Santos, 12 de dezembro 2010.
Caro Amigo,
Ouvimos dizer
que, no mês dezembro, a cidade de Gramado fica ainda mais bonita, alegre e
iluminada, tudo porque Papai Noel, juntamente com suas renas, duendes, gnomos,
fadas, anjos e demais seres fantásticos, mudam-se para cidade, para fugir dos
rigores do inverno no Pólo Norte. Ouvimos dizer até que, à noite, é possível
até encontrá-lo comendo um bom churrasco, e tomando uma cervejinha, em algum
restaurante da cidade.
Assim, em
nossa constante ânsia pela VERDADE e JUSTIÇA, após longa análise, concluímos
que meticulosa investigação, “in locu”, deve ser iniciada imediatamente, a fim
de que não reste comprometido o futuro da humanidade. Portanto, e também com o
legítimo intuito de cumprirmos nossa honrosa, longa e árdua META dos
100.000.000.000.000.000 Km viajando (ah, ah, ah!), resolvemos colocar,
novamente, nossos pés na estrada.
Aproveitaremos
para dar um pulinho no Uruguai, pois dizem que o país é sensacional, tem uma
das melhores carnes do mundo, um excelente vinho (tannat), um povo muito
hospitaleiro, além de belíssimas praias, como Punta Del Leste.
Vem com a
gente!
Sayo e Claudio
Santos, 13 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
Para que você,
que irá nos acompanhar em nossa árdua jornada até os confins da terra, não se
perca da caravana, estamos mandando um mapa, com o roteiro da expedição.
---------Terrestre em
carro (Pick-Up S-10 Cabine Dupla).
Compre reserve
seu lugar, faça as malas (pode levar tudo que quiser, o carro é grande) pegue o
passaporte, avise os familiares, desligue o gás, regue plantas, ponha o
sapatinho na janela, deixe o gato com o vizinho e as crianças na casa da vó
(mas não conte que visitaremos Papai Noel), pegue umas nozes e uma Bohemia
gelada (pode até ser um champagne, afinal é Natal!), escolha uma poltrona
confortável, ligue o computador e VEM COM A GENTE!
Aproveite para
enviar alguma dica para tornar nossa viagem mais interessante. Talvez alguma
cidadezinha no sul, que já visitou e achou incrível; um restaurante, que viu em
alguma revista de turismo; um lugar que você gostaria de conhecer, mas ainda
não teve tempo; ou mesmo o endereço de sua adorável tia uruguaia, que faz um
delicioso “chivito”, teremos imenso prazer em visitá-los, conferir e contar
tudo, nos mais mínimos e prazerosos detalhes.
Beijos,
Sayo e Claudio
Gramado, 16 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
Estrada
chuvosa, neblina, casas de madeira, araucárias, pinheiros, pinos, hortênsias
azuis e brancas, estrada ruim, pedágios, frio, frio e mais frio. A isso ia se
resumindo nosso primeiro dia de viagem. Por volta das 17:00 horas, fomos
obrigados a aceitar o fato de que não jantaríamos em Gramado, como era nossa
intenção quando planejamos a viagem; já que comemorações da noite anterior nos
obrigaram a iniciá-la umas horas depois do previsto.
Pelo menos o
tempo tinha melhorado, já se via um pouco do azul do céu e o sol querendo
aparecer, foi quando também vimos uma placa que indicava uma tal de “Rota da
Amizade”. E, entre as cidades por onde ela passava, Treze Tilias, da qual já
havíamos escutado algumas estórias contadas por amigos. Ficava a uns 130 km, à
oeste, da nossa estrada (BR 116), que seguia rumo ao sul; mas parecia ser uma
boa opção para dormir e conferir o que disseram os Caros Amigos. Seguimos então
rumo a ela, passando pela “Estrada da Maçã”, já com uma perspectiva totalmente
nova, entardecer bonito, lagoas, mais hortênsias, simpáticas cidadezinhas,
macieiras carregadas de maçãs quase maduras, milharais, já íamos até reclamar
que o sol estava ofuscando nossos olhos (ah, ah, ah!).
Treze Tilias
foi fundada em 13/10/1933, por Andreas Thaler, um austríaco que veio da região
do Tirol, juntamente com outras famílias, e que fizeram da pequena cidade uma
miniatura de sua amada terra natal. Casarões brancos com varadas de madeira
escura; floreiras cheias de gerânios; campanários sobre os telhados, com um
galo indicando a vontade de levantar cedo e trabalhar; gente de pele e olhos
claros, com um sotaque carregado, muitos conversam em alemão. A estreita
estrada entra pelo portal da cidade, em meio a canteiros floridos, passando por
lindas casas, hotéis, pela praça e prefeitura, dá até para acreditar estar em
alguma pequena cidadezinha austríaca.
Os arredores
da cidade são diversão garantida para alguns dias, com termas, alambique,
trilhas, vilas de colonização alemã e italiana, onde se pode experimentar
produtos como vinhos, embutidos, massas, geléias, licores e doces.
Deixamos as
malas no Hotel Dreizehnlinden, que significa Treze Tilias em alemão, a
proprietária é de Salzburgo, terra da Noviça Rebelde, ficou muito feliz ao
saber que já visitamos sua linda cidade algumas vezes.
Corremos para
jantar, afinal a cidade estava com poucos turistas, portanto os restaurantes
não ficariam abertos até tarde. Escolhemos o Kandlerholf, cuja proprietária é
uma gorda vovó austríaca que, como não poderia deixar de ser, encheu as paredes
com fotos do Tirol, florestas nevadas, cantores em trajes típicos, em meio a
pesadas mesas de madeiras e cadeiras com entalhe de coração, toalhas floridas,
vasos e utensílios que, provavelmente, seu avô trouxe quando veio para o
Brasil; restaurante onde nunca mais pretendo voltar (Sayo) e vou explicar ao
Caro Amigo o motivo.
Escolhemos
nossa mesa e logo uma garçonete, vestida com traje típico nos perguntou se
iríamos jantar e o que beberíamos. Confirmamos que sim e, a conselho da
proprietária encolhemos um vinho colonial Bordeau, vinho artesanal feito na
região. O vinho veio, bebemos quase metade e nada de cardápio ou qualquer outro
comentário sobre o jantar; Claudio já coçava a cabeça, arregalava o olho e
mexia-se na cadeira sem parar (normal). Chega, então, a garçonete com uma
cestinha de pão, azeite, mostarda e um molho especial. A fome era grande,
atacamos o pão com azeite. Daqui a pouco ela volta com dois pratos contendo um
caldo de carne quase incolor, salpicado de salsinha e uma bola, parecida com
uma almôndega. Já conhecíamos a sopa de nossas viagens pela Áustria e Alemanha,
a almôndega é feita de batata, farinha e lingüiça defumada. Uma delícia!
Volta a
garçonete com uma enorme bandeja cheia de tigelinhas com: beterraba, repolho,
salada de batata, alface, tomate, vagem, arroz (acho que andaram abrasileirando
o prato). Mais tigelinhas: goulash (ensopado de carne), chucrutes e uma massa caseira
de formato irregular, sem molho, coberta por cebola frita. Já tínhamos certeza
de que não daríamos conta, quando ela surgiu com uma enorme travessa, onde jazia
um imenso joelho de porco, ladeado por duas salsichas, uma branca e outra tipo
Viena. Foi a morte.
Quando já
havíamos desistido de dar conta da comida, já pensávamos em pedir a conta e nos
arrastarmos até nossa cama, chega a mocinha com a sobremesa, torta de maçã
morninha (strudel), uma bola de sorvete de creme e algo que ela chamou de creme
de leite, mas na verdade era uma nata de textura entre a manteiga e o chantily,
com uma leve pitada de açúcar, e que derretia na boca como nuvem. Tivemos que
comer, mas também nunca mais volto lá, engordar todo o previsto para as férias
em um só jantar e inaceitável (ah, ah, ah!).
No dia
seguinte, dez quilos mais gordos, rumamos para Gramado, ainda pela chata,
cansativa e cheia de pedágios BR-116. Encontramos a cidade lotada de turistas,
mas não foi só isso, ela estava mesmo é lotada de... temos que ir ao teatro,
ainda temos que tomar banho, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Canela, 17 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
Ousamos até
dizer que Gramado virou uma imensa capital nordestina, nunca vimos uma
concentração tão grande de turistas nordestinos, devem vir atraídos pelos
encantos do frio (imagine usar cachecol e sobretudo, tão na moda, impossível no
calor nordestino), da paisagem serrana, dos fondues, dos chocolates (que lá,
com certeza, só podem ser bebidos), de um Natal Europeu. Foi difícil encontrar
hotel, pois, os poucos que tinham vaga, tinham também preços exorbitantes, já
que nessa época do ano o valor das diárias dobra, mas, finalmente, encontramos
uma pousada simples, com melhores preços, bem pertinho, do centro.
A cidade está
um espetáculo, coloca Campos do Jordão no chinelo, muito limpa, com bela
arquitetura, reflexo da colonização alemã e italiana, com grande utilização de
madeira, inclusive com franjas de madeira decorando os telhados, em
substituição à eira e beira de nossa arquitetura colonial. Hortênsias crescem
por todos os lados, imensos e altos arbustos, cheios de repolhudos buques
azulados e brancos.
A decoração de Natal é de um bom gosto
incrível, só chegando perto e pondo a mão para ter certeza que é feita de pet,
são lindos candelabros de cristal transparentíssimo, cheios de luzes, enormes
guirlandas verdes com laços vermelhos. Árvores de Natal, renas, trenós, bonecos
de neve, bolas, presépios estão por toda parte maravilhando adultos e crianças.
De Gramado
fomos visitar a cidade de Canela, que fica só a 14km. É uma simpática cidade e
estava ainda mais simpática com sua divertida decoração natalina. Divertidos
duendes, papais e mamães noéis estavam espalhados pela cidade, nas mais
diversas e estapafúrdias posições, além de árvores de natal e enormes
presentes.
Os destaques
da cidade são a Catedral de Pedra, consagrada a Nossa Senhora de Lourdes, e a
Cascata do Caracol, a maior do Estado, com 131m de altura. Também vale a pena
visitar o Parque da Ferradura, que possui um cânion com 420m de profundidade,
em formato de ferradura, no fundo do qual um pequeno rio agoniza em meio a
pedras, uma vista inesquecível.
Mas o Caro
Amigo deve estar querendo voltar a Gramado e saber mais detalhes sobre o
internacionalmente conhecido Natal Luz... estamos morrendo de sono, contamos
depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Gramado, 18 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
Há 25 anos a
cidade realiza um evento chamado Natal Luz, são 74 dias de festa, de 4/11 a
14/01/11, nos quais Gramado se transforma em um enorme parque, tudo que sempre
povoou nossa imaginação, desde que éramos crianças, que pensávamos só existir
em sonhos, encontramos. São 20 diferentes atrações, que somam mais de 500
exibições, em diversos horários do dia, algumas ao ar livre, outras em teatros
e parques. O Caro Amigo deve considerar, com toda seriedade, conferir
pessoalmente, principalmente trazer seus filhos e netos, mas não esqueça a
sacola de dinheiro, pois grande parte dos shows são pagos, além dos milhões de
tentações que povoam as vitrines.
Nativitaten é
um espetáculo noturno, que ocorre no Lago Joaquina Rita Bier e envolve cantores
líricos, coral, fogos de artifício, luzes de chafarizes, em cinco atos: criação
do mundo, paraíso, pecado de trevas, súplica pela salvação, nascimento do
Salvador e epifania.
O Grande
Desfile de Natal foi nosso evento predileto, é hollywoodiano, não fica nada a
dever àqueles grandes desfiles americanos que vemos na TV; arrancou-nos
sorrisos, palmas, exclamações, quase lágrimas. São 200 integrantes, entre
patinadores, atores, dançarinos, acrobatas, em pernas de pau, e crianças, todos
vestidos luxuosamente e com luzinhas iluminando seus trajes. É noturno e divido
em alas, como em um desfile de carnaval.
A Abertura é
feita por patinadores, cantores e atores, em elegantes trajes vermelhos, que
saúdam o público; e, na seqüência, a Ala do Presépio mostra os Reis Magos,
pastores, anjos, o espírito do Natal, com o nascimento do Senhor. A deliciosa Ala
dos Doces, com enormes xícaras cheias de confeitos e brigadeiros, rodopiando
pela avenida, seguida de pirulitos, bolachas, bengalas de açúcar. A Ala dos
Brinquedos não esquece bonecas, ursos, marionetes, soldadinhos de chumbo,
cavalinhos de madeira e o alegre trenzinho. A Ala Branca traz a neve, pesados
flocos de espuma, a rainha e os bonecos de neve. Na Ala Vermelha desfilam os
soldadinhos de honra e papais noéis do mundo todo. E, como não poderia deixar
de ser, o desfile é encerrado com o Trenó trazendo Papai Noel.
A Arca de Noel
é um musical infantil, que conta como os animais, de uma pequena cidade,
encontram uma solução para levantar fundos e atrair turistas.
A Vila de
Natal fica perto do Lago Joaquina Rita Bier, uma pequena cidadezinha encantada,
com lojinhas de artesanato natalino, guloseimas e parque de diversão. Nela
assistimos o Teatro de Marionetes, com a encenação do nascimento de Jesus, e o
Povo da Vila de Natal, nove artistas que, caminhando pela Vila e interagindo
com o público, mostram, de modo lúdico, as maravilhas do Natal.
O espetáculo
da Árvore Cantante ocorre na Rua Coberta, um coral com 40 integrantes canta
músicas natalinas, acompanhado por bailarinas de sapateado. A Parada de Natal é
um cortejo natalino, bem menor que o Grande Desfile, que conta com a guarda de
honra e o trenó de Papai Noel.
O Show de
Acendimento das Luzes ocorre todas as noites, às 21 horas, é um espetáculo
sincronizado de som e iluminação da Grande Árvore de Natal e da cidade.
A Aldeia de
Papai Noel fica dentro do Parque Knorr, lá estão a Casa de Papai Noel, com um
escritório abarrotado de cartas, e a Fábrica de Brinquedos, onde o bom
velhinho, auxiliado pelos duendes, produz os maravilhosos presentes de
Natal.
Existem,
ainda, inúmeros outros espetáculos no Natal Luz, porém esses foram os únicos
que tivemos tempo de assistir, pois, nos intervalos, ainda tínhamos que comer
founde, comida italiana e os chocolates, todos tão famosos na região; além de
visitar o Lago Negro, os museus do Perfume,
Automóvel e a Igreja Matriz. O Caro Amigo já está cansado? Imagine nós! Já estamos até pensando em voltar para casa para tirar umas férias (ah, ah, ah!).
Automóvel e a Igreja Matriz. O Caro Amigo já está cansado? Imagine nós! Já estamos até pensando em voltar para casa para tirar umas férias (ah, ah, ah!).
Seguindo a
indicação de uma Cara Amiga, resolvemos fazer um passeio de vagoneta. Calma...
nós também nunca tínhamos ouvido falar, trata-se de... hora de uma parada
estratégica, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Rio Grande, 19 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
A caminho da
cidade de Rio Grande, cidade da vagoneta, pela BR 101, passamos entre a Lagoa
dos Patos e a Lagoa dos Peixes, onde pretendíamos visitar o refúgio de aves
migratórias, como o flamingos e o
maçarico-branco, porém o local não tem a mínima estrutura, hospedagem e
sinalização zero. Nos contentamos com a vegetação de restinga, com arbustos e
árvores, como pintangueiras e figueiras, além de pequenas dunas de areia.
Rio Grande é
uma cidade cheia atrações e adjetivos, casarões de interessantes estilos
arquitetônicos, praças, museus, como o Ártico e o da Picada, Estação Ecológica
do Taim. É a cidade mais antiga do estado e, ainda, tem a maior praia do mundo,
a do Cassino, mais de 200km, estando, inclusive, no Guinness Book, embora quase
tudo se resuma mais a nome pomposo, que a beleza de fato.
O Balneário do
Cassino é algo parecido com Ilha Comprida, praia sem graça, de areia cinza, mas
é nele que estão os Molhes da Barra, uma interessante obra de engenharia
oceânica. São dois longos brancos de pedra, cada um com 4km, estirados sobre o
mar, com a intenção de diminuir os efeitos erosivos do mar sobre a terra, algo
parecido está sendo feito em Veneza.
Sobre um dos
Molhes existe um trilho onde, originalmente, corria um pequeno vagão, utilizado
para manutenção, inclusive de um farol existente em sua extremidade. Com o
passar do tempo, pescadores se encantaram pelo local, onde se podia pescar
peixes de até 40kg (os pescadores juram que sim!), e passaram a lotar o Molhe
com suas varas e iscas. Infelizmente nos contaram também que esses áureos
tempos acabaram, pois a pesca predatória, feitas por barcos com redes, que, por
vezes, lotam toda a extensão do Molhe, não restando sequer espaço para atirar
uma linha. Claro que perguntamos sobre as providências do IBAMA, já que o fato
constitui crime, em virtude de se tratar de local onde os peixes ficam
represados!!! Simplesmente nos responderam que o IBAMA chega, em seus possantes
helicópteros, e quanto lê o nome dos barcos, percebendo que seu proprietário é
pessoa influente, dá bye-bye e vai embora, não em tão boa hora. Uma vergonha,
que além de destruir o ecossistema, prejudica o sustento de pequenos pescadores
e pessoas que vivem do turismo local.
Mas voltemos
ao passado feliz, quando os pescadores lotavam o Molhe e os pequenos vagões
passaram a ser utilizados para carregar os peixes, que já quase não mais
existem. Algum esperto teve, então, a brilhante idéia de colocar uma vela, a
fim de utilizar a força do vento para o trabalho, e assim foi inventada a
jangada sobre trilhos, ou seja, a Vagoneta. O passeio é interessante, lá
conhecemos o Chico, um pequeno leão marinho, que se separou de sua família,
trazido pela correnteza, que é pequeno demais para vencer de volta; então passa
seus dias fazendo graça para os pescadores em troca de um peixinho (o mesmo
IBAMA foi chamado, diz que está tudo certo, que quando estiver maior ele
voltará. Não temos certeza se podemos acreditar). Também vimos alguns botos,
existiam mais, mas a redução dos peixes em virtude da pesca predatória,
levou-os para outras paradas.
Seguimos rumo
ao sul, para o Chuí, extremo do Brasil, passamos por Banhados, a versão sulista
do Pantanal, áreas alagadas, cheias de aves e pequenos animais. E quanto mais
descíamos, mais horrível o dia ficava, cinza e frio. Nem nos animamos a parar
para umas compras no lado uruguaio do Chuí, onde há zona franca, free shopping,
alegria de qualquer turista feminino, já que homens, no quesito compras, em
geral, são um ser a parte do resto da humanidade (ah, ah, ah!), odeiam compras.
Entramos no
Uruguai pelo estado de Rocha, decidimos passar primeiro na capital, que tem o
mesmo nome e fica no interior, antes de escolhermos em qual das pequenas
cidades litorâneas nos hospedaríamos. Tivemos uma grande decepção. Na escura
tarde de domingo, as ruas vazias da pequena cidade pareceram ainda mais tristes
e mal cuidadas, nada que lembrasse uma capital no estilo que conhecemos. Saímos
correndo.
La Paloma a
maior cidade balneária do estado, outra decepção. Vento, frio, céu escuro,
parecia que ia desabar um grande temporal, mudamos de cidade. Pedrera, cidade,
tem algo de insólito, parece uma cidade de “hippies”, casas ecológicas em meio
a pinheiros ao lado do mar, sem muros, “hippongas” andam para lá e para cá,
acompanhados de seus cachorros. Para os mais novinhos, que não conheceram os
“hippies”, esclarecemos que foi um movimento, que lá pelos idos dos anos 70,
pregava tinha como lemas paz e amor, é
proibido proibir; provavelmente são os antecessores do chato e aristocrático
movimento “natureba”, os politicamente corretos. Dizem que aqui não é preciso
relógio ou espelho, pois cada um acorda e come na hora que querer e veste o que
quiser.
Em Pedrera
alugamos um simpático chalé, com flores e paredes branquinhas. Após um banho,
uma garrafa de vinho Tannat, um suculento bife de “entrecot” (o contrafilé
Uruguaio), começamos a ver as coisas com novos olhos, menos críticos.
Beijos,
Sayo e Claudio
Pedrera, 21 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
Finalmente o
sol voltou e com ele nossa vontade de viver, hora de conhecer Rocha. Tomamos um
café reforçado, preparamos um lanchinho e saímos, havia muito a conhecer e mostrar
ao Caro Amigo.
O estado divide suas belezas entre os
banhados, rios, arroios e lagoas onde repousam aves e pequenos animais,
declarados Reserva de Biosfera pela UNESCO; fortificações, testemunhas da
batalhas entre espanhóis e portugueses; florestas de Umbus, a maior
concentração do mundo dessa espécie; milhares de hectares de Palmeira Butiá; boas
lojas no Free Shop; e, e principalmente, em sua costa, povoados rústicos de
pescadores, junto ao oceano e suas impressionantes formações rochosas, que dão
uma peculiaridade a cada praia, hoje destino de surfistas e turistas descolados.
Pedreira, a praia onde nos hospedamos, é
um tranqüilo balneário, no qual os hippies convivem com elegantes casas; uma
faixa rochosa sobre o litoral atlântico, falésias como um balcão debruçado sobre
o mar, de onde, no inverno, são avistadas baleias. La Paloma, um dos principais
destinos do litoral uruguaio, tem 20 quilômetros de praia, onde residências
também dividem o espaço com jardins e pinhais, hotéis, lojinhas e restaurantes.
O transporte para Cabo Polônio é
peculiar, um caminhão, 4X4, cuja carroceria foi adaptada com tubos e bancos, já
que atravessa dunas de areia, declaradas Monumento Natural, que têm trânsito
proibido para veículos particulares. Uma pequena ponta rochosa que avança sobre
o mar, onde colônias de lobos marinhos repousam sob o sol, vez por outra dando
um mergulho ou emitindo algum rouco ruído, como um protesto. Pequenas e
modestas casas, por vezes casebres, boa parte branca, com coloridos telhados,
dá ao local um ar mediterrâneo, quase Greco. Antigamente, só uma aldeia de
pescadores; hoje, destino de hipongas. Um muito bem cuidado farol permite ver o
horizonte.
Não resistimos e voltamos ao Chuí para
umas comprinhas básicas de Natal, afinal temos toda a carroceria da caminhonete
para encher, ou melhor, tínhamos, pois agora está cheia de caixas de vinho,
afinal dizem que faz bem a saúde e é fonte de juventude, temos que constatar
pessoalmente. Também não queríamos perder a oportunidade de tirar uma foto com
um pé no Brasil e outro no Uruguai, coisa de turista (ah, ah, ah!)
A Punta Del Diablo é linda, dunas de
areia e pedras avançando sobre o mar azul, em uma pequena enseada. Algo mais
insólito que Pedrera, centenas de pequenas cabanas de aluguel, das mais
diversas cores, materiais e modelos, espalham-se, sem qualquer simetria,
separadas por frágeis cercas de madeira, em meio à grama, areia e pinheiros.
Não há qualquer planejamento urbano; restaurantes e mercados funcionam quase
improvisadamente em pequenos locais e os pescadores, que já são poucos, ainda
pescam em pequenos barcos. Apesar de muito estranho, é igualmente simpático.
O Forte de Santa Teresa destaca-se
imponente entre o azul do céu e verde da mata, mostrando, no horizonte, o mar
perfeito. Impecável, quase como quando foi construído, não fosse o amarelo
ocre, talvez um fungo, que recobre parte de suas pesadas pedras, onde
andorinhas, que enchem o céu com seus gritinhos, encontraram pequenas fendas
para, sem qualquer pudor, construírem seus ninhos. Fantástico!
Não assistimos, infelizmente, nenhum pôr
de sol, muitos negócios a resolver (ah, ah, ah!). Mas, para compensar,
assistimos a lua dar um show. Sentados, em um pequeno restaurante, no balcão da
Pedrera, acompanhados de uma taça de Tannat (ainda falaremos um pouco mais
desse vinho), presenciamos a lua alaranjada romper a barreira do horizonte,
deixando preguiçosamente o mar e caminhando pelo céu, enquanto se tornava
prateada.
E foi o que vimos em Rocha, hora de
seguir, com destino estado vizinho, Maldonado, onde, temos certeza, o Caro
Amigo não vê a hora de chegar, afinal neles estão os dois... vamos dar uma
paradinha para a enésima foto, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Punta
Del Leste, 23 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
O Uruguai é uma pequena república
democrática, com área de cerca de 177 Km², um grande litoral, vários rios e
lagoas. Um país estável política e economicamente, com liberdade de cultos, cujos
níveis de bem-estar fizeram com que recebesse o apelido de Suíça da América. Tem
na criação de gado sua base econômica e altos níveis de escolaridade. Mas o que
tem de melhor é a amabilidade e tranqüilidade de seu povo, que chega a chamar a
atenção e cativa o coração dos turistas.
Notamos, pelas diversas praias que
passamos, uma grande movimentação de trabalhadores reformando, pintando,
trocando tetos e decks, decorando casas e estabelecimentos comerciais.
Conversando com a população local, descobrimos que a grande maioria das praias
uruguaias só funciona no verão, de dezembro a março, após tudo fecha, pois o
frio é atroz, e é economicamente inviável manter qualquer tipo de comércio em
um vilarejo fantasma. As cidades maiores mantêm uma pequena quantidade de
serviços em funcionamento. No verão, durante o dia, faz um calor absurdo, porém
a noite chega acompanhada de um vento frio, não dá para sair sem um casaco.
Chegamos ao estado de Maldonado, onde
estão os balneários mais famosos do país, há quem diga do mundo, Piriapolis e
Punta del Leste, além de outros menores como José Ignácio, La Barra e
Manantiales. Como em Rocha, é o mar convivendo com os pinheiros e eucaliptos,
também convivem harmoniosamente palmeiras e hortênsias. Mas, nitidamente, a
arquitetura mudou, observa-se que a urbanização recebeu mais atenção e que o
poder aquisitivo da população subiu muito, elegantes lojas e restaurantes,
dizem que é o lugar dos ricos e famosos, principalmente Punta Del Leste.
Não dá para falar em estilo
arquitetônico definido, na verdade a coisa parece uma grande colcha de retalhos,
tão diversificada como elegantes. Encontramos desde sobradões ao velho estilo
colonial mexicano até a casa do Tarzan, com cordas de seda pura; passando por
castelinhos, chalés de madeira, casas de pedra, brancos sobrados mediterrâneos,
singelas casinhas rosadas. De muito parecido elas têm as grandes varandas e
janelões de vidro com belas vista; o excelente estado de conservação e o bom
gosto acima do luxo e do tamanho.
Punta Del Leste realmente é uma pequena
ponta de terra que separa as águas do oceano das do Rio da Prata. Resolvemos
que seria uma excelente base para conhecer a região. Tivemos a sorte de
encontrar um simpático hotelzinho, com excelente preço, bem ao lado da principal
rua da cidade, a Av. Gorlero, já bem na extremidade da península, de onde se
pode avistar o mar, tanto à esquerda como à direita, e até admirar vitrines
famosíssimas, como Valentino e Galiano.
A cidade ainda não está completamente
lotada de turistas, o que só ocorrerá no Ano Novo, mas os argentinos, americanos
e brasileiros, já estão por todos os lados. Dois navios vindos do Brasil
chegaram hoje em Punta e nosso calmo hotel tornou-se um reduto de brasileiros
(não dá para entender como se descobrem certas coisas?)
A comida predileta dos uruguaios é a
carne, lógico, já que a deles é uma das melhores do mundo, e a comem na forma
de “parrilla”, nosso bom é velho churrasco. Os frutos do mar também são
excelentes, o filé de Brótola é tenro, de sabor leve, uma delícia. A comida
rápida, graças ao bom Deus, é o chivito, um sanduíche de bife com inúmeros
complementos. Para beber, além dos vinhos locais, a Patrícia, cerveja, e o
clerico (mistura de vinho branco ou sidra, frutas picadas, suco de laranja,
açúcar e muito gelo), uma delicia nos dias quentes.
Provamos tudo, estava uma delícia (ah,
ah, ah!)
A Ponte Leonel Vieira, localizada no
Arroyo Maldonado, antes de sua desembocadura no oceano, entre Punta e La Barra,
é algo bem peculiar, única em sua forma e estilo, é ondulada.
Mas o Caro Amigo nem pode imaginar quem,
inesperadamente, tivemos o imenso prazer de conhecer... hora de embrulhar os
presentes, tomar banho, arrumar o cabelo (claro que é o dá Sayo), fazer uma
super produção, ir à missa, comer aquela ceia maravilhosa e esperar o Papai
Noel, não dá tempo para mais nada, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Piriápolis,
25 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
Infelizmente, não encontramos decorações
natalinas nas cidades uruguaias por onde passamos; imaginávamos encontrar Punta
piscante, ledo engano. Fachadas de casas, edifícios, hotéis praças sem qualquer
adorno que lembrasse o Natal; raramente uma pequena árvore em seu interior.
Igrejas sem presépio. Que pena! Lemos
que 66% da população é católica, porém grande parte é não praticante, talvez
seja o motivo.
As praias de Punta Del Leste estão
divididas em Brava, que estão voltadas para o oceano, onde está a famosa
escultura A Mão do Afogado; e Mansa, voltadas para o Rio da Prata. Não
poderemos dar detalhes sobre os cassinos, a Ilha de Caras ou o Conrad Hotel
pois deixamos para conhecê-los em uma próxima visita, assim seremos obrigados a
voltar (ah, ah, ah!).
A capital de Maldonado, cidade de mesmo
nome, nem parece que está grudada em Punta del Leste, é muito sem graça, nem pense em visitá-la,
use seu tempo para coisas mais úteis, como uma voltinha em José Ignácio,
Manantiales e La Barra.
Já Piriápolis, há 30Km de Punta, na
direção de Montevidéu, o mais antigo
balneário do país, idealizado por Francisco Piria, em 1890, como cidade de
turismo, é um passeio agradável, Lá encontramos o Hotel Argentino, um SPA
famoso, um zoológico, 25km de praia contornados por pilastras e um calçadão
(rambla), alguns museus e lojinhas para compras.
Entre Punta del Leste e Piriápolis está
Punta Ballena, que dizem tem um pôr-do-sol como em poucos lugares do mundo. Por
indicação de uma Cara Amiga, fomos até lá para conhecer Casapueblo (valeu
Deise!).
Carlos Páez Vilaró é um artista plástico
uruguaio de renome internacional, não só pelo conjunto de sua obra, mas, e talvez
principalmente, por sua estória de vida, pelo seu engajamento social e
político, pelos vários trabalhos que realizou pela melhoria da qualidade de
vida de populações necessitadas, principalmente na África. Além de esculturas,
pinturas e desenhos, também produziu filmes e documentários, além de
literatura. Esteve com Che Guevara, com Pelé; expôs na China, ainda no período
mais rígido do comunismo e, como muralista que é, frente às Muralhas da China,
expressou seu desejo de pintá-las. Sempre manifesta sua admiração pelas
mulheres, que afirma serem sempre belas, não importando a idade que tenham, e
fundamentais na vida dos homens.
Vilaró foi amigo de Vinicius de Moraes,
Pablo Picasso, Salvador Dalí e Pablo Neruda, que foram freqüentadores de
Casapueblo, que ele define como um forno de barro, alegando que assim
pessoalmente a construiu para que fosse mais humana, um lugar onde pudesse
estar com seus amigos, uma casa do povo. É um misto de casa, ateliê, museu,
hotel e restaurante, um dos símbolos mais divulgados do Uruguai. Um enorme
palacete branco, que na verdade lembra um imenso complexo de fornos de barro
branco, cheio de portas e orifícios, pendurado em um penhasco à beira-mar,
paisagem inigualável, onde inclusive as andorinhas encontram um instante para
parar e admirar.
E enquanto nós, pobres e reles mortais,
caminhávamos maravilhados em meio às belas obras produzidas por Deus e por
Vilaró, não pode o Caro Amigo imaginar quem nos apareceu em carne, osso e
simpatia! O próprio Carlos Sáez Vilaró, que estava em sua casa do Uruguai para
o Natal, já que parte do ano está em sua casa da Argentina, no Tigre. Duvida?
Simpático ele, não? Mais um dos
excelentes serviços que só quem viaja pela CRKTour pode desfrutar (ah, ah, ah!).
O magnífico pôr-do-sol, desde uma das varandas da Casapueblo, ouvindo Vilaró
declamar uma poesia de sua autoria, não tivemos a oportunidade de presenciar.
Teremos mesmo que voltar!
Nos vemos em Montevidéu!
Beijos,
Sayo e Claudio
PS- Se quiser saber sobre a biografia e
obra de Vilaró visite http://www.carlospaezvilaro.com/casapueblo.swf
Montevidéu,
27 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
Montevidéu, a capital da República
Oriental del Uruguai, tem mais de 22km de praias fluviais, pois o mesmo Rio de
La Plata, que banha Buenos Aires, dá à cidade um charme muito especial, através
do calçadão (Rambla) onde as pessoas se reúnem para uma caminhada, uma
pescaria, um banho de praia, um bate-papo, acompanhado do sempre presente
chimarrão, hábito nacional, ou, simplesmente, para admirar o pôr do sol, que
acontece, por volta de nove da noite, nas águas do rio, que mais se assemelha a um mar por sua imensidão.
Mas as duas cidades têm outras
semelhanças, a paixão pela parrilla e
pelo tango, e é melhor nem entrar muito no mérito desse último, para não
provocar a terceira guerra mundial, já
que Carlos Gardel é uruguaio e La Cumparcita foi escrita também por um uruguaio
e tocada por primeira vez aqui, é algo mais ou menos parecido com a discussão
sobre quem tem o melhor futebol, Brasil ou Argentina, problema matemático sem
solução.
Tem um certo ar europeu, pessoas
sentadas nos bancos das praças ou
passeando com seus animais de estimação. Presente, ainda, nas fachadas dos
edifícios do século 19, com estilos arquitetônicos diversos, como o Art
Nouveau, o Art Deco e o Neoclássico Espanhol, conservado em algumas construções
da Cidade Velha. Porém causa pena o estado de conservação em que se encontram e
o sistema de fiação utilizado, um verdadeiro crime, grosseiros fios pregados,
sem qualquer cuidado, por fachadas de majestosos edifícios, destruindo a
singela beleza de sua arquitetura.
Tivemos trabalho para encontrar hotel,
pois queríamos ficar entre o centro e da cidade velha, perto dos principais
pontos turísticos, grande parte deles, apesar das duas ou três estrelas,
encontra-se em péssimo estado; outros são caros; já os que nos agradavam,
estavam lotados. Mas finalmente encontramos um onde, provavelmente, está também
hospedada toda a torcida do flamengo, só tem brasileiros.
Domingo é dia
da Feira de Tristan e Narvaja, localizada na rua de mesmo nome, a prima pobre
da Feira de San Telmo, em Buenos Aires. A princípio era uma verdadeira feira,
vendendo legumes, frutas, flores, produtos alimentícios; porém, hoje, vende de
um tudo. Também localizada em uma zona de lojas de antiquários, não tem o
glamour de sua prima argentina, mas é bem divertida. Parece bem informal, que
basta chegar esticar seu paninho e expor seu produto, sem qualquer burocracia,
seja ele vendável ou não.
Encontramos
de vasos sanitários usados e churrasqueiras a jóias antigas. Mais peculiares
ainda são as pessoas que a freqüentam, desde intelectuais, em busca de algum
livro raro, a malucos passeando seus chapéus mirabolantes, não faltam os
brasileiros, um pouco em cada grupo. Mas tem antiguidades de qualidade, jogos
de game e pequenas coleções de tampinhas e garrafas (essa é para o Caro Amigo
Mauricio), e umas comidas gostosas, se fecharmos um pouco os olhos para as condições
em que são preparadas. Compramos, comemos e sobrevivemos, apesar do sol
escaldante.
A cidade está
um cemitério, reflexo do feriado prolongado, nem lugar para um cafezinho se
encontra, aproveitamos, então, para conhecer admirar os edifícios históricos e
que se destacam por sua arquitetura, seguindo um mapa que conseguimentos no
Centro de Informações Turísticas de Chuí. Seguimos pela Avenida 18 de Julio, uma das
principais artérias de Montevieu, do Centro para a Cidade Velha, cruzando as
Praça da Independência e a Puerta da Cidadela, único vestígio do que foi a
muralha que circundava a cidade. Atravessamos a Peatonal Sarandi, quase sem
“peatones” (pedestres), tudo fechado, até a Catedral, nas proximidades da qual
está o Restaurante Cortes, que nos foi indicado por uma Cara Amiga, mas que
encontra-se fechado, somente reabrirá em janeiro, sinal de que termos realmente
que voltar.
Finalmente,
quando já voltávamos para o hotel, encontramos o Teatro Solis, o mais
importante do país, inaugurado em 1856, aberto e com uma visita guiada prestes
a se iniciar; tempo justo para um delicioso café em sua elegante cafeteria. O
teatro está completamente restaurado, com confortáveis cadeiras de veludo
vinho, palco ampliado, restaurante e uma sala de apresentações menor, aberta a
exibições mais populares. Infelizmente, nenhuma exibição em dezembro e janeiro.
Chegamos ao
hotel com tempo para um rápido banho, antes de assistir ao show do pôr do sol na
praia e saborear um saboroso jantar, confortavelmente sentados entre hortênsias
e palmeiras, no simpático jardim do Restaurante El Viejo y el Mar. Ótima opção,
massa deliciosa e “Ojo de Bife” (parecer ser filé mignon) divino.
Por falar em
comida, por indicação de uma Cara Amiga (está mais para Inimiga) resolvemos
provar... hora do banho, outro delicioso jantar nos aguarda, contamos depois.
Beijos,
Sayo e
ClaudiO
Montevidéu II, 28 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
A melhor
definição que encontramos para o Mercado Del Puerto é que ele é uma pequena
filial do inferno e provaremos. Sua construção, de 1868, parece ser contemporânea ao famoso Mercado da
Cantareira, que temos em São Paulo. É uma linda estrutura de ferro construída
na Inglaterra, que abriga o maior centro gastronômico da cidade, onde
basicamente servem parrilla (churrasco).
São enormes
parrilleros, enormes grelhas de ferro, que diferem também das nossas
churrasqueiras por ser inclinada e trazer a lenha, que queima produzindo enormes
labaredas (deve ser bem parecido com as que ardem no inferno), em um canto
confinado da mesma e, quando se transforma em pequenas brasas, são espalhadas
embaixo da grelha, como fazemos com o carvão. Produzem um calor infernal, que,
aliado ao calor do verão que está cruel, levam os pobres turistas, que lotam
seus corredores, à beira da loucura. Verdade que tem alguns ventiladores, que
quase somente servem para espalhar a fumaça e o calor. Por todos os lados
crianças gritando, músicos cantando, turistas tirando fotos, menopausadas se
abanando, garçons transpirando, gente devorando carne avidamente.
Quanto às
comidas, mais tentações que no inferno, enormes pedaços de carne assando
lentamente, grossas lingüiças, miúdos, chouriço, pimentões vermelhinhos,
enormes cebolas, forte cheiro de pecado. Para refrescar uma cerveja, a Patrícia,
ou um Médio y Médio, espumante com vinho, invenção local.
E foi para
esse cenário que uma Cara Amiga (?) nos enviou, aconselhando-nos que comêssemos
no El Palenque ( um carneiro divino) e ainda teve a capacidade de nos
recomendar que não deixássemos de provar a Panqueca de Doce de Leite.
A princípio
pensamos: Panqueca de Doce de Leite! Não deve ser nada de mais. Então assistimos sua preparação, uma massa
fininha, feita na hora, envolvendo um montão de doce de leite, também uma
preferência nacional no Uruguai, polvilhada de açúcar (já ficou um pouco
diferente da nossa), aí vem o moço da churrasqueira, com um vergalhão de ferro
em brasa, fumegante, e repousa sobre a panqueca produzindo uma fumaceira
danada, é quando a fumaça se dissipa... sobre a panqueca uma fina camada de
caramelo, uma finíssima camada de vidro marrom com um delicado sabor adocicado,
que transforma totalmente o sabor da panqueca.
É viciante!
Como somos
pecadores contumazes, voltamos três vezes para comer no dito local, lambemos os
beiços, chupamos os dedos, queimamos nas brasas do mercado e nos entregamo ao
doce pecado da gula.
E depois de
ler tudo isso, não concorda o Caro Amigo com a nossa definição do Mercado del
Puerto, mas nem pense em ir à Montevidéu e deixar de conhecê-lo e comer de
tudo, principalmente a Panqueca de Dulce de Leche (valeu Yara, engordamos mais
uns 100kg mas amamos de paixão).
Mas não pense
o Caro Amigo que passamos nossos lindos dias em Montevidéu somente comendo,
claro que não! Nós também... hora de tomar banho e sair para jantar (ah, ah,
ah!), contamos depois.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Montevidéu
III, 29 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
Além de comer
muito bem, em Montevidéu também fizemos interessantes passeio, uma visita
guiada pelo suntuoso Palácio Legislativo, inaugurado em 1925, estilo
neoclássico, um tanto eclético, sede da Câmara dos Deputados e do Senado, belo
edifício em mármore, adornado por esculturas, baixo relevos com quadros de
pintores uruguaios.
No Museo de
La Casa del Gobierno, instalado na Plaza Independência, dentro do Palácio
Estevez, encontramos um pouco da história do país, quadros de todos os
presidentes, objetos pessoais de alguns e documentos. Na mesma praça, o Caro
Amigo não pode deixar de tirar uma foto do Palácio Salvo, edifício símbolo do
país, que quando foi inaugurado, em 1927, era o mais auto da América do Sul,
onde foi tocado pela primeira vez o tango “La Cumparsita”.
O Museu do
Carnaval, que fica ao lado do Mercado, é pequeno, vale a visita por mostrar que
o Uruguai tem carnaval aos moldes do Brasil, guardadas as devidas proporções, e
Candombe dança e música, feita por tambores, de origem africana, pois o país
também utilizou o escravo como força de trabalho.
Encontramos
mais uma feira, a Feira Biarites, já mais organizada que a de Tristan de
Navaja, onde além dos produtos comuns, aos moldes da nossa, encontramos uma
enorme quantidade de roupa, coisas bem moderninhas. Fomos à Mercado de los
Artesanos, varias barraquinhas com artesanato local, mas nada de muito
diferente, e ao Mercado de La Abundância, uma pequena e barata versão do
Mercado Del Puerto, onde aos sábados há apresentação de tango e, durante a
semana, aulas de tango.
Os pés do
Caro Amigo já devem estar doendo, então nada como uma paradinha no Café El Copacabana,
na Peatonal Sarandi, serviço impecável. Basta pedir um simples café expresso
para receber um copinho com suco natural de laranja, outro com água levemente
gaseificada, uma tacinha com chantily, um Bis e, lógico, um delicioso café,
levanta o astral de qualquer um.
Para uma
linda vista da cidade, a Torre de las Telecomunicaciones (ANTEL) é uma
excelente opção, uma moderna torre envidraçada, que lembra a vela de um barco,
com 160m de altura. As visitas são guiadas e Daniel, nosso guia, um simpático
rapaz, que, após confirmar que todos éramos brasileiros, arrematou dizendo que
seria melhor, pois assim treinaria seu português; daí para frente disparou,
feito uma metralhadora, em espanhol, raramente intercalado por um preposição em
português. Uma graça! A vista do porto é magnífica.
O Santuário
Nacional do Sagrado Coração de Jesus é enorme, num tom de tijolo, réplica da
Santa Sofia; porém estava fechado, não pudemos conhecer seu interior. A
Catedral é Consagrada a Nossa Senhora da Conceição, com o nome de Nuestra
Senhora de los Treita e Três, em alusão aos trinta e três patriotas que
deflagaram o processo de independência, onde chama a atenção o ar sombrio e
sóbrio do altar principal, cor púrpura, com detalhe de iluminação nos rostos
das imagens dos Santos.
Fomos visitar
uma famosa cidade balneária, Atlântida, que fica no estado vizinho a
Montevidéu, Canelone, a praia é bonitinha e a cidade sem gracinha, um hotel em
forma de navio, uma casa, vazia e aberta à visitação, em forma de Cabeça
de Águia, ambos necessitando
restauração. O Museu de Pablo Neruda, uma das melhores atrações, foi
transferido para Punta Del Leste.
Amamos o
Museu Del Gaucho e da moeda, o pequeno edifício, que o abriga, foi construído
pelo famoso arquiteto francês Alfredo Massüe, em 1896, e fica escondido, no
numero 998, entre outros maiores e toda agitação da Avenida 18 de Julio, onde
tudo acontece e todos podem ser encontrados; ainda que estivesse vazio,
continuaria sendo uma preciosidade, uma caixinha cheia de jóias. Suas
escadarias são em mármore, ladeadas por madeira de lei finamente trabalhada, há
corredores onde o mármore forma lindos mosaicos; estuque nas paredes e teto,
que ainda trazem delicadas pinturas; candelabros e arandelas em bronze,
trazendo cúpulas em murano; clarabóia e vitrais sóbrios; rosáceas nos pisos de
azulejo hidráulico e parquet, nos de madeira; grades de ferro com motivos
florais; lustres de cristal reluzente; altas portas em madeira com vidro
bisotê.
E ainda
tivemos tempo de passar pelo Estádio Centenário, inaugurado em 18 de Julio de
1930, para primeira Copa do Mundo; pelo Club Atlético Peñarol; pelo Parlamento
do MERCOSUL, pelos elegantes bairros de Pocitos e Punta Carrasco; pela
distribuidora da Conaprole, dizem que é o melhor doce de leite do país, vamos
tratar de provar todos a fim de que o Caro Amigo possa ter uma certeza absoluta
(ah, ah, ah!).
Já sentimos
que o Caro Amigo está cansadíssimo, à beira da exaustão, quase a ponto de
desistir da viagem e voltar correndo para casa (ah, ah, ah!); então pensamos
que o ideal para relaxar seria... precisamos descer para tirar fotos com novas
amigas que fizemos aqui no hotel, contamos depois.
Beijos,
Sayo e
Claudio
Canelones, 30 de dezembro de 2010.
Caro Amigo,
Nada melhor
para relaxar que uma taça de um bom vinho e o Uruguai é conhecido internacionalmente
pela qualidade do seu. Então pegamos o carro e saímos pela Ruta 5, entre
Montevidéu e Canelones, para conhecer (e
provar, lógico) um pouco mais sobre o vinho
daqui.
O vinho do
Uruguai é cultivado em uma localização geográfica privilegiada e em terras
particularmente adequadas para o cultivo da vinha, pois está na mesma latitude
que as melhores áreas cultiváveis da Argentina, Chile, África do Sul e
Austrália - entre 30º e 35º sul, sendo possível o cultivo em todo seu
território.
Foi com o vinho Tannat que o Uruguai iniciou sua produção comercial. Em 1870, Dom
Pascual Harrigue, procurando uma espécie que se adaptasse ao solo e clima
locais, introduziu, no país, numerosas variedades de uva, e, entre elas, a
variedade Tannat, originária do sul da França. Algum tempo depois, Dom Pascual obteve o
prêmio de melhor vinho produzido no país com o Tannat. Por causa disso, desde 1877, o
Tannat é conhecido como o "Vinho
Uruguaio". Os Tannats são vinhos de taninos suaves e macios, e uma
atrativa cor. O Uruguai é o único produtor de Tannat, no mundo, onde existem
vinhedos significativos em quantidades ainda maiores que em sua terra natal,
Madiran e Irouléguy, no sudeste da França. A superfície plantada desta
variedade representa um terço dos vinhedos do país.
Em 1978,
especialistas franceses chegaram ao país, como consultores, visitaram vinhedos
e adegas em todo o país e sugeriram mudanças, que foram implementadas,
resultando no reconhecimento do vinho uruguaio em diversos concursos
internacionais. Importante ressaltar que a arte de produzir vinhos no país
continua sendo realizada por empresas familiares, não existindo, portanto,
conglomerados multinacionais envolvidos no processo.
Bem, mas não
estamos aqui para escrever longos tratados sobre vinhos, deixemos de retórica e
passemos a parte prazerosa da coisa, estivemos em duas bodegas, a Juanico, que
produz o Dom Pascual, um dos vinhos mais conhecidos no país, leva o nome do
vinicultor que trouxe o Tannat da
França, e a Bouza. Em ambas é possível fazer uma visita completa, incluindo os
vinhedos e a forma de fabricação, degustar 4 tipos de vinho, acompanhados de
queijos e embutidos, pelo preço de R$45,00. São lindas casas de fazenda em
estilo colonial, que ainda apresentam os traços originais de sua fundação, na
Bouza há um ótimo restaurante, se o Caro Amigo estiver interessado é melhor
fazer reserva antecipada.
Em ambas também é possível comprar, lógico, vinhos.
Espumantes, brancos, tintos, roses, licores de vinho e, sem dúvida, o Tannat,
em suas diversas variedades, jovens, envelhecidos em tonel de carvalho francês,
combinado com outras uvas; aqui somos obrigados a confessar que, desde que
chegamos ao Uruguai, não temos poupado esforços em conhecê-las todas (ah, ah,
ah!) e para tanto, exceto raríssimos dias de muito calor, que nos entregamos à
Patrícia, temos tomado, todos os dias, uma garrafa dele.
Como já passamos um pouco da idade de dizer que tinto
só pode ser bebido com carne vermelhas, porque existe a idade de ser radical e
seguir estritamente as regras, mas felizmente, graças ao bondoso Deus, existe
aquela na qual nos permitimos fazer o que temos vontade, não dando mais tanta
atenção ao que vão falar de nós, aprendemos que, por mais que nos esforcemos,
sempre encontraram algo a criticar em nosso procedimento, afinal, sejamos
caridosos, dando um pouco mais de assunto, de diversão, a quem tem uma vidinha tão
triste, que a desperdiça cuidando da vida alheia.
Mas voltando ao velho e bom Tannat, nos permitimos
experimentá-lo com pescado e frutos do mar, são possíveis ótimas combinações,
principalmente entre massas e queijos. E como dizem que o vinho embeleza e
rejuvenesce, chegaremos ao Brasil engatinhando (ah, ah, ah!), parece que já
tomamos muito Tannat, começamos a falar besteiras (ah, ah, ah!).
Descobrimos como se originou o costume de tomar Medio y
Medio, metade vinho e metade espumante; os imigrantes italianos que chegaram ao
Uruguai trouxeram o hábito de tomar vinho branco seco, acontece que o vinho
seco não era agradável ao paladar das mulheres, assim, como uma forma de
galanteio, para agradar suas bem amadas, os homens passaram a servi-las com uma
mistura de vinho branco seco e espumante branco doce. Hoje, a bebida é uma das
marcas registradas do país, sendo já fabricada e vendida, com o próprio nome
Medio y Medio, em garrafas de espumante. Uma delícia! Quem sabe o Caro Amigo
passa lá em casa para prová-lo, pois é lógico que estamos levando algumas
garrafas (ah, ah, ah!)
Mas tratemos de assuntos mais sérios, onde pensa o
Caro Amigo que seria um excelente lugar para passar o Ano Novo? Sabemos... mas
Punta foi descartada no início da viagem, pois teríamos que dormir na praia ou
deixar o dinheiro da viagem toda em algum dos caríssimos hotéis que ainda
tinham vaga. Passamos então a considerar uma cidade muito charmosa, também
internacionalmente conhecida como Punta, pois foi declarada Patrimônio da
Humanidade pela UNESCO, onde, dizem, é possível ver o a queima de fogos duas
vezes, meia-noite e uma da manhã. Já adivinhou?
Beijos,
Sayo e Claudio
Colonia del
Sacramento, 01 de janeiro de 2011.
Caro Amigo,
Deixando Montevidéu, seguimos pela tranqüila Ruta 1,
177km de retas, atravessando imensos pastos e pequenos povoados. Impossível não
saber quando se aproxima Colônia, já que a estrada transforma-se em um longo
corredor de altas palmeiras, como que a esperar o cortejo real, já que a cidade
foi fundada, em 1680, por portugueses, na desembocadura do Rio de La Plata. Palco
de disputada, durante mais de um século, entre portugueses e espanhóis, até que
foi incorporada ao Uruguai no começo do século XIX.
Em virtude desses conflitos, a cidade passou do
domínio português ao espanhol várias vezes, o que se refletiu na arquitetura de
Colonia del Sacramento, que é o resultado dos diferentes estilos arquitetônicos
de seus colonizadores. O traçado da cidade, sem sombra de dúvida, é de origem
portuguesa, pois contrasta com a forma de tabuleiro de xadrez ditada pelas Leis
das Índias, comum a todas as cidades de origem espanhola.
Com o auxílio das gentis moças da agência de
informações turísticas, conseguimos a última vaga existente em um hotel de
preços módicos, para falar a verdade era quase a última em qualquer hotel,
afinal a combinação de feriado, sol, praia, cassino e monumentos históricos é
ideal para encher hotéis. Ele não é lá aquelas coisas, mas fica no Centro
Histórico, às margens nada plácidas do Rio de La Plata e, para ir ao Cassino,
basta atravessar a rua, demos uma conferida. Esquecemos de contar que aqui, no
Uruguai, tem cassino por todo lado, não é muito nossa praia, por isso, em
geral, não os visitamos, mas se for do agrado do Caro Amigo, pode trazer um
dinheirinho a mais para suas apostas.
No pequeno centro histórico, que a UNESCO, em 1995,
declarou Patrimônio Histórico da Humanidade, uma dúzia de ruas com calçamento
de pedra, praças, luminárias amarelas, casas coloniais coloridas, onde
funcionam restaurantes, lojinhas, galerias e museus, disputam um pedacinho de
chão e um lugar ao sol com floridas primaveras e com as águas escuras e revoltas
do Rio da Prata. Um ventinho abençoado alivia o calor e lota algumas ruas de
folhas secas das enormes árvores, parecem Maple, dando ao verão um tom de
outono. Céu azul anil, turistas de todos os pontos do mundo, com seus trajes de
verdadeiros desbravadores, botinas especiais com meias de algodão, e nós,
pobres tupiniquins, com nossa havaianinha demos conta de tudo. Mas também tem
gente que não se situa, pensa que América do Sul e sinal de faroeste, nem
parece que existe a tão falada globalização!
Há quem diga que se parece a Parati, talvez uma
coisinha ou outra. Tem uma meia dúzia de pequenos museus, que podem ser
visitados com um ingresso único, que custa R$5,00, não visitamos nenhum,
estavam fechados em virtude da virada do ano, mas não perdemos a subida ao
farol. De qualquer modo a cidade pode ser tuda vista em meio dia, mas vale
muito à pena passar pelo menos uma noite, vagar sem destino, ver o pôr-do-sol no
rio, jantar em um pequeno restaurante, escutar um tango, ver o dia amanhecer
nas ruas desertas; mas se tudo isso entediar o Caro Amigo, tome o Buquebus
(barco veloz que atravessa o Rio da Prata) e, em apenas 50 minutos, chegará Buenos
Aires, na outra margem do rio, onde poderá fazer umas comprinhas, confesso que
tive (Sayo) que me segurar para não sucumbir à tentação.
Encontramos os preços, em Colônia, mais baratos que em
Montevidéu e Punta. A cidade conta com ótimos restaurantes, de maneira
particular gostamos do Solar de La Plaza, que tem um agradável jardim interno e
uma comida ótima; não deixe de provar o Entrecot a Tres Pimientos, acompanhado
de um Tannat, e o Postre de La Nona (espécie de Petit Gateau um pouco mais
calórico)
Sobrou-nos o dilema de como entrar no Novo Ano, algum
restaurante no centro histórico ou um picnic no calçadão da praia, como faz
parte da população local, para assistir à queima de fogos dos vários hotéis e
de Buenos Aires, acredite ou não o Caro Amigo, aqui afirmam que é possível.
Optamos pela segunda, afinal tínhamos que conferir a tal queima de fogos diretamente
de Buenos Aires. Então fomos ao mercado, compramos um Medio y Medio, alguns
queijos, frios, azeitonas, tomates e matambre (uma manta de carne, recheada com
ovos inteiros e legumes, enrolada, amarrada e bem cozida, que depois é cortada
em fatias finas ou grossas, como um embutido, muito comum na Argentina e no
Uruguai).
Pegamos nossas cadeiras de praia, o material para o
picnic, o champagne e nos juntamos aos locais. A noite agradável, o céu
estrelado e no horizonte era possível perceber a claridade de Buenos Aires,
tudo estaria perfeito não fossem as músicas horríveis que nosso vizinho de
picnic insistia em escutar no som de seu carro. À meia noite, brindamos à chegada de 2011 em
Colônia, acompanhada da queima de fogos.
Então esperamos
uma hora, pois na Argentina não há horário de verão, assim como no Brasil e no
Uruguai, e, após essa uma hora... hora do banho, temos que decidir o que
comeremos no jantar para acompanhar o Tannat (ah, ah, ah!).
Beijos,
Sayo e Claudio
Paysandú, 02
de Janeiro de 2011.
Caro Amigo,
Quantos aos tais fogos artificiais vistos em Colônia,
puro mito! Há quem jure que, em noites claras, realmente é possível ver, não
acreditamos!
Rumo ao norte, seguimos, pela Ruta 21, até Carmelo,
cidade sem graça, mas a moça do Centro de Informações Turísticas, Beatriz, fez
valer nossa visita, ficou contentíssima ao saber que éramos brasileiros, seus
olhos brilhavam enquanto conversávamos. Fez questão de mostrar seus diplomas do
curso básico de português e português turístico; nos explicou, em nossa língua,
os pontos turísticos da região, falou de sua vida e planos. Quando lhe demos
uma garrafinha de Guaraton, que trazíamos do Brasil, ficou ainda mais radiante
e presenteou-nos com vários livrinhos
sobre o país e o estado de Colônia. Estava escrito que era o dia de fazer
alguém sorrir! Muito fácil!
Continuamos até Fray Bentos, Estado de Rio Negro, para
visitar o Museo de La Revolución Industrial, antigo Frigorífico Anglo, onde, em
finais do século XIX, começou a ser produzido o extrato de carne, desenvolvido
por um químico alemão Justus Von Leibig, pai da Química Orgânica; que era
exportado para a Europa, sendo alimento de soldados em várias guerras.
Produziram, também, carne enlatada, “Corned Beef”. A fábrica foi desativada no
final dos anos 70, depois de passar de mãos inglesas para o estado, por já não
ser rentável, foi quando se transformou em museu, que matem parte dos
escritórios originais, que tem um mobiliário bem interessante, máquinas,
instrumental, documentos e cartazes. A fábrica está isolada, só pode ser vista
através de um vidro, pois dizem que na manutenção das tubulações era usado um
produto que hoje é considerado cancerígeno, talvez seja amianto.
As estradas não são das piores, mas a sinalização é
péssima, quando existe. Como fizemos o percurso no domingo, só cruzamos com
gente indo para a praia (fluvial), já que o dia estava radiante. Iam de carro,
moto, bicicleta, carroça e carregavam a casa toda, cadeiras, mesas, geladeiras
portáteis, cuias de mate, garrafas térmicas, cachorros, sogras, avós, bebês.
Também encontramos essa turma, sentada à beira da estrada, no final do dia,
tomando mate e admirando o movimento. A vida aqui parece que caminha devagar.
Resolvemos parar para dormir em Paysandú, La Heróica.
A cidade é engraçadinha, tem um comércio intenso e vários restaurantes, mas
parece que não escolhemos um dia muito apropriado para visitá-la. Na Plaza de
La Constituición, em frente à Basílica Nuestra Señora del Rosário y San Benito
de Palermo, um coral canta o Hino Nacional
e o da Cidade, acompanhado pela Banda Municipal, discursos, espetáculos de luz
e som homenageiam o herói nacional lá
assassinado, defendendo a democracia e a constituição de seu amado país.
Contam que o General Venâncio Flores, uruguaio do
partido colorado, com intenção de derrubar o partido branco, que se encontrava
então no governo do país, pediu auxilio ao Brasil; e que as tropas brasileiras,
juntamente com as de Venâncio Flores, assassinaram, naquela mesma praça, no dia
02/01/1865, o General Leandro Gómez, um dos homens mais bravos que o Uruguai já
teve, depois de mais de um mês de luta, nos quais a praça foi arrasada também.
Contam, ainda, que as mesmas tropas foram responsáveis por dizimar toda
população masculina adulta do Paraguai, que era, então, um país muito
desenvolvido, e que nunca mais conseguiu recuperar-se. Mais uma dívida nossa!
Aí seguimos mais para o norte, para Salto, região
turística de termas e parques, ideal para relaxar, tirar umas férias (ah, ah,
ah!). E não pode o Caro Amigo imaginar qual não foi nossa surpresa ao saber
que... vamos dar um mergulho, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Salto, 04 de
janeiro de 2011.
Caro Amigo,
Qual não foi nossa surpresa ao saber que todos,
absolutamente todos, os museus e teatros da cidade de Salto fecham em janeiro,
mês de férias, quando a cidade certamente recebe mais turistas. Assim, não
visitaríamos o Museo del Teatro D. A.
Larrañaga, o Ateneo de Salto, o Museo de Bellas Artes y Artes
Decorativas, o Museo Histórico Municipal, o Museo del Hombre y La Tecnologia
Arq. Nestor J. Minutti, a Exposición de Esculturas Edmundo Pratti e o Museo del Rio.
A cidade tem uma linda arquitetura, casarões térreos
ou sobrados, que devem datar do final do século XIX, com camafeus e estuque na
fachada, colunas e altas portas-balcão que conduzem a ínfimas varandas onde as grades
de ferro criam uma romântica atmosfera e, seguramente, facilitam a circulação
nos calorosos dias de verão. A grande maioria dos casarões encontra-se em muito
bom estado, necessitando talvez só alguma pintura; mas, infelizmente, continua
o emaranhado de fios a enfear as fachadas. E neles estão sediados muitos dos
museus que não visitaremos, ainda estamos inconformados! Deve o Caro Amigo ter
atenção ainda ao fato de que meio dia há toque de recolher, na principal rua da
cidade, a estreita Rua Uruguay, tudo fecha, é a hora da “Siesta”, a vida só
recomeça às 15:00 horas.
Restou-nos fazer um passeio a represa de Salto Grande,
que fica há 15km da cidade, para
conhecer a hidroelétrica internacional de mesmo nome, que Uruguai e Argentina
construíram para aproveitamento do Rio Uruguai, algo parecido com Itaipu, que
funciona deste 1979; sobre ela está uma das pontes que liga os dois países.
Nenhuma usina passa desapercebida pelo Claudio, ele para nem que seja para uma
rápida fotografada, são os ossos do ofício!
Também visitamos a Costaneira Norte, para jantar no
“El Mojarra”, que nos disseram ser um dos melhores restaurantes da cidade, onde comemos uma deliciosa Parrilla, bem ao estilo
uruguaio, com costela, lingüiça, tripa recheada, tripa assada, intestino, chouriço
doce (aquela lingüiça feita de sangue, que também tem uva passa, o que lhe dá
um sabor adocicado), tudo servido em uma pequeno fogareiro com brasas; tinha
até farinha de mandioca, que é conhecida por aqui, e um molho de pimenta, que o
nosso gentil garçom preparou, uma espécie de molho branco e pimenta do reino,
que foi o que ele entendeu de minha (Sayo) explicação do molho de pimenta que
preparamos caseiramente no Brasil (meu espanhol deve estar péssimo, que não me
ouçam minha professora e, principalmente, minhas alunas, ah, ah, ah!). Claro que tomamos um Tannat, que comemos tudo
e que lambemos os beiços, pois como bem sabe o Caro Amigo, somos bons de garfo.
Na minha sincera opinião (Sayo), parque aquático é uma
coisa para “brother”, sol causticante, muita criança chorando, aborrecente
gritando e mãe berrando, briga por lugar, água gelada, brinquedos
radicalíssimos e longas filas; além de estragar o penteado. Mas nada disso
parece afetar o Claudio (acho que ele continua sendo “brother” em alguns
aspectos). E lá fui eu, pobrezinha, acompanhá-lo em mais essa empreita, no
Acuamania. Mas a coisa saiu bem melhor que eu imaginava. Local bem arborizado e
cheio de quiosques de palha; cadeiras e espreguiçadeiras espalhadas,
passarinhos cantando. Criançada tranqüila, mães sem crise, deve ser o mate!
Água termal quentinha, é bem verdade que tinha uns brinquedos meio radicais,
mas só fui à enorme e rasa piscina, que tinha quedas de água massageadoras,
além de uma boa sombra. Já o Claudio, lógico, não perdeu nada. Nas redondezas
também estão as Termas de Salto Grande, Daymán e San Nicanor, além do Parque
Acuático, há outras termas, porém já muito distantes.
Após, passarmos a tarde de molho na água quente, demos
uma voltinha pela praça Artigas e entramos na Catedral de San Juan Bautista,
onde nos chamou a atenção os lindos quadros que formam a Via Sacra.
Já quase 20:00
horas, o sol ainda era cruel, na famosa Rua Uruguay, onde também ficava nosso
hotel, arborizada, com seus bancos e grades, as cadeiras da Tratoria, na
calçada, nos chamavam a descansar nos braços de Patrícia. A rua estava lotada,
lojas abertas, camelôs, brinquedos espalhados por todo lado, crianças fazendo
birra. Pode o Caro Amigo imaginar o motvo de toda essa comoção, afinal o Natal
já passou! Acontece que no Uruguai... está muito quente, resolvemos que é hora
de nos rendermos aos apelos de Patrícia, a cerveja, contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Termas de Arapey,
06 de janeiro de 2011.
Caro Amigo,
Enquanto tomávamos nossa cerveja, a Patrícia, na
Tratoria, observamos, localizado do outro lado da rua, o Hotel Concórdia, onde
já sabíamos havia se hospedado Carlos Gardel, dizem até que seu quarto
transformou-se em um museu, estando preservado como deixou o cantor. Fomos dar
uma espiada, cruzamos a porta entreaberta, seguimos pelo corredor e, pasme o
Caro Amigo, descobrimos que o hotel, o mais antigo do país, que funcionava no
andar superior, estava fechado, por todo o mês de janeiro, para férias
coletivas. Mas, ainda assim, apesar de mais essa decepção, encontramos um
Centro Cultural, fechado, e um solitário bistrô, Arcano, com mesas bem postas,
toalhas cor de erva-doce, taças, guardanapos dobrados em forma de flor. Ficamos
para o jantar.
Abrimos mão do conforto das cadeiras Art Noveau com
almofadinha, que, seguramente, chegaram ao local pouco depois da construção do
velho casarão, provavelmente a meados do século XIX, para sentar no misterioso
pátio interno, cheio de plantas, de onde se tinha uma melhor vista de todo o
interior do edifício, que tinha um romantismo meio decadente, uma nostalgia nas
paredes já precisando pintura, nas grades de ferro já enferrujadas, nas portas
de madeira dos quartos, em forma de veneziana, que saem para o corredor, que se
debruça sobre o pátio e seu jardim, onde alguma senhora, com seus longos
cabelos soltos e camisolas de algodão e renda, deve ter saído para tomar ar em
alguma madruga quente, e é bem capaz que Gardel a tenha espreitado. Talvez
fosse a própria Patrícia, em carne, osso e formosura. Why not? Juramos que
sempre estamos bem sóbrios quando escrevemos (ah, ah, ah!).
Nosso coração não resistiu e, finalmente, resolvemos
dar uma esticadinha até a Argentina, já que para chegar à cidade Concórdia
basta atravessar a ponte sobre a Represa de Salto Grande. Passamos a tarde,
caminhamos pela Costaneira, onde estão as praias, fomos ao Parque San Carlo,
fizemos umas comprinhas no centro e jantamos um Bife de Chorizo, no Cristóbal
Café, um agradável restaurante na agitada Plaza 25 de Mayo; que estava ainda
mais agitada por ser quarta-feira, dia em que, em mesa de mulheres, a conta tem
50% de desconto. Nunca vimos tanta mulher junta e de idades tão variadas, de
mamando a caducando, em algumas mesas se podia observar avós, filhas, netas e,
talvez, até bisnetas, algo bem democrático.
Agradou-nos, sobremaneira, a cortesia de nossa
garçonete, Lucrecia (nome forte) que, ao reclamarmos que nossa salada, que
deveria ter tomate seco, trazia apenas minúsculos pedaços de tomate natural,
prontamente a retirou e dirigiu-se à cozinha para reclamar; mas, infelizmente,
não havia tomate seco, preferimos ficar sem salada. Quanto aos bifes, vieram
passadíssimos, apesar de os termos pedido “rugosos” (mal passados), um crime,
mas não me animei a reclamar (porque é sempre Sayo a reclamar, enquanto Claudio
faz cara de santinho, de “nem conheço essa mulher”); Lucrecia, que passava,
gentilmente indagou sobre eles, então, aproveitando a deixa, mostrei-lhe as
condições dos bifes, ela própria teve o surto que eu estava louca para ter,
retirou os pratos e deu um show ao devolvê-los para a cozinha, afinal nenhum
turista merece bifes como aqueles, nem os brasileiros; retornou desculpando-se
e indagando se poderíamos aguardar outros bifes. Esperamos e nos deliciamos com
suculentos Bifes de Chorizo.
Voltamos a Salto já quase uma hora e, pasme o Caro
Amigo, a Rua Uruguay continuava um pandemônio, lojas ainda abertas,
restaurantes cheios, pessoas carregadas de sacolas de presentes. Acontece que
aqui, o Uruguai, dia de Reis, 06 de janeiro, é que é dia de criança ganhar
presente, dia que os Reis Magos chegaram para presentear Jesus, inclusive é
ponto facultativo e a maioria do comércio fecha.
Então deixamos Salto, em direção mais ao norte, com a
intenção de passar o dia nas Termas de Arapey, uma das mais famosas do Uruguai,
principalmente por seu valor medicinal, e seguir para dormir em Artigas.
Acontece que erramos a estrada, o que não é muito difícil por aqui, já que a
sinalização é ruim e não andamos com GPS, seguimos sofrendo com o bom e velho
mapa. Difícil mesmo é reencontrar o caminho, já que não há postos de gasolina
nas estradas, onde também quase não passa viva alma, o jeito é bater palma em
alguma minúscula casinha, quando a encontrar, o que também não é tão fácil, e
rezar para que alguma alma caridosa atenda.
Resumo da estória, tivemos que encarar 60km de terra,
no meio de fazendas de vacas, emas e ovelhas, mas, finalmente, água quentinha.
Nas Termas de
Arapey encontramos camping, chalés, hotéis, seis piscinas, jardins,
restaurantes. É como uma pequena vila, afastada de tudo, não a consideramos tão
sensacional como todos comentavam e como lemos em guias de viagem, está um
pouco decadente, necessitando de restauração e modernização.
Mas como já era
tarde, a próxima cidade era distante e a água era realmente deliciosa,
resolvemos ficar em um dos hotéis e aproveitar melhor as piscinas, que ficam
abertas até às 24:00 horas; Artigas e as compras nos vários “free shop”ficam
para amanhã.
Beijos,
Sayo e Claudio
Artigas,
08 de janeiro de 2010.
Caro Amigo,
Chegamos a Artigas esperando uma cidade
grande, cheia de hotéis e free shops, não foi bem o que encontramos. A cidade é
pequena, tem só dois hotéis, nada bons, tivemos que escolher o menos pior,
porque procurar hotel no lado do Brasil e ficar atravessando a fronteira, para
lá e para cá, com o carro trazendo metade da produção de vinho do Uruguai, não
dava (ah, ah, ah!), seria contar muito com a sorte.
O calor era infernal, mesmo assim,
saímos visitamos as poucas pequenas lojas e, como sempre, encontramos um monte
de coisas que, há centenas de anos, vínhamos incessantemente buscando, sem
jamais encontrar (nem pense o Caro Amigo que estamos exagerando), e as
compramos todas. Também encontramos um restaurante, El Viejo, onde a Patrícia
estava estupendamente gelada e a churrasqueira em labaredas, ficamos e comemos
mais uma parrilla.
Na manhã seguinte levantamos cedo, pois
resolvemos ir até Rivera, para mais comprinhas, mas agora pela estrada
brasileira, então teríamos que atravessar a fronteira para o Brasil e,
conseqüentemente, enfrentar a Policia Federal, com as nossas dúzias de
garrafinhas de vinho além da quota, uma coisa bem inocente, afinal vinho é
considerado alimento funcional, portanto não deveria estar sujeito a esse tipo
de restrição. Passamos a barreira, não havia ninguém, paramos rapidamente em
Quarai (BR) e seguimos nossa viagem tranqüilos, em companhia de todas as nossas
garrafinhas, já sonhando com uma taça de Medio y Medio, bem gelada, na varanda
de casa.
Após 100km de uma boa estrada, BR-293, e
chegamos a Santama do Livramento, no Brasil, que faz fronteira com Rivera, no
Uruguai, mas que de fato são uma só cidade, assim como Chuí, estando os países
separados por uma rua.
É algo parecido a nossa fronteira com o
Paraguai, em Pedro Juan Cabalero, mas muito mais organizado e limpo, um paraíso
de compras, principalmente cosméticos, wiskies e perfumes (o que você procurava
Diana). Não nos fizemos de rogados, compramos mais um pouquinho, não exageramos
porque, há 5km da cidade, na estrada, existe um posto da Policia Rodoviária
Federal, o que significa nova fiscalização, outra incógnita.
Beijos,
Sayo e Claudio
Ibirubá
(RS), 09 de janeiro de 2011.
Caro Amigo,
Mais uma vez passamos pela fiscalização
sem problemas, pode passar lá em casa para uma tacinha de vinho.
Viemos para o Rio Grande do Sul pela
BR-116, foi uma viagem ruim, muito caminhão, difícil ultrapassagem, escolhemos,
então, outro trajeto para iniciar o retorno, mais pelo interior, fizemos uma
boa escolha, pois as estradas são boas, vazias e atravessam plantações de
milho, soja e arroz, lagos, matas, riachos, pastos com vaquinhas marrons e
pequenas cidades, muito floridas, onde o pessoal, à principio, é um pouco
reservado demais, mas depois se acostumam com a gente.
Assim, tomamos a BR-158 até Santa Maria,
onde pegamos a BR-223, Rota das Terras, parando em Ibirubá para dormir. A
cidade é simpatiquinha, com árvores cheias de flores rosa e lilás (não sabemos
o nome); tem vários hotéis, sendo o Suíço o melhor; modernas casas amplas e
confortáveis; lojas boas, com confecção moderna; mas, no quesito restaurante,
deixou a desejar.
Quando entramos em um deles, que dizem ser
um dos melhores, muito sem graça e precisando de uma geral, parecido com
restaurante de rodoviária, e a garçonete nos perguntou se tínhamos reserva, dessa
vez foi o Claudio que quase enfartou, pois, para quem não sabe, ele diz que 50%
da viagem é o que ele vê e 50% é o que ele come, portanto quer sempre comer em um
dos bons restaurantes da cidade, badaladíssimo, com linda decoração, toalhas
impecáveis, garçons engomados e cheio de gente linda e sorridente, do pessoal
que trabalha em propaganda de creme dental; sentando-se na melhor mesa, à beira
da janela que dá para o Rio Sena, podendo aceitar o Rio Danúbio ou, talvez o
Nilo. E, para tanto, me arrasta horas pelas ruas das cidades, até que eu, pobre
de mim, faminta, à beira de um desmaio, dou um grito e ponho um ponto final na
coisa; então ele rapidinho se decide.
Mas quando chega o prato... recomeça o
calvário, é a hora do festival de fotos, ele fotografa cada um dos pratos,
passa o manual da máquina de fotografias (em alemão, claro!) para o pobre do garçom
para que ele tire um maravilhoso retrato do casal, a fim de guardar, para a
posteridade, uma lembrança do fato (isso se não der um problema no computador e
perder tudo, porque fotos, infelizmente, nunca mais as vi); e o meu prato
esfriando (adoro comida quente, queimando a língua), então ele quer conferir se
as fotos ficaram boas e, se for o caso, repeti-las, aí eu tenho que sorrir tudo
de novo, o restaurante todo olhando para minha cara e pensando: que turista
babaca. Responda sinceramente o Caro Amigo, não está na hora de dar outro grito
com ele? Claro que está e é o que eu sou obrigada a fazer novamente. Depois há
quem diga que mulher é estressada, não tem paciência, está sempre na TPM e mais
um montão de asneiras. A grande verdade é que tem um montão de homens que não
se situam, que adoram viver perigosamente, que cutucam a onça com vara curta,
não é verdade Cara Amiga?
Mas voltando ao enfarto dele, acho que a
pobre garçonete não foi muito feliz com a pergunta, e ainda por cima ofereceu
para ele uma mesa que não era a da janela, à beira daquele translumbrante rio, realmente
ela não foi feliz novamente e... está na hora de comer, senão a comida esfria,
contamos depois.
Beijos,
Sayo e Claudio
Curitiba,
10 de janeiro de 2010.
Caro Amigo,
Resumindo a estória, deixamos para comer
naquele restaurante tão concorrido, Taverna, na próxima vez que retornemos à
cidade, quando, então, seguramente faremos reserva (ah, ah, ah!), a pobre da
garçonete até que insistiu para que ficássemos, mas sem aquela mesa à beira
daquela janela, que dá para aquele rio, não teve a menor chance.
Fomos
para um outro dos melhores restaurante da cidade, Palatu’s, que, pelo menos na
aparência, era pouca coisa melhor que o primeiro, onde encontramos um garçom
que, segundo as palavras dele, não gostava de falar dos outros, mas nos contou
a vida da cidade toda, inclusive do noivo do casamentão, que se realizava
naquele dia, motivo pelo qual o restaurante estava vazio, pois todos foram ao
casório. Já sem os braços de Patrícia, nos entregamos à Bohemia e demos muita
risada lembrando da tal reserva, comemos e fomos dormir.
Na manhã seguinte, no café da manhã do
hotel, reencontramos aquele delicioso e diferente creme de leite que acompanhou
nossa torta de maçã no restaurante de Treze Tílias, no inicio da viagem. Dessa
vez não tivemos dúvida, perguntamos o que era, e a dona do hotel nos contou que
se trata de creme de leite-nata, que é muito comum na região, sendo utilizado
inclusive como substituto da manteiga no pão; é vendido fresco nos
supermercados e, quando batido, vira manteiga. Corremos ao supermercado para
comprá-lo, afinal temos nossa super geladeira no carro.
Partimos através da BR-153, atravessando
Santa Catarina, mas ao chegar ao Paraná já não a encontramos tão bem; alguns
trechos estão bem ruim, outros estão em manutenção, restando cerca de um terço
dela em boas condições, além dos caminhões que reapareceram.
Rodamos quase o dia todo, abandonamos as
malas no hotel, tomamos aquele banho relaxante e fomos jantar com amigos que há
anos não víamos, Rosane e Carlos. Uma dupla satisfação, a boa comida do restaurante
Panphylia (que atendia aqueles requisitos do Claudio, ah, ah, ah!) e
reencontrar os amigos muito bem.
O Mercado Municipal de Curitiba não é
tão grande, nem tão charmoso, como o de São Paulo, mas vale uma voltinha, tem
umas bancas de pimenta de enlouquecer os amantes da danada; muitos produtos
japoneses; carnes especiais, como marreco e javali; além de restaurantes com
comida das várias etnias que formam a população do estado, como pierog (já lhe
contamos em nossa viagem da Polônia), joelho de porco, chucrutes, marreco
recheado, polenta e massas.
Vamos parar por agora, está na hora
seguir viagem a Régis Bittencourt (BR-116) nos aguarda.
Beijos,
Sayo e Claudio
Santos, 14 de janeiro de 2011.
Caro Amigo,
Na manhã do nosso último dia em Salto,
enquanto tratávamos de arrumar as malas para partir, escutávamos a Globo
Internacional, em certo momento nos demos conta de que Monica Valdwogel...
entrevistava duas psicólogas, ou psicanalistas, que, infelizmente, quando nos demos conta, já haviam sido
apresentadas, portanto não sabemos seus nomes. A entrevista discutia o tema “A
Felicidade Aumenta com a Idade” e muitas das considerações feitas chamaram
nossa atenção, portanto gostaríamos de dividi-las agora com você, Caro Amigo,
até porque a grande maioria dos Caros Amigos, assim como nós, já passou dos 50.
Diziam, então, que a nossa felicidade
tem um gráfico em forma de “U”, que decresce com a idade, voltando a aumentar
na maturidade. Assim, entre 40 e 50 anos seria o período mais infeliz de nossas
vidas, quando as grandes mudanças acontecem. Quando já não somos tão bonitos;
perdemos muitos de nossos entes queridos, ou porque morreram, ou porque casaram
e mudaram; caem as taxas de hormônio; já não enxergamos tão bem; nos
aposentamos ou não encontramos emprego; ficamos doentes com mais freqüência. Em
resumo, deixamos de ser os Super Homens e as Super Mulheres que sempre fomos,
temos que aceitar a nossa simples humanidade e as nossas perdas,
Chega a hora de uma, para usar uma
palavra da moda, repaginação, de ter julgamentos menos rígidos; não podemos
mudar a carga que a genética nos trouxe, mas podemos mudar os fatores ambientais
em que vivemos, o que colocamos a nossa volta. Ter a memória mais curta ajuda
muito, esquecer certas coisas, não ficar apegado a detalhes do passado,
imaginando que tudo que deu errado foi proposital. Ser mais tolerante, mais
permissível, permitir-se errar, perdoar-se e perdoar os outros.
O mais importante é que devemos
acreditar que podemos fazê-lo, que está em nós fazê-lo, pois é quando encaramos
e aceitamos as mudanças que a idade nos traz, embora nem sempre tão boas, e nos
tornamos mais flexíveis, passando a acreditar um pouco mais no acaso e deixar
que ele nos leve um pouco para lá, um pouco para cá; é aí que voltamos a fazer
as pazes com a felicidade.
É bem verdade que há pessoas para quem
as coisas são mais fáceis, que têm síndrome de Polyana, que estão sempre de bem
com a vida e felizes. Normalmente são as pessoas extrovertidas, pois encontram
ajuda através de um conselho, um alerta, uma palavra de apoio; interagem com
outras pessoas tornando-se também mais úteis. Mas seguramente todos têm a
capacidade de mudar, porque tudo que se alimenta, que se cuida, cresce e dá
frutos, porém há que se escolher o que deve crescer.
Na mesma viagem tivemos ainda
o prazer de conhecer muitas pessoas admiráveis, que cruzaram o nosso caminho e
contribuíram para tornar nossas vidas ainda mais felizes; além de contar com a
excelente companhia do Caro Amigo, lógico.
Obrigado por
escolher nossa empresa para sua viagem (ah, ah, ah!)
Hasta la vista!
Sayo e Cláudio
PS: Quanto as
nossas metas? Todas integralmente cumpridas, encontramos Papai Noel, tomamos
muito Tannat, comemos carne uruguaia e visitamos tudo quanto foi praia, pode
aparecer em casa para conferir nosso bronzeado, pois certamente serviremos uma
taça de Medio y Medio ao Caro Amigo (ah, ah, ah!!!).
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