).

Beijos,

Sayo e Claudio





Caro Amigo - Serras Gauchas
Date: Fri, 15 Feb 2013 08:46:05 +0000
Serras Gauchas, 14 de fevereiro de 2013.

Caro Amigo,

Chegamos cedo a Curitiba, nada mais que cinco horas de viagem, desde Santos, com tempo mais que suficiente para deixar as coisas no hotel, tomar um banho e sair pela fresca e chuvosa tarde. Um passeio pelo comércio, onde os vendedores disputavam, a tapas, os míseros clientes, que se aventuravam pelas ruas; Missa de Cinzas, na igreja lotada.
Um delicioso jantar italiano no Scavollo (Conchiglione de Bacalao e Tiramissu); delicioso exceto por um pão sem graça, molenga, que parece que virou moda servir nos restaurantes mais sofisticados, com pomposos ares de pão caseiro, mas que não passa de pão congelado, assado, ou mal assado, no dia, que não chega aos pés velho e delicioso pão italiano, com sua massa robusta e casca dura e crocante, que fica inigualável quando lambuzado de molho ou azeite. Depois da comilança, regada a vinho, restou-nos ir para a casa cedo, pois, no dia seguinte, nos esperava mais de mil quilômetros.
A noite ainda resistia e já deixávamos o hotel, pouco passado das cinco, um breu. Perguntamos aqui, ali e, em poucos minutos, já estávamos partindo de Curitiba. Pela estrada, rumo a Porto Alegre, pinheiros, araucárias e chalés de madeira, uns poucos riscos azuis no seu branco acinzentado. A pavimentação não está ruim e o pedágio, de preço bem módico (R3,60 cada), garante locais de parada com banheiro limpo, fraldário, café (grátis!) e informações.
Em uma das muitas paradas em virtude das obras de recuperação da estrada, nosso carro também parou, e não quis mais funcionar, empurramos, mas nada, por sorte passou um viatura da Autopista Planalto Sul, que administra a rodovia, e nos rebocou a um posto de gasolina, a poucos metros. A bateria funcionava bem, o que seria... lá se vão os mil quilômetros que pretendíamos fazer no dia. O mecânico, que havia no posto, estava muito ocupado e nos deu o telefone de um outro. Como bem pode imaginar o Caro Amigo, era promessa de aborrecimento para o resto do dia, e ele não havia chegado nem à metade.
Felizmente, nosso sombrios prognósticos não se confirmaram, o rapaz chegou em poucos minutos e confirmou que se tratava de entupimento do filtro, como já imaginávamos. Foi trocar, pagar e partir, a confusão toda só nos custou uma hora e meia.
Entrando no Rio Grande do Sul, surgem as barraquinhas de venda de produtos coloniais, salames, queijos, vinhos, suco de uva, tudo caseiro. As hortênsias infelizmente, não passavam de moitas secas e sem cor, há que se voltar no final do ano, para vê-las em todo seu colorido esplendor.
Mas havia umas serras no meio do caminho, as Serras Gauchas, salpicada de vilarejos e cidades produtoras de vinho, com simpáticas casinhas de fadas e duendes, confeitarias, casas de café colonial; mas ainda assim: serras. E elas iam tornando nossa viagem cada vez mais longa. Escrevemos, escrevemos, usamos fio dental (no dente), escutamos música, mascamos chiclete, cantamos, reclamamos, dormimos, comemos, seguimos caminhões, bebemos, plantamos bananeira, assobiamos e chupamos cana, tudinho sem sair do carrro, para não atrasar a viagem, mas nada de chegar nem perto dos mil quilômetros. Parece que teríamos que mudar os planos, mas, pelo menos, o ... hora de procurar hotel, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio


Caro Amigo - Camaquã
Date: Sat, 16 Feb 2013 21:51:54 +0000

Camaquã, 15 de fevereiro de 2013.
Caro Amigo,

Pelo menos o sol chegou e rompeu o tédio do cinzento dia, mas por pouco tempo, porque o dilúvio que cai em São Paulo também caiu por aqui. O diazinho danado de chato! Mas como qualquer dia ruim de férias e melhor que um bom dia de trabalho, e não há nada que um banho morno, uma comida quente e um vinho fresco não curem, terminamos bem nosso dia.
Optamos por dormir em Camaquã, ficamos devendo duzentos para o dia seguinte, quem sabe seria melhor. A cidade fica numa região produtora de arroz e de inúmeras praias de água doce, rios e lagoas, a Costa Doce, que servem de abrigo para um sem número de espécies de pássaros, deve ser bonita, quando não chove.
O dia amanheceu pior que o anterior, não chovia ainda, mas por mero acaso, pois o céu estava prestes a desabar. Deixamos o hotel as oito, em ponto, pois pretendíamos vencer todos os quilômetros que nos separavam de Montevidéu, onde já tínhamos reserva, num hotelzinho que conhecemos. Eis o motivo pelo qual não gostamos muito de reservar hotéis, a viagem fica engessada, nos tira o direito de mudar de idéia e poder parar, um pouco mais, em algum lugar que nos pareceu interessante; como se já não bastassem os horários e regras que nos são impostos e contra os quais não podemos nos insurgir, já que pagam nossos aluguéis, compram nosso caviar e custeiam nossas expedições pelo mundo (ah, ah,ah!).
E no caminho ainda nos esperavam alguns tramites de fronteira e parada em alguma cidade uruguaia, a fim de cambiar dinheiro, já que é sexta-feira e, amanhã, não há bancos. Pagar tudo com cartão e depois pagar os tubos de IOF e ter que fazer novena para o dólar não subir muito... nem pensar!
Seguimos pela BR-116 até a fronteira, em Jaguarão, e entramos no Uruguai por Rio Branco, pois ainda não conhecíamos a região. O rio Jaguarão separa os dois países e a travessia é feita pela Ponte Internacional Mauá, com uma arquitetura muito peculiar, que está merecendo uma reforma.

Rio Branco é uma minúscula cidade, mas promete, tem boas lojas de "free shop" e está toda em reforma. Foi a cidade que escolhemos para trocar o dinheiro e, lógico, dar uma espiadinha nas lojas, além de fazer umas pequenas e rápidas comprinhas, não podíamos demorar muito, pois restavam quatrocentos quilômetros até Montevidéu. Mas foi o suficiente para percebermos que o país não está nada caro, muito bom!

Acabou-se o estresse, quase nenhum pedágio, nada de filas de caminhões para ultrapassar, só longas e retas estradas, cortadas por pequenos arroios, quase desertas, não fossem os pássaros, que vão cortando planícies sem fim, onde se sucedem fazendas, com suas pacatas vaquinhas. É, Caro Amigo, estamos no Uruguai! O sol chegou e a temperatura passou dos trinta graus.
Atravessaríamos o país todo, já que a Capital fica na outra extremidade, na beira do mar, passando por Treinta y Tres, cidade de nome estranho, alusão aos mártires da independência, com seus belos casarões térreos, de frente para rua, com pátios internos, janelões, balcões de ferro, balaustres, medalhões, guirlandas, estuques decorativos; construções que, provavelmente devem datar do final dos mil e oitocentos. A cidade, capital do departamento (algo como nossos estados) de mesmo nome, tem até um zoológico, que provavelmente é bem interessante, mas como chegamos na hora da "siesta", só encontramos lojas fechadas e ruas desertas, até os cachorros "callejeros" (de rua, é mais simpático em espanhol) se haviam recolhido. Vagueamos solitários pelas ruas e partimos, quem sabe uma próxima vez.

Seis horas, parávamos o carro em frente ao hotel, no Centro de Montevidéu, um rápido papinho com os conhecidos, saber como foi o ano, ver as inovações do pequeno hotel, um banho para recompor as forças, após algumas empanadas, um manjar dos deuses, conhecer o tão famoso e recomendado...está na hora do café, contamos depois.

Beijos,
Sayo e Claudio



From: crktour@hotmail.com
Subject: Caro Amigo - Montevidéui
Date: Mon, 18 Feb 2013 21:16:14 +0000

Montevidéu, 16 de fevereiro de 2013.

Caro Amigo,

A entrada de cidade, pelo centro do país, pela Estrada 8, é horrível, lastimável, não parecia a entrada de uma Capital; para dizer a verdade, era o próprio Brás, provavelmente no final da sexta-feira véspera de Carnaval: gente, camelô, camelô, gente, ruas e calçadas esburacadas, centenas de ônibus e carros, poluição, poluição. Um pandemônio! É bom para a gente não achar que só nós temos problemas. Mas, pelo menos, chegamos ao hotel quase numa linha reta.
Então, como dizíamos ao Caro Amigo, resolvemos ir ao FunFun, um bar de 1820, que, hoje, parece querer ser um local de balada moderno, com cara retrô, nos lembrou, em parte, o Café Teatro Rolidey, no Teatro Municipal de Santos, mas, sem qualquer sombra de dúvida, este último é bem melhor, principalmente pela simpatia das Caras Amigas Regina Alonso e sua filha (perdão, mas esquecemos seu nome), vale a pena o Caro Amigo passar lá para conferir, principalmente nas noites do Outras Palavras, às terças-feiras.

Mas voltando ao FunFun, ele não manteve aquele ar nostálgico do Trinta e Seis Billares, em Buenos Aires, que nasceu na mesma época e onde a velha guarda se reúne; ele se transformou em algo com pretensões de ser moderninho, mas que quer atrair turistas apresentando um pouquinho tango e candombe. Ele é escuro e apertado, com as pareces cheias de cartões, fotos e cédulas de dinheiro, prateleiras cheias de objetos antigos e poeira, muita poeira. Entre as apresentações, ao vivo, de tango e de dança, que só começam lá pelas onze horas e não passam de três ou quatro músicas, são horas de uma música barulhenta, algo meio tecno. Há algo para beliscar, que não merece qualquer comentário, totalmente sem graça, e bebidas. Talvez agrade aos mais novos, mas não nos pareceu valer a visita.

Por sorte, ou azar, o Claudio teve um febrão repentino e saímos antes do final. A estranha febre voltou, às seis da manhã, quando lhe dei o segundo Tylenol. Às oito, ele levantou todo animadinho, dizendo que não sentia mais nada e que lugar de turista é na rua. Não pense ele que me engana, bem sei que é muito pior que criança, dá uma boiada para não ficar preso em casa, prefere cambalear pela rua, que ficar deitado em uma cama macia. Me arrumei, meio desconfiada, e saímos.
Imaginávamos encontrar o centro fervilhando de gente, mas não. É bem verdade que havia muitos turistas, principalmente de língua inglesa, em virtude de dois transatlânticos, que estavam ancorados no porto, que fica a poucos passos da cidade velha. Porém os uruguaios, mesmo, tinham fugido da cidade, provavelmente foram passar o fim de semana na praia, ou melhor, outras praias, já que Montevidéu também as tem.

Xereteamos pelas lojas; compramos umas besteirinhas; admiramos a arquitetura dos imponentes edifícios; nos escandalizamos, uma vez mais, com a feiúra da fiação pendurada, grotescamente, nas paredes dos edifícios; visitamos o Mausoléu General Artigas, um dos heróis na luta da independência do país, e a Catedral, de Nuestra Señora de Los Treinta y Tres, novamente uma alusão aos trinta e três heróis da independência.

Tomamos um café no El Copacabana, mas não estava tão maravilhoso como da primeira vez, faltou o chantily e o suco de laranja, talvez por já ser quase meio dia ou um sinal da recessão; procuramos pelo Restaurante Cortes, que nos foi indicado, por uma Cara Amiga, na viagem passada, e que, mais uma vez, deixaremos de conhecer, pois não abre aos sábados durante janeiro e fevereiro, seremos obrigados a voltar (ah, ah, ah!).
Rumamos, então, para o Mercado del Puerto, aquela pequena filial do inferno, como já contamos ao Caro Amigo. As carnes queimando em braseiros e produzindo uma fumaça, que enche o local de odor e névoa; pequenos demônios com pequenos tridentes, garfos e facas com os quais dilaceram a carne ensangüentada, que é devorada avidamente, tudo saborosamente pecaminoso. Nossa meta no Mercado: “morcilla dulce”, Medio y Medio e panqueca de “Dulce de leche”.

A “morcilla”, aquele nosso chouriço, feito de sangue, mas com um sabor meio doce, dado por uva passa, segundo nos disseram, comemos, estava de lamber os beiços.

O Medio y Medio, vinho branco com espumante, uma receita uruguaia para as mulheres, tomei, estava refrescante. Ainda comemos um “morrón” (pimentão) na brasa e uma “colita”, saboroso naco de carne. Mas ficamos devendo a panqueca doce, aquela que vem polvilhada com açúcar, que o churrasqueiro transforma em uma fina casquinha de caramelo, quando encosta um vergalhão fumegante, retirado da churrasqueira, Ficamos devendo porque a febre do Claudio voltou, e resolvemos voltar ao hotel, para um banho fresco, muito liquido e um descanso. É... parece que essa viagem será bem diferente.

Beijos,

Sayo e Claudio



From: crktour@hotmail.com
Subject: Caro Amigo - Montevidéu II
Date: Tue, 19 Feb 2013 20:56:53 +0000

Montevidéu II, 16 janeiro de 2012.

Caro Amigo,

Parece que o Claudio pegou uma das tão famosas viroses. Até agora, seus únicos sintomas são a febre e falta de paladar, um martírio para ele, um comilão inveterado. No final da tarde, ele novamente sentia-se bem e saímos para um passeio.
A Rambla, um calçadão de quilômetros, que margeia a praia, é um dos locais favoritos para o final de tarde, já que os uruguaios ainda cultivam o saudável hábito de sentar, conversar e ver o tempo passar, algo parecido com aquele sentar-se, à porta de casa, e bater papo com os vizinhos, que nós perdemos, há muito.
Esse hábito vem acompanhado pelo tão querido chimarrão, por todo lado tem gente, velhos e novos, abraçada à cuia e à garrafa térmica, é um ritual um pouco complicado, afinal demanda carregar a tal parafernália; mas eles parecem não se importar nem um pouco.

Então, A Rampla, suas muretas e o gramado em frente ficam lotados, aparentemente por todo mundo que não viajou no final de semana. Alguns caminham, outros brincam, mas a grande maioria dedica-se a nada fazer, a relaxar. A Rambla vai seguindo até Punta Carrasco, passando por bairros, como Pocitos, e edifícios elegantes, de pouca altura, que parecem não interferir na ventilação ou agredir a harmonia da cidade. Acabamos parando para jantar no agradável jardim do El Viejo y el Mar, um agradável restaurante, a beira mar, já nosso conhecido.

No domingo, pela manhã, não dá para perder a Feira de Tristan e Navaja, que se estende por quarteirões e ruas vizinhas, é lá que tudo acontece. Além dos produtos comumente vendidos em qualquer feira, é possível encontrar quase tudo que se possa imaginar, quase tudo que seja vendável e até coisas que nunca imaginamos que alguém pudesse comprar, não só antiguidades, mas coisas velhas, quebradas e rasgadas.

Para falar a verdade, desconfiamos que, muitos vendedores, colocam suas banquinhas sem qualquer pretensão de venda, mais para se distraírem, assistindo os malucos compradores, capazes de pagar por algo completamente sem valor. Mas também há muita coisa interessante, já que a feira fica uma região de antiquários, assim como a feira de San Telmo, em Buenos Aires.

Os importantes museus da cidade, como o de La Casa del Gobierno, do Carnaval , del Gaucho e de la Moneda, além do Palácio Legislativo, do Mercado de los Artesanos e de la Abundancia e Torre de las Telecomunicações já visitamos recentemente; como não teremos uma viagem muito longa, resolvemos seguir e descobrir para onde foi a população da cidade, que está um cemitérios.
Nos vemos na próxima parada!

Beijos,

Sayo e Claudio

PS- Descobrimos uma coisa incrível! O governo uruguaio, para incentivar o turismo no país, principalmente entre brasileiros e argentinos, criou uma vale combustível, no valor de vinte e cinco dólares, para os turistas que venham ao país de carro. Basta passar em uma casa loteria (Abitab), apresentar a Carta Verde (um seguro obrigatório para os veículos que transitem no MERCOSUL), aguardar setenta e duas horas e dirigir-se aos postos de gasolina credenciados, apresentando o vale emitido na casa lotérica. Já retiramos o nosso (ah, ah, ah!),




From: crktour@hotmail.com
Subject: Caro Amigo - Punta del Este
Date: Thu, 21 Feb 2013 12:11:54 +0000

Punta del Leste, 19 de fevereiro de 2012.

Caro Amigo,

A tarde de domingo estava radiante, ensolarada. Todo comércio aberto e turista por todo lado. Fizemos reserva em um hotelzinho que já conhecíamos, que fica quase na ponta da península, uma ótima localização. Como estava lotado, nos transferiram para um outro, da mesma rede, mas de categoria mais alta, e pelo preço do que havíamos reservado.

Punta del Leste é um balneário muito agradável, com elegantes edifícios de três ou quatro andares, alguns poucos de maior altura, sem muros; cercados por jardins floridos, primorosamente cuidados.

A região tem a característica de ter pinheiros e eucaliptos quase a beira mar, que lhe dão um frescor de montanha nos dias mais quentes. Possui marinas lotadas de barcos, mil atividades e restaurantes para conhecer.

Um pouco adiante da zona central, surgem espécies de vilarejos de casas, das mais variadas tendências arquitetônicas, mas sempre muito bem cuidadas e planejadas, para oferecer conforto e propiciar uma ampla visão do entorno e, entre elas, pequenos comércios e restaurantes.

Mas, para falar a verdade, os dias quentes não tem sido um problema aqui, pois, exceto pelo domingo à tarde, quando chegamos, os dias têm estado frios, é bem verdade que até há sol, mas o vento é cruel; não dá para andar sem um casaco, embora muitos turistas insistam em fazer valer o seu direito a férias de verão e saem com shortinhos minúsculos e blusas cavadas. Uns loucos!

Aproveitamos a oportunidade para conhecer algumas coisas que ainda não havíamos visitado, fomos a Estância Lapataia, um dos mais famosos doces de leite do país. É uma espécie de minifazenda, mais divertida para crianças, mas os adultos podem aproveitar os quitutes do restaurante, comprar algum artesanato ou produto da instancia e, ainda, comer a maravilhosa panqueca de doce de leite.

Fomos até o Farol de San Ignácio e, no caminho paramos para conhecer o Museu do Mar, na verdade um complexo que engloba o Museu do Mar, o dos Objetos, o dos Balneários e um Insetário.

Adoramos, pois o local é bem cuidado e as coleções estão dispostas de forma bastante didática, além de possuir uma riqueza de fotos e objetos, que permite conhecer a rotina dos balneários, como Punta del Leste, desde o tempo em que os homens eram proibidos de tomar banho de praia com as mulheres e que havia regra quanto aos trajes.

Foi lá que assistimos a uma cena que nos arrancou risos. Pobres vovós de netos da era digital, que já nascem consultando o Google! Perto de nós havia uma família, que admirava uma vitrine com aranhas do mar a pobre vovó, consternada, afirmou que não entraria na água, pois não pretendia depara-se com um daqueles monstros horrorosos. A pirralha, que aparentava não ter nem sete anos, sem papas na língua, não pestanejou para responder: - Vó, essas aranhas são do oceano Pacífico e nos estamos no Atlântico.
Ao pensar que com aquela idade eu mal sabia que existia a praia do Flamenco, que ficava perto da casa de minhas tias no Rio de Janeiro. Oceano? Que oceano! E agora, as pobres vovós têm que lidar com esses pequenos monstrinhos, com os pequenos déspotas a espera de provar que são os sabichões; que não aceitam “porque sim” como resposta ou um pirulito para calar a boca, se bem que minha mãe não seria tão sutil, viria logo com um “tranca a matraca”, isso não é assunto de criança, isso se não rolasse um beliscão. A pobre vovó sai à francesa (ou à inglesa, conforme nos fala nossa amiga francesa, Olga) e nós demos muita risada (ah, ah, ah!).

Estivemos no Cassino, que fica no edifício do famoso Hotel Conrad, mas para ser bem sinceros, não arriscamos nem uma moeda. Tudo é lindo, maravilhoso, elegante, embora não exija qualquer traje especial para o ingresso, pode ir até de shorts, mas nós não entendemos nada de jogo, até aquelas velhas máquinas de alavanca estão mais sofisticadas, muita coisa para o nosso “QI”, pegamos um manual de instruções de jogo, que prometemos estudar para a próxima vez (ah, ah, ah!).

Quanto a praia, não chegamos nem perto, não somos loucos! E chegou a hora de deixar Punta e seguir viagem rumo ao centro do País.

Beijos,

Sayo e Claudio

PS- O kuc parece que melhorou da febre, passou a zica para mim.




From: crktour@hotmail.com
Subject: Caro Amigo - Paso de los Toros
Date: Sat, 23 Feb 2013 11:25:48 +0000


Paso de los Toros, 20 de fevereiro de 2013.

Caro Amigo,

Partimos de Punta del Leste, em direção ao centro do país, em um dia feio, frio e chuvoso. O verão parece que ficou a anos luz, a séculos atrás. Tínhamos algumas indicações para uma parada em Durazno e em Paso de los Toros, na região da represa, já que até Rivera, na fronteira, seriam 583km.
Chegamos a Durazno com o dia ainda pior, quase nevando, e não encontramos nada de particular. Por sorte, as moças do Centro de Informações Turísticas eram simpaticíssimas nos indicaram hotéis na cidade e até ligaram para Paso de los Toros, em busca de um hotel nas cercanias da represa, que ouvimos falar.

Resolvemos seguir os 70Km para dormir à beira da represa, quem sabe o dia seguinte fosse melhor e já poderíamos desfrutar os prazeres locais. Foi um erro! Fomos parar em um algo parecido com um cemitério, varais placas indicando zona militar, área de mata, diversos imóveis desocupados, algum maquinário abandonado; algo meio tétrico, nem cachorro vagabundeava pelo local, há 15km da cidade mais próxima. Talvez, só talvez, nos lindos finais de semana de verão, o local fique repleto de pescadores, em busca dos magníficos peixes, que afirmam ter a represa, com suas varas mirabolantes, capazes de fisgar até sereias (ah, ah, ah!); de mães empurrem os graciosos carrinhos de seus gorduchos bebês, cheios de laçarotes, frufrus e rendas; crianças encham o local com seus bate-pés e gritinhos ruidosos de manha, pondo as vovós quase loucas. Mas é bem talvez mesmo, portanto, não aconselhamos que o Caro Amigo tente seguir tais devaneios.
O hotel não era de todo mal, embora bem antigo, tinha belas colchas e cortinas, de uma espécie de brocado. O grande problema e que nele não havia um único hóspede. Nem os dois malucos da CRKTour, que deram o fora correndinho, fizeram os 70Km de volta e dormiram no lindo Hotel Santa Cristina. Com uma viagem enrolada dessa, não dava para arriscar, era bem capaz de encontrarmos algum fantasma por lá (ah, ah, ah!). Lá se foram os nossos românticos sonhos de cidade com um nome tão sugestivo, Paso de Los Toros, e um romântico jantar à beira da represa (ah, ah, ah!).

E por falar em comida, o Caríssimo Amigo deve estar sentido falta de nossas comilanças de viagem. Onde estão as fotos, as perversas e detalhadas descrições? Só restou o silêncio. É, Caro Amigo, a virose, assim definiu o médico, que nos acometeu, fez-me (Sayo) ver algo que jamais, nem nos meus mais remotos sonhos, pensei viver para ver: o Claudio sem apetite. Na verdade, nós perdemos o apetite, estamos rezando por uma canjinha e achamos um desaforo submeter o Caro Amigo, que já pagou seu tíquete, a tal dieta, então preferimos ficar silentes. Mas há que se pensar no lado positivo das coisas, assim nos pouparemos da dieta que teríamos que fazer, para tentar voltar ao peso do início de mais essa expedição, com vistas a nossa próxima viagem (ah, ah, ah, só rindo mesmo!).
No dia seguinte, tão molhado e frio como o anterior, seguimos para Riveira, passando, novamente, por Paso de Los Toros e para a coisa não ficar tão sem graça, até paramos para tirar uma foto do tal touro, mas a tomar o tal refrigerante de pomelo (dizem que é o grapefruit americano) não nos animamos, embora gostemos de seu sabor amargoso, dizem que foi o mesmo fabricante que inventou a água tônica.

Já que havíamos perdido, na teoria do Kuc, 50% de nossa viagem, pois não tínhamos vontade de comer, tentaríamos aproveitar o que considero (Sayo) 50% de uma viagem, as compras. Não que tivéssemos a intenção de fazer compras mirabolantes, mas a nossa última visita nos valeu um estoque de vinhos para 2012 todo; não também que sejamos profundos conhecedores da matéria, somos só apreciadores de um copinho (?) de vinho à hora da refeição e, com a devida “vênia” dos expertos, cujo valor temos que reconhecer e louvar, consideramos bom o vinho que nos agrada o paladar.
Mas o Caro Amigo, bom aritmética, já deve estar fazendo seus cálculos e imaginando que, se a cota permitida é de 12 garrafas por pessoa, que vezes 2 é 24, que dividido por 12 é 2. Espera aí... isso quer dizer que os coitadinhos da CRKTour viajam e viajam, milhares de quilômetros, para comprar uma garrafinha de vinho, que terão que fazer durar 15 dias, o que significa que os pobrezinhos terão que tomar, na verdade, um pequeno gole sacerdotal ao dia, com esse tantinho nem a Lei Seca os pegará. Bem... a aritmética não é bem essa, explicaremos... mas só amanhã, pois chegamos e é hora de ver o hotel.

Beijos,

Sayo e Claudio



From: crktour@hotmail.com
Subject: Caro Amigo - Rivera
Date: Sun, 24 Feb 2013 11:55:29 +0000
Rivera, 22 de fevereiro de 2012.
Caro Amigo,
Escolhemos a cidade como nossa fronteira preferida para compras, pois tem um free shop legal, sem gente e mercadorias pouco confiáveis, como no Paraguai. A cidade de Santana do Livramento, no Brasil, e Rivera, no Uruguai, estão em lados opostos de uma mesma rua; assim, é possível ir, de uma país ao outro, sem quase dar-se conta.

Para melhorar, há fiscalização, quando há, é feita há 5km da cidade, em um cobertinho próximo à Policia Federal. É lá que a aritmética da quota por pessoa encontra a solução para comprar vinho para um ano. Não que estejamos sugerindo que os fiscais sejam corruptos, muito pelo contrário, é que, provavelmente, cumpridores de seus deveres, eles estão atrás de gente que dá homéricos golpes no Leão, como tantos que conhecemos, e não com reles contribuintes, que alimentam mensalmente o Leão, com valores, que lhes são retirados, compulsoriamente, dos parcos soldos mensais. É na solidão do posto de fiscalização, que os pobres assalariados confiam para comprar um produto, ou outras, além da cota permitida.
Já temos um hotel conhecido na cidade, então a chegada foi tranqüila. Como ainda não nos sentíamos bem para aventuras gastronômicas, optamos por uma canja, uma salada de fruta e um mousse de maracujá (divino), que o bistrô, que fica ao lado do hotel, nos serviu, no quarto, de modo bem elegante. Deitamos cedo para poupar as forças para o dia de compras.

Felizmente o tempo no Brasil estava melhor que no Uruguai, assim que saímos para rua com o sol um pouco tímido, mas já indicando que seria um belo dia. As lojas estão concentradas na Avenida Sarandi, e travessas. As bebidas são um dos principais produtos, a variedade de vinhos é impressionante, de todas as procedências e preços, sem falar na variedade de uvas, encontramos algumas que nem conhecíamos.

Os perfumes, cremes e maquiagens também aparecem com destaque, todas as principais marcas estão presentes. Seguem-se as roupas, gêneros alimentícios, utensílios domésticos, câmeras fotográficas, eletrônicos e quinquilharias mais. Como estávamos dispostos, caminhamos por tudo, compramos uma coisinha aqui, outra ali, fomos deixando para retirar as mercadorias no final do dia. Até uns deliciosos queijos uruguaios compramos, pois a região também é cheia de lojas de laticínios.
No dia seguinte, nossa intenção era sair cedo, pois queríamos fazer a viagem de modo mais tranqüilo, sem ter que dirigir tantas horas seguidas, afinal ainda não estamos totalmente restabelecidos da virose. Assim fizemos, seguimos com o coração na mão, rezando para não haver nenhum fiscal no Posto da Receita. A julgar pelo estado dos cones que bloqueavam a entrada, que estavam desintegrando-se, e pelas condições do cobertinho, que abriga os fiscais, todo enferrujado e prestes a cair, é possível deduzir que, por ali, não chega gente há muito tempo. Sorte nossa, que passamos tranquilamente.
E tranquilamente seguimos, por mais uns 140km, quando nos lembramos que havíamos deixado de retirar uma de nossas compras. Mas como isso foi acontecer? Depois há quem diga que beber faz mal para saúde! Mal mesmo faz remédio, que é o que temos tomado a viagem toda; se estivéssemos no nosso bom e velho vinho, isso jamais teria acontecido, como jamais nos aconteceu (ah, ah, ah!).
Agora teríamos que decidir se valeria a pena retornar, e acrescentar 280km em nossa viagem, ou seria melhor perder as mercadorias. Pensamos bem, calculamos o valor das mesmas e o tempo que tínhamos para chegar em casa e decidimos... vamos parar para abastecer, contamos depois.

Beijos,

Sayo e Claudio




From: crktour@hotmail.com
Subject: Caro Amigo - Ibirubá
Date: Mon, 25 Feb 2013 14:15:41 +0000

Ibirubá, 23 de fevereiro de 2012.

Caro Amigo,

Depois de calcular tudo bem direitinho, decidimos que valia a pena voltar e assim fizemos, só que chegamos em Rivera na hora da “siesta” e a loja, onde retiraríamos as mercadorias, estava fechada.

Aproveitamos o tempo vago para conhecer um Shopping Siñeriz, que fica na saída da cidade. Ele é novinho, não havia chamado muito nossa atenção, porque gostamos muito mais de lojas de rua, mas, naquele momento e com um bom banheiro disponível, seria uma ótima opção. Foi um de nossos maiores acertos, pois, na verdade, trata-se de um imenso free shop, com todos os requintes e confortos; muito arejado, moderno e amplo, com bons restaurantes e até supermercado. E, em nada fazendo, aproveitamos para comprar mais uma caixa de vinho e uma panela yok; é que com a Lei Seca, estamos pensando em abrir um restaurante lá em casa, assim podemos beber sem dirigir (ah, ah, ah!). Além do mais, já tínhamos certeza de que não encontraríamos nenhum fiscal.

Compras feitas e compras retiradas, fomos dormir em Ibirubá, uma cidadezinha já nossa conhecida, onde já temos um simpático hotel e costumamos comprar nata, aquela maravilha que derrete na boca, como se nuvem fosse. Mas é também aquela cidade daquele restaurante sem graça, com cara de restaurante de rodoviária, onde a garçonete perguntou ao Claudio se ele tinha reserva e o homem quase enfartou de ódio.

Só para relembrar: “Quando entramos em um deles, que dizem ser um dos melhores, muito sem graça e precisando de uma geral, parecido com restaurante de rodoviária, e a garçonete nos perguntou se tínhamos reserva, dessa vez foi o Claudio que quase enfartou, pois, para quem não sabe, ele diz que 50% da viagem é o que ele vê e 50% é o que ele come, portanto quer sempre comer em um dos bons restaurantes da cidade, badaladíssimo, com linda decoração, toalhas impecáveis, garçons engomados e cheio de gente linda e sorridente, do pessoal que trabalha em propaganda de creme dental; sentando-se na melhor mesa, à beira da janela que dá para o Rio Sena, podendo aceitar o Rio Danúbio ou, talvez o Nilo. E, para tanto, me arrasta horas pelas ruas das cidades, até que eu, pobre de mim, faminta, à beira de um desmaio, dou um grito e ponho um ponto final na coisa; então ele rapidinho se decide”.
Então, ao sair para jantar, não fomos ao Taverna, acima citado, por motivos óbvios, na tínhamos reservas. Optamos por um outro que dizem ser um dos melhores da cidade, o Capital, algo parecido com um dos restaurantes de rodízio de pizza do Grupo Sérgio, talvez só um pouquinho melhorado, lembram dele? Pois é, também não se pode esperar muito de Ibirubá, é uma cidade pequena. Mas o mais interessante mesmo é que, quando pusemos os pés dentro do restaurante, o rapaz loiro e sorridente virou-se para o Claudio e, com aquele carregado sotaque gaucho, perguntou se ele tinha reserva.
O mundo quase veio abaixo, o desmoronamento da Imigrantes foi fichinha, o homem teve uma crise. Imagine só, eu venho de uma das maiores metrópoles do mundo, repleta de restaurantes de classe internacional, para uma cidade a léguas da onde o Judas perdeu as botas, que aparece no mapa por um mero acaso, que não tem um restaurante decente para comer e ainda querem que eu faça reserva. Claro que não permiti que ele destilasse seu veneno em cima do pobre loirinho, mas imagino que ele teria falado daí para pior. E para estragar o que já não está bom, o rapaz tem a infelicidade de oferecer, a ele, uma mesa obscura num canto qualquer, o homem ficou preto de ódio.
Mas, depois de uns panos quentes, ficou decidido que esperaríamos vagar outra mesa. É bem verdade que ele não conseguiu nenhuma mesa na beira do Rio Sena, nem, tão pouco, às margens do Danúbio, mas conseguiu a única mesa que fica à beira da janela, em todo o restaurante, e sem reserva (ah, ah, ah!).

Na divisa entre o Rio Grande do Sul e o Paraná, com uma linda vista para o Rio Uruguai, que corre no fundo do vale, bem à beira da estrada, enfileiram-se algumas casinhas que produtores rurais que vendem produtos coloniais. Sempre paramos no local, para comer um milho cozido, admirar, uma vez mais, a beleza do cenário e comprar umas coisinhas para levar para casa, como lingüiças, copa, mel, feijão e abóbora japonesa, pois as dela são das melhores que eu, boa nordestina, já comi.

Nos vemos em Santos!

Beijos,

Sayo e Claudio




From: crktour@hotmail.com
Subject: Caro Amigo - Santos - SP
Date: Tue, 26 Feb 2013 16:41:36 +0000

Santos, 24 de fevereiro de 2013.

Caro Amigo,

Muita gente nos pergunta, principalmente agora que o Francisco está doente, se ainda pretendemos ter animais de estimação, alegando que eles prendem muito e que, quando morrem, deixam muito sofrimento. Viemos ruminando essa pergunta por toda viagem.
É uma pergunta para qual não temos resposta, pois nos parece tão descabida, ou melhor, nos parece não ter qualquer nexo, como não tem nexo dizer que podemos escolher os caminhos que trilhamos na vida, com vistas a evitar todo e qualquer sofrimento, seguindo sempre por caminhos suaves e belos. Como se tudo na vida dependesse só de nossa mortal vontade; como se pudéssemos por rédeas nas coisas e impedi-las de prosseguir; como se pudéssemos escolher o que queremos viver. Ou, pior, como se pudéssemos tirar dos animais a sua individualidade e os direitos, que eles têm, transformando-os em coisas inferiores, roubando deles o seu devido valor.
De um modo muito simplista, Santo Agostinho dizia que há coisas inferiores e superiores, coisas úteis e coisas usufruíveis, coisas a serem usadas e coisas a serem gozadas, alertando que a reta moral não antepõe as coisas inferiores às superiores. Ele afirmava que todas as coisas são boas, o problema é o valor que o ser humano dá a essas coisas, não devendo ele jamais antepor as coisas úteis às usufruíveis, sendo essa a essência de dar a cada um o que é seu, que é um conceito de justiça.
Pregava que fruir é afeiçoar-se a algo por si mesmo, por amor à própria coisa. Utilizar é servir-se de algo para alcançar um objeto que se ama, usamos quando buscamos um objeto por outro, como um meio para atingir um fim. As coisas objeto de fruição nos fazem felizes, nos dão prazer, nos tornam bem- aventurados; as coisas de utilização nos servem de apoio para chegarmos às que nos tornam felizes.
Já tivemos quatro gatinhos que foram viver no abrigo do Senhor, deixando, em nossos olhos, oceanos de lágrimas e alegrias eternas em nossos corações, que nunca serão apagadas. E, assim, preferimos acreditar que os animais não são coisas inferiores em nossas vidas, coisas descartáveis, meios para se atingir um fim. Gostamos de acreditar que eles fazem parte integrante das nossas vidas, sem as quais ela não teria sentido; eles estão no rol das coisas que usufruímos na vida, que nos fazem muito mais felizes. Gostamos de fazer justiça ao seu real valor.
Seguramente, chegará o dia do outros partirem e, nesse dia, estaremos com eles, portanto, eles não estarão sós. E nós, uma vez mais, teremos que nos conformar em termos lhes sido úteis, o mínimo a fazer por ter usufruído tão boa companhia, lembrando o quão bem-aventurados fomos.
Na mesma viagem, tivemos ainda o imenso prazer de visitar lindos lugares e conhecer muitas pessoas admiráveis, como já lhe contamos, que cruzaram o nosso caminho e contribuíram para tornar nossas vidas ainda mais felizes; além de contar com a excelente companhia do Caro Amigo, lógico!
Obrigado por escolher nossa empresa para sua viagem (ah, ah, ah!)

Hasta la vista!

Beijos,


Sayo e Claudio

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